sexta-feira, novembro 14, 2008

Lionel Richie - Truly

Kenny Rogers -- Lady

Barbara Streisand y Neil Diamond -- You Don't Bring


“A Bola do Lado de Cá”





António Vitorino, no seu artigo de hoje no Diário de Notícias, intitulado A Bola do Lado de Cá pergunta, como quem põe o dedo em cima da ferida, “até onde as economias desenvolvidas estão dispostas a assumir responsabilidades na presente crise?”, e já na parte final, depois de se ter referido às medidas de carácter financeiro, nomeadamente, a um estímulo à economia de 500 biliões de euros por parte do governo chinês, faz uma chamada especial às negociações comerciais, a chamada Ronda de Doha.

A Ronda de Noha foi lançada na capital do Qatar dois meses após os atentados do 11 de Setembro de 2001 e constituiu-se como um símbolo de solidariedade internacional e uma iniciativa para ajudar, em termos de desenvolvimento, os países mais pobres do mundo.

As respectivas negociações recaíram no comércio agrícola mas logo se perceberam as divergências em muitos aspectos das ideias sobre as soluções a adoptar.

Os países exportadores de produtos agrícolas, tais como, os EUA, a Austrália e inicialmente o Brasil, começaram por dizer que a redução das tarifas alfandegárias se traduziria em maiores ganhos para as nações mais pobres, uma vez que faria baixar os preços dos bens alimentares e constituir uma oportunidade para as exportações agrícolas dos países em desenvolvimento.

Para países pobres como a Índia, em que a agricultura assenta em milhões de pequenos e frágeis agricultores, o desenvolvimento passou a ser sinónimo de proteccionismo e de redução dos subsídios nos países mais ricos.

A União Europeia, preocupada com a protecção aos seus agricultores, adoptou uma posição idêntica à da Índia e decidiram acusar os EUA de pretenderem uma liberalização demasiado drástica, senão mesmo impossível.

Estas divergências transformaram o encontro dos Ministros, em 2003, em Cancun, num autêntico desastre.

As negociações foram retomadas em 2004 mas não foi apresentada nenhuma proposta credível até os EUA darem novo impulso ao processo ao mostrarem-se dispostos a reduzirem os subsídios aos seus agricultores e ao apelarem a terceiros para reduzirem as tarifas agrícolas.

A União Europeia não conseguiu dar uma resposta imediata e colocou-se numa posição defensiva até ser pressionada, numa reunião ministerial em Hong Kong, em Dezembro de 2005, a apresentar uma proposta melhorada que contemplasse a redução das tarifas agrícolas.

O Brasil começou a alinhar com os restantes países em subdesenvolvimento e a acusarem os EUA de serem os responsáveis pela situação e não aceitarem um acordo exigindo mais contrapartidas para reduzir os seus subsídios.

Pascal Lamy, Director Geral da Organização Mundial do Comércio, depois de sucessivos prazos, adiamentos e fracassos, pediu aos membros da Organização para não deitarem por terra as negociações sublinhando que o fim dos subsídios às exportações agrícolas e a redução das tarifas são uma importante conquista.

A lógica das negociações na OMC resume-se em comprar o acesso ao mercado para exportadores vendendo, por outro lado, acesso a outros exportadores e o êxito das negociações depende de haver exportadores em número e com força suficiente para vencer o proteccionismo nacional.

Um ministro do Comércio resumiu ainda mais dizendo:

- “O medo dos agricultores franceses supera em muito a ambição dos retalhistas europeus”.

Em suma, um acordo de comércio global implica, pelo menos, três condições para poder vingar:

- Um amplo consenso entre EUA e EU;

- Total confiança num sistema multilateral;

- Primazia dos interesses dos exportadores sobre os receios dos produtores nacionais.

Como nenhuma destas condições está ainda satisfeita a Ronda de Noha não chega a bom termo e por isso, António Vitorino, pergunta:

- Até que ponto as economias desenvolvidas estão dispostas a assumir responsabilidades na presente crise?

E isto, porque a crise não é apenas financeira e económica mas também comercial, é um todo, e passa por interesses que estão instalados há muitos anos e os titulares desses interesses não abrirão mão deles enquanto a isso não forem obrigados.

Pode ser que com a actual crise e com Obama, que tem uma concepção do mundo muito diferente da que tinha Bush, estejam criadas condições para se removerem os obstáculos.

Como diz António Vitorino, A Bola está do Lado de Cá…

quinta-feira, novembro 13, 2008

Joana Pessoa -- Dá-me os teus Olhos

Violeta Parra -- Gracias á la Vida

ARETHA FRANKLIN - I Say A Little Prayer


JULGAMENTO DE JOHN TOMHAS SCOPES






Em 1925, John T. Scopes, que era professor em Dayton, no Tennessee, foi julgado por ter infringido a Butler Act que proibia o ensino da Teoria da Evolução naquele Estado.

Acima de tudo, o julgamento de Scoppes, que ficaria conhecido por “Scopes Monkey Tryal”, foi um duelo entre o velho mundo e o novo mundo, entre duas formas de pensar: uma preocupada com a preservação de certos valores e outra que se questionava sobre esses mesmos valores e tentava encontrar outros.

Quem iria dominar a cultura na América, os tradicionalistas ou os modernistas?

No meio estava o desgraçado professor que numa aula cometeu o grave erro de falar nas teorias de Charles Darwin…

John T. Scopes viria a ser condenado tendo recorrido da sentença em 1927 para o Tribunal Supremo de Tennessee que revogou a sentença a Scopes mas considerou Constitucional a Butler Act a qual, só viria a ser retirada da Lei do Estado do Tennessee, em 1967.

Quase um século depois deste julgamento, e apesar de todos os avanços registados na ciência, a cadeira da Sala Oval da Casa Branca é ainda, felizmente com data marcada para a deixar, ocupada por um homem que não acredita na Teoria da Evolução…

Os defensores do Criacionismo florescem na América conservadora ganhando terreno e um exemplo vem do Estado do Kansas, fortemente Republicano, onde os democratas só ganharam uma vez, em 1964, com Lyndon Johnson.

Neste Estado, como o Supremo Tribunal proibira o Criacionismo de entrar para os “curriculus” académicos como ciência, em 1999, um Conselho de Educação, conservador, elaborou uma nova estratégia: já que o Criacionismo não conseguia bases científicas para se afirmar como matéria curricular, surgiram com a Teoria do “desígnio inteligente” que se baseava na concepção de que “um mundo tão complexo e bem ordenado só poderia ser o resultado de uma causa inteligente…”

Este Conselho de Educação pediu a uma comissão de educadores recomendações para a actualização dos parâmetros científicos do ensino e para separarem definitivamente ciência de religião, que dessem uma definição de ciência.

Foram então apresentadas duas propostas antagónicas:

- Uma, apoiada pela maioria, propõe a manutenção dos actuais padrões que abraçam a Teoria da Evolução e que define ciência como “uma actividade humana de pesquisa sistemática de explicações naturais para o que se observa no mundo à nossa volta”;

- Para a outra, dos defensores do “desígnio inteligente”, a ciência “é um método sistemático de investigação contínua que usa a observação, experimentação, mensuração, construção de teorias, testes de ideias e argumentos lógicos que levem a melhores explicações dos fenómenos naturais”;

O Conselho aceitou as duas propostas…

Actualmente, a Teoria da Evolução não é, naquele Estado, disciplina obrigatória mas apenas de opção e para fazerem desaparecer a Teoria da Evolução, as escolas vão ser desencorajadas a ensinar botânica, anatomia e fisiologia.

Segundo os parâmetros vigentes, os alunos do 8º ao 12º Anos devem aprender seis pontos sobre os organismos vivos incluindo a biologia básica de animais e plantas.

As novas propostas reduzem para dois pontos: o conhecimento geral de como os organismos são classificados e as principais diferenças estruturais entre eles.

Em Portugal, que nestas coisas da estupidez tem sempre uns elementos que não gostam de ficar atrás, o Criacionismo dá também os primeiros passos com um Museu que contesta a Teoria da Evolução e que vai nascer em Mafra…a data da informação é Março do ano passado, portanto, talvez até já tenha nascido.

E assim vai o mundo, às arrecuas… afinal o julgamento de Galileu com sentença em 22 de Junho de 1633 ainda não terminou e, pelos vistos, jamais terminará.

Agora, porém, ficará adiado ou pelo menos não terá a impulsioná-lo um Presidente dos EUA adepto do Criacionismo.

Barack Obama fez, em tempo de campanha, um discurso notável sobre qual deveria ser a atitude certa de um Presidente sobre religião.

O vídeo desse discurso passámo-lo aqui legendado em 16 de Outubro… podem recordá-lo.

Ficamos sob a ameaça da Srª Pallin, adepta e militante do Criacionismo que não terá dúvidas, se depender só dela, em envolver o mundo numa guerra porque… Deus quis.

…. Como dizia a minha avozinha: “Cruzes canhoto eu te esconjuro”.




P.S. –
Na imagem que encima este texto temos uma foto desse julgamento, do The New York Times na qual, ao centro, está o Sr. William Jennings Bryan, um presbiteriano devoto que era a voz da acusação.

Pat Condel -- Por que Merece a Fé Respeito ?

terça-feira, novembro 11, 2008

Ernesto Cortazar -- As time goes bay

Kenny Rogers & Shena Eston -- We've got tonight

Ernesto Cortazar -- Autumn Rose




Madeira e Felgueiras













Há cenas que não deviam fazer parte da nossa vida em sociedade e pessoas que têm o condão de nos envergonhar. No entanto, umas e outras insistem, perseguem-nos, como uma espécie de moléstia.


Transcrevo do Expresso, do jornalista Fernando Madrinha, o seguinte comentário:

“Do parlamento da Madeira e do Tribunal de Felgueiras vêm imagens e sinais diferentes, mas que coincidem no essencial: são o triunfo da sordidez na política e contribuem para o apodrecimento do regime.

Um deputado sem tacto e uma maioria parlamentar composta de tiranetes iguais ou piores que o seu chefe dão, da Madeira, um espectáculo degradante para o qual o país até tem vergonha de olhar.

Uma autarca descarada e sem escrúpulos, que achincalhou a Justiça e se serviu do voto dos eleitores para “lavar” a sua imagem, sai do Tribunal de Felgueiras a rir-se como na dia em que chegou ao aeroporto da Portela, qual vedeta de telenovelas brasileiras.

Como podem o regime e as instituições ser respeitados se não se dão ao respeito?”


Efectivamente podem, mas não deviam e o que é certo é que estas situações passam-se a coberto do regime e dentro das próprias instituições e, infelizmente, constituem uma emanação, não tão rara como se esperaria, daquilo que somos do ponto de vista cívico e cultural.

No fundo, somos todos nós que lhes damos cobertura e daí a nossa vergonha…

segunda-feira, novembro 10, 2008

Mama Àfrica


Homenagem a Miriam Makeba





Em homenagem aos sons espectaculares da música Sul-Africana e à cantora Miriam Makeba, hoje falecida e cuja voz fazia as minhas delícias quando, há 35 anos, me encontrava em Moçambique, na cidade da Beira.

Mulher política, lutadora inflexível pelos direitos humanos contra o apartheid, viveu exilada nos EUA onde viria a morrer com 76 anos no dia de hoje.

Cantou em Nairobi para celebrar a independência do Kénia, em Luanda nos festejos da independência de Angola, em Addis Abeba, na Organização da União Africana e em Moçambique para Samora Machel.

Como escreveu Stokely Carmichael, seu marido que com ela viveu durante 10 anos, Miriam assistiu ao vivo ao nascimento de um continente.

Miriam Makeba -- Kilimanjaro

Miriam Makeba -- Pata Pata

Miriam Makeba -- Mbube


O Desígnio Inteligente






Esta ideia de que os seres vivos não eram imutáveis já tinha ocorrido aos gregos quando optaram, na época de Péricles, pelo racionalismo.

Os antigos eram sábios e não só os gregos, os persas, hindus, incas, árabes, chineses, independentemente de muitos pensamentos equivocados, criaram tecnologia, literatura, filosofia, estudaram o cosmos e entenderam-no, no entanto, graças aos movimentos políticos que ganharam força com o misticismo das religiões retrocedemos milénios durante a Idade Média e a histérica Inquisição.

A Bíblia, produto da literatura que dura há mais séculos, talvez o maior expoente cultural de todos os tempos é, ao mesmo tempo, a maior falácia a que a humanidade foi submetida.

Todos sabem o que é mas poucos, (Richard Dawkins, Sam Morris, Cristopher Hithens, citados neste blog, para além de outros, naturalmente,) questionam quem a escreveu, de onde veio ou quando. Muitos, simplesmente, acreditam que tenha sido o próprio Deus que, literalmente, tenha escrito as suas linhas.

Poucos entendem que milhares de anos antes de Cristo, como hoje, os povos tinham as suas lendas, mitos e contos populares e com o comércio que se estabeleceu e incrementou entre fenícios, babilónios, egípcios e outros, as pessoas puseram-se em contacto umas com as outras e as suas culturas e crenças, muito naturalmente, misturaram-se.

Contos foram passados de boca a boca durante centenas de anos. Qualquer um que frequentou uma escola lembra-se de ter brincado ao telefone sem fio: um professor diz em tom baixo uma frase ao ouvido do aluno e ele passa-a ao colega do lado até ao último aluno da última fila e quando este a diz em voz alta a frase mudou radicalmente.

Diz o ditado popular que “quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto”, pois bem, juntemos-lhe agora milhares de pessoas, milhares de anos e centenas de contos.

Foi o que aconteceu com os contos da Bíblia. Antes dos hebreus chegarem era já uma miscelânea de contos até os primeiros manuscritos terem gerado o Torá que é o nosso actual Antigo Testamento.

A partir daí, como não havia impressoras as cópias eram feitas manualmente à mercê da interpretação dos copistas e mais tarde, quando foram traduzidas do hebreu para o grego e deste para o romano mais foram ainda as mudanças de interpretação, como aquela má tradução que “transformou”uma palavra que numa língua significava “jovem” para uma outra palavra, “virgem”, neste caso, a virgem Maria.

Depois dos eventos de Jesus, da suposta crucificação, da suposta ressurreição e de outros delírios, quando a Igreja se tornou forte com a conversão do Imperador Constantino ao Catolicismo, no séc. IV, a história do Catolicismo ficou intimamente ligada à de Roma e o poder escolheu a dedo os textos que se tornaram “cânones” e os que passaram a “apócrifos”.

Dessa escolha burocrática e política, surgiu a actual compilação da Bíblia com os quatro conhecidos evangelhos, mesmos estes sem uma autoria única, antes um conjunto de textos diversos compilados, como já foi provado.

Recentemente, foram encontrados os Manuscritos do Mar Morto, os Evangelhos Apócrifos de Nag Hammadi, representando uma parcela grande de textos que não encontraram espaço na Bíblia politicamente costurada pela Igreja da época.

Mas na actualidade ainda fizemos mais mudanças quando, no Iluminismo, Martinho Lutero pegou em versões ainda mais antigas em hebreu ou em grego e as traduziu para o francês dando lugar à vertente do Protestantismo com uma Bíblia diferente da dos Católicos.

Felizmente, a Idade Média acabou e com o Renascentismo retomou-se o pensamento que tinha parado no tempo dos gregos de Alexandria e uma nova geração de artistas e intelectuais voltou às raízes e ao questionamento saudável das questões que resultaram nas tecnologias e no desenvolvimento de hoje e do futuro.

Mesmo assim, uma parcela significativa da população parece preferir a Idade Média, a Idade das Trevas, e Charles Darwin sentiu-o na pele.

Em 1860, ficou célebre o diálogo que teve lugar em Oxford:

- Perante enorme assistência o Bispo de Oxford, Samuel Wilberforce, perguntou ao naturalista Thomas Huxley, defensor da Teoria Evolucionista de Darwin, se descendia do macaco pelo lado do avô ou da avó.

Ao que Huxley respondeu:

- “Penso que um homem não tem que envergonhar-se por ter um macaco como avô. Se tivesse de me envergonhar de um antepassado seria de um homem; um homem de inteligência superficial e versátil que, em vez de contentar-se com os sucessos na sua esfera própria de actividade, vem imiscuir-se em questões científicas que lhe são completamente estranhas, não fazendo senão obscurecê-las com uma retórica vazia que distrai a atenção dos ouvintes do verdadeiro ponto da discussão através de alegações eloquentes e hábeis apelos aos preconceitos religiosos.”

Parece que, com esta resposta, a uma senhora terá dado um “chilique”, desmaiando e a mulher do Bispo terá dito entre dentes:

- “Só faltava esta, descender de macacos! Se for verdade, rezemos para que ninguém saiba.”

De então para cá percorreu-se um certo caminho e a Igreja, estrategicamente, tem sido obrigada a recuar para não cair no descrédito dos crentes e, por isso, já em 1874 a figura mais importante da Igreja escocesa, aconselhou os teólogos a sentirem-se à vontade com Darwin que dois anos antes tinha sido sepultado com pompa e circunstância na Abadia deWestminster e o reverendo Malcom Brawn, Director dos Serviços de Relações Públicas da Igreja Anglicana, defendeu que a sua Igreja deveria agora pedir desculpa pela má interpretação de Darwin e algum fervor anti evolucionista.

Situação idêntica passou-se com Igreja Católica e Galileu que foi um dos cientistas mais versáteis da história nos séc. XVI e XVII, responsável por uma série de instrumentos de precisão, nomeadamente telescópios muito mais sensíveis, e por ter criado os princípios da inércia influenciando, mais tarde, o trabalho de Isaac Newton.

No entanto, a sua imagem, ficaria para sempre ligada à contenda com a Igreja Católica por defender que a Terra não era o centro do Universo como pregava a Santa Sé tendo, por causa desta desavença, sido condenado a prisão domiciliar para o resto da vida e escapado à execução porque no julgamento abriu mão do seu modelo Heliocêntrico segundo o qual o Sol era o centro do sistema solar.

Hoje, as posições beligerantes vêem do criacionismo americano, do qual a Srª Pallin é uma destacada representante, e do “desígnio inteligente”.

Há quem pense que a vida é uma coisa tão complexa que só pode ter nascido por um “desígnio inteligente” que é uma espécie de sinónimo de Deus.

Isto nasceu já há muitos anos mas ganhou força nos EUA (onde havia de ser?) junto das camadas mais conservadoras e pretendeu-se que esta teoria da criação divina ou “desígnio inteligente” fosse ensinada nas escolas, não como uma disciplina de religião, mas em vez das teorias científicas.

A lei não terá passado o que levou o Los Angeles Times a falar numa “decisão inteligente”, mas os criacionistas florescem na América conservadora da Srª Pallin ganhando terreno e o exemplo vem do Estado do Kansas:

- Como o Supremo Tribunal decidira que o criacionismo não podia entrar nos currículos académicos como ciência, em 1999, um Conselho de Educação conservador elaborou uma nova estratégia:

. Já que o criacionismo não conseguia bases científicas para se afirmar como matéria curricular surgiram com a “Teoria do Desígnio Inteligente”que se resume a isto:

- O mundo natural é tão complexo e bem ordenado que tem que existir uma causa inteligente para isto aconteça.

Desta vez, a Igreja de Roma interveio e, finalmente, o Jornal do Vaticano, em 20 de Janeiro de 2006,(?) escreve que o “desígnio inteligente” é uma ideologia e não uma ciência e não deve ser ensinado como teoria científica ao lado da teoria evolucionista de Darwin.

Quem leu com alguma atenção as explicações dadas por Richard Dawkins, sobre a origem da vida, e que neste blog procurei resumir em textos anteriores, recorda-se que os genes ao fazerem cópias de si próprios, no momento da divisão celular, cometem erros, causados por motivos diferentes, os tais erros de cópia, também designados por mutações.

Estes erros são aleatórios e muitos deles conduzem a “becos sem saída” em termos evolutivos mas são considerados o mecanismo que permite a selecção natural porque insere a variação genética sobre a qual ela irá agir, fornecendo as novas características vantajosas que sobrevivem nas gerações seguintes e as outras, que não sendo favoráveis desaparecem com os indivíduos mais fracos na eterna luta pela sobrevivência.
Foi assim, desde que há vida na Terra, hà 3 ou 4 mil milhões de anos, e daí a bio diversidade a que assistimos.

Não há aqui nenhum “desígnio inteligente” mas apenas um processo evolutivo que decorre de acordo com regras que são conhecidas, estão estudadas e podem ser observadas na natureza, tal como fez Charles Darwin na ilha de Galápagos.

Se alguém quiser ver no “motor” desta força que gera a evolução e a vida, motivo para uma fé religiosa, na sequência da tal necessidade que o homem tem de acreditar e que, na sua génese, foi explicada de forma convincente por R. Dawkins, não me parece que daí venha muito mal ao mundo… se ela se ficar por aí.

Lembremos o que dizia o antropólogo Lionel Tiger sobre a “irracionalidade construtiva” que reproduzi no meu último texto:

- “Os humanos têm uma tendência consciente para verem aquilo que querem ver e, literalmente, dificuldades em ver coisas que tenham conotações negativas, ao passo que vêm com muita facilidade as positivas.”

Tomar os desejos pela realidade favorece as crenças religiosas e se os crentes querem ver a presença de Deus no poder criativo do processo evolutivo explicado por Darwin, estarão apenas a obedecer a uma tendência que, de acordo com a ciência, se radicou no nosso próprio cérebro.

O cérebro humano é a maior conquista da nossa evolução mas não deixa de ser, por isso, frágil, sensível a qualquer tipo de ideia.

Nós imaginamos mundos como se eles existissem, imaginamos acontecimentos como se eles fossem verdadeiros e o cérebro não é muito disciplinado a questionar novas ideias aceitando-as com muita facilidade.

Graças a este defeito genético que estará por corrigir ficamos à mercê dos sacerdotes, dos políticos corruptos e de toda a espécie de burlões…o processo evolutivo nunca estará terminado enquanto houver condições de vida na Terra…e por isso, esperemos que algumas coisas ainda se aperfeiçoem dentro do nosso cérebro.

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