sábado, maio 26, 2012

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Sabiam que em tempos o nosso planeta foi completamente branco, totalmente gelado e assim esteve durante milhões de anos? Pois foi, até que esta espécie de "fumadores de cachimbo" chamados vulcões, foram irrompendo aqui e ali e libertaram a vida...


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Verdadeiro talento...


Um fogo deflagra numa grande herdade Alentejana.


Os bombeiros foram imediatamente chamados para extinguir as chamas.


O fogo estava cada vez mais forte, e os bombeiros não conseguiam dominar as chamas.


A situação já estava a ficar fora de controlo, quando alguém sugeriu que se chamasse o grupo de voluntários da Vidigueira.


Apesar de alguma dúvida quanto às capacidades e equipamento dos voluntários, sempre seria mais uma forma de auxilio. Assim foi.


Os voluntários chegaram num camião velho, desgastado pelos anos e operações de combate.
Passaram em grande velocidade e dirigiram-se em linha recta para o centro do incêndio!
Entraram pelo fogo adentro e só pararam mesmo no meio das chamas.


Estupefacta, a população assistiu a tudo.


Os voluntários saltaram todos do camião e começaram a pulverizar freneticamente em todas as direcções. Como estavam mesmo no meio do fogo, as chamas dividiram-se, e restaram duas porções facilmente controláveis.


Impressionado com o trabalho dos voluntários da Vidigueira , o latifundiário dono do monte respirou de alívio quando viu a sua herdade ser poupada à devastação das chamas. Na hora puxou da carteira e passou imediatamente um cheque de 5000 euros à corporação voluntária.


Um repórter do jornal local perguntou logo ao comandante dos bombeiros:


- 5000 euros! Já pensou o que vai fazer ao dinheiro?
- Penso que é óbvio, né? - responde o comandante ainda a sacudir a cinza do capacete. - A primeira coisa que vamos fazer é arranjar a porra dos travões do camião!!!

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Se eu morrer antes de você...Vinícius de Morais








GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 108



Porque diferente, que queria dizer João Fulgêncio, homem tão ilustrado com aquela coisa de “carácter”? A verdade é que ela aparecera no velório, levando flores. O pai visitara Jesuíno, “levara-lhe o seu abraço” como ele mesmo dissera a Nacib no “mercado de escravos”.

A filha, moça solteira e estudante, à espera de noivo, que diabo fora fazer junto ao caixão de Sinhàzinha? Tudo dividido, o pai de um lado, a filha do outro. Esse mundo é complicado, entenda-o quem quiser, estava acima de suas forças, não passava de dono de bar, porque pensar em tudo isso?

Tinha era de ganhar dinheiro para um dia comprar roça de cacau. Se Deus ajudasse, haveria de comprar. Talvez então pudesse olhar o rosto de Malvina, tentar decifrar o seu enigma. Ou pelo menos botar casa para rapariga igual a Glória.

Estava com sede, foi beber água na moringa da cozinha. Viu o pacote com o vestido e os chinelos, trazidos da loja do tio. Ficou indeciso. O melhor era entregar no outro dia. Ou botar na porta do quartinho dos fundos para a empregada encontrar quando acordasse. Como se fosse Natal…

Sorriu, tomou do embrulho. Na cozinha engoliu a água em grandes goles, bebera muito naquele dia, durante o jantar, ajudando a servir.

A Lua, no alto dos céus, iluminava o quintal de mamoeiros e goiabeiras. A porta do quarto da empregada estava aberta. Talvez por causa do calor. No tempo de Filomena era trancada à chave, a velha tinha medo de, ladrões, sua riqueza eram os quadros dos santos.

O luar entrava quarto adentro. Nacib aproximou-se, deixaria o pacote nos pés da cama, ela levaria um susto pela manhã. E talvez na própria noite…

Os olhos perscrutaram a escuridão. A réstia de luar subia pela cama, iluminava um pedaço de perna. Nacib firmou a vista, já excitado. Esperara dormir essa noite nos braços de Risoleta, nessa certeza fora ao cabaré, antegozando a sabedoria dela, de prostituta de cidade grande. Ficara-lhe o desejo irritado. Agora via o corpo moreno de Gabriela, a perna saindo da cama. Mais do que via, adivinhava sob a coberta remendada, mal cobrindo a combinação rasgada, o ventre e os seios. Um seio saltava pela metade, Nacib procurava enxergar. E aquele perfume de cravo de tontear.

Gabriela agitou-se no sono, o árabe transpusera a porta. Estava com a mão estendida, sem coragem de tocar, o corpo dormido. Porque apressar-se? Se ela gritasse, se fizesse um escândalo, fosse embora? Ficaria sem cozinheira, outra igual a ela jamais encontraria. O melhor era deixar o pacote na beira da cama. No outro dia demoraria mais em casa, ganhando sua confiança pouco a pouco, terminaria por conquistá-la.

Sua mão quase tremia pousando o embrulho. Gabriela sobressaltou-se, abriu os olhos, ia falar, mas viu Nacib de pé, a fitá-la. Com a mão instintivamente procurou o cobertor, mas tudo o que conseguiu – por acanhamento ou por malícia? - foi fazê-la escorregar da cama. Levantou-se a meio, ficou sentada, sorria tímida. Não buscava esconder o seio, agora visível ao luar.

 - Vim trazer-lhe um presente – gaguejou Nacib – ia botar em sua cama. Cheguei agorinha…

Ela sorria, era de medo ou era para encorajar? Tudo podia ser, ela parecia uma criança, as coxas e os seios à mostra, como se não visse mal naquilo, como se nada soubesse daquelas coisas, fosse toda ela inocência. Tirou o embrulho da mão dele:

 - Obrigado, moço. Deus lhe pague.

(carregue na imagem do "casal". Gabriela, "mulher criança". Nacib, "moço de sorte".)


INFORMAÇÔES ADICIONAIS 
À ENTREVISTA Nº 51
SOBRE O TEMA: "COMO ERA SER CRIANÇA?"

Menores

No tempo de Jesus, as crianças não tinham direitos, tinham muitas responsabilidades e de muito pouco valiam. As meninas, essas, ainda valiam menos. Das meninas disseram que eram um "tesouro ilusório." Os filhos e filhas eram vistas como uma bênção de Deus, mas sua importância só era verdadeira quando chegavam à "maior idade”", que acontecia muito cedo, aos doze anos.

 Do ponto de vista dos direitos da lei e obrigações religiosas, o baixo valor das meninas era descrito por incluí-las nesta fórmula, comum nos escritos da época: ". Surdo, mudo e jovem".Também eram citadas juntamente com os idosos, doentes, escravos, mulheres, deficientes, homossexuais e deficientes visuais

sexta-feira, maio 25, 2012

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Adeus, dia. Volta amanhã para mais um pôr-de-sol.


A qualidade da voz dá para comover...



O Director Geral de um Banco, estava preocupado com um jovem e brilhante director, que depois de ter trabalhado durante algum tempo com ele, sem parar nem para almoçar, começou a ausentar-se ao meio-dia. Então o Director Geral do Banco chamou um detective e disse-lhe: 
- Siga o Dr. Mendes durante uma semana, durante a hora do almoço. 
O detective, após cumprir o que lhe havia sido pedido, voltou e informou:
- O Dr. Mendes sai normalmente ao meio-dia, pega no seu carro, vai a sua casa almoçar, faz amor com a sua mulher, fuma um dos seus excelentes cubanos e regressa ao trabalho.

Responde o Director Geral: 

- Ah, bom, antes assim. Não há nada de mal nisso.


O detective pergunta-lhe:

- Desculpe. Posso tratá-lo por tu?
- 'Sim, claro' respondeu o Director surpreendido!
- Então vou repetir : o Dr. Mendes sai normalmente ao meio-dia, pega no teu carro, vai a tua casa almoçar, faz amor com a tua mulher, fuma um dos teus excelentes cubanos e regressa ao trabalho.

A lingua portuguesa é mesmo fascinante!





Os AUTORES MAIS IMPORTANTES
 DO SÉCULO XX E O QUE APRENDEMOS
 OU "DEVÍAMOS TER APRENDIDO" COM ELES


Texto de José Mário Silva



EMÍLIO SALGARI  (1862-1911)

Ao criar Sandokan, o temível Tigre da Malásia, e outros personagens igualmente corajosos (como o Corsário Negro), iluminou milhões de infâncias num tempo em que ainda não havia televisão nem Play Station.

A fama de Salgari era tão grande que lhe atribuíram uma centena de livros apócrifos, para além dos 200 que escreveu realmente. A lista de figuras que o assumiram como leitura infantil vai de Umberto Eco a Sergio Leone, de Isabel Allende a Che Guevara, passando pelo português Mário de Carvalho.


O que nos ensinou: 

 - A tensão dos romances de aventuras que nos tiram o fôlego.

P.S. - As histórias de Sandokan foram as mais arrebatadoras da minha juventude. Nem uma matiné de um filme de acção conseguia recriar a emoção sentida pela leitura das aventuras do meu herói favorito e dos seus amigos (Kamamuri, Tremail Naik e o português Gastão.)


GABRIELA
 CRAVO 
 E
 CANELA

Episódio Nº 107


Noite de Gabriela


Entrou na sala, arrancou os sapatos. Ficava grande parte do dia em pé, andando de mesa em mesa. Um prazer tirar os sapatos, as meias, mexer os dedos dos pés, dar uns passos descalços, enfiar os velhos chinelos “cara de gato”.

Sentimentos e imagens baralhavam-se em sua cabeça. Anabela havia terminado seu número, estaria na mesa dom Ribeirinho bebendo champanhe. Tonico Bastos não aparecera naquela noite.

E o Príncipe? Chamava-se Eduardo da Silva, no seu cartão constava: “artista”. Um clínico, isso sim. Adulando o fazendeiro, empurrando a mulher para seus braços, negociando com o corpo dela. Nacib encolheu os ombros. Talvez fosse apenas um pobre diabo, talvez Anabela não significasse grande coisa para ele, simples ligação acidental de trabalho.

Aquele era seu negócio, seu ganha-pão, tinha cara de já haver passado muita fome. Sujo ganha-pão, sem dúvida, e qual o limpo? Porque julgá-lo e condená-lo? Quem sabe se não seria ele mais decente do que os amigos de Osmundo, seus companheiros de bar, de literatice, de bailes no clube Progresso, de conversas sobre mulheres, todos eles cidadãos honrados mas incapazes de levar o corpo do amigo ao cemitério?...

Homem direito era o Capitão. Pobre, sem outro recurso além do emprego de colector federal, sem roças de cacau, mantinha suas opiniões, enfrentava qualquer um. Não era íntimo de Osmundo, e lá estava no enterro, segurando uma alça do caixão. E o discurso no jantar? Sapecara o nome de Mundinho na cara de todos, na presença do coronel Ramiro Bastos.

Recordando o jantar Nacib estremeceu. Até tiro podia ter saído, foi uma sorte ter terminado em paz. Aliás, era apenas o começo, o próprio Capitão dissera. Mundinho tinha dinheiro, prestígio no rio, amigos no Governo Federal, não era um “porcaria qualquer” como o Dr. Honorato, médico idoso e alquebrado, chefe de oposição a dever favores a Ramiro, a pedir-lhe emprego para os filhos.

Mundinho ia arrastar muita gente, dividir os fazendeiros donos de votos, fazer misérias. Se conseguisse, como prometia, trazer engenheiros e dragas para desentulhar a barra… Podia tomar conta de Ilhéus, botar os Bastos no ostracismo.

Também o velho estava no fim, Alfredo só existia na Câmara por ser seu filho, bom médico de meninos e nada mais.

Quanto a Tonico… aquele não nascera para a política, para mandar e desmandar, fazer e desfazer. A não ser quando se tratava de mulheres. Nem aparecera no cabaré naquela noite. Certamente para não enfrentar as discussões em torno do artigo, não era homem de brigas.

Nacib balançou a cabeça. Amigo de uns e de outros, do Capitão e do Tonico, de Amâncio Leal e do Doutor, com eles bebia, jogava, conversava, ia a casa de mulheres. Deles vinha-lhe o dinheiro que ganhava. E agora se encontravam divididos, cada um para seu lado.

Só numa coisa estavam todos de acordo: em matar mulher adúltera, nem mesmo Capitão defendia Sinhàzinha. Nem mesmo seu primo, em cuja casa o corpo fora encomendado para o cemitério. Que diabo viera ali fazer a filha do coronel Melk Tavares, aquela por quem Josué suspirava apaixonado, uma de rosto famoso, calada, os olhos inquietos como se conduzisse um segredo, um mistério qualquer? Uma vez João Fulgêncio dissera, ao vê-la, com outras colegas comprando chocolate no bar:

 - Essa moça é diferente das outras, tem carácter.


ENTREVISTA FICCIONADA Nº 51
 COM JESUS CRISTO SOBRE
 O TEMA: “COMO ERA SER CRIANÇA”



RACHEL - Estamos em Nazaré, onde Jesus cresceu em sabedoria, idade e graça, e onde Emissoras Latinas o continuam a entrevistar. O senhor foi criança aqui. Conte-nos como era a vida das crianças no seu tempo.

JESUS - Que te fez direi, Raquel…? Tínhamos de trabalhar desde muito jovem. Aqueles que não cuidavam de ovelhas ou cabras pisavam uvas, aprendíamos a semear, a moer o grão…

RAQUEL - Hoje há convenções internacionais que falam dos Direitos da Criança… no seu tempo?

JESUS -  No meu tempo, nenhum direito, tudo torcido. As crianças eram metidas no mesmo saco que os doentes, escravos e mulheres. Os últimos da lista. O único valor dos pequenos era que... um dia seriam grandes.

RAQUEL -  E as meninas?

JESUS - Pior que eles.  As meninas cresceram e... c0ntinuavam sem ter valor. Olha para aqueles dois ali correndo... Ei!, meninos, venham cá.

 MENINA -  Vocês são turistas?

JESUS -  ​​ Ela é uma jornalista…

CRIANÇA -  Meu pai tem uma barba como o senhor…

JESUS -  Querem um pêlo  da minha barba? … Vamos ver qual de vós mo tira!

RACHEL -  Olha parece um pai com os seus filhos ... O senhor nunca teve filhos? Não quis tê-los?

JESUS -  Que árvore  não querem deixar sementes, Raquel?

Menina – O senhor, como se chama?

JESUS -  ​​ Jesus.

MENINA - E ela?

JESUS -   Raquel.  E tu como te chamas?

MENINA - Samira.

JESUS – E tu? ​​

CRIANÇA - William.

JESUS -  Samira e William. Estes nomes não existiam no meu tempo…

MENINA – O senhor sabe contar histórias?

 JESUS – Eu sei milhares de histórias.   Sei também advinhas!

RAQUEL -  Desculpe, Jesus Cristo, mas gostava de  retornar ao tema dos seus filhos…

MENINA – Ele não se chama Jesus Cristo, chama-se Jesus. 

MÃE -  Eih! meninos... Onde se meteram?... Samira, William não incomodem esses senhores.

CRIANÇAS – Ele vai contar-nos uma história!

JESUS -  Vão, vão com a vossa mãe… Depois voltarei para a história…

RACHEL – Dá-se bem com crianças, certo?

JESUS​​Sempre gostei de falar com eles Uma vez ... uma garota como essa Samira disse-me quando as cabras da montanha dão à luz , onde os gaviões fazem seus ninhos... é que as crianças não só aprendem ... também ensinam… Temos uma chamada ... Olá?  - Piron, sou Claude Piron, um psicólogo. Eu tenho ouvido o seu programa e estou muito satisfeito com ele... Já se passaram dois mil anos e vejo que Jesus Cristo continua o mesmo, um revolucionário.

 RAQUEL -  Por que diz isso Monsieur Piron?

PIRON -  Porque só recentemente é que as crianças são cidadãos . Até ao Século XX víamo-los como animalitos que os adultos tinham que domar. Que uma criança tivesse valor em si mesma não ocorria a ninguém mas, a Jesus Cristo, sim, ocorreu-lhe.

RAQUEL - Obrigado amigo psicólogo por nos ter ligado. Então, pelo que acabamos de ouvir, o senhor estava à frente de seu tempo.

JESUS - ​​Ou talvez eles estivessem atrasados…

RAQUEL – Eles, quem?

JESUS -  ​​O grupo…  Lembro-me que uma vez estávamos conversando em Cafarnaum e aproximaram-se algumas crianças. Tiago, João e Pedro ficaram aborrecidos e mandaram-nos embora dizendo que estávamos falando de coisas.

RAQUEL -  E o senhor?

JESUS -   Eu chamei-os e disse-lhes que ficassem junto de nós. E a Pedro e aos outros advertiu-os: Quanto mais pequenos maiores serão no reino de Deus.

RAQUEL -  Bem, olha, aí vêm os dois novamente…

JESUS -  ​​Samira e William ...

RAQUEL -  Nós nos separamos e acabamos aqui o programa e o senhor vai-lhes contar as história que prometeu ...

Da Nazaré, Raquel Perez. Emissoras latinas.


quinta-feira, maio 24, 2012

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Beco do Castelo.


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Não era bem isso que ele estava a pensar...



Seria bom não esquecer a história

«Quando, em maio de 1945, a Alemanha perdeu a II Guerra Mundial, tinham morrido, ninguém sabe ao certo, uns 40 milhões de pessoas. O país estava literalmente destruído e contava, por sua vez, cerca de sete milhões de mortos. As potências vencedoras decidiram viabilizar economicamente a nova Alemanha, apesar de a terem separado da Áustria e de a terem dividido: a RFA sob a tutela da Grã-Bretanha, França e Estados Unidos; a RDA sob a tutela da União Soviética. Mas esta solução foi bem melhor do que a que Churchil, o primeiro--ministro inglês da guerra, chegou a planear: transformar o país num enorme campo agrícola, sem indústrias, sem serviços, sem nada.

De 1947 até 1952 a Alemanha Ocidental recebeu, do Plano Marshal, 3,3 mil milhões de dólares. Esta dívida foi paga ao longo de 25 anos, até 1978: mil milhões pelo Governo, os restantes 2,3 mil milhões por um Fundo que emprestou esse dinheiro a juros baixos e a prazos longos, principalmente a pequenas e médias empresas.

A partir de março de 1960 - 15 anos depois do fim da guerra - a Alemanha Ocidental - graças a um dos maiores crescimentos económicos de sempre, de que o povo da RFA tem todo o mérito mas que só foi possível realizar por não ter faltado dinheiro para investir - começou finalmente a pagar indemnizações devidas a 11 Estados : a Grécia recebeu 115 milhões de marcos alemães, a França 400 milhões, a Polónia cem milhões, a Rússia sete milhões e meio, a então Jugoslávia oito milhões. Foram pagos três mil milhões de marcos a Israel e 450 milhões a organizações judaicas.

Depois da reunificação da Alemanha, com a queda do bloco soviético, a reconstrução da RDA custou, de 1991 a 2009, 1,3 biliões de dólares, sendo que 120 mil milhões vieram de ajudas externas.

Hoje a Alemanha é um dos países que mais contribuíram para ajudar o exterior. É uma das quatro ou cinco economias mais fortes do mundo. É um grande Estado.

Olho o que se passa na Grécia, onde a população, martirizada por cinco anos de austeridade, exige o fim do acordo com a troika e pede, simplesmente, mais tempo e melhores condições para pagar o que deve e para recompor a economia do país. A Alemanha olha-a com desdém, recusa o apelo, ameaça tirá-la do euro, culpa-a por irresponsabilidade e exige castigo por não cumprir os acordos da troika.

Olho esta suposta culpa dos gregos e comparo-a com a culpa dos alemães, há 67 anos. Se os vencedores da guerra de então tivessem sido tão insensatos como os dirigentes da actual guerra financeira, que restaria, agora, da grande Alemanha?»

Pedro Tadeu. ( Do Diário de Notícias)


PS -  Vi esta semana um documentário que mostrou o que foi o drama da ocupação da França pelos alemães e as sequelas que ela deixou entre os franceses.

Durante esses anos, os franceses foram utilizados, humilhados, mortos, escravizados, reduzidos a peças de um jogo por um exército invasor constituída por gente soberba, insensível e desumana.

Comparar esses crimes com as “trafulhices político/contabilísticas” dos gregos merecedoras do castigo da Sra. Merkel, é a mesma coisa que confundir as traquinices do miúdo do 5º andar com os assaltos violentos dos gangs suburbanos.

A Srª Merkel e os alemães não se esqueçam que a fome e o desespero podem acordar memórias recentes e o projecto que foi de paz pode degenerar e atraiçoar os seus objectivos.
  


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 106



E nada mais se passou. Apenas todos compreenderam que Mundinho assumira, a partir daquele dia, a chefia da oposição e começara a luta.

Não mais uma luta como a de antes, do tempo da conquista da terra. Agora as repetições e as tocaias, os cartórios queimados e as escrituras falsa não eram decisivos. João Fulgêncio disse ao Juiz.

 - Em vez de tiros discursos… é melhor assim.

Mas o Juiz duvidava.

 - Isso acaba mesmo é em bala, você vai ver.

O coronel Ramiro Bastos retirou-se logo, acompanhado de Tonico. Outros espalharam-se pelas mesas do bar, continuaram a beber. Formou-se uma roda de pocker, no reservado, alguns dirigiam-se para os cabarés. Nacib ia de grupo em grupo activando os empregados, a bebida corria.

No meio de toda aquela atrapalhação, recebeu, trazido por um moleque, um bilhete de Risoleta. Ela queria vê-lo sem falta naquela noite, ia esperá-lo ao Bataclan.

Assinava «sua bichinha Risoleta»; o árabe sorriu satisfeito ; junto à caixa estava o pacote para Gabriela: um vestido de chita, um par de sandálias.

Quando terminou a sessão de cinema o bar encheu. Nacib não tinha mãos a medir. Agora as discussões em torno do artigo dominavam as conversas. Ainda havia quem falasse no crime da véspera, as famílias elogiavam o prestidigitador. Mas o assunto, em quase todas as mesas, era o artigo do diário de Ihéus.

O movimento durou até tarde, era mais de meia-noite quando Nacib fechou a caixa e dirigiu-se ao cabaré. Numa mesa com Ribeirinho, Ezequiel e outros, Anabela pediu opiniões para o seu Álbum. Nhô-Galo, romântico, escreveu. «Tu és, ó dançarina, a encarnação da própria arte» O Dr. Ezequiel, num pileque grandioso, acrescentara, a letra tremida. «Quem me dera ser gigolô da arte».

O Príncipe Sandra fumava, sua longa piteira, imitação de marfim. Ribeirinho, muito íntimo, batia-lhe nas costas, narrava-lhe as grandezas da sua fazenda.

Risoleta esperava Nacib. Levou-o para um canto da sala. Contou-lhe amarguras: amanhecera doente, voltara-lhe uma complicação antiga que infernava os dias, tivera de chamar o médico. E estava sem dinheiro nenhum, nem para os remédios. Não tinha a quem pedir, não conhecia quase ninguém. Recorria a Nacib, ele fora tão gentil naquela noite…

O árabe passou-lhe uma cédula, resmungando; ela acariciou-lhe os cabelos.

 - Fico boa logo, dois três dias, mando te chamar…

Partiu apressada. Estaria mesmo doente ou seria uma comédia para tomar-lhe o dinheiro, ir gastar com um estudante ou um caixeiro numa ceia regada a vinho?

Nacib sentia-se irritado, esperava ir dormir com ela, nos seus braços esquecer o dia melancólico de enterros, trabalhoso e inquieto de banquete e intrigas políticas. Dia de arrasar um homem. Terminando naquela decepção. Segurava o pacote para Gabriela. As luzes se apagavam, a dançarina apareceu vestida com suas penas. O coronel Ribeirinho chamava o garçon, comandava Champanhe.



INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 50 SOBRE O TEMA: “ATÈ QUE A MORTE OS SEPARE” (4)

Indissolúvel…  Mas Anulável

A Igreja Católica considera o casamento "indissolúvel" feito em qualquer rito católico, interpretando as palavras de Jesus no Evangelho de Mateus como uma proibição e condenação de divórcio.  O Código dos Cânones da Igreja Católica afirma que quem tenha casado pela igreja e divorciado pelo civil não só não pode voltar a casar pela igreja como também não pode receber a Comunhão na missa, e vive em pecado. Em 2002, o Papa João Paulo II sublinhou esta doutrina:
 “Considerar a indissolubilidade não como uma norma jurídica natural, mas como um simples ideal, desvirtua o sentido da inequívoca declaração de Jesus Cristo que recusou em absoluto o divórcio, porque "ao princípio não foi assim”  (Mateus 19, 8).
No entanto, para o próprio Vaticano casamentos indissolúveis são anuláveis.  As sentenças de anulação são concedida pelo Tribunal da Rota, um dos mais antigos do mundo, e que assim é chamado pelo facto da sala onde historicamente se iniciaram os trabalhos no Século XIV ser circular.
A anulação significa que legalmente o casamento "nunca existiu".  Aqueles que pedem a anulação alegam vários motivos: que foi feita sob coação, medo, ou o 'temor dos pais; "o cônjuge era impotente e casamento" não se consumou "; que um dos cônjuges era homossexual; haver uma disparidade de cultos entre os cônjuges; o casamento ter-se realizador sem testemunhas ou   por um sacerdote não autorizado; que o consentimento não foi suficientemente demonstrado; que um dos cônjuges escondeu que não queria ter filhos; que o cônjuge ocultou que não era virgem quando o outro só se teria casado nessa situação… Ultimamente, também as sogras apareceram como motivo para o pedido de nulidade do casamento por imporem uma excessiva dependência a um dos cônjuges. 
A Santa Sé diz que estes processos são gratuitos em 85% dos casos, quando se verifica "miséria" dos requerentes.  É difícil acreditar que um homem indigente ou simplesmente pobre consiga chegar ch a um tribunal superior.
 O custo médio estimado de um processo é de 2 000   euros e 500 € para o advogado mais 260 euros para o imposto, além de outras despesas. O processo dura cerca de dois anos.  O principal objectivo daqueles que buscam a anulação é para se poderem casar novamente numa cerimónia católica que é um ritual sempre mais atraente e socialmente reconhecido. Em 2006, a Rota Romana emitiu 172 decisões definitivas sobre os processos de nulidade matrimonial: 96 pedidos foram atendidos e 76 recusados.  Em Fevereiro de 2007, havia 1 679 processos pendentes de decisão judicial.

quarta-feira, maio 23, 2012

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As florezinhas agradecem às árvores os raios de sol que elas deixam passar...


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A Crise é Má Conselheira



Nada fará mudar a natureza humana quando se trata de sobreviver.

São comportamentos ou reacções, talvez mais estas, instintivas que obedecem a leis que se inscrevem em padrões de sobrevivência muito anteriores à própria civilização.

Quando se trata de sobreviver parece que o mundo é demasiado pequeno… os horizontes estreitam-se.

De certa forma, parece que foi isso que os trabalhadores ingleses apoiados pelos respectivos sindicatos nos quiseram dizer aqui há uns tempos, quando se manifestaram e fizeram greves de protestos contra a contratação de portugueses e italianos para uma empreitada de uma empresa francesa a operar no Reino Unido:

-… “Desculpem lá, isto não tem nada de pessoal, mas estamos na nossa terra e temos que defender os nossos empregos…” dizia o trabalhador inglês ao ser entrevistado para a televisão, a modos de quem pede desculpa.

Os trabalhadores portugueses regressaram a Portugal e ao falarem para a TV mostraram-se perfeitamente conformados, pensando lá para com eles:

 - “…na nossa terra teríamos feito o mesmo.”

No fundo, é um procedimento de género idêntico ao que resulta das palavras do Presidente Obama quando pede ou estimula os seus concidadãos a comprarem americano e muitos outros países europeus a lançaram campanhas à aquisição de bens e serviços nacionais.

É verdade que a Comissão Europeia já assinalou que irá analisar a conformidade das novas regras americanas com os compromissos assumidos no âmbito da Organização Mundial do Comércio.

E também é verdade que no plano interno europeu irá ser prestada atenção às medidas que os Estados venham a tomar em violação do princípio da não descriminação.

É natural, portanto, que todas estas reacções proteccionistas com repercussões no mercado de trabalho venham a ocupar nos próximos tempos, a agenda dos que têm que tomar decisões políticas.

O Dr. António Vitorino, face a estes comportamentos, afirma, com toda a razão que lhe assiste, que não só estamos a tornar mais difícil a saída da crise como, igualmente, estamos a atentar contra valores civilizacionais.

Na verdade, uma medida proteccionista favorece no curto prazo mas prejudica no médio e longo prazo. A crise é global e tudo quanto possa contribuir para diminuir os fluxos comerciais internacionais de produtos e serviços, prolongará e agravará a crise.

No plano civilizacional é, realmente, um retrocesso, um voltar atrás, ao tempo do cada um por si mas, como resistir nestes tempos de sobrevivência a estas atitudes?

Lembramo-nos todos quando, ainda não há muitos meses, duas cidades no norte de Portugal disputaram duramente entre si, a instalação de uma fábrica que iria criar postos de trabalho em qualquer um dos concelhos em que viesse a instalar-se.

Estávamos no mesmo país, até na mesma região, mas nenhum cidadão de qualquer um dos dois Concelhos teria levado a bem que o seu Presidente não tivesse feito tudo para “ganhar a fábrica para si”,

É inevitável… a expressão do trabalhador inglês ao justificar a sua luta pelos postos de trabalho que iriam ser criados, ali, na sua terra, não demonstrava nenhuma animosidade contra os candidatos portugueses ou italianos, apenas uma reivindicação que a ele lhe parecia completamente justa.

O Dr. António Vitorino reconhece a delicadeza do momento e escreve:

 - “A situação em causa espelha a angústia e insegurança dos trabalhadores britânicos perante o espectro do desemprego e revela que há dinâmicas que, uma vez desencadeadas não são facilmente reversíveis, além de abrirem as portas para práticas retaliatórias que, no limite, ainda agravarão mais a situação de crise em que vivemos”.

Por extensão, podemos dizer que uma crise financeira origina outras crises de natureza moral que tem a ver com princípios e até com a própria racionalidade.

Graves responsabilidades para as Organizações Internacionais uma vez que as nacionais não têm força ou coragem para as verdadeiras soluções que nunca serão fáceis.

 A Crise é Má Conselheira. 



GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 105


 - Vai bem, coronel.
Demorou-se um pouco no grupo formado por Mundinho, João Fulgêncio e o Capitão. Nacib sentiu-se cheio de admiração pelo velho: ele devia estar se comendo por dentro, de raiva e nada deixava transparecer, aqueles que se preparavam para lutar contra o seu poder para arrancar-lhe os postos, como se fossem crianças sem juízo, não oferecessem perigo.

Sentaram-no à cabeceira da mesa, entre os dois intendentes; Mundinho vinha logo depois entre os Juízes. A comida das irmãs Dos Reis começou a ser servida.

A princípio ninguém estava completamente à vontade. Comiam, bebiam, conversavam, riam, mas havia uma inquietação na mesa, como se esperassem um acontecimento.

O coronel Ramiro não tocava na comida, apenas provara o vinho. Seus olhos miúdos passeavam de conviva a conviva. Escureciam-se ao pousar em Clóvis Costa, no Capitão, em Mundinho. De súbito quis saber porque o Doutor não comparecera e lamentou a sua ausência. Aos poucos, o ambiente foi-se fazendo mais alegre e despejado. Contavam-se anedotas, descreviam-se as danças de Anabela, elogiavam a comida das irmãs Dos Reis.

E finalmente chegou a hora dos discursos. O russo Jacob e Moacir haviam pedido ao Dr. Ezequiel Prado que falasse em nome da Empresa, oferecendo o jantar. O advogado levantou-se, bebera muito, tinha a língua pastosa, quanto mais bebia melhor falava.  Amâncio Leal segredou qualquer coisa aos ouvidos do Dr. Maurício Caíres. Sem dúvida prevenindo-o para estar atento.

Se Ezequiel, cuja lealdade política ao coronel Ramiro encontrava-se vacilante desde as últimas eleições, entrasse a fazer comentários sobre o caso da barra competiria a ele, Maurício, responder na bucha.

Mas o Dr. Ezequiel, em dia de muita inspiração, tomou como tema principal a amizade entre Ilhéus e Itabuna, as cidades irmãs da zona do cacau, agora ligadas também pela nova Empresa de Ónibus essa “monumental realização” de homens empreendedores, como Jacob, “vindo das estepes geladas da Sibéria para impulsionar o progresso deste rincão brasileiro”, frase que humedeceu os olhos de Jacob, em realidade nascido num «ghetto» de Kiev e a Moacir, “o homem que se fez à custa do próprio esforço, exemplo de trabalho honrado”.

Moacir baixava a cabeça, modesto, enquanto em torno ressoavam apoiados. Por aí foi, gastando muita civilização e muito progresso, prevendo o futuro da zona, destinada a “alcançar rapidamente os píncaros mais elevados da cultura”.

O Intendente de Ilhéus, xaroposo e interminável, saudou o povo de Itabuna, coronel Aristóteles Pires, agradeceu em poucas palavras. Observava o ambiente, pensativo. Levantou-se o Dr. Maurício, soltou o verbo, serviu-lhes a Bíblia como sobremesa. Para concluir, elevando um brinde a “esse impoluto ilheense, a quem tanto deve a nossa região, varão de insignes virtudes, administrador operoso, pai de família exemplar, chefe e amigo, coronel Ramiro Bastos”.

Beberam todos, Mundinho brindou com o coronel. Apenas Dr. Maurício se sentara e já o Capitão pusera-se de pé, uma taça na mão. Também ele queria fazer um brinde, disse, aproveitando aquela festa que marcava um passo a mais no progresso da zona do cacau. A um homem chegado das grandes cidades do sul para empregar naquela região sua fortuna e suas extraordinárias energias, sua visão de estadista, seu patriotismo.

A esse homem, a quem Ilhéus e Itabuna já tanto deviam, cujo nome estava anonimamente ligado a essa empresa de Ónibus como a tudo mais que nestes últimos anos empreendera o povo ilheense, a Raimundo Mendes Falcão, ele levantava sua taça. Foi a vez do coronel brindar com o exportador. Segundo contaram depois, durante todo o discurso do Capitão, Amâncio Leal manteve a mão na coronha do revólver.
(Click na imagem e ajude a jovem a escolher o vestido)


INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 50 SOBRE O TEMA:
 “ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE” (3)


Não contra o divórcio, mas contra o machismo


As palavras de Jesus: «O que Deus uniu não o separe o homem  »(Mateus 19,3-12) não contém um princípio abstracto da indissolubilidade do casamento. "O homem" deve ler-se "o varão".

Jesus faz uma queixa muito específica de arbitrariedade machista: que não separe "o varão”" o que Deus uniu.  A família não deve estar dependente dos caprichos do varão, e as mulheres, por intransigência do marido, ficarem desprotegidas. Confrontado com o emaranhado de interpretações jurídicas que existiam em Israel sobre o divórcio, e que sempre favoreceram o marido, Jesus voltou-se para as origens e lembrou que no início Deus criou o homem e a mulher à sua imagem, iguais em dignidade e direitos em oportunidades.  Jesus não falou contra o divórcio, falou contra o machismo.

terça-feira, maio 22, 2012

IMAGEM
Castelo dos mouros em Sintra


VÍDEO
Às vezes é melhor deixarmos-nos estar onde estamos...



Um grupo de três antropólogos (um inglês, um francês e um português) parte numa arriscada expedição científica para estudar os hábitos de uma tribo tibetana de canibais, famosa pelos seus poderes prodigiosos e por usar a pele humana para fabricar as melhores pirogas do mundo.

Chegados à fronteira do território desta tribo terrível, de onde ninguém regressara vivo, os guias sherpas piraram-se, deixando os três intrépidos cientistas entregues à sua sorte. Preparados para o pior, estranharam a recepção fidalga e hospitaleira dispensada pelos canibais, que os estragaram com mimos de toda a espécie.

Só repararam que tinham estado no período da engorda quando o chefe da tribo lhes comunicou, com uma solene amabilidade, que eles iam ser submetidos a uma prova.


Cada cientista tinha o direito a um pedido - o mais extravagante que a sua imaginação concebesse. Seria devolvido à civilização, se eles conseguissem satisfazer esse o pedido. Caso contrário entraria imediatamente no circuito alimentar da tribo e a sua pele seria usada no fabrico de uma piroga.

"Quero um cognac Cornet Vintage de 1811, servido pela miúda do anúncio da Martini, trazida no Rolls Royce dos Beatles", pediu, bastante seguro de si, o cientista inglês.


Uma onda de agitação percorreu os canibais, que se afadigaram numa lufa-lufa de faxes e telefonemas. Duas horas volvidas, a menina da Martini, saída do célebre Rolls, patinava com a bandeja na mão em direcção ao inglês, que fleumaticamente saboreou o cognac pré-filoxera antes de ser atirado para o fundo da panela.

"Quero ver aqui, a desfilarem à minha frente, nuas e montadas em camelos albinos, as dez últimas Miss Mundo", exigiu o francês. A seguir à azafama habitual dos indígenas, o desejo foi satisfeito, o segundo cientista chacinado e os seus restos mortais transformados em salsichas e pirogas.

Chegada a sua vez, o português surpreendeu tudo e todos ao pedir um garfo. "Um garfo?!? Um garfo de ouro? O garfo cravejado de diamantes do imperador Bokassa?", interrogou atencioso o chefe dos canibais.

"Não, um garfo qualquer", precisou o português que, após ver o pedido atendido, desatou a furar furiosamente a sua pele, espetando-se com o garfo enquanto gritava repetidamente: "Ide fazer pirogas pró caralho !!!"


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 104



Também ele tinha lido o artigo no jornal e também ele temia pelo sucesso da festa. Gente esquentada, essa de Ilhéus… Seu sócio, Moacir Estrela, esperava, na garagem pessoas, incluindo o Intendente e o Juiz de Direito.

E agora esse malfadado artigo a lançar a cizânia, a desconfiança e a divisão entre os seus convidados.

 - Isso ainda vai dar muito que falar.

O Capitão, tendo aparecido antes para a costumeira partida de gamão, confidenciara a Nacib ser o artigo apenas um começo. O primeiro de uma série, e não irão ficar em artigos, Ilhéus viveria grandes dias. O Doutor, os dedos sujos de tinta, os olhos brilhantes de vaidade, lá estivera rapidamente, declarando-se ocupadíssimo. Quanto a Tonico Bastos, não voltara ao bar, constava ter sido chamado com urgência ao coronel Ramiro.

Os primeiros convidados a chegar foram os de Itabuna, louvando a viagem em marinete, o percurso feito em hora e meia, apesar da estrada não estar ainda completamente seca.

Olhavam com condescendente curiosidade as ruas, as casas, a Igreja, o bar Vesúvio, o stock de bebidas, o cine teatro Ilhéus, achando que em Itabuna tudo era melhor, não havia igrejas  como as de lá, cinema melhor do que o deles, casas que se igualassem às novas moradias itabunenses, bares mais ricos em bebidas, cabarés tão frequentados.

Naquele tempo a rivalidade entre as duas cidades da zona do cacau começava a tomar corpo. Os itabunenses falavam do progresso sem medidas, do crescimento espantoso da sua terra, ainda a alguns anos simples distritos de Ilhéus, uma aldeia conhecida por Tabocas. Discutiam com o Capitão, falavam do caso da barra.

Famílias dirigiam-se ao cinema para assistirem à estreia do mágico Sandra, olhavam o movimento do bar, as figuras importantes ali reunidas, a grande mesa em forma de T.

Jacob e Moacir recebiam os convidados. Mundinho Falcão chegou com Clóvis Costa, houve um movimento de curiosidade. O exportador foi abraçar os itabunenses, havia entre eles fregueses seus.

O coronel Amâncio em companhia de Manuel das Onças, contava ter Jesuíno partido, devidamente autorizado pelo Juiz, para sua fazenda onde aguardaria o andamento do processo. O coronel Ribeirinho não tirava os olhos da porta do cinema, na esperança de ver Anabela chegar.

A conversa generalizava-se, falava-se dos enterros, do crime da véspera, de negócios, do fim das chuvas, das perspectivas da safra, do Príncipe Sandra e de Anabela, evitava-se cuidadosamente qualquer referência ao caso da barra, ao artigo do Diário de Ilhéus. Como se todos temessem iniciar as hostilidades, ninguém quisesse assumir tal responsabilidade.

Quando, por volta das oito horas, já iam sentar-se à mesa, da porta do bar alguém anunciou:

 - Lá vem coronel Ramiro com Tonico.

Amâncio Leal dirigiu-se ao seu encontro. Nacib sobressaltou-se: a atmosfera ficara mais tensa, os risos soavam falsos, ele percebia os revólveres sob os paletós. Mundinho Falcão conversava com João Fulgêncio, o Capitão se aproximou deles. Podia-se ver, do outro lado da Praça, o professor Josué no portão de Malvina.

O coronel Ramiro Bastos, o cansado passo apoiado na bengala, penetrou no bar, adiantou-se cumprimentando um a um. Parou diante de Clóvis, apertou-lhe a mão:

 - Como vai o jornal, Clóvis? Prosperando?
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