sábado, outubro 04, 2014

Gato Fedorento - Vamos todos falecer


IMAGEM

Cai chuva na cidade... para lá do vidro da janela.




Bob Marley Three Litle Birds


Robert Nesta Marleymais conhecido como Bob Marley  (Fevereiro de 1945 — Miami11 de maio de1981), foi um cantorguitarrista e compositor jamaicano, o mais conhecido músico de reggae de todos os tempos, famoso por popularizar o género.
Marley já vendeu mais de 75 milhões de discos. A maior parte do seu trabalho lidava com os problemas dos pobres e oprimidos. Levou, através de sua música, o movimento rastafari e suas ideias de paz, irmandade, igualdade social, preservação ambiental, libertação, resistência, liberdade e amor universal ao mundo. 
A música de Marley foi fortemente influenciada pelas questões sociais e políticas de sua terra natal, fazendo com que o considerassem a voz do povo negro, pobre e oprimido da Jamaica. A África e seus problemas como a miséria, guerras e domínio europeu também foram centro de assunto das suas músicas, por se tratar da terra sagrada do movimento rastafari.
Hoje pode ser considerado o primeiro e maior astro musical do Terceiro Mundo.



NUM JORNAL DE ANÚNCIOS 









Este o anúncio:

“Tenho casas para alugar mas somente para cristãos.”


No dia seguinte apareceu um interessado.

O dono das casas, um tipo muito mal educado, perguntou:

- O que é que o senhor deseja?


- Estou querendo alugar uma casa.


- Sei, sei e qual é o seu nome?


- David.


- David, do quê?


- David Rosemberg.


- Não, não e não. Eu não alugo casa para judeu. O senhor não sabe ler? Não?  Não viu o que está escrito no jornal? Só alugo casa para cristão.

- Tá certo, eu vi. Eu sou judeu mas também sou cristão…


- Que é isso, rapaz! Pensa que eu sou idiota? Não existe judeu cristão!


- Mas eu garanto para o senhor: eu sou judeu e sou cristão!


- Ah é? Então eu vou fazer um teste com você e vamos lá ver se é mesmo cristão!


- O que tem dentro de uma Igreja católica?


- A sacristia…


- E que mais?


- Tem o Santo Sudário…


- E que mais?


- Tem o altar…


- E que mais?


- Tem o confessionário.


Jesus é filho de quem?


- De José…


- E de quem mais?


- De Maria.


- E onde nasceu Jesus?


- Em Belém.

- Eu sei que foi em Belém. Estou querendo saber do local, da casa?


- Não era uma casa. Era um estábulo.


- E porquê um estábulo?


- Porque naquele tempo já existia um filho da puta como você que não 

alugava casas para judeus!

Os Sinais...













Ele fora sempre um homem profunda e sinceramente religioso, cumpridor dos seus deveres, chefe de família e cristão exemplar. Ao longo da vida nunca tinha falhado uma missa e a sua relação com Deus era coloquial.

Ultimamente, no fim das suas orações, pedia insistentemente:

 - Oh, Deus, quando decidires levar-me avisa-me com antecedência, a máxima que te for possível. Sabes, tenho muitos amigos de quem me quero despedir e há sempre umas coisas de que a gente gostava de fazer por último.

E sempre que ia à Igreja repetia a Deus, empenhadamente, este pedido.

Um dia, de repente, morreu.

Católico impoluto, subiu ao céu e São Pedro o foi receber pessoalmente às portas do paraíso.

 - Venho muito zangado, diz ele. Pede a Deus para me receber: quero falar com ele.

 - Vou ver se ele te pode atender… e deixou-o só.

 - De regresso diz-lhe: Anda comigo, ele vai falar contigo.

Frente a frente, o bom homem desabafa:

 - Em vida, tinha-te feito um pedido com toda a insistência para que me avisasses com antecedência da minha morte e, afinal, de repente,  sem mais nem menos, levaste-me sem nenhum aviso. Fui sempre um servo teu, fiel e respeitador, não merecia que me fizesses isto…

Responde Deus:

 - Mas, estás a ser muito injusto:

- Lembras-te de quando te apareceram os teus primeiros cabelos brancos?

 - Sim, lembro.

 - Lembras-te quando puseste a primeira prótese para substituir os dentes que, entretanto, tiveste que arrancar?

 - Sim, lembro.

 - Lembras-te dos óculos que tiveste de comprar para poderes continuar a ler o teu jornal com o cafezinho da manhã que não dispensavas?

 - Sim, lembro.

 - Lembras-te das tuas dificuldades de audição de que a tua mulher reclamava por ter de repetir tudo até ouvires?

 - Sim, lembro.

 - Lembras-te das palavras que a tua memória começou a recusar-te e te levava a dizer que ficavam debaixo da língua?

 - Sim, lembro.

- Lembras-te das dores e achaques que começaste a sentir um pouco por todo o corpo?

 - Sim, lembro.

 - E lembras-te das referências subtis que a tua mulher te fazia por espaçares cada vez mais as relações sexuais?

 - Sim, lembro.

 - E acusas-me de que não te avisei??

Obs. - A natureza é sábia.

Orçamento para 2015
Como irá ser 

com a discussão

do novo Orçamento?











Esta vitória de António Costa foi importante, surpreendente pela dimensão e conferiu-lhe uma responsabilidade acrescida que corresponde às esperanças de uma maioria de pessoas da nossa sociedade, descontentes, traumatizadas mesmo.

Insisto nas esperanças porque é um factor muito importante e ao mesmo tempo delicado mas, como dar esperanças aos portugueses e em simultâneo não lhes criar falsas expectativas traduzidas em dificuldades do dia-a-dia que irão continuar por muito tempo?

No fundo, muitas dessas pessoas perguntam-se em segredo:

 - Como vai ele conseguir fazer diferente se tiver que cumprir os deficits impostos e pagar uma dívida anual de juros de 7 mil milhões?

Esta é a curiosidade ansiosa que nos devora por dentro.

Costa aposta num plano a dez anos para fazer crescer a economia, tentar suavizar as políticas de austeridade impostas pela Alemanha aos países do Sul europeu mas como, se mesmo agora a França e a Itália tentaram e não o conseguiram esbarrando na inflexibilidade da Srª Merkel que continua a defender o controle orçamental como a chave do sucesso mesmo quando a realidade demonstra o contrário?

Ora se o deficit continuar a ser o alfa e o ómega de toda a governação como é possível mexer nos impostos ou aumentar a despesa?

Abordar a consolidação orçamental de maneira diferente é o desafio a começar por um programa para a política económica alternativo.

A envolvente externa dá sinais de se alterar com uma nova posição do Banco Central Europeu e uma nova Comissão para regressarem a uma estratégia de investimento mas será isso suficiente?

António Costa e o PS têm muito que pensar, pensar diferente e esperar que as condicionantes se desagravem no futuro. A discussão do Orçamento de Estado para 2015 irá ser a primeira prova de fogo.

Iremos ter um voto contra de toda a oposição ao novo Orçamento que está a ser cozinhado no segredo dos deuses (Passos Coelho e Maria Luís) seguido de uma Moção de Censura a uma Coligação de Governo que ameaça ruptura, e eleições antecipadas?

Costa tem toda a legitimidade e uma força para liderar a oposição que o PS até agora não tinha - o que irá fazer? - E o CDS vai continuar fiel ao seu parceiro com o escorregadio do Portas?

-  Iremos mais depressa chegar ao fim de um ciclo ou mantêmo-nos dentro dos calendários estabelecidos?

   

E padre é doutor, compadre?
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)


Episódio Nº 66

















Duas montaria de primeira, só quem vai andar nelas é Venturinha. - Os olhos miúdos se iluminaram: - O Coronel é doido pelo filho, tu nem imagina, compadre.

 - Tem razão. É filho único e agora é doutor. Que pai não haveria de gostar? -  Igualmente seus olhos se iluminaram: -
Quando eu tiver filhos, também vão ser doutor. Mas não quero advogado: um vai ser médico, o outro vai ser padre.

 - E padre é doutor, compadre?

 - E não havia de ser? É ainda mais que os outros, Capitão, é doutor de Deus, tem até coroa na cabeça.

Cheio de lembranças, o fio de um sorriso assomou na boca de Natário:

 - Dizer que carreguei ele no cangote... - vibrou uma chicotada no ar: — Ele vai gostar dessa taca, é bonita e maneira.

Rebenque ímpar, digno de um bacharel janota, filho de pai milionário, de coronel do cacau que falava grosso na política, ditava leis na justiça, dava ordens nos Cartórios.

Para pleitear questões de terra não haveria em toda a zona grapiúna advogado que pudesse competir com ele, fazer-lhe frente: Venturinha tinha de um tudo e ainda mais.

Natário conhecia o gosto do rapaz, as preferências, os repentes. Vira-o crescer e muito lhe ensinara, livrara-o de várias enrascadas, sobretudo em casas de mulheres da vida e nos cabarés e se dera ao luxo de repreendê-lo quando, adolescente e académico, o filhinho de papai passava da conta.

Por mais de uma vez teve de contê-lo: fraco para bebida, Venturinha perdia a cabeça facilmente.

Ao vê-lo formado, doutor advogado, Natário, igual ao Coronel, dele se orgulhava:

 - Pra caxixe não vai ter outro igual.

- Agora mesmo é que o Coronel vai mandar e desmandar. Inda bem que o Capitão é gente deles e eu sou compadre de vosmicê.

Emborcaram os copos saudando a volta do doutor Andrade
Júnior - assim se (ia no diploma da Faculdade de Direito: bacharel Boaventura da Costa Andrade Júnior).

Finalmente o coronel Boaventura Andrade ia poder levar avante os ambiciosos planos políticos traçados por ocasião da formatura do filho em Dezembro do ano anterior.

 Estavam nos fins de Maio, seis meses eram passados.

sexta-feira, outubro 03, 2014

IMAGEM


Quem disse que bota velha era coisa inútil? Pregue-a no tronco de uma árvore e veja que bela casa ela dá para uma família de passarinhos




JIM CARREY


Este Jim é um espanto... as suas imitações só são possíveis a quem tem aquele aparelho bocal que lembra o Jerry Lewis quando tinha a mesma idade. A imitação do James Stwart é absolutamente notável.



Olhos nos olhos
OLHOS NOS OLHOS…
























Por que se diz que os olhos são o espelho da alma? – 

Porque, para além de serem órgãos de visão, no caso particular da espécie humana, eles evoluíram para órgãos de comunicação que permitem aos seus pares perceberem, através deles, pensamentos e estados de alma.


Lembro bem, que quando era estudante, preferia as provas orais às escritas porque nestas faltavam-me os olhos dos professores para me orientarem na resposta.

Quando olhamos para uma pessoa, mesmo a uma distância razoável, graças ao contraste entre a esclerótica (o chamado branco do olho) e a íris, podemos ver com nitidez para onde os seus olhos estão a apontar, independentemente do sítio para onde o seu rosto está virado.

De mais perto, podemos ver se os olhos estão dilatados, graças ao contraste entre a íris e a pupila. Somos os únicos, entre os primatas, que possui janelas através das quais os outros podem olhar.

Os investigadores japoneses examinaram noventa e duas espécies de primatas e descobriram que somos a única na qual os contornos do olho e a posição da íris são claramente visíveis. Em todas as outras a esclerótica é pigmentada de modo a fornecer um contraste baixo. Além disso, em comparação com outros primatas, nos seres humanos, a porção do olho visível é desproporcionalmente grande e alongada no sentido horizontal.

Os gorilas, por exemplo, sendo muito maiores que nós a dimensão do olho exposto é mais pequena o que faz com que os seus olhos se pareçam a contas, ou seja: enquanto os olhos dos outros primatas evoluíram para serem “difíceis” de ver, para “ocultarem” e não “revelarem” informação sobre eles próprios - qualquer coisa que será o equivalente natural, hoje, aos óculos escuros de sol ou de janelas com as cortinas corridas – os dos humanos abriram-se à “leitura” pelos outros do que vai dentro deles.

Com aqueles adereços pretendemo-nos ocultar, esconder, ver sem sermos vistos, por outras palavras, favorecem a segregação e não o igualitarismo que permitiu aos pequenos grupos humanos de caçadores recoletores estabeleceram entre os seus membros a cooperação desviando-se da sociedade dos chimpanzés.

Assim que o igualitarismo estabilizou o suficiente nas primeiras comunidades dos nossos antepassados, logo a evolução genética começou a conferir novas formas às nossas mentes e aos nossos corpos de modo a funcionarem como jogadores de uma equipa em vez de entrarem em competição com membros do nosso próprio grupo.

Um cientista americano, Michael Tomasello, está na linha da frente no estudo e investigação dos olhos dos primatas. A sua base de estudo e centro de investigação encontra-se no Jardim Zoológico de Leipzig onde comunidades de chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos, alojados separadamente em grandes instalações que recriam condições naturais, estão a ser observados e estudados podendo os estudiosos efectuar, paralelamente, investigação comportamental em crianças.

Mike desenvolveu aquilo que designa por “hipótese do olho cooperativo” para explicar como os nossos olhos se tornaram tão diferentes dos dos outros primatas.

Todos os símios estão profundamente cientes dos outros membros do seu grupo e atentos ao sítio para onde estão a olhar, com base na orientação da cabeça. Contudo, a sua utilização desta informação não é necessariamente cooperativa.

Numa sociedade onde os indivíduos dominantes fuzilam com os olhos os seus subordinados, que não se atrevem a devolver-lhes o olhar, a selecção natural favorece a ocultação da informação e já que a direcção da cabeça não pode ser ocultada, a direcção do olhar pode sê-lo minimizando a porção de olho exposta e o contraste entre a íris, a parte branca do olho e o resto do rosto.

Numa sociedade igualitária torna-se vantajoso para os membros da equipa partilhar informação, transformando os olhos, para além de órgãos de visão, em órgãos de comunicação.

A páginas 240 e seguintes do livro A Evolução Para Todos, de David Sloan Wilson, encontrará a descrição do resultado deste interessante estudo.

Entretanto, continuemos a olhar-mo-nos, cada vez mais, “olhos nos olhos”porque talvez a informação que transmitimos através deles seja mais genuína e verdadeira do que a outra, a da palavra.


Isto passou-se

na Corte do Rei











O Pereira era um alto funcionário da corte do Rei.


Havia já muito tempo que este nutria um desejo incontrolável de beijar os voluptuosos seios da Rainha... até se fartar!

Mas todas as vezes que tentou, coitado, deu-se mal.

Um dia revelou o seu desejo a Gaio, principal advogado da Corte, e pediu-lhe que fizesse algo para ajudá-lo.

Gaio, depois de muito pensar e estudar o assunto, concordou, sob a condição de Pereira pagar mil moedas de ouro por tal serviço.

Pereira aceitou o acordo, mas este não foi formalizado por escrito.

No dia seguinte, Gaio preparou um líquido que causava comichão e derramou-o no soutien da Rainha, sem esta saber e enquanto tomava banho.

O malévolo líquido começou a fazer o seu efeito e aumentava de intensidade a cada hora que passava, deixando a Rainha desesperada e o Rei muito preocupado.


A Corte fazia consultas a médicos, mas sem qualquer efeito prático. Foi nesta convulsão Real que Gaio apontou a solução, afirmando que apenas uma saliva especial, aplicada por quatro horas, curaria o mal.

E Gaio acrescentou que essa saliva só poderia ser encontrada na boca de Pereira.


O Rei ficou muito feliz com a boa nova e, então, chamou  o Pereira que, pelas quatro horas seguintes, deu largas ao seu desejo insaciável, beijando à vontade os suculentos e deliciosos seios da Rainha.


Lambendo, mordendo, apertando e passando a mão, ele fez finalmente o que sempre desejou.

Satisfeito, encontrou-se no dia seguinte com o advogado Gaio.

Com o seu desejo plenamente realizado e a sua libido satisfeita, Pereira recusou-se a pagar ao advogado Gaio.

Pereira sabia que, naturalmente, Gaio nunca poderia contar o facto ao Rei, mas Pereira subestimou o advogado.

No dia seguinte, Gaio colocou o mesmo líquido nas cuecas do Rei e… o Rei mandou chamar o Pereira!!!


Foi Deus quem lhe mandou, Capitão.
TOCAIA GRANDE
 (Jorge Amado)

Episódio Nº 65



















Prata e marfim, metal e osso, novamente o cigano e o árabe se empenharam com visível prazer na especulação e na pechincha.

O Capitão interrompeu a altercação e sem mais aquela comprou o rebenque por um preço que Fadul considerou caro.

Quase a seguir, as carroças dos ciganos se movimentaram, puseram-se a caminho no rumo do pontilhão.

2

 - E o que é que o compadre vai fazer com isso? Vender? Dar de presente? - desejou saber o capitão Natário da Fonseca admirando o relicário pousado nas dobras do papel pardo que Fadul abrira em cima do balcão.

O bodegueiro riu seu grosso riso satisfeito enquanto servia a aguardente de uma garrafa reservada:

 - Custou um bocado de dinheiro, mas vale muito mais. Isso eu conheço. Onde o filho da mãe ia me passar para trás, me levar no beiço, era no preço do burro, não fosse vosmicê.

 Foi Deus quem lhe mandou, Capitão.

Pela porta olhou para a outra margem, as carroças já haviam desaparecido na distância:

 - Bem que a Bíblia diz: quem com ferro fere com ferro será ferido. Tá tudo escrito na Bíblia, Capitão. O cigano quis roubar, saiu roubado.

 - Vale tanto assim?

 - Posso vender por muito mais do que paguei, em Ilhéus ou em Itabuna. É só oferecer no cabaré, não há de faltar um coronel que queira comprar. Balançou a cabeçorra: - Dar de presente?

Não tenho noiva nem mulher e mesmo que tivesse não sou milionário para dar um presente desse preço. Foi um bom negócio.

O Capitão é que pagou demais pelo chicote, se precipitou. Se fizesse corpo mole, o cigano deixava mais barato.

 - Possa ser, mas me falta paciência pra negociar. Comprei pra dar de presente, compadre, e ainda por cima a um varão.

 - Já sei. Comprou pra oferecer ao doutorzinho, não foi?

Chamar de doutorzinho tamanho homem podia até parecer brincadeira de mau gosto, desrespeito, mas Natário o conhecera menino e Fadul o vira rapazola.

 A notícia do regresso de Venturinha, após prolongadas férias no Rio de Janeiro, dominava as conversas nos bares de Itabuna e de Ilhéus, nas estações da Estrada de Ferro, em Água Preta, Sequeiro de Espinho e Taquaras, nos povoados e lugarejos, nas casas-grandes das fazendas.

 - Venturinha vai ter de penar de cá pra lá, de lá pra cá, engolindo poeira, comendo lama: o Coronel está querendo que, além de advogar, ele se ocupe com a Atalaia. Já comprou um burro de sela e uma égua campolino, até ajudei a escolher.

Sérgio Sousa Pinto
A Seita dos 30%












Conhecendo António Costa era de prever que os novos órgãos do Partido, mesmo depois da sua vitória esmagadora da ordem dos 70% sobre António José Seguro, iriam incluir 30% dos vencidos negociados com Álvaro Beleza seu representante.

A bem da pacificação e da união do Partido é a explicação lógica.

Mas deveria ou teria de ser assim? Não estaremos, desta forma, a alimentar a criação de seitas ou facções dentro do próprio partido? A vitória de Costa não terá sido suficientemente esclarecedora para pôr um ponto final na existência destes dois campos? Não seria preferível partir agora do zero?

As facções internas dentro do partido socialista existirão sempre porque ele é um partido democrático onde há liberdade  e confronto de ideias e militantes capazes de arregimentar à sua volta grupos de outros colegas constituindo correntes ou como lhe quisermos chamar.

Mas para quê, agora, a seita dos 30%? Eu temia que no caso de uma vitória escassa de António Costa, abaixo de 10%, a ementa fosse pior do que o soneto e a vida interna do PS ficasse ainda mais dividida e complicada, mas felizmente tudo acabou nesse dia quando Seguro, muito galhardamente, pegou no casaco, na mão da mulher e da filha, se meteu no seu carro e deixou o Largo do Rato para António Costa.

Para quê, então, ressuscitar agora 30% de Seguro quando o partido é o mesmo e Costa o seu chefe incontestável?

Por que é que os militantes de qualidade que até aqui eram adeptos de Seguro têm que continuar ”agarrados” a ele para exercerem funções de responsabilidade no partido para as quais, eventualmente são os melhores?

Costa ganhou rotundamente, desde os 14 anos no partido, melhor que ninguém conhece os seus camaradas, porque não é ele livre de fazer as suas escolhas sem ter que se subordinar a percentagens de algo que já ficou para trás e ceder a outro, em parte, neste caso Álvaro Beleza, uma decisão que só a ele devia caber?


Como diz Sérgio Sousa Pinto, hoje numa entrevista do DN, “isto é prejudicial. Vão cristalizar em alguns sectores um espírito de seita”. A consagração do sectarismo não é bom para o partido nem para a democracia.

... Mas, isto digo eu que tento raciocinar na base dos “dois mais dois igual a quatro” quando a política tem meandros que escapam à matemática... 

Quem nos diz que estes 30% não facilitam agora a união e pacificação do Partido e daqui por uns tempos, com as vagas alterosas que aí vêm, já ninguém lembra os 30% e o Seguro?

O Costa lá sabe...

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