sábado, setembro 11, 2010

CATERINA CASELI - IL GIOCO DELL' AMORE
SANREMO 1969.
...Senhor ajuda-me Tu, não sei viver mais sem ele, o amor é um jogo, porém, não sei mais jogar sem ele...


DONA
FLOR

E SEUS
DOIS

MARIDOS

Episódio Nº 222

Buscando dominar as notas em fuga no instrumento, captar o som mais puro e ardente, vencendo as escalas da difícil melodia, já de todo calmo, sorri doutor Teodoro: afinal que lhe importava o modo certo ou falso como educasse dona Maria de Carmo sua filha indócil? Não era palmatória do mundo e seria idiota zangar-se com sua mulherzinha tão formosa e boa por tolas razões alheias. Evola-se o acorde justo, pulsa no ar, sozinho, harmonioso e puro.

Vinha dona Flor de outras músicas, mas não das altas notas clássicas de Bach e de Beethoven, das sinfonias e sonatas, como dona Gisa na meia-luz requintada do alemão. Vinha das melodias populares, das violas seresteiras, dos boémios cavaquinhos, das gaitas de riso cristalino. Devia agora ajustar-se à orquestra de amadores, à grave melodia dos oboés, dos trompetes, dos violoncelos aos acordes conspícuos do fagote. Tirar a cabeça daquelas outras músicas a faze-la desatenta, perdida em obscuros caminhos, no mistério das encruzilhadas. Devia sepultar nos ensaios do fagote, nas escalas da orquestra, as lembranças de melodias mortas, de um tempo extinto, do que foi e já não era.

O som do fagote vibra sobre as camisas do doutor.


Histórias de mulheres, somente duas. Pelo menos foram as que chegaram ao conhecimento de dona Flor. Ela, no entanto, punha a mão no fogo pelo marido, não acreditando noutro rabo de saia na vida do doutor.

Uma daquelas duas histórias, aliás, a que envolvia Mirtes Rocha de Araújo, a fogueteira carioca, não chegou a ser nada – apenas um quiproquó e uma decepção. Decepção certamente efémera, pois não era a audaciosa de perder tempo em lamentações: sacudiu os ombros, foi avante.

Casada com um funcionário do banco e tendo sido ele transferido para a Bahia, com melhor ordenado e posto, lastimou-se Mirtes junto da amigas íntimas, infeliz com esse exílio para uma cidade carente de atracções masculinas e sem a liberdade do Rio de Janeiro, onde ela conquistara alguma reputação em actividades de adultério. Com as horas livres e vazias, sem filhos e sem outros afazeres, dedicava seu tempo e sua natural aptidão à benfazeja brincadeira. Eram tardes agradáveis em companhia de benévolos rapazes de muita competência e cativante físico, sem correr nenhum perigo, tudo na mais discreta maciota.

Onde, na Bahia, obter a mesma qualidade masculina de um Serginho, por exemplo, “um suco”, e a confortável segurança do rendez-vous de dona Fausta?

Inês Vasques dos Santos, baiana orgulhosa do progresso de sua terra, sentiu-se ofendida com tanto desprezo, sua cidade relegada à condição de lugarejo onde não existisse sequer com quem trair o marido nem onde fazê-lo em segurança.

Por que insultava Mirtes a Bahia sem a conhecer? Afinal não era Salvador tão pequena aldeia nem de tamanho atraso…

Lá iniciara Inês sua plantação de chifres e podia afirmar com pleno conhecimento de causa, existirem condições propícias ao exercício da boa lavoura com seguro penhor de colheita farta. Discretíssimos castelos, bangalôs ocultos entre coqueiros em praias selvagens, com a brisa e o mar, um sonho. Quanto a rapazes, havia cada um!

Olhos cismarentos, a morder o lábio com os pequenos dentes, Inês Vasques dos Santos, pôs-se a recordar, quanta saudade! Sobretudo certo petulante capadócio, um perdido, um jogador, mas que espectáculo na hora da peleja, que andante cavalheiro!

sexta-feira, setembro 10, 2010


INFORMAÇÕES ADICIONAIS


À ENTREVISTA SOB O TEMA:

- IMACULADA CONCEPÇÃO


As implicações do mito de Adão e Eva são tão importantes que regresso a ele com mais uma precisão sugerida pelo Sacerdote que entrou em contacto telefónico com Raquel na última entrevista sob o tema da Imaculada Concepção ameaçando que, no pecado original, não se “toca”…

A doutrina cristã, no que respeita ao pecado original, está ausente nos textos evangélicos e praticamente também não se sustenta nos textos do Novo Testamento, excepção a algumas alusões de Paulo, nas suas Cartas aos Romanos.

O dogma foi estabelecido no Concílio de Cartago, no século IV (… a morte não é da natureza humana mas sim uma consequência do pecado…) e explicitou-se mais tarde, no Concílio de Trento, que ocorreu no século XVI, depois da Reforma Protestante ao qual lhe chamaram, por isso, o Concílio da Contra-Reforma.

Trento foi o Concílio mais carregado de doutrina na história da Igreja Católica. Nele foi estabelecido que o “pecado original” transmitiu-se a todos os humanos de geração em geração, o mesmo é dizer: herda-se.

As ideias maniqueístas (filosofia religiosa de acordo com a qual o mundo divide-se em Bom ou Deus e Mal ou Diabo) de Agustin de Hipona que viu a humanidade marcada pelo mal do pecado e que professava um profundo desprezo pela mulher – a Eva, que era responsável por todos os males, a culpada pelo pecado ter entrado no mundo – consolidou, como ninguém, a doutrina do pecado original.

Parece incrível, mas toda a Teologia da Salvação que coloca no centro a morte de Cristo como “necessária”, está na origem da Teologia Sacrificial, Sacramental, da visão negativa do mundo, do repúdio pelo corpo, pela sexualidade e pela mulher… tudo está baseado no relato de Adão e Eva, na crença do dogma do “pecado original”, crença derivada de um antigo mito hebreu.

Por isso, como dizia o Sacerdote da Entrevista em tom ameaçador, se se “toca” no “pecado original”, se se suprime esta ideia, se se recusa esta crença, se se questiona este dogma, tudo se altera e o “todo” da Teologia Tradicional começa a desmoronar-se, tal como a casa construída sobre a areia, conforme a parábola de Jesus Cristo das “casas construídas, uma sobre a areia e a outra sobre a rocha”.


Árvore Genealógica


- Mãe, vou casar!

- Jura, meu filho ?! Estou tão feliz ! Quem é a moça ?

- Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Murilo.

- Você falou Murilo... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?

- Eu falei Murilo. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?

- Nada, não.. Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.

- Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...

- Problema ? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.

- Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea...


- E quando eu vou conhecer o meu. A minha... O Murilo ?

- Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.

- Tá ! Biscoito... Já gostei dele... Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui ?

- Por quê ?

- Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.

- Você acha que o Papai não vai aceitar ?

- Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade... E olha que espetáculo: as duas metade com bigode.

- Mãe, que besteira ... Hoje em dia ... Praticamente todos os meus amigos são gays.

- Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.

- A Bel já tá namorando.

- A Bel? Namorando ?! Ela não me falou nada... Quem é?

- Uma tal de Veruska.

- Como ?

- Veruska...

- Ah !, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.

- Mãe !!!...

- Tá..., tá..., tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...

- Por que não ? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.

- Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?

- Quando ele era hétero... A Veruska.

- Que Veruska ?

- Namorada da Bel...

- "Peraí". A ex-namorada do teu atual namorado... E a atual namorada da tua irmã. Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...

- É isso. Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.

- De quem ?

- Da Bel.

- Mas . Logo da Bel ?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska...

- Isso.

- Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.

- Em termos...

- A criança vai ter duas mães : você e o Biscoito.E dois pais: a Veruska e a Bel.

- Por aí...

- Por outro lado, a Bel...,além de mãe, é tia... Ou tio.... Porque é tua irmã.

- Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.

- Só trocar, né ? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska.

- Exato!

- Agora eu entendi! Agora eu realmente entendi...

- Entendeu o quê?

- Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!

- Que swing, mãe?!!....

- É swing, sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora no útero de uma, outra hora no útero de outra...

- Mas..

- Mas uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... Com incesto no meio...

- A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...

- Sei!!!... E quando elas quiserem ter filhos...

- Nós ajudamos.

- Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...

- Que.. ?

- Fazer árvore genealógica daqui pra frente... vai ser f...

(Luiz Fernando Veríssimo )

MOACYR FRANCO - DOCE AMARGURA
Uma velha e bonita canção romântica de 1964 de Moacyr Franco, nascido em 1936 em Minas Gerais. Foi actor, cantor,compositor, apresentador, humorista e político brasileiro. Teve dois grandes sucessos no início da carreira: "Suave é a Noite" e "Eu Nunca Mais te Vou Esquecer". Um grave acidente de automóvel na década de 70 prejudicou-o na carreira.


DONA FLOR
E SEUS
DOIS
AMORES

Episódio Nº 221




- Não vai tardar o dia do caruru de Cosme e Damião, aquela obrigação…

- Tenho pensado nisso, ainda outro dia disse para a patroa: “Será que vai haver esta ano o caruru em casa da comadre?”

- Qual é seu parecer compadre? Que é que acha?

- Pois eu lhe digo, comadre, que ninguém pode andar dois caminhos de uma vez, um de ida, outro de volta. A obrigação não era sua, era do compadre, se enterrou com ele, os ibejes se dão por satisfeitos – fez uma pausa. Se era esse também seu parecer, comadre, então fique descansada, não está agindo mal com os santos nem cortando um preceito pelo meio…

Ouviu dona Flor pensativa, absorta como se pesasse medidas de viver:

- Tem razão, compadre, mas não é só aos santos que a gente tem contas a prestar. Eu tenho vontade de manter a obrigação, seu compadre levava o preceito muito a sério, tem coisas que a gente não pode desmanchar.

- E então, comadre?

- Pois pensei que podia fazer o caruru em casa do compadre. Eu vou lá, no dia ver o menino, levo o necessário, cozinho o caruru e nós comemos. Convido Norminha e mais ninguém.

- Pois seja assim, comadre, como quer. A casa é sua, é só dar ordens. Se eu tivesse a certeza de ter dinheiro, lhe dizia para não levar tempero algum. Mas quem advinha a noite de ganhar e a noite de perder? Se eu soubesse estava rico. Leve seus quiabos, é mais seguro.

Tendo serenado, voltava doutor Teodoro. Já conhecia Mirandão de nome, sabedor de sua fama e de seus feitos, trocaram breves cortesias.

- É meu compadre, Teodoro, um bom amigo.

- Precisa aparecer… - disse o doutor, mas não era um convite, apenas uma frase gentil. Se ele viesse, paciência.

Retornou Mirandão à sua vida airada, Marilda acertava com a mãe a visita de seu Mário Augusto para outro dia, para juntos discutirem as condições do contrato e a data da estreia.

- Vamos, minha querida… - disse o farmacêutico.

Já era tarde, mas ainda assim, para de todo repousar daquelas emoções e desapontos, foi o doutor Teodoro em busca do fagote e da partitura. Dona Flor tomou assento numa cadeira e pôs-se a cerzir punhos e colarinhos das camisas do doutor, todos os dias ele mudava a roupa branca.

Na sala quieta e morna, doutor Teodoro ensaia o solo da romanza composta em homenagem a dona Flor. Curvada sobre a costura, ela ouve um tanto distraída, querendo pôr em ordem
confusos pensamentos. Distante, a cabeça longe dali, em outras músicas.

quinta-feira, setembro 09, 2010

BETH CARVALHO - SACO DE FEIJÃO
Pelo tipo da letra se percebe que Beth Carvalho, na linha de seu pai que foi preso pela ditadura em 1964, era sensível aos problemas sociais, engajada em movimentos políticos e culturais brasileiros e de outros povos. No samba, entrou ela ainda pequenina, pois morou em vários bairros do Rio de Janeiro e o pai, advogado, levava-a com regularidade aos ensaios das escolas de samba.

UM CASO DE DIVÓRCIO

Naquela noite, enquanto minha esposa servia o jantar, eu segurei sua mão e disse: "Tenho algo importante para te dizer". Ela se sentou e jantou sem dizer uma palavra. Pude ver sofrimento em seus olhos.

De repente, eu também fiquei sem palavras. No entanto, eu tinha que dizer a ela o que estava pensando. Eu queria o divórcio. E abordei o assunto calmamente.

Ela não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente perguntou em voz baixa: "Por quê?"

Eu evitei responder-lhe, o que a deixou muito brava. Ela jogou os talheres longe e gritou "você não é homem!" Naquela noite, nós não conversamos mais. Pude ouví-la chorando. Eu sabia que ela queria um motivo para o fim do nosso casamento. Mas eu não tinha uma resposta satisfatória para esta pergunta. O meu coração não pertencia a ela mais e sim a Jane. Eu simplesmente não a amava mais, sentia pena dela.

Me sentindo muito culpado, rascunhei um acordo de divórcio, deixando para ela a casa, nosso carro e 30% das ações da minha empresa.

Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou violentamente. A mulher com quem vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma estranha para mim. Eu fiquei com dó deste desperdício de tempo e energia, mas eu não voltaria atrás do que disse, pois amava a Jane profundamente. Finalmente ela começou a chorar alto na minha frente, o que já era esperado. Eu me senti libertado enquanto ela chorava. A minha obsessão por divórcio nas últimas semanas finalmente se materializava e o fim estava mais perto agora.

No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde e a encontrei sentada na mesa escrevendo. Eu não jantei, fui direto para a cama e dormi imediatamente, pois estava cansado depois de ter passado o dia com a Jane.

Quando acordei no meio da noite, ela ainda estava sentada à mesa, escrevendo. Eu a ignorei e voltei a dormir.

Na manhã seguinte, ela me apresentou suas condições: ela não queria nada meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio. Ela pediu que durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver juntos de forma mais natural possivel. As suas razões eram simples: o nosso filho faria seus exames no próximo mês e precisava de um ambiente propício para prepar-se bem, sem os problemas de ter que lidar com o rompimento de seus pais.

Isso me pareceu razoável, mas ela acrescentou algo mais. Ela me lembrou do momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa no dia em que nos casamos e me pediu que durante os próximos 30 dias eu a carregasse para fora da casa todas as manhãs. Eu então percebi que ela estava completamente louca mas aceitei sua proposta para não tornar meus próximos dias ainda mais intoleráveis.

Eu contei para a Jane sobre o pedido da minha esposa e ela riu muito e achou a idéia totalmente absurda. "Ela pensa que impondo condições assim vai mudar alguma coisa; melhor ela encarar a situação e aceitar o divórcio" ,disse Jane em tom de gozação.

Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contato físico havia muito tempo, então quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro dia, foi totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu dizendo "O papai está carregando a mamãe no colo!" Suas palavras me causaram constrangimento. Do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa, eu devo ter caminhado uns 10 metros carregando minha esposa no colo. Ela fechou os olhos e disse baixinho "Não conte para o nosso filho sobre o divórcio" Eu balancei a cabeça mesmo discordando e então a coloquei no chão assim que atravessamos a porta de entrada da casa. Ela foi pegar o ônibus para o trabalho e eu dirigi para o escritório.

No segundo dia, foi mais fácil para nós dois. Ela se apoiou no meu peito, eu senti o cheiro do perfume que ela usava. Eu então percebi que há muito tempo não prestava atenção a essa mulher. Ela certamente tinha envelhecido nestes últimos 10 anos, havia rugas no seu rosto, seu cabelo estava ficando fino e grisalho. O nosso casamento teve muito impacto nela. Por uns segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela estar neste estado.

No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade maior com o corpo dela. Esta mulher havia dedicado 10 anos da vida dela a mim.

No quinto dia, a mesma coisa. Eu não disse nada a Jane, mas ficava a cada dia mais fácil carregá-la do nosso quarto à porta da casa. Talvez meus músculos estejam mais firmes com o exercício, pensei.

Certa manhã, ela estava tentando escolher um vestido. Ela experimentou uma série deles mas não conseguia achar um que servisse. Com um suspiro, ela disse "Todos os meus vestidos estão grandes para mim". Eu então percebi que ela realmente havia emagrecido bastante, daí a facilidade em carregá-la nos últimos dias.

A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso... ela carrega tanta dor e tristeza em seu coração..... Instintivamente, eu estiquei o braço e toquei seus cabelos.

Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse "Pai, está na hora de você carregar a mamãe". Para ele, ver seu pai carregando sua mão todas as manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa abraçou nosso filho e o segurou em seus braços por alguns longos segundos. Eu tive que sair de perto, temendo mudar de idéia agora que estava tão perto do meu objetivo. Em seguida, eu a carreguei em meus braços, do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa. Sua mão repousava em meu pescoço. Eu a segurei firme contra o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso casamento.

Mas o seu corpo tão magro me deixou triste. No último dia, quando eu a segurei em meus braços, por algum motivo não conseguia mover minhas pernas
. Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me vi pronunciando estas palavras: "Eu não percebi o quanto perdemos a nossa intimidade com o tempo".

Eu não consegui dirigir para o trabalho.... fui até o meu novo futuro endereço, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de idéia...Subi as escadas e bati na porta do quarto. A Jane abriu a porta e eu disse a ela "Desculpe, Jane. Eu não quero mais me divorciar".

Ela olhou para mim sem acreditar e tocou na minha testa "Você está com febre?" Eu tirei sua mão da minha testa e repeti "Desculpe, Jane. Eu não vou me divorciar. Meu casamento ficou chato porque nós não soubemos valorizar os pequenos detalhes da nossa vida e não por falta de amor. Agora eu percebi que desde o dia em que carreguei minha esposa no dia do nosso casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até que a morte nos separe.

A Jane então percebeu que era sério. Me deu um tapa no rosto, bateu a porta na minha cara e pude ouví-la chorando compulsivamente. Eu voltei para o carro e fui trabalhar.

Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um buquê de rosas para minha esposa. A atendente me perguntou o que eu gostaria de escrever no cartão. Eu sorri e escrevi: "Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos separe".

Naquela noite, quando cheguei em casa, com um buquê de flores na mão e um grande sorriso no rosto, fui direto para o nosso quarto onde encontrei minha esposa deitada na cama - morta.
Minha esposa estava com câncer e vinha se tratando a vários meses, mas eu estava muito ocupado com a Jane para perceber que havia algo errado com ela. Ela sabia que morreria em breve e quis poupar nosso filho dos efeitos de um divórcio - e prolongou a nossa vida juntos proporcionando ao nosso filho a imagem de nós dois juntos toda manhã. Pelo menos aos olhos do meu filho, eu sou um marido carinhoso.

Os pequenos detalhes de nossa vida são o que realmente contam num relacionamento. Não é a mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro no banco. Estes bens criam um ambiente propício a felicidade mas não proporcionam mais do que conforto. Portanto, encontre tempo para ser amigo de sua esposa, faça pequenas coisas um para o outro para mantê-los próximos e íntimos. Tenham um casamento real e feliz!

Se você não dividir isso com alguém, nada vai te acontecer. Mas se escolher enviar para alguém, talvez salve um casamento. Muitos fracassados na vida são pessoas que não perceberam que estavam tão perto do sucesso e preferiram desistir.

ENTREVISTAS FICCIONADAS
COM JESUS CRISTO


Entrevista Nº 59



TEMA – IMACULADA CONCEPÇÃO


Raquel – Nazaré, no coração da Galileia e as Emissoras Latinas no coração dos ouvintes, amável rádio-audiência que segue passo a passo, entrevista a entrevista, polémica atrás de polémica a 2ª vinda de Jesus Cristo à terra. Senhor Jesus Cristo.

Jesus – Diz-me, Raquel, chego a tempo?

Raquel – O senhor chega sempre a tempo para as entrevistas. Como se arranja se não tem relógio?

Jesus – As pessoas do campo guiam-se pelo sol. O que queres perguntar-me hoje?

Raquel – Bem, já falámos bastante de sua mãe Maria, de como ela o deu à luz a si e aos outros filhos que ela teve… mas talvez nos estejamos a esquecer do traço mais singular da sua personalidade: sua imaculada concepção.

Jesus – A que te referes?... Nunca ouvi a ela falar disso.

Raquel – Na realidade, tão pouco ela poderia falar-te pois trata-se de um prodígio que ocorreu sem que sua mãe se desse conta.

Jesus – Mas, em que consiste esse prodígio?

Raquel – Eu documentei-me. Em 8 de Dezembro de 1854, o Papa Pio IX, declara como dogma de fé que sua mãe Maria, dada a sublime missão que lhe foi reservada na história da salvação, nasceu sem aquilo que todos trazemos ao nascer, a mancha original.

Jesus – Vais voltar com o pecado de Adão e Eva? Já te expliquei, Raquel, que isso é uma parábola, como as que eu contava:
- Uma vez falei de um rei poderoso que queria ajustar contas com os seus servos;
- De outra, falei de um pastor com 100 ovelhas e uma que se perdeu. Isto não ocorreu em parte alguma. São comparações…

Raquel – Temos uma chamada. Sim, diga-nos…

Sacerdote – Com perdão de Jesus Cristo ou de quem seja esse embusteiro, peço-lhe, exijo-lhe, que não continue a falar do pecado original.

Jesus – Eu, o que dizia é que…

Sacerdote – Eu não sei o que o senhor dizia nem tão pouco me importa. Repito: Não toque no pecado original. Não lhe toque, não lhe toque!.

Raquel – Não entendo por que este nosso ouvinte está tão irritado… senhor?

Sacerdote – Não me trate por senhor. Chame-me padre. Sou o padre Jaime Lorin.

Raquel – Desculpe, padre, mas… por que não quer que toquemos, na nossa entrevista, no pecado original?

Sacerdote – Puff…

Raquel - Jesus Cristo, que opinião lhe mereceu esta descarga, quero dizer, esta opinião exaltada do padre Lorin?

Jesus – Já que estamos falando de parábolas, agora me recordo de uma que contei, a das duas casas: uma construída sobre areia e outra sobre rocha. Vieram as chuvas, os ventos e a que estava construída sobre a areia caiu.
Assim acontecerá com estes, os que edificaram tudo sobre uma fábula, sobre esse pecado original.

Raquel – Se cai também nossa casa? Sobre o que edificámos: na rocha ou na areia?

Não perca amanhã uma nova entrevista com Jesus na cobertura especial
de Emissoras Latinas.
Raquel Perez, Nazaré.


DONA FLOR
E SEUS DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 220


Dona Norma assumira o comando da turma de busca e salvamento, assistida por dona Gisa. Arrancaram seu Zé Sampaio da cama (fulo de raiva) e partiram rumo à assistência pública, à polícia, ao necrotério.

Ao ver a filha, dona Maria do Carmo abraçou-se nela, a acarinhá-la num choro convulsivo. Choravam as duas e se beijavam em mútuos pedidos de perdão. Agastado, doutor Teodoro retirou-se, quase brusco pois, mesmo contrariando dona Flor, apoiara dona Maria do Carmo em sua primeira e implacável disposição de aplicar na fugitiva uma surra daquelas, de criar bicho.

Tentou demovê-la dona Flor, ganhá-la para a causa de Marilda; também ela, quando mocinha, tomara daquela medicina e de nada lhe servira o tratamento. Por que se obstinava dona Maria do Carmo em contrariar a vocação da filha?

Que vocação nem meia vocação! Doutor Teodoro veio em apoio da viúva, a menina precisava de uma lição que lhe pusesse o juízo em ordem e lhe ensinasse a obedecer. Chegaram quase a se exaltar, marido e mulher, um e outro intransigentes: dona Flor na defesa de Marilda, pobrezinha! Doutor Teodoro na defesa dos princípios, dos deveres dos filhos ante os pais, causa sagrada. Mas não levaram adiante a discussão, pois logo o doutor se controlou e disse:

- Minha querida, você tem a sua opinião e eu a respeito sem com ela comungar, Eu tenho a minha nela fui educado, é a que me serve, fiquemos cada um com a sua opinião. Mas não vamos discutir por isso, já que não temos filhos – e não os teremos – poderia acrescentar, pois, ainda noivo, dona Flor lhe revelara a sua infecunda condição.

Não restou entre eles rastro de azedume, ambos curvados sobre a dor da viúva a pedir a morte se a filha não chegasse logo.

Chegou Marilda e foi o que se viu. Doutor Teodoro vencido, retirou-se. Saíram também dona Amélia e dona Êmina, permanecendo apenas dona Flor com a mãe e a filha e já estava o caso resolvido, de uma vez e para sempre: Marilda conquistara o suficiente para garantir o acordo, a bênção materna aos planos da futura estrela, e logo foi encontrar na sala de visitas o seu compadre Mirandão.

- Meu compadre por que sumiu e não mais apareceu? Nem você nem a comadre com o menino? Que foi que eu fiz para tanto lhe ofender? Pergunto mesmo antes de lhe agradecer o bem que fez a Maria do Carmo e a Marilda. Por que brigou comigo?

Não briguei, por que havia de brigar, minha comadre? Se não tenho aparecido é porque tenho andado numa roda viva…

- Só por isso, por ocupado? Me desculpe meu compadre mas não creio.

Mirandão fitou a noite transparente, o céu distante:

- Minha comadre sabe: entre marido e mulher ninguém se deve meter, até uma sombra, até uma lembrança pode ser ruim. Sei que minha comadre vive contente, anda por cima, isso é que eu desejo. Bem merece tudo isso e muito mais. Nem por eu não aparecer é menor a nossa amizade.

Era verdade, dona Flor sorriu e andou para junto do compadre:

- Tem uma coisa que desejo lhe pedir:

- Mande, não peça, minha comadre…

quarta-feira, setembro 08, 2010

VÍDEO

Uma interpretação sublime... não cansa vê-la e ouvi-la... doze anos de idade. Futuro garantido como cantora lírica... predestinada para o canto. Grandes responsabilidades pesam na sua vida.

BABY CONSUELO - SEM PECADO E SEM JUIZO


A carreira artística de Baby caracterizou-se sempre pela sua musicalidade e versatilidade. Ela é considerada uma das maiores cantoras de todos os tempos. Os seus maiores sucessos foram: "Menino da Rio"; "Brasileirinho"; "Cósmica"; "Telúrica" e este "Sem Pecado e Sem Juizo". Voltaremos a ela proximamente...



DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 219


Cansada e com certo medo, mas ainda cheia de raiva e disposta a tudo, ali permaneceu horas a fio, vendo cruzar na sua frente artistas conhecidos, cantores afamados, e entre eles Silvinho Lamenha, com uma flor na botoeira e imenso anel no dedo mínimo. Alguns olhavam para ela, quem seria aquela moça tão bonita? O porteiro, de quando em vez, sorrindo lhe dizia (querendo, quem sabe, confortá-la, condoído de sua aflição e de sua juventude):

- Não chegou ainda, mas não pode demorar. Já era hora de ter vindo…

Por volta das oito horas, noite feita, com os olhos ardendo e o coração em susto, perguntou ao porteiro onde beber um café e comer uma sanduíche. No bufê da própria rádio, fosse entrando. Lá, vendo e ouvindo cantores e actrizes, seus ídolos, ganhou novas forças, decidida a esperar a vida inteira, se preciso, para cumprir seu destino de estrela.

Retornou à portaria e pensou: “Mamãe, coitada, a essa hora já deve estar morrendo de preocupação”, misturando pena e remorso à raiva e à intrepidez. Pouco depois o porteiro da tarde despediu-se, e o seu substituto disse a Marilda não acreditar no retorno de Oswaldinho:

- A essa hora? Não vem mais…

Já quase às nove e meia, quando a custo ela continha o choro, um sujeito desdentado encostou-se ao balcão da portaria e, após fitá-la com insistência, meteu-se de prosa e riso com o porteiro, a lhe contar feitos de jogo, decorridos ali perto, no Tabaris. De súbito Marilda ouviu o sujeito falar em Oswaldinho e soube estar o seu amigo a jogar desde o fim da tarde, na mesa da roleta. Muito alegre, no dizer do desdentado.

- Tabaris? O que é isso e onde fica?

Riu-se o tipo a fitá-la com indecente gula:

- Aqui pertinho, se quiser lhe levo lá… - doido para ver o escândalo, gozar as lágrimas e as recriminações, aquele Oswaldinho era mesmo a perdição das moças.

Atravessaram a praça, o desdentado a tirar conversa, querendo saber se Marilda era esposa, noiva ou apenas namorada. Para esposa, muito moça, para namorada muito aflita… Na porta do cabaré, depararam com Mirandão, que se retirava para o Palace. Ao passar viu Marilda de relance, foi andando. Mas logo a reconheceu e voltou rápido:

- Marilda! Que diabo está fazendo aqui?...

- Ah! seu Miranda, como vai?

Mirandão conhecia demais o desdentado:

- Bafo-de-Onça, que é que você faz aqui com essa moça?

- Eu? Nada… Ela me pediu…

- Para vir aqui? Mentira sua… - Já se exaltava Mirandão.

Marilda desculpou o outro: ela lhe pedira, sim.

- Para vir aqui, no Tabaris? Fazer o quê? Me diga.

Contou-lhe tudo, finalmente e ele a trouxe de volta para casa, da qual não estavam tão distantes. Foram encontrar dona Maria do Carmo como louca, num chilique, em pranto, atirada ao leito, a gritar
pela filha. A seu lado,
dona Flor, doutor Teodoro, dona Amélia.

terça-feira, setembro 07, 2010


INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA SOB O TEMA:
ADÃO E EVA - V e Última Parte


A EVA NEGRA

A genética ensinou-nos que os seres humanos modernos não nasceram em nenhum paraíso bíblico com árvores proibidas e serpentes tentadoras. Em vez disso, nascemos em África há cerca de 150.000 anos depois de uma evolução de outras centenas de milhares de anos a partir de humanos mais primitivos que, por sua vez, evoluíram durante milhões de anos de hominídeos primitivos que, por sua vez, evoluíram de primatas…

Num determinado momento, há cerca de 100.000 anos, aqueles primeiros humanos modernos, que não foram expulsos de nenhum paraíso, encetaram, em busca de alimento e também pela aventura, a primeira migração fora de África (antepassados seus, não humanos modernos, já o teriam feito em épocas mais remotas).

Foram para a Europa e para a Ásia e milhares de anos depois cruzaram as estepes geladas do norte do planeta para povoar a América.

As investigações genéticas baseadas no ADN mitocondrial – presente em todas as células do nosso corpo e apenas herdadas das nossas mães – indicam que naquela primeira migração da humanidade só participou um dos 13 clãs humanos que povoaram originariamente o continente africano. Aquele único clã de aventureiros e aventureiras era constituído por um número muito pequeno de homens e de mulheres e alguns cientistas chamam-lhe o “Clã de Lara” e consideram que descendemos todos de uma única mulher que, poeticamente, baptizaram de “Lara”. Esta mulher negra é a verdadeira Eva da Humanidade.

Esta teoria, denominada de Eva Negra está explicada de uma maneira ampla e bela pelo geneticista britânico Bryan Sykes (Prof. de Genética da Universidade de Oxford e que publicou a sua 1ª pesquisa sobre ADN de restos arqueológicos no Jornal Nature em 1989) num livro que estuda as origens da humanidade intitulado: “As Sete Filhas de Eva” (Editorial Debate, 2001).


Temos África no Nosso Sangue


Como Bryan Sykes, outro geneticista de Oxford, Richard Dawkins fala assim do nosso berço africano:

- “Todos os fósseis dos anos de formação da nossa espécie provêm de África e as provas moleculares sugerem que os antepassados dos povos actuais permaneceram ali durante muito tempo, até às últimas centenas de milhar de anos aproximadamente.

Temos a África no nosso sangue, África tem os nossos ossos, todos somos africanos. Isto faz com que o ecossistema de África seja objecto de um singular fascínio. Trata-se da comunidade que nos moldou, a comunidade de animais e plantas na qual realizamos a nossa aprendizagem ecológica. Mas, mesmo que não fosse ele o nosso continente de origem, África cativar-nos-ia por ser o último grande refúgio de ecologias pleistocénicas (compreendidas ente 1.806.000 e 11.500 anos atrás, aproximadamente.)

Se quiserem dar uma “olhadela” no Jardim do Éden, esqueçam o Tigre e o Eufrates e o nascimento da agricultura… fazem melhor se visitarem o Kilimanjaro e o Vale do Rift… foi aí que fomos “desenhados” para prosperar.”



Mais Perguntas Que Respostas


Reflectir de uma forma crítica e madura sobre as crenças e tradições religiosas aprendidas – como esta de Adão e Eva – leva a miúdo a mais perguntas. As Entrevistas com Jesus Cristo, as respostas que ele dá a Raquel, geram novas perguntas. É um caminho no qual se cresce e avança.

O grande pedagogo e filósofo brasileiro Paulo Freire (1921-1997), confiava e propunha a pergunta como método de ensino. É necessário, dizia ele, desenvolver a pedagogia da pergunta porque praticamos a pedagogia da resposta em que os mestres respondem a perguntas que os alunos não fazem.

Muitas vezes, o chamado “magistério da Igreja”, os “mestres”, praticam, promovem e impõem a pedagogia da resposta a perguntas que no nosso tempo já não fazemos.

FOUR TOPS - REACH OUT I'll BE THREE (1966)
Um bom vídeo e uma "enorme" canção (na lista das melhores 500 canções de sempre) e um grande sucesso da Motown Records, Gravadora americana fundada em 1859.

DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 218


Atenta à discussão sobre a orquestra, descurara dona Flor dos problemas de Marilda, também eles de música e de canto, de proibidas melodias. A última notícia sobre o conflito entre mãe e filha, dona Flor a obtivera da própria moça e se referia ao facto significativo de ter Marilda conhecido, por intermédio de Oswaldinho, aquele Mário Augusto da Estação Menina, a Amaralina, e o dito cujo lhe prometera ouvi-la e, se lhe agradasse a voz, contratá-la para um programa semanal. Oswaldinho nada conseguira na Rádio Sociedade, infelizmente.

Os sucessos posteriores escaparam a dona Flor. Muito ocupada naqueles dias, não pudera conceder a Marilda a atenção devida. Assim sendo, só depois do drama veio a saber do êxito da adolescente no teste ao microfone. Ficou o Mário Augusto abobalhado com a voz e mais ainda com a beleza da jovem, e dispôs-se a contratá-la para um programa de categoria, num bom horário, sábado à noite. Cachê ainda pequeno, porém que mais podia desejar uma estreante? Na bolsa a minuta do contrato, Marilda veio correndo para casa, embargada de emoção.

Dona Maria do Carmo rasgou o papelucho: “lhe criei e eduquei para mulher direita, para se casar. Enquanto eu for viva…

- Mas, mamãe, você tinha prometido… - Marilda lembrava promessa feita pela viúva no dia em que a viu cantar num programa de calouros – você disse que quando eu fizesse dezoito anos…

- Ainda não fez…

- Faltam só três meses…

- Não deixo nunca enquanto estiver sob meu teto. Nunca.

- Sob seu teto? Pois vai ver.

- Ver o quê? Vamos, diga.

- Nada.

Ainda procurou dona Flor, cálido peito amigo, de bom conselho e de conforto. Mas a vizinha saíra após a aula vespertina e Marilda tinha pressa, pois caía a tarde e era demais a tirania, insuportável. Fugiu de casa.

Juntara uns trapos, pares de sapatos, a colecção do Jornal de Modinhas, os retratos de Francisco Alves e Sílvio Caldas, metera tudo na mala, tomou o bonde, aproveitando estar a mãe no banho.

Foi direita à Rádio Amaralina. Ao sabê-la fugida da família, em lágrimas e menor de idade, alarmou-se Mário Augusto, muito responsável e nem sequer a quis ali no edifício: fosse embora quanto antes, não desejava encrencas. Saiu Marilda rua fora e andou ao léu em busca de Oswaldinho. Foi de endereço em endereço, da Rádio Sociedade para o escritório de uma firma comercial, onde o radialista fazia ponto. Dali seguiu para a Cidade Baixa onde ele tinha encontro com os patrocinadores, os poderosos Magalhães. Oswaldinho? O da Rádio? Já fora embora, talvez para os estúdios, ela sabia o endereço? Lá se foi novamente para a Rádio Sociedade, na Rua Carlos Gomes: subiu o elevador Lacerda, andou a Rua Chile, e, cortando a Praça Castro Alves, por fim, suada e tonta, deteve-se na porta da emissora. Oswaldinho não estava, mas o
porteiro lhe permitiu esperar e até lhe arranjou uma cadeira.

segunda-feira, setembro 06, 2010

ROBERTO CARLOS - EU DARIA A MINHA VIDA
Há comentadores que afirmam que todos os artistas fazem "cover" (uma espécie de imitar). No caso de Roberto Carlos tudo quanto ele canta soa diferente... levam a marca da autenticidade... o que acontece apenas com os grandes artistas. Ouça esta linda canção, escute a parte final da orquestração.


INFORMAÇÕES ADICIONAIS


AO TEMA DA ENTREVISTA SOBRE:


ADÃO E EVA (4)




Também em Outras Culturas e Religiões

A misoginia, o machismo, a discriminação das mulheres não é monopólio da cultura judaico-cristã. Vem muito mais de trás, é anterior às Escrituras Bíblicas.

Há que situar o início e o predomínio crescente da injusta cultura patriarcal há uns 10.000 anos, quando a humanidade descobriu a agricultura e se desenraizou da natureza para se sentir dona e sua dominadora. Começou, então, a acumular grãos, inventou a guerra para defender os celeiros onde guardava esses grãos e em consequência iniciou a adoração de deuses masculinos e bélicos que justificaram essas guerras.

Até hoje somos herdeiros dessa cultura androcêntrica (centrada em valores masculinos) na qual o centro é o varão e o valor supremo é o masculino.

Textos similares aos da cultura judaico-cristã aparecem em textos filosóficos e religiosos na Grécia e na poderosa Roma. Também dominam no Corão, livro sagrado do Islão, na literatura dos sábios e em manuscritos de fundadores de distintas religiões orientais.

Vejamos alguns exemplos:

- No século V A.C. pode ler-se no Panchatandra indú:
“Tais são as virtudes das mulheres: um monte de vícios.”

- No século VI A.C., Confúcio, que promoveu na China uma nova religião, dizia:
“A mulher é do mais corruptor e do mais corruptível que há no mundo.”

- No século VII A.C., Sólon, legislador ateniense, um dos sete sábios da Grécia afirmava: “O silêncio é o melhor adorno das mulheres
.”

- No século VII A.C., Buda dizia:
“A mulher é má. Cada vez que se apresente a ocasião, a mulher pecará.”

- No século VIII A.C., Zaratustra, reformador da religião persa, ordenava às mulheres: “Devem adorar o homem como uma divindade. Nove vezes pela manhã, de pé ante seus maridos, com os braços cruzados, devem repetir: “que queres, senhor meu, que faça?”

- No século IV D.C., o grande filósofo Aristóteles fazia esta consideração: “A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens.”

- No século V D.C., o dramaturgo grego Eurípedes, afirmava: “Não há no mundo nada pior do que uma mulher, excepto outra mulher.”

- O grande estadista ateniense Péricles sentenciava: “As mulheres, os escravos e os estrangeiros não são cidadãos.”

A história de Adão e Eva no paraíso aparece também no Corão.

- No século VII D.C., o Corão, na Sura 4, versículo 38, diz: “Os homens são superiores às mulheres porque Deus lhes outorgou o predomínio sobre elas. Os maridos que sofrem a desobediência de suas esposas, podem castigá-las, deixá-las sós nos seus leitos, e até mesmo golpeá-las.” Na Sura 24, versículo 59: “Deus não legou ao homem calamidade mais perniciosa que a mulher.”

DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
AMORES

Episódio Nº 217



- Não entendo nada mas ouço tudo, porque qualquer coisa me diverte, até sino em toque de finados é bonito. Topo tudo: concerto e ópera, opereta nem se fala e sou doida por um programa musical na rádio. Uma coisa é certa: não tem nada igual, nada que se compare com modinha de Caymmi. Mas, para mim, tudo serve, tudo me diverte e passa o tempo, até esses ensaios do doutor Teodoro, basta a gente não prestar muita atenção…

Para dona Rozilda era uma blasfémia comparar a música da orquestra de amadores, papa-fina para ouvidos delicados, com essa bombochada de moleques ao violão. Boa pessoa, dona Norma, bem casada, rica, mas seus gostos eram de gentinha… Por outro lado, a professora só por ser americana era metida a catedrática. Pode ser que dona Gisa, lá em seu país, tivesse conhecido coisa melhor, mais erudita superior aos Filhos de Orfeu. Ela, dona Rozilda, duvidava e desconhecia. A seu ver eles eram o non-plus-ultra até prova em contrário. Uns senhores daqueles, da mais alta distinção…

Sorridente e silenciosa, acompanhara dona Flor os termos do debate, só abrindo a boca para defender os ensaios da orquestra de amadores considerados por dona Gisa, o “cúmulo da cacetação”.

- Não seja exagerada…

- Pois não é? E tem que ser assim, pois é ensaio. Onde já se viu convidar alguém para ouvir ensaio de música?

- Eles não têm culpa, a culpada sou eu que convidei… Nos ensaios deles vai quem quer, amigos, pessoas de família. Quando tiver um concerto, vou-lhe convidar e aí você vai ver…

Dona Gisa mantinha-se pessimista:

- Num concerto, quem sabe? Mas ainda assim penso que esses diletantes, me desculpe, Flor, não valem grande coisa…

Valiam e muito, a acreditar-se nos redactores de jornais e críticos de música, afinal obrigados a entender do assunto. A cada exibição da orquestra – numa estação de rádio ou no auditório da Escola de Música – derramavam-se em louvores. Um desses críticos, um tal Finerkaes, nascido por assim dizer no seio da música, pois de procedência alemã, num transporte de entusiasmo, comparara Os Filhos de Orfeu às “melhores orquestras congéneres da Europa, às quais nada ficam a dever, muito ao contrário”. Ao chegar a Munich, esse Finerkaes até que era bastante sóbrio em seus conceitos. O trópico o conquistou inteiro, perdeu a continência e nunca mais voltou a seu gelado Inverno.

Doutor Teodoro possui um álbum onde colecciona os programas dos concertos, notícias e elogios, artigos sobre a orquestra, muita tinta impressa. Depois do casamento é dona Flor quem cuida desse repositório dos sucessos, desses comprovantes da pequena glória do marido. A última notícia ali colada diz ter o maestro Agenor composto uma romanza em honra do casal Teodoro Madureira, sua obra-prima, actualmente em ensaios. Os Filhos de Orfeu se propunham executá-la. “Por falar em Filhos de Orfeu, quando essa excelente orquestra nos dará a graça de um concerto insistentemente reclamado pelos amantes da boa música na Bahia?” perguntava o jornalista. Como se vê, tinham os
amadores fiéis amigos, muitos e fanáticos.

domingo, setembro 05, 2010

Lua de Mel


Aos 82 anos de idade, Frederico casou-se com Ana, de 27 que, em consideração ao marido tão idoso, decide que devem dormir em quartos separados.

Terminada a festa do casamento, cada um vai para o seu quarto.

Ana prepara-se para deitar, quando ouve batidas fortes na porta...

As batidas insistem.

Ao abrir a porta, ela se depara com Frederico, com seus 82 anos, pronto pra acção.

Tudo corre bem e após uma relação quente e vigorosa...Frederico despede-se e vai para o seu quarto.

Passados alguns minutos, Ana ouve novas batidas na porta do quarto...
É Frederico, novamente pronto para a acção.

Ela surpreende-se mas deixa-o entrar.

Terminada a relação, Frederico beija-a carinhoso e despede-se, indo pra seu quarto.

Ana prepara-se pra dormir novamente, quando escuta fortes batidas na porta. Espantada, Ana abre e depara-se com... Frederico!!!

Mais do que pronto pra ação, com aspecto vigoroso e renovado.

Diz ela:

- Estou impressionada que em sua idade possa repetir a relação com esta freqüência. Já estive com homens com um terço de sua idade e eles contentavam-se apenas com uma vez. Você, Frederico, é um grande amante!

Desconcertado, ele pergunta:

- O quê!!!???? Mas eu já estive aqui antes???

MORAL DA HISTÓRIA:

O Alzheimer lá tem suas vantagens!

BOM DOMINGO PARA TODOS

JORGE BEN JOR - MAS QUE NADA
Esta é uma canção, cadinho de culturas, que "fala" a muitas gentes. Nasceu no Rio, em 1942, a mãe era da Etiópia e por isso ele tem influências árabres e africanas, mas também elementos da "bossa-nova", jazz e maracatu e as suas letras misturam humor, sátira e temas esotéricos. "Mas Que Nada" é de 1963, cantou-a para uma pequena platéia... e a partir daí estava lançado.

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