sábado, maio 21, 2016

Neil de Grasse Tyson sobre Criacionismo...  



Bombeiros de Mafamude...



Você é deste planeta?...



Tieta do Agreste
(Jorge Amado)



EPISÓDIO Nº 152






















O Velho Parlamentar, tranquilizado com a retirada das moças, mas sempre contido como compete a um britânico (seu ar britânico, sua elegância londrina, definira um cronista parlamentar que lhe devia pequenos favores), concordou com um aceno de cabeça e reforçou a afirmação de Sua Excelência:

- Uma trabalheira.

Sua Excelência ia falando e despindo-se ao mesmo tempo, as meninas à espera no quarto:

- O Senador pode dizer também quanto tivemos de gastar…

Um gesto apenas, mas significativo, do Velho Parlamentar para demonstrar a enormidade da quantia despendida. Sua Excelência de camisa e cuecas, a cinta dobrada sob o volume da barriga, levanta o copo, os demais o acompanham no brinde:

- Hoje ninguém faz favores de graça, tudo é muito arriscado. Na situação actual ninguém pode se considerar seguro – Conta nos dedos: - Trabalho, dinheiro e risco. Muito risco.

Apesar disso obtive a autorização para o funcionamento da indústria de vocês. Mas, já sabem: Vão poluir longe daqui, São Paulo não aguenta mais tanta fumaça – Os olhos gananciosos passam do Magnífico Doutor para o Audacioso Empresário. – Outro não conseguiria, só mesmo eu. Sabem o que isso significa?

- O país há-de agradecer a Vossa Excelência – pronunciou afoito e ingénuo o Audacioso Empresário.

- O país uma porra! – impulsivo como se sabe, Sua Excelência. Fita o Audacioso Empresário: esse sujeitinho pretende por acaso gozá-lo? Desaparece a figura de caipira bonachão, ergue-se novamente o maioral, senhor de baraço e cutelo, aquele que põe e dispõe.

Imóvel, britânico, o Velho Parlamentar pousa o olhar confiante no Magnífico Doutor cuja voz melíflua, em tom menor porém audível, coloca a gratidão em seus devidos termos:

- O país e a Brastânio, Excelência: O Natal das crianças pobres de São Paulo a quanto subiu? 

Recorda-se Excelência?

O Audacioso Empresário estremece ao ouvir a quantia absurda. Quer falar, obter uma redução, mais uma vez o gesto quase imperceptível do Magnífico Doutor o retém: com Sua Excelência não vale a pena pechinchar, é perigoso; a concessão da licença ainda não foi publicada e certamente não o será antes de tudo estar em ordem, a maquia depositada num banco, na Suiça, como nos folhetins sobre vendas de armas e poços de petróleo.

 Adianta-se o Magnífico Doutor, numa pergunta cuja resposta conhece:

- Como sempre?

- Exacto.

Ao sair pela porta que leva ao quarto onde as duas moças o aguardam, resignadas, Sua Excelência, dirigindo-se ao Magnífico Doutor, aponta o Audacioso Empresário:

- Mudo ele é melhor do que falando. Quando abre a boca, caga tudo. Mas você, no dia que deixar esses ladrões, me procure, tenho colocação para você no meu gabinete.

Apressada, uma das raparigas volta à sala em busca da roupa de Sua Excelência. Apenas ela fecha a porta, o Velho Parlamentar eleva o guarda-chuva e pigarreia.

O Magnífico Doutor entende, estende a mão para a pasta. Não pergunta o custo de Natal dos pobres do Senado, acertara preços e valores com o Jovem Parlamentar no início da longa e custosa operação, ali mesmo, no refúgio dos lordes.

Abre a pasta, preenche um cheque (ao portador, naturalmente). Para cada situação, um lance, para cada parceiro, uma gorjeta, mais gorda ou menos gorda, sempre ponderável.

O Magnífico doutor pensa em termos de gorjeta, gorjeta é o que se dá a um criado mesmo se ele enverga esmo quingue, fraque ou casaca. Excitante partida de xadrez.

Algumas vezes, raras, terminando em escândalo, em processo. Em xadrez, medíocre jogo de palavras. Suspende os ombros: no Brasil, ao que se lembre, nunca.

De qualquer maneira, há sempre um risco a correr quando se deseja gozar a vida ao máximo. Além de ser estimulante diversão, empregar a inteligência que deus lhe deu a mover as peças: a calhordagem de Sua Excelência, a hipocrisia de Velho Parlamentar, a presunção do Audacioso Empresário. Tudo perfeito, não fora ter perdido a ruiva, jogada suja de Sua Excelência.

O Velho Parlamentar embolsa o cheque, depois de constatar-lhe o montante: apenas o combinado, nem um centavo a mais, correctos porém avaros.

O rosto impassível não demonstra a decepção. 

Afinal, quem se empenhou, correndo risco foi Sua Excelência, por isso mesmo recebe aquela imensa bolada, em divisas, a salvo na Suiça. Belo país a Suiça, longe todavia da perfeição da Inglaterra. Vai levantar-se – há uma menina, uma só, a mais novinha de todas, a esperá-lo – quando o Magnífico doutor coloca outra questão, abrindo inesperadamente perspectivas:

- Sua Excelência retirou-se antes que pudéssemos tratar do problema da localização…

- Em São Paulo, já sabem, não pode ser. Aliás, em todo o Sul.

- Já nos decidimos pela Bahia. O problema é onde, na Bahia… O magnífico Doutor expõe os dados do que ele chama de “pequeno porém importante detalhe”.

O Velho Parlamentar permite-se sorrir britanicamente, no fleumático rosto de lorde uma nuance de satisfação. Ah! os poderosos e necessitados empresários terão de pagar caro, desta vez não tratam com a sôfrega inexperiência do Jovem Parlamentar.

 Preço elevado, sirs. Para começar, pela informação confidencialíssima, circunscrita aos altos escalões: consta que estão pedindo a cabeça de Sua Excelência.

Falam em cassação, nada mais nada menos. Sim, exactamente por corrupto. Depois, o estabelecimento de novos contactos para resolver “o pequeno porém importante detalhe”, importante e grande problema, nem pequeno, nem detalhe, “God save the King!”

Tudo tratado com descrição e finura, entre cavalheiros. Sua Excelência é um grosso, um porcalhão, um asco, o oposto de um lorde.


O Velho Lenhador














No Alasca, um desporto tradicional é cortar árvores. Há lenhadores famosos, com domínio, habilidade e energia no uso do machado. Querendo tornar-se também um grande lenhador, um jovem escutou falar do melhor de todos os lenhadores do país. Resolveu procurá-lo.


- Quero ser seu discípulo. Quero aprender a cortar árvore como o senhor.

O jovem empenhou-se no aprendizado das lições do mestre, e depois de algum tempo achou-se melhor que ele. Mais forte, mais ágil, mais jovem, venceria facilmente o velho lenhador. Desafiou o mestre para uma competição de oito horas, para ver qual dos dois cortaria mais árvores.

O desafio foi aceito, e o jovem lenhador começou a cortar árvores com entusiasmo e vigor. Entre uma árvore e outra, olhava para o mestre, mas na maior parte das vezes o via sentado. O jovem voltava às suas árvores, certo da vitória, sentindo piedade pelo velho mestre.

Quando terminou o dia, para grande surpresa do jovem, o velho mestre havia cortado muito mais árvores do que o seu desafiante.

- Mas como é que pode? – surpreendeu-se. Quase todas as vezes em que olhei, você estava descansando!

- Não, meu filho, eu não estava descansando. Estava afiando o machado. Foi por isso que você perdeu.


Assim Nasceu Portugal

A Vitória do Imperador

A Profecia da Normanda




Episódio Nº 13

















Coimbra, de 1131





Naquele novo ano, apesar de já saciado por Elvira, Afonso Henriques estava ainda desgostoso com Chamoa e por isso decidiu rumar ao sul e passar a Páscoa em Coimbra, levando a sua pequena corte com ele.

O príncipe admirava cada vez mais aquela povoação, a sua dimensão, o seu comércio, a sua agitação urbana e a forma como os habitantes, independentes e orgulhosos da sua autonomia, governavam a cidade em conjunto.

Havia em Coimbra um intenso respeito pelos muitos moçárabes que ali viviam, mas também por muçulmanos e judeus, apesar destes serem poucos.

Coimbra era a maior cidade do Condado e também a mais populosa acima do Tejo. Nem Santarém, nem em Lisboa, havia tanto povo a viver.

Para mais, desde que era regente do Condado, logo após a batalha de são Mamede, o príncipe revelara os seus dotes de bom governante e a situação dos habitantes melhorara, havendo desaparecido muitos dos mendigos que antes percorriam a região. Mesmo perante a dureza do último inverno, a fome não fustigara as gentes daquela terra.

Só uma inesperada e, a princípio, pequena querela veio perturbar a harmonia local. O bispo de Coimbra, de seu nome Bernardo, um culto francês há muitos anos vindo de Borgonha e que passava horas a escrever na Sé um livro sobre a vida de São Geraldo, mostrara forte relutância em aceitar a constante presença de Afonso Henriques na povoação que antes supervisionara sem concorrência.

Além disso, o bispo nutria forte antipatia pelos muitos cónegos e religiosos que pretendiam instalar-se na região, animados pela promessa de expansão do Condado para Sul e pela iminente luta contra os mouros abaixo do Mondego.

Homens como o prior Teotónio que deixara Viseu, ou o arcediago Telmo, estavam agora muitas vezes em Coimbra, descrevendo a peregrinação que haviam feito a Roma ou à Terra Santa, glorificando as vantagens da vida apostólica dos eremitas, o que muito irritava o bispo.

Certo dia, o príncipe, meu tio Ermígio Moniz, que era o mordomo-mor do Condado, Gonçalo de Sousa e eu, regressávamos de um passeio a cavalo a Montemor- o –Velho e ao entramos na cidade pela porta ocidental, a da Almedina, cruzámo-nos com o arcediago Telo e com João Peculiar, o mestre escola da Sé que no passado fora eremita nos vales do Douro.

Montados cada um na sua mula, eles preparavam-se para dar umas voltas fora das muralhas. Telo contava mais de cinquenta anos e os seus cabelos totalmente brancos, bem como a imponente presença física, geravam respeito em todos, embora se sentisse já, na postura quebrada e nas costas cansadas, o peso da idade e de uma saúde em perda.

Quanto ao seu acompanhante, eram conhecidas a sabedoria e a inteligência, e muitos previam um brilhante futuro para João Peculiar, cuja fina figura, nariz pronunciado, queixo pontiagudo e polpudas sobrancelhas, a que se juntava uma intencional careca, pois rapava o cabelo rente, compunham, no entanto, um conjunto pouco simpático que provocava receio nos menos firmes de espírito.

Realizados os cumprimentos, Afonso Henriques fixou o olhar na belíssima sela do animal de Telo e, não sendo capaz de conter a curiosidade, perguntou onde o outro a comprara.

- Em Montpelier, respondeu o religioso.


Descreveu-nos o seu recente périplo por longínquas paragens até à Cidade Santa de Jerusalém.

sexta-feira, maio 20, 2016

Percy Slege - When a Man Loves a Woman


Música maravilhosa e inspiradora de Michael Bolton na voz esplendorosa de Percy Sledge



Vários tipos de poder até chegar a mim...
Será o Poder

um Fardo

ou um 

Afrodisíaco?













É sempre a mesma coisa, logo que tentam retirar poder a quem o tem, muito ou pouco tanto faz, aí temos a reacção de desagrado, a manifestação de que estão a roubar qualquer coisa que é nosso e de que, se isso acontecer, o mundo vai ficar muito pior.

O Estatuto Político Administrativo para a Região dos Açores que foi aprovado por unanimidade pela Assembleia da República, impôs  uma diminuição dos poderes do Presidente da República, ao tempo Cavaco Silva, uma vez que terá de passar a ouvir, para poder dissolver a Assembleia Legislativa dos Açores, para além do Conselho de Estado e os partidos nele representados, o Presidente do Governo Regional e a própria Assembleia Legislativa.

Se isso está certo ou errado, se está ou não de acordo cm a Constituição, é discussão para os especialistas na matéria e comentadores políticos, o que estou a registar são as reacções, quase de pânico, quando os poderes atribuídos a alguém são posteriormente beliscados.

Ah!... que o poder é um fardo mas quando se lhe toca, aqui D’El-Rei que vem a casa a baixo!

Há uns bons anos atrás aconteceu uma situação idêntica com o Presidente Ramalho Eanes com o mesmo tipo de reacção, e mesmo o desprendido Mário Soares, é duvidoso que tenha manifestado uma sincera alegria quando da expressão “que lhe tinham aberto a porta da gaiola” quando o então Presidente Eanes o “retirou” dos poderes de Chefe do Governo.

Então, em que ficamos: é fardo ou qualquer outra coisa que se pega à pele do género de uma substância afrodisíaca?

Bertrand Russell, no seu livro “O Poder - Uma Nova Análise Social” afirmava que os principais desejos de um homem eram: o Poder e a Glória.

Na verdade, o Poder tem qualquer coisa de mágico.

Abraham Lincoln descobriu que ele era o grande revelador da alma quando disse:

-  quase todos os homens são capazes de suportar adversidades mas se quiser por à prova o carácter de um homem dê-lhe o poder”.

Quem é que, tendo trabalhado alguma vez numa empresa ou num Serviço do Estado, não conheceu um colega que sendo uma pessoa pacífica, alegre e bondosa, uma vez promovido a chefe, gerente ou director se transformou de repente em duro e autoritário?

Claro que não tem que ser sempre assim. James Hillman no seu livro, “Os tipos de Poder”, afirma que é possível exercer o poder empresarial de maneira eficaz, psicologicamente curativa e pessoalmente gratificante”.

A respeito do Poder vale a pena transcrever, ainda que de forma resumida, o poema de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), intitulado “Poema em Linha Recta”:

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida.
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana…
Arre, estou farto de semi -deuses!
Onde é que há gente no mundo?”

Henry Kissinger que esteve “casado” com o Poder e portanto sabia do que falava, afirmou que ele era o mais poderoso afrodisíaco e, muito provavelmente, quanto maior for o poder, mais poderosos deverão ser os seus efeitos afrodisíacos da mesma forma que se o poder corrompe o poder absoluto deverá corromper absolutamente.

Para muitos, o poder é a suprema ambição, uma forma perversa de se compararem a um deus qualquer e quando assim é, uma vez fora do poder é como se tivessem sido expulsos do Olimpo e em casos extremos não suportam essa terrível humilhação e suicidam-se.

Mas por que se diz que o poder é afrodisíaco? O que é que liga o sexo ao poder?

Uma vez uma professora, no início do ano lectivo na disciplina de química, perguntou aos alunos se eles sabiam qual era o maior órgão sexual do mundo e depois do inevitável burburinho ela própria respondeu que era o cérebro.

Realmente há um corpo que foi concebido para, entre outras coisas, seduzir mas é no cérebro que se encontra a fonte da sensualidade e falar do cérebro é falar da inteligência e uma das melhores definições para inteligência é a da capacidade para estabelecer relações.

E, chegados aqui, é fácil perceber que os homens do poder (machismos à parte), por razões óbvias, têm uma capacidade superior para estabelecer relações, basta lembrarmo-nos do que se passou entre o presidente Clinton e a Mónica.

Para além de admirar o homem, vamos também admitir que sim, ela admirou o poder que ele tinha na qualidade de Chefe do país mais poderoso do mundo.

O poder é sedutor. Homens e mulheres que talvez passassem despercebidos, sem grande sucesso para chamarem a tenção sobre si, ganham uma legião de admiradores ao exercerem postos de comando. De um momento para o outro, mágica e irresistivelmente tornam-se atraentes para muitas pessoas.

A ilusão e a fantasia opõem-se à lucidez, à consciência crítica e à capacidade para discernir e escolher. É a criança que existe em nós e não cresceu que se embasbaca com aquilo que vem de cima e por isso a infantilização do povo é um instrumento para a sua dominação.

Para muitos políticos o poder ainda guarda resquícios da época medieval e não é plenamente exercido senão tiver do outro lado da linha lindas mulheres a quem eles, na falta de competência específica, oferecem demonstrações do seu poder.

De um destes políticos conta-se aquela história picante de uma sua deslocação para visitar umas obras para o que se fez acompanhar, como era seu hábito, de uma dessas “secretárias” e, furtivamente, escondeu-se com ela num barracão de madeira que, naturalmente, não tinha isolamento acústico.

A dado momento, lisonjeado mas também preocupado com os uivos amorosos da companheira, pediu-lhe: - “ Minha querida, fale baixinho”. E ela, a plenos pulmões: Baixinho! Baixinho!

Richard Dawkins - O que é o ateísmo.


Sou fã deste senhor, pela sua inteligência, - Prémio Nobel -, pela sua sabedoria, por tudo quanto aprendi com ele nos seus livros.



Os Cromos



Tieta do Agreste
(Jorge Amado)




EPISÓDIO Nº 151




















DE NOVA E DISCRETA CONVERSA NO ELEGANTE AMBIENTE DO REGÚGIO DOS LORDES, DISCRETA APESAR DA GROSSURA (EM TODOS OS SENTIDOS DE SUA EXCELÊNCIA)



- Meus caros, o que vocês estão pleiteando é de lascar. O que eu devia fazer era meter vocês na cadeia.

Assim falou, para começo de conversa, Sua Excelência. Havia retirado o paletó; a rapariga nua sentada sobre as suas pernas brincava com os suspensórios negros que sustentavam as calças do eminente estadista, resguardando-lhe as banhas da barriga. No rosto avelhentado de Sua Excelência, placas vermelhas. Os olhos astutos, os gestos laços, a voz arrastada, a vulgaridade e a prepotência.

O Magnífico Doutor não responde, apenas sorri, espera que as meninas acabem de servir as bebidas e se retirem. Uma delas lembra Bety, toda ruiva, desperta-lhe o apetite. Quem sabe, ao fim da entrevista.

Tão pouco o Velho Parlamentar se sente confortável na presença das raparigas. Nada tem contra elas nem contra o facto de estarem nuas, o Velho Parlamentar frequenta a casa há séculos, habitué desde os tempos de Madame Georgette, quando o actual Refúgio dos Nobres ainda se chamava Nid D’Amour.

Gosta de raparigas e vê-las nuas, não existe melhor colírio para a vista cansada segundo afirma. Mas tudo tem sua hora e seu lugar e se o lugar é o adequado para o nu artístico, o assunto não o é para ouvidos estranhos, não se devendo misturar alhos com bugalhos. Uma das nudistas apoia-se no elegante guarda-chuva negro de propriedade do Velho Parlamentar.


Educado em Oxford, o Velho Parlamentar adquiriu hábitos e feições de lorde inglês: alto e magro, bem escanhoado, bigode branco e altivo, traje cortado em alfaiate londrino, roseta na lapela, a aparência fleumática. Os modos populacheiros de sua Excelência certamente lhe desagradam. Sua Excelência é o oposto de um lorde inglês e não fora a posição alcançada – pobre São Paulo! – dada de mão beijada por Vargas nos tempos da outra ditadura, posição renovada e mantida à custa dos mais variados e discutíveis recursos e alianças, jamais lhe seria permitida a entrada em círculo tão distinto e reservado.

Tendo Sua Excelência falado em cadeia, o Velho Parlamentar permite-se tossir, para adverti-lo da inconveniência de tratar assuntos de monta, de altos interesses e patrióticas ilações, na presença de garotas de indiscutível graça e tentador apelo mas decididamente impróprias para a ocasião e o elevado debate socio-económico.

Pigarreia com cautela, a medo: Sua Excelência, impulsivo, ao ser interrompido, por vezes reage com ofensiva brusquidão. Costuma tratar os auxiliares directos, secretários, oficiais de gabinete, de ladrões – empregando aliás termo próprio pois o são e como! – e não respeita nem idade provecta nem mandato parlamentar dos correligionários, sobretudo agora com o poder legislativo tão por baixo.

Ao ouvir o tímido pigarro, Sua Excelência faz uma careta, a pique de abrir a boca para dizer o que pensa do Velho Parlamentar e da sua mania de prudência e discrição mas se contém. De facto, o gracioso gesto da menina sentada em suas pernas, a lhe massajar sabiamente o cangote, é incompatível com a reunião de trabalho: um estadista nem sequer num rendevu pode se entregar ao relax. Tratará de fazer a conversa concreta e breve. Com uma palmada no doce traseiro, desaloja a menina e a despede recomendando:

- Esperem no quarto – Sorri para a outra, a picante ruiva que despertou o interesse do Magnífico Doutor, a seguir a cena, conformado. Nem tudo na vida são flores, não é mesmo? Muitas ruivas existem por aí. Seja tudo pelo bem da Pátria!

Saem as raparigas, garrido séquito, deixando as garrafas e os copos servidos. Uísque daquela marca não existe no Palácio dos Campos Elíseos, somente encontrado no Joquei Clube e no Refúgio dos Lordes. Sua Excelência, conhecedor:

- Isso, sim, é uísque, o resto é porcaria. Mando comprar do melhor, os ladrões compram uísque falsificado, embolsam o troco. Devia meter todos na cadeia. Vocês também. A directoria inteira.

O Audacioso Empresário, orgulhosa e árdega juventude, saído de famosa Escola de Administração e Economia onde hoje dita conferências, após brilhante curso de executivo nos Estados Unidos, competentíssimo tecnocrata, um dos cérebros mais dotados da nova geração, ameaça abrir a boca para replicar mas o Magnífico Doutor o impede com um gesto quase imperceptível. Se ele protestar, vai pôr tudo a perder: assusta-se o testa-de-ferro pago também para evitar impensadas gafes dos senhores directores, técnicos formidáveis, políticos desastrados e – muito em particular – aos militares.

Ao ver Sua Excelência sorrir, baixando os suspensórios, num gesto bonacheirão, parecendo um caipira, o Audacioso Empresário reconhece a experiência e a habilidade do Magnífico Doutor; para tais missões, imbatível em esperteza e tino. Sua Excelência inicia a cobrança:

- O Senador pode dizer o trabalho que tivemos.

Johnny - O terror do Oeste























A professora disse aos alunos para fazerem uma composição sobre o tema sexo e assuntos relacionados. No dia seguinte, cada aluno leu a sua composição:


A da Joana era acerca de métodos contraceptivos, a do Zé falava da masturbação, a Joaquina escreveu sobre rituais sexuais antigos, etc...

Chegou a vez do menino Joãozinho :

- Então Joãozinho, fizeste a composição que eu disse ?

- Sim Sra. professora.

- Vá, lê lá então!

E o Joãozinho começou a ler alto :

- Era uma vez no velho Oeste, há muitos, muitos anos. No relógio da igreja batiam as 19h. Nuvens de poeira arrastavam-se pela cidade semi-deserta. O Sol ofuscava o horizonte, e tingia as nuvens de tons de sangue. De súbito, no horizonte, recortou-se a silhueta de um cavaleiro..

Lentamente, foi-se aproximando da cidade... Ao chegar à entrada, desmontou.

O silencio pesado foi perturbado pelo tilintar das esporas. O cavaleiro chamava-se Johnny! Vestia todo de preto, à excepção do lenço vermelho que trazia ao pescoço e da fivela de prata que 'prendia' os dois revolveres à cintura. O cavalo, companheiro de muitas andanças,dirigiu-se hesitante por uma poça de água..

PUM! PUM! PUM!

O cheiro a pólvora provinha do revólver que já tinha voltado para o coldre de Johnny. Johnny não gostava de cavalos desobedientes! Johnny dirigiu-se para o bar. Quando estava a subir os três degraus, um mendigo que até ali dormia, tocou na perna de Johnny e pediu uma esmola...

PUM! PUM! PUM!

Johnny não gostava que lhe tocassem! Entrou no bar. Foi até ao balcão, e pediu uma cerveja. O barman serviu-lhe a cerveja. Johnny provou...

PUM! PUM! PUM!

Johnny não gostava de cervejas mornas! As outras pessoas olharam todas surpreendidas...

PUM! PUM! PUM!

Johnny não gostava de ser o centro das atenções! Saiu do bar.

Deslocou-se até ao outro lado da cidade para comprar um cavalo.

Passaram por ele um grupo de crianças a brincar e a correr...

PUM! PUM! PUM!

Johnny não gostava de poeira e alem disso as crianças faziam muito barulho! Comprou o cavalo, e quando pagou, o Sr. enganou-se no troco...

PUM! PUM! PUM!

Johnny não gostava que se enganassem no troco! Saiu da cidade. Mais uma vez a sua silhueta recortou-se no horizonte, desta vez com o Sol já quase recolhido. O silêncio era pesado.'

FIM




O Joãozinho calou-se. A turma estava petrificada!


A professora chocada pergunta:

- Mas...mas...Joãozinho...o que é que esta composição tem a ver com sexo?

Joãozinho com as mãos nos bolsos, responde:

- O Johnny era fodido...



Assim Nasceu Portugal

A Vitória do Imperador

A Profecia da Normanda






Episódio Nº 12
















Desagradado, enunciou uma imediata decisão. Sancha e Teresa iriam para Guimarães e viveriam na sua corte!

Elvira manteve-se calada, esperando instruções quanto ao seu destino individual, mas Afonso Henriques parecia ter-se esquecido dela e já planeava o futuro.

Uma ideia começara a germinar no seu espírito, iria construir um novo castelo, para mostrar aos galegos e aos leoneses que as suas pretensões eram intensas.

Edificando uma fortificação em Celmes, o local escolhido, garantia que seu primo Afonso VII não avançaria sobre aqueles disputados domínios.

- Será Gonçalo de Sousa o alcaide desse novo castelo portucalense!

Ao escutar tal nome, Elvira murmurou:

 - Vejo que continuais ciumento...

Anos antes, Gonçalo de Sousa tentara seduzi-la, como fazia com todas as mulheres que conhecia, mas ela não lhe dera troco. Porém, Afonso Henriques tinha receio de que aquele divertido amigo lhe pudesse ganhar ascendente nos afectos da normanda.

Ao nomeá-lo para Celmes afastava essa ameaça.

- Veremos se o Trava me ataca! – exclamou o príncipe.

A normanda de formas voluptuosas riu-se e picou-o:

 - A mim é que ele me atacou...

Aborrecido, Afonso Henriques interrogou-a com ligeira aspereza:

- Haveis tido vontade de vos dar ao Trava?

Então, Elvira levantou-se do banco e aproximou-se dele, ficando de pé à sua frente, alta e poderosa.

 - Sois o meu único amigo, meu príncipe. Além disso estamos no Advento. Para os cristãos, não é tempo dessas coisas.

Afonso Henriques levantou-se também e pela primeira vez nasceu-lhe um sorriso no rosto. Eram quase os dois da mesma altura, dois imponentes exemplares da espécie humana.

Sois normanda, os vossos deuses são menos austeros.

Elvira Gualter ficou de repente muito séria.

- Tive um sonho.

Vira o príncipe de Portugal montado num cavalo alado, negro como breu. As estrelas dançavam à volta dele, mil inimigos cercavam-no, mas do céu caiu um raio que tocou na lança do filho do conde Henrique, que com ela venceria uma tremenda batalha.

Os cães do mal tombariam à frente dele, as flechas do fogo apagar-se-iam aos seus pés, as mulheres cavaleiras encontrariam nele a agonia e os corvos iriam dançar sobre cadáveres malditos, anunciando um novo reino!

Elvira parecia em transe, os seus olhos estavam vidrados, o seu rosto tenso, e terminou a declaração com um murmúrio.

 - Os meus deuses do Norte tudo sabem!

O príncipe, fascinado por aquelas palas palavras místicas, só no final da fantástica descrição é que perguntou:

 - Elvira, Normanda, serei rei de Portugal?

A rapariga riu-se, desfazendo a rigidez que lhe assolara a cara.

Aproximou-se dele e em movimentos rápidos deixou cair a camisa, a saia, as roupas interiores, revelando a sua nudez.

Afonso Henriques admirou aquele corpo monumental, mas não avançou de pronto, o que a levou a afirmar:

 - Sois o meu rei...

Dando um passo em frente, Elvira pegou na mão direita dele e colocou-a sobre o seu seio volumoso, enquanto exigia:

 - Tomai-me e comei-me.

Apesar do perfume de heresia, o convite dela teve o condão de espevitar o príncipe, que, inebriado de desejo, a possuiu ali mesmo.

Depois, levou-a para o quarto e tomou-a várias vezes naquela noite.

Quando a madrugada começou a nascer, Elvira avisou que, se continuassem naquilo, iria gerar filhos, tendo o príncipe retorquido sem pestanejar:

- Cá estarei para ser pai deles.  


quinta-feira, maio 19, 2016

A IMPORTANTE 

INFLUÊNCIA

DO MEIO SOCIAL























Dois homens discutem por causa de um jogo de bilhar ou porque um insulta a namorada de outro e a animosidade vai subindo até chegar ao assassínio, muitas vezes à vista de quem está perto.

A este tipo de homicídio os criminologistas costumam chamar de “altercação trivial” mas, será?

Para mim foi fácil casar e ter filhos. Tudo o que tive de fazer foi ir para a Universidade e depois garantir um bom emprego.

Eu gostaria de atribuir o meu comportamento de pessoa civilizada ao meu excelente carácter mas, acima de tudo, tenho de estar grato ao extracto social a que pertenço.

No meu caso não me envolveria em luta que me pudesse levar a um homicídio que erradamente seria chamado de “altercação trivial” porque teria muito a perder e pouco a ganhar.

Naquela luta o que estava verdadeiramente em causa era a competição entre indivíduos de sexo masculino pelo “estatuto” que pode ser tudo menos trivial.

Tenho cinquenta e seis anos, ultrapassei a idade média em que morre o homem das zonas deprimidas da cidade de Chicago e ainda estou de boa saúde.

Eu sou como os homens dos bairros sociais de Chicago mais favorecidos com muito menor probabilidade de cometerem homicídios em lutas de “altercação trivial” porque a sua frequência está relacionada com o meio social a que se pertence.

A cidade de Chicago está dividida em setenta e sete bairros para os quais as taxas de homicídio e outros dados estatísticos vitais estão compilados separadamente.

Estes bairros variam imenso quanto a qualidade de vida, incluindo a própria duração média de vida de tal forma que a esperança de vida dos bebés nascidos nos melhores bairros é vinte anos superior à dos nascidos nos piores (cinquenta e tal anos para setenta e tal anos).

Estas mesmas diferenças verificam-se em geral entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.

Nos bairros com menor esperança de vida, as mulheres têm tendência a começar a ter filhos mais cedo e esta gravidez na adolescência é amplamente reconhecida como um problema social mas, quando se perguntava às mulheres de um geto porque tinham filhos tão cedo as respostas suscitavam simpatia. Diziam elas que queriam que as suas mães conhecessem os netos.

Usavam o termo de “desgaste” para descrever a deterioração de saúde que observavam à sua volta.

E a pergunta aqui fica:

 - Se o meu amigo e aqueles que lhe são chegados estivessem a desgastar-se a um rito rápido não gostaria de começar a ter filhos suficientemente cedo para os conhecer e ajudá-los a criar os seus próprios filhos?

As taxas de homicídio variam imenso oscilando de 1,3 e 156 por 100.000, entre bairros de pessoas ricas e de pessoas pobres porque nestes o panorama é uns quantos bem sucedidos e muitos falhados e, nestas circunstâncias, um “zé-ninguém” assume comportamentos de riscos extremos na perspectiva de ser “alguém”.

A desvalorização acentuada do futuro pode ser uma resposta “racional” à informação que indica uma probabilidade incerta ou baixa de sobreviver para mais tarde colher benefícios, por exemplo, e correr “riscos impensados” pode ser a solução óptima quando os benefícios de uma escolha de acções mais segura são insignificantes.

A evolução tem intrinsecamente a ver com organismos que reagem a modificações ambientais sendo impossível negar a capacidade de mudança.

O Criacionismo religioso e secular sempre se baseou no medo das consequências de aceitar a evolução, mas se encararmos a teoria da evolução como um instrumento capaz de proporcionar uma modificação positiva, ela será fácil de aceitar.

No que toca à evolução o futuro pode ser diferente do passado, para melhor.





Nota - Nós, que tivemos a sorte em nascer num meio social que não foi o dos bairros sociais desfavorecidos, não embandeiremos em arco acerca de nós próprios.
Pensemos na verdadeira importância que teve na nossa vida o meio em que nascemos, a família que nos apoiou para concluir que o mérito de sermos como somos não foi todo nosso...
Richard Dawkins, o autor deste texto, conclui que o Criacionismo religioso agarra-nos ao passado ,ao "statu quo" e que só o Evolucionismo nos abre as portas para um futuro melhor.

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