sábado, janeiro 22, 2011

A HIPOTENUSA


Um Quociente apaixonou-se
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.

ROY ORBISON - BY BY LOVE
Em 1991, Roy recebeu um Germmy por: "Oh! Pretty Woman" que lhe foi entregue num show ao vivo onde estiveram presentes celebridades do campo musical como: Jackson Brown, Elvis Costello, Bruce Springsteen, T- Bone Barnet e muitos outros importantes cantores. Nesse ano, duas músicas suas estiveram entre as vinte melhores do Reino Unido. Durante mais de 4 décadas ele esteve nos top das paradas da música e, no entanto, quando lhe perguntaram como gostaria de ser lembrado, respodeu simplesmente: "Eu só gostaria de ser lembrado". Eu acrescento: com canções como estas nunca será esquecido

TEREZA
BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA


Episódio Nº 11


Sozinho tinha posto fim ao bafatá, rindo e falando alto, dirigindo-se a presentes e ausentes, pessoas e encantados; emérito no jogo da capoeira. Quando o tipo da polícia sacou do revólver, ameaçando atirar, nessa hora Flori desligou a luz e a responsabilidade fez-se colectiva e assim inexistente; quem pode dar testemunho do sucedido no escuro? O caboclo então lhe tomou a arma num passe de mágica e, se o secreta não houvesse espatifado a focinheira no chão, até se poderia dizer, não passando por mentiroso, tê-lo feito sem uso de pernas e mãos, na pura delicadeza. Assim solto no ar, gigantesco pássaro de músculos, Januário Gereba – Gereba não vem de Yereba, o gigante? Gereba não é o urubu-rei, o grande voador? Assim Tereza o conheceu e soube. Foi quanto bastou para saber.

Com as luzes apagadas o sarilho cresceu e se ampliou; sem serem chamados, vários fregueses de enxeridos, por esporte e gosto, se meteram no rolo. Por pouco tempo, nem deu para esquentar. Ao grito de “lá vem a cana”, aviso transmitido da rua, dispersaram-se os contendores antes da chegada dos reforços da polícia que um dos guardas saíra a buscar. No escuro, viu-se Tereza suspensa da terra, por dois braços segura, a assim transportada escada abaixo e rua afora, dobrando esquinas, entrando em becos, saindo adiante, numa carreira silenciosa, no peito do gigante um cheiro salgado; finalmente posta de pé muitas quadras além, no sossego de um canto da rua. Diante dela o caboclo a sorrir:

- Januário Gereba, a seu serviço. Na Bahia, mais conhecido põe mestre Gereba, mas quem me quer bem me chama Janu.

Quando ele sorri, desce a paz sobre o mundo:

- Lhe trouxe nesta tropelia para evitar a polícia, que polícia não presta nem lá nem aqui, nem em parte nenhuma.

- Obrigado Janu – disse Tereza; bem-querer não se compra, não se vende, não se impõe com faca nos peitos nem se pode evitar: bem-querer acontece.

Ele lhe recorda alguém, pessoa conhecida, quem será? De profissão homem do mar, mestre de saveiro, seu porto é Bahia, as águas de Todos-os-Santos e o rio Paraguaçu; no cais da Rampa do Mercado deixou ancorado seu saveiro, de nome Flor das Águas.

Gigante de facto não era, como lhe parecera na briga, mas bem pouco lhe falta. Do peito de quilha, dos olhos a rir, das grandes mãos calosas, de todo ele, plantado nos pés, mas gingando à brisa, decorre uma sensação de calma – aliás não precisamente de calma, Tereza corrige o pensamento: decerto ele é capaz de imprevistos e explosões; uma sensação de segurança, de definitivas certezas. Meu Deus, com quem se parece esse homem saído do mar?

Não que se pareça de rosto, de físico, mas lembra, recorda alguém por demais conhecido de Tereza. Tereza que a seu lado, na rua não se assemelha à moça exaltada da briga, num acanhamento modesto, ouvindo-o contar: entrara no paris Alegre a tempo de vê-la cuspir na cara do xereta e enfrentá-lo, mulherzinha valente de se tirar o chapéu.

- Seu valente nada… Mais bem medrosa, só que não ver homem bater em mulher.

- Quem bate em mulher e persegue menino não é flor que se cheire – concorda o gigante – só que eu não vi o começo do arranca-rabo. Então, foi assim?

Ali em Aracaju se encontra meio por acaso, para servir a um amigo, dono da barcaça Ventania, a quem falhara, por doença, o marinheiro no dia da partida marcada como sem falta, pois o dono da mercadoria tinha a maior pressa, não aceitando delongas,

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 78 SOB O TEMA:

“A VONTADE DE DEUS” (4)



Como é que se sabe qual a vontade de Deus?



O Providencialismo é hoje activamente divulgado pelo catolicismo oficial, nos seus meios de comunicação nos sermões e na devoção à “Divina Providência”. Um dos porta-vozes mais populares da igreja católica, Madre Angélica, diz, por exemplo: Muitas pessoas fazem a pergunta:

- Como faço para saber qual é a vontade de Deus para mim?

- A resposta é simples: - Se isso acontecer, é a vontade de Deus.

Não é relevante se Deus ordena ou se Deus o permite porque nada acontece comnosco se Ele não o tiver visto antes, tendo em conta o bem que nos virá a partir dele e esperando a sua aprovação.

A submissão à vontade de Deus que vem de ideias como estas também tem muito a ver com o poder institucional da Igreja. Muitos dos "porta-vozes" das igrejas respondem que a vontade de Deus está expressa nas palavras dos padres e pastores que interpretam a Bíblia e na tradição...Assim, obedecer à vontade de Deus não é mais que obedecer à vontade do homem, e naturalmente das hierarquias que dizem representar.

Tudo é mais fácil mas não necessariamente mais fácil, “o medo da liberdade” também é real. Superado esse medo, temos de assumir a responsabilidade pelas nossas vidas e na história. Crescemos e amadurecemos como adultos. Quando Jesus diz para Raquel: “a vontade de Deus ... é não acreditar em Deus” , lembra a oração do químico alemão Otto Hahn, Nobel de Química em 1994, que dizia: Que Deus me dê força para não confiar cegamente nem mesmo nele.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

ROY ORBISON - CRYING
Tínhamos referido que Roy Robison era conhecido internacionalmente pela beleza das suas baladas, seu timbre de voz, por vezes com falsetes e aqui têm mais um belo exemplo de que assim era. Pessoa tímida, como se percebe, de poucas palavras e os óculos escuros que usava, imagem de marca, desinavam-se, afinal, a corrigir o seu estigmatismo crónico.


TEREZA

BATISTA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 10


No castelo irá conhecer madame Gertrude, uma francesa que com o dinheiro ali ganho, comprara terras e casa na Alsácia, pretendendo voltar à pátria no próximo ano para casar-se e ter filhos, se Deus quisesse e ajudasse.

Abanava-se com o leque e um perfume forte, almiscarado, pesa no ar quente da tarde de Verão. Tereza ouvira em silêncio a proposta completa, com as diversas e sedutoras opções, demonstrando cortês interesse. Quando Veneranda ao terminar alargou o sorriso, Tereza lhe disse:

- Já fiz a vida, não vou esconder, posso voltar a fazer se tiver necessidade. No momento não necessito, mas lhe agradeço. Pode ser que um dia… – Aprendera maneiras com o doutor, quando lhe ensinavam uma coisa não a esquecia; na escola primária a professora Mercedes elogiava-lhe a inteligência viva e o gosto pelo estudo.

- Nem mesmo uma vez ou outra, bem paga, sem obrigação diária, para atender o capricho de alguém colocado lá em cima? Sabe que a minha casa é frequentada pelo melhor que há em Aracajú?

- Já ouvi falar, mas de momento não me interessa. Desculpe.

Veneranda mordeu o cabo do leque, descontente. Uma novidade daquelas, com ar de cigana na beleza singular, precedida de crónica picante, pão-de-ló para os últimos dentes ou as dentaduras de certos e determinados fregueses, dinheiro em caixa, em caixa e a rodo.

- Se um dia se decidir é só me procurar. Qualquer pessoa lhe diz onde é.

Muito obrigado; mais uma vez me desculpe.

Da porta da rua Veneranda se voltou:

- Sabe que conheci muito o capitão? Era freguês lá de casa.

Fechou-se em sombra o rosto de Tereza, o crepúsculo desceu de chofre sobre a cidade:

- Eu nunca conheci nenhum capitão.

- Ah! não? – Veneranda riu e se foi.


5


Ai! nenhum lhe toca o coração, nenhum lhe desperta o desejo dormido, acende a recôndita centelha! Para amigo, sim, qualquer deles: o rábula, o poeta, o pintor, o dentista, o cabaretier; para amante, não. Quem se conforma com amizade de mulher bonita? Coisas do coração, quem as pode entender e explicar?

Vasto mundo de Aracajú, onde andará o gigante? Aquele caboclo trigueiro, saído das águas, queimado de mar e vento, que fim levou ele? Apenas pressentido, entrevisto no fuzuê e no trago comemorativo, em boteco de fim de rua, fim de noite. Na madrugada sumiu, na luz primeira de antes do amanhecer; sendo os dois da mesma cor, de idêntica matéria, na aurora o gigante se dissolveu. Da janela do táxi, Tereza ainda o viu envolto na luz difusa, resto da noite, princípio do dia: tocava no chão a ponta dos pés, os braços no mar, os cabelos uma nuvem crespa de chuva no
céu azul-escuro. Prometera voltar.


INFORMAÇÕES ADICIONAIS À ENTREVISTA Nº 78 SOB O TEMA: "A VONTADE DE DEUS" (3)



O Terreno Fértil da Renúncia


O cientista político nicaraguense Andrés Pérez Baltodano, reflectiu ampla e criticamente sobre o Providencial, e suas consequências políticas. Atribui à concepção providencial religiosa a demissão que caracteriza a cultura política na Nicarágua e em maior ou menor grau, na maioria dos países latino-americanos Esta cultura ele a caracteriza como de “pragmatismo resignado”. Algumas das suas ideias:

- O "pragmatismo resignado" é um termo que eu uso para explicar a nossa visão da história e do nosso papel na história. O "pragmatismo resignado" é um pensamento, uma cultura que nos empurra para nos adaptarmos à realidade e aceitá-la como ela é.

O pensamento pragmático resignado não tem vontade de mudança. Com ele, não podemos escandalizarmo-nos com a realidade e partir para a sua transformação…Com esse pensamento temo-nos habituados a níveis brutais de pobreza sofrida pelos nossos concidadãos e à impunidade e corrupção de nossos governantes.

E de onde vem o pragmatismo resignado, essa cultura, essa maneira de pensar sobre o poder e a história? Eu acho que o pragmatismo resignado tem suas raízes principais na concepção providencial que dominou a nossa cultura religiosa. O Providencialismo é uma visão da história que nos leva a acreditar que Deus é que dispõe sobre a vida de cada um de nós. É uma maneira de ver a vida em que Deus é o responsável pelo que acontece com meu tio, comigo, com a sociedade da Nicarágua, do Iraque e do resto do mundo. Nesta visão de história, marcada por um Deus providencial, é ele e não nós, que é o regulador, administrador e auditor de tudo que acontece na história.

Alguns teólogos distinguem entre o que é "providencial meticuloso" e " providencial em geral” e afirmam que em algumas sociedades prevalece o meticuloso e em outras transformaram o meticuloso em geral. Providencialismo meticuloso é pensar que Deus está no comando de tudo: chuva e seca, a cura do cancro e a direcção de cada furacão. Dentro do “providencialismo em geral”, algumas pessoas dizem que Deus criou o mundo e, em seguida, deixou-nos sozinhos, enquanto outros dizem que funciona de vez em quando. No “Providencialismo em geral” sempre há espaço para a liberdade. Eu, pessoalmente, acho que não precisamos de tirar Deus fora do jogo, mas precisamos de sair deste providencialismo meticuloso em que vivemos, para procurar o lugar de Deus e o da nossa liberdade e, dessa forma, se alguém decide ser ateu, que seja mas um ateu sério.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

AS VELHAS QUE SABEM TUDO...






Num tribunal de uma pequena cidade, o advogado de acusação chamou a sua primeira testemunha, uma avó de idade avançada.

Aproximou-se da testemunha e perguntou:

- D. Ermelinda, a senhora conhece-me?

- Claro. Conheço-te desde pequenino e francamente, desiludiste-me. Mentes descaradamente a todo o mundo, enganas a tua mulher com asecretária, ainda fizestes um filho na tua cunhada, e deste-lhe dinheiro para se livrar da barriga, manipulas as pessoas e falas mal delas pelas costas. Julgas que és uma grande personalidade quando não tens sequer inteligência suficiente para ser varredor. É claro que te conheço. Se conheço...

O advogado ficou branco, sem saber que fazer. Depois de pensar um pouco, apontou para o outro extremo da sala e perguntou:

- D. Ermelinda, conhece o defensor oficioso?

- Claro que sim. Também o conheço desde a infância. É frouxo, não tem tomates para manter a mulher na linha, ela anda a fornicar com os empregados da casa, o motorista, o jardineiro e até o carteiro dorme com ela, todo o mundo sabe, tem problemas com a bebida, não consegue ter uma relação normal com ninguém e na qualidade de advogado, bem... é um dos piores profissionais que conheço. Não me esqueço também de referir que engana a mulher com três mulheres diferentes, uma das quais, curiosamente, é a tua própria mulher.
Sim, também o conheço. E muito bem.

O defensor ficou em estado de choque.

Então, o Juiz pediu a ambos os advogados que se aproximassem do estrado e com uma voz muito ténue diz-lhes:

-Se algum dos dois perguntar à puta da velha se me conhece, juro-vos que vão todos presos !

O Planeta dos Macacos

ROY ORBISON (também apelidado de "The Big O") - PRETTY WOMAN

O maior sucesso musical deste cantor que em 1964, quando foi lançado, vendeu logo 7 milhões de cópias. A sua fama era tão grande que os Beatles sentiram-se orgulhosos de terem feito uma tourné com ele. Internacionalmente ele foi reconhecido pelas suas lindas baladas, melodias ritmicamente avançadas, seu timbre vocal, por vezes com falsete e os seus característicos óculos escuros.


TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 9


Nem o arteiro Flori, nem o atento dentista nem o mordaz Lulu Santos, nem o silencioso pintor de olhos penetrantes, nem o poeta – que pena – nenhum deles toca-lhe o coração, acendendo a escondida centelha.

Se Lulu Santos lhe dissesse: minha amiga, quero dormir com você, tenho muita vontade e, se não o fizer, sofrerei de mais, Tereza teria ido com ele para a cama como foi tantas vezes com outros para ganhar a vida, indiferente e distante, exercendo um ofício.

Devia ao rábula antigo favor, se ele exigisse provar de seu corpo, ela não se negaria; mais uma penosa obrigação a cumprir.

Se o poeta José Saraiva chegasse com aquele pigarro na garganta, de repente virando tosse convulsa, com aquele silvo no peito e lhe dissesse que só morreria feliz se antes dormisse com ela, da mesma maneira com ele se deitaria. Com o provisionado por grata, em pagamento por dívida; com o poeta por compaixão. Dar-se porém no prazer e na festa não pode fazê-lo, nem sequer simular interesse; impossível. Para ser ela própria pagara preço alto, na moeda forte da desgraça.

Nem o rábula nem o poeta lhe pediu, apenas mostraram-se e aguardaram; os dois a queriam, mas não de esmola ou em pagamento. Quanto aos demais, se pediram – Fori pediu em repetidas ocasiões, gemeu, suplicou – nada obtiveram. Mesmo se fosse para encher de dinheiro, fazer pecúlio, não lhe interessava; tinha ainda um pouco na bolsa e esperava agradar de sambista; por algum tempo ao menos queria ser dona de sua vontade.

Recém-chegada, de quarto alugado com pensão completa em casa da velha Adriana (recomendação de Lulu), recebera proposta de Veneranda, dona do castelo mais elegante e caro de Aracajú. Vistosa figura, no trato e no luxo, nas sedas, nos tacos altos, parecendo madama do sul. Veneranda não aparentava a idade registada na escondida certidão de nascimento. Menina ainda, Tereza ouvira o nome da cafetina na boca do capitão, já naquele tempo ela dominava em Aracaju. Veio em pessoa falar com Tereza, sabedora da chegada da moça certamente por Lulu Santos, freguês habitual, conhecendo, quem sabe?, coisas passadas.

Abrindo o leque, Veneranda sentou-se, com um olhar frio despediu a velha Adriana, curiosa.

- É mais bonita ainda do que me disseram – assim começou a propor.

Descreveu-lhe o rendez-vous: vasto sobrado colonial, discreto entre árvores, em meio de terreno cercado de altos muros, os enormes quartos subdivididos em modernas e íntimas alcovas, no andar térreo sala de espera com vitrola, discos, bebidas e exposição de meninas disponíveis, no primeiro andar a grande sala de frente onde Veneranda recebe políticos e literatos, usineiros e industriais, a sala de jantar, o quintal. Tereza poderia residir no próprio castelo, se preferisse. Ao oferecer-lhe moradia no estabelecimento, dava-lhe prova de muita consideração, pois apenas algumas escolhidas, em geral estrangeiras ou sulistas em temporadas pelo Norte – catado o milho, regressavam ao sul – habitavam no castelo, mas Tereza merecia a excepção. Ou bem podia frequentá-lo à tarde e à noite, nas horas de movimento, servindo a todos sem descriminação desde que pagassem o preço cobrado pela casa, ou tendo fregueses seus, exclusivos e escolhidos. Tratando-se de Tereza, aliás, a esclarecida Veneranda se propunha a lhe estabelecer clientela selecta e de alto gabarito financeiro, de calendário mais ou menos estrito, clientela pouco fatigante e muito lucrativa.

Se for tão competente quanto bonita, ela terá condições de ganhar dinheiro fácil e, não sendo de loucuras, dada a sustentar gigolôs, poderá fazer rico pé-de-meia.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

À ENTREVISTA Nº 78 SOB O TEMA:


“A VONTADE DE DEUS” (2)


O Providencialista Santo Agostinho

Providencialismo é essencial no Cristianismo tradicional. Está na raiz da cultura religiosa latino-americana, que não viveu o impacto colectivamente libertador da Reforma Protestante e da Modernidade.


Considera-se que Agostinho, bispo de Hipona, é o primeiro grande providencialista da igreja. Em sua vida, Agostinho foi testemunha da queda do poderoso império romano nas mãos dos bárbaros e considerou que tamanho cataclismo histórico, só poderia ter ocorrido pela "vontade de Deus".

Seguindo essa interpretação providencial de tal evento histórico, Átila, o líder dos Hunos, que sitiou Roma e Constantinopla, foi chamado pelos cristãos daquela época "Flagelo de Deus", um título que reflecte o ideário providencial: mais do que um guerreiro capaz, Átila foi uma "prova" de Deus.


A história: um processo linear, guiado por Deus
A concepção providencial enraizou-se durante séculos. Nos primeiros anos da conquista da América pelos espanhóis, muitos escritores católicos difundiram a ideia de que a "descoberta" do continente como um território para evangelizar havia sido uma acção providencial de Deus, uma decisão da vontade divina para compensar a igreja dos prejuízos causados à cristandade europeia pela Reforma Protestante.

A concepção providencial apresenta sempre a história como um processo linear governado por Deus: de uma fonte para um destino pré-determinado de antemão pela Divina Providência a partir de uma situação negativa, causada pelo pecado original, para a salvação final que só se alcança no “além”.

Para o providencialismo, nada do que acontece é da exclusiva responsabilidade da vontade humana sobre a qual prevalece a vontade de Deus, que desenha o destino dos homens, das nações e do mundo inteiro.

A doutrina da "predestinação", também desenvolvida por Agostinho e séculos mais tarde defendida por Lutero e Calvino, é uma expressão radical do providencialismo.

Naturalmente, estas ideias deitam por terra o sentido da liberdade humana.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

ALCEU VALENÇA - QUANDO OLHO PARA O MAR
Em 1980 lança o LP "Coração Bobo" (Ariola) cuja música do mesmo nome estoura nos rádios de todo o país, revelando o nome de Alceu Valença para o grande público.

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA


Episódio Nº 8

Viu-se Flori em Recife com os cenários, o guarda-roupa, um violão, quatro figurantes incluindo a própria Alma Castro, e sem um tostão furado, promovido a empresário; rápido, alcançara o ápice da carreira teatral. Demonstrando de quanto era capaz, ainda conseguiu o novo administrador-geral apresentar o Grupo em Maceió, Penedo e Aracajú.

Em Aracajú, para permitir o embarque dos demais para o Rio, Flori deixou-se ficar como refém: do Rio de Janeiro, Alma Castro mandaria a importância necessária para liberar o actual administrador e ex-noivo e o material, um e outro retidos por Marosi, dono do Hotel. No Rio, sobravam-lhe relações de amizade e cama, a começar pelo fiel comendador Santos Ferreira, importante e generoso membro da comunidade luso-brasileira e da fraternidade dos “velhinhos de Alma Castro”, todos eles corocas (velhos, caducos), ricos, pródigos, ilustres e impotentes. Não mandou bulhufas (nada).

Dias depois, descobrindo o bom Marosi que a permanência do administrador – em quarto de casal e comendo por três – só fazia lhe aumentar o prejuízo, deu o dinheiro por perdido e o assunto por encerrado e até se propôs a ajudá-lo nas despesas de viagem, mas Flori, conquistado pela cidade amável e acolhedora, preferiu ficar por ali. Manteve-se nas fronteiras do espectáculo para aproveitar o material e a experiência, fez carreira: empregado, gerente, sócio, proprietário de cabarés, A Torre Eiffel, o Miramar, o La Garçonne, o Ouro Fino, até chegar ao Paris Alegre.

Tereza ensaiou e dançou vestida com trajes ainda da companhia: turbante, saiote, bata. Boa parte do corpo à mostra, mas para quê? No piano, melancólico, Flori renega a corte litero-artística, por vezes jurídica, quase sempre odontológica, aos pés de Tereza Batista. Mas, além de sabido, era pertinaz e aprendera a ser paciente: sendo ele o dono do cabaré e o empregador da estrela, quem em melhor posição?

Todos apaixonados, não menos que os demais, Lulu Santos; com muletas e tudo, o rábula tinha fama de mulherengo retado.

Todos em torno de Tereza, cada qual mais caído. O poeta Saraiva de paixão publicamente exposta e proclamada, em copiosa produção de versos líricos. Tereza foi inspiração para alguns de seus melhores poemas, todo o ciclo de “A Moça de Cobre”: tendo sido ele que assim a designou; o cirurgião dentista Jamil Najar, filho de árabe, sangue quente, propõe-se fazê-la feliz enquanto lhe mantém a boca aberta e lhe prepara o dente de ouro; o pintor a fitá-la com os fundos olhos azuis, calado, na brecha. Calado a desenhá-la nas tabuletas coloridas. Essas aguarelas traçadas no precário papel dos cartazes foram os primeiros retratos de Tereza Batista feitos por Jenner Augusto; muitos outros pintou, de memória quase todos, se bem vários anos depois, na Bahia, houvesse ela consentido em posar no atelier do rio Vermelho para aquele quadro premiado onde Tereza se alça em ouro e cobre, mulher completa, na força da idade e da beleza, vestida porém com os mesmos trajes do tempo do Paris Alegre: turbante de baiana, curta bata de cambraia sobre os seios soltos, o colorido saiote de babados, as pernas nuas, o reluzente coxame.

De uns e de outros ria-se Tereza, gentil e penhorada por se ver em ronda de mimos e madrigais, ela, sempre em busca de afecto verdadeiro, necessitada de calor humano. Mas não se dá fácil, talvez porque as únicas profissões que até então exercera tenham sido as de criada para todo o serviço (não seria melhor dizer escrava?), de prostituta e de amásia, por deitada na cama com homens diversos, por medo primeiro, para ganhar a vida depois.

INFORMAÇÃO ADICIONAL

À ENTREVISTA Nº 78 SOB O TEMA:


“A VONTADE DE DEUS” (1)



A Crença Religiosa

Quando se vive "a vontade de Deus", acreditando que tudo o que acontece no mundo é da responsabilidade de "Deus", estamos vivendo de acordo com uma concepção história, chamado "Providencial". A crença de que Deus é o verdadeiro protagonista e sujeito da história e que os seres humanos são apenas ferramentas em suas mãos.

Para o Providencialismo, Deus é justo e quando nos sucedem coisas más na vida são apenas "testes" de Deus para ver se somos fiéis, para ver até quanto aguentamos sem o renegar. Para o Providencialismo, o tempo humano, a história, não têm valor e as recompensas ou castigos reais só acontecerão fora do tempo, na eternidade. Para o Providencial, "os caminhos de Deus são imperscrutáveis" e o homem não pode entendê-los, nem questioná-los.

Muitos ditados populares e provérbios expressam a cultura Providencialista religiosa, tradicional: "O que é teu ninguém o pode tirar"; "Deus proverá", "Uma árvore que nasce torta nunca se endireitará" Outros matizam com sentido idêntico esse fatalismo: "A quem madruga Deus ajuda”; ou o seu contrário: “Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo”.

Existem também ideias, nascidas das filosofias orientais que fazem eco nas palavras de Jesus "A cada dia basta-lhe o seu afã”." Atribuída ao Dalai Lama há o seguinte ditado: "Há apenas dois dias no ano em que não podes fazer nada. Um deles se chama ontem e o outro amanhã. Então, hoje é o dia em que podes fazer alguma coisa, o único em que podes viver".

Um dos aspectos mais importantes da Teologia da Libertação foi o de começar a questionar o sentido providencial da religião popular, tornando as pessoas responsáveis por cada um dos dias da sua própria
história, tornando-as "sujeito da sua libertação."

terça-feira, janeiro 18, 2011

PARA VEREM COMO POR VEZES NÃO É FÁCIL
ORGANIZAR UMA FESTA DE NATAL...



COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS

De: Patrícia Gomes - Directora de Recursos Humanos

Data: 2 de Dezembro


Assunto: Festa de Natal

Tenho o prazer de informar que a festa de Natal da empresa será no dia 23 de Dezembro, com início ao meio-dia, no salão de festas privativo da Churrascaria Grill House. O bar estará aberto com varias opções de bebidas.

Teremos uma pequena banda tocando canções tradicionais de Natal...sinta-se à vontade para se juntar ao grupo e cantar! Não se surpreenda se o nossoVice Presidente aparecer vestido de Pai Natal! A arvore de Natal terá as luzes acesas às 13:00.

A troca de presentes de "amigo secreto" pode ser feita em qualquer altura, entretanto, nenhum presente deverá exceder Euros 10,00, a fim de facilitar as escolhas e adequar os gastos a todos os bolsos.

Este encontro é exclusivo para funcionários e família. Na ocasião, o nosso Vice Presidente fará um discurso bastante especial.Feliz Natal para todos.

Patrícia

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COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS

De: Patrícia Gomes - Directora de Recursos Humanos

Data: 3 de Dezembro

Assunto: Festa de Natal



De maneira alguma o memorando de 2 de Dezembro sobre a Festa de Natal pretendeu excluir os nossos funcionários judeus! Reconhecemos que o Chanukah é um feriado importante e que costuma coincidir com o Natal, mas isso não acontecerá este ano. Portanto, passaremos a chamá-la "Festa do Fim do Ano", pois teremos em conta também todos os outros
funcionários que não são cristãos e aqueles que celebram o Dia da Reconciliação. Não haverá árvore de Natal. Nada de canções de natal nem coral. Teremos outros tipos de musica que agrade a todos.

Felizes agora?

Boas festas para vocês e suas famílias,


Patrícia

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COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS

De: Patrícia Gomes - Directora de Recursos Humanos

Data: 4 de Dezembro



Assunto: Festa do Fim do Ano

Em relação ao bilhete (anónimo) que recebi de um membro dos Alcoólicos Anónimos solicitando uma mesa para pessoas que não bebem álcool... terei todo o prazer em atender o pedido, mas, se eu puser uma placa na mesa a dizer "Exclusivo para os AA", vocês deixarão de ser anónimos, não será?...Como faço então?

Quanto à troca de presentes, esqueçam! Não será organizada uma vez que os membros do sindicato acham que 10 euros é muito dinheiro e os executivos acham que 10 euros é muito pouco para um presente.Portanto não será organizada NENHUMA TROCA DE PRESENTES!

De acordo?


Patrícia

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COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS.

De: Patrícia Gomes - Directora de Recursos Humanos

Data: 5 de Dezembro

Assunto: Festa do Fim do Ano


Mas que grupo heterogéneo o nosso!!! Eu não sabia que no dia 20 de Dezembro começa o mês sagrado do Ramadão para os muçulmanos, que proíbe comer e beber durante as horas do dia. Lá se vai a festa!

Agora a sério, entendemos que um almoço nesta época do ano seja um problema para a crença de nossos funcionários muçulmanos... Talvez a Churrascaria Grill House possa assegurar o serviço de buffet até à noite ou então, embalar tudo para vocês levarem para casa nas marmitas. Que acham?

E agora mais novidades:

- Consegui que os membros dos "Vigilantes do Peso" se sentem o mais longe possível do buffet das sobremesas;

- As mulheres grávidas poderão sentar-se o mais perto possível das casa de banho;

- Os homossexuais podem sentar-se juntos;

- As mulheres homossexuais não terão que se sentar junto dos homens homossexuais, que terão uma mesa própria, e sim, haverá um arranjo de flores no centro da mesa dos homens homossexuais;

- Teremos assentos mais altos para pessoas baixas;

- E estará disponível comida com baixas calorias para os que estão de dieta.

- Nós não podemos controlar a quantidade de sal utilizada na comida, portanto sugerimos que as pessoas com tensão alta provem a comida antes de comerem.

- E, claro, haverá mesas para fumadores e outras para não fumadores.

Esqueci alguma coisa?


Patrícia

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COMUNICADO PARA TODOS FILHOS DA PUTA QUE TRABALHAM NESTA EMPRESA

De: Patrícia Gomes - Directora de Recursos Humanos

Data: 6 de Dezembro

Assunto: Festa do Fim do Ano da PORRA



Vegetarianos!?!?!??!

Sim, vocês também tinham que dar a vossa opinião de merda ou reclamar de alguma coisa!... Nós manteremos o local da festa na Churrascaria Grill House; quem não gostar que se foda! Não vá, desampare a loja! Ou então, como alternativa, seus fedorentos, podem sentar-se afastados, na mesa mais distante possível da tal "Churrasqueira da Morte" - como vocês lhe chamam.

E terão também a vossa mesa de saladas de merda, incluindo tomates ecológicos da casa do caralho e arroz pegajoso para comer com pauzinhos.

Aqueles que, naturalmente, ainda não gostarem, podem enfiar tudo no cu!

Mas como vocês devem saber, os tomates também têm sentimentos! Os tomates gritam quando vocês os cortam em fatias. Eu mesma os ouvi gritar! Eu estou a ouvi-los gritar agora mesmo!!!!!

Ah, espero que vocês todos, mas todos, os parvos dos crentes e os cretinos dos ateus, os paneleiros, as fufas, as mariquinhas das prenhas, os estupores dos fumadores e os chatos dos não fumadores, os cobardes dos bêbados anónimos e os fedorentos dos vegetarianos, todos vocês sem excepção, tenham uma merda de fim de ano!

E que guiem bêbados e morram todos, todinhos espatifados e esturricados por aí!

Entenderam?


Da Vaca, directamente para a puta que os pariu

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COMUNICADO PARA TODOS OS FUNCIONÁRIOS

De: João Pacheco - Director de Recursos Humanos INTERINO

Data: 9 de Dezembro

Assunto: Patrícia Gomes e a Festa do Fim do Ano


Tenho a certeza que falo por todos nós desejando para a Patrícia um rápido restabelecimento para a sua crise de stress e podem estar certos que me encarregarei de lhe enviar as vossas mensagens para o sanatório.

Venho comunicar que a direcção decidiu cancelar a Festa do Fim do Ano e não dar folga aos funcionários na tarde do dia 23 de Dezembro.

Boas Festas!

João

ALCEU VALENÇA - ARREIO DE PRATA
No Recife, a quantidade de folguedos vindos de todas as regiões do Estado, nomeadamente no Carnaval, onde até hoje os Grupos confraternizam, seria decisiva na solidificação de uma das mais febris personalidades da música brasileira.

TEREZA
BATISTA

CANSADA
DE

GUERRA

Episódio Nº 7

4

Flori recolheu os destroços, na dependência de uma palavra do cirurgião dentista para marcar nova data, certa e improrrogável, para a estreia agora ansiosamente aguardada de Tereza Batista no Paris Alegre. Doutor Najar, fazendo o tratamento render: trabalho de ouro, seja ele qual for, meu caro Pachola, requer arte e capricho, competência e tempo, quanto mais dente de ouro, enfeite em boca celeste: não pode ser improvisado na pressa e no desleixo, obra de afogadilho – é lavor delicado e galante. Flori a dar-lhe pressa: compreendo seus escrúpulos, meu doutor de boticão, mas ande ligeiro, não faça cera, por favor. Enquanto espera capricha na propaganda.

Nos quatro cantos da Praça Fausto Cardoso, onde se eleva o Palácio do Governo, tabuletas coloridas anunciam, para muito breve no Salão Paris Alegre a Fulgurante Imperatriz do Samba, ou o samba em pessoa, ou ainda a Maravilha do Samba Brasileiro, por fim a Sambista Número Um do Brasil, exageros evidentes, mas, ao ver de Flori, elogios aquém dos reais merecimentos físicos da estrela em causa. Na lista dos múltiplos apaixonados pela inédita sambista deve-se colocar o nome do cabaretier precedendo o do advogado provisionado e o do dentista formado, o do poeta e o do pintor, senão por outras razões ao menos por estar ele concorrendo com as despesas, arcando com os prejuízos da noite frustrada e gloriosa.

Todos de cabeça virada. Flori, encanecido no trato de artistas, preconiza a necessidade de ensaios diários à tarde, enquanto prosseguem os trabalhos de prótese e cura-se o lábio partido, para que se mantenha o indispensável molejo das ancas, o balanço do samba. O ideal seriam ensaios a sós, a sambista e o pianista, no caso o próprio Pachola, senhor de variados talentos: piano, violão, gaita de boca, cantador de cantigas de cego; mas como conter a malta de admiradores? Vinham atrás dela o dentista, o poeta, o pintor, o rábula, perturbando o ensaio e os solertes planos de Flori.

Flori chegara de Aracajú há mais de um decénio na qualidade de Administrador dos restos mortais da Companhia de Variedades Jota Porto & Alma e Castro, elenco responsável pelas trezentas representações da revista musical Onde Arde a Pimenta no Teatro Recreio do Rio de Janeiro, bem menos feliz na longa e triunfal (em termos) havia excursão ao Norte do país. Quando Flori, jovem e entusiasta, aderiu ao elenco em São Luís do Maranhão, ainda não se havia revelado vocação de Administrador de casas e empresas de espectáculos, nem possuía experiência.

Experiência adquiriu rapidamente, num recorde de tempo e aporrinhações, durante a excursão de São Luís a Belém, de Belém a Manaus, e a extraordinária viagem de retorno. Havia-se-lhe revelado, isso sim, fulminante e correspondida paixão pela lusa e adoidada Ana Castro, fazendo-o abandonar o emprego em firma de exportação de babaçu, tarefa sem imprevistos nem emoções.

De olho na diva, ao ter conhecimento da traiçoeira partida do pianista, acto contínuo ofereceu-se, foi aceite e, além do piano coube-lhe de imediato as funções de auxiliar do empresário e astro principal Jota Porto em tudo quanto se referisse a problemas práticos, acertos com donos ou arrendatários de teatro, empresas de transporte, proprietários de hotel e outros credores. A cada cidade visitada, diminuía o elenco, reduzindo-se o número de quadros da vitoriosa e salgada revista.

Em Aracajú, de tão desfalcado o espectáculo só deu para complemento da sessão de cinema. Nessa altura, aliás, o mambembe já não se intitulava Companhia de Variedades Jota Porto & Alma e Castro, minguara para Grupo Teatral Alma Castro; na praça de Recife, os olhos marejados de lágrimas, Jota Porto, arrebanhando os últimos níqueis, caiu fora após beijar Alma Castro na testa e flori nas faces – suspeitíssimo, esse galã pelo qual as meninas perdiam o sono, desmunhecava com facilidade.

ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS CRISTO Nº 78 SOB O TEMA :

“A VONTADE DE DEUS”



Raquel - Mas, atenção, nós tínhamos uma reserva confirmada ...

Funcionário - Senhora, não há espaço no avião ... terá que esperar pelo próximo voo ...

Jesus - Que é, Raquel?

Raquel - Estas crianças ... de Israel, lotaram o avião e agora não temos lugares ...

Jesus - O que é que vai fazer?

Raquel - Vamos ter de esperar para outro voo, até tarde ... Bem, como dizia a minha avó, alguma solução há-de acontecer. E se nós apanhássemos este avião… Deus lá saberá porque o faz.

Jesus - Por que colocas Deus em tudo, Raquel?

Raquel - Porque, não foi o senhor próprio que disse que até os cabelos da nossa cabeça estão contados e que nem um cai sem que Deus o permita?

Jesus - Sim, eu disse isso.

Raquel - Bem, e então?... Se isso é com um fio de cabelo, imagine um avião... Espere, que já estão me fazendo sinal do estúdio... amigos e amigas das Emissoras Latinas, aqui estamos nós, ainda no aeroporto de Sinai... A empresa responsável pelo voo deixou-nos em terra... mas a espera permite-nos conversar com Jesus, aqui ao meu lado, à mercê da Providência.

Jesus - O que está a dizer, Raquel?

Raquel - O que o senhor sempre recomendou, que deixemos tudo nas mãos de Deus.

Jesus - "Deus providenciará", disse Abraão a seu filho.

Raquel - Exactamente. Porque as coisas acontecem quando têm que acontecer. Por exemplo, eu fui entrevistá-lo naquele dia e isso foi sorte para mim. E aquilo que é teu ninguém pode tirar, não é?

Jesus - Parece-me, Raquel, que estás confundindo alhos com bugalhos.

Raquel - Por que fui eu a única jornalista que o entrevistou na sua segunda vinda à terra?

Jesus - Porque os outros estavam ... porque nos encontrávamos em Jerusalém ... ou não te lembras?

Raquel – Lembro-me e acho que Deus arranjou as coisas bem. Foi... foi a vontade de Deus.

Jesus – Qual vontade de Deus?

Raquel - Que o pôs no meu caminho. Para o nosso público o poder ouvir... Isso era o que Deus queria.

Jesus - Não metas Deus onde ele não cabe. Deus não tem nada a ver com o facto de tu, naquele dia, estares lá, na esplanada…

Raquel - Mas o senhor disse que todos os cabelos da ...

Jesus - …nossa cabeça estão contados. Porque há pessoas que se angustiam e desesperam ... que não vivem o dia de hoje com medo do que vai acontecer amanhã. Cada dia tem o seu afã, ele também disse.

Raquel - Isso não é o mesmo que deixar tudo nas mãos de Deus?

Jesus – Pelo contrário, isso é colocar tudo nas tuas mãos, porque as mãos de Deus são as tuas, Raquel.

Raquel - Bem, muitos de seus seguidores acostumaram-se: se vai bem… ou vai mal… conforma-te porque é a vontade de Deus. Se ganhar na lotaria, obrigado, meu Deus, deu-me o prémio. E se perder o emprego, eu aceito, meu Deus, tu mo tiraste.

Jesus - Também dirão que os pobres são pobres por vontade de Deus e sempre haverá pobres entre nós ...

Raquel - Também dizem ...

Jesus - Não, Raquel, nenhuma vontade de Deus. Quem pensa assim parece-se com um bebé que procura o calor da mãe para se sentir seguro ... Deus é a nossa mãe, sim, e nunca nos abandona, mas já vistes como as mães desmamam os seus filhos, obrigando-os a comer outras comidas, a crescer e andar sozinhos? Em verdade vos digo, a vontade de Deus é ... não acreditar em Deus.

Raquel - E depois?

Jesus - Continua lutando com esses filhos de Israel ..., com os homens do avião para ver quando é que a vontade deles nos permite sair daqui.

Raquel – Vou fazer isso. Mas antes… do aeroporto de Monte Sinai, Raquel Pérez, Emissoras Latinas.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Porque vou votar Cavaco... (O Sonso)


Cavaco é um político oco, banal, vazio de ideias, está para a política como a música pimba está para a música clássica, mas mesmo assim, consciente de que vou votar num acidente político voto Cavaco Silva. E voto em Cavaco Silva porque:

- Cavaco Silva nunca responderá a pressões: Cavaco é um mísero porfessor que não percebe nada dessas acções com nomes esquisitos em inglês, se alguma vez a Merkel lhe telefonar tentando explicar-lhe porque deve pedir ajuda ao FMI a chanceler alemã ouvirá uma única resposta, “não percebo nada disso, sou um mísero professor pobre e ignorante”. Se nada sabe de acções em inglês muito menos deverá perceber de FMI e de mercados financeiros e com a Universidade Independente encerrada nem poderá inscrever-se na cadeira de inglês técnico para superar as suas deficiências linguísticas.

- Cavaco Silva ensinará todos os portugueses a enriquecer: se sem perceber nada de inglês técnico Cavaco multiplicou o seu investimento e ganhou 145% em apenas dois anos, durante cinco anos os portugueses poderão ganhar 255% durante o seu mandato, isto é por cada 100 euros receberão no fim do seu mandato cerca de 335 euros.

- Cavaco poderá acabar com a dívida pública portuguesa: se o país comprar dinheiro vendendo títulos do tesouro com juros de 7% ao ano e aplicar esse dinheiro seguindo os conselhos financeiros de Cavaco Silva poderá ganhar em dois anos os habituais 145% deduzidos dos 7% pagos no mercado (14,8%), isto é, por cada mil milhões que o país invista ganhará 450 milhões a que se deverá deduzir os 14,8% que pagamos. Isso significa que se dermos a Cavaco para investir o equivalente a metade da dívida portuguesa ao fim de dois anos o país paga a dívida e ainda ganhamos algum. Melhor do que isso só mesmo encontrar petróleo no Beato.

- Com Cavaco podemos aldrabar as contas que mandamos para o Eurostat: ao contrário dos gregos que se deixaram apanhar, com Cavaco Silva poderemos aldrabar quaisquer contas sem que tenhamos de dar explicações. Quando formos questionados sobre a honestidade dos nossos números relativos ao défice respondemos com um argumento inquestionável, para que as contas de Bruxelas sejm mais honestas do que as nossas o Durão Barroso teria de nascer duas vezes.

- Com Cavaco o povo voltará a ter esperança: se um mísero professor nem precisou da herança dos pais para enriquecer, dando as laranjas aos velhinhos, e consegue ter uma choruda carteira de títulos, uma vivenda de luxo no Algarve, várias pensões e sabe Deus que mais, isso apesar de ter de ser ele a comprar os trapinhos à coitada da esposa que recebe uma miséria de 800 euros de pensões, qualquer português pode acreditar que é possível enriquecer com salários de professor e de primeiro-ministro e que mesmo sem acumular empregos é possível acumular pensões.

Publicada por Jumento em 12:30

Clique duas vezes sobre a imagem para ver melhor a Declaração de "Um mísero professor"...


É tudo uma questão de falta de estudos...


Dois velhotes alentejanos estão sentados à sombra de um chaparro a conversar.

- O filho do Chico da gorda voltou da cedade.

- É, mas crêo que ele é gay.

- Nã acredito. Ele nã tem estudos para isso. Ele é mas é panelero.

ALCEU VALENÇA - ANUNCIAÇÃO
A música de Alceu e o seu universo temático são universais mas a sua base estética pertence ao nordeste brasileiro. Aos 10 anos foi para o Recife onde mantem contacto com a cultura urbana e ouve a música de Orlando Silva e Dalva de Oliveira que alterna com Little Richard e Ray Charles. Formou-se em Direito no Recife mas logo trocou as carreiras de advogado e jornalista apostando no seu talento e sensibilidade artística.


TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 6


Os fregueses tinham feito um círculo em torno da pista para melhor apreciar o empolgante espectáculo. A causa de tudo, ou seja a bisonha rapariga, acompanha os lances, de longe, sem saber com quem partirá.

Chegado já em meio ao cu-de-boi, um caboclo zarro, os músculos queimados do sol, a pele curtida aos ventos do mar, após assistir alguns lances, comentou para todos:

- Virgem Nossa Senhora, mulher mais boa de briga do que essa aí não vi até hoje.

Nessa hora, apareceram na sala, atraídos pelo barulho, dois guardas-civis; certamente reconheceram Libório e seus acompanhantes, pois, levantando os cassetetes partiram para Tereza com evidente disposição de lhe ensinar com quantos paus se faz uma cangalha.

- Lá vou eu, Iansã! – o caboclo lança seu grito de guerra e não se soube o porquê de Iansã: se o disse na intenção de Tereza, de designá-la com o nome do orixá sem temor, de todos o mais valente, ou se apenas quis informar o encantado da entrada na briga de mestre Januário Gereba, seu ogan no candomblé do Bogun.

Entrada bonita, pois voaram os dois guardas, um para cada lado. Em seguida o caboclo impede que um dos sequazes do galalau esfregue a sola do sapato na cara do poeta José Saraiva, peito fraco, indómito coração, estendido sem fala na arena. É um temporal o caboclo, um pé-de-vento, levanta o poeta e o prossegue. Retornam os guardas também.

Um dos companheiros do cafageste puxa do revólver, ameaçando atirar, as luzes se apagam. A última imagem a ser vista foi Lulu Santos, equilibrado numa só muleta, charuto na boca, girando a outra como um molinete. Já no escuro, ouve-se o berro do corno Libório, Tereza acertara-lhe o pé onde devido.

Estreia não houve naquela noite, conforme se vê, ao menos estreia da rainha baiana do samba, mas nem por isso foi menos memorável e inesquecível a primeira aparição pública de Tereza nas pistas de Aracajú. O cirurgião-dentista Jamil Najal, o tal da aposta dos vinte cruzeiros, nada lhe quis cobrar pelo dente de ouro, com a máxima perícia colocado na parte de cima, no lado esquerdo da boca de Tereza Batista onde a soqueira de ferro rompera o lábio. Se fosse pedir pagamento, ah! não seria em dinheiro
.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTRVISTA Nº 77 SOB O TEMA :

“ÉTICA UNIVERSAL” (7 e último)


Moral, inscrita no coração.


Jesus para além de um profeta foi um místico. Sua visão de Deus e a forma como ele se colocou perante a lei e o mundo das relações humanas, privilegiando estas acima das leis e hierarquias, como o demonstrou Jäger Willigis, monge beneditino alemão, que explica onde está a diferença entre uma moral baseada em leis e a ética que vem de uma experiência mística, vem do coração:


- A moral cristã é baseada num conceito duplo: Deus é um mundo fora das pessoas que devem guardar os mandamentos desse Deus externo para cumprirem, para serem premiadas, para encontrarem a salvação futura no além.


A mística, porém, diz:


- O ser humano pode encontrar Deus no mundo, em si mesmo e se isso acontecer, actuará de forma moral.

Hans Küng

Teólogo, católico suíço. Talvez o expoente mais universal da teologia moderna. Audaz, prolífico e controverso, foi suspenso como professor de Teologia no Vaticano em 1979. É um estudante tenaz das religiões do mundo para construir pontes entre elas e, assim, encontrar o caminho para a paz universal. Fá-lo sobre este princípio:

- Não há paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não há paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não há diálogo entre as religiões sem padrões éticos globais. Não há sobrevivência do nosso mundo sem uma ética global, uma ética universal.

Hans Küng participa de um Projecto de Ética Global que começou em 1990 e preside, desde 1995, à Fundação para uma Ética Global. Entre suas numerosas obras, é altamente recomendável "Em busca de nossas pistas.A dimensão espiritual das religiões do mundo "(Debate Editorial, 2004), que abrange em profundidade a história, crenças, rituais e tradições de todas as grandes religiões da humanidade, para que possamos encontrar em cada uma delas pontos de contacto, valores, denominadores comuns.

Küng disse na apresentação:
Com este livro, eu convido-os a conhecerem melhor tão diversas como misteriosas e fascinantes, as grandes religiões d mundo. O livro contém o que hoje deve saber cada homem e cada mulher que quer opinar com algum conhecimento dos factos sobre os acontecimentos actuais. Porque, para julgar o estado actual do mundo, hoje temos de ser competentes, não só na economia, cultura e sociedade, mas também na religião.

domingo, janeiro 16, 2011

VÍDEO
Strip Total

O BARBEIRO


Certo dia um florista foi ao barbeiro para cortar seu cabelo. Após o corte perguntou ao barbeiro o valor do serviço e o barbeiro repondeu:

- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.

O florista ficou feliz e foi embora. No dia seguinte, ao abrir a barbearia, havia um buquê com uma dúzia de rosas na porta e uma nota de agradecimento do florista.

Mais tarde no mesmo dia veio um padeiro para cortar o cabelo. Após o corte, ao pagar, o barbeiro disse:

- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.

O padeiro ficou feliz e foi embora. No dia seguinte, ao abrir a barbearia, havia um cesto com pães e doces na porta e uma nota de agradecimento do padeiro.

Naquele terceiro dia veio um deputado para um corte de cabelo. Novamente, ao pedir para pagar, o barbeiro disse:

- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.

O deputado ficou feliz e foi embora. No dia seguinte, quando o barbeiro veio abrir sua barbearia, havia uma dúzia de deputados fazendo fila para cortar cabelo.

Essa história ilustra bem a grande diferença entre os cidadãos do nosso país e os políticos que o administram.

POLÍTICOS E FRALDAS DEVEM SER TROCADOS COM FREQUÊNCIA E PELO MESMO MOTIVO!!! EÇA DE QUEIROZ (1845)

CAVACO SILVA E AS ACÇÕES DO BPN
Miguel Sousa Tavares - Jornalo Expresso

... Com tantos anos na "política profissional", Cavaco Silva não devia esquecer algumas das regras do jogo: que, na política, a única coisa que não se pode matar é o passado, que a vingança se serve fria e que não se deve desafiar quem nos pode atingir.

Ao optar, soberbamente, por achar que ninguém se atreveria a questionar o seu passado com o BPN, ao imiscuir-se na última campanha das legislativas, lançando graves suspeitas contra o Governo com a história inconcebível das escutas inventadas, e ao não hesitar em atacar, para se defender, a actual administração do BPN e da CGD (onde estão amigos e membros da sua comissão de honra), Cavaco Silva pôs-se a jeito para o que agora lhe sucedeu.

O "aparecimento" do despacho em que Oliveira Costa ordena que se lhe comprem as acções da SLN e onde fixa o extraordinário preço de compra das mesmas, não conseguirá retirar-lhe a reeleição, mas retirou-lhe, e para sempre, coisas que, do meu ponto de vista, são bem mais importantes.

Assim, ficámos a saber, por outra via, duas das respostas que ele se recusou a dar, por si mesmo: quem lhe comprou, as acções da SLN e quem fixou arbitrariamente o preço de acções que nem sequer estavam cotadas em bolsa, Oliveira Costa - seu ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, ex-membro da sua Comissão de Honra na candidatura de 2005 e financiador da campanha, ex-presidente do BPN e chefe da quadrilha a quem devemos 5000 milhões de euros de responsabilidades financeiras assumidas pelo Estado em nosso nome.

Restam as outras perguntas a que só Cavaco Silva pode responder; mas a que não responderá: quem e como o convenceu, a ele e à família, a investir na SLN, dona do BPN? Como e porquê resolveu sair? Não estranhou uma mais-valia de 75% ao ano? Não lhe passou pela cabeça que isso pudesse ser um negócio de favor à sua pessoa política? Não desconfiou, para mais sendo professor de Finanças, da solidez de um banco que assim remunerava investimentos particulares? Conhece mais algum cliente do BPN que tenha realizado semelhante negócio com o banco? Ou mais alguém que tenha realizado negócio semelhante com qualquer outro investimento financeiro, nessa altura?

Responda ou não, já é tarde de mais».

CAVACO SILVA - O QUE ESCONDE CAVACO?


O NOVO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


Portugal prepara-se, ao que parece e mais uma vez, para eleger, neste caso reeleger, o actual Presidente da República cumprindo, desta forma, uma tradição da democracia portuguesa. Não sei mesmo por que não lhes conferem logo um mandato de 10 anos e ponto final.

Eu não considero que seja totalmente inútil para os cidadãos e para a saúde da democracia este período de campanha eleitoral. De forma nenhuma, embora muitos convencidos intelectuais se aborreçam com o baixo nível das intervenções dos candidatos que repetem discursos enfadonhos.

É próprio das campanhas que vivem viradas, acima de tudo, para arrebanharem os votos do eleitorado do povo mais sensível a slogans e ao espectáculo do que a “tiradas” de erudição política sobre os grandes problemas que afectam o futuro do país. É verdade que nem todos se podem dar ao luxo de terem um Obama a discursar, mas também é certo que na actual situação as pessoas estão cada vez mais surdas à palavra dos políticos que fica mais para os comentadores da especialidade.

Em qualquer caso, nestes períodos, as línguas desatam-se mais e ficamos a conhecer coisas sobre os candidatos que viviam mais ou menos na penumbra do respeito que a dignidade das altas funções lhes conferia.

Esta história das acções do BPN em que o candidato Cavaco Silva e família, de forma legal, ganhou, creio que em dois anos, em acções compradas e vendidas fora da bolsa 357.000 euros (149%) e construiu no Algarve, na Quinta da Coelha, uma moradia que pelo seu valor, diz quem sabe e a conhece, estar fora do alcance de quem apenas teve na vida rendimentos de Professor Universitário, 1º Ministro e Presidente da República, levantam legítimas dúvidas sobre o carácter do candidato que estavam ausentes do espírito de muitos portugueses e o obrigaram a afirmar que todos nós tínhamos de nascer duas vezes para sermos tão honestos como ele.

Em primeiro lugar, não vale baralhar a cabeça das pessoas com o conceito de honestidade que aqui não é sinónimo de legalidade. Também, era o que mais faltava, deixemos isso para o amigo e vizinho na Quinta da Coelha, Oliveira e Costa.

Honestidade, aqui, é uma ausência completa e total de rendimentos para além dos obtidos como retribuição pelo exercício das funções ao serviço do Estado porque todos os outros podem estar viciados de favores políticos quer eles existam ou não. Retirar benefícios e vantagens pessoais do poder político que se tem é uma desonestidade ética-moral, um aproveitamento político que deve ser avaliado e valorado pelos eleitores e não pelos tribunais.

Veja-se, como exemplo de honestidade, o que foi o comportamento do General Ramalho Eanes que, por razões ético-políticas, não aceitou a promoção a Marechal e nunca o ouvimos dizer que tínhamos de nascer duas vezes para sermos tão honestos como ele.

O candidato Cavaco Silva irá ser reeleito, não com o meu voto, mas irá ser reeleito de acordo com a tradição e as sondagens. Esta campanha, mais que não seja, esclareceu melhor muitos portugueses sobre esses aspectos de honestidade do candidato Cavaco Silva o que não adianta muito porque, de qualquer forma, já não votariam nele.

BOM DIA
Hoje, volta a ser Domingo nesta minha cidade de Santarém, sobranceira à planície Ribatejana. No céu não há sol, apenas nuvens, mas é natural, estamos em Janeiro.
O meu Sporting voltou ontem a perder no seu estádio e o Presidente do Clube, num lacónico comunicado, no fim do jogo, veio à televisão dizer que era melhor para o Clube ele ir-se embora e saíu de cabeça baixa pelas portas do fundo...
Mas que importância isso tem comparado com as centenas de mortos provocadas pelas cheias e avalanches de lama no Brasil? E que dizer da atitude de outros habitantes da cidade que de forma oportunista, sem escrúpulos, se aproveitam da situação para fazerem dinheiro vendendo a preços exorbitantes bens de primeira necessidade, como água potável, que naturalmente escasseia?
Ah!, semptre o homem, lobo do homem... Por um lado, gestos de grande altruísmo a contracenarem com esta forma de ganhar dinheiro que devia queimar as mãos de quem o recebe.

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