sábado, fevereiro 21, 2015

IMAGENS


Duas cabras: a do pobre, em cima, a do rico em baixo.








NELSON NED - DOMINGO À TARDE


A melhor voz romântica do Brasil, o único cantor da América Latina que esgotou por 4 vezes o Carnegie Hall em Nova York, acaba por se refugiar nas drogas e na religião de certo por dificuldades de convivência com o seu corpo e a sua doença. Em Outubro de 2009 aparecem comunicados da sua morte mas ninguém assume e a imprensa nada diz. Em comentários, diz-se que ele está vivo e precisa da ajuda das pessoas comprando a sua música.

No dia 24 de Dezembro de 2013, passou a viver em uma clínica de repouso na Granja Viana, Cotia, próximo a São Paulo. Poucos dias depois, em 4 de Janeiro, ele deu entrada no Hospital Regional de Cotia, com infecção respiratória aguda, pneumonia e problemas na bexiga.

Morreu na manhã de 5 de Janeiro de 2014 no Hospital Regional de Cotia, em São Paulo, devido a complicações de um quadro de pneumonia.


                        

TUDO PASSARÁ



                         


Camada de Nervos - É como andar de Bicicleta


Pouco depois da noite do temporal...
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 180


















Antes de acompanhar o marido e a procissão de moradores em direcção ao morro, Zilda entregou a Coroca um par de chinelas cara-de-gato com pompom vermelho, prenda de luxo vinda de Ilhéus, e a Bernarda um pequeno embrulho contendo roupinhas de neném: camisola de pagão, sapatos de crochê, touca azul com fita branca, tudo feito por ela, jeitosa como não havia outra.

A barriga de Bernarda estufara. Vai ver são mabaças, brincou Zilda tocando o ventre da afilhada. Buchuda, pernas inchadas, não deu para Bernarda acompanhar a madrinha na escalada.

Manejando os facões, Lupiscínio e Balbino alargavam a trilha recém-aberta.

Natário não voltara ao cimo da colina desde que ali subira com Venturinha interessado nas minúcias do acontecido, havia anos. 

Pouco depois da noite de temporal, a noite da tocaia, da Tocaia Grande.


O POVOADO. A VELHA JACINTA COROCA SE INICIA
NO CONCEITUADO OFÍCIO DE PARTEIRA

1

- Quem te viu e quem te vê... Assunte no movimento, dona Coroca... Benza Deus! - O carpina Lupiscínio referia-se às mudanças ocorridas em Tocaia Grande.

Dirigiam-se ao descampado, ele e Jacinta Coroca. Aos domingos pela manhã os lavradores expunham em frente ao barracão de palha produtos da terra e animais de criação, trazidos na canoa cavada por Bastião da Rosa e por ele próprio, Lupiscínio, num tronco de vinhático que Ambrósio e os filhos haviam abatido a golpes de machado.

Naquele princípio do mundo os mestres de ofício, pedreiros ou carpinas, não enjeitavam encomenda, faziam de um tudo; todavia a partir do último inverno ninguém podia se queixar da falta de trabalho.

Sendo os ajustes de boca, maioria no fiado, acontecia com frequência o pagamento se atrasar, mas a palavra dada bastava como aval. No mais das vezes a tarefa contava com a ajuda colectiva: a troca de serviços era moeda corrente no lugar.

Na pisada dos sergipanos de Maroim, duas outras famílias haviam se estabelecido na margem oposta do rio, lavrando e plantando, criando galinhas, cabras e porcos. Devido à abundância de cobras venenosas, construíam as moradias sobre estacas, em baixo instalavam os chiqueiros.

A minha professora de instrução primária "fazia-lhe a cama..."
Será Possível?












Este texto foi-me enviado por mail com a indicação de que é verídico e retirado de uma Prova de Língua Portuguesa realizada por um aluno do 9º Ano da Escola Secundária das Caldas da Rainha.




Redaxão


Eu axo q os alunos n devem d xumbar qd n vam á escola. Pq o aluno tb tem Direitos e se n vai á escola latrá os seus motivos pq isto tb é preciso ver q á razões qd um aluno não vai á escola.

Primeiros a peçoa n se sente motivada pq axa que a escola e a iducação estam uma beca sobre alurizadas.

Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto Montanhoso? Ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? Ou cuantas estrofes tem Um cuadrado? Ou se um ângulo é paleolítico ou espongiforme? Hâ?

E ópois os stores ainda xutam perguntas parvas tipo cantos cantos tem “os Lesiades” q é um livro xato e q não foi escrevido c/ palavras normais mas q no Aspequeto é como outro qq e só pode ter4 cantos comos outros, daaaah.

Ás vezes o pipol ainda tenta tar com os abanos em on, mas os bitaites dos profes até dam gomitos e q a Malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem Habitos de leitura e q a Malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras

Foi q ele h-xoce bué de rápido e só o ‘garra de lin-chau’ é q conceguiu

Assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler qt é livro desde o Camões até á idade média e por aí fora, quês ver???

O pipol tem é q aprender cenas q interessam como na minha escola q á um curço

De otelaria e a Malta aprendemos a faser lã pereiras e ovos móis e piças de Xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar um Gravetame do camandro. Ah poisé.

Tarei a inzangerar? 

Schauble - o polícia mau.
Wolfgang Schauble  

- O “Polícia Mau” da Europa






As promessas do Cirysa ao povo grego eram perfeitamente inconciliáveis com a continuação da Grécia na zona euro e mesmo como ponto de partida para uma negociação desigual revelaram-se manifestamente exageradas e, no entanto... foi bom que as tivessem feito.

Ficamos a saber melhor quem é quem e daqui para a frente, esperemos o resultado das eleições que estão aí para vir..., a discussão ficou mais aberta para a Europa porque o Cirysa, mesmo com muito pouco ganho de causa, faltou ao respeito à toyka e aos alemães.

Miguel Sousa Tavares, hoje, no Expresso, emite a seguinte opinião:

- “Em vão Varoufakis reclamou, sugeriu, pediu e, por fim, suplicou, qualquer coisinha, uma frase que fosse, que lhe permitisse dizer em casa que a honra da Grécia havia sido salva e que nem tudo seria doravante como havia sido antes.
Cedeu em tudo, mesmo naquilo que sabia e havia dito que era imoral e ineficaz. Cedeu 90%, 05%, 98% de tudo o que levava para propor. Mas não chegou ainda: Schauble, o verdadeiro senhor todo- poderoso da EU (manda em Merkel e no governo alemão, no Bundesbank, no BCE e na Comissão Europeia), exigiu tudo.
Exigiu, não apenas a capitulação mas também a humilhação. Não por razões económico financeiras, não porque os contribuintes alemães – que ele tanto invoca e que só têm ganho com a dívida grega – o exigissem, mas para marcar posição: para que todos saibam quem manda na Europa e para que mais ninguém se atreva a desafiá-lo.
Schaubel é uma personagem condenada à história. Da sua cadeira de rodas ele não vê de perto os milhares, milhões de mutilados que a receita da troika causou em países como Portugal e a Grécia.

Ele não está no aeroporto de Atenas ou no de Lisboa a ver partir para o exílio toda uma geração de jovens a quem o seu país não tem futuro para dar (mas cujos engenheiros, formados com o dinheiro dos contribuintes portugueses, a chancelerina Merkel, de visita a Portugal, declarou aceitar “generosamente” receber na Alemanha).
E quando o Ministro alemão, numa operação mútua de marketing, se reúne com a nossa sorridente ministra das Finanças e proclama que o exemplo português é a prova de que a receita da troyka funciona, omite dizer que ela nos custou 6,5%  do PIB, 400.000 novos desempregados e 300.000 emigrantes, que nos fez vender em saldos e para estrangeiros todas as empresas estratégicas em que tanto havíamos investido em décadas e que, no final de todo esse brilhante “ajustamento” a dívida pública passou de 90% para 130% do PIB.
E também não revela aos contribuintes alemães que o grosso do empréstimo à Grécia serviu para salvar o investimento da banca alemã na venda de submarinos e outros luxos aos gregos, e quanto é que a Alemanha já facturou em juros aos gregos e aos portugueses.
Schauble representa o país que mais ganhou com o fim da Guerra Fria, o “motor europeu”, o exemplo máximo da competitividade, o país que fabrica os melhores carros do mundo e outras coisas que tais.
Ninguém pode negar os méritos que a Alemanha tem na situação invejável que é a sua, como ninguém pode negar os erros e vícios próprios que conduziram outros à situação deplorável em que se encontram.
A prazo, a política de Schauble vai prejudicar a Alemanha e destruir a Europa (mais uma vez...).
A atitude actual da Alemanha relativamente à Grécia – e que, para vergonha de todos, é a política da EU, socialistas incluídos – não é ditada por nenhum pensamento racional, mas apenas por um desejo de punição e humilhação. Que não é digna da Alemanha e que pronuncia o fim da ideia da Europa, mais tarde ou mais cedo."

sexta-feira, fevereiro 20, 2015


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Vista fraca... Não disse há dias que não envelhecíamos tudo por igual?...


Mixordia de Temáticas - Cinquenta Nódoas Negras de Gray


Roberto Carlos - Amante À Moda Antiga

Robert Carlos é quase da minha idade e por isso fizemos parte daquele grupo de jovens que ainda escreviam cartas de amor... hoje é mais mensagens de telemóvel.

Vou indo como Deus permite
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 179



















Zilda trouxera com ela dois filhos: Edu, o mais velho, moleque taludo de treze anos, a figura do pai cagada e cuspida, e o último, nascido no fim das lutas, pouco depois de Natário ter ganho as tarefas de terra onde plantara as roças de cacau, afilhado do coronel Boaventura e de sua nédia e santa esposa, dona Ernestina.

Em honra da madrinha recebera na pia batismal o nome de Ernesto.

Delicada de corpo, frágil de aparência, em verdade saudável e disposta, Zilda desembarcou arregaçando a barra da saia. A afilhada beijou-lhe a mão:

- A bênção, minha dinda.

- Deus te abençoe, minha filha. Bom dia, Coroca, tu tá cada vez mais forte.

- Vou indo como Deus permite.

Natário desmontara, afrouxava a cilha da mula. Pretendia prosseguir viagem apenas houvesse mostrado a Zilda a colina onde iam erguer a casa à beira do pé de mulungu.

Ernesto desceu do carro arrastando um cachorrinho amarrado com uma corda. Assustado, o animal resistia, mostrava os dentes.

Tocando com a ponta dos dedos a mão estendida de Castor Abduim, presente à recepção, Zilda comunicou:

- É uma cadelinha que trouxe pra vosmicê, seu Tição. Tá com um mês de nascida; Negrinha teve uma ninhada de seis. Diz que vosmicê tem um cachorro, tá aí uma mulher pra ele.

Riu um riso breve, agradável. Os que a conheciam apreciavam a maneira como ela cuidava da casa e criava os filhos, os de sangue e os recolhidos: mulher como se requeria para um tal marido.

Devotada, discreta e decidida.

- Vai ter que esperar ela crescer...  - Avisou o negro a Alma
Penada que saltava em torno, indócil.

Tição afagou o focinho da cadelinha, coçou-lhe a barriga e a colocou no chão. Alma Penada tocou-a com a pata, rosnou de brincadeira. Oferecida, disse Tição assim designando-a por tê-la recebido de presente e por vê-la, minúscula e atrevida, saltitar provocando o vira-lata.

Puxando Edu pela orelha, também Natário dirigiu-se a Castor:

- Vancê vai ganhar de troco esse moleque aqui, o meu mais velho, Eduardo. Vai ficar com vancê pra aprender o ofício.

Faça dele um bom ferreiro como ocê.

- Pode deixar por minha conta.

- Vam’entrar. — Convidou Coroca.

No fogo a lata com o café recém-coado. O de-comer sobren a mesa improvisada num caixão de querosene: fruta-pão cozida, carne-seca chamuscada, farinha, inhame, jaca mole e mangas coração-de-boi, verdes de cor, maduras de gosto, grandonas, incomparáveis. Mal provaram do banquete pois Natário dava pressa:

- Vambora que eu quero me tocar pra roça. Ocês vão ter muito tempo pra conversar.

Sorri ...  de quê?
Maria Luís













A nossa Ministra das Finanças, Maria Luís, teve ontem o seu momento de glória, à direita da cadeira de rodas de Shauble, apresentada por este como a representante de um país que foi um caso de sucesso na aplicação do programa de austeridade da responsabilidade da Alemanha.

Shauble ganhou. A sua política de austeridade imposta à Europa para a meter na ordem do equilíbrio dos Orçamentos foi um sucesso. A seu lado, silenciosos, todos os países vítimas dessa austeridade e um deles, Portugal, não se limita ao silêncio cúmplice, está presente com a sua Ministra das Finanças para se afirmar como uma das heroínas desse sucesso.

A destoar, apenas a Grécia mal comportada que insiste que a política de austeridade que lhe foi imposta, destruiu a sua economia, deu cabo da classe média e arrastou milhares de gregos para a miséria.

Maria Luís sorri, disfarçando a vaidade que lhe vai por dentro, ela que era apenas uma desconhecida Secretária de Estado do todo-poderoso Ministro Gaspar, esse sim, credenciado pela Europa como detentor do segredo do êxito da austeridade.

Falhou, foi de novo para as Instâncias Europeias deixando atrás de si uma carta a reconhecer que tinha falhado.

Avançou Maria Luís para o lugar pela simples razão que era da confiança de Passos Coelho de quem tinha sido professora e, por outro lado, estava por dentro das “contas” até porque já lá estava...

Três anos de Troyka foram ontem coroados como a chave do sucesso para a crise afirmada publicamente nas televisões da Europa pelo alemão Shauble com um país a seu lado para comprovar que ele estava a falar verdade.

Em Portugal, muitos portugueses que não estão esquecidos das humilhações que representaram os funcionários da Troyka, sentem-se envergonhados com aquela demonstração de vassalagem.

Era a dignidade de um povo com oito séculos de existência que estava em causa. Um país tutelado, com perda de soberania, que ali estava representado por uma senhora que sorria, orgulhosa, para o seu senhor.

O povo deste país sempre fez sacrifícios, a sua vida ao longo dos tempos, por erros crassos dos seus governantes, foi sempre aquilo que a sua história mostra: santos, heróis, aventureiros e um povo corajoso que sempre pagou o preço de todos os disparates dispersando-se pelo mundo e criando uma diáspora como não deve haver outra.

Mais uma vez, chegados como foi, a outra banca rota, sem dinheiro para pagar o funcionamento do Estado e sem ninguém que nos quisesse emprestar, entregamo-nos às cegas nas mãos dos credores com a surpresa de um novo governo, o do Passos Coelho, cuja ideologia era a dos próprios credores, mais ainda, tudo o que eles nos queriam fazer ainda era pouco... ajudou-nos o Tribunal Constitucional.

É sempre possível, sem grandes conhecimentos ou rasgos de imaginação, equilibrar as contas públicas de um país. Basta que desprezemos os custos sociais.

Salazar, em 1929, perante a bagunça que ia nas finanças conseguiu-o facilmente: aumentou os impostos, cortou nas despesas e montou a PIDE para o segurar no poder e os portugueses de então mergulharam na paz e tranquilidade do silêncio e da ignorância.

No Portugal da Maria Luís, que ela apresenta como um caso de sucesso, temos 598.581 desempregados inscritos nos Centros de emprego, realidade muitos mais, 200.000 fugidos dos seu país, aconselhados a ir embora pelo Chefe do Governo, uma geração dos 60/70 anos que funciona, a custo, como “almofada social” para filhos e netos e um estado social que na Saúde, Educação, Justiça rebenta pelas costuras... e uma economia a crescer menos.

Maria Luís, afinal, sorri... de quê?

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

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A "bimby" de Trás-os-Montes...



Camada de Nervos - Betinha Não Fadista


Construção de Chico Buarque

Insisto nesta canção considerada, por eleição, na revista Rolling Stone, a "maior canção brasileira de todos os tempos". A sua letra é um Tratado, uma Tese, um Discurso, uma Revolução, um Grito do Trabalho contra o Capital que mereceu um prémio do Sindicato dos Operários da Construção Civil... - "flutuou no ar como se fosse um pássaro" - "e se acabou no chão feito um pacote flácido" -"morreu na contramão atrapalhando o tráfego".


O ratinho Ut 2598. Como se vê em forma.
O RATINHO UT 2598















Comparado com a espécie humana, o ratinho UT 2598, com os seus 3 anos, tem 100 e no entanto ele está ali para as curvas, activo, farejando e explorando a sua gaiola como nos velhos tempos da juventude.

O seu fígado, coração, tendões, tudo em excelente estado, enfim, olhando outros ratinhos da sua provecta idade ele parece a Lili Caneças rejuvenescida à custa de operações plásticas.

Todos sabemos a importância dos ratinhos de laboratório na pesquisa de soluções para as doenças humanas e o que faltava agora era ficarmos a dever-lhe também uma velhice prolongada e rejuvenescida a fazer surf e a frequentar até às tantas os locais nocturnos a fazer "olhinhos" às miúdas e a beber "drinkes" para acabar junto às margens do estuário do Tejo ou Douro a inspirar profundamente a brisa marítima purificadora para desanuviar.

Não, não será viver para sempre porque até aí não chega o Ratinho 2598 mas ele conseguiu eliminar ou reduzir substancialmente as doenças da velhice como o cancro, os problemas cardíacos, a debilidade imunetária, os alzheimares e os parkinsons mais o colestrol, a obesidade, a tensão alta ou seja, a velhice passa a ser uma festa, sem a responsabilidade de trabalhar por obrigação, aturar chefes e patrões... uma paz completa para os Hospitais e de economia para o Serviço Nacional de Saúde.

Claro que o Serviço Nacional de Pensões e a Caixa Geral de Aposentações não iriam gostar muito de pagar reformas "até vir a mulher da fava rica" mas eles logo nos poriam a trabalhar durante mais anos.

Mas como é que o Ratinho UT 2598 conseguiu isto?

 - Tudo terá começado com terra, a mesma que nos há-de comer os ossos, mas esta recolhida numa expedição à Ilha da Páscoa em 1964 e que foi o ponto de partida para um novo antibiótico baptizado de "rapamicina".

Não vamos entrar em pormenores que esses são para os cientistas mas inicialmente o que se constatou é que os ratinhos privados de comida viviam mais. Pois bem, com a rapamicina podem continuar a comer normalmente e a viver mais.

Eu, por exemplo, como ainda não tenho acesso à rapamicina, há muito que eliminei refeições confeccionadas ao jantar, única forma de me sentir melhor.

Como já perceberam não envelhecemos em tudo ao mesmo tempo. Umas "coisas" vão primeiro que outras, uma espécie de morte a prestações. 

Primeiro a pele, logo aos 18 anos, embora não pareça, e depois, progressivamente e por esta ordem: pulmões, ossos, olhos, músculos, rins ouvidos, intestinos, coração e finalmente o cérebro.

Claro que há uns truques para adiar, retardar e melhorar o processo de envelhecimento. Lembram-se, com certeza, de Churchill que viveu até aos 91 anos sempre com o seu inseparável charuto e a quem perguntaram a razão de tão longa longevidade.

 - O desporto - respondeu ele. -  Mas o senhor nunca praticou desporto... - Ora aí tem a explicação para o segredo da minha longevidade. 

Winston Churchill é a prova provada de que o cérebro é o ultimo a envelhecer. O dele até morreu jovem... 

Os cacaueiros novos floresciam nas roças próximas.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 178



















Para não ficarem ao relento nos primeiros dias, aconselhou o barracão onde os tropeiros e os demais passantes se acolhiam, posto de muito movimento durante a noite e em certas noites salão de dança e de folia.

Tição, sempre sorrindo, lembrou que as mulheres, se quisessem poderiam se acoitar numa palhoça abandonada, a que fora de Epifânia; uma novata ocupara a de Cotinha.

Sobretudo para a grávida e a outra com o menino, melhor que o barracão. Só tinha de ruim ficar na Baixa dos Sapos, reduto das raparigas.

- O que é que tem? - Disse Vanjé.

Coroca apareceu para comprar querosene, estranhou o movimento àquela hora.

- São os sergipanos que o Capitão mandou. Vão botar roça de mandioca do outro lado do rio. Plantar feijão e milho.

- Tava precisado.

Do Caminho dos Burros, da Baixa dos Sapos acorrera mulheres e homens, bisbilhoteiros. Ofereceram préstimos, trouxeram de comer. O menino passou de braço em braço.

5

Ao desembarcar do carro de boi, Zilda, mulher de Natário, não foi saudada com foguetes apenas porque o Capitão esquecera de prevenir Fadul com a necessária antecedência.

Nem por isso o acontecimento deixou de ser tão celebrado quanto a chegada dos sergipanos, dois meses antes. A notícia de que o capitão Natário da Fonseca resolvera finalmente começar a construção de sua moradia causara sensação, marcava mais uma etapa na vida de Tocaia Grande.

Os cacaueiros novos floresciam nas roças próximas, às vésperas da primeira safra.

Dias antes, Balbino e Lupiscínio abriram uma picada e subiram o morro a fim de estudar a localização da casa; Bastião da Rosa e Guido ocupavam-se do cocho e das barcaças na Fazenda da Boa Vista.

Zilda viera para decidir com pedreiros e carpinas sobre o conjunto e os detalhes da obra. Obra de vulto, o proprietário não era um qualquer e possuía família numerosa, mulher e oito filhos, cinco legítimos, três adoptados.

 Curiosamente os oito se pareciam demais uns com os outros. Zilda não fazia distinção entre legítimos e adoptados como se houvesse parido todos eles.

Quando o carro de boi gemeu ainda na distância, moradores acorreram em alvoroço ao descampado para saudá-la. Mas Natário, à frente da junta de bois, cavalgando a mula preta num trote lento, dirigiu a comitiva para a casa de madeira onde viviam Coroca e Bernarda. As duas aguardavam na porta. 

quarta-feira, fevereiro 18, 2015



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Bairro do Castelo na velha Lisboa


Mixórdia de temáticas - Prodígio de Temáticas


Desabafo - Maria Betânia - Roberto Carlos

Dois "monstros sagrados" da música brasileira num show em 1979

Um elefante vê uma cobra pela primeira vez:


Muito intrigado pergunta:
- Como é que fazes para te deslocar? Não tens patas!
-  É muito simples - responde a cobra, rastejo, o que me permite avançar.
- Ah... E como é que fazes para te reproduzires? Não tens tomates!
- É muito simples - responde a cobra já irritada - não preciso de tomates, ponho ovos.- Ah... E como é que fazes para comer? Não tens mãos nem tromba para levar a comida à boca!
- Não preciso! Abro a boca assim, muito grande, e com esta enorme garganta engulo a minha presa directamente.
- Ah... ok!  Ok!
Mas então, resumindo.... rastejas, não tens tomates e só tens garganta...
- És Chefe de quem ?????!!

Filhos das Extremas












Numa vinha do Ribatejo, as crianças brincavam por entre o emaranhado das cepas ainda por podar e que por isso apresentavam aquele aspecto de desalinho e desmazelo a fazer lembrar os palcos das batalhas do antigamente uma vez acabada a luta e antes de retirados os corpos e os destroços que tinham algum valor.

A vindima também é uma espécie de luta perdida pelas cepas que pretendem esconder entre as parras o produto da sua criação, perante o exército de homens e mulheres, mais elas que eles, que as tomam de assalto, tesoura numa mão e balde na outra e que virando e revirando as vides vão cortando os cachos que as parras procuram esconder ciosamente.
Retirado o produto do saque a vinha fica uns meses ao abandono e para se retemperar e esquecer da afronta hiberna durante o Inverno que se aproxima e algumas vezes afunda as mágoas nas águas das cheias do rio Tejo, quando o este ainda tinha cheias.

Depois, a natureza benigna que não é de ressentimentos, faz chegar a Primavera com as papoilas, os mal-me-queres, as andorinhas e tudo acaba por esquecer entre os risos e as corridas das crianças enquanto os pais se afadigam de volta das cepas cortando e atando as vides junto aos “olhinhos” de onde hão-de brotar, lá para o fim do Verão, mais cachos com uvas resplandecendo de cor.
Mas até lá, entre outras coisas, há que combater o míldio e não há que se atrasar senão a praga avança irremediavelmente e o que haveria de ser para os homens irá para “os bichinhos”.

É a fase mais difícil quando, a partir do início da Primavera, a doença começa a atacar. O Manuel e a mulher assumem o papel de enfermeiros e todos os dias, bem cedo, lá os temos à cabeceira do doente, mirando e remirando as folhas à procura daqueles sinaizinhos brancos, indicadores da doença que depois passará também para os cachos porque a descoberta precoce desses sinais, como em todas as doenças, é decisiva para o êxito no combate à praga.

A mulher, especialmente vocacionada para as tarefas laboratoriais, prepara o remédio dissolvendo em água, no pequeno tanque que existe para esse efeito, a meio da propriedade, o produto que, de todos quantos existem, lhes parece ser o melhor para debelar a doença.

Depois, enche o depósito do pulverizador, ajuda a colocá-lo nas costas do marido e o Manuel lá vai, vinha fora, sem ter perdido o tino à última cepa que pulverizou quando todas parecem exactamente iguais e retoma a tarefa procurando atingir com os borrifos todas as folhas mesmo as menos acessíveis.

Atentemos nos seus movimentos, reparemos na sua expressão e veremos nele, não o trabalhador agrícola mas um especialista de saúde que põe em cada gesto a precisão de uma técnica não aprendida na escola, antes uma herança do seu pai e que ele executa com uma grande dose de amor.

Se não conseguirmos ver estas pequenas diferenças do gesto e da expressão nunca compreenderemos porque a ligação do homem à terra é tão diferente de todas as outras. Não é o Manuel que é dono daquela terra, é ela que é dona dele.


Mas não é fácil a vida destas famílias, as vinhas não têm dimensão suficiente para rentabilizar a compra de máquinas que tornariam os trabalhos mais rápidos e por conseguinte mais baratos, para além de que uma atitude muito individualista e desconfiada dos proprietários das terras, não permite trabalhá-las em conjunto fazendo grande o que é pequeno.

Por isso, é sem esperança que o Manuel olha para as extremas da sua vinha percebendo que enquanto elas se mantiverem onde estão a sua vida não passará da cepa torta.

Do preço do vinho também não há que esperar grande coisa. Se há anos de fartura, que até os há, logo o seu valor cai por aí abaixo de tal forma que nos anos de escassez se chega a ficar com mais dinheiro no fim da safra.

As grandes casas agrícolas, essas é que se safam, com tantos hectares de vinha podem ter tractores que lavram a terra e procedem à pulverização mecânica e nos anos de fartura armazenam o vinho em grades depósitos que vendem mais tarde quando o preço lhes convém.

O Manuel sabia que era assim mas nada podia fazer, os trabalhos da vinha sabia-os ele de olhos fechados, a sua infância, tal como a do seu filho agora, tinha-a passado entre as cepas daquela vinha, quem sabe mesmo senão teria sido concebido no meio delas. A vinha era a sua segunda casa, à sombra da oliveira ao pé do tanque onde se faz a calda para as “curas” tinha a mãe lhe dado de mamar e era lá, num berço improvisado, que ele dormira as suas primeiras sestas de criança.

Estava fora de causa vender ou arrendá-la. Que pensaria o pai lá no outro mundo, depois daquele esforço que fizera anos antes de morrer para “armar” a vinha, renová-la com castas novas, preencher as falhas das que entretanto tinham morrido e dar-lhe todo aquele aspecto de propriedade dos ricos só que em ponto pequenino já se vê e… o que pensaria ele próprio?

E o seu rapaz, como haveria de se governar só com aquela vinha que mal dava para ele e para a mulher? Lá teria que ir trabalhar para algum dos ricos da terra, que ele não tinha problemas com o trabalho, era sossegado, tinha boas mãos e sempre aprendera tudo com muita facilidade. Tomara o patrão que viesse a ficar com ele mas trabalhar na terra que é nossa é muito diferente, as cepas é como se fossem o prolongamento da família e elas também percebem isso e o rapaz já demonstrava o mesmo apego.

O Manuel nunca ouvira falar na escola na família dos Habsburgos da Casa Imperial da Áustria. O professor só lhe ensinara os Reis de Portugal e alguns, agora, ele já os esquecera mas houve tempo em que os soubera a todos com as dinastias a que pertenciam e tudo… mas dos Habsburgos, esses, nunca ouvira falar.

O mesmo já não diria dos “filhos das extremas” embora fosse um assunto mais ou menos tabu lá na aldeia, daqueles que eram falados em conversas surdas do…”cala-te boca”, e mais pelas mulheres do que os homens que fugiam desse tema mas não deixavam de pensar nele porque o assunto interessava a ambos por igual. No entanto, era mais conversa de travesseiro…que é também para isso que servem as mulheres.

A coisa era mais notada por altura das bodas, quando os pais dos noivos eram donos de vinhas que confrontavam as extremas umas com as outras e eram inevitáveis alguns sorrisos e aquelas frases perdidas… «lá vamos ter mais filhos das extremas».

Claro que havia uma intenção premeditada de aumentar o tamanho das propriedades pelo casamento dos filhos, mesmo quando tinham relações próximas de parentesco. Não quer dizer que os jovens não se gostassem, conheciam-se desde pequenos, brincaram em criança nas extremas das vinhas que eram dos pais, enquanto eles trabalhavam, mais tarde foram aos mesmos bailes e tudo sempre abençoado pela família.

Era tudo tão intrincado que era difícil dizer onde acabava a verdade e começava a má-língua. Eram zonas de fronteira tal como as extremas das vinhas. 

O que eles tinham era mais pudor que a família dos Habsburgos que nem sequer dava para disfarçar a intenção dos casamentos entre parentes chegados mas o povo, por ignorância, falava em maldição. 

Muitas pessoas da tão distinta família, ao longo de várias gerações, nasceram defeituosas com degenerescências faciais, o famoso queixo dos Habsburgos, como resultado de uma desordem genética pelo acumular de casamentos consanguíneos, dos quais, o mais célebre, terá sido Carlos II de Espanha que morreu cedo e estéril pondo ali termo à dinastia à qual se seguiu a dos Bourbons.

 Contudo, com esta astuta política de casamentos, concebida por Maximiliano, pouparam-se muitas guerras, muitas vidas e muito sofrimento que de outra forma seriam inevitáveis para manter e aumentar o poder desta família na Europa que, veja-se, começa quando o Rei Rodolfo de Roma conquistou a Áustria em 1273 e só terminou em 1918 com a 1ª G.G. mundial.

Pelo meio governaram a Europa como Imperadores, Reis, Duques e Arquiduques de vários países, inclusive de Portugal, no tempo da denominação Filipina, mesmo defeituosos, melancólicos e meio loucos pela doença de que padeciam.

Mas, destas coisas, o Manuel e a mulher não sabiam nada e nesse dia à noite, deitados na cama, ele cansado de um dia inteiro com o pulverizador às costas puxando para cima e para baixo o manípulo, nem sei quantas milhares de vezes, e ela derreada dos braços de mexer a calda e carregar os pulverizadores, começaram a falar do filho:

- Oh homem, já reparaste que o nosso rapaz parece agradado da filha dos nossos vizinhos, aqueles que  têm a vinha pegada com a nossa, com a extrema também a acabar na vala grande onde está a figueira que dá os figos pingo de mel?

- Então, e oh mulher, eu não sei onde fica a figueira e onde acaba a vinha do vizinho? -  Mas a rapariga ainda é nossa sobrinha…

- Oh!, é prima dele em 2º grau, já se viram coisas bem piores e a vinha... olha que ainda é um bom bocado maior que a nossa, não estará tão bem tratada, é verdade, mas isso é porque o Hermenegildo não chega aos teus calcanhares e depois, também com aquela doença que ele tem já não vai longe…

-E a rapariga, gostará dele?

- Ora, vê-se mesmo que és homem, nunca reparas em nada, deixa isso por minha conta e dorme que amanhã é outro dia de canseira…

… Algures, na década de sessenta, no seio de uma família de uma freguesia no coração do Ribatejo deste Portugal pequenino, que nunca conheceu a política casamenteira concebida pelo rei Maximiliano da Casa Imperial da Áustria. 

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