sábado, agosto 07, 2010


Uma Pausa
para uma
Pequena Reflexão



Ao fim das primeiras 50 Entrevistas com Jesus Cristo “apetece” fazer, antes de continuarmos, uma pequena reflexão porque não vale ler só por ler. Há que reflectir sobre o que lemos, confrontarmo-nos, em assuntos tão delicados e sensíveis como estes, sobre o efeito que a leitura produziu em nós, se alguma coisa se alterou na nossa maneira de pensar, se se desfizeram dúvidas ou, pelo contrário, elas se acrescentaram.

Embora nascido no seio de uma família católica, normal na sociedade portuguesa e ainda mais no princípio dos anos 40, tendo mesmo, nos longínquos tempos da minha juventude, frequentado um colégio de jesuítas, sou hoje um ateu convicto depois de ter sido apenas uma pessoa que simplesmente deixou de acreditar.

As religiões são hoje, cada vez mais, negócios da fé, organizações que lutam por manter vivo dentro de nós o instinto do “acreditar”, exacerbá-lo, e extrair dele o maior lucro possível.

Nestas Entrevistas, essa minha conclusão ficou ainda mais consolidada, não obstante tratar-se de uma religião com muitos séculos de existência no seio da nossa sociedade, que foi decisiva para a nossa formação, nos moldou, enraizando alguns dos defeitos que nos caracterizam como entidade cultural.

No entanto, não hesitei, em transcrever estas entrevistas porque elas desmistificam as “histórias” contadas sobre um homem notável, o que mais influência teve na história da humanidade, pelo seu exemplo de vida e por força do “aproveitamento” que dele fizeram para o lançamento de uma religião de âmbito universal.

Há dois cristianismos: um, de ideias, convicções e atitudes morais, éticas e religiosas que durou os primeiros cinco séculos após a morte de Jesus, e outro cristianismo: o do poder, a partir da “conversão” de Constantino que transformou os relatos da vida, os ensinamentos e a força da mensagem de Jesus Cristo, na religião oficial do seu Império.

A partir de então, os interesses materiais tomaram o lugar dos interesses espirituais e morais e a história da religião que, em boa verdade, passou a ser mais a dos bispos e papas de Roma do que propriamente a de Jesus Cristo, escreveu-se pelo mundo a ferro e fogo vitimando, pela intransigência, ambição e intolerância, populações e culturas. Esquecidos ficaram o amor, a justiça e a compreensão, idéias força da mensagem de Jesus.

As coisas passam-se agora a uma escala diferente, a Igreja já não ocupa na cena internacional o mesmo lugar que noutros tempos e embora a “crença” se mantenha na natureza do homem, os avanços da ciência e dos direitos humanos, travam a política do Vaticano, intolerante, fechada nos dogmas e nos preconceitos, receando, talvez, que movendo-se hoje num terreno mais frágil, o seu espaço de influência se reduziria caso se abrisse ao mundo e aos problemas e esse é um passo que os homens da Igreja não se atrevem a dar por medo, por cobardia.

No entanto, considero que é uma oportunidade desperdiçada não colocar ao serviço da humanidade, nos momentos difíceis que vivemos, todo o potencial da fé como tentou fazer, no seu tempo, Jesus Cristo. Em vez disso, continuam a procurar servir os seus interesses…

Jesus Cristo seduziu e cativou as pessoas por duas razões principais: a sua enorme fé em Deus que convenceu e contagiou os seus semelhantes e as preocupações com a justiça.

A coragem e a coerência com que viveu, o seu espírito de lutador, a percepção de que a sociedade para ser melhor, e para ele ser melhor era, essencialmente, ser mais justa, passava por uma alteração das condições de vida em sociedade e, deste ponto de vista, Jesus Cristo foi um revolucionário.

Revolucionário é um conceito que põe em pé os cabelos da hierarquia da Igreja de Roma. Instalados no poder, viajando ao longo da história de braço dado com ele, rodeados de privilégios, honras, mordomias, luxo, o que menos lhes interessa é alterar essa situação que, contra a sua vontade, já não será hoje aquilo que foi.

Entretanto, continuaremos a acompanhar as entrevistas concedidas em exclusivo à jornalista Raquel por Jesus Cristo, na sua segunda vinda à terra, e a aprender com ele o muito que tem
para nos ensinar pois cada uma das suas entrevistas têm constituído uma autêntica lição.

CANÇOES ANGLO - SAXòNICAS

FRDDY MERCURY & MONTSERRAT CABBALLÉ - BARCELONA
sublime ... uma das melhores canções de sempre... Freddy tinha a voz, quem sabe, mais lírica ou se preferirem mais forte de todos os tempos, provavelmente superior a Elvis Presley. Durante os ensaios, nos desafios que fazia com Cabballé para verem quem tinha mais fôlego,(e ela era a cantora lírica mais conhecida do mundo), ele ganhava com grande vantagem. Este dueto foi gravado em 1988 e é considerado um marco histórico da música.



DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 192



Sempre fora considerada e se considerara dona Flor boa dona de casa, ordeira e pontual, cuidadosa. Boa dona de casa e boa directora de sua escola de culinária, onde acumulava todos os cargos, contando apenas com a ajuda da empregada broca e esmorecida e a assistência amiga da pequena Marilda, curiosa de pratos e temperos. Nunca lhe ocorrera reclamação de aluna, incidente a toldar o sossego das aulas. A não ser, é claro, os acontecidos quando do primeiro esposo pois o finado, como se está farto de saber, não era de ter consideração por horário, por trabalho alheio ou por melindres de alfenim; seus deboches com alunas por mais de uma vez criaram dificuldades e problemas para dona Flor, dores de cabeça, quando não enfeites de duro corno.

Ah!, em verdade, ela, dona Flor, não possuía noção de regra e método, andava longe de ter ordem em casa e na escola e, em sua existência, medida e pauta, como devera! Foi-lhe necessário viver com doutor Teodoro para dar-se conta de como sua ordem era anarquia, seus cuidados tacanhos e insuficientes, de como ia tudo mais ou menos, ao deus-dará, a la vontê, sem lei e sem controlo.

Não decretou doutor Teodoro lei e controle de imediato e com severidade; nem sequer falou em tal. Sendo homem tranquilo e suspicaz, de educação cutuba, nada sabia impor e não impunha; no entanto tudo obtinha sem estardalhaço, sem que os demais se sentissem violentados; um fode-mansinho o nosso caro farmacêutico.

Era preciso ver-se a casa um mês e meio depois da lua-de-mel, que diferença! Também dona Flor fazia diferença, buscando adaptar-se a seu marido, seu senhor, caber justa e certa em sua medida exacta. Se nela a mudança era por dentro, mais subtil, menos visível, na casa fizera-se evidente, bastava olhar.

Começou pela empregada. Dona Flor a recebeu de ama apenas enviuvara, por insistência e conselho dos vizinhos: “desde quando viúva moça e séria pode permanecer sozinha numa casa, sem defesa contra gatuno?” Não foi feliz na escolha, admitindo, a rogo de dona Jacy, aquela Sofia de aparência obtusa, no fundo uma sabidória, a levar o trabalho na folga e no relaxamento, em total desleixo de quem se sente em garantia; não era dona Flor pessoa de despedir pessoa alguma, quanto mais recomendada pela vizinha e amiga. Mesmo descontente com a preguiçosa e seu serviço, ia dona Flor com ela se arranjando, com pena da infeliz; incapaz, é certo mas não ruim de coração.

Ora, logo no quinto dia após a volta de lua-de-mel nos ermos de Paripe, após aquela semana de terna convivência, saiu dona às pressas para o Rio Vermelho onde dona Lita sufocava em asma. À noite doutor Teodoro foi visitar a enferma e trazer consigo a esposa. Mas, encontrando-se a tia ainda muito opressa e sendo sexta-feira (não havia aulas aos sábados) decidiu dona Flor demorar-se para atender aos velhos. Voltara somente Domingo à tarde, quando cedeu a crise e a tia Lita retornou a seu jardim.

Menos de três dias demorara a ausência de dona Flor e nesse breve tempo se transformou a casa, parecendo outra. A começar pela criada, realmente outra. Em vez de Sofia, suja e pardavasca, com seu ar triste e idiota, assumira o posto uma escura Madalena, mulher de certa idade, asseada e forte. Se não fosse o moreno da pele, carregado, e a carapinha, dir-se-ia parenta do doutor, alta e disposta como ele, como ele cortês no trato e firme no trabalho.

Doutor Teodoro explicou, com sua voz segura mas gentil, ter sido obrigado a despedir Sofia: além de péssima empregada, não lhe obedecera, respondendo com um muxoxo de pouco caso e com resmungos insolentes às suas ordens categóricas para efectuar uma
limpeza séria n a casa
sempre mal varrida.

sexta-feira, agosto 06, 2010

VÍDEO

Um Esqueleto Taradão...


José Saramago; agosto 28, 2004


CARTA PARA JOSEFA,
MINHA AVÓ

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo - e eu acredito. Não sabes ler.Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água.Viste nascer o Sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal! Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte.Trave da tua casa, lume da tua lareira sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.
Não sabes nada do Mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos da rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha.
Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma.Vives. Para ti, a palavra Vietnam é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?...) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguetede cores.Como tu, não vi rir ninguém.

Estou diante de ti e não entendo.Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este Mundo e não curaste de saber o que é o Mundo.Chegas ao fim da vida, e o Mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não fazia parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal, a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha vã e chão de terra batida. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos- e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que ésinteligente. Porque foi então que te roubaram o mundo? Quem to roubou? Mas disto entendo eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesses compreender.Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti- e sem mim.Não teremos dito um ao outro o que mais importava.

Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas- e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!"

É isto que eu não entendo- mas a culpa não é tua.

José Saramago
A avó era analfabeta, como era natural naquela época e naquele meio, e esta carta foi publicada no jornal lisboeta "A Capital", em 1968. É emocionante pensar que 30 anos depois o neto receberia o Prémio Nobel da Literatura!

CANÇÕES ANGLO - SAXÓNICAS

IRENE CARA - FAME

É o nome artístico de Irene Escalera (N. York - 1959), cantora, compositora, e actriz. Tornou-se conhecida em todo o mundo com o filme Fame e a canção que lhe deu o nome, em 1980. Ganhou o Óscar da melhor canção além de outros prémios: Grammy e Globo de Ouro. Com apenas 3 anos foi uma das 5 finalistas do concurso Little Miss América e com 5 anos gravou o seu 1º disco
"Esta Es Irene", com canções em espanhol pois seu pai, Gaspar Escalera, falecido em 1994, era afro-porto-riquenho.

DONA FLOR

E SEUS DOIS

MARIDOS

Episódio Nº 191




Com a mão alisou-lhe o peito amplo, o rosto plácido, numa carícia leve para não acordá-lo. Vontade de envolver-se nele, de dormir entre seus braços, presa em suas pernas. Não se atreveu. Cada homem era diferente, não existiam dois iguais, bem lhe avisaram certas alunas de vasta experiência, como a debochada Maria Antónia, a proclamar:

- Não existem dois homens iguais na cama, cada um tem sua maneira, sua predilecção, sua prepotência, uns são sabidos e outros não. Mas se a gente souber aproveitar, ah!, todos são bons, e com qualquer, tolo ou sabido, bruto ou delicado, se mata a pulga e se arrosa a flor…

Outro homem, diferente, oposto. Cheio de tato, de compreensão, tão afetuoso, que delicadeza! Cabia à esposa moldar-se à forma e à vontade do marido, nele conter-se inteira e justa. Muito mais difícil fora da vez anterior, com o outro, e ela o conseguira. Por que não agora tão mais fácil?

Tinham os dois, doutor Teodoro e dona Flor tudo quanto necessário para a vida mais doce e mais feliz. Não só todos o diziam, unânimes: também dona Flor se dava conta.

O perfume do jardim penetra pelas frinchas das janelas. Lá fora serena noite de golfo, sem os rudes ventos, sem as imprevistas tempestades, sem o tumulto, sem o insólito; golfo de bonança. Vida feliz, equilíbrio e garantia, nem carência nem dissipação, nem medo nem amargura, nem humilhado sofrimento. Por fim, depois de tantas voltas e andanças, dona Flor vai conhecer o gosto da felicidade.

- Teodoro… - Murmurou de coração alegre e confiante: - Vai ser bom, vai dar certo, muito certo…

O concerto dos sapos nos fagotes de bruxedo e em concordância:

- Amem! Amem!

Foi na noite de Paripe, com estrelas e lanternas de saveiros.

quinta-feira, agosto 05, 2010


ENTREVISTAS


FICCIONADAS COM


JESUS CRISTO


Entrevista Nº 50



TEMA – A VIDA DAS CRIANÇAS NO
TEMPO DE JESUS CRISTO




Raquel – Estamos na Nazaré, onde Jesus Cristo cresceu em idade, em sabedoria e em graça e de onde as Emissoras Latinas o continuam a entrevistar.

- O senhor foi aqui criança. Conte-nos como era a vida das crianças no seu tempo…

Jesus – O que te hei-de dizer, Raquel. Tínhamos de trabalhar desde muito pequenos. Cuidávamos das cabras, das ovelhas, pisávamos uvas, aprendíamos a semear, a moer o grão…

Raquel – Hoje há Convenções Internacionais que falam dos Direitos das Crianças… No seu tempo?

Jesus – No meu tempo nenhum direito, tudo torto. Às crianças as metiam no mesmo saco com os enfermos, os escravos e as mulheres. Os últimos da fila. O único valor dos pequenos era que… um dia seriam grandes.

Raquel – E as meninas?

Jesus – Com elas, pior. As meninas cresciam e… continuavam sem valor. Olha aqueles que estão correndo… ei, meninos, venham cá!

Menina – Os senhores são turistas?

Jesus – Ela é jornalista.

Menino – O meu pai tem uma barba como o senhor…

Jesus – Querem que lhes ofereça um pêlo da minha barba?... Vamos lá ver qual de vocês dois mo consegue arrancar!

Raquel – Parece um pai com seus filhos… o senhor nunca teve filhos? Não quis tê-los?

Jesus – Que árvore não gostará de deixar sementes, Raquel?

Menina – O senhor como se chama?

Jesus – Jesus.

Menina – E ela?

Jesus – Raquel. E tu como te chamas?

Menina – Samira.

Jesus – E tu?

Menino William.

Jesus – Samira e William. Esses nomes não existiam no meu tempo…

Menina – O senhor sabe contar histórias?

Jesus – Histórias?... Eu sei mil histórias e também sei adivinhas.

Raquel – Desculpa, Jesus Cristo, mas voltando ao tema dos seus filhos…

Menina – Ele não se chama Jesus Cristo, chama-se Jesus.

Mãe – Ei, meninos… onde se meteram?... Samira, William, venham, não incomodem esses senhores.

Meninos – Não vai contar-nos uma história?

Jesus – Vão, vão com a vossa mamã… depois voltem que eu conto…

Raquel – Dá-se bem com as crianças, não dá?

Jesus – Sempre gostei de falar com elas. Uma vez uma menina como esta Samira explicou-me como davam à luz as cabras monteses e onde faz o ninho o gavião… É que as crianças não só aprendem, também ensinam… Temos uma chamada… Alô?

Piron – Sou Claude Piron, sociólogo… Tenho estado a ouvir o vosso programa e estou encantado… Passaram dois mil anos e vejo que Jesus Cristo continua sendo o mesmo, um revolucionário.

Raquel – Por que diz isso, senhor Piron?

Piron – Porque é muito recente a ideia de que as crianças são cidadãos. Até ao Século XX eram vistas como animalitos que os adultos tinham que domesticar. Que uma criança tinha valor por si mesma não ocorrera a ninguém. A Jesus Cristo ocorreu.

Raquel – Obrigado ao amigo sociólogo que nos acabou de ligar. Então, pelo que oiço, o senhor adiantou-se ao seu tempo.

Jesus – Melhor, eles é que se atrasaram.

Raquel – Quem é eles?

Jesus – Os do grupo… Recordo-me que uma vez estávamos falando em Cafarnaum e vieram ter connosco umas crianças. Santiago, João e Pedro incomodaram-se. Vão-se embora, estão a estorvar. Aqui falamos de coisas sérias.

Raquel – E o senhor?

Jesus – Eu chamei as crianças. Fiquem aqui, disse-lhes eu. E a Pedro e aos outros adverti-os: os mais pequenos serão os maiores do reino de Deus e se vocês não entenderem isso ficarão de fora.

Raquel – Pois olhe, lá vêm esses dois de novo…

Jesus – Samira e William…

Raquel – Nós despedimo-nos e o senhor, Jesus Cristo, conte a história que lhes prometeu… De Nazaré, Raquel Perez, Emissoras Latinas.



NOTA

Em 1959, a Assembleia-geral das Nações Unidas, aprovou a Declaração dos Direitos das Crianças com 10 Princípios. Em 1989, a O.N.U. ratificou a Convenção sobre os Direitos da Criança a que haviam aderido todos os países menos os E.U.A. e a Somália. Em 1991, criou-se na O.N.U. o Comité dos Direitos da Criança que supervisiona a aplicação em todo o mundo da Convenção. Este Comité envia aos Governos informações periódicas sobre a situação dos Direitos da Criança, lança Iniciativas e faz Recomendações. Em 2002, por exemplo, dinamizou uma campanha global contra os castigos corporais sobre as Crianças.

Apesar das Declarações – Apesar das Declarações, Convenções, Princípios, Códigos e Direitos, a situação das crianças no planeta continua a ser um desafio colossal.

O jornalista espanhol José Manuel Martin Medem construiu um livro estarrecedor: “La Guerra Contra Los Ninos” (Editorial El Viejo Topo, Barcelona, 1998).

O que está descrito nesse livro sobre a violência extrema exercida pelo nosso mundo, dito civilizado, sobre as crianças, meninas e meninos, pela indústria do sexo, em guerras tribais, tráfego de órgãos, abuso sexual no local de trabalho escravo, adopções ilegais, criadas domésticas… é estarrecedor!

Na aparência, a protecção às crianças está avançando… avançam as declarações e as promessas, mas a ajuda mais elementar para a infância continua a ser esta recomendação:

“Não acredites no que te dizem, apenas no que te fazem”.

Claude Piron, psicoterapeuta, linguista suíço, Professor da Universidade, especialista em temas inter-culturais, participa num programa que releva a mensagem e a atitude de Jesus Cristo para com as crianças. Podem ler as ideias de Piron sobre a actualidade dos problemas da criança num texto “Somos Todos Responsáveis pelo drama do Menino-Sol” em www. envio. org. ni.

CANÇÕES BRASILEIRAS

MARIA BETÂNIA - LUAR DE SERTÃO

É um sucesso da música popular brasileira. Falando da vida
campestre, encanta pela ingenuidade da letra e simplicidade da sua música. É
uma das músicas brasileiras mais gravadas em todos os tempos. Hoje, atribui-se a
sua autoria a João Pernanbuco mas talvez ela seja mais do domínio de folclore
nortista.


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 190




Soube, no entanto, ir de a - passo com dona Flor no crescer de sua entrega, todo esse jogo lhe sendo de extremo gozo, num prazer como jamais sentira, nem mesmo quando, mais para atender a capricho de Tavinha em noites de manemolência do que por iniciativa própria, se dera a certas licenciosas práticas, dessas que um homem pode permitir-se com mundana ou prostituta, jamais com a esposa. Com a esposa é diferente, para ela se reserva o amor feito de matérias limpas, serena posse, quase secreta, digamos pura, recatada. Mas nem por assim tão recatada, menos prazerosa, como constatou doutor Teodoro ao ouvir dona Flor num suspiro grato murmurar-lhe o nome:

- Teodoro, meu amor…

Apressou-se em alcança-la e a alcançou, pois juntos se encontraram finalmente unidos em estreito abraço e num beijo fundo. Envoltos em ais, suspiros e langor, e em frio, pois o lençol, no acesso daquele embate, resvalara cama abaixo, deixando os esposos descompostos, dona Flor desabrochada em mel, de vergonha à mostra (e que galanteza de vergonha!, como em relance tímido, de esguelha, deu-se conta doutor Teodoro.).

Agradecido de tantos bens e gozo, beijou-o na face em febre e lhe cobriu o corpo e o frio com o pudico lençol e colcha quente. Então, por fim, pôde lhe dizer tudo quanto queria e o disse com todas as veras da alma, feliz esposo:

- Nossa lua-de-mel vai durar tempo infinito… Serei fiel a você a vida inteira, minha querida, jamais olharei outra mulher, vou lhe amar até à hora da minha morte.

- Amem – repetiam sapos e jias na noite de lua e núpcias de Paripe – Amem! Amem! – dir-se-ia um solo de fagote.

- Eu também, a vida inteira – afirmou ela, convicta de sua afirmativa, satisfeita e salva da aflição, mas não cansada; muito ao contrário, capaz de novas correrias, se a quisesse esporear.

Mas doutor Teodoro se compunha sob o lençol e a colcha, comentando:

- Engraçado… Quando dona Filo, há pouco quis nos obrigar a comer, não tive fome. Agora, no entanto, era capaz de mastigar um doce, uma besteira…

- Se quiser vou lá dentro buscar alguma coisa. Tem tanto doce e tanta fruta… Vou…

- De forma alguma… Nem pense nisso.

Dera-se conta: não era fome e, sim, o costume do prato com guloseimas, antes de sair da noite de Tavinha, o estômago viciado reclamara. Profanar as relações com a esposa, nelas mantendo hábito provindo de cãs pública de mulher-dama, Deus o livre e guarde. Num último e casto beijo, despediu-se:

- Vá dormir, querida, você deve estar morta de cansada, foi um dia fatigante…

Quase lhe diz: … “foi noite fatigante…” mas, ainda temeroso de ofendê-la, guardou a malícia para si, acomodou-se e em seguida adormeceu.

Dona Flor não dormiu logo; em verdade contara com a noite em claro, até a madrugada, em acampamento de fogueiras, a correr quilómetros de leito na montaria de seu corpo. Junto a ela, doutor Teodoro ressonava, densa respiração, ronco potente. Aquele ronco completou sua fisionomia de homem; forte, nobre e belo homem, seu esposo.

quarta-feira, agosto 04, 2010

CANÇÕES ITALIANAS

GILDA GIULIANA - AMORE, AMORE IMENSO
canção belíssima, voz maravilhosa, à época das mais famosas de Itália desde que, em 1973, ganhou o Festival Mundial de Tóquio


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 189


E logo lhe foi dado ver, não por absurdo e, sim, por diferente. Em vez de descobri-la, cobriu-se ele também e, sob os lençóis, com os braços a envolveu.

Trouxe sua cabeça (os cabelos de tão negros quase azuis) e a repousou em seu peito largo como um cais de porto, beijando-lhe com ternura a face e depois a boca num beijo enfim como dona Flor pressentia e esperava.

Tomada de surpresa ela deixou-se ir, e no beijo se rompeu a frágil e delgada casca da vergonha. A mão do esposo desceu da anca para a perna, por sobre a camisola, e toda sua borda de cambraia; e mal dando tempo para que dona Flor de todo se abrisse e se soltasse do recato, lhe suspendeu rendas e babados. Sem gastar tempo em despi-la e em se despir, ou em carícias de deboche de cama de castelo, sempre pelo lençol coberto, se pôs sobre ela e logo a possuiu com vontade, força e encantamento. Foi tudo muito rápido e pudibundo, por assim dizer; muito diverso de quanto conhecera dona Flor, e por isso mesmo ela se perdeu e não o alcançou em tão mudo e quase austero possuir-se. Apenas se desamarrara no pasto de desejo e já ouvia o canto da vitória do marido no outro extremo da campina. Ficou dona Flor como perdida, opressa, uma vontade de chorar.

Aquela ocasião de tanto desencontro permitiu a dona Flor medir, com o metro da aflição e da urgência, toda a gama de sentimentos e a delicadeza do doutor Teodoro.

Como se sabe, era ele sem nenhuma experiência em trato de cama com esposa (por celibatário) e quase nenhuma com amante ou com xodó, tendo frequentado tão-somente raparigas, no receio de arriscar-se a compromisso capaz de levá-lo a romper sua promessa. Mesma a parda e limpa Octaviana, por longo tempo exclusiva porta aberta a seu desejo, poço onde toda a semana depositava sua precisão de homem, nem ela fora jamais terna ligação ou rabicho ardente, apenas gentil necessidade, hábito agradável à natureza monogâmica do doutor.

Ao demais, saiba-se também que, por firmes princípios e convicções ideológicas, rezava o farmacêutico por aquele catecismo hoje (Deo gratias!) superado, a garantir ser a esposa flor sensitiva, feita de castidade e de inocência, merecedora do máximo respeito: para a descaração, para o desembestado gozo, o prazer do corpo, existem as putas e para isso cobram. Com elas, sim, em lhes pagando, pode-se soltar os freios da luxúria sem lhes causar ofensa ou pena, são terras infecundas, de árido plantio. Com a esposa nunca, para ela a descrição, o amor puro, belo e digno (e um tanto insonso): a esposa é a mãe dos nossos filhos.

Pois ainda assim, enredado em tão obsoletos dogmas, com tantas limitações e desconhecimento, deu-se ele conta e de como deixara dona Flor insatisfeita e tensa.

Ora, como também se sabe de ter-se escrito antes, na hebdomadária visita a Octaviana, por várias vezes o doutor Teodoro repetira o feito alegremente. Assim o fez também com dona Flor no leito monumental de jacarandá maciço e cheio de alfazema, naquela noite de bodas, em casa dos Pimentas, devendo-se dizer, aliás, tê-lo repetido com o melhor agrado, não por obrigação e, sim, contente com a oportunidade desse bis. Atento e responsável, para desta vez não a deixar na fímbria do prazer, e conseguindo-o.

Conseguiu-o apesar de ser tão mínima a sua experiência de tais utilíssimos cálculos e medidas, jamais lhe tendo interessado saber se Octaviana ou outra qualquer se satisfizera, ao satisfazê-lo com perícia, pois vinha buscar e pagava o seu prazer e não o prazer da rapariga.

terça-feira, agosto 03, 2010




ENTREVISTAS




FICCIONADAS




A JESUS CRISTO

Entrevista Nº 49



Tema"Até que a morte nos separe"



Raquel – De Nazaré, Emissoras Latinas, cobrindo a 2ª vinda de Jesus Cristo à terra. As suas opiniões despertam um interesse crescente na nossa audiência. A cada dia chegam-nos novas perguntas para que as façamos chegar ao senhor, Jesus Cristo.

Jesus - À vontade, Raquel. Faz as perguntas que tiveres que fazer.

Raquel – Vamos a esta… Vários ouvintes querem saber se os seus apóstolos estavam ou não casados…

Jesus – Que me recorde, todos estavam casados, todos tinham mulher e filhos… Não sei se alguns se casaram mais de uma vez… Os homens casavam-se muito jovens e se enviuvassem casavam outra vez…

Raquel – E divorciavam-se?... Não, claro, não se podiam divorciar!

Jesus – Claro que podiam. No meu tempo, a lei religiosa permitia o divórcio.

Raquel – Então, foi o senhor que mudou essa lei, proibiu o divórcio e estabeleceu que o matrimónio é indissolúvel para toda a vida? O senhor diz: “Até que a morte os separe”.

Jesus – Como dizes que eu disse?

Raquel – “Aquilo que Deus uniu o homem não separa”

Jesus – Não, estás equivocada. O que eu disse foi: “O que Deus uniu que não o separe o varão”. Eu não estava contra o divórcio mas contra isso a que tu no outro dia chamaste…

Raquel – Machismo.

Jesus – Isso. No meu tempo os homens eram… eram um império. Repudiavam as mulheres por qualquer motivo. Se queimavam as lentilhas, se saíam à rua sem a sua autorização, se falavam com o vizinho… divorciavam-se. Eu não estava contra o divórcio mas sim contra o machismo!

Raquel – Então o senhor estaria de acordo em que um casal tendo conflitos, conflitos graves, entenda-se, esse casal pode divorciar-se?

Jesus – Sim, mas o divórcio não pode ser um capricho do marido.

Raquel – Nem da mulher, tampouco.

Jesus – É evidente que não. Devem conversar entre os dois e decidir entre eles. Se vêm que não conseguem ser felizes será melhor separarem-se.

Raquel – E depois do divórcio está o senhor de acordo que voltem a casar?

Jesus – Por que não? A vida prossegue e Deus é vida.

Raquel – E os filhos? Não é terrível para os filhos ficarem sem pai ou sem mãe porque decidiram divorciar-se?

Jesus – Sim, é terrível mas eu creio que seria pior para os filhos assistirem aos conflitos, ódios e maus exemplos em casa, não te parece?

Raquel – E uma mulher que recebe pancada, maus-tratos, que deve fazer? Dar a outra face? Rezar para que o homem mude. Aguentar para salvar o casamento?

Jesus – Não, salvar-se a ela. Essa mulher deve sair, ir-se embora e não voltar para trás.

Raquel – Confesso-lhe, Jesus Cristo, que sinto um grande alívio. Como algo de pessoal, dir-lhe-ei que tive um marido… insuportável, conflituoso. Tive que separar-me. Creio que muitas das nossas ouvintes também se sentirão aliviadas.

Jesus – E por isso entenderão o que eu digo. Nem imaginas o que custou a fazer entender isto a Santiago, a João, a André… e especialmente a Pedro que foi o mais difícil de todos eles, por isso lhe chamei de Pedra!... Teimoso, agarrado às suas ideias, um grande machista.

Raquel – Será por isso que o Papa de Roma, que diz ser o herdeiro de Pedro, é tão duro para com as mulheres? (Muito recentemente o pecado de ordenação das mulheres foi equiparado, em gravidade, ao da pedofilia).

Que pensam os senhores, amigos, e em especial amigas de Emissoras Latinas?

Raquel Perez, desde a Nazaré.


NOTA

Um Casamento Muito Desigual – As leis e os costumes sobre o casamento no tempo de Jesus Cristo eram muito desiguais e levavam a marca do machismo numa sociedade eminentemente patriarcal.

Até aos 12 anos a menina estava sobre o poder do pai e a partir dessa idade já se podia casar. Seu pai, geralmente, decidia com quem. O casamento não era mais do que um trespasse formal da jovem do poder do pai para o poder do marido.

Na situação de casada, a mulher tinha direito a ser sustentada pelo marido e obrigada a cumprir com todas as tarefas domésticas e obedecer ao esposo com uma submissão entendida como um dever religioso. Mas dois direitos do marido desequilibravam completamente a relação:

- O direito de ter as amantes que quisesse no caso de as poder sustentar;

- O direito ao divórcio dependia completamente da sua vontade.


Causas do Divórcio ao Tempo de Jesus – Em Israel, à época de Jesus, o que estava em causa não era o direito ao divórcio: a Lei de Moisés permitia repudiar a esposa. O que estava em questão eram as razões que permitiam ao marido repudiar a esposa, ou seja, os motivos legais do divórcio.

Havia, sobre esta lei duas correntes de interpretação: os que entendiam que somente causas graves – o adultério, principalmente – devia servir de base ao divórcio por parte do homem; e outros, para quem bastavam razões mínimas como as que foram enunciadas na entrevista de Jesus. Na prática, foi esta última que prevaleceu com a agravante de que se a mulher quisesse casar novamente precisava da autorização do ex-marido.

Na realidade, a mulher repudiada pelo marido ficava numa situação de total abandono com muitas escassas oportunidades de sobreviver sem depender de um homem.

Indissolúvel… mas Anulável – A Igreja Católica considera todo o matrimónio indissolúvel interpretando a frase de Jesus no Evangelho de Mateus como uma proibição e condenação do divórcio.

O Código Canónico não só proíbe a quem se case pela Igreja e divorcie pelo civil de voltar a casar em cerimónia pela católica, como também fica proibida de receber a comunhão na missa por viver em pecado.

Em 2002, o Papa João Paulo II, insistiu nesta doutrina:

- “Considerar a indissolubilidade não como uma norma jurídica natural, mas como um ideal, desvirtua o sentido da inequívoca declaração de Jesus Cristo que recusou em absoluto o divórcio porque “ao princípio não foi assim” (Mateus 19, 8).

No entanto, para o Vaticano, os matrimónios indissolúveis são anuláveis no sentido de que “nunca existiram” e as razões são tantas que, na realidade, qualquer razão serve para obter a nulidade: realizou-se debaixo de violência; por medo dos pais; por impotência do cônjuge; por homossexualidade; o consentimento foi insuficientemente demonstrado; o cônjuge ocultou que não era virgem… e ultimamente apareceram as sogras…Excessiva dependência de um dos cônjuges da sua mãe.

As sentenças de anulação são outorgadas pelo Tribunal da Rota Romana, um dos mais antigos do mundo, Séc. XIV.

O custo médio para uma anulação de matrimónio, que autoriza que de novo as pessoas a casarem-se pela Igreja, é de cerca de 2.500 para o advogado, 260 para o fiscal além de outras despesas.

Os processos duram cerca de dois anos e em 2007 estavam pendentes de sentença 1679 casos. No ano anterior haviam sido emitidas 172 sentenças de nulidade de matrimónio.

CANÇÕES ANGLO - SAXÓNICAS

ROBERTA FLACK - KILLING ME SOFTLY
Nascida em 1937, na Carolina do Norte, Roberta Flack, cantora, pianista, compositora e uma das vozes mais afinadas da década de 70.



DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


Episódio Nº 188



Saiu para o banheiro levando o pijama e os chinelos, quase numa fuga. Dona Flor preparou-se ante o espelho e rápida, ouvindo a água correr no banho do marido. Quanto a ela recendeu em água-de-colónia em perfume de héliotrópio (que dona Dagmar lhe tinha dito ser o mais apropriado para a sua cor). Sobre o corpo nu, sobre o pelado ventre tão-só o perfume e as rendas negras da diáfana camisola de cambraia. Um brilho de desejo quase impúdico querendo impor-se sobre a pudicícia honesta a lhe baixar os olhos, a fazê-la trémula e medrosa. Cobriu desejo e formosura, as rendas e os babados transparentes, com o casto lençol onde a alfazema punha um cheiro de família e de inocência.

Doutor Teodoro regressou em amarelo, fascinante; crescera no pijama, dona Flor pensou: “Que enorme que ele é! Tendo pendurado o terno novo do casório – calças de lista e paletó de mescla – ele apagou as luzes do lustre de cristal, deixando apenas o vacilante e ínfimo brilho da lamparina de azeite em frente aos santos, no oratório secular.

“Não vai me ver quando despir da camisola”. Não vai ver seu corpo jovem, igual ao de moça virgem, seios de donzela pois não amamentaram, ventre sem as deformações da gravidez, sem a marca do parto, e uma rosa de cobre e de veludo.

Mas, que importa? Já ele verá seu corpo ao fim da cavalgada, no nascer da aurora, em sua baça claridade matinal. Agora só importa que o sinta jovem e árdego e para sempre seu.

Adivinhando-lhe a proximidade, dona Flor cerrou os olhos, o coração em descompasso.

Imaginava no entanto como seria, pois fora casada e, mesmo antes de o ser, partira a vadiar num leito de maresia e tempestade. Tinha certeza de como seria, pois guardara memória fiel e exacta, no pensamento e em cada minúcia de seu corpo. Mais um instante, e ele, seu novo marido, transpondo as fronteiras da fina educação e do pudor, alijando lençóis e camisola, num tropel de carícias e palavras, num desatino, num vendaval de esfomeadas bocas, de sábias mãos, a retiraria do recato e da vergonha, atingindo o chão de sua húmida verdade. Sente o corpo do marido junto ao seu, na cama.

Sempre fora preciso conquistá-la, a cada vez. Encolhia-se, fechava-se numa vergonha a recobrir com nodosa casca o cerne do desejo. Necessário transpor essa barreira, trazendo à tona sua cupidez de fêmea, sua recôndita apetência. Agora, porém, após tantos meses de viúva honesta (ah!, jovem e carente), meses que foram uma noite imensa e insone, quando não prenhe de sonos lancinantes em rua de marafas, desgarrada noite, mortal vigília, agora esse duro invólucro de pudor transformara-se em frágil e delgada cobertura, incapaz de resistir ao menor apelo.

O coração aos saltos, os olhos fechados, ela espera o gesto brusco do marido a arrancar o lençol e camisola, exibindo-a toda. Pois, como aprendera à custa de seu perdido pejo, onde já se viu vadiar de camisola, corpo vestido ou coberto ainda que pela mais leve cambraia transparente, onde já se viu tal absurdo?

Coisas de Milionários...


Um milionário começou a dedicar-se à caça e com a mania das grandezas em vez de se dedicar às lebres ou às perdizes, resolveu ir ao Alasca caçar ursos.


Depois de vários dias à espreita, avistou um urso grande, apontou e abateu o animal. Estava a pular de alegria, quando sentiu uma pancadinha no ombro. Era um urso maior ainda, sacudindo a cabeça em sinal de desaprovação:


- Não deverias ter feito isso - disse o urso - Mataste um dos meus semelhantes, e agora vais ter de pagar. Preferes morrer ou ser violado ? Diante das circunstâncias, escolheu a segunda alternativa, entregando-se ao animal. Sobreviveu, mas jurou vingança.


Um ano depois, voltou ao Alasca disposto a matar o urso que o violentara. Avistou-o, apontou e abateu-o com um único tiro. Logo sentiu uma pancadinha nas costas. Era outro urso, muito maior do que o que ele tinha morto. O bicho repetiu o discurso do ano anterior:


- Mataste um dos meus semelhantes e vais ter de pagar. Preferes morrer ou ser violado ? O milionário nem queria acreditar naquilo ! A cena repetia-se ! Jurando vingança, entregou-se ao animal monstruoso.


No ano seguinte, sedento duma desforra, voltou ao Alasca. Avistou o gigantesco urso, apontou e abateu o animal com um tiro certeiro. E sentiu outra pancadinha nas costas. Era um urso descomunal, que disse:

-Diz-me a verdade, tu não vens aqui p'ra caçar, pois não ?!....

segunda-feira, agosto 02, 2010


Prova de Acesso à Universidade:
Interpretar o seguinte poema de Camões:

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer'.

Uma aluna deu a sua interpretação:

Ah Camões, se vivesses hoje em dia,
tomarias uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Comprarias um computador,
consultarias a Internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!


Teve nota máxima. Foi a primeira vez, depois de mais de 500 anos, que alguém entendeu qual era a idéia de Camões...

VÍDEO

Socorro!... apaguém o fogo...

CANÇÕES PORTUGUESES

RUI VELOSO - NÃO HÁ ESTRELAS NO CÉU
Do fabuloso reportório de Rui Veloso é muito difícil eleger qualquer canção como a mais bonita... a da nossa preferência, porque logo nos lembramos de outra... e hesitamos. A combinação da música e letra desta canção para todos os que ficaram agarrados à juventude pelas memórias dos tempos que dela guardam, tem a vantagem de a tornar mais íntima, mais próxima, tanto mais quanto os tempos de jovem se vão distanciando. Obrigado, Rui, por nos teres feito regressar a ela embalados nesta linda melodia.


DONA

FLOR

E SEUS

DOIS

AMORES


Episódio Nº 187


Por que lembrar-se, se era tão amena a noite de Paripe, com estrelas, e lua cheia, mar negro e tranquilo, e a paz do mundo sobre os esposos inibidos? Teodoro, mostra-me depressa mais estrelas, esmaga com tua voz e teu saber as lembranças de um obscuro tempo, defunto e enterrado. Traça em tua constelação nosso caminho largo e aprazível, esse rio calmo, esse remanso, esse viver de golfo, viver feliz que hoje inauguramos devagar. Estremece dona Flor, seus olhos húmidos.

- Você está tremendo, está com frio, minha querida. Que loucura ficar aqui exposto, no sereno; um perigo, pode pegar gripe, um resfriado. Vamos entrar e fechar essas janelas – doutor Teodoro sorriu seu bom sorriso e perguntou um tanto escabriado: - Não acha que já é hora, meu amor?

Ela riu também, atrás dele se escondendo a meio, num jogo de recato e de malícia: “é você quem manda meu senhor”. Ele era tão simpático e tão gentil, um bom gigante, ela sentia o seu apoio, a sua protecção. Deu-lhe o braço, era seu esposo: homem de bem, forte e calmo como lhe fazia falta. Um marido de verdade, às direitas. Como esse mar de golfo, sem violências, sem rompantes, mas quem sabe?, talvez com estrelas escondidas, com riquezas insuspeitas, imprevistas.

Puseram as trancas de madeira nas janelas, ela a ajudá-lo. A noite fez-se pequena e íntima no quarto, um aconchego na medida da timidez dos dois esposos. Como vai ser agora, meu Deus? – interrogou-se dona Flor, ao terminar.

Para fazer alguma coisa, dona Flor foi arrumando sua roupa e a dele nos armários. Aos pés da cama, os dois pares de chinelos; sobre a colcha, o vistoso pijama amarelo do doutor e a camisola de rendas e babados, presente de dona Enaide para a noiva, obra-prima de cambraia. Era uma artista dona Enaide e com esses finíssimos bordados fizera as pazes com a amiga, posto no rol do esquecimento aquele assunto do doutor Aluísio, rábula e sapeca, doutor para inglês ver…

Doutor Teodoro, ah!, doutor de verdade, de canudo e anel, a observava indo e vindo para o armário. Ela lhe exibiu a camisola, tomando-a pelos ombros. “Bonita, não acha?” e ele, ao ver e achar, sentiu um frio no cangote. “Cuidado, meu caro, não ponhas tudo a perder com um gesto brusco, uma palavra forte…” – recomendou-se o noivo mais uma vez. Prudência e tacto impunham-se nestes sete dias de lua-de-mel no paraíso de São Tomé, nos longes de Paripe, em casa dos Pimentas. Sete dias ali, de mar e de jardim, de preguiça e de volúpia, mas a lua-de-mel, essa, iria durar a vida inteira.

Desejou dizer a dona Flor: “nossa lua-de-mel vai durar a vida inteira”. Porque tão tímidos e inibidos? Era come se de súbito houvessem gasto toda a intimidade a duras penas conquistada quando noivos. No entanto, estavam casados, com a bênção do monge de São Bento e as felicitações do magro juiz e músico, e antes do casamento haviam trocado beijos, ávidos e frementes, no cinema e em casa, sentindo a ânsia e a febre, arrebatados no desejo cru. Por que então esse encabulamento, por que ficar ali sem voz e sem acção, como dois patetas, quando por fim a sós., marido e mulher na hora de se completarem e serem?

Ele queria lhe dizer, a seu amor: “nossa lua-de-mel vai durar a vida inteira”, mas apenas disse na intenção de desatar aquele nó de agonia e de silêncio:

- Enquanto você muda a roupa eu vou lá dentro…

domingo, agosto 01, 2010

CANÇÕES BRASILEIRAS

DUDU NOBRE - RODA DE SAMBA - SINHÁ, SINHÁ
o samba tem origem afro-baiana de tempero carioca. Nasceu nas casas das "tias" baianas, no centro do Rio. Descende do lundu, nas festas dos terreiros entre umbigadas (samba) e pernadas da capoeira. A Roda de Samba são manifestações comuns nas cidades do Rio e São Paulo. Reunem grande nº de pessoas em torno de uma mesa onde os músicos tocam e cantam sem microfone. Não há nº certo de pessoas a tocar e todos, fora e dentro da Roda, podem dar suas opiniões sobre as músicas a tocar.


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