sexta-feira, julho 28, 2006

O PAÍS DOS INIMPUTÁVEIS


Os CTT, empresa pública, pagaram 19000 euros a Scolari por uma palestra de 45 minutos subordinada ao tema “Como fortalecer o espírito de Grupo” que teve lugar no Pavilhão Atlântico, em 14 de Janeiro de 2005, perante uma audiência de 3500 pessoas.

Esta palestra integrou-se no “Encontro de Gestão Global” dos Correios de Portugal cujos custos totais, relativos a esse Encontro, ascenderam a perto de 1 milhão de euros.

Noutros tempos isto seria um caso de polícia, hoje, os responsáveis da Administração da empresa consideram-no… “um momento alto na vida dos CTT.”

Timidamente, a Inspecção-Geral de Obras Públicas, considerou no seu Relatório… “haver indícios de má gestão” e por aqui nos vamos ficar porque qualquer juízo condenatório irá esbarrar num outro conceito que é o da inimputabilidade.

Para estes senhores que gerem ou melhor, se servem das nossas empresas com toda esta sem vergonha, basta que as suas “consciências” estejam descansadas da mesma forma que estão descansadas todas as consciências dos inimputáveis.

E assim, o Zé Povinho do Bordalo Pinheiro do último quartel do Sec.XIX, teima em manter-se vivo não tanto por força dos políticos mas de uma outra casta mais recente, discreta mas muito mais eficiente nos seus desígnios de enriquecimento à custa dos nossos dinheiros e que são “os Homens dos Conselhos de Administração das Empresas Públicas”.

Se é para isto, privatizem-nas e depois respondam perante os accionistas mas não brinquem connosco, simples cidadãos.

quinta-feira, julho 27, 2006

NÃO HÁ PALAVRAS




Sabiamente, o jornalista não afastou o microfone enquanto a expressão da jovem senhora se mantinha muda.

As mãos contorciam-se e os seus olhos negros, grandes, com as sobrancelhas bem delineadas, mantinham-se inexpressivos enquanto a boca entreaberta parecia tomar balanço para dizer qualquer coisa.

Finalmente, com nítida relutância, confessou:

“ Não há palavras, todas as palavras que eu pudesse utilizar para me referir aos israelitas seria estar a ofender essas palavras. Chamar-lhes animais seria estar a ofender os animais”

À sua frente, de costas para a câmara, estaria a sua casa destruída, uma casa de pessoas civis, palestinianas, adquirida e mobilada com o trabalho de todos os dias e de todos os anos.

Fiquei preso a este testemunho e à convicção de um terrível dilema para os judeus de Israel: quantas mais guerras ganharem mais pessoas perdem para sempre do outro lado da fronteira e mais inimigos ganham.
Neste conflito há qualquer coisa de errado desde a primeira hora, com dois caminhos divergentes à saída do ponto de partida e em que um deles é ignorado, posto de parte como senão existisse ficando, desta forma, apenas um como o único possível.

Quando os judeus se começaram a instalar na Cisjordânia sabiam que iam ter por vizinhos os árabes que naturalmente viram neles concorrentes que vinham disputar o território, a eles, que já lá estavam.

Numa estratégia de boa vizinhança, elementar a pessoas sensatas, teria competido aos judeus, em primeiro lugar, compreender essa primeira reacção dos árabes e posteriormente, através de políticas efectivas, demonstrar-lhes a vantagem de poderem beneficiar de uma vizinhança mais rica e tecnologicamente mais avançada.

Sem descurarem, naturalmente, o investimento na sua defesa, ali, o melhor investimento teria sido nos seus próprios vizinhos cujos níveis de bem-estar deveriam ter sido sempre motivo de preocupação dos Israelitas.

Ter vizinhos satisfeitos teria sido o grande antídoto para a guerra e a solução para a paz.

O regime do Irão, dos Ayatollahs fanáticos que sonham dirigir um Império religioso na região para daí partirem à conquista do mundo perceberam isso perfeitamente.

Como dizia um outro testemunho no sul da palestina:

“é o hezbollah que me está a construir a casa e a ajudar-me no trabalho, na educação dos filhos, na saúde…” e o dinheiro para todas estas despesas de carácter social vem do Irão que tem tudo menos dificuldades financeiras.

Mas a preto e branco só os filmes e mesmo esses só para certas elites cinéfilas e os enredos em que de um lado estavam os bons e do outro os maus há muito que já não são levados a sério.

O que existe, de facto, são políticas que conduzem as sociedades e o mundo por determinados caminhos e, pressuposto, para certos objectivos.

Quando vejo desfilar nas ruas soldados de deus, vestidos de negro, auto-flagelando-se numa coreografia de povos primitivos e líderes religiosos barbudos, de turbante negro, subirem à tribuna rodeados de seguranças por todos os lados menos por cima apenas porque eles ainda não levitam, fico “pele de galinha”, “vejo” o mundo a andar para trás e a voltarmos aos tempos medievais.

Se considero a política bélica de Israel errada para os próprios interesses dos israelitas e para a paz em toda aquela região, considero, igualmente, altamente perigosa e ameaçadora no futuro para o mundo, a política do Irão e dos seus “enviados” Hamas e Hesbollah.

São políticas que convergem num perigo real para todos nós com a complacência de uma Europa que parece ausente, preocupada consigo própria como se o mundo terminasse a sul, nas praias do Mediterrâneo, e uns Estados Unidos capazes de erros grosseiros e quase infantis como o da invasão do Iraque à procura de umas armas que nunca existiram para além de servirem de “bleuf”a um outro maníaco que vai ser agora, em Outubro, ao que parece, condenado à morte.

E assim vai o mundo e assim vamos nós cada vez com mais dificuldades derivado ao preço do petróleo que com este estado de coisas não para de subir.

segunda-feira, julho 24, 2006

MORTALMENTE SÉRIO


Como dica de fim-de-semana O Macroscópio trouxe-nos um pensamento de Isaac Asimov :



A vida é agradável. A morte pacífica. A transição é que é perturbadora.

Woody Allen, que provavelmente também leu este pensamento, dizia de outra maneira:

Não é que eu tenha medo de morrer; só não quero estar presente quando isso acontecer.

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MAIS UMA VEZ A GUERRA






Quando, na televisão, vemos e ouvimos testemunhos de um lado e de outro, dos que sofrem directamente os efeitos da guerra percebemos com muita facilidade os sentimentos que a uns e a outros estão subjacentes.

Do lado israelita é a fria determinação das pessoas: “esta é a nossa terra e aceitaremos as consequências da guerra sejam elas quais forem e as vezes que forem precisas para sobrevivermos como país.”

Do lado árabe é a raiva, a impotência e o desespero que leva mães a aceitarem e enaltecerem a emulação dos seus filhos transformados em bombas arrastando com eles, para a morte, pessoas inocentes que o único mal que fizeram foi o de estarem num determinado sítio a uma determinada hora.

Dificilmente se encontraria um quadro em que o estado de alma das pessoas seja mais favorável para a destruição recíproca dos respectivos povos porque neste momento já não parece ser mais um problema de fronteiras mas uma questão de direito à sobrevivência.

A supremacia militar e económica de Israel permite-lhe, nesta guerra, como já tinha acontecido nas anteriores, fazer tudo aquilo que o Jumento, muito acertadamente, refere no seu texto Israel – Um País à Margem das Regras.
Mas agora há um elemento novo que estava ausente nas guerras passadas: o terrorismo internacional e a condução da guerra por movimentos religiosos fundamentalistas, casos do Hezbollah, Partido de Deus, que assumiu o controle do Líbano com as suas próprias milícias fortemente armadas pelo Irão e a Síria e do Hamas, criado em 1987 na sequência da 1ª Intifada com o objectivo também de reorientar a sociedade para a religião e que governa a Palestina por ter ganho democraticamente as eleições o que é significativo do estado de espírito das populações.

A posição de fundo destes movimentos é a negação do direito à existência de Israel o que representa uma evolução radical da situação pois nem sequer permite futuras negociações uma vez que não se conversa com quem, para nós, não existe.

E, no entanto, realisticamente, como é referido no texto do Macroscópio “O Conflito do Médio Oriente e a Defesa do Ocidente”a única via é a negociação a fim de chegar a compromissos tanto mais que o conflito do Médio Oriente, ao provocar vítimas que se constituem num espectáculo doloroso de se ver mas que é transmitido para todo o mundo pelas televisões, aprofunda ainda mais os ódios que vão ao encontro das soluções radicais que servem os desígnios de chefes de movimentos religiosos fundamentalistas que procuram o poder para governar através do Corão lido, interpretado e levado à prática por mentes perigosas e doentias completamente avessas ao pensamento ocidental e às nossas conquistas de liberdade e de direitos humanos.
O Xeque Sírio Omar Bakri dizia há tempos numa entrevista:

“Não distinguimos entre civis e não civis apenas entre muçulmanos e descrentes e a vida de um descrente não tem valor”

O Estado de Israel nasceu logo desequilibrado relativamente ao da Palestina mas os sucessivos governos poderiam, a favor da paz, terem procedido oportunamente a justas cedências.

Têm preferido, em vez disso, refugiarem-se na força do seu exército e na cobertura e apoio por parte dos Estados Unidos sem perceberem que um conflito localizado é como uma ferida que não sendo curada alastra e degenera muito em especial naquela zona do mundo.

É verdade que outros países da região, Egipto, Síria, Líbano, Jordânia e Iraque já estiveram envolvidos neste conflito mas esses foram outros tempos.

Agora, confrontamo-nos com um inimigo comum que é o Terrorismo Internacional e nós já o vimos (em directo pela televisão) em Nova Iorque, Londres, Madrid para referir apenas os mais próximos e de maior impacto e sabemos que as raízes dos movimentos que organizam esses ataques estão em certas escolas que ensinam às crianças um certo Corão e ao mesmo tempo a obediência cega aos seus superiores religiosos para funcionarem como futuros soldados do exército de um Deus inventado à medida da ambição desmedida de certos líderes políticos.

E sabemos que os países onde essas escolas funcionam são os que estão na primeira linha contra Israel e tudo isto vai acontecendo como a tal ferida que alastra e degenera.

Por tudo isto, a de visão política dos líderes de Israel recusando conceder aos palestinianos as condições para viverem com dignidade no seu Estado e dos E.U.A. que têm sido maus conselheiros nesta questão, uma guerra que começou por ser um problema a resolver entre israelitas e palestinianos pode tomar proporções muito maiores destabilizando a situação internacional e levando o petróleo para preços que comprometem as perspectivas do nosso desenvolvimento económico.

Este é mais um momento de agravamento de uma guerra que, como diz o 1º Ministro israelita, começou logo em 1948 aquando da constituição oficial de Israel.

Os bombardeamentos, para desespero dos cidadãos que às centenas de milhar fogem das suas casas para não serem mortos e feridos pelo fogo dos canhões e dos mísseis só irão parar, como diz o nosso amigo do Jumento, quando os Israelitas quiserem.

Será assim mais uma vez? E depois, o que se segue?





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