sábado, março 24, 2012

IMAGEM

O Pôr-do Sol em Alcochete

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PEDRO BARROSO - COMPANHEIRA


VÍDEO

A Falsa bomba...

A COBRA E O


PIRILAMPO





Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo que só vivia para brilhar.

Ele fugia muito depressa com medo mas a cobra não desistia de o perseguir, um dia, dois dias e nada, ela não desistia.

No terceiro dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:

- Posso fazer três perguntas?

- Podes. Não costumo abrir precedentes para ninguém mas como te vou comer, podes perguntar.

- Pertenço à tua cadeia alimentar?

- Não.

- Fiz-te alguma coisa de mal?

- Não.

- Então por que me queres comer?

- Porque não suporto ver-te brilhar!!!

Entrevista com Mário Soares (cont.)








Disse-lhe -lhe: "Pois vai. O que é que hei-de fazer? Sair do Partido neste momento e da Candidatura, a meio?"

No final do despacho, trabalhava com ele todas as manhãs, disse-lhe: "Senhor general, tenho que lhe dizer uma coisa pessoal. Em democracia, temos de fazer as nossas opções. Acho que a política faz-se com partidos. Sempre me considerei uma pessoa de esquerda. Por isso, quero dizer ao senhor general que aderi ao Partido Comunista." Não disse que já era, isso então era o fim! O general ficou a olhar para mim, estava na cama, recebia-me quase sempre na cama...
Recebia-o na cama?
Recebia sempre na cama. Levantava-se tarde, por volta da uma hora. Tinha o gosto de ler o "Times" sempre na cama, tinha os seus hábitos, de estilo inglês. O meu pai era amigo dele. Ele sabia por isso quem eu era e gostava imenso de mim. Quando lhe disse isso, só exclamou: "Não sabia!" E calou-se. "Se o senhor general quiser fazer alguma pergunta..." Ficou a olhar para mim, sem dizer nada. Tínhamos acabado o despacho, despedi-me.
E não estranhou?
Estranhei. Mas não houve uma recriminação. Nada. Desci para o primeiro andar, onde estava o prof. Azevedo Gomes, que era o director de campanha. "E então?" perguntou-me. "Correu bem. O general, parece-me, que achou normal. Não fez qualquer comentário." "A sério?", perguntou Azevedo Gomes. "Sim", disse eu. "Se me dá licença vou agora aqui com os meus colegas almoçar para festejar." (risos)Saímos e quando voltámos, duas horas depois, estava tudo em bolandas. O general tinha mandado retirar toda a documentação que estava no primeiro andar, para o andar dele. Tirou tudo!
Despediu-o?
O que o Prof. Azevedo Gomes me disse foi:

- "Ó Mário, depois de você sair, fui chamado lá acima ao general. Estava furiosíssimo, sentia-se traído, por si e queria-o pôr fora da Candidatura. Tive de lhe dizer: "Senhor general, se expulsa o Mário Soares, eu também saio e vai ver que há mais outras pessoas que se demitem." O General disse: "Então eu não o quero ver mais, enquanto houver Candidatura!" E assim foi! Nunca mais despachou comigo, nunca mais me falou, nunca mais me deu uma ordem! Eu estava para ir ao grande comício que se fez no Porto e ele proibiu-me. Disse ao Azevedo Gomes que eu estava proibido de ir a qualquer comício em que ele estivesse. Isto foi a meio da Campanha e eu nunca mais vi o Norton de Matos!

Não fomos às eleições, isto é: não votámos, mas estive esse dia todo na Candidatura, até ao fim, a queimar papéis, com a PIDE a rondar. Depois fui para casa, isto é: para casa dos meus pais, ainda era solteiro. Às sete da manhã, fui prevenido por uma criada: "Fuja, fuja, que está ali a polícia." E eu em pijama, com umas pantufas e um sobretudo, fugi pelas traseiras do Colégio - não havia Universidade ainda.

Era uma quinta vasta, que em parte, pertencia ao Colégio. Cheguei à rua da Beneficência, apanhei um táxi e fui para casa do meu amigo Barradas de Carvalho, que era também comunista, um amigo-irmão, até à morte. Ele morreu comunista já depois do 25 de Abril. Mas em 75 dava-me razão, também achava uma loucura o que se estava a passar. Fui a casa do Barradas, ele também vivia em casa dos pais, ali ao pé da Igreja de Fátima. Estava a dormir, acordei-o. "Olha, a PIDE foi a minha casa, no Colégio." Nós, nessa altura, vivíamos ainda no Colégio.
Viviam mesmo no edifício do Colégio?
Vivíamos, o meu pai, a minha mãe e eu. Tínhamos uma casa à parte. Mas no Colégio. Pedi ao Barradas para me ir buscar dinheiro e roupa. Eu não queria entrar na clandestinidade. Sempre lhes disse. "Faço o que vocês quiserem, mas não vou para a clandestinidade! Isso não!"
Por que é que não queria ir para a clandestinidade?
Porque a clandestinidade era o fim de uma vida livre! Era um militante comunista e antifascista, mas pensava que se entrasse na clandestinidade era como se fosse um frade laico. Tinha de abandonar o curso de Letras, deixar de ver as pessoas que eu conhecia, os meus amigos, o meu estilo de vida, não ir ao cinema, às exposições, etc. Estava disposto a correr o risco de ser preso, mas não queria ir para a clandestinidade. Modéstia à parte, julgo que estavam convencidos que eu poderia dar um grande militante do PCP. Mas eu queria pensar pela minha cabeça, apesar de comunista. Não era um fanático. Nunca fui! Era comunista, porque o Partido Comunista era a única organização que se batia na Universidade contra o regime. (continua)

GABRIELA

CRAVO
E

CANELA


Episódio Nº 56


- No cabaré? Óptimo… Vai pegar enchente… Mas porque não dança no cinema? Eu pensei…

- Danças modernas, coronel. Os véus vão caindo um a um…

- Um a um? Todos sete?

- As famílias podiam não gostar…

- Ah! Lá isso é… Um a um… Todos? É melhor mesmo na cabaré… Mais animado.

Anabela ria, fitava o coronel com uns olhos prometedores. O Doutor repetia:

- Terra atrasada. Onde a arte é expulsa para os cabarés.

- Nem cozinheiro se encontra – lastimou-se Nacib.

O professor Josué descia a rua em companhia de João Fulgêncio. Chegara a hora do aperitivo. O bar regurgitava de gente. O próprio Nacib era obrigado a andar entre as mesas, servindo. Os fregueses reclamavam os salgados e doces, o árabe repetia explicações, praguejava contra a velha Filomena.

O russo Jacob, suando em bicas, despenteado e o cabelo ruivo, queria saber do jantar do dia seguinte:

- Não se preocupe. Não sou mulher-dama para faltar ao trato.

Josué, muito homem de sociedade, beijava a mão de Anabela. João Fulgêncio, que não frequentava o cabaré, protestava contra a pudicícia de Diógenes:

- Escândalo, coisa nenhuma. Isso é carolice desse protestante…

Mundinho Falcão espiava a rua, esperando a volta do Capitão. De quando em vez, ele e o Doutor trocavam olhares. Nacib acompanhava aqueles olhares, a impaciência do exportador. A ele não enganavam: alguma coisa estava sendo tramada.

O vento, vindo do mar, arrastava a sombrinha de Anabela, deixada aberta ao lado da mesa. Nhô-Galo, Josué, o Doutor, o coronel Ribeirinho, precipitaram-se para segurá-la. Apenas Mundinho Falcão e o Príncipe Sandra ficaram sentados. Mas quem a trouxe foi o Doutor Ezequiel Prado, que vinha chegando, os olhos empapados de ébrio.

- Meus respeitos, minha senhora…

Os olhos de Anabela, de longas pestanas negras, passavam de homem a homem, demoravam-se em Ribeirinho.

- Gente distinta! - disse o Príncipe Sandra.

Tonico Bastos, vindo do cartório, caía nos braços de Mundinho falcão, grandes demonstrações de amizade.

- E o Rio, como o deixou? Lá é que se vive…

Seus olhos mediam Anabela, seus olhos de conquistador, do homem irresistível da cidade.

- Quem me apresenta? – perguntou.

Nhô-Galo e o Doutor sentavam-se ao lado de um tabuleiro de gamão. Noutra mesa, alguém contava a Nacib as maravilhas de uma cozinheira. Tempero como o dela, nunca tinha visto… Só que estava no Recife, empregada de uma família Coutinho, pernambucanos importantes.

- De que diabo me serve?


(Click na imagem de Tonico Bastos, filho mais novo do coronel Ramiro Bastos, "conquistador, o homem irresistível da cidade". )

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA
Nº 43 SOBRE O TEMA:
“JESUS E A SIDA”(3)

As Cifras da Pandemia



A epidemia de SIDA ameaça não só a saúde pública mundial, mas também os direitos humanos e desenvolvimento. De acordo com o relatório do ONU/SIDA de 2006, mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com o HIV (vírus da imunodeficiência humana) ou já estão na fase da SIDA. Quatro em cada dez pessoas que vivem com HIV são mulheres e cerca de 3 milhões são menores de 15 anos. Em 2005, havia 5 milhões de novas infecções e 3 milhões de pessoas morreram de SIDA.

O Conselho de Segurança da ONU reconhecia em Janeiro de 2000 que a pandemia da SIDA ameaçava directamente a segurança nacional e internacional pela dinâmica de mútuo reforço e pela ligação que se estabelece entre a SIDA e a pobreza e falta de informação. A epidemia da SIDA aprofunda a pobreza e alimenta-se dela

Se não se tomar em conta o "efeito SIDA", as alternativas que se procuram para fugir da pobreza, tanto de natureza pessoal – emigração e sexo - como nacionais – cabeleireiras e turismo – podem criar condições e cenários que vão espalhar a epidemia.

Na América Latina e no Caribe estimam-se cerca de 2 milhões de pessoas que vivem com a infecção. Este número inclui as 150 000 novas infecções até 2005. O Caribe é a segunda região mais afectada do mundo, depois da sub-saariana, embora a diferença significativa das taxas muito altas que têm vários países africanos.

O Brasil tem mais de um terço das pessoas que vivem com HIV na América Latina mas a maior prevalência em relação à sua população têm dois pequenos países, Honduras e Belize, com 1,5% de sua população adulta com HIV.

sexta-feira, março 23, 2012

IMAGENS DE SONHO

ALBÂNIA

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O HOMEM DAS GAITAS

Depois de mais uma reunião da UE alguns Ministros, para "aliviar" a pressão, resolvem passar pelo Museu do Prado em Madrid e, alguns deles param meditativos perante uma excelente pintura de Adão e Eva no Paraíso.

Desabafa Angela Merkel:
- Olhem, que perfeição de corpos: ela esbelta e esguia, ele com este corpo atlético, os músculos perfilados... São necessariamente estereótipos alemães. Imediatamente Sarkozy reagiu:
- Não acredito. É evidente o erotismo que se desprende de ambas as figuras... ela tão feminina... ele tão masculino...Sabem que em breve chegará a tentação... Só poderiam ser franceses.

Movendo negativamente a cabeça, o Gordon Brown arrisca:
- Of course not! Notem... a serenidade dos seus rostos, a delicadeza da pose, a sobriedade do gesto. Só podem ser ingleses.

Depois de alguns segundos mais de contemplação, Passos Coelho exclama:

- Não concordo.
- Reparem bem: não têm roupa, não têm sapatos, não têm casa, só têm uma triste maçã para comer... não protestam e ainda pensam que estão no Paraíso. Não tenham a menor dúvida, são portugueses!

MÁRIO SOARES

Mário Soares tem hoje 87 anos e concedeu, em Dezembro de 2009, à jornalista Ana Sá Lopes uma entrevista a propósito do seu 85º Aniversário.

Mário Soares vai fazer em 7 de Dezembro próximo 88 anos e constitui, pelo extraordinário protagonismo político que teve, um retrato vivo da política nacional dos últimos 50 anos, um retrato vivo do país que fomos e que somos, razões mais que suficientes para passarmos aqui, no Memórias Futuras, em pequenos episódios, essa entrevista:



"Se o país fosse uma família, um único português cabia no lugar do pater familiae: Chama-se Mário Alberto Nobre Lopes Soares e faz hoje 85 anos. Foi o máximo denominador comum entre a esquerda e a direita no Portugal do pós-25 de Abril, como o tinha sido já no combate à ditadura. Hoje, prepara o seu "ensaio autobiográfico político e ideológico" - já escreveu cinco capítulos - e mantém intacta a intervenção política. Acha o momento actual "perigoso" e não se conforma com a acção política do seu velho amigo Manuel Alegre.


Quando foi militante do PCP dava-se bem com Álvaro Cunhal? Ele tinha sido seu professor...Professor não, regente de estudos... Ele não podia ser professor, porque o regime achava que ele não tinha "idoneidade moral", apesar de ser licenciado em direito. Eu depois também não pude ser professor, nem do colégio do meu pai. Era formado em história e filosofia, mas não podia ser professor porque não tinha "idoneidade moral", como dizia a PIDE...


E como era a sua relação com Cunhal nesse tempo?Álvaro Cunhal tinha uma personalidade impressionante. Um olhar irradiante e incisivo, uma cabeça invulgar. Era de estatura mediana, muito magro, nessa altura. Esteve um ano e meio - não mais - no colégio do meu pai, antes de ir para a clandestinidade. Foi meu explicador, eu andava no 6º e 7º anos. Ensinou-me geografia. Uma vez perguntaram-lhe isso. Respondeu: "O pai dele pediu-me para lhe ensinar as coordenadas celestes. Ele aprendeu, com muita facilidade. As terrestres, é que nunca aprendeu..." (risos)


No PCP era uma pessoa importante no partido?


- Fui comunista entre 1942 e 1949. Sete anos. Nunca fui importante no partido. Tinha a missão de controlar movimentos antifascistas, como o MUD Juvenil. Eu tinha dentro do partido a missão de ser antifascista e nunca apresentar-me como partidário. Mas tinha reuniões com uma célula do partido. Fui um dos fundadores do MUD Juvenil. E o representante dos jovens, no MUD. Depois, quando foi da Candidatura de Norton de Matos, fui uma espécie de secretário do general. Montei a Secretaria e controlava o aparelho.

E, então, a direcção do Partido quis que eu dissesse a Norton de Matos que era junto dele o representante do PCP. Respondi-lhes: "Isso é uma loucura, como é que vocês querem que eu vá fazer isso a meio da campanha? Já mediram as consequências desse acto que me impõem?" Mas por que é que o obrigaram a fazer isso? Ainda hoje não percebo. Queriam ter um representante directo na comissão central da Candidatura do Norton de Matos, para afirmar o partido. Mas também poderia ser por outra razão.

Quando se dissesse que eu era o representante do Partido Comunista na Candidatura de Norton de Matos, toda a gente começava a falar. Havia lá muitos republicanos, muitos anticomunistas. E eu teria provavelmente de passar à clandestinidade... Coisa que sempre me recusei a fazer. É outra explicação que me ocorreu a posteriori. Veio de propósito um membro do Secretariado, Alberto, para me convencer. Tivemos um encontro em Lisboa, durante uma tarde inteira. Disse-lhe que era uma estupidez, uma irracionalidade. Estava muita gente na minha mão e na da nossa equipa. Muitos dos quais tinham sido do MUD Juvenil. Diga-se, que eram quase todos comunistas como eu.

"Se eu vou dizer isso ao general, ele vai ficar furioso." Mas insistiram, insistiram, invocando a disciplina partidária. Respondi: "Se vocês me obrigam a fazer esse disparate, cumpro. Mas é a última vez que cumpro, porque saio do partido." E assim fiz. Fui dizer ao general Norton de Matos que era comunista...Antes de dizer ao general, disse ao prof. Azevedo Gomes, que era muito meu amigo, de excepcional bondade e senso político. Preveniu-me que o general iria reagir muito mal. (continua)

PEDRO BARROSO - MENINA DOS OLHOS

40 anos de canções, de poemas, de uma voz de rara sonoridade aqui acompanhadas de lindas imagens.


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA




Episódio Nº 55



Mundinho Falcão não dizia nada, sorria. Na porta do cinema apareciam Diógenes e o casal de artistas. Viram os outros na mesa, no passeio do bar, para lá se dirigiram.

Nacib acrescentava:

- É isso mesmo. Seu Mundinho para ele é um forasteiro.

- Ele disse “forasteiro” – perguntou o exportador.

- Forasteiro, sim, foi a palavra que usou.

Mundinho Falcão tocou no braço da Capitão.

- Pode procurar o homem, Capitão. Estou decidido. Vamos tocar música para o velho dançar… – Disse a última frase para Nacib.

O Capitão levantou-se, esvaziou o cálice, o casal de artistas estava chegando. Que diabo estariam os outros planejando? – cogitava Nacib. O Capitão cumprimentava:

- Desculpem-me, estava de saída, coisa urgente.

Os homens levantavam-se da mesa, arrastavam cadeiras. Uma sombrinha aberta. Anabela sorria, coquete. O Príncipe, com a sua piteira comprida, estendia a mão longa e magérrima, nervosa.

- Quando é a estreia? – perguntou o doutor.

- Amanhã… estamos acertando com seu Diógenes. O dono do cinema, barba por fazer, explicava numa voz eternamente desanimada e lamentosa de cantador de hinos sacros.:

- Creio que ele pode agradar. A meninada gosta desses truques de prestidigitação. E mesmo gente grande. Mas ela…

- Porque não? – perguntou Mundinho enquanto Nacib servia novos aperitivos.

Diógenes coçou a barba:

- O senhor sabe, isto aqui ainda é um lugar atrasado. Essas danças dela, quase nua, as famílias não vêm.

- Enche de homens… afirmou Nacib.

Diógenes estava cheio de dedos para explicar. Não querendo confessar ser ele próprio, protestante e pudico quem se sentia melindrado com as danças ousadas de Anabela:

- É coisa para cabaré… Não fica bem no cinema.

O Doutor, muito cortês e fino, desculpava a cidade ante a sorridente artista:

- A senhora desculpe. Terra atrasada, onde as ousadias da arte não são compreendidas. Acham tudo imoral.

- Danças artísticas – a voz cavernosa do prestidigitador.

- É claro, é claro… Mas…

Mundinho Falcão divertia-se.

- Ora, seu Diógenes…

- No cabaré ela pode até ganhar mais. Trabalha no cinema com o marido, nos truques. Depois dança no cabaré…

À voz de ganhar mais, iluminou-se o olhar o olhar do Príncipe. Anabela queria saber a opinião de Mundinho:

- O que é que acha?

- Bem, não é. Mágica no cinema, dança no cabaré… Perfeito.

- E o dono do cabaré? Será que se interessa?

- Isso vamos saber logo… – dirigia-se a Nacib. – Nacib, faça-me um favor: mande o rapaz chamar Zeca Lima, quero falar com ele. Com pressa, que venha logo.

Nacib gritou uma ordem ao negrinho Tuísca, que saíu correndo. Mundinho dava boas gorjetas. O árabe pensava na voz de mando do exportador, parecia a voz do coronel Ramiro Bastos quando mais moço, ordenando sempre, ditando leis. Alguma coisa estava para suceder.

O movimento aumentava, chegavam novos fregueses, animavam-se as mesas. Chico Moleza corria de um lado para o outro. Nhô-Galo reapareceu, juntou-se à roda. Também o coronel Ribeirinho, os olhos a engolir a dançarina. Anabela resplandecia entre todos aqueles homens. O Príncipe Sandra, com o seu ar de subalimentado, muito digno na cadeira, fazia cálculos do dinheirão a ganhar ali…

Praça para demorar, tirar a barriga da miséria.

- Essa ideia do cabaré não é má…

- Que ideia? – desejava saber Ribeirinho.

- Ela vai dançar no cabaré.

- No cinema, não?

- No cinema só mágicas. Pràs famílias. No cabaré a dança dos sete véus…

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INFORMAÇÕES ADICIONAIS


À ENTREVISTA COM JESUS Nº 43


SOBRE O TEMA: “JESUS E A SIDA” (2)



A Primeira Epidemia da Globalização

Desde 1849, durante a epidemia de cólera que dizimou a população de Londres, o Dr. John Snow descobriu que a maioria das vítimas bebia água da fonte na Broad Street e recomendou que a fechassem ao público para parar aquela crise de saúde pública.

O estudo de epidemias ganhou um lugar entre as ciências médicas. Hoje, enfrentar a SIDA, aparece como um desafio à escala global. Na América Latina, o Brasil oferece um modelo exemplar. Para conhecer como se estruturou com sucesso esse modelo de cuidados recomendo o texto "Brasil: um modelo para a crise da AIDS" em: www.envio.org.ni

quinta-feira, março 22, 2012

Os Cavacos...

IMAGEM

Salvador da Baía, a cidade brasileira mais portuguesa que eu tive o agrado de visitar há dezassete anos. Felizmente, então não estava armado o palco.


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DISCURSO DO PREFEITO de QUIXERAMOBIM

Depois deste discurso alguém duvida das enormes capacidades da língua portuguesa como instrumento de oratória? Com Acordo Ortográfico ou sem acordo...

Mariza Monte (continuação)

Mas eis que no meio de tudo isso uma voz vem surgindo, a força da renovação que tanto procurávamos se faz presente, não estamos vencidos, e a melodia doce, suave, forte de seu canto vem nos dizer que a musica brasileira sobrevive, altiva conquistando o merecido aplauso. Essa voz que nos encantou dando um sopro de esperança à musica popular contribuindo para uma reflexão e revisão de alguns conceitos erróneos vinha de uma bela e jovem interprete, Marisa Monte. Seu disco de estréia em 1989 arrasou, seu talento venceu as barreiras da mediocridade que se generalizava, em seu canto não havia apelação, apenas talento. Diante da grande crise de renovação que se operava, ela veio como um furacão a mostrar os caminhos seguros que a musica popular brasileira deveria seguir, percebeu o passado e o cantou de modo exuberante, sua interpretação de Rosa de Pixinguinha é sublime, observou que o cenário do pop/rock não era feito apenas de artistas liquefeitos e buscou o que eles tinham de melhor a oferecer e cantou Comida dos Titãs de maneira inesquecível.


Seguiram-se outros trabalhos e a sua voz mantinha (mantêm) com galhardia a tradição de nossas grandes cantoras. Uniu-se aos melhores artistas de sua geração e com eles mostrou seu talento de compositora, verificou que a cena musical caminhava para uma reestruturação conceitual e era preciso abrir alas e mostrar sua verdadeira face, muito escondida, assim surge a produtora e divulgadora do samba de raiz em magníficos trabalhos junto com a Velha Guarda da Portela valorizando e divulgando a autentica musica nacional.


Entre seus discos, todos excelentes, destaca-se Verde anil amarelo cor de rosa e carvão, lançado em 1994, em que seu talento de compositora se sobressai em canções como, Na estrada , com Nando Reis e Carlinhos Brown, De mais ninguém e Bem leve , com Arnaldo Antunes, O céu e Enquanto isso , com Nando Reis. Conquistou também o premio de melhor clip do ano com Segue o seco , de Carlinhos Brown. Demonstrando que sabe aliar com maestria o tradicional e o novo, Marisa Monte interpreta de modo definitivo os sambas Dança da solidão , de Paulinho da Viola e Esta melodia , de Bubu da Portela e Jamelão.
Numa época de incertezas e descaminhos a voz e o talento de Marisa Monte recolocou a musica popular brasileira novamente nos trilhos reafirmando nossa vocação para a superação.

Luiz Américo Lisboa Junior Itabuna, 19 de outubro de 2005.



MARISA MONTE - ONTEM AO LUAR



A MORTE


Um homem morreu intempestivamente…

Ao dar-se conta viu que se aproximava um ser muito especial que não se parecia com nenhum ser humano.

Trazia consigo uma maleta e disse-lhe:

… Bom, amigo, é hora de irmos… sou a morte.

O homem, assombrado, perguntou à morte:

Já?... tinha muitos planos para breve…

Sinto muito, amigo… mas é o momento da tua partida.

Que trazes nessa maleta?

E a morte respondeu-lhe:

- Os teus pertences.

- Os meus pertences? – São as minhas roupas, as minhas coisas, o meu dinheiro?

- Não, amigo, as coisas materiais que tinhas nunca te pertenceram… Eram da Terra.

- Trazes as minhas recordações?

- Não amigo, as coisas materiais que tinhas, nunca te pertenceram… Eram do Tempo.

- Trazes os meus talentos?

- Não amigo, esses nunca te pertenceram… Eram das Circunstâncias.

- Trazes os meus amigos, os meus familiares?

- Não amigo, eles nunca te pertenceram… Eram do Caminho.

- Trazes a minha mulher e os meus filhos?

- Não amigo, eles nunca te pertenceram… Eram do Coração.

- Trazes o meu corpo?

- Não amigo, esse nunca te pertenceu… Era propriedade da Terra.

_ Então, trazes a minha alma?

- Não amigo, ela nunca te pertenceu… Era do Universo

Então o homem, cheio de medo, arrebatou a maleta e abriu-a… e deu-se conta de que estava vazia.

Com uma lágrima de desamparo a brotar dos seus olhos o homem disse à Morte:

- Nunca tive nada?

- Tiveste, sim, meu amigo… Cada um dos momentos que viveste foram só teus… a Vida é só um momento… um Momento todo teu.

Desfruta-o na totalidade… Vive Agora a Tua Vida e… Não te Esqueças de ser Feliz.

Diz a mãe à filha:
'Minha filha... as vizinhas andam a dizer que andas a deitar-te com o teu noivo!'
'Ai, mamã, esta gente é muito maldizente... A gente deita-se com um qualquer e dizem logo que é noivo...'

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Maria, o teu marido vai atirar-se da janela.
Diz ao tarado que eu só lhe pus os cornos e não asas

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Carmen, estás doente?... Pergunto-te isto porque hoje de manhã vi um médico sair da tua casa...
Olha, minha amiga, ontem de manhã vi um militar sair da tua e não é por isso que estás em guerra, pois não?'
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- Diga-me uma coisa: Qual é o motivo por que quer divorciar-se do seu marido?
- O meu marido trata-me como se eu fosse um cão.
- Maltrata-a, bate-lhe?
- Não, quer que eu lhe seja fiel...

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A meio de um assalto um ladrão grita para o outro:
- Vem aí a policia!
- E agora o que fazemos?
- Saltamos pela janela!
- Mas estamos no 13º andar!
- Este não é o momento para superstições!

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Numa festa um empregado aproxima-se e oferece mais whisky a uma rapariga:
- Menina, aceita outro copo?
- Não, muito obrigada, faz-me mal às pernas.
- Adormecem?
- Não. abrem-se!

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA





Episódio Nº 54


Nacib entregou a caixa a Bico Fino, adiantou-se para o passeio.

Já arranjou cozinheira? – perguntou o Capitão, sentando-se.

- Já andei Ilhéus inteiro. Nem sombra…

- Conhaque, Nacib. Do verdadeiro, hem! – pediu Mundinho.

E uns bolinhos de bacalhau…

- Só à tarde…

- Ué, árabe, que decadência é essa?

- Assim você perde a freguesia. Mudamos de bar… – Riu o Capitão.

- De tarde já tem. Encomendei à Dos Reis.

- Ainda bem…

- Bem? Cobram uma fortuna… Perco dinheiro.

Mundinho Falcão aconselhava:

- O que você precisa, Nacib, é modernizar seu bar. Trazer frigorífico para ter gelo próprio, instalar máquinas modernas…

- Eu preciso é de uma cozinheira…

- Mande buscar em Sergipe.

- E até chegar?

Espiava o ar cúmplice dos três, o sorriso satisfeito do Capitão, a conversa interrompida, terminada de repente. Chico Moleza chegava com a bandeja das bebidas. Nacib sentou-se:

- Seu Mundinho, que diabo fez o senhor ao coronel Ramiro Bastos?

- Ao coronel? Não fiz nada. Porquê?

Foi a vez de Nacib fazer-se discreto:

- Por nada…

O Capitão, interessado, bateu-lhe nas costas, autoritário:

- Desembucha, árabe. O que foi?

- Encontrei ele hoje, na frente da Intendência. Tava sentado, quentando sol. Conversa vai, conversa vem, contei que seu Mundinho tinha chegado hoje, que ia vir o engenheiro… O velho ficou uma fera. Queria saber o que seu Mundinho tinha que ver com isso, porque se metia onde não era chamado.

- Tão vendo? – interrompeu o Capitão – A barra…

- Não é só isso, não. Quando ele estava falando, chegou o professor Josué contando que o colégio tinha sido oficializado, aí é que o homem pulou. Parece que ele tinha pedido ao Governo e não conseguiu. Batia a bengala no chão, danado da vida.

Nacib gozava o silêncio dos amigos, a impressão produzida por sua história, vingava-se do ar conspirativo com que haviam chegado. Não tardaria a saber o que andavam tramando. O Capitão falou:

- Furioso, hem? Muito mais ele ainda vai ficar, o velho pajé. Pensa que é dono disso aqui…

- Para ele, Ilhéus é como se fosse parte da sua fazenda. E nós, Ilheenses, simples empreiteiros e contratados… - Definiu o Doutor.
(Click na imagem de Sónia Braga, a nossa Gabriela, que ainda não entrou em cena para desespero do Nacib)

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

À ENTREVISTA Nº 43 SOBRE

O TEMA: “JESUS E A SIDA” (1)

Em Busca de Milagres



O tanque chamado Bethesda (Casa de Misericórdia) ou Bezata (O Fosso) e em grego Piscina, estava fora dos muros de Jerusalém e, em torno dele, reuniam-se doentes pedindo a Deus curas milagrosas através dessas águas, elas próprias consideradas milagrosas.

Muitos desses doentes estavam proibidos de entrar no Templo de Jerusalém por causa de suas doenças e esperava encontrar lá a misericórdia de Deus que as leis religiosas lhes negavam excluindo-os do lugar sagrado. Nas ruínas do que foi a famosa lagoa não há agora, praticamente, vestígios de água.

quarta-feira, março 21, 2012

IMAGEM

A natureza e as suas cores...

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VÍDEO

Circo du Soleil nos Óscares de 2012

O MORDOMO

O velho Conde retornando de seu passeio matinal, chega à sua mansão e é recebido pelo seu também velho mordomo, que, desmedidamente respeitoso, com um largo sorriso, abre-lhe a porta e, de cabeça baixa, o saúda, como de costume, há anos:


- Entre, seu filho de uma grande puta!!! De onde é que a porra do Conde vem com essa cara de viado velho?

E o Conde, sorridente, lhe responde:

- Do otorrino... Acabo de comprar um aparelho auditivo!!...

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA







Episódio nº 53



Assunto delicado e delicioso, daria lugar às piadas do Capitão e de João Fulgêncio, a sarcásticos comentários de Nhô-Galo, a gostosas gargalhadas. Tonico Bastos não tardaria a estar rondando a dançarina, mas desta vez teria Mundinho Falcão pela frente.

Não fora certamente por amor às suas danças que o exportador a trouxera, rebocando o marido de piteira, pagando certamente as passagens. Havia o jantar do dia seguinte, da Empresa de Ónibus. Saber os motivos por que tal e qual não haviam sido convidados. E as novas mulheres do cabaré, a noite com Risoleta…

Nem de propósito, Nhô-Galo entrava no bar, devia estar na Mesa de Rendas:

- Fiz a besteira de voltar para casa depois da chegada do Ita, dormir até agora. Me dá um trago, vou trabalhar…

Serviu-lhe a mistura habitual de vermute e cachaça.

- E a zarolha, hem? – Nhô-Galo ria – Você ontem estava grandioso, árabe, grandioso! – afirmava depois da constatação de um facto – O mulherio aqui está melhorando, não há dúvida.

- Nunca vi mulher tão sabida… - Nacib sussurrava detalhes.

- Não me diga, senhor!

O negrinho Tuísca chegava com a sua caixa de engraxar, trazia um recado das irmãs Dos Reis: estava tudo em ordem, Nacib podia ficar descansado. À tarde mandariam dois tabuleiros.

Por falar em tabuleiro, me serve alguma coisa para acompanhar. Um tira-gosto qualquer.

- Não tá vendo que não tem? Só de tarde. Minha cozinheira foi embora…

Nhô-Galo fez-se engraçado:

- Porque você não contrata Machadinho ou Miss Pirangi?

Tratava-se dos dois invertidos oficiais da cidade. O mulato Machadinho sempre limpo e bem arranjado, lavadeira de profissão, em cujas mãos delicadas as famílias entregavam os ternos de linho, de brim branco HJ, as camisas finas, os colarinhos duros. E um negro medonho, servente na pensão de Caetano, cujo vulto era visto à noite na praia, em busca viciosa. Os moleques atiravam-lhe pedras, gritavam-lhe o apelido: “Miss Pirangi! Miss Pirangi!”

Nacib danava-se com o conselho motejador:

- Vá à merda!

- Vou mesmo, vou para a repartição. Fazer que trabalho. Daqui a pouco volto, quero saber a noite de ontem, tintim por tintim.

O movimento crescia no bar. Nacib viu quando, das bandas da praia, surgiram o Capitão e o Doutor, ladeando Mundinho Falcão. Conversavam animados, o Capitão gesticulava, de quando em quando interrompido pelo Doutor.

Mundinho ouvia, concordava com a cabeça. Ali havia coisa… - pensou Nacib. Que diabo fazia o exportador em companhia dos dois compadres? Desembarcado naquela manhã, ausente quase um mês, Mundinho deveria estar em seu escritório recebendo os coronéis, discutindo negócios, comprando cacau.

Esse Mundinho Falcão era inesperado, fazia tudo diferente dos demais. Lá vinha ele, como se não tivesse negócios a resolver, fregueses a atender e despachar, conversando na maior das animações com os dois amigos.


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INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

À ENTREVISTA Nº 43 SOBRE O TEMA:
"JESUS E A SIDA"




Bento XVI e o Preservativo

A SIDA é um dos grandes flagelos de África, infelizmente longe de ser o único mas é, sem dúvida, dos mais graves.

Num continente em que 70% das pessoas estão infectadas, no ano passado, aos 22 milhões seropositivos na África Subsariana, juntaram-se mais 1,9 milhões.

E o que diz Bento XVI à sua chegada aos Camarões, na sua visita ao continente africano em Março de 2009?

Textualmente:

- “Não se resolve o problema da Sida com a distribuição de preservativos. Pelo contrário, o seu uso só o agrava”.

O mundo reagiu com espanto e indignação, excepção feita aos seus cardeais e a João César das Neves mas, na verdade, não há razão para surpresas.

As pessoas têm que desfazer nos seus espíritos a ideia de que a religião católica ou qualquer outra, prossegue como finalidade a vida e a felicidade humanas e só este equívoco é que explica a surpresa e indignação face às palavras do Papa.

A Igreja Católica é um edifício construído para ser um instrumento de Poder e de Controle de Consciências e com esta finalidade perpetuar-se no tempo, aproveitando-se de um “espaço de crença” que, por questões de sobrevivência da espécie, se desenvolveu no cérebro humano ao longo do seu processo de desenvolvimento.

Homens muito inteligentes, ambiciosos e perspicazes construíram-no de dogmas, preceitos, regulamentos e uma história nem sempre bem construída – o espírito santo, a virgindade de Maria, a ressurreição – mas o sentimento de crença não tem nenhum tipo de exigência quanto ao rigor da história.

Certo, é que a Igreja preocupa-se consigo própria e quem julgar que não é assim corre o risco de se surpreender.

Se a religião católica transigisse relativamente ao uso do preservativo, amanhã, no que respeitasse à morte medicamente assistida em situações previstas na lei, ao divórcio, etc… estaria a pôr-se em causa a si própria no futuro porque estaria a mexer nos seus alicerces.

O sofrimento e o pecado são peças indispensáveis da doutrina da Igreja e no seu controle das consciências. Na sua óptica, as pessoas não nasceram para ser felizes mas para amarem e respeitarem o seu Deus da forma que ela, Igreja, estipula sob pena de sermos castigados depois da morte por toda a eternidade.

A Igreja precisa de candidatos a pecar e para isso tem que criar proibições, regras de vida desumanas, daquelas em que o incumprimento é obvio porque é a nossa própria natureza que está a ser atingida e o sexo, para isso, é um campo excelente.

A “ordem” do Papa para os africanos é:

- Submetam-se à Igreja, sejam castos, não tenham relações sexuais fora do casamento. Se assim não procederem serão duplamente castigados: primeiro, pela Sida e após a morte irão para o inferno.

A intimidação é a forma mais eficaz testada pela Igreja ao longo dos séculos para obter disciplina e respeito e Bento XVI, como o mais intransigente e rigoroso dos Papas, não podia, mesmo que isso vá contribuir para mais uns milhares de seropositivos, fragilizar o edifício da doutrina num dos seus aspectos essenciais: abrir mão de uma proibição que leva directa e garantidamente ao pecado.

Se um dia, por hipótese, as pessoas deixassem de pecar, a religião, esta ou qualquer outra, deixaria de ser necessária.

Bento XVI velará para que isso não aconteça…

terça-feira, março 20, 2012

IMAGEM

Passeio de bicileta sobre o Outono...

(Click na imagem e aumente)


A PROPÓSITO DE MARISA MONTE


"Estamos vivendo um momento critico na musica brasileira parece que a atual geração não acompanhou qualitativamente os artistas que surgiram nos anos sessenta e setenta, caminhamos para a massificação de uma musica pop que pouco tem a nos oferecer em termos de renovação, isso sem falar que a avalanche de grupos de rock que tem surgido tem provocado um esvaziamento da cena musical brasileira daqueles artistas considerados como tradicionais. A crise de renovação é alarmante, banalizou-se a canção tornando-a apenas um produto de mídia, e as ondas se sucedem, pois, se não bastasse o pop/rock temos agora lambadas, sertanejos, pagodeiros, axé e um grande lixo musical que liquida com todo um passado recente de glórias conquistadas pela musica popular dentro e fora de nossas fronteiras.
Artistas que há pouco eram considerados verdadeiros ídolos de massa e produziam uma musica de qualidade agora so faltam pedir por favor para que as rádios executem seus discos e sua nova produção seja conhecida, sofrendo ainda o preconceito de serem taxados de ultrapassados. Não temos mais as presenças marcantes de Clara Nunes, Elis Regina e Gonzaguinha, não se renova como antes o cenário de compositores e intérpretes, pelo menos que se tenha noticia com alguma visibilidade, porém, isso não quer dizer que eles não existam, apenas não são considerados, pois, nunca terão vez nesse cenário atual de nossa canção e a sua única culpa é o fato de realizarem um trabalho de qualidade, palavra retirada do dicionário dos divulgadores e das multinacionais do disco, mas confiamos que nem tudo esta perdido e daremos a volta por cima.
A introdução desse texto escrito propositadamente no tempo passado reflete não so um pensamento pessoal mas também o de todas as pessoas lúcidas que acompanhavam o desenvolvimento/retrocesso da musica popular brasileira entre os anos 80 e inicio da década de 90. É uma análise superficial é claro mas traduz uma idéia, um sentimento generalizado do que se passava na ocasião, mantendo acesa uma chama de esperança que viesse a surgir do caos que se instalava." (continua)


(Luís Américo Lisboa Junior - 2005


MARISA MONTE E PAULINHO DA VIOLA - DANÇA DA SOLIDÃO


VÍDEO

Têm alguma idéia sobre o que acabaram de ver?...

ATESTADO MÉDICO ( A Mentira)

Leiam este texto de um professor de Filosofia que escreve semanalmente para o Jornal “O Torrejano”.

O que ele diz é, tristemente, em grande parte, verdade: a mentira é uma constante das nossas vidas, pública e privada, com todas as consequências que daí resultam chegando mesmo ao ridículo das situações.

O Atestado Médico, por José Ricardo Costa:


"Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º Ano e vai ter que fazer uma vigilância.

Continue a imaginar, o despertador avariou durante a noite, ou fica preso no elevador, ou o seu filho já à porta do infantário, vomitou o quente, fétido, pastoso e húmido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.

Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta.

Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicado, por isso, convém justificá-la.

A questão agora é: como justificá-la?

Passemos, então à parte divertida. A única justificação para se ficar preso no elevador, do despertador avariar, ou de não poder ir para uma sala de exame com uma camisa suja de vomitado, ababalhada e mal cheirosa, é um atestado médico.

Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que aqui quem precisa do atestado será o elevador ou o despertador, mas não, só uma doença poderá justificar a sua ausência da sala de exame.

Vai ao médico, e a partir desse momento a situação deixa de ser divertida para passar a hilariante.

Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo, enfim, com o sorriso do Jorge Gabriel misturado com o arrazoado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Milícias.

A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas de psicopatologia da vida quotidiana.

Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto ou o sucesso da TVI.

O professor sabe que não está doente, o médico sabe que ele não está doente, o Presidente do Executivo sabe que ele não está doente, o Director Regional sabe que ele não está doente.

O Ministério sabe que ele não está doente, e o próprio legislador que manda um professor que fica preso num elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.

Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente.

Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.

Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser útil, racional e eficaz em certas ocasiões, o que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.

Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels:

- Uma mentira tantas vezes repetida transforma-se numa verdade.

Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro vamos com uma predisposição para sermos enganados, mas isso é normal.

Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o ET que este é um boneco e que devemos guardar a baba e o ranho para outras ocasiões.

O problema, é que em Portugal confunde-se a ficção com a realidade, ele próprio, Portugal, é uma produção fictícia talvez desde D. Afonso Henriques, que Deus me perdoe.

A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos, só que ninguém leva a mal porque estamos habituados aliás, em Portugal, é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade.

Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal, fica ofendida mas se eu disser isso é para ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura, mas ela fica zangada só porque eu vi a nódoa e porque assumi, perante ela, que sei que ela tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.

Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja.

Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro mas no plano emocional) ao vermos casais felicíssimos com vidas de sonho.

Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem num alcoolismo disfarçado, mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.

Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses, somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros, fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza.

Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias para ver passar ao seu lado eucaliptos, mato por limpar, florestas ardidas, barracões com chapas de zinco, casas horríveis, lixo e fábricas desactivadas.

Portugal mente compulsivamente, mente perante si próprio e mente perante o mundo.

Claro que não é um professor que falta a uma vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico.

É Portugal que precisa de um atestado médico, antes que vomite sobre si próprio.

GABRIELA

CRAVO

E

CANELA



Episódio Nº 52





Da Arte de Falar da Vida Alheia




Nacib arregaçou as mangas da camisa, examinou a freguesia. Quase toda ela constituída àquela hora por gente estranha, de passagem na cidade devido à feira.

Havia também alguns passageiros do Ita, em trânsito para os portos do norte; era ainda cedo para os fregueses habituais. Segurou Bico Fino, tirou-lhe a garrafa da mão:

- Que quer dizer isso? Era uma garrafa de conhaque português – Onde já se viu? – Andava com o empregado para o balcão – Servir a esses tabaréus conhaque verdadeiro… – Tomava de outra garrafa, o mesmo rótulo, a mesma aparência, apenas nela misturavam-se o conhaque nacional e o português, receitas do árabe para aumentar os lucros.

- Não é para eles não, seu Nacib. É para o pessoal do navio.

- E daí? São melhores do que os outros?

O conhaque puro, o vermute sem mistura, o Porto e o Madeira sem baptismo eram reservados para a freguesia certa, os de todos os dias, os amigos. Não podia afastar-se do bar, os empregados começavam logo a meter os pés pelas mãos, se ele não estivesse presente acabaria perdendo dinheiro. Abriu a caixa registadora. Aquele iria ser um dia de muito movimento! De muitos comentários também.

A viagem de Filomena não lhe causava apenas prejuízo material e canseira. Tirava-lhe também a paz de espírito, impedia-o de voltar-se por inteiro para as múltiplas novidades, para tanta coisa a comentar quando os amigos chegassem. Novidades a granel e, na opinião de Nacib, nada mais gostoso – só mesmo comida ou mulher – do que comentar novidades, especular sobre elas.

Falar da vida alheia era a arte suprema, o supremo deleite da cidade. Arte levada a incríveis refinamentos pelas solteironas.

“Está reunido o Congresso das Línguas Viperinas” dizia João Fulgêncio ao vê-las em frente à Igreja na hora da bênção. Mas não era na Papelaria Modelo, onde João Fulgêncio imperava entre, livros, cadernos, lápis, canetas, que se reuniam os “talentos” locais, línguas tão afiadas quanto as das solteironas?

Ali e nos bares, junto às pontes do cais, nas rodas de pocker, em toda a parte: falava-se da vida alheia, glosavam-se os acontecimentos. Uma vez foram dizer a Nhô-Galo andarem comentando suas aventuras em casas de mulheres. Respondeu com sua voz fanhosa:

- Meu filho, não me importo. Sei que falam de mim, fala-se de todo o mundo. Apenas esforço-me, como bom patriota, para lhes dar assunto.

Era a diversão principal da cidade. E como nem todos possuíam o bom humor de Nhô-Galo, por vezes havia bofetadas nos bares, exaltados a exigir explicações, sacando revólveres.

Não era, assim, uma arte gratuita, sem perigo. Naquele dia havia muito a comentar: primeiro o caso da barra, assunto complexo, envolvendo uma diversidade de detalhes, tais como o encalhe do Ita, a vinda do engenheiro, a actividade de Mundinho Falcão (“que é que ele está querendo?, perguntava o coronel Manuel das Onças), a violenta irritação do coronel Ramiro Bastos.

Só esse complicado assunto bastaria para apaixonar. Mas como esquecer o casal de artistas, a mulher formosa e o tal Príncipe de meia-tigela, com sua cara de rato esfomeado?


(Click na imagem das mulheres a falarem da vida alheia, "conversa de comadres" na opinião de Nacib, o maior prazer da vida a seguir às mulheres e à comida...)

ENTREVISTA FICCIONADA

COM JESUSNº 43


SOBRE O TEMA: “JESUS E A SIDA”



Raquel – Saudações para a nossa audiência. Nós estamos hoje nos arredores da antiga Jerusalém. O nosso entrevistado, Jesus Cristo, mostrou desejos de ver o que resta da famoso piscina de Betesda…

JESUS - Eram muitos os doentes que se reuniam aqui ... aleijados, cegos, surdos ... eles diziam que a água era milagrosa…

RAQUEL - Agora que se encontram em ruínas são os pedintes, mendigos que aqui encontramos ... Olhe para esse rapaz, aí nesse canto, tão desanimado…

JESUS – Que se passará com ele?

RAQUEL - Não sei, mas tem tão mau aspecto …talvez tenha SIDA…

JESUS – SIDA?

RAQUEL - É uma doença que não havia no seu tempo ... Hoje é das piores doenças, uma epidemia…

JESUS
- Vem, vamos chegar mais perto ...

RAQUEL – Cuidadosamente Jesus Cristo.

JESUS - Por que dizes isso?

RAQUEL - É uma doença altamente contagiosa, não vês como os outros não se aproximam dele?

JESUS - Como estás, jovem?

RAQUEL - Não lhe toque, Jesus Cristo ...

JESUS - Bom dia, rapaz… Diz-me... O que se passa contigo?

JOVEM - Você não vê? Eu fui diagnosticado com SIDA há um ano e olhe como já estou agora ...

JESUS - E não encontraste remédio para esse mal?

JOVEM – Só apenas com muito dinheiro e minha família é muito pobre, somos do Norte da Palestina…

JESUS - ... Oh, então somos conterrâneos, eu também sou da Galileia…

JOVEM - Minha família não sabia o que fazer quando ouviram os vizinhos encher-lhes a cabeça que isto era um castigo de Deus… Para as pessoas não me verem, fugi… Então cheguei a Jerusalém, para ver se aqui tinha mais oportunidades... Mas em todos os hospitais me fecharam as portas ... Para além de palestino, doente de SIDA!

JESUS – Sofreste muito…

JOVEM - Talvez seja verdade que Deus me esteja punindo por algo que eu fiz ...

JESUS - Não digas isso. Como é que um pai vai castigar os seus filhos com doenças se a sua preocupação é curá-los? Olha, agora temos que ir mas vou voltar amanhã… Vais estar aqui?

JOVEM - Onde mais? Este é o meu esconderijo, conterrâneo, aqui me encontrarás…

JESUS - Até amanhã... O que é isso, Raquel ... Tiveste esse aparato (microfone) todo este tempo aí…

RAQUEL - Sim, a nossa audiência esteve ouvindo em exclusivo Jesus conversando com um doente de SIDA em estado terminal ... eu posso confessar-lhe uma coisa?

JESUS - Diz-me ...

RAQUEL - Por um momento pensei ... Quando o senhor lhe apertou a mão e o abraçou pensei que iria curá-lo… Tive uma fantasia jornalista: transmitir em directo um milagre. Mas nada aconteceu…

JESUS - Não é o momento, Raquel. Quem tinha que fazer alguma coisa por ele não o fez. Eles não deram os remédios que teriam ajudado. Dizendo que era um castigo de Deus, ainda agravaram mais a doença. Sua família o recusou e agora vão deixá-lo morrer nas ruas… Esses eram os milagres que ele precisava... tal como fizeram aos leprosos no meu tempo…

RAQUEL - É que a gente tem medo da SIDA.

JESUS – A gente? Tu também estava com medo, Raquel. Quando eu fui para junto dele disseste para não o fazer ...

RAQUEL – Sim, é verdade... é que ...

JESUS - Tal como acontecia com os leprosos. A Lei religiosa ordenava-lhes que se escondessem, nós recusamo-los.

RAQUEL - Mas o senhor curou leprosos ...

JESUS – Ninguém sabia como curar essa doença. Eu aproximava-me deles...

RAQUEL – E isso os curava?

JESUS - Isso fazia com que eles não se sentissem tão mal. As feridas doem àquele rapaz, Raquel, mas não lhe dói menos a rejeição dos seus conterrâneos?

RAQUEL – SIDA: a epidemia do século XXI. As estatísticas são esmagadoras. Mas o nosso vizinho que está doente não é uma estatística. Será que nada podemos fazer por ele?



De Jerusalém, Raquel Perez, Emissoras Latinas.

segunda-feira, março 19, 2012

IMAGEM

Um barquinho vaidoso, de manhã, vê-se ao espelho...

(Click na imagem)

VÍDEO

Você tem a certeza de que em matéria de espectáculo já viu tudo?... Não, esta ainda não viu!

DIÁLOGO ENTRE COLBERT E MAZARINO



DURANTE O REINADO DE LUíS XIV

Colbert foi ministro de Estado e da economia do rei Luiz XIV.
Mazarino era cardeal e estadista italiano que serviu como primeiro ministro na França. Notável coleccionador de arte e jóias, particularmente diamantes, deixou por herança os "diamantes Mazarino" para Luís XIV em 1661, alguns dos quais permanecem na coleção do museu do Louvre em Paris.

O diálogo:

Colbert:



- "Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível.
Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarino:



- "Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão.
Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem! "

Colbert:
- "Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criamos todos os impostos imagináveis?"

Mazarino:


- "Criam-se outros."

Colbert:


- " Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino:

- "Sim, é impossível."

Colbert:


- "E então os ricos?"

Mazarino:


- "Sobre os ricos também não. Eles deixariam de gastar. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres."

Colbert:



- "Então como havemos de fazer?"

Mazarino:



- "Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: São os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável."


Moral da História:


- Quase quatro séculos depois, nada de novo a oeste dos Pirinéus...

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA


Episódio nº 51





- Coisa a pensar? As eleições se aproximam. E a começar imediatamente.

- Você pensa mesmo que encontraria apoio, gente disposta a marchar comigo?

- É só você se dispor. Veja: essa história da barra pode ser decisiva. É uma coisa que bole com o povo todo. E não só daqui. De Itabuna, de Itapira, de todo o interior. Você verá: a chegada do engenheiro vai ser uma sensação.

- E depois virão as dragas, os rebocadores…

- E a quem Ilhéus deve tudo isso? Você já viu o trunfo que tem na mão? Melhor do que baralho marcado. Sabe qual a primeira providência a tomar?

- Qual?

- Uma série de artigos no Diário desmascarando o Governo, a Intendência, mostrando a importância do caso da barra. Veja você, até jornal nós temos.

- Bem, não é meu. Botei dinheiro para ajudar, mas Clóvis Costa não tem nenhum compromisso comigo. Creio que é amigo dos Bastos. Pelo menos de Tonico, andam juntos…

- Amigo de quem lhe pagar melhor. Deixe ele por minha conta.

O exportador quis aparentar uma última vacilação:

- Valerá mesmo a pena? Política é sempre tão suja…

- Mas, se é para o bem da terra… - Sentia-se levemente ridículo – Talvez seja divertido - emendou.

Meu caro se você quer realizar seus projectos, servir a Ilhéus, não tem outro jeito. Idealismo só não basta.

- Lá isso é verdade…

Batiam palmas na porta a empregada ia abrir. A figura inconfundível do Doutor exclamava:

- Fui ao seu escritório, dar-lhe as boas vindas. Não o encontrei, aqui vim para cumprimentá-lo – Suava sob o colarinho de bunda virada, a camisa de peito engomado.

O Capitão apressou-se.

- Que me diz, Doutor, de termos Mundinho Falcão candidato nas próximas eleições?

O Doutor ergueu os braços:

- Grande notícia! Sensacional! Voltava-se para o exportador.

– Se para alguma coisa podem servir-lhe os meus modestos préstimos…

O Capitão olhou para Mundinho como a dizer-lhe: “Viu que eu não lhe mentia? Os melhores homens de Ilhéus…”

- Mas ainda é segredo, Doutor.

Sentaram-se os três, o Capitão começou a explicar o mecanismo político da terra, as ligações entre os donos de votos, os interesses em jogo. O Dr. Ezequiel Prado, por exemplo, homem de tantos amigos entre os fazendeiros, estava descontente com os Bastos, não o haviam feito presidente do Conselho Municipal…



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INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 42 SOBRE O TEMA:

“DELITO OU PECADO” (6º e último)

Apenas um Caso



Este é o relato feito em 2007 por um jornal em Manágua, Nicarágua, por Patrick Welsh, um irlandês. É apenas um caso.

“Meu irmão mais novo tinha 11 anos quando foi abusado sexualmente. Vinte anos depois, em 2000, percebemos a agonia que viveu como criança e a angústia que ele suportou em silêncio durante a maior parte de sua vida. Eu sou de uma família irlandesa católica e quando o filho mais novo de 10 anos anunciou que queria ser padre houve uma enorme alegria.

Ingressou logo no seminário para crianças dos Padres do Espírito Santo, religiosos missionários, onde também recebeu o ensino secundário para além de se preparar para o sacerdócio.

Meu irmão foi recrutado pelo padre Frank Bligh, encarregado de procurar "vocações" para esta congregação. Lembro-me bem dele: um homem de terno, doce e atencioso, que ao longo de 30 anos assistiu a todas as celebrações importantes na nossa família: aniversários, casamentos, baptizados, funerais. Ele estava sempre junto de nós a interceder diante de Deus. Ele era nosso amigo e o tínhamos em muito apreço.. Ninguém suspeitava que ele era capaz de molestar crianças até que foi preso no norte da Inglaterra em 2000. Os tempos haviam mudado e um menino quebrou o silêncio, dando início a uma história trágica e horrível de décadas de abusos sexuais.

Na minha família nós apercebemo-os quando a polícia contactou a minha mãe. As pesquisas revelavam que o meu irmão mais novo, então já um adulto, de 37 anos, havia possivelmente sido abusado por ele. No início não quis falar com a polícia, mas depois deu o seu depoimento e logo após o padre Bligh foi preso, acusado de vários casos de abuso sexual.

No início, não queria aceitar que o nosso querido amigo e guia espiritual, fora autor de crimes horríveis contra centenas de crianças e muito menos contra o nosso irmão. Mas depois de ouvirmos o meu irmão acreditámos. Não havia dúvida de que ele nos estava dizendo a verdade.

Lembro-me de algo que ele disse: "Eu só esperava que a mãe e o pai morressem antes do padre para em seguida o acusar. Eu não queria que eles soubessem para não os fazer sofrer”.

Meu irmão estava na posição impossível de proteger a fé dos seus pais. Minha mãe, entretanto, em algum momento terá sentido pena de Bligh, pensando ser ele um homem doente. Mas logo percebeu que não era. Bligh tinha usado o seu estatuto de padre e o seu poder de homem crescido para violar os direitos e os corpos de centenas de crianças, e fê-lo com premeditação. Conta que quando meu irmão foi abusado, o padre fechou a porta e pendurou o casaco para que ninguém visse o que se passava pelo buraco da fechadura. Tudo foi friamente planejado…

Em Junho de 2001 Bligh (e já não digo padre) foi condenado a dois anos e meio de prisão, (só?...), um dos 28 sacerdotes católicos presos na Grã-Bretanha entre 1997 e 2001 por abuso sexual ...

domingo, março 18, 2012

HOJE È DOMINGO





Cada um de nós é o produto da época e da sociedade em que nasce e em 1939 a sociedade portuguesa ainda era dominada pelos homens, pelo menos na aparência, porque na intimidade dos lares, muitas vezes, eram as mulheres que decidiam e organizavam tudo ainda que de forma discreta e sub-reptícia para salvaguardar as aparências de uma sociedade machista e patriarcal.

Na família onde nasci o ”homem” da casa era a minha mãe. Era ela que educava os filhos para além, já se vê, de tratar deles na saúde e na doença. Comandava, igualmente, o exército das criadas que chegaram a ser três: a cozinheira, a de “fora” e a dos “meninos” e organizava tudo desde os “assaltos” lá em casa (17 assoalhadas) pelo Carnaval, enquanto que o meu pai passava calado e silencioso por aquele autentico turbilhão e vendaval de energia que era a minha mãe.
Quando, logo a seguir ao fim da guerra, o meu pai comprou o Vauxhall, ela tirou a carta de condução em pouco mais de 20 lições e sujeitou-se a ouvir toda a espécie de piropos e impropérios quando conduzia na Baixa lisboeta, desde o clássico “vai cozer meias” que era, por excelência, a tarefa que os homens reservavam às mulheres para as humilhar e castigar pelo atrevimento e ousadia em desempenharem funções que as promoviam socialmente, ao fim e ao cabo, o grande pecado.

Não seria este o panorama geral dos lares e das mulheres portuguesas na década de 40 e esta é mais uma razão para uma palavra de elogio à minha mãe pela coragem e arrojo necessários para escandalizar a sociedade da sua época com comportamentos que incluíam também o de fumar e que, de há muito, fazem parte do dia a dia de todas as portuguesas sendo elas, inclusivamente, hoje em dia, as campeãs dos cigarros.

Estamos agora a assistir a um autêntico volte-face desta situação que se prolongou demasiado no nosso país como resultado de uma moral e de costumes impostos pelo medo e à força de um regime bolorento que só terminou em 25 de Abril.

E foi pena que assim tivesse acontecido porque a marcha de uma sociedade não deve ser retida artificialmente, barrada no seu percurso natural determinado pelas influências normais que se desencadeiam no seu seio e em contactos com outras sociedades, permitindo que a adaptação a novos comportamentos possam ser feitos de uma forma crítica, gradual e sem traumas.

Não foi assim que aconteceu entre nós. Registaram-se quebras abruptas de princípios e valores arrastados na enxurrada da revolução dos cravos comprovando que os malefícios dos regimes de força, ditatoriais, constituem uma chaga social que duram enquanto existem e perduram ainda durante muitos anos depois de terminarem.

Mas, esquecendo agora a minha mãe que talvez não sirva de exemplo, sempre me pareceu injusto, face à responsabilidade e ao volume de trabalho que recaía sobre a mulher, o papel subalterno que o homem lhe reservava e isto na nossa cultura ocidental...

Hoje, quando vejo as Universidades, maioritariamente, preenchidas por alunos do sexo feminino, quando entro num Serviço Público e me apercebo que a maioria esmagadora dos funcionários, incluindo as chefias, são mulheres e quando, nos ecrãs da TV, me aparece uma jovem loura a falar na qualidade de responsável máxima da PSP de Lisboa, vem-me à memória o que era a sociedade portuguesa nos tempos idos da minha meninice e compreendo, então, que os privilégios que os homens, ciosamente, reservavam para si, tinha a ver com a percepção sentida de que, em termos de competição pura, seriam facilmente ultrapassados, como veio a acontecer.

Ana Paula Vitorino, engenheira civil, Ex-Secretária de Estado dos Transportes em Março de 2005, afastada do Secretariado do Partido Socialista e da Comissão Política e inimiga de estimação do sucateiro Manuel Godinho, testemunha do processo Face Oculta, foi a primeira mulher escolhida para ditar as políticas públicas nos sectores marítimo-portuários, logístico, ferroviário, transportes urbanos e ferroviários, reuniu-se, a propósito do Dia Internacional da Mulher, com as suas 14 líderes de primeira linha e a sua preocupação era de que ainda não existiam mulheres nos Conselhos de Administração da CP, da Refer e do Metro de Lisboa e do Porto o que, provavelmente, em breve poderá acontecer.

Kjell Nordstrom, Guru do ano 2000 e que há quase uma década teoriza sobre a vantagem competitiva das mulheres explica-nos a razão desta evolução:

- “As mulheres adequam-se melhor às características das sociedades modernas, urbanas, democráticas e igualitárias onde as pessoas são reconhecidas pelo mérito do seu desempenho”.

E acrescenta:

- “Mas agora entrámos verdadeiramente noutra fase, em que as aptidões e os perfis procurados são muito mais femininos, privilegiando a maior capacidade de gerir tensões e coligações de forma pacífica e eficaz, sem transformar o mínimo atrito numa competição agressiva”.

-“Um bom exemplo é dado pela Chanceler alemã Ângela Merkel e pelo seu hercúleo trabalho a gerir a coligação política que governa a Alemanha.

Lembram-se do papel pacificador que as mulheres desenvolviam com toda a diplomacia e descrição no seio das grandes famílias patriarcais do século XIX?

Embora não possamos esquecer a nossa 1º Ministro, Maria de Lurdes Pintassilgo. em 1979, que muito honrou a classe política de governantes, o nosso país não pode equiparar-se, neste aspecto, aos nórdicos onde, por exemplo, na Noruega, o governo tem 50% de mulheres.

Tradicionalmente, os homens latinos desempenharam um papel muito apagado na criação dos filhos e esta realidade reduziu-os na sua dimensão humana, na sua capacidade de decisão a todos os níveis e tornou-os menos responsáveis.

Quem hoje é avô depois de ter sido pai há 40 anos atrás compreende melhor este ponto de vista.

São, pois, profundas as alterações que estão a acontecer na estrutura da sociedade contemporânea e o homem, se quiser desenvolver características que nas mulheres são natas e que hoje as tornam importantes para liderar a gestão moderna, há que começar a treinar, como hoje já fazem muitos jovens pais, na criação e educação dos seus filhos desde o nascimento em paralelo com as mães. Caso contrário, estaremos a evoluir para uma sociedade de cotas para homens, na melhor das hipóteses, na pior vejam só qual é o papel dos machos na sociedade das hienas… quase párias, no último lugar na escala social, pura e simplesmente desprezado
!


(Click na imagem da Rotunda à entrada de Santarém e naquele pinheiro, fonte das minhas preocupações a quando das obras na cidade mas que, felizmente, lá continua para conforto da minha vista)

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