sábado, novembro 17, 2012

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Ela Continua Jovem...     


Uma senhora bem idosa estava no convés de
um navio de cruzeiro a segurar o seu chapéu firmemente
com as duas mãos para não ser levado  pelo vento. Um cavalheiro aproxima-se e diz:


- Perdoe-me, senhora...não pretendo incomodar,
mas a senhora já notou que o vento está a levantar bem alto o seu vestido?

  - Já, sim, mas é que eu preciso de ambas as mãos para
segurar o chapéu.

      - Mas, senhora....a senhora deve saber que suas partes íntimas
estão a ser expostas! - disse o cavalheiro.
A senhora olhou para baixo, depois para cima, e respondeu:


- Cavalheiro, qualquer coisa que o Sr. esteja a ver aqui em baixo tem 85 anos. O chapéu comprei-o ontem!

Aqui temos três jovens italianos que não têm problemas de emprego.


MONSARAZ

A Aldeia Mais Antiga de Portugal

Toda a aldeia era feita de um tempo antigo: nas casas, nas ruas, nos usos e costumes.
Mesmo nos corpos dos aldeões, no jeito especial de os utilizarem, tinham também um toque rude e primitivo. O modo de andar, por exemplo, era desengonçado e langão, como se levassem às costas a sua carga de séculos mas era sobretudo nas casas que o peso do tempo mais se sentia. A gente olhava-as e via logo que tinham sido casas construídas no eterno.

Virgílio Ferreira

A Beleza Profunda e Nostálgica do Alentejo e a ... voz de Dulce Pontes.


VIRIATO

O NOSSO AVÔ


Os romanos, quando taxaram Viriato de «dux latronum», capitão de salteadores, não o caluniaram totalmente. Na sua serra era um criador de gado e, por extensão ao tempo desta indústria, o primeiro pegureiro (pastor). Quem tinha rebanhos, não só aviava o surrão aos zagais que os haviam de conduzir aos pastos, como pastoreava também.

Bem certo que não seria uma só vez nem duas que este homem, mais tarde investido das virias, daí Viriato, seguisse encostado ao cajado, ou à lança, os passos dos seus merinos ou corresse, de par com os sabujos, a escorraçar a alcateia esfomeada.

Pastores eram todos os homens naquelas épocas de economia rudimentar e porventura fosse este o mister por excelência.

O Velho Testamento celebra os patriarcas e figuras gradas do patriarcado, Labão, Isaque, Jacob, antes de mais na qualidade de senhores de densíssimas manadas, hábeis, em correspondência, nas sortes e manhas do pegulhal (ovelhas do pastor que são apascentadas com as do amo).

Se se fizesse um paralelo entre as tribos nómadas de que procedeu Israel e as tribos de que a certa altura desabrocharam Viriato, Sertório e os heróis de Numância, - antiga cidade da península ibérica, nas margens do rio Douro, fundada no século III AC e que cometeu suicídio colectivo depois de um cerco de nove meses para não caírem vivos nas mãos dos romanos - haveria muito que distinguir em grau de civilização?

Os lusitanos davam-se à pastorícia, uma das primeiras actividades do homem ao romper da idade neolítica, como a gente da borda se dava à pesca. Mas semelhante lida não os inibia de exercer outros ofícios, um deles, velho como o mundo: saltear os haveres do semelhante.

No fundo, era uma prática como outra qualquer, com todos os foros de universalidade. A forma é que tem variado, rebuçada em leis e mandamentos, especiosamente divergentes. Nada mais natural, portanto, que as tribos das serras, onde a vida era áspera e difícil e os moradores mais de uma vez deviam adormecer com os estômagos a ladrar, acumulassem com a função comum a de salteadores.

Era uma ordem de cavalaria de tantas consagradas pela História, como por exemplo, mais tarde a do Templo. Roubavam-se mais ou menos de pé fresco uns aos outros, e em caterva abatiam-se sobre as terras fartas e latinizadas do Sul.

Em três tempos, então, passavam os galfarros a tudo o que tivesse aparência de boa presa. O ditado: «olho vê, pé leva e mão pilha» marca o ritmo hispânico quanto a tais empreendimentos. É mesmo possível que a sorte destas expedições constituísse títulos de glória para os seus autores.

O mais afortunado receberia o preito da fama como nas batalhas os valentes. A moral na Lusitânia, assim era como Sparta, representa um ludíbrio à face das tábuas brônzeas do Decálogo. Melhor seria dizer: cada serra com sua consciência, do que cada terra com seu uso. Pilhar o vizinho, celtibérico ou vetão apaniguado do romano, era virtude e não crime.

Não mareiam pois a coroa de louros a Viriato os adjectivos pejorativos que Valério Maximum, Apiano e Cassiodoro lhe infligem, tais como ladrão refinado e capitão de quadrilha.

 - Com muita honra –  diria ele.

(continua)

Aquilino Ribeiro - Da obra "Príncipes de Portugal"

sexta-feira, novembro 16, 2012

La Bamba

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Tempos houve em que, quem dominasse as encostas deste vale, mandava nos que precisavam de passar... Para evitar brigas inventaram-se as portagens (ou as "valagens", neste caso)



O Elevador

Um menino de roça, de 15 anos de idade, e seu pai entraram num shopping, lá em Goiânia, pela primeira vez. Eles ficaram impressionados com quase tudo o que viram mas especialmente por duas brilhantes paredes de prata que poderiam abrir e fechar.

O menino perguntou:

 - O que é isto, pai?

O pai, que nunca tinha visto um elevador, respondeu:

 - Filho, nunca vi nada parecido em minha vida, eu não sei o que é.

Enquanto os dois estavam assistindo com perplexidade, uma senhora idosa, gorda, numa cadeira de rodas chegou perto das portas e apertou um botão. As portas se abriram e a senhora rolou entre elas, entrando naquele quarto pequeno. As portas fecharam e o menino e seu pai observavam o pequeno número acima das portas acender sequencialmente.

Eles continuaram a assistir, até que chegou o último número ... e, depois os números começaram voltar na ordem inversa.

Finalmente, as portas se abriram novamente e uma linda loira de mais ou menos 24 anos, saiu do quartinho.

O pai, sem tirar os olhos da moça, disse calmamente ao seu filho:
 - Vá buscar sua mãe...


Vendedor de Cachorros

Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia cachorros-quentes. Não tinha rádio, não tinha televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia os melhores cachorros-quentes da região.
 
Preocupando-se com a divulgação do seu negócio, colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava e gostava.

As vendas foram aumentando e ele insistia cada vez mais comprando o melhor pão e as melhores salsichas. Assim, foi
 necessário também adquirir um fogão maior para atender a grande quantidade de fregueses.

O negócio prosperava... Os seus cachorros-quentes eram os melhores!

Com o dinheiro que ganhou conseguiu pagar uma boa escola ao filho que acabou a estudar Economia numa das melhores Faculdades do país.

Finalmente, o filho já formado voltou para casa e vendo que o que o pai continuava com a vida de sempre, vendendo cachorros-quentes feitos com os melhores ingredientes e gastando dinheiro em cartazes, teve uma séria conversa com ele:

- Pai, não ouve rádio? Não vê televisão? Não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso país é muito crítica. Há que economizar!

Depois de ouvir as considerações do filho Doutor, o pai pensou: Bem, se o meu filho que estudou Economia na melhor Faculdade, lê jornais, vê televisão e Internet e acha isto, então só pode ter razão!

Com medo da crise, o pai procurou um fornecedor de pão mais barato e, é claro, pior; começou a comprar salsichas mais baratas, que já não eram tão boas e para economizar ainda mais deixou de mandar fazer cartazes para colocar na estrada.

Abatido pela notícia da crise, triste e deprimido, já não oferecia o seu produto em voz alta.

Tomadas estas “providências”, as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo até chegarem a níveis insuportáveis. O negócio de cachorros-quentes do homem que antes gerava recursos... faliu.

O pai, triste, disse ao filho: - Estavas certo filho, nós estamos no meio de uma grande crise.

E comentou com os amigos, orgulhoso:
- Bendita a hora em que pus o meu filho a estudar economia, ele é que me avisou da crise...


ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 86 SOBRE O TEMA:
“O SANTO SUDÁRIO?”



RAQUEL - Hoje, Sábado de Aleluia, estamos com Jesus Cristo em numa cafetaria perto do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Ele saboreia um chá árabe e um cappuccino quem vos fala, a enviada especial de Emissoras Latinas.

JESUS - Raquel, para que me trouxeste aqui?

RAQUEL -  Em várias entrevistas o senhor tem fugido da questão da sua divindade. Mas hoje tenho a prova.

JESUS - A prova de quê?

RAQUEL - De que o senhor é Deus. Que o senhor ressuscitou. Tenho a prova.

JESUS - Ah, sim... Vamos ver, o que tens?

RAQUEL - Um lençol, o santo sudário.

JESUS - Como poderia ser o santo sudário, Raquel? Podem ter-te enganado. Tens o pano aí?

RAQUEL -  Como é que eu o vou ter? Está em Itália, em Turim, protegido a sete chaves.

JESUS -  Mas de onde tiraram esta história?

RAQUEL -  Os sindonólogos, especialistas em sudários, chamaram a Emissora e me disseram que o senhor ficaria sem argumentos. Há muita expectativa pelo que possa dizer-nos na entrevista de hoje. Por isso, trouxe o senhor a este lugar. Entre tanta gente poderá falar com liberdade.

JESUS - Se não te explicares melhor, pensarei que perdeste a razão.

RAQUEL -Ao morrer, envolveram o senhor em um sudário, não?

JESUS - Não tenho como saber...

RAQUEL - Pois bem, essa mortalha apareceu milagrosamente séculos depois e nela estava fotografado seu corpo. Como nesta câmara, veja.

JESUS - Não pode ser, na minha época não havia esses inventos.

RAQUEL -  Aí está o milagre. Seu corpo ficou como que fotografado pela força luminosa de sua ressurreição. Quando o senhor saiu da mortalha, seu corpo ficou impresso no lençol. Vamos lá, desminta essa prova!

JESUS -  Paz, Raquel, fica calma.

RAQUEL -  Uma ligação... Sim, alô?

ESLAVA -  Aqui fala Juan Eslava Galán, da Espanha. Sou um especialista na fraude do sudário. Pesquisei tudo o que há em torno dessa ridícula relíquia.

RAQUEL -  Fraude, trambique?

ESLAVA -  O santo sudário é um pedaço de pano no qual um enganador do século 14 estampou o desenho de um cadáver dizendo que era o sudário que tinha envolvido Jesus. O sujeito, já conhecia os princípios da fotografia e conseguiu o efeito de um negativo. Mas como a montagem não saiu bem, saiu um homem de dois metros com braços que chegam além dos joelhos. Creio que Jesus não é disforme nem tão alto, certo?

RAQUEL -  Não, é da minha estatura...

ESLAVA - Esse trambiqueiro vendeu o pano como relíquia e agora a Igreja Católica vende-a como a prova da ressurreição de Cristo.

RAQUEL -  Temos outra ligação...

SENHORA - O que esse Galán está dizendo não me convence. O santo sudário foi provado não só como verídico, mas também tridimensional, por nada mais nada menos que a NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, que mais provas querem?

RAQUEL -  O que responde, senhor Eslava Galán?

ESLAVA -  Sinto decepcionar a senhora, mas uns dez anos depois desse experiência, tão discutível, que se fez com um aparelho da NASA, o próprio Vaticano ordenou que fizessem o teste de radiocarbono. Vinte e um pesquisadores de três laboratórios especializados comprovaram que esse sudário é do século XIV sendo que Jesus morreu no século primeiro.

SENHORA -  Esse Galán quer confundir os fiéis, o mentiroso é ele!

ESLAVA -  Calma, senhora, cada um sabe o que tem em sua mortalha.

SENHORA - O santo sudário é a prova mais irrefutável da ressurreição de Cristo!

RAQUEL - Pois então, perguntemos ao próprio Jesus Cristo. O que o senhor acha do sudário?

JESUS - Raquel, não é muito pouco azul para tanto céu? Como é que um trapo, um pano, um lençol, vai ser prova da vida?

SENHORA - Jesus também está mentindo, porque ele sabe muito bem que essa foi sua mortalha! Agora mesmo vou ligar ao padre Loring para que demonstre a autenticidade do sudário e até do travesseiro!

RAQUEL - Enquanto continua a polémica, continuem os ouvinte na nossa sintonia. De uma cafetaria próxima ao Santo Sepulcro. Raquel Perez, Emissoras Latinas.

Quando se é jovem e bela a vida é um enorme sorriso.

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 141


Essas últimas coisas passaram-se no novo cabaré, O El -Dorado, instalado em Janeiro a fazer concorrência ao Bataclan e ao Trianon, pois importava, directamente do Rio, atracções e mulheres. Era propriedade de Plínio Araçá o do Pinga de Ouro, e ficava no porto.

Inaugurou-se também a Casa de Saúde do Dr. Demóstenes, com bênção do Bispo e discurso do Dr. Maurício. A sala de operações para onde Aristóteles fora levado, por uma coincidência que escapou a Dª Arminda, teve como primeiro hóspede, após a inauguração oficial, o célebre Loirinho, com um tiro no ombro, resultado de uma briga no Bate-Fundo.

Foi instalado um Vice-Consulado da Suécia e, no mesmo local, uma Agência de Companhia de Navegação com nome longo e complicado. Via-se, de quando em vez, no bar de Nacib, um gringo comprido como uma vara, em companhia de Mundinho Falcão, a conversar e a beber “Cana de Ilhéus”.

Era agente da companhia sueca e vice – cônsul. Um novo hotel estava a ser construído no porto, edifício de cinco andares, um colosso. Os estudantes dirigiram ao povo, por intermédio do Diário de Ilhéus, uma proclamação pedindo seus votos para o candidato que garantisse, na Intendência, construir o ginásio municipal, um estádio de desportos, um asilo para velhos e mendigos, e levar a Pirangi a estrada de rodagem.

No outro dia, o capitão comprometia-se, pelo mesmo jornal, a isso e muito mais.

Outra novidade foi o Jornal do Sul passar a diário. É verdade que durou pouco, retornou a semanário uns meses depois. Era quase exclusivamente político, descompunha Mundinho Falcão, Aristóteles e o Capitão em todos os números. O Diário de Ilhéus respondia.

Anunciava-se para breve o restaurante de Nacib. Já vários inquilinos se haviam mudado do andar de cima. Apenas o jogo do bicho e dois empregados no comércio continuavam em busca de outro alojamento.

Nacib dava pressa. Já encomendara no Rio, por intermédio de Mundinho, seu sócio capitalista, uma quantidade de coisas. O arquitecto maluco desenhara o interior do restaurante. O árabe andava novamente alegre. Não com aquela completa alegria dos primeiros tempos de Gabriela, quando não temia ainda que ela partisse.

Tão pouco agora tal coisa o preocupava mas, para ser inteiramente feliz, seria preciso que ela se decidisse de uma vez a comportar-se como uma senhora de sociedade. Já não se queixava de desinteresse na cama. Andava ele mesmo muito cansado: na época das férias o bar dava um trabalho infernal.

Acostumava-se com esse amor da esposa, menos violento, mais tranquilo e doce. Sòmente ela resistia, passivamente, é verdade, a integrar-se na alta-roda local. Apesar do sucesso que tivera na noite de Ano Bom com a história do terno. Quando Nacib pensara que tudo fora por água abaixo, dera-se aquela beleza: até ele terminara dançando na rua.

E não tinham a irmã e o cunhado vindo visitá-los depois, conhecer Gabriela? Porque então continuava ela a andar vestida em casa como uma pobretana, calçada em chinelas, a brincar com o gato, a cozinhar, a arrumar, a cantar suas modas, a rir alto para todos que com ela conversavam?

quinta-feira, novembro 15, 2012

Espectáculo em Moscovo

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Lisboa 1974. Passados todos estes anos nem os motoristas usam já boné de chaufer nem as mulheres transportam, Chiado abaixo, trouxas de roupa daquele tamanho, nem doutro.



PROVOCAÇÕES A PESSOAS INTELIGENTES:

Einstein recebeu uma carta da miss New Orleans que lhe dizia:

 -  Prof. Einstein, gostaria de ter um filho seu... A minha justificativa baseia-se no facto de eu ser um modelo de beleza, e tendo um filho com o senhor certamente que o garoto teria a minha beleza e a sua inteligência.

 Einstein respondeu:

  - Querida miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza.

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Quando Churchill fez 80 anos um repórter com menos de 30 anos foi fotografá-lo e disse:
- Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.
Resposta de Churchill:
- Por que não ? Você parece-me bastante saudável.

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Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill.
Convite de Bernard Shaw para Churchill:

 - Tenho o prazer e honra convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação minha peça Pigmaleão.
Venha e traga um amigo, se tiver."
Bernard Shaw.

Resposta de Churchill:

 - Agradeço ilustre escritor o honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer primeira apresentação. Irei à segunda, se houver.
Winston Churchill.

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O General Montgomery estava sendo homenageado, por ter vencido Rommel na batalha de África, na IIª Guerra Mundial.
Discurso do General Montgomery: Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói'

Churchill ouviu o discurso e retrucou:
 - Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele.

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Bate-boca no Parlamento inglês.
Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, que pediu um aparte ..
Todos sabiam que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos.
Mas concedeu a palavra à deputada.
E ela disse, alto e bom som:

- Sr. Ministro, se V. Excia. fosse meu marido, colocava veneno no seu chá!

Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, respondeu:

- Nancy, se eu fosse seu marido, tomaria esse chá com todo o prazer!


MORAL DA HISTÓRIA:
É perigoso provocar pessoas inteligentes!!!



O CONTEXTO

Alguns dos nossos políticos menos vocacionados para o exercício da função, têm dificuldade em controlar as palavras quando falam para os meios de comunicação social produzindo afirmações “politicamente incorrectas” e, como as palavras são como as pedras que quando saem da mão já não voltam,  recorrem por sistema ao Contexto como náufragos aflitos em busca de salvação quando dizem o que não devem mas o que pensam ou lhes apetece dizer.

Convencionaram, então, que as palavras só têm o significado que têm se não houver um problema de Contexto que à posteriori, numa de emendarem a mão, esclarecem qual é.

Do género:

-  Mas, VªEx.ª afirmou que se ia demitir por cansaço…

- Não, não. O senhor não pode retirar as minhas palavras do Contexto em que elas foram proferidas: ora eu tinha acabado de subir as escadarias do Ministério e estava, de facto, muito cansado e daí a minha afirmação perfeitamente compreensível e justificada.

E aqui temos, como fora do contexto, o que se disse não vale ou vale uma coisa diferente. É preciso interpretar e nem sempre os destinatários das palavras têm essa capacidade por não estarem à altura do entrevistado ou porque, simplesmente, são mauzinhos…


Mais três exemplos que ficaram na memória:

1º- Do Presidente da Associação de Municípios, Fernando Ruas:

- Mas o Sr. Presidente disse textualmente: “Corram com eles à pedrada”.

 - "Não, não. Não vá por aí, não retire essa afirmação do contexto. Eu estava a presidir a uma Assembleia das Juntas de Freguesia…”

Ficamos, neste caso, a saber que numa reunião da Assembleia de Juntas de Freguesia a expressão: “Corram-nos à Pedrada” significa: “Convidem-nos delicadamente a irem-se embora.”

2º - Do Chefe do Governo, deste ou do outro:

 - Mas VªExª afirmou que a Crise Acabou.

 - Não, não. O senhor está a retirar as palavras do contexto em que foram ditas e esse contexto é de esperança e de optimismo para o futuro no qual a crise irá acabar e esta é que é a interpretação correcta das minhas palavras, foi o que, rigorosamente, eu disse.

3º -  Do Ministro da Economia:

 - Mas VªExª afirmou que a energia eléctrica iria sofrer no próximo ano um agravamento de 17,8%...

 - Não, não. O senhor está a citar as minhas palavras fora do contexto de anos e anos em que os consumidores andaram a pagar a electricidade abaixo do seu custo real e por isso a minha vontade era que no próximo ano sofressem esse aumento de 17,8% mas, atendendo a que se trata de um bem de primeira necessidade ao qual as camadas mais débeis da população não se podem furtar, o Governo, sensível que é ás questões de natureza social, irá ponderar essa situação e decidir um aumento que se ficará apenas pelos 6%.

Sinceramente, não há pachorra... ou será alguma nova forma de dislexia em que as dificuldades de ler e escrever são substituídas por problemas de expressar oralmente o nosso, deles, pensamento?

A beleza  femenina parece não ter limites...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 140


Ali estava a história romântica em todos os seus detalhes, com abundância de citações de autores e de versos de Teodoro. Folheto que veio coroar de glória a venerável cabeça do ilustre ilheense.

É bem verdade que um crítico da capital, invejoso certamente, achou o magro volume ilegível, de uma “bestice além de todos os limites admissíveis”. Mas tratava-se de indivíduo de maus bofes, esfomeado rato de redacção, autor de mordazes epigramas contra as mais lídimas glórias baianas.

Em compensação, de mundo novo, onde se dedicava a construir uma quarta família, o eminente vate Argileu Pereira escreveu também para o jornal da Baía seis páginas laudatórias onde cantou a paixão de Ofenísia «precursora do amor livre no Brasil». Outra observação curiosa, apesar do seu carácter literário, fez Nhô-Galo conversando, na Papelaria, com João Fulgêncio.

 - Já reparaste, João, que a nossa avó Ofenísia mudou um pouco de físico na brochura do Doutor? Antes, me lembro muito bem, era uma magricela, parca de carnes como um pedaço de jabá. No livrinho engordou, leia a página catorze. Sabe com quem parece o retrato de agora? Com Gabriela…

Riu João Fulgêncio, seu riso inteligente e sem maldade.

 - Quem não se apaixonou por ela na cidade? Se ela fosse candidata a Intendente, derrotaria o Capitão e Maurício, até os dois juntos. Todo o mundo votava nela.

 - Não as mulheres…

 - Mulher não tem direito a voto, compadre. Ainda assim, algumas votavam. Ela tem qualquer coisa que ninguém tem. Você não viu no baile de Ano Novo?

Quem arrastou todo o mundo para a rua, para dançar reisado?

Creio que é essa força que faz as revoluções, que promove as descobertas. Para mim não há nada que eu goste tanto como ver Gabriela no meio de um bocado de gente. Sabe o que eu penso? Numa flor de jardim, verdadeira, exalando perfume, no meio de um bocado de flores de papel…

Aqueles dias, porém, da publicação do livro do Doutor foram dias de Ofenísia, e não de Gabriela. Uma nova onda de popularidade envolveu a memória da nobre Ávila a suspirar apaixonada pelas barbas reais. Dela falou-se nas casas, na hora do jantar, no Clube Progresso – agora em constante animação de «assustados» e chás dançantes – entre rapazes e moças nos passeios vespertinos e actualmente habituais pela avenida na praia, nas marinetes, nos trens, em discursos e em versos, nos jornais e nos bares.

Até nos cabarés. Certa espanhola novata, de nariz adunco e olhos negros, apaixonou-se perdidamente por Mundinho Falcão. Mas o exportador estava ocupado com uma cantora de música popular que trouxera do Rio em sua última viagem, após o ano Novo. Ante os suspiros da espanhola, seus perdidos olhares, logo um engraçado qualquer a apelidou de Ofenísia.

E o nome pegou, ela o levou consigo mesmo após partir de Ilhéus para os garimpos de Minas Gerais.

quarta-feira, novembro 14, 2012

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Lisboa em 1974. Reparem no avental do cavalo cujo uso era hábito nas carroças que, por esse tempo, ainda circulavam na cidade.






Estávamos tranquilamente a jantar quando a nossa filha de 12 anos comenta:


-Tenho uma má notícia. Já não sou virgem! Sou uma vaca! E começa a chorar convulsivamente, com as mãos no rosto.

Silêncio sepulcral na mesa! De repente, começam as acusações mútuas:


-Estava-se mesmo a ver! - diz o marido à mulher. É por te vestires como uma puta barata e arregalares o olho ao primeiro imbecil que vês na rua. Claro que isto tinha que acontecer, com o exemplo de mãe que a menina vê todos os dias!
Vai daí o pai aponta também para a outra filha, de 25 anos:

- E tu também, que ficas no sofá a lamber aquele palhaço do teu namorado que tem é pinta de chulo, na frente da menina?
A mãe não aguenta mais e grita: - Ai é?!...E quem é o idiota que gasta metade do ordenado com putas e se despede delas à porta de casa? Ou pensas que eu e as meninas somos cegas? E, ainda por cima, que belo exemplo dás desde que assinas esta maldita TV cabo, passas todos os fins-de-semana a ver pornografia de quinta categoria e depois acabas na casa de banho com gemidos e grunhidos?

Desconsolada e à beira de um colapso, com os olhos cheios de lágrimas e a voz trémula, a mãe pega na mão da filhinha e pergunta-lhe baixinho:

- E como é que isso aconteceu, minha filha?


Entre soluços, a menina responde:

- A professora tirou-me do Presépio! A Virgem agora é a Luísa. Eu vou ser a vaca!!!!

Foresta do Maiombe em Cabinda, Angola.

O ZAMBIANO





Em termos ideológicos o racismo é uma afronta à inteligência humana. No plano dos comportamentos é, pura e simplesmente, uma cobardia. Partir de uma diferença rácica, cultural ou religiosa para estabelecer uma relação de domínio ou de superioridade sobre um nosso semelhante é a confissão de uma menoridade, o aproveitamento de uma situação de injustiça para adquirimos vantagens que não merecemos, é a força dos fracos.

Convivi um pouco com esse racismo nos anos em que trabalhei em Moçambique, de 1972/75, como funcionário público, antes e depois da independência daquele território. Os primeiros contactos com alguns conterrâneos meus na antiga Lourenço Marques, funcionários como eu ali radicados há muitos anos, deixaram-me perfeitamente chocado e estupefacto.

Encontrei pessoas que me pareciam sinceras quando afirmavam a superioridade das pessoas de raça branca relativamente às da raça negra. Assim, sem mais nada: é preto é inferior, é branco é superior.

Claro que as relações de vizinhança e proximidade e os contactos frequentes com o regime de Apartheid da toda-poderosa África do Sul, eram, em parte, a explicação para estas atitudes.

Durante muitos anos, a África colonial portuguesa, funcionou como terra de degredo, de isolamento, especialmente no interior, o chamado mato, onde esse isolamento relativamente a outros europeus o era na versão literal do termo durante, às vezes, tempos esquecidos.

Lembro-me de um Administrador, no Distrito de Cabinda, lá nas florestas do Maiombe, terra de gorilas, que ninguém tinha oportunidade de ver - "estou aqui há catorze anos e só vi um a atravessar a estrada" -  e do terrível e diminuto mosquito “mirui” que ataca ao pôr do sol, que quando nos recebeu no edifício da Administração, a mim e aos meus colegas numa visita de estudo em 1960, dizia ao jantar que de Portugal, a que ele chamava a metrópole, só lembrava que tinha saído no dia em que tinham morto o Sidónio (14 de Dezembro de 1918) Pais e que a Luanda já não ia há anos.

Os colonos viviam em comunidades obrigatoriamente muito pequenas e solidárias e raramente vinham à Europa que, na maioria dos casos, rejeitavam porque lhes traziam más lembranças ou porque nas suas terras de origem perdiam estatuto e privilégios.

Com uma instrução que pouco ia para além do saber ler, escrever e contar, sem contactos com o mundo, em termos intelectuais a maioria daquelas pessoas regrediam e ficavam indefesas perante uma ideologia que os “promovia” como  cidadãos e se encaixava completamente nos seus interesses.
De resto, o racismo na África do Sul, começou por ser uma "receita" para a sobrevivência e predomínio de um pequeno grupo de holandeses, alemães e franceses estabelecidos na parte mais meridional do continente africano para apoiar a actividade comercial da Companhia Holandesa das Índias Orientais e que por lá ficaram  vindo a dar origem ao povo Boer que disputou aos ingleses a colonização nesta parte do continente africano.
Em 1950 o racismo, na África do Sul, foi promovido a política oficial de estado sob o nome de Apartheid, “Regime de Segregação Sistemática” e, finalmente, abolido com as eleições de 1994… Paz à sua alma se é que a tinha.

É claro que estas coisas desaparecem oficialmente mas continuam no comportamento das pessoas das gerações que as viveram como marcas e cicatrizes, algumas no corpo mas principalmente na alma.
Com os tempos tudo vai passando à história mas por vezes, quando elas ainda estão frescas, faz bem exorcizá-las através do humor.

Lembro Samora Machel, líder carismático do povo moçambicano, homem de grande inteligência, que tive oportunidade e o gosto de conhecer pessoalmente, dizer naquele seu estilo confiante e muito sorridente, antes da exibição de um grupo folclórico do norte de Moçambique nos jardins da residência do governador da Beira, quando da sua primeira visita, naquele período de transição para a independência:  «bem, vamos lá então ver esses selvagens»

Mas vamos à história do Zambiano, habitante da Zâmbia, ex-Rodésia do Norte e que se tornou independente em 1964, por coincidência, exactamente na data em que eu comandava um destacamento militar numa povoação denominada Lumbala, a cerca de 50km de uma outra, Caripande, que era posto de fronteira com aquele território.

Na  Zâmbia, as autoridades do novo país tudo faziam para fazer esquecer a indignidade do passado discriminatório, próprio do regime racista em que durante tantos anos se vivera e na qual a palavra “preto” era depreciativa e humilhante, e todos pretendiam colaborar no esforço de erradicação desse termo.
Num tribunal, um cidadão era julgado por ser acusado de um crime de atropelamento e durante a audiência dirigindo-se ao Meritíssimo Juiz explicava:
-  Sr. Dr. Juiz, quando o sinal verde do semáforo acendeu eu arranquei com o meu carro e nessa altura o preto atravessou-se…

- Alto aí, interrompe o juiz, não é preto é zambiano.

Perdão, Sr. Dr. Juiz, o zambiano atravessou-se à frente do carro e eu não consegui evitar bater-lhe e quando saí do automóvel para o socorrer o preto virou–se…

- Não é preto, repreende de novo o Dr. Juiz, já lhe disse que é zambiano…

-Estes enganos e as respectivas repreensões continuaram mais ou menos durante todo o julgamento no fim do qual ele acabou por ser absolvido.

- Mais tarde, já fora do Tribunal, um amigo do réu dá-lhe os parabéns pela decisão que lhe foi favorável e de caminho perguntou-lhe:

- Mas afinal, quem é o zambiano?
 - Olha, se queres que te diga não sei mas era a coisa mais parecida com um preto que eu já vi.


…Eu logo avisei que estas coisas deixam marcas…

Estão na moda as mulheres gurreiras...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 139


Da Nobre Ofenísia à plebeia Gabriela, com variados acontecimentos e falcatruas.

Sucederam-se, naquele começo do ano, realizações e empreendimentos, conheceu Ilhéus novidades e escândalos. Os estudantes consideraram um dever transformar a singela inauguração da biblioteca da Associação Comercial numa época de marcar época.

 - O que esses meninos querem é dançar… - reclamou o presidente Ataulfo. O Capitão, porém, organizador da biblioteca com a inestimável ajuda de João Fulgêncio, viu na ideia dos estudantes excelente oportunidade para a propaganda de sua candidatura a Intendente.

Além do mais, tinha razão ao dizer, argumentando com Ataulfo, que os moços não queriam apenas divertir-se. Aquela biblioteca era a primeira de Ilhéus (a do Grémio Rui Barbosa reduzia-se a pequena estante de livros, quase todos de poesia), possuía uma significação especial.

Como, aliás, acentuou o jovem Sílvio Ribeiro, filho de Ribeirinho, segundanista de Medicina em seu caprichado discurso. Foi um tipo de festa antes desconhecido em Ilhéus.

Os estudantes organizaram um sarau literário, do qual participaram vários deles, além de personalidades como o Doutor Ari Santos, Josué. Falaram também o Capitão e o Dr. Maurício, o primeiro como bibliotecário da Associação, o segundo como orador oficial, ambos porque eram candidatos a Intendente.

A novidade maior constituíram-na moças do Colégio das Freiras e da sociedade Ilheense a declamar poemas em público. Algumas tímidas e encabuladas, outras despachadas e senhoras de si.

Diva, que possuía um fio de voz claro e agradável, cantou uma romança. Jerusa executou Chopin ao piano. Rolaram na sala versos de Bilac, de Raimundo Correia, de Castro Alves e do poeta Teodoro de Castro, os destes últimos em louvor de Ofenísia. Além dos poemas de Ari e Josué, ditos pelos próprios autores.

Para o fiscal do Colégio do Colégio que se demorara a visitar Itabuna, os povoados e fazendas, arranjando matéria paga para o jornal do Rio, tudo aquilo parecia uma caricatura risível. Mas para a gente de Ilhéus era uma festa encantadora.

 - Uma beleza! – comentou Quinquina.

 - Dá gosto assistir – concordou Florzinha.

Seguiram-se danças, é claro A associação fez vir de Belmonte, para dirigir a biblioteca, o poeta Sosígenes costa, que iria exercer notável influência no desenvolvimento da vida cultural da cidade.

E ao falar de cultura e de livros, ao recordar versos de Teodoro para Ofenísia, como passar em silêncio a publicação em pequeno volume, composto e impresso ali mesmo, em Ihéus, na tipografia de João Fulgêncio por mestre Joaquim, de alguns capítulos do memorável livro do Doutor: «A História da Família Ávila e da Cidade de Ilhéus?».

Não com esse título, pois, publicando apenas os capítulos referentes a Ofenísia e seu controvertido caso com o Imperador Pedro II, pôs-lhe modestamente o Doutor: Uma Paixão Histórica e, como subtítulo, entre parêntesis: «Ecos de uma Velha Polémica».

terça-feira, novembro 13, 2012

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Agora, imaginem D. Quixote montado no seu cavalo Rocinante, lança em riste, lutando contra os moinhos de vento. 


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