sexta-feira, agosto 07, 2009

VÍDEO
ESPETÁCULO NO MOULIN ROUGE... especial.


SEIS FRASES ABSOLUTAMENTE FAMOSAS






1ª – Quem com ferro fere, tanto bate até que fura.

2ª – Água mole em pedra, dura até que acaba a água.

3ª – Em terra de cego, quem tem um olho é zarolho.

4ª – Se um dia sentir um enorme vazio dentro de si, vá comer! Pode ser fome.

5ª – O primeiro sentimento de quem está a fazer dieta é o de revolta. Dá vontade de acabar com tudo, a começar com o que está no frigorífico.

6ª – Ninguém jamais ganhará a guerra dos sexos: há demasiada confraternização entre os
inimigos.

FREDERIC FRANÇOISE - SOUVENIR D' ÉTÉ


JOE DASSIN - LE CHATEAU DE SABLE



TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 200





A famosa história da polaca de Osnar, como a experiência comprova, é chave mestra, abre o cadeado de qualquer xibiu, não falha. Nessa certeza marcha Osnar para a Praça; pode ser que um dia essa fábrica de bosta se instale mesmo no coqueiral de Mangue Seco e, antes de tudo apodrecer, Bebé, proclamada Rainha do Agreste, o coração e os baixios sensibilizados com os emocionantes detalhes da história sem igual, queira experimentar a rigidez e o sadio sabor do pau não poluído de um sertanejo, gulodice de apetite.

Aproxima-se a tempo de ver um sujeito vestido de brim caqui, empunhando uma pasta, saltar do jipe e encaminhar-se para a porta de entrada da Prefeitura, deixando dois outros tipos no veículo. Resfolegam atrás as grandes máquinas, em respiração de pedra, truculenta. De Bety nem sinal. Nem dela, nem do cordial vigarista, falastrão e poliglota a cujas ordens obedece a incrementada ruiva. Desiludido, Osnar, retira-se para o bar, dedicando-se, em companhia de seu Manuel, a azedos comentários em torno da Brastânio.

- Antes, pelo menos, mandavam umas fêmeas vistosas para a gente olhar. Agora só dá macho.

- E esses trambolhos – seu Manuel aponta as máquinas – para que servem? A que se destinam?

- A nos fuder a vida, Almirante, tu vai ver.

Na Prefeitura, o indivíduo desembarcado do jipe entrega a Ascânio uma carta do doutor Mirko Stefano na qual o Magnífico, extremamente gentil depois de cumprimentar seu simpático amigo Ascânio Trindade, apresenta-lhe o doutor Remo Quarentini, engenheiro-chefe da Companhia Baiana de Engenharia e Projectos – CBEP que, à frente de um grupo de técnicos, vai a Agreste fazer o levantamento dos dados referentes à estrada, com vistas às obras indispensáveis: rectificação do traçado, alargamento, pavimentação. Aproveitando a circunstância, leva com ele máquinas e operários para o asfaltamento da rua, cumprindo assim a Brastânio promessa feita à comuna por intermédio dele, Mirko. Termina convidando o prezado amigo a comparecer com a maior urgência na capital baiana para importante conferência com elementos da directoria da directoria da Empresa sobre os problemas relativos à instalação da indústria de dióxido de titânio na região. Tem boas notícias a dar, quer fazê-lo pessoalmente.

Antes de assinar a carta, com abraços cordiais, avisa que as despesas da viagem correrão por conta da Brastânio, desejosa de não pesar no orçamento da Prefeitura. “Até breve, caro amigo, conto com a sua presença. Aproveite a condução e a companhia e venha com o doutor Remo que, além de tudo, é um emérito contador de anedotas.

Olhando-o, ninguém diria tratar-se de emérito contador de anedotas: careca, barbas loiras, longas e emaranhadas, cara típica de quem comeu merda e não gostou, silencioso.

Nem por isso Ascânio deixa de lhe apresentar calorosas bem-vindas em nome das autoridades e do povo do município, de colocar-se às suas ordens prevenindo-lhe, ao mesmo tempo de acompanhá-lo na viagem de volta, disposto a regalar-se com o hilariante reportório.

Enquanto no interior da Prefeitura sucedem-se estas etiquetas, na Praça,
curiosos e desocupados examinam os Catrapillars, boquiabertos. Peto, a quem viaturas e máquinas interessam quase tanto quanto os mistérios do sexo, descreve-lhes a utilidade e cita-lhes os apelidos. Patrola, melosa e rolo compressor destinam-se a abrir as ruas e a pavimentá-las. Não com as pedras desiguais com que o avô de Ascânio, em tempos prósperos, calçara a Praça da Matriz, a rua da Frente, a Praça do Mercado (desde então Praça Coronel Francisco Trindade) mas com negro asfalto, calçamento conhecido apenas por aqueles que já viajaram pelo menos até Esplanada, Peto entre eles: três vezes acompanhara Perpétua à cidade vizinha e uma a Aracaju, quase um globe trotter. Começam a acontecer novidades de monta, não há dúvida. Não se trata mais de
conversa fiada.

quinta-feira, agosto 06, 2009

A Música e a Boa Disposição


WE WILL SURVIVE - IGUDESMAN & JOO + KREMER & KREMERATA



VÍDEOS
APRENDA...

CELINE DION - IF THATS WHAT IT TAKES


PERGUNTA:


Por que razão o frango atravessou a estrada?


(Algumas respostas de eminentes personalidades e de outras nem tanto):



Professora de Instrução Primária: - Porque queria chegar ao outro lado da estrada.

Criança: - Porque sim.


Platão: - Porque pretendia alcançar o Bem.


Aristóteles: - É da natureza dos frangos cruzar a estrada.


Karl Marx: - O actual estádio das forças produtivas exigia uma nova classe de frangos, capazes de atravessar a estrada.


Moisés: - Uma voz vinda do céu bradou ao frango: "Atravessa a estrada!" E o frango atravessou a estrada e todos se regozijaram.

Martin Luther King: - Eu tive um sonho. Vi um mundo no qual todos os frangos eram livres para atravessar a estrada sem que sejam questionados os seus motivos.


Maquiavel: - A quem importa o por quê? Estabelecido o fim de atravessar a estrada, é irrelevante discutir os meios que utilizou para isso.


Sigmund Freud: - A preocupação com o facto de o frango ter atravessado a estrada é um sintoma de sua insegurança sexual.


Charles Darwin: - Ao longo de grandes períodos de tempo, os frangos têm sido seleccionados naturalmente, de modo que, agora, têm uma predisposição genética para atravessar estradas.


Einstein: - Se o frango atravessou a estrada ou a estrada se moveu sob o frango, depende do ponto de vista. Tudo é relativo.


José Sócrates: - Porque ele atravessou a estrada, não vem ao caso. O importante é que, com o Plano Tecnológico, o povo está comendo mais frango.


Drogado: - Foi uma viagem...


Liedson: - Sei lá, entende?


Feministas: - Para humilhar a franga, num gesto exibicionista, tipicamente machista, tentando, além disso, convencê-la de que, enquanto franga, jamais terá habilidade suficiente para atravessar a estrada.


Che Guevara: - Hay que cruzar la carretera, pero sin jamás perder la ternura...


Blaise Pascal: - Quem sabe? O coração do frango tem razões que a própria razão desconhece.


Sócrates: - Tudo que sei é que nada sei.


Dorival Caymmi: - Eu acho (pausa)... - Amália, vai lá ver pra onde vai esse frango pra mim, minha filha, que o moço aqui tá querendo saber...


Katia Sofia (artista da Telenovela “Cerejas c/ Chantily”): - Porque queria juntar-se aos outros mamíferos.

CANÇÕES BRASILEIRAS


CAETANO VELOSO - CHEGA DE SAUDADE



TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 199






DO RÁPIDO ASFALTAMENTO DO CAMINHO POR ONDE PENETRARÃO EM AGRESTE OS POSTES DA HIDRELÉTRICA, MELHOR DITO, DA RUA POR ONDE PENETRARÁ A LUZ DE TIETA OU DA MUDANÇA DE RITMO NA VIDA DA CIDADE.


Tudo o que até aí fora letra impressa em colunas de jornais, bate-boca nas esquinas, confusas aparições de seres de difícil identificação, mesmo para Barbozinha, íntimo do sobrenatural, concretizou-se em realidade tangível e imediata com a presença matinal nas ruas de Agreste das pesadas e potentes máquinas da Companhia Baiana de Engenharia e Projectos – CBEP - . Atravessaram com grave ruído e lentidão a Rua da Frente. Cavernoso ruído, formas excêntricas e grandiosas, o progresso em marcha.

Botando os bofes pela boca, os olhos arregalados, o moleque Sabino as precedera, vindo a toda à pressa dos campos da Taratanga onde dava abasto ao corpo aproveitando-se da viciosa docilidade da cabra Negra Flor, flor do rebanho do coronel Artur de Figueiredo. Na permissiva e gentil alimária, o rapazola resume o mulherio de Agreste a povoar-lhe as noites adolescentes: Elisa, esposa do patrão, Carol, manceba do ricalhaço, Edna, que não parece mas é casada com Terto, duas das primas de Seixas: a ligeiramente estrábica e a peituda, o resto um bagulho, a pequena Aracy em cuja bunda se roça ao passar. Virente ramalhete, enriquecido com a chegada das paulistas, exóticas e sensacionais. Sabino esforça-se por respeitar dona Antonieta mas que fazer se, ao ajoelhar para lhe pedir a bênção, aprecia o cinema inteiro na transparência dos tecidos, nos descuidados decotes dos quimonos? Sem fôlego, o moleque atinge a loja de Astério, onde Osnar conversa agricultura e veterinária com o novo vizinho de terras. As palavras irrompem da boca de sabino:

- Estão chegando uns tanques de guerra com canhão e tudo.

Aparece primeiro um jeep grande e veloz, passa em disparada em frente à loja. Surgem depois as lerdas máquinas e um caminhão transportando homens de macacão e capacetes, as mãos calçadas com grossas luvas de trabalho. Nada têm a ver com os veículos da Hidrelétrica que de quando em vez trazem à cidade engenheiros e técnicos, em repetidas comprovações de cálculos para o itinerário dos postes.

Uma poderosa máquina com lâmina dianteira, uma dessas motoniveladoras que raspam o chão e aplainam a estrada, um rolo compressor e um carro químico, espalhador de asfalto. Excitado, Osnar levanta-se da cadeira onde estava escanchado, acena para Astério, toca-se em grandes pernadas para o sobrado da Prefeitura. Uma leve esperança o conduz: quem sabe não estará no jeep a recordada Elizabeth Valadares, Bety para os colegas, Bebé para os íntimos? Na véspera de Natal, Osnar perdera por questão de segundos. Ao chegar à Praça, apenas pôde bispá-la no helicóptero, de onde, vestida de Papai Noel, acenava às massas com a mão. Acenara ele também e a ruiva miss, parecendo reconhecê-lo, lhe atirou um beijo.

Se bem toda essa história da Brastânio lhe desagrade ao extremo por vir perturbar os hábitos da cidade, tão caros a quem jamais quis sair dali, desejoso de viver tranquilo, Osnar exceptua Bety da maré de poluição. Competente e apetecível, ela lhe parece ser, sobretudo, uma vítima do sistema. Esperando seu retorno, tomara uma resolução extrema e se dispõe a cumpri-la agora mesmo, se por acaso a secretária-executiva fizer
parte do grupo embarcado no jeep: contar-lhe a
história da polaca.

quarta-feira, agosto 05, 2009

CONVERSA DE ADVOGADOS

Dois advogados estavam a caçar quando um leão os surpreendeu em plena selva sem que eles tivessem possibilidade de reagir.

Um deles começou imediatamente a tirar os sapatos. O outro perguntou:

- Por que está a tirar os sapatos?

- Descalço, eu posso correr mais rápido!

- Tolice! Não interessa o quanto você pode correr pois nunca irá conseguir correr mais que o leão!
- Mas eu não preciso correr mais que o leão, só tenho que correr mais que voçê.

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COISAS QUE DEVE SABER SE FOR CONDUTOR




A DIFERENÇA ENTRE CORRETO E JUSTO



Dois advogados encontram-se no estacionamento de um MOTEL e reparam que cada um está com a mulher do outro...


Após alguns segundos de perplexidade, diz um para o outro, em tom solene e respeitoso:


- Caro colega, creio que o correcto sería que a minha mulher viesse
comigo no meu carro e a sua voltasse com Vossa Excelência.

Responde o outro:

- Caríssimo colega, isso seria o correcto mas não seria o justo, levando em consideração que Vossa Excelência já está saindo e eu ainda estou a entrar.

IT'S A MANS WORLD - JAMES BROWN (1991)


DIG, DONG, SON LAS COSAS DEL AMOR - LEONARDO FAVIO



O QUE É O AMOR?





Na sala de aulas uma aluna pergunta à professora o que é o amor.

A professora, entendendo que a criança merecia uma resposta à altura da pergunta e como já estava na hora do recreio, pediu que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor.

As crianças saíram apressadas e ao voltarem a professora disse:

- Quero que cada um mostre o que trouxe consigo.

A primeira criança disse:

- Eu trouxe esta flor, não é linda?

A segunda criança trouxe uma borboleta.
- Veja, professora, o colorido de suas asas, vou colocá-la na minha colecção.

A terceira trouxe um filhote de passarinho que tinha caído do ninho juntamente com outro irmão.
- Não é bonito, professora?

Terminada a exposição a professora notou que havia uma criança que tinha ficado quieta e silenciosa o tempo todo.

Estava cheia de vergonha pois não tinha trazido nada. A professora dirigiu-se-lhe e perguntou:

- Minha querida, porque não trouxeste nada?

E a criança, timidamente, respondeu:


- Desculpe professora, vi uma flor, senti o seu perfume, pensei em arrancá-la mas preferi deixá-la para que seu perfume exalasse por mais tempo.

- Vi também uma borboleta, leve, colorida mas ela parecia tão feliz que não tive coragem de aprisioná-la.

- Vi também um passarinho caído entre as folhas, mas ao subir na árvore notei o olhar triste da mãe e preferi devolvê-lo ao ninho.

Portanto, professora, trago comigo o perfume da flor, a sensação de liberdade da borboleta e a gratidão que senti nos olhos da mãe do passarinho. Como posso mostrar o que trouxe?

A professora agradeceu à criança e deu-lhe nota máxima, pois ela fora a única que percebera que só podemos trazer o amor no coração e não em nada físico.

O verdadeiro amor traduz-se no respeito que devemos sentir pela natureza seja ela uma flor, uma borboleta ou um passarinho.

TIETA DO AGRESTE
QUINTA PARTE


DO SOL AZUL E DA LUA NEGRA OU A RIVAL DE DEUS




COM MÁQUINAS DESCOMUNAIS, ASFALTO ESCORRENDO SOBRE RUA, MANGUE, PRAIA E CARANGUEJOS, APRESENTANDO - SE VISLUMBRANTE VISÃO DO FUTURO; ONDE SE ASSISTE À FORMAÇÂO DE UM DIRIGENTE A SERVIÇO DO PROGRESSO E SE ERGUE UM BRINDE À AMIZADE E GRATIDÃO; QUANDO EXPLODE EM MANGUE SECO IMPETUOSO MOVIMENTO DE MASSAS, AGRESTE IMPORTA ADVOGADOS E MÉTODOS JURÍDICOS, PERSONAGENS SECUNDÁRIAS TORNAM – SE IMPORTANTES; COM OS ESPONSAIS DE UM DONZEL, ENRUSTIDOS SONHOS, REVELAÇÕES FAMILIARES, IMPRUDÊNCIAS, AUDÁCIAS, RANGER DE DENTES E UMA PALAVRA PRONUNCIADA EM LÍNGUA ALEMÃ – VENDO-SE TIETA SUFOCADA DE AMOR, AUSÊNCIA E MORTE.

terça-feira, agosto 04, 2009

EXTRAORDINÁRIO

É incrível, um leopardo, pressupõe-se fêmea, perfilhar uma cria de chimpanzé. Isto deve pôr a cabeça à roda dos cientistas especializados no comportamento dos animais. Gostaria de ouvir a opinião de Richard Dawkins, Prémio Nobel em 1973 pelos seus estudos em Etologia, exactamente a Ciência que estuda o comportamento dos animais.



Lembro-me de ter lido que a natureza dotou a face dos bebés humanos, e não só, com características que despertam nos adultos comportamentos de ternura e protecção. Em documentários sobre a vida animal é corrente observar a perplexidade de predadores jovens quando deparam com crias indefesas e, especialmente… que não fogem.



Uma “vida” que está no seu início terá a "cumplicidade" dos adultos, e não só da sua espécie, para sobreviver?
A essa cumplicidade poderá chamar-se “instinto de maternal”?
A “vida a puxar pela vida” mesmo em situações contraditórias em que a vida do leopardo deveria implicar a morte do bebé chimpanzé. Nada é completamente “linear” neste mundo…

AGORA VEJAM:


LEONARDO FÁVIO - ELLA YA ME OLVIDO



TIETA DO AGRESTE
Episódio Nº 198








A referência fetichista denota a estreita ligação do artista com os candomblés, num dos quais concederam-lhe um posto, não sei se de babalorixá ou de iaô. Na segunda entrevista, felicita-se e felicita o povo da cidade da Bahia pelo facto de que, ante a onda de protestos provenientes de todo o país, inclusive de admiradores da beleza de Arembepe do porte de Rubem Braga e Fernando Sabino, a Brastânio parece ter renunciado ao propósito inicial de “cavar em Arembepe seu esgoto de fezes mortais”. Vitória considerável mas, nem por isso, a luta contra a empresa deve sofrer solução de descontinuidade, prosseguindo para impedir que a “indústria assassina se instale em terras da Bahia ou em qualquer outra parte do território brasileiro”.

Entrevista retada, de repercussão garantida, devido à projecção e popularidade do senhor Carybé. Aliás, se até àquele momento apenas Giovanni Guimarães, o prefeito de Estância e o poeta De Matos Barbosa, em dois poemas publicados no Suplemento Literário do mesmo jornal, haviam elevado a voz em defesa de Agreste, do rio Real, da costa de Mangue Seco, dos município vizinhos, os protestos contra a instalação da fábrica em Arembepe sucediam-se cada vez mais numerosos.

Praia de pescadores conhecida pela abundância e qualidade da fauna marítima, pela extrema beleza da paisagem, pela quieta e pitoresca aldeia de casario alegre, celebrada em reportagens e artigos no sul do país, tendo servido mais de uma vez de cenário para filmes, proclamada em certo momento e por curto tempo capital dos hipies da América Latina, como lembrou certa feita o comandante Dário, Arembepe teve inúmeros campeões a defender-lhe a beleza e a paz, todos eles importantes, a começar pelo egrégio pintor acima citado.

Por coincidência, trata-se do mesmo dúbio personagem que já cruzou as páginas deste folhetim com o aleivoso intento, coroado de êxito, de adquirir a preço vil, ao ingénuo padre Mariano, a imagem em madeira da Senhora Sant’Ana, obra de santeiro do século XVII, de inestimável valor.

Na ocasião, a quantia paga parecera enorme ao pacato reverendo, que entregou de mão beijada a carcomida santa ao espertalhão. Pobre cura sertanejo! Encheu-se de remorso, anos depois, quando dona Carmosina lhe mostrou numa revista do Rio fotografias em vários ângulos da imagem restaurada, “peça maior na notável colecção de mestre Mirabeau”. Somente então deu-se conta do logro e desde aquele dia passou a existir um segredo tumular entre ele e a agente dos Correios e Telégrafos. Se bem pouco afeita à igreja, proclamando-se ao mesmo tempo agnóstica, incrédula e ateia, prometeu dona Carmosina dar fim ao exemplar da revista e esquecer o incidente, sensível à ignorância artística de um humilde sacerdote perdido nos confins de Judas.

Aproveito para contar haver dona Carmosina respondido ao mural de Ascânio Trindade, pendurado na parede da sala do Conselho Municipal, com outro, maior ainda e mais chamativo, com frases tiradas de todas as matérias aqui citadas e da crónica de Giovanni Guimarães, tudo em letras garrafais. Completado com macabra ilustração: a fumaça amarela saindo das chaminés da Brastânio, pavorosa mancha de dióxido de enxofre a degradar sempre o azul do céu, os efluentes gasosos; rio de peixes mortos no esgoto podre onde escorrem os detritos assassinos do sulfato ferroso e do ácido sulfúrico, os efluentes líquidos – dona Carmosina sabe tudo sobre o dióxido de titânio e sua produção. O coqueiral de Mangue Seco reduzido à miséria tapeta onde uma população de mendigos agoniza asfixiada.

Obra de arte igualmente primitiva ou primária, nada fica a dever à do tesoureiro Lindolfo; ao contrário, a supera, pois, ao realizá-la o artista usou tintas de aguarela e não simples bateria de lápis de cor. Trabalho de Seixas, amador que, nas horas vagas deixadas pelo bilhar e pelas primas – e pela repartição, acrescentamos, onde ele faz diário acto de presença – pinta seus quadrinhos em segredo para evitar a gozação da malta. Segredo, é claro, do conhecimento de dona Carmosina.

Colocado entre as duas portas de entrada do Areópago, o jornal mural de dona Carmosina, em cujo centro estão a crónica de Giovanni Guimarães, os dois Poemas da Maldição do vate Barbozinha, glória local, e o retrato do pintor Carybé, glória nacional, é muito mais lido e comentado do que o de Ascânio Trindade, posto na sala da Câmara Municipal – a frequência de público às duas repartições não admite termo de comparação. Na Prefeitura aparece apenas quem tem assunto a tratar, pedido a fazer; ali se vai exclusivamente por necessidade ou obrigação. À agência dos Correios vai-se por necessidade e prazer, para bater papo, ouvir os notáveis em erudito cavaco, informar-se do que ocorre pelo
mundo, as poucas alegrias, as
desgraças tantas, os perigos inúmeros.


AINDA JOSÉ SARNEY

DOS JORNAIS:




-“ Duas semanas não bastaram para o Senado brasileiro esquecer os escândalos com José Sarney. Alvo de novas denúncias, o presidente da Câmara Alta regressou ontem a Brasília mais fragilizado que nunca. Nos corredores do poder diz-se que a sua demissão está por dias.

De acordo com o Estadão, há um acordo tácito entre a maioria dos Senadores para forçar Sarney (do PMDB) a demitir-se até amanhã, antes da reunião do Conselho de Ética onde serão discutidas 11 queixas contra si.

Se o antigo presidente brasileiro (1985 – 1990) resistir, “entrará em cena um movimento de boicote às sessões por ele presididas”. “Ele não terá como organizar a votação” disse o senador Cristovam Buarque. “Não é um golpe, é um direito nosso não ir às sessões. Ele não tem mais condições para continuar”.

Sarney é suspeito de nepotismo, envolvimento em actos secretos, desvio de fundos da empresa Petrobrás pela Fundação José Sarney, do seu filho.

O pedido de Sarney para proibir o jornal O Estado de São Paulo de publicar as escutas da polícia de uma investigação ao filho, tornaram insustentável a situação.”

A justiça julga, os tribunais condenam mas a democracia reage segundo princípios de ética e de honestidade, tal
como estão fazendo os senadores relativamente ao Presidente Sarney.


ISALTINO MORAIS



Com um sorriso de vitória, Isaltino de Morais, acaba de ser condenado a 7 anos de prisão efectiva pelos crimes de:

- Corrupção activa para acto ilícito;

- Abuso de poder;

- Fraude fiscal;

- Branqueamento de capitais;

- Perda de mandato de Presidente da Câmara de Oeiras;

- Indemnização ao Estado de uma importância superior a 400. 000 euros;

e anuncia alegremente que vai recorrer, manter-se em funções e candidatar-se a novo mandato para Presidente da Câmara prometendo fazer a melhor campanha de sempre.

Desta forma, o destino político deste senhor – e não só dele – vai estar nas mãos dos eleitores face a um sistema democrático que, por falta de ética, permite que pessoas com processos que se arrastam em tribunais mesmo por estes condenados, desde que as sentenças não transitem em julgado por força de um recurso, não vejam as suas carreiras políticas interrompidas.

Dada a morosidade da justiça neste país, o Sr. Isaltino, pode voltar a ganhar as eleições, cumprir mais um mandato de 4 anos e, provavelmente, com recursos para Supremo, etc… e tal, continuar a viver descansadamente o seu tempo de reforma.


Por isso, o Sr. Isaltino Morais, sorri…

Para os eleitores fica esta mensagem:

- “eu sou bandido mas um bom presidente da Câmara, continuem a votar em Mim.”

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segunda-feira, agosto 03, 2009

SANDRO - YO TE AMO

CANÇÕES BRASILEIRAS

MILTINHO - MULHER DE TRINTA
Composição de Luís António, lançada no LP de estreia de Miltinho como cantor em 1960



A PRINCESA






E num dia, igual a tantos outros, quando saía para tomar o meu cafezinho matinal lá estava, colado ao vidro da porta do meu prédio, aquele papel da Agencia Funerária com a cruz negra, bem visível, a anunciar a morte de um dos meus vizinhos.

Era a senhora do 5º Dto, com quem me cruzava frequentemente levando pela trela, para o passeio higiénico, a cadelinha que mais parecia uma bolinha de carne em cima de quatro patinhas.

-Os meus sentimentos, disse eu ao viúvo na primeira oportunidade… é a vida… acrescentei sem jeito nem imaginação.

- Obrigado meu vizinho, felizmente foi tão rápido que nem chegámos a saber do que morreu… fechou os olhos simplesmente.

Era assim a minha vizinha, despachada a viver, despachada a morrer, um dia cheia de vida no outro sem ela.

Às vezes, encontrava-a no café que ficava junto da mercearia da nossa rua, meia sentada na cadeira como se estivesse sempre de partida ou pouco habituada às pausas para descanso com a cadelinha deitada aos seus pés como se fosse um acrescento seu.

Não era pessoa para grandes conversas, quando falava era em monólogos, bem sonantes, sem cuidar de quem a ouvia, eram desabafos que não aceitavam o contraditório porque quem sabia da vida era ela, mulher de trabalho que tinha criado e educado uma filha e servido não sei quantos senhores e senhoras por esse mundo fora: País de Gales, Londres, EUA, trabalhando a sério, no duro, cumprindo ordens, satisfazendo e aturando os caprichos de gente rica, em suma, dobrando a espinha, e a alma… “não era como agora em que os jovens só querem é gozar”.

Talvez por isso, aos oitenta anos, o azedo que se escapa dos seus desabafos, o orgulho de uma vida inteira de trabalho não chegou para lhe adoçar a velhice.

A minha vizinha do 5º Dtº morreu em paz, tudo o que em consciência devia ter feito na vida ela fez e por isso, quando chegou a hora, nem um ai, ou um simples adeus, simplesmente fechou os olhos, a missão estava cumprida.

Vi o meu vizinho uns dias mais tarde com a cadelinha pela trela e os meus olhos abriram-se de espanto, o animal estava pela metade.

- Então, vizinho, que aconteceu à cadelinha que nem parece a mesma?

- Ia morrendo de desgosto, durante uma semana recusou-se a ingerir fosse o que fosse para além de água, tive que a levar ao veterinário… agora já está melhorzinha…

Não fora o apoio do viúvo e a intervenção do médico veterinário e a “Princesa”, não teria sobrevivido à sua dona, e isto fez-me pensar.

Com toda a sinceridade, não nutro pelos animais domésticos o mesmo “respeito” e “admiração” que sinto pelos animais selvagens… por questões de origem, proveniência.

Uns, são o resultado do processo evolutivo: estão cá porque mereceram cá estar, são vencedores, campeões, enfrentaram os desafios da natureza e resistiram, adaptaram-se, as suas estratégias de sobrevivência mostraram-se ganhadoras.

Os outros, bem, os outros, são o resultado de negócios vantajosos recíprocos, digamos assim. O homem precisou deles, eles próprios transformaram-se em nossas estratégias de sobrevivência, são da nossa responsabilidade, não da responsabilidade da natureza.

Mas aqui abro duas excepções:

- A primeira, para o cavalo. Há 5.500 anos entrou na nossa vida e revolucionou-a por completo tornando o mundo mais pequeno, para o bem e para o mal aproximou-nos uns dos outros, a história ganhou outra dinâmica, ele foi o avião dos nossos dias.
Mas há 30.000 anos as suas imagens preencheram as paredes das grutas, no tempo do Homem do Paleolítico, fazendo parte do seu imaginário. As suas formas esbeltas, harmoniosas, as crinas ondulando ao vento em galopes libertadores seduziram os nossos antepassados. É certo que também o caçávamos para a nossa alimentação mas sua participação na nossa dieta não justificava tantas reproduções de que foi alvo pelos artistas de então.

Já por essa época gostávamos mais de os ver do que os comer…

- A segunda excepção é recente, conhecia-a agora: é a Princesa!





TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 197






ONDE O AUTOR INFORMA E DOUTRINA SOBRE SUSCEPTILIDADES REGIONAIS, CITA NOMES FAMOSOS NO MUNDO DAS LETRAS E DAS ARTES, BUSCANDO CERTAMENTE COM ELES MISTURAR-SE, COM OCASIONAL REFERÊNCIA ÀS ELEIÇÕES PARA A PREFEFEITURA DE AGRESTE


Em momento crítico, quando ainda carecido de respostas positivas às questões colocadas com o anúncio da próxima instalação da Brastânio no coqueiral de Mangue Seco, ao pensar na população do Saco, arraial de pescadores ameaçados em sua actividade, Ascânio Trindade recusara tomar conhecimento do problema, recordando a posição geográfica do povoado, erguido na margem esquerda da foz do rio Real, no Estado de Sergipe. Em voz alta, Josafá Antunes proclamou o mesmo raciocínio regionalista em conversa com Tieta: os sergipanos que se cocem.

Coçaram-se, pois A Tarde, em quadro na primeira página, reclama a atenção dos leitores para candentes matérias impressas no corpo do jornal, referentes ao perigo da poluição: notícia sobre as anunciadas eleições para a Prefeitura de Sant’Ana do Agreste, telegrama do senhor Raimundo Sousa, prefeito do município de Estância, no estado de Sergipe, e entrevista de Caribe, artista de fama internacional que tanto tem elevado o nome do Brasil no estrangeiro.

Sobre as eleições, breve grifo na coluna de Notas Políticas: circulam rumores segundo os quais a prioridade consentida na pauta de trabalhos do Tribunal Eleitoral para a marcação da data do próximo pleito para a escolha do novo prefeito de Agreste deve-se à manobra da Brastânio, interessada em colocar à frente da comuna, onde pretende instalar a indesejável e condenada indústria de dióxido de titânio, homem de sua confiança.

O telegrama do prefeito de Estância ressuma indignação: “o ignóbil projecto da Brastânio de situar suas fábricas em Mangue Seco significa inqualificável ameaça para o litoral sul de Sergipe, para os bravos e honrados pescadores e toda a ordeira e laboriosa população do arraial do Saco, para a rica fauna piscatória da região, do mar e dos rios, o Piauí e o Piauitinga, que se juntam para formar o rio Real, pouco acima de Estância, município cuja ecologia e economia serão violentamente afectadas assim como as dos municípios vizinhos, tanto os de Sergipe quanto os da Bahia, Estados irmãos, cujas vozes e forças devem-se unir em defesa da integridade do meio ambiente”.

Não fosse o prefeito de Estância conhecido por sua fina educação, poder-se-ia pensar que, que ao considerar de honrados os pescadores do arraial do Saco, agisse na oculta intenção de opor sua honesta actividade à faina ilegal de contrabando exercida pela duvidosa colónia de Mangue Seco. De idêntica maneira, colocando o acento sobre o fato dos projectos da Brastânio ameaçarem igualmente a sã ecologia dos dois Estados, apelando para as relações fraternas que devem unir os membros de nossa vacilante federação, sobretudo quando vizinhos, tem-se a impressão que o autor do telegrama responde com acerba crítica ao pensamento de Ascânio Trindade e à frase infeliz de Josafá Antunes. Não tinha conhecimento, porém, o eficiente e popular prefeito de Estância nem da cínica declaração de Josafá, muito menos do desesperado recurso de Ascânio, que não chegara a se expressar em palavras. Devemos atribuir tais intenções, se em verdade existiram, a velhas queixas sergipanas contra certa tendência colonialista dos baianos, verdadeira ou não.

Ao transcrever das colunas de A Tarde o enérgico protesto do digno Prefeito de Estância, não posso perder a ocasião de render pública homenagem aos seus méritos. Disseram-me ser ele proprietário de tradicional indústria de charutos, infensa a qualquer tipo de poluição, fabrico de trato artesanal, onde as folhas do tabaco são enroladas sobre as coxas de exímias operárias, ganhando perfume e sabor especiais. Quem sabe, tratando-o bem como aqui o faço, receberei algumas caixas do estimado produto. Em tempo de magros direitos autorais, preciosa oferta.

Quanto à entrevista daquele a quem a redacção do jornal, num desparrame de elogios, trata de pintor notável, de fama internacional, fazendo-lhe, ao que me consta, justiça à obra vasta e bela é, como se depreende do texto, a segunda por ele concedida a propósito da Brastânio e o faz na qualidade de “baiano ilustre e de proprietário de encantadora e rústica vivenda de veraneio em Arembepe”. Começa por se referir a uma primeira entrevista quando, antecipando-se a Giovanni Guimarães, condenara indignado a Brastânio, “monstruosa ameaça à praia de Arembepe, a toda
a orla marítima da Capital, à população trabalhadora, aos peixes e mariscos, ao mar de Iemanjá”.

domingo, agosto 02, 2009

Quem Disse Que a Matemática Não Tinha Poesia?


Quem 60 ao teu lado e 70 por ti,
vai certamente rezar 1/3
para arranjar 1/2
de te levar para 1/4
e ter a coragem de te dizer:
20 comer!!!


VÍDEOS
É PRECISO TER DESPLANTE...

DOMENICO MODUGNO - LA DISTANCIA ES COMO EL VIENTO


A MINHA PRÓXIMA VIDA







Na minha próxima vida quero vivê-la de trás para a frente.

Começar morto para despachar logo esse assunto.

Depois, acordar num lar de idosos e sentir-me melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a pensão e começar a trabalhar recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.

Trabalhar 40 anos até ser novo o suficiente para gozar a reforma.

Divertir-me, embebedar-me e ser, de uma forma geral, promíscuo e depois estar pronto para o liceu.

Em seguida a primária, fica-se criança e brinca-se.

Não temos responsabilidades e ficamos um bebé até nascermos.

Por fim, passados nove meses a flutuar num “spa” de luxo com aquecimento central, serviço de quartos à descrição e um quarto maior de dia para dia e depois… Voila! Acaba com um orgasmo!


WOODY ALLEN

WAYNE FONTANA - GINA


TIETA DO AGRESTE
Episódio nº 196






Estando doutor Caio ausente, a veranear, foi chamado a atendê-la seu Aloísio. Melhor substituto eventual do facultativo devido à sua condição de dono da farmácia Sant’Ana, laço comercial e único a ligá-lo à medicina. Ao vê-la largada na cama e não tendo conseguido encontrar-lhe o pulso, o boticário mandara um recado urgente ao pároco: a anciã agonizava sem sacramentos. Vavá Muriçoca, metido a fogueteiro, queimara a mão na véspera, ao soltar um rojão; o reverendo vinha em busca de Ricardo para o exercício da caridade, ajudando a velhinha a morrer em paz, com Deus. Obrigado, Senhor!, agradece o beneficiário em pensamento, enfiando a correr a batina sobre o shorte. Afinal, dona Belarmina já vivera quase um século.

Viverá alguns anos mais, com certeza, pois a visão do padre e do seminarista conduzindo os santos óleos para a extrema-unção pregou-lhe tal susto que de estalo lhe curou gripe e desmaio. Levanta-se lépida e para provar saúde, de camisola de algodão com florinhas azuis bordadas na gola, executa uns passos de dança e mostra a língua para o farmacêutico, o demónio da velha. Esclerosada sim, agonizante uma ova!

Apagavam-se as luzes quando o farmacêutico, o padre e Ricardo abandonaram a casa de dona Belarmina que os conduziu até à porta:

- Seu Aloísio, quando quiser agourar alguém, vá agourar a sua mãe!

Acompanhando o reverendo à Igreja para guardar os santos óleos e a água benta, Ricardo percebeu Maria Imaculada atrás da Mangueira e foi visto por ela. Ainda levou o padre à casa paroquial, ouvindo-o trancar a porta. Na rua da Frente, Ascânio e o poeta se distanciam. Veio então.

- Você é tão bonito de batina, bem.

Ricardo está leve e feliz. Deus lhe dera o bom pretexto sem causar mal a ninguém, apenas a caminhada nocturna de padre Mariano, obrigação do ofício de pastor.

Maria Imaculada não veste organdi azul-celeste, está de saia negra e blusa estampada mas trás nos cabelos, como ontem, jasmins-do-cabo e na boca o mesmo sorriso fresco e claro. Foram-se beijando pelo caminho; ao chegar à beira do rio, vendo-o indeciso, ela o toma pela mão e o conduz ao mais recôndito esconderijo sob os chorões na Bacia de Catarina. Deitou-se, abriu a blusa, suspendeu a saia, nada por debaixo apenas o corpo arrepiando-se ao correr da brisa.

- Vem depressa, bem, que estou com frio.

Ricardo empunha a Batina, desabotoa o shorte, Maria Imaculada ri:

- Tu vai me santificar, bem.

Juntos voltam para a Praça. Ricardo, rindo à toa, toca-lhe o rosto, beija-lhe os olhos, enfia a mão nos crespos cabelos, guarda no bolso da batina o jasmim-do-cabo. Despedem-se ao lado da mangueira.

- Amanhã venho de novo lhe esperar, bem. Na mesma hora.

- Amanhã vou para Mangue Seco.

- Vai demorar lá, bem? – a voz ansiosa.

- Sábado estou aqui, tu pode me esperar.

- Não deixe de vir senão vou morrer de tristeza.

- Venho sem falta. Até Sábado, Imaculada.

- Espere mais um pouquinho, bem. Me beije outra vez.

No melhor do beijo, surge um vulto na Praça. Ricardo se desprende, Maria Imaculada dissolve-se na escuridão. Caindo de bêbado, Bafo de Bode se aproxima, vem da beira do rio, fala aos arrotos mas o faz em voz baixa, evitando os gritos costumeiros. Não em respeito ao sono dos demais e, sim, porque também tem os seus protegidos:

- Castigue o pau padreco, e viva Deus que é nosso pai.

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