sábado, maio 31, 2008

Os Ateus e o Dr. João Césasr das Neves


Os Ateus e o Dr. João César das Neves




Ao longo de alguns dias transcrevi neste blog trechos do livro de Richard Dawkins “A desilusão de Deus” e fi-lo porque o autor é um dos mais eminentes cientistas e intelectual dos nossos dias e nessa qualidade teve a coragem de se afirmar como ateu e explicar porque somos religiosos e como as religiões se constituíram ao longo dos séculos em factores de ódio, violência, sofrimento, guerras e mortes para além de terem funcionado como grilhetas que aprisionaram o pensamento impedindo que ele se desenvolvesse e expressasse em liberdade.

A nossa sociedade é tradicionalmente católica e embora se perceba a importância cada vez maior do consumismo e das naturais preocupações da juventude com o seu futuro profissional, não a vemos deslocar-se em massa para os locais de culto em busca da ajuda divina.

Mas continua a haver pudor em abordar este tema porque, dizem, tem a ver com algo que as pessoas sentem como sagrado e mesmo que não sejam crentes respeitam-no, omitem-no, se é que não o temem.

Que as televisões passem com regularidade missas em canais abertos e generalistas e outros programas que contribuem para estimular e desenvolver a fé religiosa, para além de reportagens em que durante horas são trazidas até às nossas casas as peregrinações e as procissões da Nossa Senhora de Fátima, parece não levantar nenhum tipo de reacção, mesmo que nos sintamos chocados pelo espectáculo deprimente dado pelas pessoas que se arrastam de joelhos no santuário da Cova da Iria, ou se deslocam pelas bermas das estradas, cansadas, com os pés cheios de bolhas mas com aquele ar estranhamente feliz no cumprimento de promessas.

No entanto, se Richard Dawkins, aparecesse num desses canais numa prelecção em que expusesse às pessoas o seu ponto de vista acerca das religiões e de uma maneira geral sobre as crenças religiosas teríamos, muito provavelmente, a emissão cortada por um qualquer motivo de natureza técnica e no dia seguinte a Direcção da RTP e o Ministro da Tutela estariam todos à procura de novo emprego, (palavra de Paulo Portas…) apesar de ele ser considerado um dos três mais brilhantes intelectuais da actualidade e o seu livro ter tido quatro edições em 6 meses e vendido mais de um milhão de exemplares.

Nasci e fui educado no seio de uma família católica e durante a minha juventude passei, como aluno em regime de semi-internato, por um colégio de jesuítas e essa passagem, embora longínqua, tenho-a bem presente na minha memória.

Pela vida fora o “remoer” dessa experiência e tudo o resto que fui aprendendo foi fazendo com que a religião perdesse sentido e significado, não obstante a força, reconheço, com que me chegou inserida na herança cultural que meus pais, avós, restante família, professores e toda a sociedade me transmitiram.

Agradeço a R. Dawkins o seu livro, cuja leitura recomendo, e que me ajudou a perceber aspectos essenciais do fenómeno da crença que está na base de todas as religiões e que não se coadunava com a lógica da evolução, a qual, através de fenómenos de selecção natural, deveria eliminar os comportamentos que são contrários aos interesses da espécie no que respeita à sua sobrevivência.

Fiquei a saber porque é que o homem nasceu para acreditar e não para ser religioso. Acreditar naquilo que os seus pais, chefes e pessoas mais velhas lhes diziam para eles fazerem ou não fazerem evitando que aprendessem exclusivamente à sua custa com demasiado risco para as suas vidas era o objectivo.

E tão importante era respeitar e cumprir essas instruções que, em um determinado local do cérebro, se desenvolveu uma predisposição que nos “mandava” acreditar, da mesma forma que nos facultou, com idêntica finalidade, a capacidade de aprender a linguagem materna como não mais seria possível pela vida fora relativamente a outras línguas.

Mas o cérebro, dotado com essa característica, apurada ao longo das gerações, não tinha forma de seleccionar as boas informações, os bons e úteis conselhos dos outras que não o eram e por isso acreditava que não devia tomar banho no rio porque o crocodilo representava um sério perigo para a sua vida, da mesma forma que também acreditava que se matasse uma cabra iria provocar a chuva.

Temos, assim, que uma determinado atributo do nosso cérebro desenvolvido para uma determinada finalidade que era decisiva para a nossa sobrevivência de seres fisicamente frágeis e quase indefesos, acabou por servir também outros fins desinteressantes que apareceram como subprodutos, da mesma forma que um computador concebido para nos ajudar em tantas coisas úteis não consegue evitar as “ordens” dos vírus que ele cumpre como se fossem boas porque também não as consegue distinguir.

Foi uma grande “partida” que o Evolucionismo, que é como quem diz, a natureza nos pregou mas o cérebro humano foi desenvolvendo progressivamente, para além dessa capacidade / necessidade de acreditar, faculdades de inteligência e raciocínio que permitiram à humanidade desbravar o caminho da ciência e ir explicando as regras de funcionamento da natureza satisfazendo, assim, uma curiosidade e um desejo de saber sem o qual a espécie humana estaria condenada à partida.

Eu respeito as pessoas que são crentes, que foram ensinadas desde tenra idade a serem crentes e que não se concebem a si próprias fora dessa crença até porque, como foi assinalado por Richard Dawkins, as pessoas são boas ou más independentemente de serem ou não crentes apenas… com a diferença que nas chamadas “guerras santas” se mata com mais “alegria espiritual”.

Mas seria um “mal menor”se as pessoas se limitassem apenas a ser crentes, se exercessem a sua religião com a descrição, e o recato daquilo que é íntimo e que por isso mesmo deveria ser vivido em comunhão com elas próprias.


Mas dizer isto é ignorar a natureza verdadeiramente social do homem e as religiões tornaram-se no maior e mais importante fenómeno da história da humanidade.

As crenças transformaram-se, inevitavelmente, em organizações estruturadas, hierarquizadas e fortemente lideradas por pessoas altamente vocacionadas para o exercício do poder e que se comportaram como chefes supremos de grandes exércitos de guerreiros unidos e subordinados pela mente, pela obediência cega a uma crença.

Quando se fala hoje no ecumenismo, no entendimento entre todas as grandes Igrejas porque, com várias faces, o Deus é o mesmo, percebe-se perfeitamente que a grande preocupação é salvar aquilo que é a essência do “negócio” religioso: a Fé, o Acreditar, porque o resto, as pequenas diferenças, são pormenores que não afectam o essencial que é acreditar, continuar a acreditar, cada vez com mais força, nem que para isso as criancinhas tenham que decorar o Corão em vez de serem felizes a brincarem umas com as outras, ou a rezar intermináveis ladainhas e Pais Nossos para cimentarem dentro do espírito os dogmas relativamente aos quais nunca terão nem deverão fazer qualquer esforço racional para tentarem compreender.

Há uma incompatibilidade de base entre raciocínio e inteligência que conduzem ao conhecimento científico e a religião que é a preguiça mental, a certeza em vez da dúvida, a confiança cega em verdades que não se discutem.

No entanto, todos conhecemos pessoas que adoptam uma atitude fervorosamente religiosa que coexiste com uma actividade intelectual que desenvolvem no âmbito das ciências que estudam o social, e muito menos, as ciências da natureza.

O Dr. João César das Neves, Prof. Universitário, conhecido economista e pessoa indiscutivelmente inteligente, afirmava recentemente, numa das suas crónicas do jornal Diário de Notícia de 26/5, atirando-se aos Ateus “como gato a bofe”, que «recusar Deus é uma crença como as outras» e esta surpreendente acusação deixou-me estupefacto por ter vindo de quem veio.

No meu caso particular fui deixando de acreditar em tudo o que tem a ver com religiões e não percebo como é que este “deixar de acreditar” se transformou, para o Sr. Prof., afinal, numa “crença”.

Saber depois, se tudo quanto existe: Seres vivos, Terra, Sistema Solar, Via Láctea, restantes Galáxias e o Universo no seu todo, com 15 biliões de anos de existência, são obra de um Deus ou não, francamente, Sr. Prof., é uma questão que me ultrapassa de tal maneira que me parece ser de grande pretensiosismo pronunciar-me sobre ela, mas será isso também uma “crença”?

Será que o Sr. Prof. pretendia referir-se a uma “não crença” ou trata-se apenas de um ataque insidioso que é chamar de crentes àqueles que nunca tiveram crenças ou que delas se libertaram?

Ah!, com que então vocês não queriam ser crentes, pois fiquem sabendo que isso também é uma crença. Bem feita…bem feita!

Depois, o Sr. Prof., desenvolve uma argumentação para tentar comprovar a existência de Deus apresentando argumentos atrás de argumentos que mais parecem tentativas desesperadas para convencer através da razão aquilo que só lá vai pela fé.

João César da Neves não vai ler o livro de Richard Dawkins porque o Prof. é um teísta convicto 100% da existência de Deus.

Nas palavras de C. G. Jung «eu não acredito, eu sei» e, portanto, não leria nada que contrarie frontalmente aquilo em que ele não só acredita, mas sabe.

Se se desse a esse trabalho encontraria a desmontagem dos seus argumentos um por um mas quando se acredita todos os argumentos em defesa da crença são bons, mesmo os mais disparatados, enquanto que os outros, os que desmontam as nossas crenças, são falsos como Judas.

Diz o Sr. Professor:

- «…O pior obstáculo do ateísmo é a ausência de finalidade. Para o ateu este universo, sem origem nem orientação, também não tem propósito. Bons e maus têm o mesmo destino vazio. Saber que vivemos num mundo que se dirige à morte e ao nada faz de nós os mais infelizes dos seres.

Se Deus não existe não existem o bem, a moral, a própria razão…»

O Sr. Prof. tem muito pouca auto-estima quando pensa que, se de repente a fé em Deus desaparecesse do mundo, tornar-nos-íamos todos hedonistas insensíveis e egoístas, desprovidos de amabilidade, caridade, generosidade, enfim, tudo aquilo que merece o nome de bondade.

Se Vª. Exª, Sr. Professor, concorda que, na ausência de Deus, seríamos capazes de cometer assaltos, violações e homicídios, na opinião de Michael Shermer, o Sr. é considerado uma pessoa imoral e “o melhor será passarmos-lhe ao largo”.

E já agora, deixe-me recorrer a Einstein: “Se as pessoas só são boas porque temem o castigo e esperam a recompensa então somos mesmo uma triste cambada.”

E porque vem igualmente a “talhe de foice” transcrevo, ainda de Einstein:

-« Estranha a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem saber porquê, contudo, por vezes parecemos adivinhar um objectivo. No entanto, do ponto de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos outros homens – acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem estar depende a nossa própria felicidade.»

Informo o Sr. Prof. João C. das Neves que a única página da Internet que consegui encontrar, referia uma lista dos “cristãos cientistas vencedores do prémio Nobel” em que apenas seis eram mencionados como crentes de um total de várias centenas de prémios Nobel da Ciência.

Destes seis, quatro nem sequer tinham ganho o prémio e pelo menos um é um não crente que vai à Igreja por motivos meramente sociais.

Um estudo mais metódico conduzido por Benjamin Beit-Hallahmi «apurou que entre os galardoados com o Prémio Nobel na área das ciências, bem como no da literatura se regista um assinalável grau de irreligiosidade comparativamente com as populações donde são, respectivamente, provenientes».

Um estudo da autoria de Larson e Witham saído na conceituada revista Nature , 1998, mostrava que de entre os cientistas americanos considerados pelos seus pares suficientemente eminentes para serem eleitos para a National Academy of Sciences apenas 7% acreditava num Deus pessoal.

Este predomínio esmagador de ateus é quase o oposto do perfil da população norte-americana em geral pois, 90%, acreditam num ser sobrenatural.

Todos os 1074 membros da Royal Society que têm endereço electrónico foram inquiridos tendo respondido 25% (que é um bom número para este tipo de estudos).

Foram-lhes apresentadas várias proposições, como, por exemplo:

«Acredito num Deus pessoal, isto é, um Deus que se interessa pelas pessoas, que ouve e atende preces, que se preocupa com o pecado e as ofensas, e que profere juízos.»

Para cada uma destas proposições pedia-se lhes que escolhessem entre 1 (discordância total) e 7 (concordância total).

Apenas 3,3% concordaram totalmente com a existência de um Deus pessoal ao passo que 78,8% discordaram totalmente.

Se definirmos como “crentes” os que escolheram 6 ou 7 e como “não crentes” os que escolheram 1 ou 2 obtemos 213 descrentes para uns meros 12 crentes.

Mas deixando agora a elite dos cientistas da National Academy e da Royal Society há outras conclusões interessantes de trabalhos de pesquisa sobre a relação estatística entre a religiosidade e o grau de instrução ou entre a religiosidade e o QI.

Michael Shermer, em “How we Believe”: The Search for God in Age of Science, descreve uma grande sondagem que levou a cabo com o seu colega Frank Sulloway, tendo por alvo pessoas escolhidas aleatoriamente e descobriu que a religião tem, na verdade, uma correlação negativa com o nível de instrução e com o interesse pela ciência e de maneira muito forte com inclinações políticas mais progressistas.

Nada disto surpreende tal como não espanta haver uma correlação positiva entre a religiosidade do indivíduo e a dos pais. De acordo com os sociólogos, em cada 12 crianças apenas uma se afasta das crenças religiosas dos pais (herança cultural).

Finalmente, quanto à correlação entre a religiosidade e o QI e de acordo com os dados publicados por Paul Bell na “Mensa Magazine”.

Eis a conclusão:

- “De um total de 43 estudos realizados desde 1927 sobre a relação entre a crença religiosa e o grau de inteligência e/ ou de instrução, apenas 4 encontraram uma conexão inversa. Isto é, quanto maior é o grau de inteligência ou de instrução de um indivíduo menor a probabilidade de esse indivíduo ser religioso ou de ter crenças seja de que tipo for”.

Estes números, e números são a especialidade do Prof. Dr. João César das Neves, não devem ser nada do seu agrado quando se queixa, mesmo na parte final do seu artigo:

«A única questão interessante é saber porque coisas tão simples foram escondidas aos sábios e inteligentes e reveladas aos pequeninos».

Pois é, Sr. Prof., este seu último desabafo é perfeitamente elucidativo de que em si coexistem duas pessoas: uma que o leva a desdenhar dos sábios e das pessoas inteligentes porque não crêem e a considerar os pequeninos (pequeninos em quê?) muito mais fiáveis e o outro, o intelectual, que se licenciou e doutorou em economia e que, pelos vistos, vive perfeitamente com o primeiro.

Só espero que não rejubile de alegria quando vê nos noticiários da TV certas manifestações de fervor religioso dos «seus pequeninos…»

É que o problema e a ameaça para a paz e tranquilidade neste mundo resulta, em grande parte, dos «seus pequeninos» encontrarem um qualquer líder, sedento de poder, inteligente e ambicioso, que arrogando-se o dom de ser interlocutor de Deus, sem correr o risco de que Ele o desminta, os arraste atrás de si e os manipule levando-os aos actos mais atrozes contra eles próprios e contra os outros.

V.ª Ex.ª nunca praticará tais actos, mesmo em nome da sua crença, estou certo disso, mas essa referência aos «pequeninos», com toda a franqueza, não me soou nada bem.

Douglas Adams dir-lhe-ia:


Para si não lhe “basta ver que um jardim é belo sem ter de acreditar que lá no fundo também esconde fadas”.

quarta-feira, maio 28, 2008

domingo, maio 25, 2008


O Monoteísmo
(Richard Dawkins)





Um deus tirano, feroz e ciumento de quaisquer outros deuses, impôs-se a um povo que há 3.500 anos vivia no deserto e iniciou o Monoteísmo.

Esse deus chamava-se Jeová e o povo era o Judeu.

Gore Vidal, romancista e ensaísta norte-americano que viveu muitos anos em Itália, com vários livros traduzidos em português, escreveu a propósito do Monoteísmo:

«O grande mal indizível no centro da nossa cultura é o monoteísmo. A partir de um texto bárbaro da Idade do Bronze conhecido como Antigo Testamento, evoluíram três religiões anti-humanas – O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
Trata-se de religiões de um deus do céu. São literalmente patriarcais – Deus é o Pai Todo-Poderoso – daí o desprezo pelas mulheres desde há 2.000 anos nos países atormentados por esse deus do céu e pelos seus representantes masculinos na terra.»

A mais velha das três religiões abraâmicas, e nítido antepassado das outras duas, é o Judaísmo: originariamente era o culto tribal de um único Deus ferozmente antipático, doentiamente obcecado por restrições sexuais, pelo cheiro de carne queimada, pela sua própria superioridade em relação aos deuses rivais e pela exclusividade da tribo do deserto que elegeu como sua.

Durante a ocupação romana da Palestina, o Cristianismo foi fundado por Paulo de Tarso enquanto facção do Judaísmo menos implacavelmente monoteísta e também menos fechada que, levantando os olhos do meio dos Judeus os erguia para o resto do mundo.

Vários séculos mais tarde, Maomé e os seus seguidores regressaram ao monoteísmo intransigente da versão originária judaica, embora sem a sua vertente exclusivista.

Fundaram assim o Islamismo com base num novo livro sagrado, o Corão ou Quran ao qual acrescentaram uma poderosa ideologia de conquista militar para a propagação da fé.

Também o Cristianismo se propagou por meio da espada, brandida primeiro pelas mãos dos romanos – depois do Imperador Constantino o ter promovido de culto excêntrico a religião oficial – e posteriormente pelos cruzados e mais tarde os conquistadores espanhóis e outros invasores e colonos europeus com o respectivo acompanhamento missionário.

Não é clara a razão pela qual o Monoteísmo deve ser visto como um progresso óbvio relativamente ao Politeísmo no sentido do seu aperfeiçoamento.

Ibn Warraq, ateu muçulmano, autor de “Why I am Not a Muslim” e “The Origin of the Koran” conjecturava com certa graça que o Monoteísmo está, por sua vez, condenado a subtrair mais um deus e a tornar-se ateísmo.

Especialmente no ramo católico romano do Cristianismo o namoro com o politeísmo é evidente.

À Santíssima Trindade junta-se Maria, «Rainha dos Céus» deusa em tudo menos no nome e seguramente logo atrás de Deus enquanto destinatária de orações.

A seguir vem um autêntico exército de santos cujo poder intercessor os torna, senão semideuses, pelo menos dignos de serem abordados dentro da área da especialização de cada um.

O Fórum da Comunidade Católica oferece solicitamente uma lista de 5.120 santos mais as respectivas áreas de competência, que incluem dores de barriga, vítimas de maus tratos, anorexia, traficantes de armas, ferreiros, ossos partidos, técnicos de bombas e desarranjos intestinais, etc, etc.

Todos estes santos, por sua vez, estão distribuídos por nove ordens: Serafins; Querubins; Tronos; Dominações; Virtudes;
Potestades; Principados; Anjos (o mais conhecido dos quais é o nosso “anjo da guarda”) e, finalmente, os Arcanjos que são os comandantes de todos os outros.

O que impressiona em toda esta mitologia católica, para além de outros aspectos, é a ligeireza inconsequente com que estas pessoas vão congeminando pormenores, tudo fruto da mais descarada invenção.

O Papa João Paulo II criou mais santos do que os seus antecessores todos juntos no decorrer dos últimos séculos, tendo uma afinidade especial com a Virgem Maria.

Os seus devaneios politeístas ficaram perfeitamente vincados quando, em 1981, vítima de uma tentativa de assassínio em Roma, atribuiu à intervenção de Nossa Senhora de Fátima a circunstância de ter sobrevivido: «Uma mão materna guiou a bala».

Não podemos deixar de sentir uma certa curiosidade em saber porque não terá ela guiado a bala de forma a nem sequer o atingir.

Outros poderão pensar que a equipa de cirurgiões que o operou durante seis horas mereceria, pelo menos, uma parte dos louros mas talvez as suas mãos também tenham sido maternalmente guiadas.

O ponto relevante é que não foi só Nossa Senhora que, na opinião do Papa, guiou a bala mas, concretamente, Nossa Senhora de Fátima.

E então Nossa Senhora de Lurdes, Nossa Senhora de Guadalupe, Nossa Senhora de Medjugorge, Nossa Senhora de Akita, Nossa Senhora de Zeitun, Nossa Senhora de Garabandal e a Nossa Senhora de Knock, estariam todas elas, no momento do disparo, indisponíveis com outras incumbências?

E que dizer da Santíssima Trindade, uma espécie de um Deus em três partes, ou três em um.

E reparem no primor do raciocínio teológico com que A Enciclopédia Católica nos esclarece esta questão:

“Na unidade do Divino existem três Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo todas verdadeiramente distintas umas das outras. Assim sendo, e nas palavras do credo atanasiano: o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, e no entanto, não existem três Deuses, mas sim um Deus.”

Mas, como se isto não fosse suficientemente “claro” a mesma Enciclopédia cita ainda São Gregório, O Traumaturgo, teólogo do século III:

“Nada existe, portanto, na Trindade que seja criado, nada que seja sujeito a outrem; nem existe nada que tenha sido acrescentado como se não tivesse existido anteriormente, mas antes tivesse sido introduzido mais tarde; por isso, o Pai nunca foi sem o Filho, nem o Filho sem o Espírito Santo; e esta mesma Santíssima Trindade é imutável e para sempre inalterável.

Não sabemos que milagres valeram a São Gregório o cognome mas, entre eles, não estava com certeza, a pura lucidez.

As palavras de São Gregório carregam aquele travo caracteristicamente obscurantista da teologia.

Thomas Jefferson, a propósito da Santíssima Trindade, estava certo quando afirmou: «o ridículo é a única arma que pode ser utilizada contra proposições ininteligíveis».

E mais adiante:

«Falar de existências imateriais é o mesmo que falar de nadas. Dizer que alma humana, os anjos e deus são imateriais é o mesmo que dizer que eles são nadas ou então que não existe deus, nem anjos, nem alma. Não consigo pensar de outra maneira…sem mergulhar no imenso abismo dos sonhos e espectros. Bastam-me e já me ocupam o suficiente, as coisas que são, para me atormentar ou preocupar com as que podem de facto ser, mas das quais não tenho provas.»

James Madison, 4º Presidente dos EUA, de 1809 a 1817, desabafava com veemência:

«Durante quase 15 séculos, a autoridade oficial do Cristianismo foi posta à prova. Quais foram os resultados? Por toda a parte, e em maior ou menor grau, orgulho e indolência no clero, ignorância e servilismo nos leigos; e nuns e noutros, superstição, preconceito e perseguição.»

Para Benjamin Franklin «os faróis são mais úteis que as Igrejas».

No trecho de uma carta para Jefferson, John Adams, (1º Vice-Presidente dos E.U.A e o seu 2º Presidente) escreveu:

«Quase estremeço quando penso em aludir ao mais fatal exemplo de causas de padecimento que a história da humanidade preservou – a Cruz. Veja-se as calamidades que essa máquina de padecimento causou».

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