sábado, dezembro 05, 2015

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Está tudo aqui... diz ele! Sim, mas porque ficou ele com tanto e nós com tão pouco?





Mixordia de Temáticas - Futebol é para...


Viviane - Amores Imperfeitos



Linda, na sua nudez de mulher
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)

EPISÓDIO Nº23

































DO SEGUNDO ROUND, COMPLETAMENTE FAVORÁVEL A DONA CARMOSINA, A CAMPEÃ DOS CORREIOS E TELÉGRAFOS





Nem dona Carmosina tomada de surpresa, tenta negar que Perpétua lavrara um tento. Confirma a tese jurídica, mas exibe aquele sorriso inocente, suspeitíssimo, de quem possui naipe marcado, carta decisiva:

- É isso mesmo. Vocês estão aí, estão ricos. Metade para seu Zé Esteves, a outra metade para vocês as duas. Só falta é encontrar marido, não é?

- Exactamente – Perpétua domina a conversa e mesmo a agente dos Correios ouve com atenção: - A gente nunca soube o nome inteiro do marido dela. Felipe, como se não tivesse pai. Rico, isso se sabe, comendador também. Mas Felipe de quê? Que tipo de indústria? Comendador do Papa ou do Governo? Sempre achei isso esquisito mas encontrei logo a explicação, faz tempo.

Ao contrário do que pensara dona Carmosina, a Perpétua não bastara o cheque, o dinheiro mensal. Também ela pusera a cabeça a pensar, a deduzir.

Igual a dona Carmosina, em cujos lábios, no entanto, permanece o sorriso inocente, de criança.

- E que explicação encontrou?

Todos ansiosos por saber, Perpétua esconde a vaidade na voz sibilante, desagradável, apesar da súbita fortuna:

- O marido proibiu que ela nos falasse dele para não ter, um dia, que prestar contas… exactamente para isso.

- Será? – Dona Carmosina demonstra o cepticismo.

- Ela tinha era vergonha da gente, medo de que a gente, se soubesse mais sobre o marido dela, começasse a explorar.

- Para Elisa, as sujeiras, as más intenções são dela, de Astério, do pai. Tieta e os seus são ricos e bons, inatacáveis.

- Talvez. – Dona Carmosina parece pesar e medir, comparar os argumentos.

- Seja como for, minha parte ele vai me entregar, nem que eu tenha de virar mundos e fundos. – Cada vez maior na cadeira, Perpétua não se dá ao trabalho de contestar Elisa: - Vou descobrir o endereço, quando ele menos esperar estouro na casa dele. O que é meu e dos meus filhos ninguém me tira.

- Tu falou hoje com padre Mariano, o que foi que ele disse?

- Disse para não nos apressarmos, que ainda não há provas da morte de Antonieta, que a gente esperasse. Espere quem quiser, não eu! Segunda-feira me toco para Esplanada, vou conversar com o doutor Rubim…

- Com o Juiz de Direito? – Dona Carmosina balança a cabeça, parece de acordo.

Os olhos pequenos, semicerrados, consideram Astério e Elisa, pousam na imponência de Perpétua refastelada na cadeira de palha, parece um sapo-cururu.

Perdoa-me, Elisa, roubar a tua herança, tu e Astério merecem melhor sorte, mas não posso suportar a arrogância dessa caga-sebo. – É, essa história de sobrenome do marido de Tieta, eu também sempre achei muito atrapalhada. Só que cheguei a outra conclusão, diferente da de vocês duas.

- Perpétua não teme competição:

- Pois venha lá.

- Você, Perpétua, não levou em conta certos dados, eu diria pistas. Ela mandou falar nas enteadas, não?

- Sim metade é para a família dele.

- Não é de herança que falo, essa herança não existe…

- Como?

- Não diga isso… - pede Astério, recaindo em dores.

- Tenho pena, Astério, de lhe desiludir, mas se vocês pensarem um minuto, se puserem as células cinzentas em acção, compreenderão que Tieta vivia ou vive, com este senhor Comendador como esposa mas sem casamento legal, certamente ele é desquitado.

Um casal como milhares de outros no Brasil. É a única explicação que existe e, nesse caso, somente a família dele tem direito à herança.

- Ai! – padece Astério, vendo a fortuna dissolver-se, a riqueza ir água abaixo, breve ilusão, novamente pobre como Jó.

Perpétua é a única que não se altera, a não ser que se chame de sorriso a leve contracção dos lábios:

- Como teoria, é engenhosa. Fora disso, não vale nada.

- Você tem melhor?...

- A minha é melhor e tenho provas.

- Provas, como?

- Casada, casadinha da silva, no religioso e no civil. Posso garantir e vou provar.

- É o que eu quero ver. – Leve vacilação na voz de dona Carmosina.

Elisa, em lágrimas, Astério, rico e pobre, pobre e rico, sem saber se a dor persiste ou não. Do fundo do bolso, Perpétua extrai um envelope e do envelope um recorte de jornal:

- Você, que lê tantos jornais à custa dos outros, Carmosina, não leu esse.

- Vangloria-se da ajuda divina: - Quem é devoto de Sant’Ana, quem ocupa seu tempo com as coisas da Igreja, conta com a protecção de Deus.

- Fale de uma vez! – até Astério se irrita, ele, em geral, tão tímido diante da cunhada. - Desembuche!

Recorte na mão, Perpétua não tem pressa.

- Ainda não fazem dois meses, fui a Aracaju beijar a mão de Dom José, saber dos estudos de Ricardo. Aproveitei e fiz uma visita a dona Nícia, a esposa do doutor Simões, do Banco…

- Foi vender vestidos mandados por Tieta…

- Os que ficaram para mim. Melhor vender do que me exibir com eles. Nas capitais, vá lá que se use, mas aqui… Dona Nícia me mostrou um jornal de São Paulo, Folha de Manhã, a página social com as notícias da gente importante, onde falavam de uma amiga dela que foi visitar parentes. Me apontou uma notícia, dizendo: Penso que é sobre sua irmã. Depois cortou o pedaço e me deu.

Coloca os óculos lentamente, aproxima o recorte da luz. Astério se levanta da cadeira, Elisa muda de lugar para ficar perto, ninguém quer perder uma palavra.

Nesse momento exacto ouvem-se vozes na porta da rua:

- Tenha calma, homem!

- Nem calma nem meia calma, cambada de ladrões!

O velho Zé Esteves penetra na sala, acompanhado de Tonha. Plantado sobre as pernas, o rosto fechado em ira, ergue o bordão e brada:

- Quero meu dinheiro, seus ladrões! Onde meteram, que fizeram dele?

O dinheiro que me manda e vocês roubam! Que invenção é essa de dizer que ela morreu e por isso o dinheiro não chegou? Cambada de ladrões! Quero meu dinheiro, agora!

Orar antes de comer












Ele ia jantar pela primeira vez em casa da namorada. Quando ia atacar a sopa, reparou no olhar severo da futura sogra, que lhe perguntou friamente:

- Em sua casa não costumam orar, antes de começarem a comer?

- Não, minha senhora - disse ele atrapalhado - A minha mãe é muito boa cozinheira...

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 127




















- Se isto não resultar – acrescentou o príncipe – passamos ao afrontamento.

Ao princípio não percebi o que ele queria dizer, mas tudo se tornaria mais claro no dia de Pentecostes, semanas depois. Assim, e embora ainda ligeiramente receoso, avancei para o castelo da Maia e juntei-me à ceia que por lá decorria.

Conversei com naturalidade com os presentes, incluindo o noivo, e até troquei algumas palavras com o Trava, que ainda me tentou aliciar, elogiando as minhas qualidades guerreiras.

Insinuou que eu daria um bom alferes da rainha, mas tal não me agradou, pois jamais trairia o meu melhor amigo.

No final do repasto, aproximei-me de Maria e de Chamoa, reparando que esta estava sorumbática, o que não era seu costume.

Com cautela conduzi-as para um canto da sala, onde lhes revelei que Afonso Henriques estava escondido na vila e que desejava raptar Chamoa na noite seguinte.

Os olhos dela brilharam de entusiasmo e até de orgulho. O seu adorado príncipe vinha buscá-la, amava-a a esse ponto, e de pronto afirmou que iria preparar-se.

Porém minha futura esposa alertou-a para os perigos, havia guardas por todo o lado, o Trava trouxera muitas tropas, talvez temendo um golpe destes.

Maria, não quereis que fuja? – perguntou Chamoa.

A irmã mostrou-se preocupada. Temia aquela arriscada operação, que corresse mal, que fôssemos descobertos, que alguém se ferisse.

Embora estivesse do nosso lado, e compreendesse o enamoramento de Chamoa e do príncipe, sabia que aquele era um agravo sério, capaz de provocar um conflito grave.

Paio Soares e Dona Teresa, bem como o nosso tio Fernão, irão perseguir-vos até Guimarães, e não descansarão enquanto não se vingarem do príncipe! – avisou.

Todos sabíamos que assim seria, mas a nossa lealdade estava com Afonso Henriques, e por isso declarei:

 - Lutaremos por ele e por Chamoa.

Embora aflita a minha futura cunhada abraçou-me e depois as irmãs retiraram-se para os seus aposentos.

Sorrateiramente saí dali e desci para a povoação ao encontro de Afonso Henriques e Gonçalo que se haviam refugiado num casarão agrícola abandonado, já dentro das muralhas de Maia.

Depois de revermos os nossos planos, regressei ao castelo e recolhi-me nos aposentos que me estavam destinados.

Ao final da manhã seguinte, reencontrei Chamoa e Maria e a primeira, muito agitada, revelou o que lhe ia na alma:

- Desejo que a noite de hoje chegue o mais depressa. Minha futura esposa manteve o seu ar atormentado, e logo nos calámos, pois Nunes gomes e Elvira aproximaram-se, tendo esta última revelado a sua surpresa e até ofensa, com a antipatia com que tinha sido cumprimentada pelo arcebispo Paio Mendes.

Parece que me odeia e não quer este casamento! Exclamou a mãe das raparigas, o que me fez baixar os olhos.

Já Gomes Nunes mostrou-se menos incomodado, apenas dizendo:

 - Não me interessa o que pensa o arcebispo.

                                                                                   

sexta-feira, dezembro 04, 2015

Em 1º plano à nossa esquerda
Mário

Martins

















Eu e o Mário Martins nascemos em casas uma ao lado da outra. Entre elas, a separá-las, apenas uma ponte por onde passavam os comboios, nesse tempo, quase todos puxados ainda a máquinas de vapor.

Separam-nos cinco anos em idade e quando entrei na escola ele tinha saído dela apontado pela severa professora, a Srª Dª Ludovina, como o melhor aluno que por lá passara.

A ponte, em vez de nos separar uniu-nos como o hífen liga as palavras e os comboios representavam pontos de exclamação, uns mais lentos, outros mais rápidos...


Convivemos ao longo dos meus primeiros onze anos, depois fui-me embora e a vida separou-nos mas nunca o esqueci.

O Mário fazia-me magias, autenticas, que eu, cinco anos mais novo, não podia compreender porque não possuía os seus dotes, raros, e logo também não as pude esquecer.

Para além da inteligência ímpar e dos cinco sentidos que todos nós temos, o Mário tinha um segundo ouvido, um super ouvido, que nunca me disse que tinha e eu, criança, não suficientemente esperto, jamais percebi interessado que estava nas aventuras do Cisco Kid do Mundo de Aventuras que fazia as minhas delícias.

Ficava-me pela magia, um truque que ele fazia, e não passava daqui para não matar a cabeça. No fundo, era bom ter um amigo mágico!

- Quim, dizia-me, estás a ouvir o comboio que vem lá? – Sim, eu ouvia um comboio.

- Pois vou dizer-te o número da máquina que o puxa.

Acentuava-se, à distância, o “pouca-terra”; “pouca-terra”; “pouca-terra”, cada vez mais rápido e, finalmente, depois daquelas deliciosas apitadelas, que preenchem as minhas saudades, e serviam para anunciar a partida da Estação de Braço-de-Prata, ali ao pé, aí vinha ele, depois de descrever a totalidade da curva, lá ao fundo, negro, envolto em fumo, a resfolgar, como que entusiasmado com a corrida que começara, tal monstro inofensivo, perfeitamente domesticado, direito a nós.

Então, o Mário, sem esperar por ele, dizia-me o Número da máquina e nunca me lembro  de que alguma vez se tivesse enganado...

Hoje, já sei, que ele disse-me agora, as máquinas emitiam sons diferentes sobre os carris conforme as séries a que pertenciam e o super ouvido do Mário lia nesses sons o número que eu só via quando ele passava à minha beira.

Era essa a magia que finalmente, sessenta e cinco anos depois, ficou explicada...

Há semanas viu-o na Rua do Ouro. Um grande abraço ao fim de tantos anos e... mais uma magia:

 - Mário, temos que almoçar juntos! Telefona-me que eu venho a Lisboa de propósito nesse dia... mas não tenho aqui nem papel nem esferográfica para te dar o número do meu telefone.

Não precisa, diz-me ele... e um número de nove algarismos gritado no meio da rua foi suficiente para que aquela cabeça, 81 anos feitos na 2ª feira anterior, o tivesse registado e, no fim de algumas semanas me estivesse a telefonar.

Um prodígio!... a sua inteligência, memória, modéstia, sentido de humor e, claro está, o seu super-ouvido.

Desabafou modestamente comigo:

- Quim! a minha cabeça de tanta coisa que guarda é um autentico caixote de lixo.

- Caixote de lixo???... - Então óperas inteiras, músicas de todo o estilo e género, vozes de dezenas ou centenas de cantores, caracterizadas e classificadas, é lixo???...

O Mário não tem computador e o próprio telefone é só para receber e fazer chamadas. Não gosta das novas tecnologias, também, para quê, se ele tem um You tube dentro de si?

Como Director na Valentim de Carvalho, durante muitos anos, descobriu artistas, fez artistas, ensinou-os a cantar, descobriu-lhes cantigas, fez-lhes outras, reportórios inteiros:

- Marco Paulo, António Variações, Carlos Paião, Paco Bandeira, Lara Li... e produziu discos de Luís Góis, Fafá de Belém, Nuno da Câmara Pereira, José Cid, Júlio Pereira, Jorge Palma, Alexandra... mas o Album de “O Nazareno”, de Frei Hermano da Câmara, foi a sua mais complexa produção.

... Naturalmente, que o sexto ouvido com que o Mário nasceu dotado, não iria servir só, em rapazinho, meu vizinho e amigo de casa, apreciado e querido da minha mãe, para descobrir o número das máquinas de comboio a vapor pelo som que elas faziam sobre os carris...

Teria, fatalmente, que o tornar, durante muitos anos, ao Serviço da Valentim de Carvalho, a pessoa mais interveniente na música ligeira portuguesa e mais importante na vida de muitos cantores para os quais terá sido decisivo.

Como dizia a mãe de Jorge Amado: - “O meu filho nasceu com uma estrelinha”....  Tal como o meu amigo Mário, adito eu, que tive a sorte de ter na minha infância a fazer magia.



NOTA - Mário Martins é um produtor português. Também foi da A&R e  em várias editoras. (Da Wiquipédia)

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O que aconteceu a estes homens que nunca mais apareceram? - Agora, quando precisávamos tanto deles...




Professor Chibanga- Previsões para 2010 (atrasadas 5 anos)




Adele - Hello



Adele Laurie Blue Adkins (Londres, 5 de maio de 1988) é uma cantora, compositora e multi-instrumentista britânica nascida em Tottenham, Londres e criada no sul da cidade. Foi a primeira artista a receber o prêmio Critics Choice do Brit Awards e foi nomeada "Artista Revelação", em 2008, pelos críticos da BBC. Entre os seus prêmios ganhos estão dez Grammy Awards, quatro Brit Awards, um Golden Globe Award e um Oscar

Alcançou o auge da carreira ao lançar o álbum 21, com o qual bateu vários recordes e dominou as paradas de sucesso dos Estados Unidos e Reino Unido, com o single "Rolling In The Deep".

 Já vendeu mais de 25 milhões de cópias no mundo todo. O sucesso fez Adele receber várias menções no Guiness Book, por ser a primeira mulher a ter ao mesmo tempo, dois singles e dois álbuns simultaneamente no top 5 das paradas britânicas, fato esse, que só a banda The Beatles tinha alcançado em 1964.

 Ela sendo a primeira artista a vender mais de 3 milhões de cópias de um álbum em um ano no Reino Unido e depois com o terceiro single do álbum, "Set Fire to the Rain", Adele se tornou a primeira artista da história a liderar a Billboard 200 consecutivamente três vezes no n.° 1. Ela também superou recordes de cantores como Michael Jackson, Whitney Houston, Madonna e Beyoncé.

É difícil pretender ter maior sucesso....




Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 126

 























Vendo que ele se mostrava irredutível, Gonçalo encolheu os ombros e perguntou.

 - Mas encontraremos Chamoa? E como poderemos raptá-la?

Então o príncipe olhou-me um pouco mais calmo, e declarou que a minha presença os ajudava. Por ser noivo de Maria Gomes, estava convidado para o casamento de Chamoa e, portanto, poderia entrar na Maia, propriedade de Paio Soares, e dirigir-me ao castelo.

- O Lourenço vai primeiro, verifica onde elas estão instaladas, e na véspera do casamento, pela calada da noite, raptamos Chamoa e trazemo-la para Guimarães!

Na cabeça do meu melhor amigo o plano já estava estabelecido, agora era só concretizá-lo. Contudo, apesar de lhe ter muita lealdade e amizade senti-me na obrigação, senti-me na obrigação de lhe relembrar que eu não podia executar um acto de tal gravidade contra paio Soares, Dona Teresa e Fernão Peres de Trava, pois iria por em risco o meu futuro matrimónio com Maria Gomes.

Para minha surpresa o príncipe não se espantou com esta natural relutância, e adiantou que eu não correria qualquer perigo. Como iria estar presente no casamento, de qualquer forma, apenas me limitaria a ter de descobrir onde se encontrava Chamoa, no castelo, e a avisá-la, mas depois não participaria no rapto.

- O Gonçalo e eu conseguimos fazê-lo! – exclamou confiante.

Apesar de desconfiados, tanto da nobreza como da eficácia de tal gesto, acedemos a participar naquela atrevida investida, e nessa mesma tarde saímos os três de Guimarães, cada um no seu cavalo, tendo como destino a Maia.

Horas depois, quando a noite já caía, chegámos aos arrabaldes da povoação, e logo verificámos que havia muita agitação em seu redor.

As comitivas mais importantes já tinham chegado, e viam-se também muitos populares e inúmeros mendigos, que vinham tentar a sua sorte naquela festa.

Além do Trava e de Dona Teresa, acabava de assentar arraias também Paio Mendes. O prelado de Braga era familiar do noivo e vinha ministrar o sacramento aos nubentes.

- O arcebispo não vos vai perdoar esta desfeita! – alarmou-se Gonçalo.

Não seria assim, confidenciou-nos o príncipe. Dias antes estivera em Braga e o arcebispo não só estava informado dos seus desejos como os incentivara.

Também ele considerava Paio Soares um traidor aos portucalenses e embora estivesse obrigado a oficiar o casamento, por ser da família, desejava frustrar os desejos do Trava e de Dona Teresa e evitar que Paio Soares se mudasse definitivamente para o partido deles.

Acidente de carro

















Diz uma:


- Imagine, D. Manuela, que a D. Inácia teve um acidente de carro e ficou com a cara toda retalhada!


Outra:


- Coitada!


A primeira:


- O que lhe valeu foi uma cirurgia plástica que lhe pôs a cara como tinha antes!



A outra:


- Coitada…

Linda, na sua nudez de mulher
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)


EPISÓDIO Nº 22



























DO SENSACIONAL ENCONTRO ENTRE PERPÉTUA E CARMOSINA, COM CERTA VANTAGEM PARA A PRIMEIRA NO ROUND INICIAL





- Quem disse foi Dr. Almiro? Ele sabe. Eu nunca havia pensado nisso… - Astério se anima, aplacam-se as dores, diminui o mal-estar, presta atenção à conversa.


Estirado na espreguiçadeira, não fosse a presença da cunhada e de dona Carmosina estaria na cama, enrolado nos lençóis; vem passando mal desde a hora em que Elisa lhe fez sinal na loja e ele soube: nem carta nem cheque.

Doente a ponto de nem tocar no cuscuz, na banana frita, contentando-se com uma xícara de café com leite, pão e requeijão. Contracções no estômago, insuportáveis.

Perpétua chegara pouco antes das sete. Deixara Ricardo preparando os deveres, na segunda-feira, o moço retornará ao seminário para as provas escritas e orais.

As aulas terminadas, estando padre Mariano de passagem em Aracajú, trouxera o afilhado para o fim-de-semana em casa, com a obrigação de fazer banca, de estudar para os exames. 

Uma reprovação custar-lhe ia a gratuitidade do curso, adverte mais uma vez Perpétua antes de sair. Quanto a Peto, fugira para o cinema, menino endemoninhado.

Assistia cada filme três vezes, todas de graça, ajudava o árabe Chalita na bilheteira. Em Agreste, a censura não vigora, todas as películas são livres de qualquer idade, mães amamentam crianças de colo em plena sala, onde Peto, aos treze anos incompletos, aprende mais do que Ricardo, quase com dezassete nas aulas do seminário.

No cinema, na beira do rio onde passa parte do dia a pescar e a observar, no Bar dos Açores torcendo, à tarde pelo tio Astério. Osnar, quando ganha oferece-lhe guaraná, sorvete, coca-cola. Peto já sabe manejar o taco. Debochado, Osnar:

- E o taco aí de baixo, Sargento Peto, já faz carambola? Tá chegando a idade de perder o cabaço…

Nem bem Perpétua tomara assento na cadeira de palha, a melhor da casa, ressoaram na porta as palmas e o sonoro com licença de dona Carmosina.

Perpétua fechou a cara: que perdera ali de tão precioso a agente dos Correios para abandonar a sessão de cinema do sábado, compromisso sagrado? Vinha meter o bico onde não a chamavam, ditar razões, palpitar, exibir inteligência e astúcia, a sabichona. Elisa precipitara-se a acolher a amiga:

- Você chegou quase junto com Perpétua.

Sem esperar convite, dona Carmosina puxou o assunto, tomando a frente da conversa:

- Na rua, não se fala noutra coisa. Fui chegando em casa e Mãe foi perguntando: que é que aconteceu com Antonieta? 

Ouvi dizer que ela morreu. Ninguém sabe de nada, lhe respondi, só que carta e dinheiro que ela remete todo o mês, esse mês não chegou. Mãe arregalou os olhos: Não chegou?

Então ela morreu, só morta havia de deixar de cumprir obrigação. Conheci muito essa menina, quando tomava uma determinação, não havia conselho, ameaça, castigo que lhe mudasse o pensamento.

Pode escrever: parou de mandar dinheiro é porque morreu. Vá lá, minha filha, e apresente os meus pêsames. – Uma pausa, dona Carmosina acrescenta: - O zunzum na rua só faz aumentar.

A intrometida viera de propósito, preferindo a conversa ao cinema; é capaz de Elisa ter pedido para ela vir, Perpétua tocou com os dedos o crucifixo do terço, no bolso da saia negra, contendo-se.

Deixa para lá, talvez até seja de ajuda; a antipática passa o dia sem fazer nada, a ler revistas e jornais, artigos enormes, domina uma quantidade de assuntos, bota banca. Perpétua, não tinha dúvidas:

- Bateu a caçoleta! Disse a Elisa desde ontem, ela é que se quer enganar e enganar os outros…

- Esconder a evidência… - ilustrou dona Carmosina.

Tais demonstrações de sapiência, Perpétua não as tolera. Dominou-se devido ao grito de Astério, lançado do fundo da espreguiçadeira: - Ai! Vocês estão dizendo que ela morreu? Que Antonieta morreu? É isso?

Elisa teve pena do marido, o pobre de Deus recebera um choque; até ali a possibilidade da morte da cunhada não lhe ocorrera. Pensara em carta extraviada, em dificuldades momentâneas de dinheiro – também os ricos têm os seus apertos – em viagem, plausível explicação de Elisa. Em doença e morte, jamais. A afirmação caiu sobre ele como uma tonelada de chumbo.

- Ai! – gemeu, apertando o estômago, no rosto uma careta de dor.

- Você é o único em Agreste que não sabe que ela morreu e sua mulher a única a duvidar… - a voz sibilante de Perpétua resolvendo a chaga.

Dona Carmosina voltou ao debate:

- A bem dizer, provas não existem. Suposições, sim.

Dura adversária, Perpétua atirou-lhe na cara a munição de dona Milú:

- Que outra prova você quer, além da falta de cartas? Não ouviu o que sua mãe disse? Era assim mesmo: quando Antonieta decidia fazer uma coisa, fazia até ao fim, quem bem sabe sou eu.

- Não há dúvida… – concordou, em termos, dons Carmosina: 

-Suposições apoiadas em factos concretos, porém suposições…

- Estamos desgraçados! – gemeu Astério, dando-se conta da enormidade do acontecimento: - Como vai a gente viver, se ela morreu?

Contendo o choro, Elisa trouxe um comprimido e um copo de água:

- Tome Astério, o remédio para o estômago…

- Que vai ser da gente? – o comprimido caiu da mão de Astério, Elisa e dona Carmosina o procurarem pelo chão de tijolos, encontraram. Elisa o põe na boca do marido, dá-lhe água.

- Nem para remédio vai sobrar – conclui Astério num engulho.

Dona Carmosina balançou a cabeça, concordando: não será fácil. Não tanto para Perpétua, possui casa de aluguel e dinheiro guardado, mas Elisa e Astério vivem da loja mal sortida, das vendas aos sábados, lucro minguado.

Dona Carmosina tentou deixar de lado esses detalhes, insignificantes diante do facto maior da morte de Tieta, amiga de infância e adolescência, cujas confidências ouvira há tantos anos.

Insignificantes? Não com o preço actual do ruge e do batom, do rímel e do esmalte, das revistas, cinco por semana – e Elisa esquecera de pagar as de hoje. Falara em pegar o dinheiro, não pagara.

Se a morte se confirmar, dona Carmosina não poderá cobrar, carregará com o prejuízo. Amizade prova-se nessas horas.

Mas eis que Perpétua ergue o busto, o coque parece crescer no alto da cabeça, a voz fanhosa ganha força:

- Ela morreu e nós somos seus herdeiros…

A tal história da herança, dona Carmosina liga todas as antenas. Astério, nas vascas da agonia, não entende:

- O que é que você disse? Herdeiros? Como?

Tempo suficiente para dona Carmosina consultar seus conhecimentos jurídicos e entrar de advogada:

- Hum! É capaz que você tenha razão. Casada mas sem filhos… os parentes herdam… Já li sobre isso, deixe-me ver…

Superior, Perpétua pôs em pratos limpos:

- Outro dia conversei com doutor Almiro, quando ele esteve aqui por causa da herança de seu Lito. Metade para o marido, metade para os parentes próximos. Pai, mãe, irmãos. Nem que o morto não queira.

Foi nessa altura da conversa que se aplacaram as dores de Astério, diminuiu o mal-estar do estômago, rogou confirmação:

- Quem disse foi doutor Almiro? Ele sabe.

quinta-feira, dezembro 03, 2015

A Democracia

que era mitigada





                          
                                               As velinhas da fé................











A democracia no nosso país, relativamente aos nossos parceiros europeus, era mitigada.

Por culpa dos partidos, de uns e de outros.

A partir das últimas eleições legislativas de 4 de Outubro, surpreendentemente, para quase todos nós que estávamos distraídos, a democracia alargou-se, o país distendeu-se, perdeu a vergonha, e agora vamos todos ter que aprender com esta nova situação, que numa primeira fase se estranha e numa segunda, espera-se que se entranhe, como dizia o grande Fernando Pessoa à cerca da Coca-cola.

Os deputados da oposição comportam-se como meninos ricos, birrentos e raivosos para com os miúdos pobrezinhos da rua que lhes tiraram o brinquedo, numa acção perfeitamente imperdoável.

Incapazes de alterar, para já, uma realidade, as cabeças eruditas dos deputados da oposição, ironizam, ridicularizam, troçam, ameaçam, pressagiam infernos de fogo ardente, aterrorizam os portugueses.

... Não é possível que “aquilo” lhes tenha acontecido, a eles, celebrada que fora a vitória e se preparavam para cumprir o seu destino de mandar numa sociedade de raízes tradicionais, católica, provinciana, na qual, o candidato Passos Coelho, fez campanha eleitoral segurando na mão, firmemente, o crucifixo.

... É verdade que 60% dos eleitores recusaram nas urnas as políticas de Passos e a forma como este tratou ao longo de mais de 4 anos, os mais pobres, os velhos, os trabalhadores e os pensionistas, sem uma explicação, acintosamente, sem um pedido de desculpas.

Aquele aspecto de dandy de opereta barata, distante e superior de Passos Coelho, não foi nada apreciado pelos portugueses, surpreendentemente...!

... O povo deveria ter compreendido, e alguns até compreenderam, ou foram levados a isso por um brasileiro que veio da sua terra de propósito para executar uma estratégia de convencimento, de que mandar é assim mesmo, ou já se esqueceram desse grande homem que foi Salazar, e que pouca ou nenhuma confiança passava aos cidadãos, sempre calado, escondido no reduto do seu gabinete, defendendo os interesses dos mais poderosos que lhe pagavam a PIDE, a Censura, a Legião, e a GNR...?

 ... Ah! mas esses tempos eram outros, agora todos têm que ser chamados à governação, participar, porque António Costa descobriu essa coisa nova que se chama de “negociação”.

Desesperados, Passos Coelho, Paulo Portas e seus falcões, esperneiam de todas as maneiras, por todo o lado, e católicos que são, a esta hora, lá em casa, já acenderam todas as velinhas aos santos da predilecção de cada um, para que tudo corra mal e o país se afunde nas profundezas das desgraças e eles saiam em triunfo, levados em ombros pelo povo, vergado ao seu irrecusável encanto e sedução. 

– Ámen...
  

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Tal era o sono que nem deu para reparar na cama em que se deitavam...




Mixórdia de Temáticas - As doenças do "Bolinhas"


Nada nos faz melhor que a companhia de pessoas bem dispostas  que riam e digam pilhérias.



Marco Parma
Ao que isto chegou
   














«O director do Instituto Garofani de Rozzano, na província italiana de Milão, decidiu cancelar as festividades de Natal em nome do respeito das várias culturas e credos dos alunos do estabelecimento de ensino. A decisão provocou a ira dos pais e uma reacção do primeiro-ministro de Itália, que considerou que o responsável está a cometer um “erro enorme”.

Na escola, que tem cerca de mil alunos, entre turmas da primária até ao ensino secundário, perto de 20% de estudantes são de fés não cristãs, sendo que a maioria pertence a famílias que seguem o islamismo.


O director do instituto, Marco Parma, de 63 anos, decidiu que este ano o habitual concerto de Natal das crianças do primeiro ciclo seria adiado para 21 de Janeiro e passaria a ser um concerto de Inverno, sem temas com conteúdos religiosos. O responsável rejeitou a proposta de duas mães de alunos que se ofereceram para ensinar canções de Natal aos mais pequenos durante os intervalos. No entanto, considerou que as festas de Natal que cada sala costuma celebrar devem ser realizadas.»
 Do Jornal [Público]



Nota - Alguma coisa vai mal com  alguns europeus... Estas cedências em nossa casa, de usos e costumes tradicionais, que são nossos, fazem parte da nossa cultura, só podem ser mal interpretadas por quem as fazemos.

Preservar a nossa identidade no respeito pelos outros é elementar. Naturalmente, as outras crianças não teriam que participar numa festa que não lhes era dirigida.

O Director daquele Instituto, o sr. Marco Parma só pode ter ideias muito baralhadas na cabeça...
  

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