sábado, julho 17, 2010


ENTREVISTAS


FICCIONADAS COM


JESUS CRISTO


ENTREVISTA Nº 43


TEMA – Há Inferno?


Raquel – A nossa unidade móvel deslocou-se hoje para sul da cidade de Jerusalém… um barranco que é conhecido como o Vale de Gehenna. Acompanha-nos, como nos dias anteriores, Jesus Cristo que caminhou por estes lugares quando não estavam tão povoados como agora…

- Como vê isto, muito mudado?

Jesus – Muitíssimo, Raquel. É que Jerusalém, então, era muito pequena… cabia toda dentro das suas muralhas. E aqui era a lixeira.

Raquel – A lixeira?

Jesus – Sim, a lixeira da cidade. Vês esta porta? No meu tempo chamava-se Porta do Lixo. Por aí saíam as vizinhas ao entardecer e atiravam fora as sobras da comida, ramos secos, animais mortos… depois, um queimador das imundices, regava tudo com enxofre e zás… deitava-lhe o fogo… fogo e enxofre!

Raquel – Escutando-o, a nossa audiência recordará as descrições do inferno…

Jesus – Tu acabaste de o dizer. Desse braseiro nasceu a mentira do inferno. E agora, vendo aquilo que vejo nos dias de hoje, dou-me conta de que é a maior de todas as mentiras, a que mais danos provocou aos filhos e filhas de Deus.

Raquel – Qual foi essa mentira tão daninha?

Jesus – O inferno.

Raquel – Mas não foi o senhor mesmo que pregou sobre o inferno?

Jesus – Eu preguei o amor a Deus.

Raquel – Talvez se tenha esquecido mas em várias ocasiões o senhor referiu-se ao “pranto e ranger de dentes” que haverá no inferno…

Jesus – É que quando me indignava vendo tantas injustiças eu dizia: “vale mais entrar manco, coxo ou cego no reino de Deus do que te queimem juntamente com o lixo de Gehenna… eu referia-me a esta lixeira.

Raquel – Seja como for, por que é que o senhor disse que o inferno é a maior das mentiras?

Jesus – Porque não existe nem nunca existiu.

Raquel – Dá-se conta do que está dizendo?

Jesus – Claro que me dou conta.

Raquel – Um momento, senhor Jesus Cristo. Se os meus dados estiverem correctos, crer no inferno é uma obrigação de fé. Aqui o tenho, ano de 1123, Concílio de Latrão e mais recentemente o Papa Bento XVI.

Jesus – Pois, e eu digo o contrário. Não se pode acreditar em Deus e no inferno.

Raquel – Por que razão?

Jesus – Porque Deus é amor. Como podes pensar que Deus tenha preparado um calabouço de torturas, um lugar de tormentos infinitos para castigar os seus filhos desobedientes? Esse não seria Deus… seria Herodes.

Raquel – Então Deus não castiga os pecadores?

Jesus – Deus é como aquele pai que tinha dois filhos. Um era bom, cumpridor, o outro, um malandro. No fim, o pai recebeu os dois, ao bom e ao pródigo.

Raquel – E tanto canalha que há por esse mundo… os que fazem as guerras, que matam inocentes, que torturam… vão ficar sem castigo?

Jesus – Deixa isso nas mãos de Deus. Ele saberá o que fazer com esse lixo. Mas tu, quando o teu coração condena não penses em nenhum inferno. Recorda que Deus é maior do que o teu coração e compreende tudo.

Raquel – Que diz a nossa audiência? Há ou não inferno, há ou não castigos eternos? O tema é candente e parece-me que Jesus Cristo não terá dito tudo sobre ele.

Continuem connosco. Desde o inferno, quero dizer, desde o vale de Gehenna, Raquel Perez, emissoras Latinas.


NOTA


O Vale de GehennaEste vale rodeia a cidade de Jerusalém por oeste. Aqui se ofereciam sacrifícios humanos ao deus pagão Moloc fazendo com que os profetas maldissessem este vale.

Uns 2.000 anos A.C. era crença popular que ali estaria situado um inferno de fogo para os condenados pelas suas más acções e, por ser um lugar desacreditado e maldito, este vale foi destinado a um braseiro público dos lixos da cidade de Jerusalém.

O Abismo Sheol – Durante séculos, o povo de Israel não acreditava em nenhum inferno. Em vez dele, acreditava que quando a vida terminava no mundo visível, os mortos desciam ao “sheol”, que era um lugar situado nas profundezas da terra ou debaixo das águas onde maus e bons se misturavam e desfaziam sem que estivessem sujeitos a prazeres ou a dores… simplesmente desfaziam-se.

Este “sheol” é mencionado 65 vezes no Antigo Testamento como um lugar triste onde não havia esperança de mudança. Os babilónicos também acreditavam num lugar parecido e até mesmo o livro do Apocalipse o refere.

O dogma do inferno deve-se mais a crenças de alguns povos da antiguidade e suas filosofias do que a textos bíblicos.

O Fogo do Inferno – O fogo de Gehenna aparece muitas vezes citado por Jesus e foi sempre traduzido, e mal, por “fogo do inferno”. Ao longo da Idade Média, a crença no inferno como um lugar de fogo real era geral entre os teólogos católicos. Em 1123, no Concílio de Latrão, a crença no inferno foi imposta como um dogma da fé, advertindo o Concílio que quem o negasse seria réu de prisão, tortura e até de morte. No Século XIII, Tomás de Aquino, opôs-se mesmo aos primeiros padres da Igreja que atribuíam ao fogo do inferno um sentido metafórico e afirmou como uma certeza Teológica que o fogo era real.

Mais recentemente, o Vaticano falou sobre esse “fogo” advertindo que ele não deveria ser entendido como um fogo real, que queimasse… flexibilidade doutrinal?...

Vejamos o que disse o Cardeal Ratzinger, hoje Papa, quando em 1979, na qualidade de Presidente da Congregação para a Doutrina e Fé, escrevia:

- “… ainda que a palavra “fogo” seja apenas uma “imagem” ela deve ser tratada com todo o “respeito”.

Que queria dizer, aquele que hoje é Papa, quando utilizou a palavra “respeito”? – Com muita probabilidade seria sinónimo de “medo”. E não é descabido pensar isso quando, ao longo da história da Teologia, as “chamas do inferno”, suas “caldeiras fervendo” e os seus “fogos crematórios” estiveram sempre presentes em prédicas e catequeses fazendo sofrer desnecessária e inexplicavelmente gerações e gerações de crianças e adultos dando, com isso, uma imagem horrível de Deus e totalmente deformada do que Jesus quis ensinar.

Em Março de 2007,Bento XVI, preocupado pelo relativismo de uma certa “modernização doutrinal” quis de novo acentuar a crença no inferno:

- “Jesus veio ao mundo para nos dizer que queria a todos no Paraíso e que o Inferno, de que pouco se fala no nosso tempo, existe e é eterno para os que fecham o coração ao seu amor”…

Baixou aos Infernos – A ideia de um céu e de um inferno – incluindo o purgatório e até o limbo (para onde vão as crianças que morrem sem serem baptizadas) - são lugares concretos com uma tradição arreigadíssima na Teologia Cristã mais tradicional.

Os verdadeiros “infernos” a que Jesus baixou foram os calabouços da Torre Antónia de onde foi levado para ser cruelmente torturado pela tropa romana antes de ser condenado à morte.

Estes “infernos” existiram no seu tempo e continuam a existir hoje: campos de concentração, câmaras de gás, prisões clandestinas e celas onde seres humanos são torturados e mortos desaparecendo para sempre de seus familiares e amigos.

VÍDEO

IMPAGÁVEL...

CANÇÕES ITALIANAS

JÚLIO IGLÉSIAS - PASSAR DI MANO
a voz quente, íntima e sensual de Júlio Iglésias estava destinada a esta bela canção ou talvez seja mais apropriado dizer ao contrário: a canção foi feita à medida da sua voz. De qualquer forma resultou totalmente.

CANÇÕES BRASILEIRAS

MARIA BETÂNIA - MORENA DO MAR
música e letra de Dorival Caymi (1914/08), homem da Bahia, compositor, cantor, violinista, pintor e actor. Sofreu a influência da música negra e tinha um estilo muito pessoal. Os seus versos eram espontâneos e a música de uma grande riqueza melódica e sensual. Tudo isto está presente nesta canção interpretada por uma das "divas" da música brasileira, também ela baiana.

CANÇÕES PORTUGUESAS

MARIZA - VIELAS DE ALFAMA
é o mais antigo e um dos mais típicos bairros da cidade de Lisboa. O seu nome deriva a árabe "al-hamma" que significa fontes quentes. É uma espécie de pequenina aldeia em que as pessoas todas se conhecem e cumprimentam diariamente.


DONA
FOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 174



Metia-se em empresa de vulto, comprava um matrimónio. Atravessou uns tempos ruins, ao começo, resgatando promissórias a juros altos. Foi-lhe de valia naquelas aperturas o banqueiro Celestino a quem o recomendara outro membro da orquestra de amadores, doutor Venceslau Pires da Veiga, quase tão bom no violino quanto no bisturi famoso. O português sentiu logo o homem sério: tinha olho e olfacto, não se enganava nunca. Abriu para doutor Teodoro a possibilidade de reforma de títulos, facilitando-lhe a vida.

Homem de módicas despesas (seus luxos resumiam-se em enfermeira competente para a mãe, no fagote e na hebdomadária visita a Tavinha Manemolência), com o apoio do banqueiro, transpôs o farmacêutico sem maiores riscos aqueles primeiros tempos do Cabeça, ainda endividado. Um ano antes de engraçar-se por dona Flor, pagara, com um suspiro de alívio, a última letra.

Era agora sócio não da pequena farmácia de Itapagipe e, sim, de drogaria no centro da cidade. E, se bem sócio menor, possuindo apenas duas quintas partes do capital, mandava e desmandava no negócio, pois os três irmãos não se entendiam e raramente punham os pés na Científica (a não ser para pedir avanço sobre a retirada).

Ao demais, farmacêutico a dar título ao estabelecimento, cabia-lhe por isso e pelo seu trabalho diário uma participação maior nos lucros. Tranquilo à espera de mais cedo ou mais tarde comprar as outras quotas quando os irmãos, caterva de preguiçosos e inúteis, acabassem de pôr fora, na boa vida, os demais bens da herança, doutor Teodoro ganhara o respeito e a estima do bairro, inclusive das comadres.

Quando surgira no Cabeça, irrepreensível em sua roupa escura, sério e competente, solteirão andando para os quarenta, as comadres, apenas o viram, puseram-se em acção. Logo vasculharam sua intimidade, pesaram sua ciência – “que não mais delicada na agulha da injeção, receita melhor que muito médico” – passando a pente fino os detalhes de sua vida: dos estudos pagos com o trabalho da mãe à frente do armarinho em Jequié até os solos de fagote, arte e prazer do celibatário, com lágrimas no capítulo dramático do derrame quando doutor Teodoro jurara não amar mulher alguma para melhor atender à paralítica.

Dona Dinorá, escrupulosa e exacta, pertinaz em busca de minúcias, estendeu seu campo de pesquisas até Itapagipe, onde entrevistou a própria enfermeira a conduzir a velhota no carrinho de aleijada. Aquela dedicação de filho a merecer sonata, melodia e poema impôs-se à maledicência das comadres, que deixaram o boticário em paz com seus hábitos austeros e sua mãe enferma.

Tão acostumada com o solene compromisso filial, nem se deram conta da profunda mudança qualitativa ocorrida meses antes, quando a mãe do doutor Teodoro finou-se em sua cadeira de rodas, na qual vivera por mais de vinte anos: livre o filho da fatal promessa, apto para o casamento. Mas para as comadres o farmacêutico não existia como motivo de fuxicos e cochichos. Futricavam de todo o mundo menos dele, “homem direito é doutor Teodoro”.

Qual o espanto, pois, qual o assombro, o fim do mundo, quando estourou a notícia do interesse do droguista pela professora de culinária. Ah!, traidor! As comadres em formação ocuparam todas
as posições estratégicas entre a drogaria Científica e a Escola de Culinária Sabor e Arte.

sexta-feira, julho 16, 2010

VÍDEO

O Mirone... repare-se no especial incómodo da senhora deitada à direita... não era para menos...

CANÇÔES ANGLO-SAXÓNICAS

ELVIS PRESLEY - LOVE ME TENDER
ele era, indiscutívelmente, "The King". Das vozes não trabalhadas foi uma das melhores... de sempre. Como "baixo" não tem nem teve mesmo rival.

CANÇÕES ITALIANAS

BOBY SOLO - UMA LÁGRIMA SUL VISO
San Remo, 1964. Outros tempos, outras vozes, outros ritmos... quem os viveu ficou preso a eles... pelos sentimentos que despertam, pela suavidade e ternura da linha melódica e... porque...porque éramos jovens.

CANÇÔES BRASILEIRAS

ALMIR SATER - CABECINHA NO OMBRO
é uma canção sertaneja e "explodiu" em Lisboa no princípio dos anos sessenta, quando eu estava a começar o meu curso. Lembro-me tão bem dela que ficou a fazer parte da minha juventude...
além de que é muito bonita e terna... basta olhar na expressão do cachorrinho...

CANÇÕES PORTUGUESAS

ANA MOURA - O QUE FOI QUE ACONTECEU

Ela é de Coruche mas como aqui não havia maternidade veio nascer à minha cidade, Santarém, em 1979. Tem já reconhecimento internacional pois é, definitivamente, das vozes de maior qualidade da nova geração de cantoras portuguesas... e este fado - canção é lindo!


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 173



No dia seguinte, na primeira folga, devolveu a palavra a Violeta Sá, sua prometida e nunca mais voltou a ter outra namorada. De alegria e diversão restou-lhe apenas o fagote, instrumento que aprendera ainda ginasiano, na Lira Municipal.

Tendo vendido a loja em Jequié, associara-se a decadente farmácia em Itapagipe, propriedade de um médico de triste fim: numa senilidade precoce cometera os maiores desatinos, obrigando a família a interná-lo. Doutor Teodoro alugou casa por ali perto e viveu exclusivamente para o trabalho e para a mãe entrevada, inútil numa cadeira de rodas, o olhar de espanto, a voz rouca e difícil, ciumenta do filho. Sentando-se ao seu lado, à noite, ensaiava ele solos de fagote, para suavizar a terrível solidão da enferma.

Durante anos e anos mal saiu do bairro, onde se fez popular e estimado. Tendo conhecido o músico Agenor Gomes, ingressou com o seu fagote na orquestra de amadores que, em torno ao competente maestro, reunia médicos, engenheiros, um juiz, um balconista, dois lojistas. Aos domingos, ora na casa de um ora na de outro, juntavam-se a tocar, felizes com seus instrumentos e suas composições.

Sob a direcção do jovem titular, retornou a farmácia à sua antiga prosperidade e a fama de homem correcto e bom do doutor Teodoro se impôs e só fez crescer com o tempo.

Muitas pretendentes rondaram o fagote do moço farmacêutico, mas ele, sério e incapaz de roubar tempo a moça casadoira, a nenhuma deu trela ou esperança. Finuras de namorados reservava-as todas para a paralítica: flores, caixas de chocolate, lembranças delicadas e uma sonata composta pelo maestro em homenagem àquela devoção de filho e mãe: “Tardes de Itapagipe com o amor materno”.

O médico insano morreu sem recuperar-se, doutor Teodoro tratou do inventário, resolvendo os diversos problemas como se cuidasse de bens de gente sua. Talvez por isso a viúva imaginou casá-lo com a filha mais moça, uma catraia assustadora. Por sorte, a promessa impedia doutor Teodoro, porque se assim não fosse era capaz de ver-se de súbito esposo do mostrengo, de tal forma era impositiva a viúva. Já o tratava como sogra, dispondo sobre sua vida. Num alarme, doutor Teodoro só teve um recurso: passar adiante sua parte na sociedade, retirando-se da farmácia e da ameaça de noivado.

Quando se interrogava o que fazer com o dinheiro recebido, um seu conhecido (seu e nosso, pois já em outra ocasião o vimos, ao volante, na rua Chile, quase atropelando dona Rozilda e ainda lhe dizendo régios desaforos, aquele esperto representante de drogas e laboratórios, Rosalvo Medeiros) deu-lhe uma deixa de primeira: a Drogaria Científica, estabelecimento próspero, num ponto formidável, estava sendo objecto de uma dessas sórdidas lutas de herdeiros num inventário litigioso, torpe briga de família. Óptima oportunidade para alguém com dinheiro; podia fazer um negócio e tanto.

Assim o fez doutor Teodoro, adquirindo as partes de dois dos cinco herdeiros, à vista e a prazo.

quinta-feira, julho 15, 2010


ENTREVISTAS


FICCIONADAS


COM JESUS CRISTO

Entrevista Nº 42


TEMA – Pecados ou Delitos?


Raquel – Venha por aqui, Jesus Cristo, porque essa rua está a abarrotar de gente…

Jesus – Diz-me, Raquel, que alvoroço é esse… aquele homem gritando…

Raquel – Não sei…

Jesus – Outra zaragata na mesma rua?

Raquel – Se quiseres nós aproximamo-nos…

Pregador - … E quem era eu, irmãos, antes de receber a Palavra de ser salvo? Eu cometi todos os pecados. Eu ia para os bares beber e metia-me com todos que me aparecessem pela frente, abusei de mulheres, até de meninas. Eu roubei, irmãos, falsifiquei assinaturas para ficar com negócios alheios. E de que é que me valeu tudo isso? De nada. Porque não conhecia o senhor Jesus Cristo. Bendito seja o seu nome!

Todos – Bendito seja!

Raquel – Está falando do senhor, Jesus Cristo…

Pregador – Eu roubei, forniquei, até matei um tipo que me devia dinheiro… e vejam, irmãos, fui resgatado pela fé em Jesus Cristo. Bendito seja o seu nome!

Todos – Bendito seja!

Raquel – Aonde vai o senhor, Jesus Cristo?

Jesus – Avisar o Oficial de Justiça.

Raquel – Qual Oficial de Justiça?

Jesus – Aquele que prende os mal feitores e os leva perante o juiz…

Raquel – A polícia, quer dizer?

Jesus – Esse senhor que está a falar é um bandido. Há que prendê-lo.

Raquel – Espere… não está ouvindo que ele está arrependido dos seus pecados e…

Jesus – Como é que se arrependeu?... Devolveu aquilo que roubou? E o que se passou com a viúva e os irmãos do homem que matou? É fácil cometer crimes e ir jogo pedir perdão a Deus…

Raquel – Um momento, que já me estão dando sinal dos Estúdios… amigos das E. Latinas, uma vez mais das ruas de Jerusalém e uma vez mais na companhia de Jesus Cristo, que acaba de ouvir e creio que os senhores ouvintes também o deverão ter escutado, o testemunho de um indivíduo que afirma ter-se convertido ao Evangelho…

Jesus – Tu o disseste, Raquel. Ele disse haver-se convertido… mas a fé sem obras está morta.

Raquel – Ao menos já pediu perdão a Deus pelo que fez…

Jesus – E o que tem Deus a ver com isto? Eu disse-o claramente: “Se quando estás entregando uma oferta no altar e sabes que fizeste algo contra um irmão, deixa a tua oferenda e vai primeiro entender-te com ele.

Raquel – Isso significa…?

Jesus – Significa que antes de passar pelo Tribunal de Deus tem que passar pelo Tribunal dos homens. Se cometes um crime tens que pagar por esse crime. O sangue não se lava com orações.

Raquel – E o que propõe, então, o senhor Jesus Cristo?

Jesus – Eu recordo-me de um homem chamado Zaqueo. Conheci-o em Jericó. Era um explorador, tinha enriquecido a explorar gente pobre. Mas escutou a mensagem de Deus. Um dia, disse-me: “aqueles a quem explorei vou-lhes devolver em quadruplicado”.

Raquel – E ele que fez?

Jesus – Disse-o e fê-lo. É que os delitos não se apagam com lágrimas nem com gritos mas sim reparando os danos.

Raquel – E se aquilo que roubaram foi a dignidade de uma pessoa?

Jesus – A que te referes?

Raquel – Ao delito de violação… as violadas sexuais… esse que estava a falar disse que havia abusado até de meninas…

Jesus – E julgará esse indivíduo que dando golpes de peito, como fazem os fariseus, ficará limpo?

Raquel – O senhor deve saber, Jesus Cristo, os culpados desses abusos são muitas vezes os próprios familiares, o irmão, até o próprio padre… os sacerdotes. Ultimamente descobriram-se bastantes casos de abusos sexuais contra crianças cometidos por sacerdotes.

Jesus – E esses sacerdotes vão para a prisão?

Raquel – Não, enviam-nos para mosteiros para rezarem e arrependerem-se.

Jesus – Hipócritas, aqueles que cometem essas ignomínias deviam prender-lhe uma roda ao pescoço com uma pedra de moinho na ponta e afundá-los no mar.

Raquel – Espere… Jesus Cristo… aonde vai?

Jesus – Já te disse, ao Oficial de Justiça. Para avisar que anda um malfeitor à solta na esquina desta rua.

Raquel – Pois… só me resta acompanhá-lo a apresentar a denúncia.

De Jerusalém, Raquel Perez, Emissoras Latinas.



NOTA


Uma Alquimia Perversa – Aquilo que Jesus Cristo observou numa rua de Jerusalém é muito frequente observar-se hoje em dia nos cultos evangélicos, em sessões para novos grupos de cristãos, por exemplo, nos membros da Fraternidade dos Homens de Negócios do Evangelho Completo. Pessoas que “confessam” aos gritos ou com discursos retóricos os seus “pecados” e proclamam terem sido perdoados ao “aceitarem” Cristo. Mas, na maioria dos casos, os seus “pecados” são extorsão, roubos, falsificações, maus-tratos à esposa, abusos sexuais, tudo delitos do âmbito do Código Penal. Pretendem que a “conversão” perante Deus os eximirá de passarem pelos tribunais de justiça e pagarem pelos seus delitos. Transformar delitos em pecados é uma alquimia perversa, destorce a mensagem de Jesus e favorece a cultura da impunidade em países onde existe excessiva tolerância à corrupção especialmente quando praticada por pessoas de fama e poder.

O Abusador Sexual: Um inimigo Conhecido – Está demonstrado por estudos e investigações que os abusos sexuais contra as crianças não ocorrem nas ruas ou em locais perigosos fora das casas. Ocorrem dentro das quatro paredes de um lar que deveria ser “doce lar” mas que de doce nada tem. Os abusadores são conhecidos: padres, padrastos, tios, avôs, irmãos… a esta forma de abuso chama-se, Incesto.

Todo o abuso sexual é um abuso de poder. A diferença é que à violência exercida por um estranho para cometer um abuso sexual é acrescentada, no caso concreto do incesto, e para além da violência, o aproveitamento da confiança, do respeito e do afecto para seduzir a criança e garantir o seu silêncio.

Entre os “conhecidos” que abusam das crianças estão os sacerdotes e os pastores cujo crime deve ser, igualmente, considerado incesto, porque embora não sendo familiares, os clérigos e religiosos são para as crianças figuras da autoridade, tal como os seus familiares e nos colégios, orfanatos, catequeses e cultos, servem-se também
de vínculos de afecto que estabelecem com as crianças.

Foi a denúncia de uma advogada nos EUA contra o abuso sexual que sobre ela, em criança, tinha sido cometida pelo pai que fez com que a legislação daquele país permitisse a prescrição destes crimes. Hoje, eles podem ser denunciados, julgados e sancionados mesmo passados muitos anos.

O Delito Mais Silenciado – O incesto é o crime mais silenciado em qualquer sociedade no mundo. Maior se os abusados forem crianças do sexo masculino, maior ainda se os abusadores forem sacerdotes ou religiosos… porque, nestes casos, os abusadores são encobertos e protegidos pelos seus superiores e as vítimas não se atrevem a falar dado o carácter “sagrado” daquele que abusou delas.

Foi nos anos 80 que começaram a ouvir-se nos EUA as primeiras denúncias de sacerdotes abusadores sexuais de crianças e a partir de então, e de forma crescente, conheceram-se centenas de casos no Canadá e em toda a Europa.

Uma informação detalhada, abundante e estarrecedora sobre um grande número destes delitos praticados por sacerdotes, religiosos e bispos católicos, descobertos durante o Pontificado de João Paulo II e encobertos com a sua cumplicidade, consta de um livro de um investigador britânico, David Yallop, (Editorial Planeta, 2007).

Um dos casos que Yallop não chegou a documentar no seu livro diz respeito ao dos Jesuítas dos EUA, missionários no Alasca, que tiveram de pagar 50 milhões de dólares a 110 esquimós que foram vítimas de abusos sexuais de uma dezena dos seus membros, entre 1961/87.

De acordo com as afirmações de um dos advogados das vítimas, é difícil encontrar um adulto, em algumas daquelas comunidades de esquimós, que não tenha sido violado em criança… “Era difícil imaginar menores mais isolados e desamparados do que aqueles que vivem nestas povoações remotas do Alasca”

Entre 1997 e 2001, 28 sacerdotes católicos na Grã-Bretanha foram presos por abusos sexuais de crianças.

CANÇÕES PORTUGUESAS

AMÁLIA RODRIGUES - RASGA O PASSADO
Amália quando canta não se pertence... Amália é o fado e o fado é Amália...

CANÇÕES ITALIANAS

ALBANO CARRISI - IL RAGAZO CHE SORRIDE (1968)
em dezoito de Novembro de um ano que não sei, também um pássaro de um galho foi-se embora...
... fez-se escuro de improviso e a sua vida acabou. O garoto que sorri, chamavam-no assim...

CANÇÕES ANGLO - SAXÓNICAS

NEIL DIAMOND - I AM I SAID
quando ouço esta música sinto algo que me encanta e comove...não sei explicar...

CANÇÕES BRASILEIRAS
GONZAGUINHA - PONTO DE INTERROGAÇÂO
a letra desta música revela que Gonzaguinha entendia o universo feminino... que não é fácil...


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 172


Assim fazia o farmacêutico hora e digestão, ouvindo e aceitando os conceitos edificantes da mulata, “esse mundo está perdido, seu doutor, não tem santo que dê jeito”. Iam depois para o quarto recendendo a folhas aromáticas, e em Otaviana punha-se o doutor Teodoro, em cama de lençóis alvíssimos, com direito a bis. E como duvidar ainda de sua macheza, se quase sempre ele usava do direito e galhardo repetia o bom folguedo?

Sem acréscimo de preço, vale dizer, pois Tavinha Manemolência não cobrava por vez e sim por noite, recebendo pela noite inteira, mesmo quando o freguês, limitado em sua liberdade pelo controle familiar, saía às pressas utilizando apenas o pequeno tempo de uma mentira. Preço salgado, tabela alta, prazer caro; mas tanto requinte de trato, tanta gentileza e competência valiam o esbanjamento.

Doutor Teodoro permanecia até à meia noite, por vezes tirando uma soneca na cama de colchão de barriguda, macio e quente com a gentil Otaviana a lhe velar o sono. Antes de ir-se, ainda ela lhe trazia um munguzá, um arroz coce, uma canjica, e novo cálice de licor para lhe “restaurar as forças” como, num sorriso de dengo, murmurava a parda e digna marafona.

Não o inscreviam as comadres em listas nem o envolviam em pilhérias matrimoniais por saberem-no dedicado à mãe velhinha paralítica, para quem o filho era tudo. Quando ela sofrera o derrame, doutor Teodoro, recém-formado, prometera-lhe manter-se solteiro enquanto ela vivesse. Era o menos que podia fazer para lhe provar sua gratidão.

O pai faltara-lhe quando ele, aos dezoito anos, preparava-se para o exame vestibular na Faculdade de Medicina. Quis interromper os estudos, fixar-se para sempre na cidade de Jequié onde residiam, assumindo o balcão da pequena loja de fazendas, único bem legado pelo pai, além de dívidas aos montes e larga fama de bondade. Mas a viúva, mulher aparentemente frágil porém disposta, não admitiu o sacrifício: a única ambição do falecido tinha sido formar o filho, e o jovem Teodoro revelara-se um óptimo estudante, os professores prognosticavam-lhe grandes êxitos. Fizesse ele seus exames e seguisse o curso, a mãe se encarregaria do armarinho. Houve apenas uma toca; em lugar de medicina, ele cursou farmácia, de currículo três anos menor.

Sozinha, trabalhando noite e dia, numa estafa contínua a viúva administrou casa e negócio, pagando as dívidas e garantindo a mesada do filho académico.

Por mais de uma vez ele tentou empregar-se mas a mãe se opunha: seu tempo era sagrado para os estudos, ficando o trabalho para depois da formatura.

Quando o viu doutor, de anel e diploma, envolto em beca preta na solenidade da colação de grau, não suportou tanta alegria: na mesma noite, de regresso ao hotel, teve o derrame. Salvou-se por milagre mas ficou para sempre paralítica.

Ao vê-la à morte, o jovem farmacêutico, num gesto de herói de dramalhão, no entanto sincero,
jurou-lhe permanente companhia, manter-se solteiro
enquanto ela vivesse.

quarta-feira, julho 14, 2010

CANÇÕES BRASILEIRAS

ALCIONE - NÃO PEÇA PRA FICAR
ninguém como Alcione terá cantado de forma tão sincera e arrebatada "casos de amor"... é um reportório fascinante... porque se tirarmos da vida os "nossos casos de amor" o que fica de verdadeiramente importante...?

CANÇÕES ITALIANAS

EROS RAMAZZOTTI - POR TI ME CASARE

CANÇÕES PORTUGUESAS

PACO BANDEIRA - O ELVAS, O ELVAS
Um dos mais sólidos valores da música popular portuguesa com mais de 40 anos de carreira. Elvas, era a sua cidade natal onde nasceu em 1945, de seu nome Francisco Veredas Bandeiras (Paco Bandeira).



DONA FLOR


E SEUS DOIS


MARIDOS

EPISÓDIO Nº 171




Verdade tão sabida e assente, por isso não foi ele alvo de burla e mexerico como os demais celibatários conhecidos, em toda essa história de dona Flor.

Dona Dinorá, imperatriz das xeretas e advinha, transitava diariamente em frente à Drogaria Científica; duas vezes por semana descobria a bunda flácida (ah!, o transitório da vaidade e da grandeza humanas: aquela mesma bunda chocha fora cantada em versos de rimas satânicas por mestre Robato, quando adolescente vate da escola demoníaca, custando sua visão e toque cheques e boladas a senhores ricos do comércio) frente ao farmacêutico para a dolorosa injeção anti-reumática, e nem assim seus olhos de vidente, capazes de antever o futuro, divisaram no moreno senhor a segurar-lhe a pelanca o soberbo quarentão da profecia. Porque sabia, e melhor que ninguém, como lhe era impossível tomar esposa.

Não por xibungo, por impotente ou por donzelo com quizila de mulher. Por Deus, que nem em pensamento surja suspeita dessa espécie, pois doutor Teodoro, homem pacífico, amável, de bom viver, era muito capaz de afastar-se do seu habitual comedimento e exibir sobejas provas da sua masculinidade, partindo as ventas do canalha capaz de injuriá-lo ao pôr em dúvida sua inteireza de homem.

De homem com muita serventia de macho, se bem discreto. Se alguém exigir sobre o assunto depoimento preciso e incontestável, basta entrevistar no Beco do Sapoti a pujante e asseada Otaviana das Dores ou Tavinha Manemolência, rompendo-lhe com uns cobres a reserva devida à sua selecta freguesia: dois desembargadores, três comerciantes da Cidade Baixa, um padre secular, um professor de medicina e o nosso excelente farmacêutico.

Por suas manifestas qualidades de limpeza, de discrição e de seriedade – mais bem uma senhora recebendo em sua casa tão acolhedora – Otaviana merecera a escolha e a frequentação do doutor Teodoro, infalível às quintas-feiras após o jantar. Os fregueses de Tavinha, elite sigilosa e preclara, eram de dia certo (ou noite certa), cada um com os seus hábitos e gostos, suas preferências – às vezes bem esquisitas como as do desembargador Lameira quase coprófilo – e a todos, competente e cómoda, ela atendia, dando-lhes completa satisfação. Aos varões normais e sem problemas, como doutor Teodoro e aos velhos sátiros, pururucas, come-bronhas, chupa umbigos, deixando regalados e contentes uns e outros.

Às vinte horas em ponto, cada quinta-feira, doutor Teodoro atravessava o batente da porta, sendo recebido com especial estima e cortesia. Aboletado em cadeira de balanço, com Otaviana a tricotar sapatinhos de nené, bebericando um licor de frutas, especialidade das freiras do convento da Lapa, mantinham doutor Teodoro e a mundana proveitoso diálogo, passando em revista os acontecimentos da semana, o noticiário dos jornais. Na convivência dos senhores ilustrados, adquirira Tavinha um verniz erudito, era de conversa agradável, uma intelectual, e no Beco do Sapoti consultavam-na a qualquer propósito. Ao demais, de muita moralidade, a criticar os costumes actuais, esse disparate que vai pelo mundo, devassa e incrédula juventude.

terça-feira, julho 13, 2010


ENTREVISTAS


FICIONADAS


COM JESUS CRISTO


Entrevista Nº 41



TEMA – A QUEM CONFESSAR-SE?



Vizinho – Paga-me ou mato-te, pedaço de ladrão.

Jovem – Sem-vergonha, agora é que vais saber…

Raquel – Continuamos nos arredores do templo do Redentor, em Jerusalém. Depois deste inesperado incidente, a rua voltou à sua normalidade e Emissoras Latinas retoma a sua transmissão.

Jesus – Por que discutiriam eles, Raquel?

Raquel – Não faço ideia. Talvez por dívidas atrasadas, mas é uma boa ocasião para perguntar a Jesus Cristo, que novamente nos acompanha, qual a opinião que tem sobre o que vimos. Com certeza que no seu tempo não era assim, não se viam estas coisas…

Jesus – Também conheci zangas por causa de dívidas e gente violenta… mas repara, Raquel, não estávamos falando ali, dentro do templo, da confissão dos pecados?

Raquel – Disso falámos, sim… e?

Jesus – Nem de propósito. Diz-me que fazer com esses zaragateiros para se reconciliarem com Deus? – Irem confessar-se a um sacerdote que nem os conhece e que está escondido numa jaula dentro da Igreja?

Raquel – Bem, ainda que não seja eu a entrevistada mas sim o senhor… direi que… deveriam entender-se entre eles dois.

Jesus – Tu o disseste. Porque não faz sentido que eu ofenda o Matias e me confesse ao Zacarias.

Raquel – E não seria melhor que pedissem perdão a Deus directamente?

Jesus – É que, senão pedes perdão ao teu irmão a quem vês, como vais pedir perdão a Deus a quem não vês? Se não devolves a quem roubaste a quem vais devolver?

Raquel – Definitivamente, Jesus Cristo, que fazemos com o chamado sacramento da confissão?

Jesus – Essa confissão, como explicava esse amigo a quem telefonaste há pouco, está cheia de medos e culpas de muita gente. Há que esquecê-la.

Raquel – Então, segundo o senhor, que deveria fazer as pessoas para se reconciliarem?

Jesus – Que dialoguem os dois, a sós, que se perdoem uma ao outro.

Raquel – E se não conseguirem pôr-se de acordo?

Jesus – Procurem uma terceira pessoa e falem.

Raquel – E se mesmo assim não conseguirem resolver o problema?

Jesus – Bem, então nesse caso, que o apresentem à comunidade. Assim fazíamos no nosso Movimento. Recordo-me que uma vez Pedro estava furioso com Santiago e com João por algo que haviam dito. Já esquecido da ofensa, Pedro disse-me que não era a primeira vez que eles estavam conspirando. Perdoa-lhes, Pedro, disse-lhe eu. Quantas vezes devo perdoar a esse par de desavergonhados, respondeu-me ele. Duas, quatro, sete vezes?

Raquel – E o senhor que disse?

Jesus – Se não chegarem sete, serão setenta vezes sete, Pedro. Essa é a confissão que tem valor, o perdão entre humanos.

Raquel – No entanto, senhor Jesus Cristo, eu estive a rever os Evangelhos e aqui, no de João, o senhor diz claramente aos sacerdotes: “Aqueles a quem perdoarem os pecados eles ficarão perdoados”. No Evangelho de Mateus disse também: “Quando atam na terra, ficará atado no céu”. Então?

Jesus – Então, nada. Eu disse isso mas não dirigido a nenhum sacerdote, disse-o à comunidade. A comunidade é que perdoa, não os sacerdotes. É na comunidade que nos perdoamos e não nesses recantos escuros dos Templos.

Raquel – Tão pouco nesses cultos de oração e milagre, donde os pastores e pregadores cantam, gritam e perdoam às multidões?

Jesus – Certamente, é que não necessitamos de sacerdotes, nem pastores, nem pregadores para perdoar pecados. Fui sincero naquilo que disse. Se ofenderes alguém, pede-lhe perdão e não repitas o dano. Se alguém te ofende, perdoa-lhe. E Deus que vive na comunidade e conhece o que está dentro do teu coração também te perdoará a ti setenta vezes sete te perdoará… sempre.

Raquel – Com estas novas declarações de Jesus Cristo encerramos por hoje esta nossa transmissão.

Raquel Perez, Emissoras Latinas, Jerusalém.


NOTA

Setenta Vezes Sete – Nesta conversa com Raquel, Jesus recorda uma discussão que teve com Pedro, Santiago e João (Mateus 18, 21-35) à qual pôs termo dizendo a Pedro que tem que perdoar setenta vezes sete vezes.

Na cultura israelita o número sete é especialmente significativo e a origem da sua importância estava na observação das quatro fases da lua que duram, cada uma delas, sete dias. Daqui passaram os israelitas a associar o número sete a um período completo. O sete significa para Israel uma totalidade querida por Deus. A ordem do tempo estava baseada no sete. O sábado, dia sagrado, chegava cada sete dias. Perdoar sete vezes era perdoar completamente. Setenta é uma combinação do sete e do dez.

Se o sete era a plenitude, a totalidade, o dez – o seu carácter simbólico partiu dos dez dedos da mão – também tinha o carácter do número pleno ainda que a um nível mais baixo. Setenta vezes sete quer dizer sempre, sem excepção.


É na Comunidade que Perdoamos – A prática, na Igreja primitiva, era olhar para a conversão e para o perdão relacionando-os com a comunidade, enquanto que a teologia medieval centrou o perdão dos pecados do indivíduo por mediação sacerdotal.

A prática da confissão individual (o penitente perante o sacerdote, o secretismo, a enumeração e o detalhe de todos os pecados) foi questionada desde os primeiros anos como uma prática intimidatória. Por isso, após o Concílio Vaticano II, surgiram novas formas de celebrar este sacramento nas quais o sacerdote absolvia a comunidade que se reunia, motivada por razões de humildade e de reconhecimento dos erros cometidos. De qualquer forma, era ainda o sacerdote aquele que “perdoava”. O Papa João Paulo II fez regredir esta evolução do Concílio Vaticano II e reforçou novamente a prática da confissão individual.

Santiago, irmão de Jesus, dizia: “Confessem-se mutuamente os vossos pecados para que sejam curados”. Esta citação parece ser um convite a uma “confissão” e a um “perdão”em comunidade sem a mediação de um sacerdote como um “perdoador oficial”.

Uma Mensagem Clara – Jesus falou com tanta clareza sobre o perdão que não há como ter dúvidas:

- Se ofendermos alguém devemos procurar essa pessoa e falar com ela para nos reconciliarmos; se isso não for suficiente devemos procurar uma terceira pessoa, um mediador, e se mesmo assim não for possível devemos recorrer à comunidade para procurar o perdão.

Ao fim e ao cabo, Jesus, preconizava há dois mil anos atrás uma “fórmula” muito dentro do espírito com que se empreende hoje a resolução dos conflitos internacionais e que foi em grande parte impulsionada pelo actual Presidente dos EUA, Barack Obama, e oposta ao do seu antecessor Bush, "cristão" assumido.

Como é que a Igreja de Roma regressou à confissão individual, ao sacerdote, insistindo nele como o personagem “sagrado” que tem o poder de perdoar é o que custa a entender. A dignidade das relações humanas exige a revisão da prática deste sacramento perfeitamente anacrónico nos dias de hoje.

CANÇÕES ITALIANAS

ADRIANO CALENTANO - SOTTO LE LENZUOLA (SANREMO 1971)

...na outra noite eu a traí e voltei às cinco da manhã... quieto, quieto, debaixo dos lençois não queria acordá-la... mas o abajour ficou perto dela, iluminou-se como os seus olhos... ele me olhou, eu não falei e como Judas a beijei...


CANÇÕES ANGLO-SAXÓNICAS

VIOLA WILLS - GONNA GET ALONG

CANÇÕES BRASILEIRAS

ELIS REGINA - FASCINAÇÃO
a canção mais bela que a Elis cantou... e as imagens são lindas

DONA
FLOR

E SEUS

DOIS

MARIDOS

EPISÓDIO Nº 170


Soberbo quarentão: tudo quanto a bola de cristal e as sebentas cartas revelaram a dona Dinorá na tarde de profecia, amigas e comadres foram descobrindo em doutor Teodoro, ponto por ponto, sem faltar minúcia. O dinheirinho e o título universitário, a compleição, o talhe, a figura, o porte digno, os modos elevados, tudo; e, no entanto, naqueles tempos em que buscaram pelas ruas e praças, num afã de gargalhadas, face correspondente ao retrato da vidência, ninguém pensou no farmacêutico. Como explicar tamanho absurdo se estava na cara, bastando olhar e ver? Cegueira de todas as comadres e amigas ou engano desta detalhada narrativa, erro fatal para gáudio da crítica adversa?

Nem erro nem engano e, sim, uma espécie de obtusidade colectiva impedindo que comadres e amigas descobrissem no fundo discreto da farmácia, os óculos sobre o nariz, o correntão de ouro, curvado sobre as drogas, a misturar venenos para transformá-los em remédios, distribuidor de saúde ao domicílio e a preços módicos.

O cronista dos matrimónios de dona flor, de suas alegrias e aflições, foi apenas fiel à verdade não colocando doutor Teodoro na lista dos pretendentes cujas candidaturas as comadres propuseram, pois nenhuma delas se lembrou do boticário, não vindo seu nome à baila naqueles saborosos cavacos em torno da viuvez de dona Flor, quando todas queriam distraí-la. Aliás, pouco perdeu o doutor com tal esquecimento, quando muito, teria participado no sonho em que dona Flor se viu em roda de ciranda circundada de babaquaras, aspirantes à sua mão. Melhor para ele: nem em sonhos apareceu em papel ridículo, não se desgastando na estima da viúva.

Mas, por que tal cegueira, por que o esqueceram, não o descortinaram ao balcão da farmácia, junto aos vidros azuis e vermelhos, cercado por aquele odor de medicina, com a agulha da injecção pronta para picar braços e nádegas de todas as velhotas suas clientes? Se tanto o viam e com ele tratavam por que não o enxergaram?

Por sabê-lo impedido para o casamento e sem remédio; por isso, ao contarem solteiros pela rua, na relação não inscreviam o boticário, como se fosse casado, com mulher e filhos. Nem mesmo dona Norma, em sua meticulosa busca de noivo para a esmorecida Maria, sua vizinha e afilhada, em nenhum momento dele se lembrara. Doutor Teodoro? Esse não casou nem casará, não vale a pena nele se deter, perda de tempo; mesmo se quisesse construir um lar, não o poderia, uma lástima, coitado!

segunda-feira, julho 12, 2010

CANÇÕES FRANCESAS

ALAIN BARRIERE E NOELL CORDIER - TU T'EN VAS
uma das mais belas canções francesas

CANÇÕES ITALIANAS

EROS RAMAZZOTTI Y LAURA PAUSINI - VOLARE


A RAPARIGA MAIS BELA DO MUNDO
.... não é uma boa maneira de começar a semana?


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 169



Casar e logo, ter seu marido, viver com ele vida decente e honesta, como era de sua natureza e de sua obrigação, em vez d arder em sonhos, solitária, a morder os lábios, a ranger os dentes, contendo-se somente por medo e preconceito. Ela, dona Norma, não permitiria perdesse dona Flor tão magnífica oportunidade, oportunidade única, outra melhor é impossível, e a perdesse por falso recato, por tolice, por estupidez. Não, três vezes, não.

Assim, após a aula vespertina, na qual dona Flor ensinou às alunas a receita de um doce de gelatina e coco apelidado “creme do homem”, nome a provocar piadas – “ai, creme mais saboroso!” -, dona Norma veio buscá-la e a arrastou ao Cabeço, a pretexto de comprar flores. Compra mais difícil, dúzia de angélicas de escolha trabalhosa. Não se dispunha dona Norma a compor o buquê, sempre insatisfeita ante o espanto do vendedor, o velho negro Cosme de Omolu, pois doutor Teodoro, sumido nas profundezas da farmácia, não se fazia visível. Depois das flores foram os acarajés de Vitorina e nada do farmacêutico aparecer ao balcão. Mas dona Norma não era de dar-se por vencida: embarafustou sem aviso, farmácia adentro, arrastando dona Flor em crise, a pedir ao caixeiro um pacote de algodão. Queria dona Flor enfiar-se terra adentro, dona Norma num vozerio, numa saliência, onde já se viu tanta presepada?

Ao fundo, no pequeno laboratório, por detrás dos grandes frascos azuis e vermelhos, como uma gravura do livro de alquimia, viram doutor Teodoro moendo sais e venenos num pilão de pedra. Tinha posto os óculos e, muito atento, após moer, pesava, em pequena balança de brinquedo, quantidades mínimas de pó e sais. Concentrado no mistério do fabrico da receita, não se deu conta da presença das senhoras no estabelecimento, como se até ele não chegasse a voz de dona Norma a repetir um caso saído nas gazetas.

Deixando a balança, o boticário punha num tubo de ensaios o pó resultante dos minerais moídos, em ínfimas quantidades, juntando-lhes vinte exactas gotas de um líquido incolor, e logo tudo foi uma fumaceira avermelhada a circundar de ciência e de magia a cabeça morena e forte do doutor.

Dona Norma não perdeu a deixa, sua voz ressoou, aduladora:

- Repare, Flor, minha querida, doutor Teodoro até parece um bruxo todo cercado de enxofre… T’esconjuro!

Estremeceu o doutor ao ouvir o nome, não o seu, mas o de dona Flor: ergueu os olhos sobre os óculos (úteis apenas para enxergar de perto), constatou a presença da poesia entre os remédios, vacilou em suas bases mais recônditas, um frio no baixo-ventre. Quis erguer-se, ficou atarantado e zonzo e lá se foi para o chão o tubo de ensaio em mil cacos e o remédio quase pronto (mezinha para aliviar da tosse crónica de dona Zezé Pedreira, uma velhinha de cristal, da Rua da Forca) virou mancha escura no chão, enquanto a fumaça de sangue persistia em torno ao austero rosto do doutor.

- Ai, meu Deus… - disse dona Flor.

E nada mais foi dito nem aconteceu, apenas dona Norma riu-se pagando a conta do algodão, pois era cómica a figura do droguista, semi erguido na cadeira, a mão no ar, como se ainda sustentasse o tubo de vidro, os óculos resvalando pelo nariz, mudo e estupefacto.

De todo encabulada, morta de sem jeito, saiu dona Flor porta afora, enquanto dona Norma estendia um olhar cúmplice ao romântico boticário, como uma corda a um náufrago. Dr. Teodoro tentou articular uma palavra, não pôde.

Dona Norma alcançou dona Flor na esquina: ainda mantinha alguma dúvida sobre a influência do farmacêutico? Ou queria, por acaso, numa exigência absurda para viúva roída de desejo, gemendo no alvéu de luto, candidato de melhor estirpe, classe e compleição? Impossível melhor partido, minha santa: doutor de diploma e anel de ametista verdadeira, proprietário estabelecido, bonitão, todo composto de colete e ouro, forte
de saúde, morigerado de actos, um
senhor de bem, soberbo quarentão.

domingo, julho 11, 2010

BOM DOMINGO A TODOS
FRATERNITY BROTHERS - PASSION FLOWER
um tributo a Fraternity Brothers e a Mónica Belluci

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