sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Apelar às emoções


Apelar às Emoções


Talvez tenha sido sempre assim, provavelmente até foi, mas hoje em dia, cada vez mais, as pessoas são levadas a sentir mais do que pensar, a reagirem em função de sentimentos e o menos possível a partir de pensamentos e reflexões. Pensar dá trabalho, leva tempo e exige serenidade e as pessoas têm pressa de chegarem ao momento seguinte, como as abelhinhas que se demoram o menos possível em cada flor porque outra a seguir as espera.

Sentir é qualquer coisa de orgânico, que nos está nas entranhas, que brota espontaneamente, que nos alivia as tensões e, por isso, quase que agradecemos que mexam com elas.

Por tudo isto, é muito mais fácil apelar ao sentir das pessoas do que ao seu pensamento e é fácil perceber que, à nossa volta, tudo anda a toque das emoções.

Ontem, tivemos o nosso amigo Louça num sketch de enorme efeito visual na Assembleia da República, mostrar um grande “poster”, de tamanho natural, de um jovem executivo, bem vestido e bem parecido, e ao lado, sem que se visse muito bem, dado o tamanho da fotografia tipo passe, um trabalhador que, pressuposto, seria colega do jovem executivo na empresa mas na qualidade de simples trabalhador.

A enorme diferença entre cada uma das fotografias, 32 vezes, salvo erro, tinha a ver com a diferença dos salários entre ambos e a cena, não acrescentando nada àquilo que já se sabe, provocou um grande impacto visual e uma enorme hilaridade quando, momentos mais tarde, o ministro das Finanças admitia que os bons gestores tinham que ser bem pagos porque da sua competência resultariam ganhos para a empresa muito mais importantes e significativos do que aquilo que se lhes pagava defendendo, no entanto, que esses ganhos deveriam ser transparentes.

Louça montou aquele sketch, não, evidentemente, para os deputados da Assembleia da República mas para os milhões de trabalhadores portugueses que, mais tarde, o iriam ver na TV.

Estaria o empenhado deputado do BE a apelar ao pensamento dos destinatários da sua mensagem?

A resposta é, Não!

Louça, estava a chocar as pessoas, a atirar-lhes ao rosto uma desigualdade que todos sabemos que existe e que só é injusta pela sua dimensão pois ninguém contesta o direito de os mais qualificados ganharem mais que os menos qualificados e se a sua intervenção na empresa for considerada decisiva para o seu sucesso económico e financeiro essa diferença pode atingir maiores proporções que devem ser explicadas e atenuadas.

A história já nos ensinou o resultado da não diferenciação dos méritos de cada um no processo produtivo e pôr os trabalhadores a ganharem apenas em função das necessidades familiares de cada qual, finalidade máxima do socialismo, mesmo como meta teórica, pertence ao passado e tem mais o aspecto de coisa maquiavélica que desperta sorrisos de comiseração.

Mas já vimos também que o capitalismo, na ânsia da obtenção de lucros, por vezes a qualquer custo, explora os mais fracos, privilegia os mais fortes e acentua as desigualdades naturais que devem estar na base de uma sociedade saudável.

É esta a característica do sistema capitalista que, se por um lado, é óptimo para produzir riqueza, veja-se o que se passa na China em que Changai possui já a maior concentração de Ferraris por metro quadrado ao lado da pobreza absoluta que existe no país, por outro lado, é péssimo a distribui-la.

O nosso ministro das Finanças que tanta risota provocou quando afirmou que os executivos das Estradas de Portugal tinham que ganhar bem, e é bom que as pessoas riam e, já agora, também, que ganhem bem, deveria ter posto na resposta uma expressão mais calma, descontraída e menos tensa de quem não se deixa apanhar na armadilha dos sketchs fotográficos.

O que o Ministro disse ou quis dizer é que as Estradas de Portugal têm de prosseguir os mesmos objectivos das restantes empresas que concorrem com ela no mercado e, para isso, tem de disputar os melhores gestores quer o seu valor esteja, ou não, inflacionado fazendo apenas questão de que essas retribuições sejam claras, transparentes e não pagas às escondidas por debaixo da mesa tão ao nosso gosto.

Por outras palavras, a empresa para ser gerida tem que ir ao mercado dos Gestores e aí, se ela tem metas ambiciosas, vai tentar disputar os melhores aos preços que correrem de acordo com critérios de avaliação que são os seus e tendo em vista sempre os interesses da empresa.

As desigualdades sociais que, na verdade, são muito grandes em Portugal, têm que ser combatidas para que haja um verdadeiro desenvolvimento no país pois na actual situação o todo social não é coeso nem harmónico, sofre de tensões, há linhas de ruptura a delimitarem vários países dentro de um.

Conheci bem a economia de há 30 anos atrás, da mão-de-obra barata, das fabriquetas de vão de escada, do trabalho à peça para as multinacionais Suecas e Alemães, das enganadoras taxas de Desemprego à volta dos 4%, de tudo isso que, fatalmente, tinha que se desmoronar.

O país precisa de novas empresas com novos empregos de maior grau de exigência quanto à qualificação dos trabalhadores e eu acho que vamos assistindo a esta nova realidade atendendo àquilo que já estamos a produzir e a exportar mas, remodelar e modernizar todo um tecido económico não é tarefa simples nem rápida, quando, para dificultar ainda mais, grande parte da população continua sub qualificada.

30% da população portuguesa têm o secundário completo e os restantes 70% estão abaixo dessa fasquia e isto é exactamente o inverso do que se passa na Europa.

O resto… são as lei do mercado a funcionar que permitem que determinados quadros se façam pagar melhor no país do que no resto da Europa porque aqui são mais escassos ou não abundam tanto mas, para que as leis do mercado funcionem e esses custos e essas diferenças possam vir a diminuir, é preciso, por um lado, que os ganhos dos executivos das Estradas de Portugal sejam claros e conhecidos e, por outro, que mais gestores qualificados apareçam no mercado a disputarem esses lugares.

Tinha razão o Ministro das Finanças que, mais uma vez, deveria ter respondido ao deputado Louça com um ar calmo e desinibido de quem não se deixou apanhar na armadilha do Sketch fotográfico em vez da forma nervosa e comprometida como respondeu.

O Tribunal de Contas


O Tribunal de Contas

Tudo nos acontece, por excesso ou defeito, tudo nos vai acontecendo, e a última foi esta decisão surpreendente e chocante do TC que reprovou um pedido da CML para transferir para a Banca dívidas de 360 milhões de Euros, contraídas por outros responsáveis, de forma a viabilizar o pagamento a centenas de empresas que vivem asfixiadas à beira da falência e os trabalhadores do desemprego.

Dizem os doutos pareceres do TC que o pedido apresentado é “insuficiente” e está “mal sustentado” e “que não é possível concluir que os problemas financeiros da Câmara sejam de natureza conjuntural”, etc…, etc…

Por outras palavras, o Executivo da Câmara que negociou entre si e concebeu a proposta do pedido de empréstimo e a Assembleia Municipal que a aprovou não percebem nada do que estão a fazer, são uns incompetentes e a situação de catástrofe de milhares de empresas e de trabalhadores é um problema que ao TC não diz absolutamente nada.

Entretanto, foi perfeitamente chocante, ver na TV a indignação da responsável daquela empresa que presta Serviços de limpeza para a Câmara e que se debate com uma dívida que já ascende a 22milhões de euros e que, mais uma vez, vai ter que ficar à espera do pagamento, sabe lá durante quanto mais tempo.

Suponhamos, por hipótese, que os tais Serviços de limpeza não tinham sido entregues a uma empresa privada e era a própria Câmara que os fazia, como seria?

Estaria tudo por limpar, ter-se-ia deixado de pagar aos funcionários encarregues desse trabalho?

O nosso problema não é falta de “competências”, pelo contrário, até parece havê-las, como neste caso, em excesso, o que falta, por vezes, é bom senso, é percebermos todos que acima de cada um de nós e das instituições em que trabalhamos e das quais eventualmente somos responsáveis, existe uma outra realidade chamada país cujo interesse sobreleva todos os outros mas, para isso, é necessário um exercício de humildade, a que eu também gostaria de chamar de patriotismo.

Os cidadãos comuns não percebem destas coisas da interpretação das leis o que não é de estranhar pois falta-lhes capacidade intelectual e conhecimentos técnicos para a poderem fazer.

Também não adiantaria muito porque os próprios especialistas divergem nas conclusões pelo que apenas teríamos mais gente a aumentar a confusão mas, de uma coisa o cidadão comum se apercebeu, é que o TC, neste caso, para além de ter proporcionado o aproveitamento político envergonhado dos “suspeitos do costume,” ficou mal visto, não é da nossa terra, e comportou-se como um inimigo dos lisboetas e do país.

O Dr. Oliveira Martins não pode “vender-nos” a sua isenção e independência do PS de que é militante por este “preço”.

Os exageros de zelo fazem desconfiar e não ficam bem, para além de revelarem fraqueza e falta de confiança e, confiança, é coisa de que ele bem precisa para fazer o acompanhamento e a fiscalização das grandes obras públicas, algumas a caminho, com os seus já tradicionais trabalhos a mais e derrapagens.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O QUE ELES PENSAM DA VELHICE


O Que eles Pensam da Velhice



Pode-se nascer velho, como se pode morrer jovem!

( Jean Cocteau )

A idade não é pretexto para que se fique velho!

(G. Slatery )

O meu sonho é morrer jovem com uma idade muito avançada!
( Jeanson )


Envelhecer é aborrecido, mas é a única forma de se viver muito tempo!
( Saint- Beuve )

Devemos preocupar-nos mais em juntar vida aos anos do que anos à vida!
( Victor Hugo de Lemos )

O bom lado das coisas: por mais velho que se seja pode-se ser mais jovem do que nunca!
( Albert Einstein )

Um homem só é velho quando os seus desgostos tomam o lugar dos seus sonhos!
(John Barrymore )

Envelhecer é ser capaz de ser jovem durante mais tempo do que os outros!
( Bernard Shau )

Pelo facto de envelhecer não deixe de rir; mas ao deixar de rir, envelhece-se de facto!
( Balzac )

Aos 969 anos, Mathusalem estava tão bem conservado que apenas lhe davam 345!
( Tristan Bernard )

Agora, o que eu penso da Velhice:

Diminui-me a velocidade dos reflexos quando jogo ténis.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

As férias dos padres


As Férias dos Padres

Dois padres decidiram, num lindo dia de Verão, irem à praia ao Algarve mas sem que nada os identificasse como membros do clero.

Assim, dirigiram-se a uma loja de Surf e compraram o que havia de última moda em calções, sandálias, T-Shirtr, óculos de sol, etc…e na manhã seguinte lá foram eles para a praia como verdadeiros turistas…

Estavam eles sentados nas suas cadeiras de praia, bebendo o seu refresco, apreciando o calor do sol quando uma loura em top-less, lindíssima, de fazer perder a cabeça se encaminhou para eles e individualmente os cumprimentou com um ligeiro aceno: “ Bom dia Sr. Padre”…e “Bom dia Sr. Padre” e logo seguiu o seu caminho.

Ficaram ambos siderados, como era possível que ela os tivesse reconhecido como padres?

No dia seguinte dirigiram-se novamente à loja de Surf e compraram roupas ainda mais berrantes e de novo se dirigiram para a praia gozar o sol e as vistas.

Eis senão quando, apareceu de novo a mesma loira de fazer perder a cabeça, numa tanguinha ultra reveladora que se aproximou deles e os cumprimentou: “Bom dia Sr. Padre”… “Bom dia Sr. Padre” e dispunha-se a seguir o seu caminho quando o padre mais velho se lhe dirigiu:

-“Um momento menina”…

- “ Sim”…respondeu ela com um sorriso nos lábios bem definidas e sensuais.

- “ Nós, de facto, somos padres e temos muito orgulho em sê-lo mas como conseguiu descobrir isso?

- “ Senhor Padre, sou eu… a Irmã Amélia!

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

O meu namoro de rapaz


O Meu Namoro de Rapaz


Ver o comportamento dos jovens nas noites de 6ª fª constitui a forma mais chocante e violenta de me sentir velho, fora do tempo que passa, ou ainda numa terra estranha onde devo ter aterrado de pára-quedas no dia anterior e na qual não me reconheço.

Normalmente, a tendência das pessoas que chegam à fase da velhice, não percebo porque esta palavra mete medo a tanta gente e a trocaram por essa coisa da 3ª idade ou, pior ainda, por sénior, é o de recordarem os tempos de namoro da sua juventude como tendo sido os melhores deste mundo e eu compreendo isso muito bem porque sou da idade deles e as pessoas da mesma geração, naturalmente, entendem-se melhor.

Mas do que, normalmente, eles não se dão contam é que esses elogios não têm a ver com os “tempos” mas antes com a sua juventude, ela é que era boa, tão boa que até as coisas más de quando fomos jovens, agora nos parecem boas.

Realmente, a juventude potencia a vida, os obstáculos não passam de desafios e as dores, sejam elas quais forem, esquecem-se e ultrapassam-se muito rapidamente porque, para isso, lá está a primavera da vida com as campainhas a tocarem por todo o lado chamando-nos ao dia seguinte que espera por nós…

Mas aquilo que nos foi feito pelos nossos pais e educadores, na década de cinquenta, que coincidiu com a minha juventude, foi uma grande maldade só perdoável porque os meus avós, com eles, ainda fizeram pior.

A separação forçada a que os jovens de sexo diferente estavam sujeitos constituiu um atentado e uma violação não só aos direitos da minha juventude mas, ainda mais grave, à minha própria natureza humana e todos os jovens da minha geração, em maior ou menor grau, foram vítimas dessa autentica crueldade.

Quando estudava no Colégio Nuno Álvares, em Tomar, bem poderia desejar ver, a caminho da Igreja para a Missa Dominical, nem que fosse ao longe, as minhas colegas do Feminino, também elas internas do Colégio num outro edifício, mas em vão, porque não só as Missas eram a horas diferentes como os percursos eram igualmente diferentes.

Contactos de proximidade só com as mulheres da vida que nos esperavam nas casas, ditas de “meninas”, algumas delas passajando roupa de vestir, quem sabe, as calças de algum filho que talvez tivesse a nossa idade ou até mesmo mais velho.

Essas insípidas experiências de sexo feito com uma mulher que tinha idade para ser nossa mãe constituíam atentados efectuados por nós próprios à nossa sensibilidade de jovens e eram sempre de muito má recordação.

Eram relações muito desiguais: de um lado, a mulher profissional, experiente, madura, por vezes maternal, do outro, a inexperiência, a juventude ainda feita meninice com um pouco de vergonha à mistura…e para quê?

O que um jovem necessita para o seu desenvolvimento saudável é o de se envolver num namoro com uma rapariga da sua simpatia e com ela sair, conviver e expressar-lhe os seus sentimentos na sequencia de um processo que, sabemos hoje, começa a desenvolver-se aos oito anos de idade e envolve circuitos de neurónios, hormonas e muitos outros químicos à mistura.

Mas nessa altura eu não sabia nada, de resto, ninguém sabia nada, para além de que quase todas essas coisas eram pecado e a castidade é que era boa e fazia bem à saúde para além de agradar ao Nosso Senhor.

O meu colega José Augusto, que jogava futebol na equipa do Colégio e por isso era conhecido das meninas do Feminino que eram autorizadas a assistir aos jogos num sector das bancadas que lhes era reservado, devidamente acompanhadas e vigiadas, ficou interessado na irmã do Peixoto, talvez por cumplicidade com o irmão que era seu amigo, ou por um qualquer olhar mais penetrante da bancada para o campo ou do campo para a bancada, não se sabe… as setas do Cupido têm percursos caprichosos.

Fui então escolhido para redigir a carta do Pedido de Namoro o que aceitei com um grande regozijo interior mas com aparente indiferença exterior sem que, no entanto, me tivesse feito demasiado caro não fosse ele desistir do pedido.

Com todas aquelas barreiras e obstáculos que existiam entre rapazes e raparigas, eu nem de vista conhecia a irmã do Peixoto mas, desde quando, um jovem romântico de dezasseis ou dezassete anos precisa de conhecer uma rapariga para lhe escrever uma carta de amor?

Não faço nenhuma ideia se o José Augusto veio a casar com a irmã do Peixoto, se tiveram muitos meninos e hoje um rancho de netos mas, se tal não aconteceu, não foi por causa da carta que depois de ter conseguido chegar ao destino com a cumplicidade de outras pessoas, foi lida pela destinatária que lhe respondeu na volta do mensageiro com os olhos ainda cheios de lágrimas de amor e paixão, conforme as suas próprias palavras.

Não está certo, não é justo, não foram os lindos olhos dele, foi a minha carta, foram as minhas palavras que desencadearam nela os sentimentos de amor e paixão… mas foi ele que ficou com a namorada e isto foi uma espécie de batotice.

Fosse a vida o JOGO da GLÓRIA e a pedra que me representa como jogador voltaria para trás, à casa de o NAMORO, e recomeçar-se-ia novamente a lançar os dados.

Há, dizem vocês, mas se assim fosse serias o último a chegar à META e eu respondo, quero lá saber, muito mais importante do que chegar primeiro à META é ficar na casa do NAMORO porque a volúpia de uma paixão aos dezassete anos de idade dá muito mais prazer do que cortar a porcaria da META e não duvidem de mim porque sei do que falo… nunca tive essa paixão e sempre suspirei por ela!

A vida é, em grande parte, um jogo, apenas as regras são diferentes consoante os locais e a época em que se vive e os factos descritos não os teria vivido se não estivéssemos então nos anos pouco gloriosos de 1954/55, completamente dominados por uma mentalidade de sacristia, bolorenta e doentia, que então predominava na nossa sociedade.

A separação contra natura dos sexos acontece nas sociedades machistas e favorece escandalosamente os homens que, a propósito dessa separação, reservam para as mulheres as tarefas discretas do lar e da família ficando eles com os privilégios dos trabalhos mais nobres.

Pouco mais de quarenta anos depois e, entre nós, toda a situação se alterou, rapazes e raparigas convivem lado a lado desde os bancos da escola até ao último grau da vida académica, vestem as mesmas fardas e participam nas mesmas guerras.

Hoje, são elas que dominam em todos os lugares da Administração Pública com excepção, ainda, dos pontos chaves do Poder Político e isto porque são mais trabalhadoras e perseverantes na linha de uma tradição evolutiva da nossa espécie em que o segredo do sucesso talvez tenha estado mais nelas do que em nós.

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