sexta-feira, novembro 16, 2007

pequenos abusos


Pequenos Abusos

O Jumento, que na sua qualidade de Cronista Mor do Reino tudo sabe e comenta com a propósito, sob o título de Pequenos Abusos, referiu-se há poucos dias no seu Blog a uma notícia do jornal em que um senhor, de seu nome João Manuel Pisco de Castro, Presidente do Instituto de Gestão Financeira e Infra-Estruturas da Justiça, decidiu comprar para o seu serviço um Audi Limusina 2.0TDI no valor de 47.599,00 € e Extras que custaram mais 2.831€.

O Jumento considerou esta compra como um mau exemplo tanto mais que não se trata de um carro para serviço de Ministro ou Secretário de Estado mas de um presidente de um Instituto, realidade que brotou como autênticos cogumelos há uns anos atrás e que têm feito as delícias dos homens da confiança dos partidos.

É certo, que alguns já foram eliminados pelo governo de Sócrates, pelo menos no papel, mas muitos outros continuam para exibirem a sua atracção pelas mordomias e ostentação de poder sem qualquer espécie de pudor para não dizer vergonha que julgo ser a expressão mais apropriada.

Vivêssemos nós num período de vacas gordas e levaríamos isto à conta da fartura mas este senhor, que ainda por cima, trabalha com dinheiros públicos sabe, melhor que ninguém, que as disponibilidades financeiras são poucas e estas “pequenas loucuras” não se coadunam com os sacrifícios suportados por milhões de portugueses.

Claro que, no conjunto das despesas do Estado, os 50.000€ do automóvel para este senhor é uma gota de água no Oceano e os portugueses não o vão sentir no bolso.

Mas se não tem repercussão no bolso é uma ofensa, uma ofensa e um desrespeito aos cidadãos, a todos e não apenas aos das pensões 200 e tal euros, porque foi com o dinheiro dos nossos impostos que o Audi mais os seus extras vão ser pagos.

Gostaria de saber se a tutela vai, pelo menos, chamar a atenção para o desvario deste senhor no género de:

-Óh homem, você exagerou e agora vêm estes chatos dos Jornais mais os outros dos Blogs e o nosso Eng. ainda é capaz de me dizer qualquer coisa!

Mas não, nem sequer tenho essa esperança.

Para eles, quem critica estas coisas são os despeitados, os invejosos, os demagogos, os comunistas e os bloquistas que nunca souberam nem hão-de saber o que é o poder, nem a responsabilidade de o ser.

Eles não compreendem que o Presidente de um Instituto que se preze tem que se fazer transportar num automóvel que esteja à altura da importância e da dignidade do cargo e se, ainda por cima, é ele que gere os dinheiros, então, como diz o nosso amigo do Jumento “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é parvo ou não sabe da arte”.

Não é o caso do Sr. João Manuel Pisco de Castro…

terça-feira, novembro 13, 2007

O drama da morte


O DRAMA DA MORTE


Era inevitável que sendo o homem um ser intelectualmente tão evoluído e sensível no mínimo não fizesse da morte um drama, compreende-se…

Conciliar o pensamento e a reflexão sobre a vida com um simples ponto final ao qual nada mais se segue parece-nos algo tão brutal e falho de lógica que a reacção, em termos de desespero, é sempre a mesma:

-“Tem de haver mais qualquer coisa”…

O Rui Matos, do Macroscópio, diz-nos que vive fascinado e frustrado perante a morte porque não consegue vislumbrar o que está para além dela e esta é a diferença entre os homens bem pensantes que ainda cogitam sobre a morte e aqueles que, hoje em dia, se limitam a viver preocupados em resolver os problemas do dia a dia continuando a pensar sobre a morte aquilo que os seus pais e avós sempre pensaram, “soprado” pelas religiões que também herdaram e que é uma forma de não pensarem.

A morte não é um desafio fácil de aceitar e abordá-lo é sempre um acto de coragem porque, diga-se sobre ela o que dissermos, a sensação que no fundo, lá bem no fundo nos fica, é que tudo quanto sobre ela se diga é pura especulação tendo mais a ver com a vida do que com a morte, a vida que desejaríamos nunca acabasse mesmo que, para isso, tenhamos que “criar” outros mundos e outras formas de vida.

Como se todos os seres vivos fossem dignos de morrer excepto o homem por não fazer sentido que a natureza o tenha feito evoluir para uma forma qualitativamente tão diferente e perfeita e reservar-lhe, no fim, exactamente o mesmo destino!

Esta necessidade de prolongarmos a vida para além da morte, porque é desta necessidade que se trata, foi ao longo da história da humanidade o factor mais determinante e influente da própria vida.

Vivemos sempre condicionados por aquilo que esperávamos que nos acontecesse após a morte e as religiões, especialmente as monoteístas, mais organizadas e influentes, souberam muito bem tirar partido desses condicionalismos.

Quando deixarmos de amar a Deus e em vez dele amarmos, no sentido de respeitar, a natureza, os outros homens e os restantes seres vivos que connosco partilham a vida na Terra, talvez então aceitemos melhor o nosso fim em pé de igualdade com as restantes formas de vida.

Somos, de facto, especiais, tivemos que o ser para sobreviver na luta que travámos para termos direito a um lugar ao sol mas continuamos sujeitos às leis fundamentais do Universo e desaparecer para sempre sem outras consequências que não sejam as transformações químicas que se operam a partir do momento da última batida do coração, é uma dessas leis.

Outra atitude que não seja esta, para além de representar uma veleidade que não nos fica bem, constitui, igualmente, uma enorme contradição para a nossa mente dada a dificuldade em conciliar o racional com as expectativas da fé.

Por isso, a Filosofia, que o meu sobrinho afirma, entre outras coisas, ser um curso geral para a morte, talvez pudesse, com mais vantagem, constituir um curso geral para a vida, que nos ensinasse que todas as nossas energias devem ser canalizadas para a satisfação da responsabilidade do que significa estar vivo.

Responsabilidade connosco próprios, com o nosso semelhante e para com o planeta que é a casa onde vivemos, não em nome de, ou para agradar ou por recear a um deus qualquer que nos espera após a morte para nos castigar ou premiar mas porque, neste momento, está já suficientemente instalada uma espécie de moral universal que aponta no sentido de que a nossa própria sobrevivência como espécie não é possível salvaguardar se não olharmos a vida como a nossa oportunidade de manter os equilíbrios entre nós, homens, e a natureza que nos suporta.

E para isso não é a nossa morte que nos deve preocupar mas antes as gerações vindouras que reivindicam, também elas, o direito à vida para poderem morrer como nós.

Sinceramente, julgo que estamos, neste aspecto, numa encruzilhada terrível porque temos a consciência de que a estamos a viver mas não temos a certeza de qual o caminho que vai ser percorrido.

O planeta como que estremece e agita, também ele parece inquieto quando o forçam a uma evolução mais rápida do que aquela que, naturalmente, se processaria.

Para ele, planeta, é indiferente mas para as formas de vida que suporta pode ser um abreviar das suas existências e por isso ele manda os seus avisos, alerta os homens, os únicos que os sabem interpretar e… aguarda.

Os fenómenos da natureza são o resultado de múltiplos equilíbrios que se estabelecem e restabelecem continua, lenta mas inexoravelmente.

A velocidade a que esses equilíbrios e reequilíbrios acontecem é a chave que facilita, dificulta ou impossibilita mesmo a sobrevivência das espécies através dos fenómenos de adaptação já explicados por Charles Darwin na sua Teoria da Evolução.

E é aqui que há verdadeiras razões para falar da morte que dizima e pode levar ao desaparecimento das espécies e não a morte natural dos indivíduos dentro de cada espécie indispensável, de resto, para a própria sobrevivência da espécie.

Será que a velocidade a que desaparece a massa de gelo do pólo Norte vai dar alguma hipótese de sobrevivência ao urso polar?

E o que irá acontecer aos milhões e milhões de pessoas que vivem à beira mar se a água dos Oceanos começar a subir a um ritmo que não permita a sua reinstalação noutras áreas com tempo para se adaptarem e aprenderem a fazer outras coisas?


E se alterações do clima, de repente, puserem em causa a produção de arroz no continente asiático como vão sobreviver os biliões de pessoas que dependem dele para se alimentarem?

E agora, sim, uma palavra para a fé, não em Deus ou em deuses mas a fé nos homens, de preferência em todos os homens, esclarecidos, responsáveis, capazes de pensar e decidir para o futuro, exactamente aquele futuro que neste momento parece tão ameaçado pelo egoísmo das actuais gerações.

Mais uma vez, como sempre, é nos homens que está, ou não, o futuro da humanidade.

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