sábado, julho 24, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 181



Finalmente ia transpor o duro tempo, a negra noite, o deserto de luto e solidão: outra vez em cavalgada partiria a vadiar.

Sentou-se doutor Teodoro na ponta do sofá e foi o silêncio, a espera, minuto solene, inesquecível e muito incómodo. O farmacêutico percorreu com os olhos a sala cheia, dona Norma sorriu a animá-lo. Então, pondo-se novamente de pé e dirigindo-se a dona Flor e aos tios disse como ficaria feliz “se ela quisesse lhe fazer a mercê de aceitá-lo como noivo, futuro esposo em breve prazo, dispondo-se a ser sua companheira na estrada da vida, estrada pedregosa, feita de obstáculos e tropeços, a transformar-se, no entanto em paraíso se ele contasse com seu apoio e bálsamo…”

Arenga de orador, digna de bacharel ou de político, faceta inédita de doutor Teodoro essa retórica; “que homem mais completo de virtudes”, pensou dona Maria do Carmo, de todos os presentes quem menos tratara com o pretendente. Enquanto isso ele prosseguiu, afirmando já sentir-se nos umbrais do paraíso pelo facto de ver-se ali, entre os tios e os amigos mais dilectos de quem era o motivo da sua vida; lástima não estivessem presentes a irmã e o irmão, a cunhada e o cunhado, e sobretudo a dedicada e veneranda velhinha, a santa mãe de dona Flor…

Tão imprevista citação de dona Rozilda quase engasga dona Amélia, um frouxo de riso na garganta: “espere e já verá a santidade da velhinha…” a mão tapando a boca, desviando os olhos para não fitar dona Norma ou dona Êmina.

Doutor Teodoro, em resumo, desejava, em presença de tantas testemunhas de alta valia, solicitar a mão de dona Flor, sua mão de esposa. Tão lindamente disse que dona Norma não se conteve, bateu palmas ante a indignação de seu Sampaio: onde já se viu aplausos em momentos assim, quando se impõe a mais discreta compostura? Mas dona Flor pôs tudo em ordem e em harmonia levantando-se ela também, estendendo a mão e a face ao pretendente dando-lhe o sim:

- Eu também me desejo casar consigo…

Ele apenas aflorou a face da noiva, e logo foi uma confusão de abraços, de felicitações e parabéns, beijos das mulheres e o sereno indócil invadindo a casa, doutor Teodoro a ouvir repreensões:

- seu enganador, santo de pau oco…

Farta mesa de doces e salgados atiraram-se indómitas as comadres. Marilda e a empregada serviam licores feitos em casa: de ovos, de violetas, de groselha, de umbu, de araçá, cuja gostusura levou o farmacêutico a risonho engano:

- Ah!, esses licores são excelentes. São feitos pelas freiras do convento da Lapa, não é?

Porque o paladar lhe soubera conhecido, degustados em casa também acolhedora, assim confortável de calor humano. Riram, porém, de sua certeza e mesmo como hipótese não a quiseram aceitar, considerando-a quase um insulto: não tinha ele por acaso notícia dos dons de dona Flor? Não apenas cozinheira insuperável, doceira sem rival, mas também mestra em licores; os das freiras da Lapa, do Desterro ou dos Perdões, eram xaropes, xaropes de farmácia, seu doutor, não podiam comparar-se aos de sua noiva, nem de longe…

Dos licores não sabia; confuso, em autocrítica e penitência, dava a mão à palmatória; sabia, sim, da fama régia da cozinha, não sendo dona Flor professora de temperos por acaso e, sim, por competente, por verdadeira artista. Nunca lhe fora antes dado provar essas delícias,
infelizmente; mas chegara o tempo da desforra. Ia engordar muito, com certeza.

CANÇÕES ANGLO - SAXÓNICAS

BONNIE TYLER - IT'S A HEARTCHE
esta voz... ah! esta voz... (já com mais de 30 anos de carreira) o que terá ela feito àquelas cordas vocais... é uma canção romântica, linda como os amores...

CANÇÕES BRASILEIRAS

WANDERLÉA - PROVA DE FOGO

cantora e actriz, nasceu em 1946 e fez grande sucesso com seus amigos Roberto
Carlos e Erasmo Carlos, autor desta canção.


sexta-feira, julho 23, 2010

CANÇÕES PORTUGUESAS

AMÀLIA RODRIGUES - MALHÂO DE SÃO SIMÃO
a música do foclore parece fazer sobressair ainda mais a voz de Amália... como se ela, a voz, estivesse com a sua gente... uma espécie de encontro ou reencontro.

CANÇÕES ITALIANAS

LEO SARDO - QUESTA SERA COME SEMPRE
...quase 45 anos passaram... e como continua bonita esta canção... nem lhe falta aquele som doce e sonhador da guitarra havaiana.


ENTREVISTAS


FICCIONADAS


COM JESUS CRISTO


Entrevista Nº 45




TEMA – ENDEMONIADOS



Raquel – Emissoras Latinas cobrindo em exclusivo a 2ª vinda de Jesus Cristo à terra. Os nossos microfones encontram-se agora muito próximos da Mesquita de El Agsa com sua belíssima cúpula de prata.

Jesus – Antes, era aqui que estavam as cavalariças do famoso rei Salomão.

Raquel – Pois, prossigamos falando de outro rei mais famoso, o Príncipe das Trevas.

Jesus – O Príncipe das Trevas!

Raquel – O senhor ri-se do diabo, mas nos catecismos, nos livros de Teologia, nas orações, sempre aparece Lucífer. O senhor nega a sua existência mas negá-lo equivale à excomunhão. Não o preocupa?

Jesus – Não, Raquel, já fui excomungado por contradizer muitas das crenças da minha religião. Os sacerdotes do meu tempo expulsaram-me da Sinagoga.

Raquel – Jesus Cristo excomungado, uma afirmação que surpreenderá a nossa audiência, como aquela que nos fez na anterior entrevista: o senhor, Jesus Cristo, atreveu-se a negar a existência do diabo. Mantém a sua posição?

Jesus – Sim, mantenho-a.

Raquel – Um ouvinte escandalizado enviou-me este correio electrónico: “como é que ele diz agora que não existe se ele mesmo arremessava demónios?”

Jesus – Esse amigo tem razão ao fazer essa pergunta.

Raquel – Eu confirmei os factos. Uma vez em Gerasa o senhor tirou de um homem não um, mas uma legião de demónios. Eram tantos que se meteram numa vara de porcos e logo se atiraram ao mar por um precipício… Recorda-se?

Jesus – Eu explico-te, Raquel. Os meus conterrâneos não sabiam de doenças. Pensavam que era o diabo que atava a língua aos mudos e fechava os ouvidos aos surdos, e haviam ainda coisas piores. Quando um homem caía, estrebuchava, e deitava espuma pela boca pensávamos que era mesmo o demónio que havia metido no corpo…

Raquel – Um ataque de epilepsia…

Jesus – Com os loucos era o mesmo. Acreditávamos que estavam possuídos por espíritos imundos…

Raquel – E o que faziam com eles?

Jesus – Tiravam-nos de suas casas, escondiam-nos, amarravam-nos. Recordo esse infeliz de Gerasa. Tinham-no amarrado com correntes e vivia num cemitério, sem comer… Se não estava completamente louco acabaram por enlouquecê-lo.

Raquel – E o senhor pôde fazer alguma coisa por ele?

Jesus – Tranquilizá-lo. Pedro e Santiago tiraram-lhe as correntes. Eu falei com ele, não havia outros demónios para além dos vizinhos. Tinham-no amarrado como a um animal…

Raquel – Então não lhe tirou nenhum demónio?

Jesus – Não podia tirar aquilo que não tinha entrado.

Raquel – Conclusão. Os demónios não entram nos nossos corpos?

Jesus – Não, porque não existem.

Raquel – E a vara de porcos atirando-se ao mar?

Jesus – Isso deve ter sido acrescentado mais tarde pelos gerasenos ou galarenos dos quais Mateus dizia que eram muito violentos e possuídos pelo demónio… eles eram exagerados e muito supersticiosos. São coisas do passado, por não saberem nada de medicina.

Raquel – Não creio que sejam tanto assim do passado porque todos os dias sai um filme novo sobre os possessos do diabo. O senhor não viu o Exorcista?

Jesus – Não, perdi-o…

Raquel – É um filme terrível de uma menina possuída pelo demónio.

Jesus – Há muitos demónios que possuem meninas mas são de carne e osso. Esses deviam arder no vale de Gehenna.

Raquel – E tanta gente que viu o diabo, os cultos satânicos, os exorcismos! No Vaticano há escolas de exorcistas, sabia-lo?

Jesus – Histórias de samaritanos.

Raquel – Então, podemos dormir tranquilos, os demónios não andam à solta.

Jesus – Se Deus nos ama como uma mãe ama seus filhos, acreditar como acreditar que vai deixar soltos pelo mundo espíritos malvados para fazerem mal às pessoas?

Raquel – Um momento, que temos uma chamada… Sim, alô? É o mesmo do outro dia…

Homem – Diga a esse falso profeta que a senhora está a entrevistar que o melhor truque do diabo é fazer-nos crer que ele não existe. Diga-lhe isso.

Raquel – Que lhe parece esta opinião, Jesus Cristo?

Jesus – Eu acredito no contrário. O melhor truque é exactamente o oposto, fazer crer que ele existe.

Raquel – Por que diz isso?

Jesus – Porque o diabo é um negócio.

Raquel – Como um negócio?

Jesus – Sim, falar do diabo e pregar o diabo tem sido sempre um grande negócio. Mas disso falaremos amanhã, que te parece?

Raquel – O senhor manda. Senão manda sobre os demónios manda sobre os jornalistas. Raquel Perez, Emissoras Latinas, Jerusalém.



NOTA


O Endemoniado de Gerasa – Gerasa era uma cidade situada na margem oriental do lago da Galileia. Fazia parte da chamada Décapolis, ou Liga das Dez Cidades, um território de costumes gregos habitado quase exclusivamente por estrangeiros. Por isso, os israelitas consideravam-na terra de gentios. O relato do endemoniado curado aí por Jesus aparece nos três evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas). É uma narração baseada numa lenda oral que posteriormente se transformou em assunto de catequese.

Endemoniados eram Enfermos – Nos tempos de Jesus desconhecia-se a origem da maioria das doenças. Todas as que hoje já sabemos que têm origem psíquica ou neurológica – epilepsia, convulsões, loucura, diversos transtornos mentais – para além da surdez e a mudez, eram consideradas consequência da presença do demónio nos corpos, sinal de posse diabólica.


Os Endemoniados de Hoje – Uma grande quantidade de filmes: “A Semente do Diabo” de Roman Polanski, 1968; “A Profecia” de Richard Donner, 1976; e especialmente “O Exorcista”de William Friedklin, de 1973, de todos os filmes de terror o mais popular dos anos 70 que deu a lugar a saga do Exorcista 2,3,4,5,6… Todos eles contribuíram para popularizar o tema das possessões diabólicas e, seguramente, propiciaram o aparecimento de casos que requeriam a intervenção de exorcistas.

Respondendo a estes casos mediáticos, a Academia Pontifícia do Vaticano oferece, desde o início do ano de 2000 um curso especial para Sacerdotes que queiram aprender a lidar com o diabo, graduando-se em Exorcistas. São preparados nos aspectos bíblicos, teológicos, históricos e legais do satanismo. Os Legionários de Cristo – uma das congregações mais conservadoras do catolicismo, fundada por Marcel Maciel, um sacerdote pedófilo – são os responsáveis por esta Academia. Nas faculdades de teologia católicas que seguem o pensamento oficial do Vaticano, como a Universidade de Navarra, em Espanha, existe a especialidade de Demoniologia.


Como Tirar Demónios – Segundo o Ritual Romano do Papa Paulo V (1614), vigente durante séculos, os três sinais claros de possessão diabólica são: poder falar em línguas estranhas, poder informar sobre acontecimentos secretos e o poder de desenvolver uma força física sobre-humana.

Em 1999, o Vaticano actualizou o seu ritual exorcista. Começa com rezas, uma bênção e salpiques de água benta. A fórmula para exorcizar começa assim: “Ordeno-te a ti, Satanás”… e termina com a ordem:…”Vai-te Satanás”.


Os Nossos Demónios – A palavra “demónio” (“daimon” em grego) que significa literalmente “desgarrado” (separado de um todo de que faz parte). Uma visão sociológica deste conceito entende os demónios como a sombra da nossa própria consciência, aquilo que se conhece como “componentes neuróticos” da personalidade, a face oculta da nossa psique. Se recusarmos essas “sombras” elas perseguir-nos-ão e terminaremos atribuindo-as a um ser malvado e exterior a nós próprios, por exemplo: um “demónio” ou o “diabo”, aquilo que, afinal, são as nossas próprias debilidades, limitações, os nossos lados obscuros.

Há que aprender a lidar com os nossos “demónios”. Quanto mais os negarmos e combatermos mais poder eles terão sobre nós. Um mestre budista dizia: “a tua raiva, amigo, faz parte de ti próprio, é a tua energia vital. Não cortes o dedo quando ele te dói”.

Quanto menos aceitarmos as nossas sombras, menos as conheceremos e projectá-la-emos nos outros: nos de outra raça, de outra cultura, nos homossexuais, nos emigrantes, nas mulheres… assim “endemoniaremos” os nossos semelhantes… serão sempre os outros os responsáveis, os culpados.

Nestes “demónios”, nos nossos, sim, podemos acreditar. Agora, acreditar em demónios sobrenaturais que entram nos nossos corpos e nas nossas vidas, que circulam pelo mundo para nos “danarem” é crença anti-cristã, contraria o Deus de que falou Jesus Cristo. Para os que não são crentes a questão nem se põe: ofende a razão, o bom senso, a seriedade intelectual e os conhecimentos da ciência médica dos nossos dias.


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 180


Vai-se ver talvez nem desse, fosse séria de verdade… o que afinal era um consolo, concluía melancólico seu Sampaio, encerrando também a conferência.

No dia seguinte, contrariando mais uma vez ses hábitos, demorou-se seu Sampaio a sair para a loja de sapatos: fazia hora para encontrar doutor Teodoro na drogaria, desobrigando-se logo da prebenda.

Foi conversa cordial se bem de início seu tanto difícil, cheia de dedos e de reticências, seu Sampaio sem saber como introduzir o assunto, doutor Teodoro estreante naqueles embelecos. Entenderam-se, porém, em mútua boa vontade: o lojista pleno de simpatia pela causa, o farmacêutico disposto a qualquer acordo desde que nele se incluísse o casamento com a viúva, numa paixão definitiva de homem maduro.

Deu-se o encontro no laboratório, nos fundos da botica, em aparência ao abrigo de olhares e ouvidos indiscretos. Em aparência apenas, pois mesmo naquela hora matinal dona Dinorá, em permanente vigilância, observou a cautelosa abordagem de seu Sampaio, sua demora suspeita no recesso do laboratório (nem tratamento de sífilis tardava tanto), e meteu a cara a pretexto de sua injecção contra o reumatismo (em verdade só devia tomá-la no dia seguinte e no horário vespertino).

O susto dos conspiradores ao ver a face da insolente seria confissão bastante, não tivesse ela ouvido pedaço da conversa, assertiva reveladora do comerciante em calçados:

- É o caso, meu caro doutor, de parabéns às duas partes, ao senhor e a ela… Ambos merecedores…

Logo esteve a notícia em todas as bocas, circulando nas ruas em redor, dona Flor recebendo felicitações mesmo antes de saber do sucesso da missão com tanto brilho levada a cabo por seu Zé Sampaio (aliás escolhido para padrinho no ato religioso em agradecimento).

Na noite de sábado, na expectativa do encontro do pretendente com a viúva, reuniu-se pequeno e animado sereno ante a casa de dona Flor; as comadres postaram-se desavergonhadas no passeio do argentino, brechando a sala de visitas da escola de culinária.

Dona Flor aguardava sorridente e calma a visita excitante; encontrando-se, como devido, cercada por seus parentes próximos, no caso os tios e por seus amigos mais íntimos (inclusivé dona Dinorá, que ameaçara guerra sem quartel, senão fosse convidada, três ou quatro casais, dona Maria do Carmo e a moça Marilda (tão nervosa como se fosse o pedido da sua mão) e, na melhor cadeira, o doutor Luís Henrique, personalidade da administração pública e das letras pátrias, amigo da família, uma espécie de parente rico. Lá fora o sereno crescia em gente e em saliência.

Doutor Teodoro surgiu na hora exacta, na precisão de seu cronómetro suíço, numa lordeza que só vendo, flor à botoeira, um figurão esplêndido, a estremecer todas as comadres. Recebido com certa cerimónia por tia Lita, após cumprimentar todos os presentes, dirigiu-se ao lugar que, segundo rígido protocolo, lhe designaram: no sofá, ao lado de dona Flor.

Dona Flor resplandecia num vestido novo, formosa e simples em rubor e pudicícia, toda de cobre e ouro. Ninguém poderia adivinhar, vendo-a tão tranquila, de ânimo tão seguro, como por dentro estava morta de agonia, opressa em aflição, como crescera sua ânsia naqueles dias de esperança e dúvida.

quinta-feira, julho 22, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 179


- Término imediato àquelas demonstrações públicas, assanhamento grotesco, pouco condizente com qualquer dos dois interessados, passando-se a noivado discreto, precedido de um encontro com os tios de dona flor onde se oficializasse o compromisso.

Assim feito, poderia doutor Teodoro frequentar a casa da prometida três vezes por semana, às quartas, aos sábados e aos Domingos. Às quartas e aos sábados chegado o jantar e permanecendo até às dez da noite; encontros esses, é evidente, sempre na presença de terceiros para não se poder arguir o menor rumor contra a respeitabilidade da viúva. Aos Domingos, o regime era mais brando, começando com almoço no Rio Vermelho, em casa dos tios, terminando com o cinema, em companhia dos Sampaios ou dos Ruas.

Não se deve encerrar a acta dessa memorável reunião sem nela inscrever-se o desagrado e o desacordo de dona Gisa para com tais limitações. Discordara com ênfase da maior parte das exigências tão ridículas e tolas, em sua opinião carrancismos da Idade Média, feudais e tristes. Mas o próprio Zé Sampaio, homem experiente, as entendia necessárias para precaver-se sem mácula o bom nome da vizinha.

Tudo indicando ser doutor Teodoro homem de honra – o comportamento anterior e os termos altaneiros da sua carta – ainda assim deviam garantir a viúva contra qualquer abuso. Imagine-se o boticário, após meter-se dia e noite em casa indefesa de dona Flor, após exibi-la para cima e para baixo em passeios e excursões, por aí além, ninguém sabe onde, os dois sozinhos, imagine-se o patife dando o fora de repente, como tantas vezes sucedera em casos idênticos; onde iriam parar a honra e o límpido conceito da vizinha? De viúva exemplar pela seriedade e compostura, passaria dona Flor a penico de defunto, onde qualquer um chega, faz pipi e vai-se embora. Podia dona Gisa, em sua sapiência, até rir desses costumes, mas ele José Sampaio, zeloso da saúde moral de dona Flor, era de opinião que…

Idade Média, feudalismo, Santa Inquisição – onde já se viu mulher de trinta anos, viúva, dona de seu nariz, dona de seu dinheiro ganho em trabalho idóneo, necessitar de testemunha ao receber visita do noivo, cavalheiro já adiante dos quarenta? Só no Brasil era possível este atraso… Nos Estados Unidos, seria o riso universal…

Seu Sampaio ouviu a gringa em silêncio, a fitá-la, dando-lhe razão no mais recôndito do seu pensamento: uma besteira e das maiores de todas essas precauções e testemunhas, afinal quem dá o que é seu, dá a quem quer e a quem melhor lhe parecer… E que bom seria se a gringa, tão cheia de farofa e futurismos, se resolvesse a dar-lhe um pouquinho para pôr em prática suas teses, seu desprezo põe essas convenções, por essas ninharias… Mas, que nada! Tanta palavra e indignação, tanta ciência e tantas letras, e era um rochedo; pelo menos até prova em contrário. Se dava era em sigilo e que sigilo mais absoluto! Ninguém, nem mesmo dona Dinorá, jamais tirara qualquer suspeita a limpo, jamais um facto, sequer um pretendente comprovado. Muito falatório, sim, mas tudo em vão, tudo se dissolvendo em coisa alguma. A gringa sorridente, feliz da vida, com todos os sintomas físicos e morais de pança farta, de bem-servida, e as comadres no
maior alvéu, sem descobrir bilosca por mais que fuçassem.

quarta-feira, julho 21, 2010

VÍDEO

Perseguição...

CANÇÕES FRANCESAS

EDIPH PIAF - MILORD
(1915-1963) Uma mulher de personalidade marcante cujo talento incomparável atravessou décadas e será eternamente recordada como uma das grandes vozes do século. A sua vida desafia a imaginação de um bom escritor...

CANÇÕES PORTUGUESAS

TONI DE MATOS - PROCURO E NÂO TE ENCONTRO
(1924-1989) Durante meia dúzia de anos foi ele quem mais discos vendeu em Portugal mas não tinha nenhum deles... Dizia Carlos do Carmo a quando do seu falecimento: "representava esse tipo de de cantor latino, autêntico, sincero, espontâneo". A sua última companheira foi a fadista Lídia Ribeiro, mãe de Teresa Guilherme.

CANÇÕES BRASILEIRAS

GAL COSTA - MODINHA DE GABRIELA
a melhor telenovela...tão boa que não voltei a ver mais nenhuma depois dela ... excepto quando a repetiram. É como aqueles amores que de tão bons se prefere viver na saudade deles que experimentar outro novo... esta belíisima canção de Dorival Caymi (de quem havia de ser...) na voz única da Gal Costa completa a saudade... espero que tenham gostado, nem que seja um pouco do muito que eu gostei... e já passaram 35 anos!


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

EPISÓDIO Nº 178


Possuindo dona Flor amarga experiência – dissera seu Sampaio, embaixador plenipotenciário – não se dispunha a passo tão sério sem amplas garantias de sucesso.

Passo tão sério: nem mesmo dona Norma, com toda sua disposição e não menor capacidade, se animou a sozinha aconselhar a amiga sobre o teor da resposta às folhas azul e ouro, recendendo a perfume de sândalo e a paixão. Para ela, íntima e fraterna de dona Flor, a par de seus segredos, de sua necessitada condição de jovem fêmea presa nas grades da viuvez, não havia dúvidas: aquele casamento era a boa solução para todos os problemas da amiga. Mas a resposta à ardente e cortês declaração não podia resumir-se a uma palavra: “aceito”. E depois?

Necessário aproveitar a ocasião para botar tudo em pratos limpos, definindo-se atitudes, termos e prazos, de tal forma não caísse dona flor na boca-do-mundo, nem se prolongasse tão pouco a ridícula situação em que se atolara o inexperiente farmacêutico, homem de condição e respeito, de súbito promovido a palhaço e a motivo de galhofa pelas comadres a seguirem-no rua fora, a contarem seus olhares e suspiros, a se divertirem às suas custas.

Eis por que dona Norma convocou não só dona Gisa, letrada e sabichona, amiga do peito, como também quis ouvir seu Zé Sampaio e nele se apoiar. Pensara de começo em tia Lita e tio Porto, encontrando-se em Nazaré das farinhas ou no Rio a mãe e os demais parentes de dona flor. Mas convieram, ela e a viúva, na inutilidade da presença dos bons velhos, nos debates preliminares do caso. Se chegassem ao momento solene do noivado, aí sim, convocariam tia Lita em seu jardim, tio Porto em suas paisagens coloridas para ouvirem do pretendente as intenções e o pedido.

Noite atrapalhada: para garantir a reunião teve dona Norma de obter que dona Amélia a substituísse à cabeceira de uma prima sua, em quinto ou sexto grau, recém parida:

- Essa Norminha não tinha nada de se oferecer de acompanhante, a moça cheia de parentes… Se ofereceu de enxerida, mulher mais espoleta… - reclamava dona Amélia no caminho do hospital a contragosto.

Também dona Gisa desfez um compromisso: reunião musical em casa de uns amigos alemães onde, à meia sombra, ouviam discos de Beethoven e Wagner, em devoto silêncio, chorupitando uma bebidinha. Quanto a seu Sampaio veio de má vontade, a pulso: não era de seus hábitos envolver-se na vida alheia, muito menos com palpites em assunto tão pessoal quanto casamento. Em se tratando, porém, de dona Flor, criatura de sua real estima, viúva e honrada – e um peixão, uma uva!, seu Sampaio não podia conter o pensamento safardana - , decidiu-se a sair de seus lazeres e princípios para servi-la.

Com nova leitura de carta, feita em voz alta e com comentários para seu Sampaio, iniciou-se essa histórica conferência de cúpula (como diria a imprensa de hoje):

- Homem de sentimentos elevados, gostei – concluiu o lojista de sapatos.

- Sim, penso que sim… Por que não? Acho ele simpático…

- Simpático? Um homem e tanto, um zarro – protestou dona Gisa, metida a usar gíria baiana em sua meia língua de gringa.

Acordaram finalmente, por sugestão de dona Norma, delegar poderes a seu Sampaio para, em nome da viúva, entreter-se com o farmacêutico sobre todos os trâmites, anunciando-lhe o sim com exigências:


ENTREVISTAS
FICCIONADAS
COM JESUS CRISTO


Entrevista Nº 44


TEMA – O Diabo Existe?


Raquel – Amigos e amigas das Emissoras Latinas, na nossa anterior entrevista, Jesus Cristo afirmou que o inferno não existe nem nunca existiu. Recebemos centenas de chamadas, mails e a nossa Web regista milhares de visitas. Muita gente está atónita com estas declarações. Por exemplo, tenho aqui uma amiga rádio-escuta que pergunta: se não existe o inferno onde vive, então, o diabo?
- Senhor Jesus Cristo o que responde?

Jesus – Eu penso que a resposta cai pelo seu peso, como os figos maduros. Em parte nenhuma.

Raquel – Como que em parte nenhuma?

Jesus – O inferno não existe e o diabo tão pouco.

Raquel – Um momento, um momento… Imagino que está deixando os nossos ouvintes ainda mais estupefactos… vou desligar os meus auscultadores. Vejamos… o senhor disse que o diabo tão pouco existe… mas o senhor falou muitas vezes nele.

Jesus – Sim, é verdade.

Raquel – Então o senhor acredita no diabo?

Jesus – Acreditava.

Raquel – Como que acreditava. Pode explicar melhor?

Jesus – Como todos os meus conterrâneos, eu acreditava no diabo. Foi isso que nos ensinaram. Também acreditávamos que a Terra era plana e que o Sol dava voltas em seu redor. E repara como estávamos todos enganados.

Raquel – Mas o senhor mesmo foi tentado pelo diabo no deserto… até falou com ele… ou já não se recorda?

“Se és Filho de Deus ordena a estas pedras que se convertam em pão” e o senhor respondeu: “não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Então o Diabo conduziu-o à Cidade Santa e colocando-o sobre o pináculo do Templo disse-lhe: “Se tu és Filho de Deus lança-te daqui a baixo que os anjos te salvarão…

Jesus – O pináculo é aquele que ali se vê… fixaste-o?

Raquel – Aquele?

Jesus – Sim, vês?

Raquel – A nossa unidade móvel continua no Vale de Gehenna e realmente, daqui, podemos ver o pináculo, o ponto mais alto das muralhas de Jerusalém, onde o Diabo terá levado Jesus Cristo para ele se atirar dali a baixo…

Jesus – Na realidade eu nunca subi ali, Raquel. Isso não terá sido inventado por algum evangelista? Não será essa outra das comparações?

Raquel – O senhor nunca subiu ao pináculo do Templo?

Jesus – Não. Para além do mais tenho vertigens, corria o risco de cair.

Raquel – Voltemos ao Diabo. O senhor disse que ele não existe mas na Bíblia aparece em todo o lado referências a ele. Chamam-lhe Satanás, Lucífer, Belzebu, Anjo Caído, Adversário, A Serpente Antiga, o Maligno, O Príncipe das Trevas…

Jesus – Na Bíblia e, seguramente, em outros livros antigos… penso que quase todos os povos acreditaram num espírito do mal, um tentador… e sabes por quê?

Raquel – Porque, de alguma forma, sentiram a sua presença…

Jesus – Não. Porque assim podemos-lhe atribuir as culpas que nos cabem a nós. Dizemos: “… o diabo tentou-me e eu não pude resistir…” “… o diabo meteu-se no meu corpo…”. Ora o diabo eras tu próprio quando fazias as diabruras. Eu penso que cada um de nós tem de assumir aquilo que faz e não invocar o diabo.

Raquel – Temos uma chamada… Alô?

Homem – Esse tipo que está falando na sua emissora é um charlatão, um impostor… um possesso, está possuído pelo demónio!

Raquel – Alguma reacção a esta chamada, Jesus Cristo?

Jesus – Não, nenhuma. Isso já me diziam no meu tempo… que estava endemoniado. Deixá-lo…

Raquel – As chamadas continuam… Podemos continuar a conversar sobre este tema tão polémico?

Jesus – Claro que sim, mas noutro local, Raquel. Neste vale faz tanto calor…uff… que vou de novo acreditar no inferno…

Raquel – Pois procuremos uma sombra perto daqui. Deixando atrás de nós o Vale de Gehenna em Jerusalém… Raquel Perez, Emissoras Latinas.


NOTA


O Diabo Existe – A Bíblia está cheia de alusões ao Diabo e da variedade de nomes com que ele é designado. Como todos os seus conterrâneos, Jesus falou sobre o diabo e acreditou na sua existência mas essa crença não foi, nem de perto nem de longe, o centro da sua mensagem resultando, antes, num “elemento de contraste” para a boa notícia que pregava e que essa, sim, era o essencial da sua mensagem: a existência de um Deus bom no qual se pode ter uma confiança ilimitada e na superação do medo como caminho de “salvação”.

Todos os povos acreditaram e continuam acreditar na existência do Diabo. No cristianismo o diabo foi imposto no Concílio de Letrão em 1215. É uma crença que a igreja católica e as protestantes mantêm até aos dias de hoje.

Em 1974 o Papa Paulo VI afirmou: “ O demónio existe não só como símbolo do mal mas como realidade física”. No ano seguinte, e perante correntes teológicas que punham esta crença no domínio do simbólico, o Papa Paulo VI afirmava: “quem se negar a reconhecer a sua existência e quem o explica como uma pseudo-realidade, uma personificação conceptual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças, coloca-se fora do quadro do ensino bíblico e eclesiástico”.


Outra Teologia: O Diabo é um Mito – São mesmo os Teólogos católicos que questionam com uma sólida argumentação a existência do Diabo. Entre eles, destaca-se o sacerdote católico e professor universitário alemão, Herbert Hagg, especialista no Antigo Testamento e que procura “construir pontes entre a mensagem bíblica e a gente de hoje”. Ele é autor de um livro fundamental sobre este tema “O Diabo, Sua Existência como Problema” (editorial Herder, 1978) no qual reduziu a mito o relato do “Anjo Caído” e promove uma visão teológica numa outra perspectiva mais construtiva e transformadora.


Herbert Hagg documenta no seu livro os terríveis resultados históricos que a “fé no diabo” provocou ao longo da história da humanidade e em
especial ao longo da história do cristianismo.

terça-feira, julho 20, 2010

VÍDEO

à partida... a idéia até que nem era má... (percebe-se pela reaccção dela), mas depois borrou tudo...

CANÇÃO ANGLO - SAXÓNICA

DEMIS ROUSSOS - GOODBY MY LOVE GOODBY
Dezembro de 2006, directamente do Kremling, Moscovo, ... esta canção imortal... a idade e os cabelos brancos não lhe retiram nada.

CANÇÕES FRANCESAS

GILBERT BECAUD - L'ORANGE
Gilbert, o cantor mas igualmente o grande comediante que representa as suas canções transmitindo emoções e estados de alma... a voz e a palavra não são tudo... o artista completa-se com a expressão corporal e aqui G. Becaud foi rei.

CANÇÕES BRASILEIRAS

GONZAGUINHA - A MORTE DO VAQUEIRO
....em homenagem a todos os vaqueiros do Nordeste brasileiro e em especial a Raimundo Jacó, o vaqueiro que o Nordeste não esquecerá

CANÇÕES ITALIANAS

CLÁUDIO BAGLIONI - E TU (1974)
Agachados a escutar o mar quanto tempo ficamos sem falar... seguir o teu perfil com um dedo enquanto o vento acaricia devagar o teu vestido...

DONA FLOR
E SEUS DOIS
AMORES

Episódio Nº 176


Se o primeiro casamento de dona Flor realizou-se às carreiras, em acanhada e restrita cerimónia, no segundo tudo aconteceu como devido, reinando ordem e certo brilho. O primeiro não teve noivado, indo directo do namoro (impúdico) ao matrimónio, passando antes pela cama (antes da hora). Celebrou-se naquelas desagradáveis condições de urgência e embaraço resultantes da necessidade de tapar com o aval do Estado e da Igreja os três vinténs da moça comidos pelo namorado, antecipadamente, restaurando-se assim, senão o cabaço, pelo menos o bom nome da família.

O segundo foi puxado a convite impresso, com notícia na coluna Sociais de A Tarde, elogiosa referência ao doutor Teodoro – “nosso prezado e conspícuo assinante” – música, flores e luzes, e gente, muita gente na Igreja de São Bento, onde o celebrante, dom Jerónimo, sapecou sermão dos mais eloquentes, enquanto na cerimónia civil, o juiz, doutor Pinho Pedreira, com aquela sua elegância de conceitos, em breve e amável oração, previu uma vida de paz e entendimento para o novel casal, sob “o signo da música, voz dos deuses”. Era o descarnado e preclaro juiz colega do noivo na orquestra de amadores reunida sob a batuta do maestro Agenor Gomes, onde o magistrado se distinguia no clarinete.

Teve assim o segundo casamento de dona Flor quanto faltou ao primeiro; regido, a rogo dos noivos, por dona Norma, com proficiência e escrúpulo, viu-se cada coisa em seu lugar, na devida hora, tudo de boa qualidade e por preço acessível, tendo ele contado para sucesso com a ajuda entusiasta da vizinhança em peso.

O que não obteria dona Norma? Obteve inclusivé a presença de dona Rozilda, sua completa reconciliação com a filha. Vieram também de Nazareth o irmão e cunhada de dona Flor; ausentes apenas Rosália e António Morais, mantendo o mecânico sua decisão de só voltar à Bahia quando a sogra “houvesse tomado férias permanentes no inferno”.

Dessa vez dona Rozilda não tivera críticas a fazer: casamento a seu gosto, tanto as cerimónias como o genro. Afinal um genro seu se aproximava do modelo sonhado nos distantes idos da Ladeira do Alvo: não exactamente, é claro, não o príncipe perfeito, ideal quase alcançado com o estudante Pedro Borges. Mas, enfim, um doutor, de recursos, sócio de farmácia bem sortida e situada. Homem probo e de trato, alguém na vida, não é um pé-rapado a ganhar o pão rastejando sob os automóveis dos outros, imundo de graxa, como o marido de Rosália; muito menos um reles vagabundo, um capadócio como o primeiro esposo de Florípedes. Esse doutor Teodoro ela podia exibi-lo sem constrangimento às suas relações de elite, figura de prol, genro de substância, apatacado.

No segundo casamento só não houve namoro, e com razão, pois não fica bem a uma viúva namorar, numa esquina ou no esconso de uma porta em deboche e agarramentos: beijinhos, abracinhos, pega aqui, pega acolá, mão nos peitos, correndo pelas coxas. Descarações e sem-vergonhices toleráveis em namoro de donzela se são sérias as intenções do namorado, dando-lhe direito a algum avanço; mas insuportáveis e desmoralizantes em se tratando de viúva.

Eis por que, quando da declaração do doutor Teodoro, através da nobre epístola, ficou resolvido entre as partes – com o conselho e aprovação de parentes e amigos – um respeitoso e parco noivado, durante o qual poderiam dona Flor e doutor Teodoro melhor se conhecerem e assim
pesarem qualidades e defeitos, determinando se realmente cabia casamento.

segunda-feira, julho 19, 2010

CANÇÕES ANGLO- SAXÒNICAS

ABBA - DANCING QUEEN

Haverá alguém que não se delicie a ouvir as canções dos ABBA? Agora até os
chineses vão montar um espetáculo com as suas músicas... veremos se tambem serão um sucesso.

CANÇÕES BRASILEIRAS

ADRIANA CALCANHOTO E MARIA BETÂNIA - DEPOIS DE TER VOCÊ
Nasceu em 1965, filha de um músico, baterista e bossa nova e de uma professora de educação física. Cantora e compositora também lhe chamam Adriana Partimpim por causa de um Album para crianças, o "Adriana Partimpim", que teve imenso sucesso e com o qual ganhou um Grammy. Em finais de 80, Rita Lee convidou Adriana, até aí desconhecida, a participar num espetáculo com ela. Entrou em palco com uma longa capa que de vez em quando abria mostrando o corpo todo nu a uma platéia que lotou o estádio.

CANÇÕES PORTUGUESAS

DUO OURO NEGRO - MÃE PRETA
Meio século passou, Milo e Raúl já faleceram (1985 e 2006) e as "mães pretas" cantadas nesta canção há muito que sairam de cena... O percurso que entretanto fizeram não foi fácil... muitas em fuga, perseguidas, e mortas em guerras desencadeadas pelos "seus" homens para chegarem ao poder e à glória. A "mãe preta" é saudade... triste saudade, mais uma da mulher africana.

DONA

FLOR

E SEUS

DOIS

MARIDOS


Episódio Nº 175


Por entre olhares e sorrisos doutor Teodoro teve de atravessar com seu passo medido, seu jaquetão azul ou cinzento, sua austera compostura, cruzando ante a janela onde dona Flor respondia com um sorriso breve e gentil ao respeitoso, porém apaixonado, cumprimento do pretendente. Ai!, traidor, sorna e fingido! – diziam olhares e gestos das xeretas.

Permanecendo na mesma distante casa de Itapagipe, já não se apressava ele, no entanto, a tomar o bonde e o elevador apenas cerradas as portas da drogaria: não mais o esperava em nervosa impaciência a mãe entrevada. Deu de almoçar e jantar no restaurante do português Moreira, rondando pelo Cabeça, pelo Maciel, pelo Sodré, como se não pudesse abandonar as redondezas da viúva. Fazia-lhe a corte de longe, sem lhe impor a presença, discreto. Mas como manter-se em discrição, nos limites da reserva, com o comadrio em torno, tropeçando a cada passo numa das beatas, ouvindo insinuações de dona Dinorá?

Doutor Teodoro, homem de atitudes francas, inimigo de fraudes e embuçamentos, sentia-se incómodo; a situação foi-se tornando para ele insuportável. Dona Norma deu-se conta:

- Até faz pena…

Dona Flor sorria com simpatia:

- Pobrezinho…

- Isso não pode continuar assim… Vou dar um jeito…

Dona Norma dispôs-se a uma explicação sincera com o apaixonado farmacêutico, para decidir aquilo de uma vez. A própria dona Flor não escondia estar também interessada, falando dele com afeição, firme na janela na hora do doutor cruzar a rua.

- Vou falar com ele…

- Está louca criatura? Ele vai pensar que eu mandei, que sou uma reles, uma oferecida…

- Não seja tola… Deixe comigo…

Mas não chegou dona Norma a tomar a iniciativa porque, naquela mesma tarde, dona Flor invadiu-lhe a casa, quase sem fôlego, na mão as folhas de uma carta e o envelope. Papel azul com bordas de ouro e perfume de sândalo, um primor. Declaração em regra, frases de galanteio em escorreito português, relação de bens e de qualidades postos uns e outros aos pés da dama, honestas intenções, palavras nobres, e o sopro de uma paixão verdadeira a transbordar dos rectilíneos limites da prudência, fazendo com que aquele documento de um carácter fosse também requisitório de amor, fremente e vivo.

- Supimpa… - disse dona Norma, lendo ávida e entusiasta – um colosso.

domingo, julho 18, 2010

VÍDEO

Vamos voltar a ouvir hoje, com votos de um Bom Domingo, esta primorosa peça do brilhante compositor italiano Giachinno Rossini que foi adaptada para a voz de crianças e intitulada "Dueto dos Gatos". Se não bastasse a afinadíssima voz dos dois garotos que fazem o solo ela torna-se bastante engraçada. De notar, que enquanto o garoto moreno não consegue esconder o riso, o loirinho, ao contrário, mantem-se sério e impassível no seu papel. Este concerto foi dado em Seul (Coreia) em 30/11/96 pelo Coro dos "petits Chanteurs à la Croix de Bois"

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