sábado, abril 30, 2016

IMAGEM


Cansada de esperar, só, triste e desiludida da vida, despida de qualquer esperança ... resolveu sentar-se.



Mariana Mortágua dá tareia política na Miss Swaps - Mª Luís Albuquerque


Triste, triste, triste é constatar o ponto a que o PSD chegou: um partido seguidista, de Yes man face a Bruxelas, sem pensamento, sem doutrina nem acção, desprovido da ideia de bem comum, paralisado na acção e refém dum nado-morto: Passos Coelho que, tal como Salazar após a queda da cadeira pensava que ainda mandava no país, aquele julga que ainda ocupa o cadeirão de S. Bento..



NOTA


Infelizmente, Mariana Mortágua, tem razão. Não resta grandes alternativas a qualquer governo português que não seja ser "seguidista" de Bruxelas, mais ou menos, contrariado ou não,  porque a outra solução seria a de sair da Comunidade Europeia e eu não ouço a candidata do Bloco a propor a saída.
Claro que há maneiras diferentes de "seguidismo". Passos Coelho e a sua Ministra das Finanças iam, nitidamente, "ao beija mão", o que está longe de acontecer com António Costa que até parece que os vai pôr a pensar...
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Amigos, Sou Preto




Ana Moura - Tens os Olhos de Deus



Tieta do Agreste

(Jorge Amado)



EPISÓDIO Nº 134

























DAS CHAMAS MORAIS ÀS CHAMAS VERDADEIRAS, CAPÍTULO EMOCIONANTE NO QUAL TIETA EXIBE UM ESPLENDOR DE FOGO


Liberto das penas do inferno, nas chamas do ciúme se consome o seminarista Ricardo, na noite da festa. Às nove horas em ponto, a luz do motor se apagou dando por findas as danças no tablado armado na praça do Curtume (perdoem: praça Modesto Pires) mas dona Carmosina inventou passeio até ao rio, espécie de piquenique nocturno. No bar de seu Manuel abasteceram-se de cerveja e guaraná, de bolinhos de bacalhau, especialidade do lusitano.

Da rede onde se recolhera à espera, o seminarista ouve o grupo na calçada, reconhece vozes, a de Leonora, a de Aminthas, a de Barbozinha em galanteio, esse velho ridículo não se assunta!, o riso de Tieta. Pensou que iam se despedir na porta mas os passos prosseguem pela praça e se perdem, ninguém entra em casa. Ricardo salta da rede, penetra na alcova, abre a janela sobre o beco, avista o grupo álacre no escuro da esquina, a caminho do rio. Sente-se enganado, traído, miserável.

Outra coisa não deseja Tieta senão voltar para casa, cansada do dia festivo, iniciado com a missa das oito e longo sermão do padre Mariano. Quando enxerga a magnânima ovelha na Igreja, entre os fiéis, o grato reverendo supera-se, estende a prédica, servindo latim e citações da bíblia. Tieta anseia reencontrar a ternura e a violência do seu menino, apenas entrevisto à tarde à hora da cerimónia, deslumbrante nas vestes de coroinha, a oferecer ao padre o aspersório. Indiferente às exibições folclóricas, tendo de rezar o rosário quotidiano, egoísta, Perpétua retivera o filho em casa para lhe fazer companhia.

Rodopiando nos braços de Barbozinha, de Osnar, de Fidélio – todos disputando a honra de dançar com ela – o pensamento de Tieta estava com Ricardo, ajoelhado diante do oratório a debulhar o terço com Perpétua. Insensata imagem, sonhara-se enlaçada pelo sobrinho vestido de batina; deslizavam no tablado, romântico e apaixonado par. Assim como estavam Leonora e Ascânio: a moça de olhos semicerrados, descansando a cabeça no ombro do rapaz.

Tieta aprovara a ideia de dona Carmosina e acompanhara o grupo na esperança de rapidamente desviar a quadrilha para outros rumos, deixando a sós Leonora e Ascânio, livres para os beijos e juras de amor. Na Bacia da Catarina, sob o negrume dos chorões, o namoro poderia desenvolver-se como devido, ao gosto de Mãezinha: ardente xodó e nada mais.

A Má Notícia
















Seis fulanos carregam um piano pelas escadas de um prédio.

No 4º andar, um deles resolve ir ver quantos andares faltam.

Volta e diz:

 - Tenho duas notícias, uma boa e outra má.

Um deles responde:

 - Conta só a boa, a má contas quando chegarmos!

- Ok, aí vai: faltam 6 andares.

Continuam a subir e quando chegaram ao 10º andar, um deles pergunta:

 - Qual é a má notícia?

 - O prédio não é este!

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 254



















Revoltada com tal ideia, Dona Teresa zangou-se:

 - Vosso pai daria voltas no túmulo! O islão e a cristandade não são para se unir! Temos de expulsar os sarracenos!

Depois desta proclamação veemente, mãe e filho calaram-se. Naquele quarto só se ouvia o assobio sinistro da respiração ruidosa de Dona Teresa, que parecia cada vez mais irregular.

Sentindo o fim desta chegar, Afonso Henriques aproximou-se um pouco mais, e executou uma última tentativa apaziguadora, pousando a sua mão direita na mão direita da mãe.

Tentou fazer-lhe uma festa ternurenta, mas logo Dona Teresa recolheu a mão, afastando-a da dele. Olhando o filho pela última vez, pediu-lhe sem sequer sorrir:

 - Agora ide-vos e deixai entrar o Fernão.

Teve um novo ataque de tosse ainda mais violento que os anteriores, contorcendo-se em espasmos e convulsões. Ao ouvirem aqueles tenebrosos sons, várias pessoas entraram no quarto, e uma delas era o seu amante galego.




Horas mais tarde, Dona Teresa morreu e Paio Mendes, arcebispo de  Braga, dirigiu as exéquias, com dignidade real, enterrando a rainha de Portugal num túmulo, na Sé, ao lado do seu marido, o conde Henrique.

Foi uma bonita e simples cerimónia, à qual também assisti junto a minha esposa Maria.

No final da missa, ainda dentro da Sé, Fernão Peres aproximou-se de Afonso Henriques aproximou-se de Afonso Henriques e declarou com firmeza:

 - Preparai-vos, vou fazer-vos a guerra e vencer-vos. Um dia, o Condado Portucalense será meu. E de minhas filhas.

O meu melhor amigo desembainhou a grande espada de seu pai, ergueu-a no ar e depois colocou-a à frente do rosto, beijando-a. De seguida olhou para o trava e declarou:

 - Junto aos túmulos de meu pai e de minha mãe, declaro-vos inimigo deste condado para sempre.

Cercado pelos portucalenses, que se haviam libertado do seu jugo, o Trava recuou calmamente, mas ainda ripostou:

 - Preparem-se para a guerra pois será longa e dura.

Estávamos lá todos. Os senhores da Maia, os de Lenhoso e de Baião, e muitos outros, meu pai, Egas, e o meu tio Ermígio Moniz, bem como meus irmãos, Gonçalo e seu pai, Soeiro de Sousa; o Braganção e Sancha Henriques, Peres Cativo e o arcebispo de Braga, Paio Mendes, e ainda João Peculiar e Teotónio, prior de Viseu.

E todos o ouvimos bem.

sexta-feira, abril 29, 2016

"Os pássaros" não se vêm mas a beleza, sim...
Pássaros

na cabeça...










Eu tenho a sorte de ser o avô “fofinho” da minha neta Matilde, três anos, que tem “pássaros na cabeça”, na expressão feliz da irmã Filipa, de dez anos.

Eu gosto de todas as crianças, de resto, enquanto crianças, elas foram feitas para serem gostadas, manda a natureza que assim seja, mas uns têm mais paciência que outros e o coração mais doce. No entanto, reconheço, que as bem comportadas, as certinhas, não me seduzem tanto.

Uma criança é um desafio, porque nós, os adultos, pais, avós, irmãos, principalmente, temos uma mensagem a passar-lhes, pelo exemplo e pela palavra.

Deles, recebemos afectos e carinhos que nos alimentam o ego e confortam a alma mas, a minha neta Matilde é um caso à parte...

Conhecemo-nos aos cinco meses, quando terminaram as férias de parto da mãe e ela passou a ficar muitas das suas tardes, num pequenino parque, ao meu lado, junto à cadeira da secretária onde me sentava ao computador, no meu escritório.

Quando chegava ao pé dela, esticava o braço, na sua direcção, dedo apontado ao rosto e ríamos às gargalhadas porque nunca conheci uma criança que gostasse tanto de rir como ela.

Espontaneamente, dobrava o riso e o som das gargalhadas saía estridente como se fosse uma festa, um arraial...!

Nem sempre “as coisas corriam bem” e então chorava em altos berros e eu dizia-lhe que adorava os seus gritos e concentrava-me no computador e deixava-a à vontade. Finalmente, cansava-se e aí eu metia-me com ela para restabelecer as relações.

A Matilde nasceu com tiques e uma imaginação delirante e prodigiosa. Atira objectos para o chão, especialmente comandos, telemóveis, os meus óculos, naturalmente, e depois olha-nos como que a dizer: “como viste, não podia deixar de atirar isto para o chão...”

Improvisa conversas pelo telemóvel com pausas periódicas para ouvir as respostas do outro lado até que se despede com o costumado “tchau-tchau”, “beijinhos, beijinhos”... Outras vezes, não tem tempo para se despedir porque “ficou sem rede”.

Há dias pediu à avó, que estava numa caixa multibanco, para lhe levantar 60 euros porque “tinha ido com a bebé à médica e ficado a dever a consulta...”

A minha neta Matilde tem “pássaros na cabeça” e eu gosto mais dela por causa dos pássaros e...  quem não os tem?

Ginecologista Elogiosa




Elvis Presley - The King....


1960 - Há quase uma eternidade e, no entanto, parece que foi ontem...



Tieta do Agreste
(Jorge Amado)


EPISÓDIO Nº 133



















Imagine que apareceu lá em casa, na fazenda, a dizer que vão montar fábrica aqui, construir uma cidade em Mangue Seco. Anda de juízo mole, acho que é devido à sua enteada – Muda de assunto: - Você ainda não me foi visitar na fazenda, ver minhas cabras; o rebanho dá gosto a gente olhar. Tenho um bode inteiro que é um portento, paguei um dinheirão por ele; se chama Ferro-em-Brasa.

À noite, os ternos de reis e o bumba–meu-boi exibem-se no estrado. Os ternos, em número de três, dois da cidade, o terceiro vindo de Rocinha, o mais bonito, o Sol do Oriente. Uma dúzia de pastoras, enfeitadas de papel de seda, conduzindo lanternas vermelhas e azuis, as vozes soltas, os pés na dança:

Somos pastoras
Das estrelas do céu
Chegamos do Oriente
Para saudar o Deus menino
Neste dia diferente
Tieta acompanha o canto do reisado, tomada de emoção. Menina de pés descalços, fugindo de casa para acompanhar os ternos nas ruas de Agreste.

Tanto sonhara empunhar uma lanterna, pastorear estrelas! Somente cabras e cabritas lhe couberam, vida afora. Valera a pena voltar para ver e ouvir.

Somos as pastoras
Da lua e do sol
Somos as pastoras
Do arrebol

Para assistir o bumba-meu-boi de Valdemar Coto, com o boi e a caapora, o vaqueiro em seu cavalo, dançando no tablado, espalhando a meninada pela praça. Uma única perna, um único braço, esvoaçante, branco lençol, agilíssimo, alegre fantasma, a caapora vem pedir a bênção a dona Tieta, é o moleque Sabino. Depois, o bumba-meu-boi e os ternos de reis descem a rua principal, param de porta em porta, saudando os moradores, pedindo permissão para entrar. Dançam e cantam na sala em louvor dos donos da casa. Cálices de licor, copos de cerveja, goles de cachaça são servidos ao vaqueiro, ao boi, à caapora, às pastoras do arrebol.

Improvisada orquestra, paga pela prefeitura, composta da harmónica de Claudionor das Virgens, do cavaquinho de Natalino Preciosidade, da viola de Lírio Santiago, toma lugar no estrado, ocupando cadeiras emprestadas por Laerte, ataca músicas de dança, variadas, para todos os gostos, logo surgem os pares.

- Olhem quem está dançando! – Astério aponta Osnar que comprime nos braços de macaco uma cabocla esfogueada, novinha, a saia no joelho, as pernas grossas.

- Sujeito mais sem vergonha – rosna dona Carmosina, furiosa por não ser ela a felizarda comprimida contra o peito do debochado, ai!

O assustado se anima, vários pares rodopiam no estrado. O cavaquinho chora num convite. Leonora olha para Ascânio, ele sorri, ele sorri, ela murmura, a voz rompendo cristais:

- Vamos…

Sobem ao tablado, a harmónica ataca a marchinha carnavalesca, Leonora desliza, os olhos semicerrados. Ascânio conduz o corpo leve da moça preso ao seu, os cabelos soltos tocam-lhe o rosto, sente-se o hálito cálido, noite gloriosa. A dança conquista a praça, generaliza-se. O engenheiro da Petrobrás, doutor Pedro e dona Marta, a esposa, incorporam-se aos dançarinos. Dona Edna aceita o convite de Seixas com o consentimento de Terto – e ele que se fizesse de besta e não consentisse! Dona Etna exige do marido compreensão e cortesia. Seixas a enlaça, ela adianta a coxa, mais audaciosa a cada rodopio. Quem acha, encaixa, diz Osnar e Seixas executa.

Cerimonioso e grave, o vate Barbosinha estende a ponta dos dedos a Tieta, solicitando o prazer da contradança. Diante do que, Elisa consegue decidir Astério e dona Carmosina exige de Aminthas o sacrifício:

- Me tire para dançar seu mal-educado.

- Vamos Elizabeth Taylor, mas tenha piedade dos meus pés.

- Cretino!

Os ternos de reis voltam à praça, dissolvem-se no estrado. Fidélio dança com a porta-bandeira do Sol do Oriente em busca do arrebol. O vaqueiro em seu cavalo Zaino, o boi, a caapora, correm atrás do bando de meninos chefiados por Peto. Ricardo ficou em casa, fazendo companhia à mãe. Depois do rosário, na rede espera a volta da tia.

Esgotadas as possibilidades de cachaça, Bafo de Bode retira-se da praça cada vez mais animada, a dança pegando fogo!

- Eta-ferro! Hoje vai ter movimento na beira do rio… - equilibra-se para aconselhar: - Mete os peitos, Ascânio, seja homem!

Desaparece no beco mas ainda se lhe escuta a voz podre e moralista:

- Toma cuidado, Terto, para não arrancar os fios da luz com os chifres…

Para o que diz Bafo de Bode, ninguém liga, advertência e sugestões perdem-se na música da harmonia, do cavaquinho e da viola, no júbilo da festa, na paz da noite de Agreste,

Alcóol

















Um indivíduo, bêbedo que nem um cacho, foi mandado parar para um teste de alcoolemia. 


Diz o guarda: 

- O sr. bebeu alguma coisa hoje? 

- Com certeza sr. Guarda. 

A minha sobrinha casou hoje e antes de ir para o casamento enfiei logo umas cervejolas. 

No banquete enfiei umas 3 ou 4 garrafas de tintol e à noite na festa bebi 2 garrafas de Johnny Walker rótulo preto. 
Hic!!! 

- E o sr. sabe que eu sou da Brigada de trânsito e isto é um controle de alcoolemia? 

- Sei perfeitamente sr. Guarda. 

E o sr. Guarda já reparou que este carro é inglês, tem o volante do outro lado e quem está a conduzir é a minha mulher? 


Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)





Episódio Nº 253






















Afonso Henriques ainda se sentia culpado pela morte do marido de Chamoa. Apaixonado pela rapariga aniquilara o único homem que lhe poderia contar o segredo da relíquia.

Depois de um curto e embaraçado silêncio, perguntou:

 - Devo ser vassalo do meu primo Afonso VII ou lutar contra ele?

Dona Teresa defendeu que o filho deveria batalhar por aquilo que era de seu pai e dela, fosse no Sul contra os sarracenos, fosse no Norte, na Galiza, Lisboa e Santarém eram dos portucalenses; Zamora, Astroga, Tui, Límia e Celanova também.

Incomodado o príncipe levantou-se.

Mas Fernão Peres quer guerrear-me para me tirar essas terras!

Dona Teresa baixou os olhos, nunca seria capaz de dizer uma palavra contra o dono do seu coração. Então, o príncipe relembrou que se a mãe o tivesse deixado casar com Chamoa, não teria existido guerra.

- Quer queiram ou não, irei casar com ela! – acrescentou.

Dona Teresa reagiu àquela afirmação intempestiva com uma careta repugnada, que a fez parecer ainda mais zangada e envelhecida.

- Chamoa não é mulher para vós. É uma tola só pensa em homens!

- Quem sois vós para falar assim?

Dona Teresa ignorou-o e defendeu que qualquer casamento era uma aliança: faziam-se filhos para termos quem nos acudisse na guerra.

Amigos e amores eram coisas diferentes. Ainda por cima, Chamoa, já tinha três filhos de Paio Soares. Indignada, como se fosse uma mãe que zela pelo futuro de um filho casadoiro, acrescentou:

 - Roma jamais aceitaria o vosso matrimónio. Se desejais ser rei, despojai uma princesa estrangeira, não uma galega duvidosa, que até no mosteiro dorme com o primo, o Mem Touges!

O príncipe olhou-a, intrigado. Porquê tanto asco à rapariga? E seria verdade que a rapariga se encontrara com o primo? Depois de novo ataque de tosse, Dona Teresa avisou-o:

 - O Fernão e o arcebispo Gelmires que já nos roubaram muitas relíquias no passado, vão procurar a que meu marido trouxe da Terra Santa. Querem oferecê-la a Afonso VII quando ele for coroado imperador.

Colocando no rosto um sorriso cínico reforçou a intriga:

 - Sabeis quem os ajudou? Chamoa! Só ela sabia o segredo do marido! Traiu-vos, está feita com o tio e o Gelmires!

Enervado com a possível deslealdade da rapariga galega, Afonso Henriques fez um esforço para reprimir os seus sentimentos, e imaginou um futuro alternativo.

Lembrando-se do que Mem lhe contara depois da viagem à serra morena, sugeriu:

- Posso sempre desposar uma princesa de Córdova.

Dona Teresa esboçou nova careta desdenhosa. Já sabia que Zulmira morrera e o califa de Marraquexe continuava a tentar eliminara as filhas dela, mas não esquecera as bulhas antigas entre as crianças.

Se bem me lembro a Fátima odeia-vos.

Depois, quase espantada, perguntou:

- Quereis casar com a mais nova, a Zaida.

Afonso Henriques fez uma pausa antes de dizer, num tom solene que muitas vezes usava quando se referia ao seu célebre avô:

 - O imperador da Duas Religiões casou com a moura Zaida. O neto de Afonso VI pode também casar-se com a neta dessa Zaida.

Não esqueçais que a filha de Zulmira é também neta do último califa de Córdova. Se eu desposasse a princesa Zaida reinaria não só no condado Portucalense, mas também nas taifas de Sevilha, Badajoz e Mértola. Lisboa e Santarém voltariam a ser nossas sem guerras!


quinta-feira, abril 28, 2016

Woody Allen, o génio.
Na minha próxima vida...





















Na minha próxima vida quero começar tudo de trás para a frente:





Começar morto, para despachar logo o assunto.

Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa.

Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.

Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo.

E depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bebé inocente até nascer.

Por fim, passo nove meses flutuando num spa de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que passa, e depois, Voilà! desapareço num orgasmo.

O Gajo de Alfama...


A Grande Diana Ross



Tieta do Agreste
(Jorge Amado)

EPISÓDIO Nº 132
























Cresce o hino sobre a praça e o casario na voz das crianças e dos populares. Se ninguém der um viva a Ascânio, eu perco a vergonha e dou! – ameaça Leonora em pensamento, revoltada com tanta ingratidão.

Chega a vez de padre Mariano, acolitado por Ricardo em vermelho e branco, galante e piedoso. Bendito seja Deus! Suspira dona Edna, ao lado de Terto, seu marido (não parece mas é). Os olhos de Cinira pregados no coroinha, nas partes aquela comichão.

Também Tieta contemplou o sobrinho e sorriu. Não teme as rivais, seu único rival é Deus e entraram em acordo, para Deus a alma, o corpo, para a piedosa tia.

Padre Mariano benze o jardim, o obelisco, a praça, todos os presentes. Reserva bênçãos especiais para o nosso ínclito chefe, o coronel Artur de Figueiredo, para o benemérito munícipe Modesto Pires, para a generosa, exemplar ovelha da nossa paróquia, Dona Antonieta Esteves Cantarelli, e para sua gentil enteada. Que não lhes falte jamais a graça do Senhor, amem. Gotas sagradas sobre as cabeças mais próximas, adianta-se Perpétua para recebê-las.

O engenheiro da Petrobrás, doutor Pedro Palmeira, usa da palavra para agradecer, em nome do sogro. Refere-se à paz e à beleza de Agreste: que jamais sejam conturbadas pelos horrores de um mundo de violência. A barba negra, os cabelos longos, na moda, também ele provoca olhares, apetites e frustrações. Ao lado, de sentinela, a esposa, filha do lugar, conhecedora.

Por fim discursa Ascânio Trindade, em representação do coronel Artur de Tapitanga, cuja voz não mais alcança as alturas indispensáveis aos tropos oratórios.

Inflamado, buscando inspiração nos olhos de Leonora, prevê dias de glória, gloriosos e iminentes, para Sant’Ana do Agreste. Os prezados concidadãos podem-se alegrar, pois próximo o fim do marasmo e da pobreza, das dificuldades, da pasmaceira.

É possível que se localize em Agreste a sede de um novo pólo industrial a ser implantado no Estado da Bahia, a competir com o Centro Industrial de Aratu, nas proximidades da capital. Volverão os tempos da fartura, novamente teremos motivos de orgulho, nosso rincão bem amado resplandecerá, luminosa estrela no mapa do Brasil.

- Que diabo o Capitão Ascânio está arquitectando? – Pergunta Osnar.

- Ele está escondendo leite.

- Escondendo? Bem, Ascânio ainda não quer divulgar os planos da empresa de turismo, parece que são formidáveis – retruca dona Carmosina.

- Ele se referiu a pólo industrial.

- Força de expressão. Você não vai negar que o turismo é hoje uma indústria da maior importância – Dona Carmosina explica: - O que acontece é que Ascânio está apaixonado.

- Baratinado… - concorda Aminthas.

Com um brado vibrante: Salve Sant’Ana do Agreste! Ascânio encerra a fogosa e confusa oração. Do fundo da praça Modesto Pires, chega a voz de cachaça de Bafo de Bode no tardio viva:

- Viva Ascânio Trindade e viva a sua namorada! Quando é o casório, Ascânio?

Leonora enrubesce em meio aos risos de Elisa e dona Carmosina. Livres dos discursos, moças e rapazes aos pares, de mãos entrelaçadas, circulam no passeio, inaugurando-o de facto. Leonora fita Ascânio, estende-lhe a mão, mais um par de amorosos a contornar a praça. Dona Carmosina suspira, comovida.

Da casa de Laerte Curte Couro saem improvisadas garçonetes, funcionárias do Curtume, com bandejas de pastéis, empadinhas e cálices de licor. Servem aos convidados de honra, oferta de modesto Pires. O coronel Artur de Tapitanga senta-se num dos bancos verdes, de ferro, confidencia a Antonieta, enquanto lhe alisa a mão e examina os anéis – são verdadeiros ou falsos os brilhantes? Se verdadeiros, valem uma fortuna:

- Meu afilhado Ascânio vai acabar maluco com essa história de turismo.

A Ninfomaníaca

















Um homem chega desesperado ao terapeuta:

- Doutor, já não sei mais o que fazer. Não aguento mais. A minha mulher está a acabar comigo. Ela quer sexo a toda hora, todo minuto, é na cama, é na sala, na cozinha, no banho... Ela só pensa em sexo... o que posso fazer?

- Bem, meu senhor. A única solução é o senhor estipular um preço. Depois de algumas vezes, o dinheiro acaba e ela vai ter que se conformar.

Ao chegar a casa, a esposa já o esperava só de baby-doll. Ele mais que depressa falou logo:

- Mulher, de hoje em diante, só pagando. Na cama são 50€; no sofá são 25€ e no tapete 5€

A esposa vai até à carteira e tira 50€. O marido respira fundo e diz:

- Muito bem meu amor, vamos então para a cama!

Ela responde:

- Não, não. Eu quero 10 aqui no tapete!

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 252





















Braga, Novembro de 1130





Em finais de Outubro desse ano, Afonso Henriques foi chamado de urgência a Braga, pois sua mãe estava a morrer. Depois e uma ano presa em Lanhoso, Dona Teresa ainda subira à Galiza, acompanhando o seu amante, mas adoecera, entretanto, rumando à cidade arcebispal para se tentar curar de um mal de respiração.

Já Fernão Peres de Trava continuava a engendrar a sua desforra contra os portucalenses. Agora, que seu pai, Pedro Froilaz morrera, era o mais poderoso rico-homem da Galiza e aproximara-se de Afonso VII, tentando convencê-lo a subjugar o irrequieto primo.

Quando naquele dia chegámos a Braga, dei-me conta de que o meu melhor amigo não voltara a ver a mãe depois da batalha de São Mamede. Antes uma presença tão turbulenta e determinante, desde essa data a rainha já nada contava no governo do Condado.

O príncipe perdoara-lhe os desvarios do passado mas sentia pouco afecto por ela. A sua verdadeira mãe fora Dordia,  a minha mãe e de Afonso e Soeiro.

Dona Teresa sempre o ignorou, o tratou com distanciamento, com pouco carinho ou ternura, e era difícil ela amá-la de volta. Os danos irreparáveis eram anteriores ao Trava, que só cavara um fosso ainda mais profundo.

Apesar de um esforça final do príncipe, a última conversa que tiveram não fechou as feridas existentes, como sempre escreveram os cronistas do reino.

Afonso Henriques aproximou-se da cama de Dona Teresa e viu aquela mulher pálida, magra, quase cadavérica, mas não sentiu nenhuma comoção especial, apenas uma vaga pena.

A sua mãe fora bonita mas a doença envelhecera-a. Impressionado, esboçou um ligeiro esgar de espanto, o que a levou a lavrar um imediato protesto.

- Fazeis-me sentir ainda mais velha!

Sem o olhar Dona Teresa perguntou-lhe:

- Vindes pedir-me perdão por me teres lançado a ferros?

O filho sentou-se na borda da cama, e suspirou.

-Não venho pedir perdão mas posso dá-lo. E vós também mo podeis dar pelos erros que ambos cometemos.

Ela sacudiu-se com uma tosse profunda e cavada, perigosa e letal, que a fez cuspir sangue. Não iria durar muito, a sua hora chegara, mas depois de se acalmar constatou:

 - Sois muito orgulhoso. Vosso pai também era assim.

Afonso Henriques olhou-a, desiludido. O amor entre eles nunca existira, mas queria aproveitar aquela última oportunidade para uma pacífica despedida e alguns esclarecimentos essenciais.

 - Foi Dona Urraca que envenenou meu pai? – perguntou.

Ouviu-se o zumbido da respiração de Dona Teresa, quando afirmou:

 - Vosso pai zangou-se com minhas irmã, exigindo ficar com a Galiza. Dizia que tinha uma relíquia sagrada, que iria dar-vos, ao futuro rei dos portucalenses, que com ela expulsaria os infiéis para alem de Lisboa!

A mãe de Afonso Henriques riu-se, como se aquilo fosse absurdo, o que lhe provocou novo ataque de tosse, no final do qual voltou a falar.

Minha irmã quis obrigá-lo a revelar onde escondera a relíquia, mas ele nunca cedeu. Dias depois começou a espumar da boca um líquido escuro. Eram os efeitos da peçonha.

O príncipe de Portugal interrogou-a:

- A ideia de o envenenar era conhecida de vós?

Dona Teresa jurou que não.

Posso ter muitos defeitos mas jamais mataria o meu marido.

Então, o príncipe perguntou-lhe se sabia onde o pai escondera a relíquia que trouxera da terra santa, e ela disse:

 - Sei que meu marido parecia outro homem desde que voltou de Jerusalém. Mas não sei onde a escondeu. Desconfio que Paio Soares sabia mas morreu às vossas mãos.


quarta-feira, abril 27, 2016

E ainda faz mal à saúde...
Pessimismo...





















Quando leio no jornal que vieram a Lisboa mais 12.000 turistas em 2015 do que no ano anterior mas que gastaram menos, assalta-me um pensamento pessimista, mas, quando mais à frente, fico a saber que o 2014 foi um ano excepcionalmente bom, arrepio o pensamento pessimista e fico mais descansado.

A realidade é tão complexa que os juízos não podem ser precipitados. Mesmo no mundo das coisas concretas, como são os números, há um enorme grau de subjectividade porque nada é precisamente aquilo que parece ser.

Ninguém tem toda a razão porque não há uma única razão, depende do lado por onde se olha e do estado de espírito com que se olha.

A direita, que é oposição em Portugal, acusa o governo de António Costa de que é optimista o que, aparentemente, até deveria ser bom... os pensamentos positivos puxam as pessoas para cima, não é ?...!

Eu, e a maioria das gentes, prefere pessoas optimistas, dispõem melhor nos seus contactos com os outros... passam mensagens positivas... mas a direita, quando está na oposição, pretende  fazer-se de séria e responsável e nada melhor para isso do que ser pessimista.

Pessimismo e optimismo são estados de espírito, pensamentos, maneiras de sentir, nada mudam... aparentemente!

Na realidade, condicionam as expectativas e estas são importantíssimas para os mercados, para a economia e para a vida.

A intenção do governo ao ser optimista é criar um estado de espírito que seja favorável à economia que não se dá bem com os estados depressivos.

Já a oposição vê no optimismo irresponsabilidade, ligeireza, incompetência, como se a vida fosse toda uma enorme chatice...

Se estou dominado por pensamentos pessimistas fico acabrunhado, baixo a cabeça, meto os olhos no chão e em vez de um sorriso o que sai é um olhar frio, inexpressivo a que, antigamente, se chamava: - “cara de despedir hóspedes”.

Todos decidimos, mais ou menos, com base nas expectativas criadas pelos pensamentos, optimistas ou pessimistas. Por alguma razão, os jovens, na força da idade, com toda uma vida pela frente, tenderão a ser optimistas e os velhos, com um limitado horizonte, só terão razões para ser pessimistas.

Lembro-me de um conceituado técnico economista/financeiro, que veio de Bruxelas para ser Ministro das Finanças e a sua primeira preocupação foi dizer aos portugueses, através dos ecrãs da televisão, martelando nas palavras: - “vou proceder a um enorme agravamento de impostos” – estão recordados com certeza...

Passado pouco tempo, escreveu-nos uma carta a confessar o fracasso da sua estratégia e foi-se embora para onde tinha vindo, um gabinete lá na Europa.

O que esperava o senhor? – Ao dizer o que disse, baixou-me tanto as expectativas, criou-me um tal pessimismo no estado de espírito, que a minha espontânea reacção foi fechar-me dentro de casa e guardar todo o dinheiro para lhe pagar o “enorme agravamento de impostos” porque, como toda a gente sabe, com as Finanças não se brinca.

Estão mesmo a ver o que acontece a uma economia e a um país em que as pessoas, amedrontadas, pessimistas, se retraem para conseguirem pagar os impostos que aí vêm.

Talvez haja razões, realisticamente falando, olhando para o que vai por esta Europa e este mundo, para se ser pessimista... talvez, mas não me parece que seja essa a atitude correcta.

Faz muito bem o governo em ser optimista, despertar pensamentos positivos, a vida é curta e os raios de sol que nos aquecem nestes lindos dias de primavera são um apelo à vida.

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