sábado, maio 09, 2015

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Era penoso, o capim mais alto que nós, a humidade abafava o calor, a noite anterior já tinha sido dormida no mato, os nossos corpos não estavam preparados para aquelas situações, exalavam cheiros estranhos, o ar não se mexia, a água acabava no cantil e a boca secava. Parecia não haver fim para aquelas caminhadas... o espírito de sacrifício e entreajuda dos soldados, especialmente os do norte, eram uma dádiva. Com a ajuda deles consegui terminar algumas daquelas infindáveis operações...


The Carpenters - The House of Rising Sun

O som da música dos anos 60/70. O som poderoso da guitarra e o tom melódico da canção.


Mixórdia de Temáticas - Férias de sonho...


Apagou o fifó, subiu para a rede e se deitou.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 241



















Bastião da Rosa era um rapaz de bem, loiro de olhos azuis, um gringo e tanto, casa posta com farteza. Mas seu homem, aquele que lhe esquentava o sangue e lhe aparecia em sonhos, era o negro Castor Abduim, ferrador de burros, Tição de Apelido.

Ia por vontade própria, levava a trouxa na mão direita, na esquerda o coração.

Ajoelhado, Tição mantinha imóvel a pata da mula Lamiré, calçava-lhe ferradura nova, o martelo suspenso no ar. Edu, aprendiz a seu costado, estendia-lhe os cravos, e o moleque Trabuco, ajudante de tropeiro, admirava-lhe a perícia.

 Diva parou diante dele e lhe sorriu. Castor também sorriu, e se demonstrou surpresa não deu a perceber. Não trocaram palavra: ele baixou o martelo sobre o cravo, a mula nem sentiu.

Festejada por Alma Penada e Oferecida, Diva atravessou a porta, entrou em casa, em sua casa. O fogo crescia na forja, Diva tomou o fifó aceso, iluminou o quarto onde nunca estivera: a esteira no chão, a rede dependurada, num caixote os trapos de vestir. Junto às calças e camisas, as poucas vestes de Tição, arrumou as duas saias, outras tantas anáguas e as blusas, o vestido de chitão, as chinelas.

Apagou o fifó, subiu para a rede e se deitou. Daí em diante, nenhuma outra, fosse ela quem fosse, a ocuparia. Tinha dona.

Deixou-se envolver pelo cheiro de seu homem, riu baixinho o riso desatado do primeiro encontro e sentiu-se em paz: amanhã seriam duas as manchas de sangue, de seu sangue, na florada e suja rede de casal.

O ARRUADO DESFILAM AS PRENHAS NO AFLUXO DE BICHOS E VIVENTES

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Barrigas empinadas, as prenhas desfilavam orgulhosas nos limites de Tocaia Grande: ganhariam meninos quando o verão chegasse no fim da safra. De início apenas Diva e Abigail, filha caçula de José dos Santos; a seguir se incorporaram Isaura, onze meses mais velha do que a irmã, e Dinorá, casada com Jãozé.

Com o advento dos estancianos, o cortejo das grávidas iria quase duplicar, pois três mulheres do clã estavam pejadas, também elas desovariam nas mãos beneméritas de Jacinta Coroca.

Dinorá começara a renascer no dia em que avistaram Tocaia
Grande e Jãozé aflorou-lhe com os dedos de esperança o rosto fatigado e poeirento. Morta-viva, vinha sustentando por milagre a vida no corpo raquítico do enfezado a choramingar em seus braços, certa de que para eles tudo se acabara no dia do juízo final quando foram expulsos da meação em Maroim.

Mas ao avistar o vale pujante e belo e ao sentir a carícia inatendida, a mão calejada e amorosa do homem, pensou que talvez naqueles ermos pudesse voltar ao amanho da terra, à criação de bichos, a sentir vontade, calor nas partes, capaz até de emprenhar: apta de novo para o trabalho e a cama.

MAFALDA




















Mafalda teve a sua primeira menstruação quando estava sozinha em sua casa e não
sabia o que fazer. Foi então que se lembrou de ir até à casa do seu melhor 

amigo, Carlinhos.

Quando chega a sua casa diz:
- Olá Carlinhos, a tua mamã está?
- Não, Mafalda, mas em que posso eu ajudar?
- Não, Carlinhos, não podes ajudar, são coisas de mulheres que nem te posso
contar.
- Mas, diz-me Mafalda, claro que posso ajudar, eu sei tudo sobre mulheres.
- Não, Carlinhos, e a tua irmã está?
- Não, Mafalda, mas conta-me, já te disse que sei tudo sobre mulheres.
- Não, Carlinhos., deixa-me! Não percebes? E a tua empregada, está?
- Não, Mafalda, mas conta-me, quantas vezes preciso de dizer que sei tudo sobre
mulheres.
- Bom... Carlinhos, vou-te contar...
Mafalda levanta a saia e Carlinhos vê que ela estava toda cheia de sangue.
Carlinhos, horrorizado, diz-lhe:
- Mas Mafalda, que fizeste, ARRANCASTE OS TOMATES!!!!!!??????



Eu fazia isto com livro... outros tempos!

A Dependência das máquinas




"









Um dia, a minha mãe e eu conversávamos sobre a vida e a morte, e eu disse-lhe:
 
- Mãe, se um dia eu estiver num estado vegetativo, em que a minha vida dependa unicamente de aparelhos, desligue-os por favor.Com essas máquinas que me mantêm artificialmente com vida! EU PREFIRO MORRER !!!
 
Então vi a minha mãe a levantar-se, olhando-me cheia de admiração ... E puxando decididamente os fios, ela desligou:
 
a tv,
 
o dvd, 
 
o cabo de internet,
 
o computador, 
 
o MP3/4,
 
o playstation, 
 
o wifi, 
 
o fixo ...
 
E ainda me arrancou das mãos:
 
o telemóvel,
 
o tablet
 
o Ipod,
 
. . . QUASE ÍA MORRENDO, PUXA !!!"



Passos Coelho ensaiando pose de Estado
Música Celestial...






















O resultado destas eleições em Inglaterra foi música celestial para os ouvidos do “nosso” Passos Coelho mas fingido, como a maior parte dos políticos, apareceu de imediato na televisão para dizer: “não estou aqui para comentar o resultado das eleições inglesas” mas depois sempre foi dizendo que os ingleses são pessoas inteligentes e premiaram o governo conservador de Cameron com a maioria absoluta por ele ter tido a coragem de impor uma política redentora de austeridade.

Este paralelismo que Passos Coelho pretende estabelecer entre a Inglaterra e Portugal é mais uma das suas desonestidades intelectuais para dar o exemplo do povo inglês aos portugueses de como eles devem também fazer, como se a realidade britânica e a sua sociedade não fossem de alto a baixo diferentes e até antagónicas da portuguesa.

A Inglaterra dispõe de uma moeda própria, de uma praça financeira poderosa, de um mercado de trabalho dinâmico, de uma demografia que é ajudada pela imigração e, mais importante que tudo, uma sociedade civil amiga da liberdade e do risco.

A austeridade levada a cabo por Cameron relançou a economia e colocou a taxa de desemprego nos níveis mais baixos dos últimos 5 anos, 6,9 em vez dos quase 14% da nossa em Portugal com uma economia anémica. 

Defender uma política de empobrecimento para um país já de si pobre, convidar os nossos jovens a emigrarem e os portugueses a “pegarem na enxada” é característico de um político que não passa de um homem vulgar que se apresenta com pose de homem de Estado.

Tem uma atitude belicosa e provocadora para com o seu parceiro de Coligação dando a entender que depois das eleições  ela pode terminar a qualquer momento.

A campanha eleitoral já em marcha com a sua biografia escrita por uma funcionária, procura criar dele a imagem de um homem normal, doce na intimidade, vivendo uma situação dramática com a doença da mulher quando, ele próprio, tinha dito num comunicado que “a doença oncológica da mulher era um assunto que dizia respeito à sua família”. Afinal, não foi...

A sua campanha para as eleições vai continuar e manter-se até ao fim em tons monocórdicos:

-  “O PS é despesista, levou já o Estado a uma situação de banca-rota em 2011 e António Costa vai seguir os passos de Sócrates... e blá-blá-blá-blá e blá-blá-blá-blá”, e os eleitores vão fugir das urnas porque já não podem ouvi-lo a ele e aos outros por arrastamento, e isto até Outubro próximo!

sexta-feira, maio 08, 2015

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O comboio que me viu nascer e estremecia o meu berço quando ao passar abanava o prédio onde nasci, ali no Poço do Bispo, na Lisboa oriental, já vão uns anitos...



Camada de Nervos - Debate Sem merdas


Joe Dassin - A Toi

Nasceu nos E.U. mas é francês. Faleceu por doença com 41 anos. Que mais canções lindas como esta ele nos poderia ter deixado... na sua voz grave e aveludada de barítono.


Vou pra casa de Tição. Vou viver com ele.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 240


















Amigação, palavra feia. Mas, que podia fazer? Pedir a Bastião que esperasse? Até quando? Diva não era a única na idade de homem a se exibir no povoado.

 A mais velha de Zé dos Santos, a zarolha Ricardina, vivia arreganhando as partes para uns e outros, ainda não estava de porta aberta na Baixa dos Sapos de medo do pai que a queria ajudando no roçado.

As mais moças, Isaura e Abigailque bonitonas, andavam as duas de olho no mestre pedreiro, cada qual mais sem-vergonha. Todos sabiam em Tocaia Grande que Bastião da Rosa caiara sala e quarto, cavara cisterna e construíra fogão no sentido de botar mulher em casa e viver com ela.

Pretendentes às pencas: bastaria ele estalar os dedos para que as moças e raparigas acorressem, afanosas. Não estavam em Maroim.

Em Tocaia Grande nem igreja nem padre, como pensar em casamento?

Perdida em tais melancolias, quando Vanjé deu de si Diva tinha sumido. Não carece casar, concordara ela, tirando-lhe um peso de cima do peito: imagine se não aceitasse!

Bastião da Rosa, numa prova de consideração, pedira consentimento a Ambrósio e a Vanjé para no domingo, terminada a feira, levar Diva para casa no Caminho dos Burros. Se fosse em Maroim... Não era. Seja o que Deus quiser. Suspirou ainda uma vez.

As sombras do crepúsculo se adensaram, escurecendo o rio e as plantações: no vale, a noite tombava de repente. Diva desceu os rústicos degraus, um amarrado na mão, veio até Vanjé imóvel no mesmo lugar onde a deixara:

- A bênção, Mãe.

- Onde tu vai? — Para a casa de Bastião, havia de ser.

- Vou embora, Mãe.

- Bastião marcou pra domingo, depois da feira. Não corre pressa.

 - Vou pra casa de Tição. Vou viver com ele.

25

As primeiras estrelas, pálidas no céu de cinza. No descampado as primeiras tropas, os homens cobrindo as cabeças e as cargas com sacos de aniagem. Sob o barrufo, na mão a trouxa com os teréns, Diva atravessou o rio, dirigiu-se para a tenda do ferreiro, oficina e moradia.

Fogão de lenha não tinha com certeza, tinha a forja e um braseiro onde cozinhar o de-comer. Espelho, não sabia.

No amarrado levava o leque de metal, podia nele se mirar, era espelho e retrato, invenção de negro feiticeiro. Sorriu ao pensar...

Ela o quisera e desejara desde que, ao chegar a Tocaia Grande, imunda de poeira e lama, morta de cansaço, nele pusera os olhos: a cara risonha e larga, o torso nu, a pele de porco na cintura, escondendo as partes.

Pensara encontrar um turco, encontrara seu homem. Na rede, noite, o cheiro poderoso - a inhaca, o aroma, a catinga, o perfume - a invadira, corpo e alma, e a fizera mulher: foi dele antes de conhecer-lhe o peso e o gosto da estrovenga.

Uma Boa Noticia!!!














Finalmente, notícia que nos permite sentir algum orgulho...

Um estudo recente conduzido pela Universidade Técnica de Lisboa mostrou que cada português caminha em média 440 km por ano.
Outro estudo feito pela Associação Médica de Coimbra revelou que, em média, um português bebe 26 litros de Vinho por ano.

Conclusão:

Isso significa que o português, em média,
 gasta 5,9 litros aos 100km, ou seja, é económico!

...Afinal, nem tudo está mal, neste País! Já não era sem tempo!

O grande vencedor.
As Eleições Inglesas















Será que os ingleses são imprevisíveis ou as empresas de sondagens em Inglaterra simplesmente incompetentes?

Ontem, o meu Jornal de sempre, dizia-me que os Trabalhistas estavam a um ponto percentual dos Conservadores, um dia antes das eleições, um empate técnico, diziam eles.

Hoje, o meu Jornal, diz que à boca das urnas, as projecções dão 316 deputados para os Conservadores e 239 para os Trabalhistas, uma autentica banhada...

O que é que aconteceu com os ingleses de um dia para o outro? – Dormiram mal? – Tiveram pesadelos? – O futuro assusta-os?

A Inglaterra é um país naturalmente conservador no seu espaço rodeado de água por todos os lados vivendo muito compenetrado nas suas tradições seculares que incluem aquela realeza que a nós, europeus republicanos, nos fazem sorrir por lembrar as histórias dos reis e princesas que as nossas avós nos contavam.

E depois, eles choram, riem, comovem-se se um deles morre ou se aqueles dois casam, sem esquecer os tiros de canhão para assinalar os nascimentos dos príncipes ou das princesas.

Eu era rapazinho quando, em 1957, Isabel II visitou Lisboa. Lembro-me bem... ficou admirada com o branco dos cavalos que puxavam a carruagem que a foi esperar, era então Presidente da República, o General Craveiro Lopes.

-  “E eu a pensar que os meus cavalos eram brancos antes de ver os teus”... terá ela dito, admirada, para o General.

Julgo mesmo que este terá sido um dos momentos altos da visita: o branco dos cavalos.

Mas a sério, para nós portugueses, depois daquela história do Ultimato por causa do Mapa Cor- de- Rosa em África, é muito difícil gostar deles, isto se tivermos memória histórica.

A outra alternativa é tentar compreendê-los na força das suas tradições que os moldaram e fizeram deles por um determinado período da história a maior potência comercial, marítima e militar, aquele país europeu que em qualquer ponto do globo via o sol nascer saudado pela sua bandeira. Gabavam-se e era verdade.

Eu admiro os ingleses nas suas qualidades e detesto-os nos seus defeitos como pertence a um latino.

Vamos esquecer aquele momento triste para Portugal, a 11 de Janeiro de 1890 em que eles ameaçaram bombardear Lisboa se nós não cedêssemos às suas exigências em África. Bebemos, então, até à última gota o cálice da humilhação.

Vingámo-nos, logo de seguida, com o Hino Nacional de Alfredo Keil através do qual “contra os canhões marchámos... marchámos”, mas a verdadeira vingança veio mais tarde, muito mais tarde, em Julho de 2004 quando os eliminámos nos quartos-de-final, no Campeonato Europeu de Futebol, derrotando-os no desempate por grandes penalidades depois do 2-2 do tempo regulamentar com o guarda-redes Ricardo a defender sem luvas o penalti marcado por Ashley Cole e a fazer ele, guarda-redes, o remate da vitória aos 119 minutos para supremo gáudio dos lusitanos.

Bem feito para aprenderem a não fazer ultimatos!

Mas é preciso perceber uma coisa importante, os ingleses não fazem nada por mal... apenas defendem os seus interesses da forma que julgam mais inteligente, mas nem sempre ganharam. Por exemplo, perderam a colónia que tinham na América do Norte mas foram os grandes responsáveis “dando o peito às balas” na luta contra a Alemanha nazi, com “sangue, suor e lágrimas” como disse Winston Churchill que perdeu estas mesmas eleições para os Conservadores depois de ter dado a vitória à Inglaterra na II G.G. Mundial.

Talvez os ingleses sejam mesmo imprevisíveis e o mal não esteja nas empresas de sondagens...


quinta-feira, maio 07, 2015

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Uma brasileira viveu experiência de se cobrir por uma semana com uma burca para projecto. Ela ouviu ditos de vária espécie entre referências a explosão, chibatadas e Estado Islâmico.  Durante uma semana, a estilista Cristiana Ventura, de 30 anos, chamou a atenção por onde passava – mas não pelo cabelo loiro platinado ou pelas roupas e acessórios chamativas que costuma usar. Nos últimos sete dias, ela andou por São Paulo toda coberta por uma roupa que lembra um traje usado por muçulmanas e só deixa à mostra os pés e os olhos. A experiência é parte do projecto de um amigo dela, o fotógrafo Richard Hodara, chamado “Euxperimento”. “Quis criar algo que faça as pessoas pararem para pensar no dia a dia, que mostrasse os preconceitos e lide com temas polémicos”, diz ele. No primeiro "desafio", um amigo de Richard saiu pela cidade vestido inteiramente de cor-de-rosa. No segundo, uma jovem passou dez dias ajudando as pessoas.









Mixórdia de temáticas - Ah, ha, ha, Matar o Luís


DULCE PONTES - LÁGRIMA

(Letra de Amália Rodrigues)


 É Já Culação












Não, não tem origem no latim, grego ou árabe, como muitas palavras portuguesas.
Aqui vai uma pérola da cultura oriental, mais propriamente chinesa.
 
A origem da nobre palavra “ejaculação” é, de facto, chinesa e tem origem numa remota lenda chinesa que assim professa:

- Um dia, ou melhor, uma noite, um casal chinoca entretinha-se no libidinoso prazer do sexo quando ela, já estafada do esforçado exercício coital, lhe pergunta:

- Amôle...falta muito pala tu viles?

Solícito, ele responde:

- É já, culação!

Bastião é um moço direito
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)





Episódio Nº 239
















Pararam diante do casebre fincado sobre estacas, o chiqueiro embaixo, os porcos fuçando restos de jaca e fruta-pão. Vanjé olhavaem silêncio como se estivesse rememorando e refletindo, esquecida da pergunta. De cima chegou o choro do menino de Lia e Agnaldo. Decidiu-se:

- A gente não pode arresolver as coisas aqui do mesmo jeito que se morasse em Maroim. Lá, todo domingo nós tava na Igreja ouvindo missa e sermão do padre. Se um caradura viesse falar de viver com minha filha sem casar com ela, sem as alianças, nem sei o que ia lhe arresponder, coisa boa não houvera de ser. Já pensou? Jãozé e Agnaldo se casaram, imagina tu que é mulher.

Abriu os braços para reforçar o pensamento:

- Mas aqui quem é que se casa? Nem padre tem, nem capela onde se rezar. Em vez, tem terra de abastança, nós tá de grande. Não é que nem lá que nós labutava em terra alheia.

Nós tem se dado bem aqui, o lugar é atrasado mas é mais melhor que lá.

Buscava ser objetiva, ver as coisas como elas eram. Resignada, fitou a filha moça, mulher de quinze anos, na idade de casar ou de amigar. Se demorasse, acabaria na vida, mulher-dama.

 Estivessem em Maroim, iria prevenir o padre, marcar a data. Mas estavam em Tocaia Grande, neres de padre, neres de igreja, neres de neres. Melhor amigada do que fretando homem na Baixa dos Sapos, coitadinha.

- Bastião quer se juntar com tu. Me deu sua palavra que quando tiver santa missão em Taquaras, ocês se casam, que eu posso ficar descansada. Na casa dele tem de um tudo, não falta nada. Cama de ferro das grandes, de casal, comprou em Itabuna.

Espelho na parede. - Repetiu a fim de convencê-la e convencer-se:

- Bastião é um moço direito.

Diva baixou os olhos, sorriu pelos cantos da boca:

- Casar? Carece não, Mãe.

Vanjé suspirou: surpreendida ou aliviada? A vista posta no
barraco onde viviam amontoados uns sobre os outros, iguais aos bichos no chiqueiro. Não terminara de contar: Bastião prometera que logo depois de terminado o pontilhão, iria levantar uma casa nova para eles: um bom rapaz, seu Bastião da Rosa.

Ai, por que Deus não despachava uma Santa Missão direta
 para Taquaras? No soflagrante: a Deus Todo-Poderoso não custava nada, era só querer. Mas Deus tinha mais em que pensar, ocupado com o reino dos céus e os maiorais do mundo, não podia perder tempo com bobagens de uma velha broca.

Ao contrário do Deus de Fadul, o bom Senhor dos maronitas, patrício e íntimo, prestativo, o Deus de Vanjé era o Padre Eterno, o Ente Supremo, o Rei dos Reis, altíssimo e remoto.

Vá-se lá saber quando desembarcariam frades na estação de Taquaras, de cruz em punho, para combater o pecado, distribuir penitências, batizar meninos, casar amancebados.

Vanjé suspirou de novo.

Jorge Xavier, hoje Secretário de Estado da Cultura.
A maravilhosa

história


do Quim















Quim andava toda a semana na rua com um horário que começava com o nascer do sol e caía com o dia.

Quim era um pobre diabo que tinha um atestado médico que certificava que ele era mesmo um pobre diabo. Andava com um saco de plástico na mão direita e com o atestado na esquerda.

É que Quim queria ir para um manicómio em Lisboa mas não tinha dinheiro para a passagem. Por isso andava nas suas calças e casaco de ano e meio no meio daquele mês de Maio à beira dos acontecimentos, à saída dos cafés, das igrejas, das fábricas a reunir a “massa”.

Naquele dia, Quim estava à porta do café exibindo o atestado em que atestavam que ele era um pobre diabo. A gente passava aos magotes. Eram mulheres de preto,, os jovens coloridos, as senhoras de peles, os velhos decrépitos, as mamãs recentes, os rapazes de gravata.

Quim mostrava o atestado deambulando pela multidão, murmurando, de vez em quando, algumas parcas palavras. As pessoas olhavam para ele e depois de um exame breve achavam a cena ridícula.

Atestado numa mão, saco de plástico na outra, isso era pobre que se apresentasse? E se apressavam a continuar a conversa.

O sol estava bonito. Era uma fria manhã de Novembro. Nas frias pedras do passeio os pés dos transeuntes batiam com força para afastar o frio. Quando Quim se aproximava os pés batiam com muito mais força.

Os olhos gastos do Quim já não choravam. Queria ir para um manicómio em Lisboa e não o deixavam ir.

Sem dinheiro, sem nada, Quim meteu-se a caminho da estação. O comboio demorou a chegar. Quim não quis deixar escapar a oportunidade. Saltou para o meio da linha e apresentou o atestado na mão esquerda e o saco de plástico na direita.

O comboio não quis saber. Com tinir de aço afastou Quim do caminho de Lisboa.


Jorge Xavier  (17 anos, escrito em 1983 – Hoje é Secretário de Estado da Cultura)

sms, carta ou terão sido sinais de fumo?...

Os Episódios



na Política

 















Quando no Verão de 2013 Paulo Portas informou Passos Coelho que tinha tomado a decisão irrevogável de se demitir e pôr ponto final na Coligação não se tratava de nenhum episódio da cena política.


Pelo contrário, era uma decisão importante e de grandes consequências para os portugueses contabilizada, de resto, em muitos milhões de euros por causa da repercussão que teve no agravamento da taxa de juros num mercado financeiro muito sensível, tudo agravado pela demissão do Ministro Victor Gaspar que desencadeia o processo.


Episódico é saber agora se Portas informou o 1º Ministro da sua decisão por sms, segundo diz Passos Coelho, ou por carta de acordo com o que diz Portas.


Por carta ou sms, tornou-se num episódio da política porque o veículo da informação tem o seu valor. Assim, o sms é para recados, não demonstra respeito pelo destinatário, enquanto que a carta é um documento com prestígio.


Na volta, Passos Coelho, também no veículo dos recados, informa Portas por sms que tinha nomeado Maria Luís para Ministra das Finanças.


Portas e Passos não se gostam, são muito diferentes e por mais que o primeiro sorria e o segundo mostre os alvos dentes, é perceptível que há uma tensão entre estes dois homens em vez de coesão.


Do ponto de vista ideológico estão a léguas. Portas é um democrata-cristão, privilegia a pessoa humana e a família enquanto que Passos é um liberal, preocupa-se com as empresas e os mercados, isto grosso modo.


Esta “guerrinha” de sms e cartas traduz um desejo de afirmação recíproco em que cada um quer impor-se ao outro pelo que não é inocente e tão episódico como parece à primeira vista.


Não é, de certo, coisa de garotos mas de homens que no fundo se detestam e que só continuam em Coligação para não entregarem o poder de mão - beijada ao Partido Socialista.


Eu não sei se os portugueses seguem estas lutas surdas entre os chefes, desmentidas a pés juntos por outros líderes partidários que falam em coesão. 


Provavelmente, estão mais interessados nos enredos das telenovelas ou preocupados em contar “tostões” para decidirem se compram comida ou remédios.


O que resta da classe média que não está, desde já, cativa de qualquer um dos dois campos, só pode olhar estes episódios de forma preocupada porque se traduzem em insegurança no futuro já que mostra a fragilidade da Coligação e se no Verão de 2013 houve uma decisão irrevogável de Paulo Portas que, afinal, foi revogada, o que nos espera será instabilidade política.


Infelizmente, a última maioria absoluta do PS com Sócrates, que depois passou a minoria e acabou mal, ensombra o eleitorado de esquerda ou centro esquerda mas que no nosso país se aguenta razoavelmente sem se esfrangalhar em partidos de protesto como acontece na vizinha Espanha, França, Grécia e, também é verdade, que entre Costa e Sócrates vão abismos de diferenças embora ambos do mesmo partido.


Passos Coelho, teimoso e sobranceiro está, com estes episódios a dar trunfos a António Costa que, por sua vez, se desdobra junto da sociedade civil portuguesa tentando ganhar a confiança para si e para o seu projecto.


Tem já um Documento para a Década que foi bem pensado e está agora a ser digerido pelos membros mais influentes do partido que irão transformá-lo no Programa de Governo com alterações, já foi dito, quais logo se verão mas deve andar tudo à volta, mais uma vez, da famigerada Taxa de Desconto para a Segurança Social que eu, pessoalmente, gostaria muito que a deixassem como está e sempre esteve.


Comecei a minha actividade profissional em 1968, exactamente pela Segurança Social como Chefe da Secção de Contribuintes e Contencioso da Caixa de Previdência de Santarém, era assim que se chamava, pelo que os descontos para a Segurança Social constituíam precisamente o meu trabalho.


Não por isso, é evidente, considero a Segurança Social um pilar da sociedade e as suas receitas tão objecto do “sagrado” como os impostos.


Por alguma razão, ao longo dos anos, ninguém na Europa lhes mexeu excepção feita, recentemente à Suécia, o que significa o consenso existente sobre a importância destas receitas.


Tenho esperança que o Programa do PS também não lhes mexa. Ontem, no seu programa semanal, Bagão Félix, perito em contas, mostrou o rombo de milhares de milhões que essa mexida poderia representar num futuro próximo.

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