sábado, setembro 15, 2012

IMAGEM
Será mulher ou uma púdica sereia aperaltada para o baile?


PLAYNG FOR CHANGE - ONE LOVE
Continuemos a viajar...


Um pai judeu, com a melhor das intenções, enviou o seu filho para o colégio mais caro da comunidade Judia mas, apesar das suas intenções, Samuel não ligava puto às aulas.

Notas do primeiro mês:
 Matemática - 2
Geografia -  3.5
Historia - 1.7
Literatura -  2
Comportamento -  0

Estas espantosas classificações repetiam-se de mês para mês, até que o pai se cansou:

- Samuel, ouve bem o que te vou dizer, se no próximo mês as tuas notas e o teu comportamento não melhorarem, vou-te mandar estudar para um colégio católico.

No mês seguinte as notas do Samuel foram uma tragédia, só comparável ao naufrágio do Titanic e o pai cumpriu com a sua palavra. Através de um rabino próximo da sua família, contactou com um bispo que lhe recomendou um bom Colégio Franciscano para o qual Samuel foi enviado.

Notas do primeiro mês:
 Matemática 18
Geografia 16
Historia 16
Literatura 20
Comportamento 20

Notas do segundo mês:
 Matemática 20
Geografia 18
Historia 18
Literatura 20
Comportamento 20.

O pai, surpreendido, perguntou-lhe:

- Samuel, o que é que te aconteceu para teres tão boas notas?
 Como é que se deu este milagre?

- Não sei papá. Apresentaram-me a todos os colegas e a todos os professores e, logo nessa tarde fomos a uma igreja.
Quando entrei, vi um homem crucificado, com pregos nas mãos e nos pés, com cara de ter  sofrido muito e todo  ensanguentado.

 Perguntei, quem é Ele?

E respondeu-me um aluno dos cursos superiores:
 - Ele era um judeu como tu.

Então, disse para mim: F***- se,... aqui temos mesmo que estudar, que estes gajos não são para brincadeiras.



GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 193

- Tou enxergando… seu Nacib pode não… Pena… Coitado de Tuísca. Ele tanto gostava de seu Nacib fosse. Eu tinha prometido. Pode não, tem razão. Eu digo a Tuísca. E bato palma por mim e por seu Nacib – Riu, apertou-se contra ele.

 - Bié, escuta: você precisa de se instruir, você é a senhora de um comerciante. Não como uma mulherzinha qualquer. Tem que ir a essas coisas que a nata de Ilhéus frequenta. Pra ir aprendendo, se instruindo, você é uma senhora.

 - Quer dizer que não posso?

 - Que fazer?

 - Ir no circo amanhã? Vou com dona Arminda.

Retirou a mão que acariciava:

 - Já te disse que comprei entradas para nós dois.

 - Ele fala, a gente ouve. Gosto não. Gosto de nata não. Gente nos trinques, mulheres enjoadas, gosto não. Circo é tão bom! Deixa eu ir seu Nacib. Outro dia vou na conferência.

 - Não pode Bié – Novamente a acariciava – Não tem conferência todo dia…

 - Nem circo…

 - Na conferência não pode faltar. Até já perguntam porque você não vai a lugar nenhum. Todo mundo fala, não está direito.

Mas quero ir, sim. No bar, no circo, andar na rua.

 - Só quer ir onde não deve. É só o que você quer fazer.

Quando é que você vai meter na cabeça que é minha mulher, que eu casei com você, que é senhora de comerciante estabelecido, abastado? Que não é mais…

 - Zangou, seu Nacib? Porquê? Fiz nada não…

 - Quero fazer de você uma senhora distinta, da alta-roda. Quero que todo o mundo te tenha respeito, te trate direito. Que esqueçam que foi cozinheira, que andava de pé no chão, chegou a Ilhéus de retirante. Que te faltavam ao respeito no bar. É isso, entendes?

 - Tenho jeito não, seu Nacib, pra essas coisas. São enjoadas. Nasci mesmo pra vintém, não sirvo pra tostão. Que vou fazer?

 - Vai aprender. E as outras, essas metidas a sebo, que pensas que elas são? Umas roceiras tabaroas, só que aprenderam.

Houve um silêncio, o sono voltava a dominá-lo, a mão descansava sobre o corpo de Gabriela.

 - Deixa eu ir no circo, seu Nacib. Só amanhã…

 - Não vai, já lhe disse. Vai comigo à conferência. E acabou-se.

Virou-se na cama, deu-lhe as costas, puxou o lençol. Sentia falta do seu calor, habituara-se a dormir com a perna sobre as suas ancas. Mas precisava mostrar-lhe que estava aborrecido com tanta cabeça dura.
(Estou de acordo que talvez isto não faça muito sentido da minha parte, mas não concebo que outros actores que não estes - seu Nacib já faleceu - encarnem este casal que não seja numa de usurpação... que me desculpem.)

sexta-feira, setembro 14, 2012

Presidente do Uruguai

Discurso do Presidente do Uruguai por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. Notável por vir da boca de um Presidente mas... que esperanças é que ele nos deixa, mesmo pensando só nas gerações futuras?... Mas ouvi-lo é reconfortante mesmo quando sabemos que o mundo não vai mudar e que nós continuaremos nesta espiral de consumo que fabrica empregos e a seguir desempregos, que cria riqueza e pobreza, na base do egoísmo, ambição e feroz competição, mesmo quando disfarçada, porque tudo isto está nos nossos genes, eles próprios egoístas, eles que são a nossa natureza. Um dia, ver-nos-emos confrontados com o resultado e então, ou será tarde de mais para a espécie ou regressaremos à estaca zero provavelmente para repetirmos os mesmos erros... Agora, por favor, ouçam o Sr. Presidente do Uruguai porque vale a pena.

IMAGEM
Estes bancos, relativamente aos outros, têm a vantagem de não precisarem de ser recapitalizados.


Os Chineses

«Se na Grande Depressão de 1929 os milionários americanos se atiravam das janelas dos arranha-céus, agora são os chineses que nos caem em cima. Na Borgonha, região de vinhos francesa, um castelo foi comprado por um sócio de Stanley Ho, de Macau. Vários produtores locais juntaram-se para comprar dois hectares de vinha de um château em Gevrey-Chambertin mas Louis Ng Chi Sing, dono do macaense hotel Grand Lisboa, propôs irrecusáveis 8 milhões de euros. Ficou sendo o segundo chinês com propriedade na Borgonha e juntou-se aos já 20 milionários chineses que compraram marcas de vinhos na região de Bordéus. O jornal Le Monde noticiou e convidou Denis Saverot, diretor de La Revue du Vin de France, a explicar o fenómeno. Saverot diz que o tal castelo vendido produzia um vinho só razoável, o importante era o nome da aldeia vizinha, Gevrey-Chambertin, denominação de um dos mais prestigiados bourgognes. Já em Bordéus os chineses tinham comprado duas propriedades de vinho vulgar, Latour-Laguens e Lafite-Chenu, mas com nomes que contêm marcas míticas, Latour e Lafite. Como a liberal lei chinesa permite que se venda com denominações geográficas vinhos de outra ori- gem, o especialista francês receia que venham a aparecer no mercado demasiados "Gevrey-Chambertin", "Latour" e "Lafite"... Isto é uma ideia à Futre, mas quem tem terrenos baldios em Porto de Mós e Porto Salvo devia lembrar aos chineses que a palavra mítica "Porto" está lá.» [DN]

Autor:
Ferreira Fernandes

Nota - Enquanto se limitaram a ser apenas muitos, a coisa ia passando... mas agora, para além de continuarem a ser muitos, têm dinheiro como nunca tiveram e adoram aquilo que ele pode comprar...

Playing For Change

Vamos dar a volta ao mundo, incluindo a minha querida Lisboa, nos sons desta bela canção: "Chanda Mama". (Não se esqueça de abrir o ecrã)


ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 66 SOBRE O TEMA:
“SACERDOTES? ”



RAQUEL - A unidade móvel de Emissoras Latinas está localizada perto do que foi o grande Templo de Jerusalém. As últimas declarações de Jesus Cristo sobre a eucaristia e as que fez em programas anteriores sobre a confissão bloquearam nossa central telefónica. Um ouvinte de Assunção, Paraguai, Arturo Bregaglio, faz a seguinte pergunta:

ARTURO - Se o senhor diz que os sacerdotes não perdoam pecados nem consagram a hóstia, para que servem os sacerdotes?

RAQUEL -  Escutou bem, Jesus Cristo?

JESUS  -   Sim, escutei bem.

RAQUEL  -  Para que servem, então, os sacerdotes?

JESUS - Acho que para nada.

RAQUEL -  Como para nada?

JESUS - Para nada.

RAQUEL -  Com uma afirmação tão contundente, o senhor não estará desqualificando a si mesmo?

JESUS - A mim mesmo? Por quê?

RAQUEL - Bom, porque… o senhor não é o Sumo Sacerdote da Nova Aliança?

JESUS - No meu povo só eram sacerdotes os da tribo de Levi, os levitas. Eu não era um deles.

RAQUEL -  Então, o senhor não é sacerdote?

JESUS - Nem sou nem nunca fui. Para falar a verdade, tive brigas tremendas com os sacerdotes do meu tempo.

RAQUEL -  A que se deviam essas brigas?

JESUS - A arrogância deles. Sentiam-se superiores, donos da verdade e desprezavam as pessoas humildes. Acreditavam que eram mediadores entre o céu e a terra, representantes de Deus! Ainda rio recordando a cara que fizeram com aquilo que comentei outro dia. Disse-lhes: as putas entrarão primeiro que os senhores no Reino de Deus.

RAQUEL - O senhor o disse com esse palavrão?

JESUS - Qual palavrão?

RAQUEL - Esse que disse...

JESUS - Putas? Claro. Eu sempre as respeitei. Mas eles não. Eram altaneiros. Sepulcros caiados de branco.

RAQUEL Em todo caso, se o senhor não foi sacerdote... seus apóstolos foram.

JESUS - Por que dizes isso?

RAQUEL - Nessa Última Ceia, ainda que o senhor afirme que não consagrou nem o pão nem o vinho, consagrou seus doze apóstolos como sacerdotes.

JESUS - De onde tiraste isso, Raquel? Eu nunca consagrei ninguém. No nosso movimento não houve nenhum sacerdote. Nem nas primeiras comunidades, segundo me contam. Era a gente comum, os homens e principalmente as mulheres, os responsáveis por continuar trabalhando pelo Reino de Deus. Nem sequer utilizavam a palavra sacerdote.

RAQUEL -  Sacerdote não significa sagrado?

JESUS -    Sacerdote significa afastado, separado do povo. Para trabalhar pelo Reino de Deus temos que estar no meio do povo.

RAQUEL -  Então, de onde saíram os sacerdotes, os clérigos, que dizem representar o senhor?

JESUS - Pois não sei de que tribo teriam saído porque no nosso movimento essas hierarquias não eram aceitas.

RAQUEL - Espere um momento... Está chegando uma mensagem de texto... É de um teólogo laico, José María Marín. Diz assim. Vou ler:

“A ordenação de sacerdotes nada tem a ver com Jesus. É um costume muito posterior do império romano. Daí nasceu o clero católico, cheio de poder e privilégios. Para Jesus, a comunidade não necessita de nenhum mediador ante Deus.”

JESUS - Gostei da explicação desse senhor.

RAQUEL E o que fazemos, então, com os sacerdotes?

JESUS - Que nasçam de novo, como aconselhei ao velho Nicodemos. Se lutam, se estão no meio do povo, se sua palavra alegra o coração dos pobres e é espada de dois gumes contra os injustos, está bem. Mas se acreditam que são donos de uma escada para chegar a Deus, como aquela dos sonhos de Jacó, não servem para nada, porque Deus não está lá em cima nem está longe. Está aqui, no nosso meio.

RAQUEL - O que vocês dizem, amigas e amigos de Emissoras Latinas? E especialmente, o que opinam os padres e os reverendos e os ministros que talvez estejam nos ouvindo? Para Emissoras Latinas, transmitiu Raquel Pérez, Jerusalém.


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 192


E como é conferência?

Nacib torcia os bigodes:

 - Ah! É coisa fina, Bié.

 - Melhor que cinema?

 - Mais rara…

- Melhor que circo?

 - Não se compara. Circo é mais para menino. Quando tem número bom, vale a pena. Mas conferência só tem uma vez ou outra.

 - E como é? Tem música, dança?

 - Música, dança… – riu – Tu precisa aprender muita coisa Bié. Não tem nada disso, não.

 - E o que é que tem para ser melhor que cinema, que circo?

 - Vou explicar, preste atenção. Tem um homem, um poeta, um doutor que fala sobre uma coisa.

 - Fala de quê?

 - De qualquer coisa. Esse vai falar de lágrima e de saudade. Ele fala, a gente escuta.

Gabriela abriu os olhos espantados:

 - Ele fala e nós ouve. E depois?

 - Depois? Ele acaba, a gente bate palmas.

 - Só isso? Mais nada, não?

 - Só isso, mas aí é que está: o que ele diz.

 - E o que é que ele diz?

 - Coisas bonitas. Às vezes falam difícil, a gente não entende direito. É quando é melhor.

 - Seu Nacib… O doutor falando, a gente ouvindo…

E seu Nacib compara com cinema, com circo, que coisa! E logo seu Nacib, tão instruído. Melhor que circo, pode ser não.

 - Ouça, Bié, já te disse: você agora não é mais uma empregadinha. É uma senhora. A senhora Saad. Precisa se compenetrar disso. Tem uma conferência, vai falar um doutor que é um colosso. Toda a nata de Ilhéus vai estar lá. Nós também. Não se pode deixar uma coisa assim, importante, para ir a um circo mais vagabundo e rasca.

 - Pode não, seu Nacib? Pode mesmo não? Porquê?

Sua voz ansiosa buliu com Nacib. Acarinhou-a:

 - Porque não pode, Bié. O que haviam de dizer? Todo mundo. Aquele idiota do Nacib, um ignorante, largou a conferência para ir ver a porcaria de um circo. E depois? Todo o mundo no bar comentando a conferência do homem e eu a contar as besteiras do circo.
 (Se eu tivesse que isolar uma passagem deste romance - gosto mais de lhe chamar história - ela estaria contida neste episódio. Um dos segredo de Jorge Amado é a de nos dar a conhecer os seus personagens através destes diálogos em que a verdadeira natureza das pessoas se revela com a transparência da água de um regato correndo entre as pedras, junto à nascente…) 

quinta-feira, setembro 13, 2012

IMAGEM
Uma feliz imagem do Castelo de Almourol, um dos monumentos do cenário militar português mais mediático da época medieval, localizado numa pequena ilhota no meio do rio Tejo , na freguesia de Praia do Ribatejo , a 4 km (2,5 milhas) da sede do município de Vila Nova da Barquinha , na região centro de Portugal . O castelo foi construído sobre um primeiro castro lusitano, mais tarde conquistado pelos romanos no Séc. I A.C. e fez parte da linha defensiva controlada pelo Cavaleiros Templários.


Playing For Change -  Stand By Me

Esta foi a primeira de muitas canções ao redor do mundo "Playing for Change. Paz através da música". A música com uma função social e política porque a paz é o supremo objectivo político. Música nas ruas das cidades, nos bairros de lata, nas aldeias, na montanha e à beira mar, em todo o sítio, em todo o lado, despertando o homem para a convivência, para a alegria do encontro uns com os outros através dessa linguagem universal, irresistível, que é a música.
(Abra o ecrã do seu computador e experimente essa sensação de convivência)


Sarah, a jovem esposa, desesperada, vai ao psicanalista:
 
- Ah, doutor, eu não aguento mais..
Apesar de todos os meus esforços,meu marido não me dá a menor atenção.
Desde que nos casámos, ele só fala na mãe,na mãe, na mãe.
É como se eu não existisse.
 - Já experimentou preparar um jantar especial?
 - Já. E não adiantou,Disse que a comida da mãe dele era melhor que a minha!
 - Ouça, tenho uma idéia.
Se há um domínio onde a sua sogra não pode rivalizar consigo, é na cama.
Esta noite, vista um baby doll preto e calcinha preta.A cor preta é muito sexy e muito excitante.
Incluindo uma cinta de ligas negra também...
Ele não vai resistir!
Sarah seguiu à risca o plano, sem esquecer nenhum detalhe.
De facto, nunca estivera tão sexy...
 
Chega o Jacó a casa, arregala os olhos e diz:



- Sarrrahhhhh, 
você está toda de preto.. Aconteceu alguma coisa à mamã???


ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 65 SOBRE O TEMA:
“COMPARTILHAR O PÃO?”


RAQUEL -  Continuamos na igreja do Cenáculo, e pelo telemóvel estamos recebendo múltiplas mensagens. Uns felicitam-nos, outros se indignam. Também nos chegam muitas perguntas. Há um momento atrás e fora dos microfones, o senhor, Jesus Cristo, fazia-nos um comentário irónico. Poderia repeti-lo?

JESUS -    Eu dizia-te, Raquel, que se a gente tivesse suspeitado da confusão que se iria armar a partir do que comemos naquela última ceia… melhor seria que tivéssemos ficado em jejum!

RAQUEL - Brincadeiras à parte, o senhor  referiu-se antes a São Paulo e a uma situação ocorrida na comunidade, creio que me disse, sobre Corinto. O que aconteceu exactamente lá?

JESUS -    Eu não vi, porque já tinha partido. Mas contaram-me.

RAQUEL -  E o que lhe contaram que tanto o impressionou?

JESUS -    Pois acontece que nessa cidade de Corinto, que eu nem sei onde fica, parece que se reuniam para dar graças a Deus e enquanto uns comiam e se fartavam, outros ficavam com fome. Paulo os repreendeu e com toda razão. Que comunidade pode ser essa onde há ricos e pobres? Que Páscoa vão celebrar juntos Moisés e o Faraó, os oprimidos junto aos opressores?

RAQUEL -  Pois é melhor nem se aproximar de algumas igrejas cristãs porque o senhor vai ter muitas surpresas... Assentos na primeira fila reservados para as autoridades, para os militares, para as famílias mais ricas, os brancos na frente, os negros atrás, os brancos na frente, os índios atrás.

JESUS - Fazem isso?

RAQUEL - Pior. Dão o pão consagrado a ditadores, a assassinos e a torturadores, e o negam às mulheres só por se terem divorciado.

JESUS - Fazem isso?

RAQUEL -  Se o senhor soubesse…

JESUS -    Tu, Raquel, falavas antes sobre a substância. A substância que tem de mudar não é a do pão, mas a do coração. Um coração novo, capaz de amar, de compartilhar.

RAQUEL -  Mas, diga-me uma coisa, Jesus Cristo. Se o senhor não instituiu a eucaristia naquela Quinta-Feira Santa, o que fazem os sacerdotes em seu nome quando celebram a missa?

JESUS - Imagino que proclamem a boa notícia aos pobres. Isso é, o que eu quero que façam em minha memória.

RAQUEL - E as palavras mágicas, digo, misteriosas, que dizem os sacerdotes para que Deus baixe do céu, para que aterre no altar, se oculte na hóstia e se esconda em um sacrário?

JESUS -    Tu és uma pessoa inteligente, Raquel. Deus deu-te razão e coração. Aos ouvintes da tua emissora também. Tu acreditas que Deus, que não cabe no universo, que não tem princípio nem fim, vai se prestar a um truque assim? Como seria pequeno esse deus, um deus de abracadabra, como aquele feiticeiro que Felipe encontrou em Samaria!

RAQUEL -  Se eu compreendi bem as suas palavras, o senhor põe por terra teologias eucarísticas, bibliotecas  procissões com o Santíssimo Sacramento, custódias, cálices, adorações perpétuas, cantemos ao amor dos amores, o Concílio de Trento e a missa aos domingos.

JESUS - Escutas, Raquel?... É o vento. Não podes prendê-lo, porque sopra onde quer. Tampouco se pode prender Deus num templo, nem num pedaço de pão, nem em numa taça de vinho.

RAQUEL - Tenho mil perguntas, mas já não sei mais o que te perguntar.

JESUS - Deus revelou o maior no mais simples, Raquel. No pão, tem pão. No vinho, tem vinho. E na comunidade, quando se partilham esse pão e esse vinho, quando tudo se põe em comum, Deus faz -se presente.

RAQUEL -  Amigas e amigos, não percam a fé, quero dizer, não percam a sintonia e continuem connosco.  De Jerusalém, para Emissoras Latinas, Raquel Pérez.


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 191

Assim, vira e ouvira Josué declamar, de pé, estrofes onde rolavam seios e nádegas em profusão, ventres nus, beijos pecaminosos, amplexos e cópulas, bacanais incríveis. Até Nacib aplaudiu. O Doutor citara o nome de Teodoro de Castro, Argileu erguera o cálice:

 - Teodoro de Castro, o grande Teodoro! Inclino-me ante o cantor de Ofenísia, bebo à sua memória. – beberam todos. O vate recordava trechos de poemas de Teodoro, alterando-os aqui e ali:

Graciosa, na janela reclinada
Ofenísia, ao luar, aos gritos…

 - «Em prantos» … – corrigia o Doutor.

A história de Ofenísia, relembrada entre brindes, puxou outras, surgiram os nomes de Sinhàzinha e Osmundo, e daí partiram para as anedotas. Como Nacib rira… O Capitão desfilara seu reportório inesgotável .  O augusto vate também sabia contar. Sua voz tonitruante abria-se numa gargalhada que abalava a praça, ia morrer nos rochedos.

Funcionava também o reservado do pocker: Amâncio Leal jogava alto com o Dr. Ezequiel, o sírio Maluf, Ribeirinho e Manuel das Onças. Um pocker de cinco, animado.

Nacib chegara a casa cansado, morto de sono. Atirou-se na cama. Gabriela despertou como fazia todas as noites:

 - Seu Nacib… Demorou… Já sabe do acontecido?

Nacib bocejava, seus olhos fitavam o corpo a mostrar-se entre os lençóis, aquele corpo de mistério diariamente renovado; uma chama leve de desejo nasceu entre o cansaço e o sono.

Tou morrendo de sono. Que aconteceu?

Estendia-se, dobrava a perna sobre a anca de Gabriela.

 - Tuísca agora é artista.

 - Artista? Que história é essa?

 - No circo. Vai representar…

A mão do árabe subia-lhe, cansada, pelas pernas.

 - Representar’ No circo? Não sei do que você está falando.

 - Como pode saber? – Gabriela sentava-se na cama, não podiam existir notícias mais sensacionais – Ele teve aqui depois do jantar e me contou… – Fazia cócegas em Nacib para despertá-lo e o despertou.

- Tu tá querendo? – Riu debochado – Pois vai ter…

Mas ela contava de Tuísca e do circo, convidava:

 - Seu Nacib bem podia ir amanhã com eu e com Dª. Arminda. Pra ver Tuísca. Deixava o bar um tiquinho de tempo. Amanhã não dá jeito. Amanhã vamos os dois a uma conferência.

 - Uma o quê, seu Nacib?

 - Conferência, Bié. Chegou um Doutor, um poeta. Faz cada verso que só vendo. É formidável, basta dizer que é doutor duas vezes… Um sabichão. Tava todo o mundo rodeando ele, hoje. Um tal de discutir, de dizer versos… coisa supimpa. Vai fazer conferência amanhã, na Intendência. Comprei dois bilhetes, pra mim e você.
(A assistência televisiva à nova telenovela da Gabriela, Cravo e Canela, que não a reposição da antiga, continuou a arrasar toda a concorrência o que, apesar de eu não a ver, deixa-me feliz porque abona a favor do reconhecimento da qualidade das histórias de Jorge Amado, meu escritor de eleição. Os filmes e telenovelas, quando bem feitos, sobre obras literárias, estão para os respectivos livros como os rebuçados estão para as refeições... Seria uma desonra para o público português não destacar a Gabriela relativamente às outras telenovelas. Pelo menos, ainda não se perdeu de todo o bom gosto...)

quarta-feira, setembro 12, 2012

IMAGEM
Percebe-se bem que este encontro entre o mar e a terra, lá para os lados de Peniche, na costa portuguesa, não foi pacífico... nem tinha que ser, trata-se do Atlântico norte.


Playing for Change - Three Little Birds

Este vídeo é a primeira faixa do nosso novo álbum, PFC 2 - Songs Around The World, chegado a 31 de maio! Começamos a viagem na África Ocidental, a antiga vila de Kirina, Mali. Três instrumentos começam a tocar e nós ouvimos as palavras familiares: "não se preocupe com uma coisa, cada pequena coisa vai ficar bem." Esta mensagem intemporal  convida-nos a uma viagem musical através do tempo e do espaço. Juntos, continuamos a conectar o mundo através da música. Abra o ecrã do computador para desfrutar melhor as imagens do excelente vídeo. Deixe se ir...


MENTIRAS E SURPRESAS


Desculpem, mas tudo o que nos está a acontecer não devia ser surpresa. Passos mentiu-nos, da mesma maneira que Sócrates nos mentiu e tanto um como o outro, sabiam que estavam a mentir. Há muito que este país está a ser governado com base na mentira porque essa é a única forma de governar Portugal. Mais, o próprio país que é Portugal, não passa de uma mentira.

D. Afonso Henriques inventou uma batalha quando andava com os seus homens a roubar gado, bens e a fazer escravos naquelas incursões que tinham lugar junto das populações muçulmanas do sul da península, lá por alturas de 1139.

 «De repente, foi confrontado com um enorme exército de mouros, surgidos não se sabe bem donde, muito superior em número ao seu exército mas sobre o qual obteve uma vitória tão estrondosa que só foi possível mediante a intervenção divina.»

Autoproclamou-se logo Rei de Portugal aclamado pelas suas tropas no campo de batalha, de Ourique, reconhecido pelo rei de Leão e pelo Papa Alexandre III muito sensível, como não podia deixar de ser, ao empenho de Deus junto de Afonso Henriques ajudando-o a ganhar a batalha numa vitória considerada, por esta razão, milagrosa.

Pregada a mentira, todos acreditaram que Portugal existia, o próprio mundo acreditou, e de mentiras, enganos e expedientes, séculos após séculos, a mentira tornou-se realidade, uma realidade mentirosa que foi possível manter, com sorte e pela localização geográfica, atirada para aqui, para a ponta da Europa meio esquecida.

 Os políticos são eleitos porque mentem, caso contrário não seriam eleitos. Passos mentiu-nos deliberadamente para poder ganhar as eleições dizendo a pés juntos e com todos os dentes que tinha na boca que não lhe passava pela cabeça acabar com os subsídios de Férias e de Natal quando fosse governo… Como se fosse possível mantê-los num país sem dinheiro, nem possibilidades de o fabricar, sem crédito e só não em bancarrota porque fomos à pressa chamar a troika. Como???...

Agora, mente-nos no dia a dia da governação e nós continuamos a fingir que acreditamos. Entalados entre ele e a troika – entenda-se bancarrota – os portugueses fingem que acreditam nas mentiras para depois, com mais legitimidade, se poderem indignar contra elas.

 As verdades são terríveis, precisamos das mentiras para sobreviver sem morrermos amanhã de angústia ou de um enfarte…

Poder-se-á dizer que este Passos Coelho não passa de um rapazola que ainda no outro dia andava a namorar uma das Doce e, portanto, não admira que minta, mas… e aquele outro senhor já de idade, muito respeitável, que mandou em Portugal anos e anos seguidos com a ajuda da Pide, da Censura e dos "bufos", que nos mentiu dizendo que as colónias eram províncias ultramarinas, parte integrante do território nacional, como o Alentejo ou o Minho e os jovens negros de uma das quaisquer aldeias da vasta Angola, eram descendentes de Afonso Henriques… também não mentiu?

E depois, foi o que foi: uma guerra inútil, milhares de mortos e estropiados e 500.000 portugueses recambiados à pressa para a terra de origem com uma mão à frente e outra atrás.

Mentira por mentira, convenhamos que esta não se compara com as do Passos Coelho, do Sócrates e de outros que o precederam excepção feita ao Durão Barroso quando afirmou que estávamos de tanga… e era verdade, por isso foi recompensado com a Presidência da Comissão Europeia.

Os portugueses, os melhores de nós vão embora, os outros vão definhar, sinónimo de empobrecer, embalados pelas mentiras que é o que nos resta… 

Episodicamente fomos ricos, com subsídios de Férias, Natal e tudo… agora, apenas o seremos nas mentiras ou nas esperanças que às vezes se confundem com elas.

Em tempos, não muito recuados, na minha juventude, éramos quase todos pobres… muitos de nós até descalços andávamos, e os velhos morriam ignorados ao canto das lareiras pelas aldeias desse país afora, esquecidos pelo estado mas respeitados pela família. Agora, ainda que com alguma pensãozita, morrem sós… a pior maneira de morrer.

A verdade desta sociedade é que nunca foi capaz de produzir políticos, à excepção de um outro, que fossem autênticos líderes no rumo, exemplo e formação a dar aos portugueses porque nós próprios também não fomos capazes de os gerar. Ou eram ditadores que impunham uma ordem que servia a eles e a quem os sustentavam ou eram democratas que espalharam a confusão e a indisciplina.

Temo por Portugal, é o meu país, não o trocava por nenhum outro… É verdade que nasceu de mentiras mas deu provas de sobrevivência durante tantos séculos que só por isso merecia continuar…

Não sei, vendido a chineses, a angolanos e a quem der mais, sem nada que seja dele, a que é que vamos chamar nosso no fim de todas as privatizações?

Reduzidos à língua, ainda por cima com este acordo ortográfico manhoso e à linha de fronteira, servindo turistas ricos, de guardanapo imaculadamente branco pousado no braço, de espinha dobrada, respeitosamente, esperemos que os nossos novos patrões nos paguem os ordenados ao fim do mês… claro, sem subsídios de Férias e de Natal.


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 190

Como haviam chegado a Ilhéus nem Deus sabe. Ali esperavam obter o suficiente para as passagens de navio até à Baía onde podiam associar-se a circo mais próspero. Em Itabuna quase haviam mendigado. O dinheiro para o trem obtiveram-no as três filhas, as duas casadas e a solteira, ainda menor de idade, dançando no cabaré.

Tuísca foi a providência divina: levou o director humilde ao delegado (para obter a isenção do imposto cobrado pela polícia); a seu João Fulgêncio (impressão do programa a crédito; a seu Cortes, do Cine Vitória (empréstimo sem cobrança de aluguel, das velhas cadeiras encostadas desde a remodelação do cinema); ao mal afamado botequim Cachaça Barata, na rua do Sapo (contratar sob seu conselho, mata cachorros entre aqueles malandros), e assumira o papel de criado na peça A Filha do Palhaço (o artista a representá-lo, antes abandonara a carreira e salário, em Itabuna, por um balcão de armazém).

Ficou besta quando mandou eu repetir os que dizeres e repeti tudo direitinho. E isso que não me viu dançar…

Gabriela batia palmas com as mãos ao ouvi-lo contar as peripécias do dia, as notícias do mundo mágico do circo.

Tuísca tu ainda vai ser um artista de verdade. Amanhã estou lá, na primeira fila. Vou convidar dona Arminda – pensava. – E vou falar com seu Nacib pra ele ir também. Ele que bem podia ir, deixar o bar um pouquinho. Pra te ver… Vou bater tanta palma de inchar as mãos.

Mamãe vai ver também. Entra de graça. Pode ser que ela vendo deixe eu ir com eles. Só que esse é um circo tão pobre…Andam ruim de dinheiro. Fazem comida lá mesmo para não gastar com hotel.

Gabriela tinha ideias definitivas sobre circos:

 - Tudo que é circo é bom. Pode tá caindo aos pedaços, é bom. Não há coisa melhor que função de circo. Gosto até de mais. Amanhã tou lá, batendo palma. E vou levar seu Nacib, pode contar.

Naquela noite Nacib chegou muito tarde, o movimento do bar entrara pela madrugada. Em torno do poeta Argileu Palmeira formara-se roda grande, após a sessão dos cinemas.

O eminente vate juntara em casa do Capitão, fizera mais algumas visitas, vendera mais alguns exemplares dos Topázios, estava encantado com Ilhéus. O circo tão miserável, avistado no porto, não era concorrente. A conversa no bar prolongara-se noite adentro, o vate revelava-se valente bebedor, apelidando cachaça de «néctar dos deuses» e de «absinto caboclo». Ari Santos recitara-lhe seus versos, merecera os elogios do eminente:

 - Inspiração profunda. Forma correcta.

Instado, também Josué declamou. Poemas modernistas, para escandalizar o visitante. Não escandalizou:

 - Belíssimo. Não rezo pela cartilha futurista mas aplaudo o talento esteja onde estiver. Que vigor, que imagens!


Josué entregava-se: Argileu, afinal de contas, era um nome conhecido. Tinha bagagem respeitável, livros consagrados. Agradeceu-lhe a opinião, pediu licença para dizer uma das suas últimas produções. No correr da velada, por mais de uma vez, Glória, impaciente, surgira em sua janela a espiar o bar.

(A Sónia Braga tinha 25 anos quando "vestiu" o papel de Gabriela no romance de Jorge Amado. A artista Juliana Paes, que a substitui agora na telenovela que começou ontem na SIC, tem 33 e uma beleza sofisticada, trabalhada, a que falta o brilho, a pureza, a rebeldia, o ar selvagem da cabocla do sertão brasileiro encarnado por Sónia Braga. O episódio da estreia foi um êxito, arrasou a concorrência,  a qualidade, indiscutível. Ainda bem por Jorge Amado, ainda bem por quem não conhecia o romance. Eu não a verei, a minha ligação à Gabriela de há 35 anos atrás não me permite, seria traição... dá para compreender?)

terça-feira, setembro 11, 2012

IMAGEM
Peçam àquele senhor que tire dali as mãos...


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