sábado, outubro 01, 2016

Um bêbado




















No Porto, um bêbado estava a passar pelo rio Douro, quando viu um grupo de evangélicos a orar e a cantar. Resolveu perguntar:

- O que se está a passar... aqui?

- Estamos a fazer um batismo nas Águas. Você também deseja encontrar o Senhor?

- Eu quero, sim....

Os evangélicos vestiram o bêbado com uma roupa branca e levaram-no para a fila. Numa margem do rio estava um pastor que pegava nos fieis, mergulhava a cabeça deles na água, depois tirava e perguntava:

- Irmão... viste Jesus?

- Ah, eu vi, sim...

E todos os evangélicos diziam:

- Aleluia! Aleluia!

Quando chegou a vez do bêbado, o pastor meteu-lhe a cabeça na água, depois tirou e perguntou-lhe:

- Irmão... viste Jesus?

- Num bi! - Disse o bêbado.

O pastor colocou novamente a cabeça do bêbado na água e deixou-a lá um certo tempo. Depois tirou-a e perguntou:

- E agora, irmão... viu Jesus?

O bêbado já bastante ofegante, lá disse:

- Num bi, carago!

O pastor, já nervoso, colocou de novo a cabeça do bêbado debaixo de água e deixou-a lá por uns cinco minutos. Depois puxou o bêbado e perguntou-lhe:

- E agora, irmão... já conseguiste ver Jesus?

O bêbado, já mole e trôpego de tanta água engolir, disse:

- Fod...-se , já disse que num bi caraaago! Bocês têm a certeza de que ele caiu aqui????... Num estará em Alvalade a treinar o Sporting? ....

Os Domingos
de Lisboa

(Alexandre O´Neil)











Os domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.
As palavras cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p'ra a cama, onde chego já morto.
E então começam as tuas exigências, as piores!
Quer's por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Mas serás tu a minha «querida esposa»,
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...

O crente, Padre João A. Teixeira
Os Ateus Segundo o 
Paternalismo
de um Crente




















“O padre João António Teixeira vem explicar aqui que os ateus são crentes ao contrário. Que, explica, é claro que o ateu "acha que a sua posição é racional, científica. Ele acha que tem provas evidentes de que Deus não existe".


A partir desta definição errada do ateu, o padre João António Teixeira avança por trechos poéticos convenientes e divaga por afirmações sobre a experiência que leva a deus ou à inexistência dele para concluir bondosamente que há quem não negue deus, mas a "nós", isto é, aos homens de deus, aos crentes, aos exemplos que se comportam como ateus, quando há ateus que se comportam como crentes (como se fosse deus a inspirá-los).


Conclui que ninguém está longe de deus.


Isto cansa.


O ateu, aquele que nega a crença na existência de deuses, seja um, seja mais de um, não parte do princípio que tem de provar cientificamente e racionalmente que não existe um deus ou que não existem vários deuses.


Pelo contrário, o ateu constata que não há nada de racional e de científico na crença que afirma, precisamente, a existência de tais divindades. Como facilmente se compreende, o ónus da prova não é do ateu, mas de quem afirma a existência de seres transcendentais.

O verdadeiro ateu - e não o poeta que está angustiado com a dúvida da fé -, sabe que a verdade das coisas se atesta pela demonstração e não aceita o salto (i)lógico do teísta que consiste em resolver uma dúvida para a qual a ciência ainda não tem resposta com a palavra deus.


Concretizando, já conhecemos explicações para muita coisa que se atribuía a deus, explicações essas que foram negadas como blasfémias e punidas com a morte, hoje pacificamente aceites. Afinal não era deus. O ateu acredita nessa aventura interminável que é a busca de respostas para os mistérios do universo e da humanidade. Simplesmente, quando não obtém respostas não apela aos céus.


Por tudo o que aqui se explica, naturalmente não pode o ateu estar "desiludido" com deus ou com os crentes.


Essa afirmação resulta de um paternalismo recorrente que considera que para se ser ateu tem de se ter padecido de alguma maleita, no caso espiritual. Alguém fez mal ao coitadinho do ateu. O ateu está ferido com deus ou com o comportamento de alguns crentes que mais parecem ateus, esses malvados. Isto - pasme-se - quando até há ateus que se comportam "como se fosse Deus a inspirá-los".


Imagino que isto deva querer dizer que há ateus decentes.

Agradecida.


Isabel Moreira





Nota

Tem toda a razão a Drª Isabel Moreira neste texto, chamemo-lo de "desabafo", às afirmações do padre João António Teixeira sobre os não crentes.

Este "pastor" de um dos grandes "rebanhos" de crentes da humanidade arroga-se a sobranceria própria de quem pertence ao grupo dos "iluminados da fé" dotados de uma "bondade" e "complacência" para os que eles julgam de tresmalhados.

Eu compreendo o fenómeno da fé, respeito-o, embora não o leve em consideração quando avalio o meu semelhante. Há de uns e outros fora e dentro do mundo das crenças, embora tema o que o homem é capaz de fazer por causa delas.

 Assumindo a minha condição de não crente não me sinto predestinado, eleito, apenas um ser vivo especialmente dotado pela evolução da vida sobre o nosso planeta.

Esses "dotes"- razão e inteligência - que permitiram aos meus antepassados vencerem a luta pela sobrevivência e afirmarem-se como a espécie dominadora, perigosamente dominadora, ajudaram-me a tomar consciência profunda da minha condição de integrante do conjunto da natureza à face da Terra com especiais responsabilidades e não mais do que isso.

Por esta razão, não tenho nenhum motivo, para abandonar uma atitude de humildade sem pretender "protecções", "prémios" ou recear "castigos" provenientes de deuses ou entidades que a minha capacidade de entendimento se recusa a aceitar.

Sei que existe no nosso cérebro um "espaço da fé" , tal como nele existem outros "espaços". "Acreditar", foi muito importante, talvez decisivo em fases recuadas da nossa luta pela sobrevivência. Mais tarde foi naturalmente aproveitado por alguns homens que mobilizaram e arregimentaram outros para as religiões que encontraram um eco sincero dentro de nós... por isso é mais fácil ser crente do que não crente.

Vamos respeitar-nos todos, uns aos outros, sem preconceitos ou complexos de superioridade ou inferioridade... está bem, senhor padre?

Onde Pendurar

 o Balde...




















Sempre tive uma atracção irresistível pela vizinha do apartamento ao lado. Vivia obcecado com a ideia fixa de possui-la, ... de comê-la, .... de traçá-la, todinha!


Um dia, ao conversar com o marido dela ouvi este comentário:



- Preciso mandar pintar o meu apartamento, mas trabalho o dia inteiro e chego cansado. Tentei contratar um pintor profissional mas o tipo pediu-me os "olhos da cara!..."
Nesse momento o meu rosto iluminou-se pois a ideia que eu tive foi simplesmente brilhante!
- Não seja por isso vizinho! Estou de férias e pintar paredes é o meu hobby favorito! Posso fazer esse serviço prá você, com o maior prazer.

O maridão aceitou a oferta e ficou feliz da vida.

Não é para me gabar mas, como sou "bom de papo", mal comecei a pintar o apartamento consegui levar aquele mulherão,... aquele aviãozão,... aquele monumento prá cama! Só que, azar dos azares,...estavamos nos preliminares e eu não esperava que o marido se tivesse esquecido dos documentos em casa e que por isso mesmo, tivesse que voltar justamente naquele momento!A mulher, ouvindo o marido abrir a porta da sala, correu para a casa de banho e o gajo entra no quarto e encontra-me "peladão", no cimo do escadote dando umas pinceladas na paredeAos berros, ele perguntou:
- Que merda é esta pá?...
-Começaste pelo quarto e... todo nú?

- Ora... estou pintando de graça, começo por onde quiser!

- Mas todo nú?...

- Queria que eu manchasse a minha roupinha nova com tinta?...

- E de pau feito, cabrão?...

- E onde é que eu ia pendurar a "porra" do balde?...

Inscrevo-me no grupo dos ateus
Será que Deus existe?

























Vejamos, sobre esta questão, como se dividem as pessoas:


Teístas - Agrupa todos aqueles que acreditam numa inteligência sobrenatural que, além de ter criado o universo, se encontra por perto para vigiar e influenciar o destino subsequente da sua criação inicial.

Em certos casos, a divindade está intimamente envolvida nos assuntos humanos, responde às preces, perdoa ou castiga pelos pecados, opera milagres e agita-se tanto com as boas como com as más acções que praticamos ou mesmo quando nos limitamos a pensar em praticá-las;

Deístas – Todos aqueles que acreditam numa inteligência sobrenatural que criou o universo e as leis que o regem e por aqui se terá ficado num aparente desinteresse pelos destinos humanos;

Panteístas - Aqueles que não acreditam num Deus sobrenatural mas usam a palavra Deus como sinónimo da natureza ou do universo ou da legitimidade que rege o seu funcionamento.

Este Deus metafórico ou panteísta dos físicos está a anos-luz do Deus bíblico interventivo, milagreiro, leitor dos pensamentos, punidor de pecados, atendedor de preces e que é o Deus dos padres, mulás e rabinos.

Como exemplo de panteístas referiremos Carl Sagan e Einstein:

Escreve Carl Sagan: “… se com “Deus” nos referimos ao conjunto de leis físicas que regem o universo, então há claramente um “Deus”, um “Deus” que é emocionalmente insatisfatório…não faz muito sentido rezar à lei da gravidade.”

Einstein, por sua vez, escrevia; “Sentir que por detrás de qualquer coisa que possa ser experimentada há algo que a nossa mente não consegue compreender e cuja beleza e sublimidade nos atinge apenas indirectamente como um débil reflexo, isso é religiosidade. Neste sentido sou religioso”.

Ateus - Agrupa os que recusam a existência de uma entidade sobrenatural e não utilizam a palavra Deus para designar o que quer que seja para que não se preste a confusões.

Agnósticos - Aparecem no fim do século XIX e representam uma corrente de pensamento que, em síntese, afirma o seguinte:

- Se o que determina a crença em Deus é a fé e esta não é baseada na razão logo, do ponto de vista racional, não se pode demonstrar a existência ou inexistência de Deus.


Há, no entanto, ainda, uma outra categoria de pessoas que se afirmam como crentes e seguidores desta ou daquela religião mas que, no fundo, não fazem mais do que “mentir” à sociedade por uma questão de conveniência pessoal. São os falsos religiosos.

O actual presidente da Royal Society confessou a Richard Dawkins que vai à Igreja como “anglicano descrente…por lealdade com a tribo.”

Mas não será só por uma questão de “lealdade com a tribo” mas também por medo das represálias da sociedade como se pode deduzir pelos resultados de uma sondagem efectuada em 1999 pela Gallup e na qual se perguntava aos americanos se eles votariam numa pessoa bem habilitada e que fosse mulher:

- 95% responderam afirmativamente; se fosse católica 94%; se fosse judia, 92%; se fosse negra, 92%; se fosse homossexual, 79%; se fosse ateu, 49%.

A mentira está, portanto, explicada e justificada como igualmente se percebe melhor os cuidados e a atenção, por vezes demasiada, com que os candidatos à Casa Branca se referem e tratam o tema religião nas suas campanhas eleitorais.

Consequentemente, os não crentes têm muita dificuldade em assumirem-se, sobretudo entre a elite mais instruída e não é só de hoje.

John Stuart Mill, já no sec. XIX afirmava: ”O mundo ficaria espantado se soubesse quantos dos seus melhores ornatos, dos que mais se distinguem pelo apreço popular, sabedoria e virtude são completamente cépticos”.

Aqui, neste ponto, levanta-se a questão de saber se para sermos bons precisamos de Deus ou se uma crença religiosa é necessária para que tenhamos preceitos morais.

Vale a pena transcrever, a propósito da razão de sermos bons,este notável pensamento de Albert Einstein:

- “Estranha é a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem saber porquê, por vezes parecemos adivinhar um objectivo. No entanto, do ponto de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos outros homens – acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem-estar depende a nossa própria felicidade”.

Há pessoas religiosas que têm dificuldade em imaginar como é que alguém sem religião pode ser bom e para que há-de querer ser bom.

E depois, há outras ainda, que desenvolvem ódio contra aqueles que não partilham a sua fé, um ódio violento, de morte sem contemplações e isto na defesa da religião que professam!

Por que é que se acredita que para se defender Deus é preciso ser-se tão feroz?

Há estudos e experiências efectuadas com ateus e crentes religiosos que permitem concluir não existirem diferenças estatísticas significativas entre uns e outros quanto a juízos morais pelo que não precisamos da religião para sermos bons ou maus.

Mas então se Deus não existe para quê ser bom?

A este propósito dizia Einstein: “Se as pessoas são só boas porque temem o castigo e esperam a recompensa, então somos mesmo uma triste cambada.”

O grande filósofo Emanuel Kant, embora religioso, como era quase inevitável à época, baseou toda a moralidade no dever pelo dever e não em função de Deus.

É verdade que a filiação num partido político nos EUA não é um indicador perfeito do factor religiosidade mas não é segredo nenhum que os estados republicanos são fortemente influenciados pelos cristãos conservadores pelo que seria de esperar uma sociedade mais saudável relativamente aos estados democratas onde a influencia do conservadorismo cristão não se faz tanto sentir.

Essa não é, no entanto, a realidade. Das 25 cidades com mais baixos índices de crimes violentos 62% acontecem nos estados democratas e 38% nos republicanos. Das 25 cidades mais perigosas 76% estão em estados republicanos e 24% nos democratas.

Na verdade, 3 das 5 cidades mais perigosas do EUA situam-se no devoto estado do Texas e dos 22 estados com índices de homicídio mais elevado, 17 são republicanos.

No jornal of Religion and Society (2005), Gregory S. Paul levou a cabo um estudo comparativo sistemático de 17 nações economicamente desenvolvidas, chegando à devastadora conclusão que:

“Nas democracias prósperas, índices mais elevados de crença e adoração de um criador correlacionam-se com índices mais elevados de homicídio, mortalidade juvenil e precoce, índices de contágio de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência e aborto”.

Estes resultados atingiram tão profundamente as propaladas pretensões de superior virtude moral por parte das pessoas religiosas que se assistiu de imediato a um acréscimo da investigação desencadeada por organizações religiosas que os tentaram refutar…mas até à data ainda nada apareceu que desmentisse os dados do estudo referido e as conclusões a que eles conduzem.

Mas, regressemos de novo à pergunta inicial acerca da existência de Deus:

- Acreditar ou não acreditar em Deus tem a ver com uma questão de fé que não é possível existir em pequenas, médias ou grandes doses, ou se tem fé ou não se tem.

Se sim, acredita-se em Deus a 100%, na modalidade teísta ou deísta.

Se não se tem fé, coerentemente, só se pode ser ateu.

As hipóteses intermédias têm a ver com a delicadeza do tema:

Todos nascemos em sociedades mais ou menos religiosas e há um grau de religiosidade que, diria, nos é insuflado logo após o primeiro choro e que cada um de nós desenvolve em maior ou menor grau em função das características da nossa própria personalidade e do contexto social em que a nossa vida decorre.

E, em certos contextos sociais, não é fácil, muitas vezes é impossível, que alguém se consiga libertar totalmente de um elemento que insuflado à nascença é como se fosse constitutivo de si próprio e por isso aquele limbo de incerteza, de cepticismo, de dúvida tão difícil de quebrar e que não é mais do que um refúgio onde escondemos todos os “diabinhos” que nos assaltam.

Eu penso que a fragilidade do ser humano, este nosso intelecto que nos superioriza tão claramente aos restantes animais mas que não chega para fazer de nós deuses, este ficar a meio caminho, nem animal nem deus, se traduz, de facto, numa fragilidade.



- Ser ateu, é um acto de coragem, é regressar definitivamente à terra e aos animais a que pertencemos e cuja evolução encabeçamos.


- Ser ateu, é um acto de humildade para com a vida, é deixar de ser pretensioso e “convencido” sobre aquilo que, de facto, não somos por muito que gostássemos de o ser.

- Ser ateu, é perceber que a vida desenrola-se à nossa volta e é nela que temos de concentrar todas as nossas energias e capacidades.

- Ser ateu é respeitar a natureza como um legado dos nossos antepassados a transmitir aos nossos descendentes com o máximo respeito por todas as formas de vida.

- Ser ateu é respeitar todas as pessoas independentemente de elas o serem ou não.

- Ser ateu, é amar a vida e os outros muito em especial “aqueles de cujos sorrisos e bem-estar a nossa felicidade depende” (Einstein).

Nesta perspectiva, eu sou ateu.



(Este texto cujas posições partilho e defendo foi extraídod do livro "A Desilusão de Deus" de Richard Dawkins, doutorado, professor de Zoologia, Prémio Nobel em 1973 pelos seus estudos em Etologia)

Cultura e sociedade...
A IMPORTANTE

INFLUÊNCIA

DO MEIO SOCIAL






















Dois homens discutem por causa de um jogo de bilhar ou porque um insulta a namorada de outro e a animosidade vai subindo até chegar ao assassínio, muitas vezes à vista de quem está perto.

A este tipo de homicídio os criminologistas costumam chamar de “altercação trivial” mas, será?

Para mim foi fácil casar e ter filhos. Tudo o que tive de fazer foi ir para a Universidade e depois garantir um bom emprego.

Eu gostaria de atribuir o meu comportamento de pessoa civilizada ao meu excelente carácter mas, acima de tudo, tenho de estar grato ao extracto social a que pertenço.

No meu caso não me envolveria em luta que me pudesse levar a um homicídio que erradamente seria chamado de “altercação trivial” porque teria muito a perder e pouco a ganhar.

Naquela luta o que estava verdadeiramente em causa era a competição entre indivíduos de sexo masculino pelo “estatuto” que pode ser tudo menos trivial.

Tenho cinquenta e seis anos, ultrapassei a idade média em que morre o homem das zonas deprimidas da cidade de Chicago e ainda estou de boa saúde.

Eu sou como os homens dos bairros sociais de Chicago mais favorecidos com muito menor probabilidade de cometerem homicídios em lutas de “altercação trivial” porque a sua frequência está relacionada com o meio social a que se pertence.

A cidade de Chicago está dividida em setenta e sete bairros para os quais as taxas de homicídio e outros dados estatísticos vitais estão compilados separadamente.

Estes bairros variam imenso quanto a qualidade de vida, incluindo a própria duração média de vida de tal forma que a esperança de vida dos bebés nascidos nos melhores bairros é vinte anos superior à dos nascidos nos piores (cinquenta e tal anos para setenta e tal anos).

Estas mesmas diferenças verificam-se em geral entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.

Nos bairros com menor esperança de vida, as mulheres têm tendência a começar a ter filhos mais cedo e esta gravidez na adolescência é amplamente reconhecida como um problema social mas, quando se perguntava às mulheres de um geto porque tinham filhos tão cedo as respostas suscitavam simpatia. Diziam elas que queriam que as suas mães conhecessem os netos.

Usavam o termo de “desgaste” para descrever a deterioração de saúde que observavam à sua volta.

E a pergunta aqui fica:

- Se o meu amigo e aqueles que lhe são chegados estivessem a desgastar-se a um rito rápido não gostaria de começar a ter filhos suficientemente cedo para os conhecer e ajudá-los a criar os seus próprios filhos?

As taxas de homicídio variam imenso oscilando de 1,3 e 156 por 100.000, entre bairros de pessoas ricas e de pessoas pobres porque nestes o panorama é uns quantos bem sucedidos e muitos falhados e, nestas circunstâncias, um “zé-ninguém” assume comportamentos de riscos extremos na perspectiva de ser “alguém”. Como diz o Rapper 50 Cent no álbum e no filme: “Get rich or die tryn”.

A desvalorização acentuada do futuro pode ser uma resposta “racional” à informação que indica uma probabilidade incerta ou baixa de sobreviver para mais tarde colher benefícios, por exemplo, e correr “riscos impensados” pode ser a solução óptima quando os benefícios de uma escolha de acções mais segura são insignificantes.

A evolução tem intrinsecamente a ver com organismos que reagem a modificações ambientais sendo impossível negar a capacidade de mudança.

O Criacionismo religioso e secular sempre se baseou no medo das consequências de aceitar a evolução, mas se encararmos a teoria da evolução como um instrumento capaz de proporcionar uma modificação positiva, ela será fácil de aceitar.

No que toca à evolução o futuro pode ser diferente do passado, para melhor.

David Sloan Wilson “A Evolução Para Todos

sexta-feira, setembro 30, 2016

Senhora sem preconceitos...



               Camada de Nervos - O rapto


                    

SÉRGIO BITENCOURT E ELISETH CARDOSO - NAQUELA MESA

Sérgio Bitencourt, também ele músico e compositor, era filho de Jacob "do Bandolin" (1918/1969) que foi a maior referência do Brasil no instrumento que virou parte de seu nome e elevou aquele instrumento a um lugar de honra na música brasileira. Neste samba, o filho Sérgio homenageia o pai: "Naquela Mesa" está faltando ele/e a saudade dele/está doendo em mim.

Privacidade












José António Saraiva escreveu um livro intitulado “Eu e os Políticos”. Na qualidade de jornalista, manteve ao longo dos anos, como seria normal, contactos com pessoas mediáticas que agora aproveitou para escrever sobre elas um livro contando “coisas” que sempre ficam das conversas e contactos que teve, tornando  público o que era privado.
Digamos que é um tremendo “golpe baixo” porque até algumas dessas pessoas já faleceram e não se podem confrontar com aquilo que ele agora diz delas.

A privacidade é, antes de mais, um sinal de civilização. Nas cavernas ou em simples e rudimentares acampamentos, a privacidade era difícil e a sua necessidade pouco sentida. Desenvolveu-se com a civilização e em simultâneo foi uma consequência dela, à medida que as relações pessoais se intensificaram.

José António Saraiva procurou ganhar dinheiro vendendo confidências, ou simplesmente coisas do privado, mesmo pondo em causa a sua reputação.
O líder da oposição safou-se a tempo, no último momento, quando se dispunha a apresentar um livro que, segundo diz, nem sequer tinha lido.

A privacidade é imposta pelo bom senso, educação e princípios. Temos que perceber que os políticos, independentemente de serem pessoas mediáticas, tal como os artistas, são gente normal, que fazem, como nós, coisas normais, com a diferença que por se terem tornado conhecidas chamam a atenção, despertam a curiosidade, numa palavra, vendem... 

As bisbilhotices à volta delas dão dinheiro e, por isso, transformam-se,  num enorme negócio tendo dado origem à indústria das revistas chamadas de cor-de-rosa que todos conhecemos.

As pessoas visadas, elas próprias, vivem dessas inconfidências pelo que, nestes casos, nem há que falar de privacidade mas, não foi esse o caso de José António Saraiva.

Quarenta e duas personalidades da nossa vida política e cultural, que ele conheceu ao longo da sua vida, algumas delas já falecidas, outras completamente retiradas das “lides” que as tornaram conhecidas, são agora surpreendidas por revelações a seu respeito que estavam longe de ver aparecer em público e, que, se dependesse delas, não viriam à luz, com certeza.

Vou contar-vos um pequeno episódio da minha juventude: - numa festa do meu Colégio, em Tomar, nos anos 50, uma colega minha do Feminino, subiu ao palco para exibir as suas habilidades como dançarina. Como a saia não era apropriada, ao rodar, ela subiu e mostrou as cuecas, com a agravante de que a plateia, onde estavam todos os colegas, era ainda num plano mais baixo.
Não era, de certeza, sua intenção mostrar a roupa interior e eu, instintivamente, fechei os olhos.

Fosse eu, o José António Saraiva, e tê-los-ia esbugalhado.

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