sábado, fevereiro 02, 2008

A Morte do Islão


A Morte do Islão

Miguel Sousa Tavares, na última edição do Expresso esqueceu os protestos contra a nova lei que proíbe fumar nos espaços fechados e oferece-nos uma reflexão sobre o Islão a propósito da “guerra santa” que os radicais islâmicos, sob a inspiração de Osama Bin Laden, desencadearam contra o Ocidente e que vale a pena transcrever:


“…E pela enésima vez, penso nesse insondável mistério da história: porque é que uma derrota militar, (a conquista de Granada aos mouros em 1492 pelos Reis Católicos) e mesmo a retirada para o lado de lá do estreito, foi capaz de significar a morte de uma civilização tão brilhante quanto a civilização árabe da Península?

Para onde foram os geógrafos, os cartógrafos, os físicos, os astrónomos, os matemáticos, os arquitectos, os construtores de jardins que fizeram o apogeu do Al -Andaluz?

Que imensa nostalgia ou letargia pode justificar um tão grande sono de mais de quinhentos anos, durante os quais podemos contar pelos dedos de uma mão os árabes que deram um contributo ao avanço da ciência, da arte, da civilização humana?

A verdade é que, no mesmo ano da conquista de Granada, os Reis Católicos lançaram-se na aventura das Índias e, meia dúzia de anos depois, os portugueses lançaram-se à descoberta do Brasil e da rota marítima para a Índia. E esse foi apenas o começo de uma civilização que, desde então, não parou de avançar e de descobrir coisas novas, desde vacinas e tratamento de doenças até à lua e ao espaço, da construção de cidades e países inventados no outro extremo do mundo até aos computadores e às telecomunicações instantâneas.

E o que fez o mundo árabe durante todos estes séculos? Descobriu que tinha petróleo…

Penso nisso agora, também ao ouvir as notícias de que, mais acima, em Barcelona, a polícia desmantelou uma rede terrorista da Al-Qaeda que se preparava para fazer atentados suicidas no Metro de Barcelona. Uma dúzia de paquistaneses tinha atravessado meio mundo para virem matar inocentes, homens, mulheres, crianças, cujo único crime é o de não se guiarem pelos mandamentos do Profeta. Que sentido faz isso, que legitimidade pode haver no terrorismo islâmico?

Como é que um livro sagrado, escrito há mil e quatrocentos anos, pode servir para legitimar a cobardia e a loucura terroristas?

Como é que povos regra geral tão miseráveis, em estado de desenvolvimento económico e cultural tão lastimável, podem ter como desígnio primeiro lançar bombas bombardear as nossas cidades, fazer explodir os nossos transportes, ensinar às sua crianças nas madrassas o ódio e o resgate divino pelo terror, em lugar de se ocuparem em formar médicos, cientistas, poetas, dar às mulheres condições de dignidade humana, construírem cidades habitáveis com um mínimo de dignidade, dotarem-se de sistemas políticos em que o poder é escolhido pelos cidadãos e não usurpado por uma casta teocrática de barbudos que odeiam a vida e tudo o que representa o progresso e a harmonia que os seus antepassados celebraram no Al- Andaluz?

Podemos, se isso ainda fizer algum sentido para eles, pedir desculpa pelas Cruzadas- que foi um momento de barbárie e estupidez, como são sempre os actos ditados pelo extremismo religioso. Podemos pedir desculpa pela Palestina, pelos campos de refugiados de Gaza, põe essa absurda invenção que foi a criação do Estado de Israel nos territórios há séculos habitados por palestinianos. Podemos e devemos pedir desculpa por coisas tão idiotas como a invasão e a ocupação do Iraque, decidida por meia dúzia de políticos mentirosos e ignorantes.

Podemos pedir desculpa por este capitalismo globalizado que transforma uma crise financeira provocada pela ganância de alguns banqueiros americanos numa crise económica mundial que vai sobretudo atingir povos que tentam sair do subdesenvolvimento à custa de imenso trabalho e sacrifícios.

Mas teremos, também, de pedir desculpa pela queda de Granada em 1492? Teremos de pedir desculpa por termos feito a Revolução Francesa e a Declaração Universal dos Direitos do Homem?

Por termos separado o Estado e a Igreja, por há termos abandonado o espírito das Cruzadas e da luta contra “o infiel”, por tratarmos as nossas mulheres em igualdade com os homens, ou por termos padrões de comportamento sociais e culturais que são diferentes mas que respeitam também a diferença do outro?

Teremos de regredir à Idade Média para que os guardiães do Islão deixem de nos querer ver mortos e aniquilados?

Nos jardins árabes de Córdoba, nos pátios e muros do Alhambra, há uma promessa de eternidade que não foi cumprida pelos descendentes dos seus construtores.

Onde estão hoje os Jardins Suspensos da Babilónia? Onde está a harmonia, o equilíbrio, a homenagem à vida que o Islão espalhou por toda a Andaluzia? Como é que deixaram que o Corão se transformasse num Código Penal irracional e num catálogo para terroristas? “Tu não verás nenhuma intervenção na obra do Senhor”- qual é a obra do Senhor no 11 de Setembro em Manhattan, ou no 11 de Fevereiro em Madrid, na estação de Atocha?

E tudo isto para quê? Para reclamar uma pífia vitória: trazem-nos cativos das suas ameaças, transtornar a nossa vida quotidiana à escala global, fazer do mundo outrora livre um mundo cada vez mais vigiado e policiado e fazer com que cada vez mais pessoas em todo o mundo associem o Islão à ideia de terrorismo e fanatismo? Não haverá ninguém, nenhuma voz autorizada e lúcida, no mundo islâmico que se dê conta de que o Islão se vem destruindo a si mesmo?"


Na verdade, todas estas interrogações vão assumindo cada vez maiores proporções no espírito de todos nós, incluindo os árabes espalhados por todo o mundo, porque esta voragem assassina e irracional, não serve os interesses de ninguém para além dos fanáticos líderes do movimento que perante as mortes e o terror que provocam devem sentir um prazer mórbido só possível em mentes doentias.

Em termos históricos é comum que impérios nasçam e depois de séculos de domínio desapareçam como potencias dominantes deixando atrás de si os rastos da sua cultura disseminada nos povos que dominaram…o que é perfeitamente inédito é que alguém pretenda fazer renascer um império muitos séculos depois através de um processo de morte, terror e obediência cega em nome de um Deus e de um texto escrito há mil e quatrocentos anos.

Todas as religiões, em especial as monoteístas, encerram perigos porque, ao contrário do que se possa pensar, as pessoas, procurando pela adoração de um Deus ficar mais fortes, tornam-se dependentes e portanto mais frágeis e, acima de tudo, manipuláveis e obedientes e por isso perigosas.

A liberdade fica coarctada e condicionada, criam-se cisões de graves consequências entre os seguidores de várias religiões e dentro de cada uma delas entre as diferentes facções, a capacidade altruística fica grandemente prejudicada pois uma coisa é agradarmos a nós próprios e outra é agradar a um deus qualquer e ainda mais com uma expectativa de retorno o que prejudica a sinceridade e genuinidade dos comportamentos.

O Império Árabe iniciou-se a partir da religião islâmica fundada pelo profeta Maomé sendo que, antes dele, a Arábia era composta por povos semitas que viviam em tribos falando a mesma língua mas com diferentes estilos de vida e de crenças.

Após a morte do Profeta em 632 a Arábia foi unificada por força da doutrina religiosa islamita e iniciada a expansão do Império Árabe em obediência ao livro sagrado do Alcorão cujos seguidores acreditavam que deveriam converter todos ao Islamismo através da Guerra Santa e, firmes nesta crença, expandiram a sua religião ao Iémen, Síria, Omã, Egipto, Palestina, grande parte da Península Ibérica até que em 732 foram travados pelos Francos, Carlos Martel na batalha de Poitiers, que barraram a sua expansão pelo norte da Europa e a partir daqui foram progressivamente perdendo parte do seu poder e força.

Durante o período das conquistas, ampliaram o seu conhecimento através da absorção da cultura de outros povos, levando-os adiante a cada nova conquista. Foram eles que espalharam pela Europa grandes nomes como Aristóteles e outros da antiguidade grega. Fizeram importantes avanços e descobertas médicas e científicas que contribuíram para o desenvolvimento do mundo ocidental. No campo cultural, artístico e literário deixaram igualmente grandes contribuições.

Mil e seiscentos anos depois os terroristas da Al-Qaeda, talvez saudosos de todo este esplendor e importância, resolveram retomar a Guerra Santa contra os ocidentais e todos aqueles, mesmo do seu próprio povo, que não alinhe com os seus objectivos e métodos bombistas e hoje já ninguém tem dúvidas que estamos mesmo envolvidos numa guerra que nos é movida pelo terrorismo islâmico que, na opinião de Miguel Sousa Tavares, está destruindo o próprio Islão.

O clima que se instalou é de medo, um medo legítimo perante esta erupção global de ódio islâmico infelizmente alimentado pela política desastrosa dos Estados Unidos com a invasão do Iraque.

Sem dúvida que há muito a rever nas relações entre a Europa/ Estados Unidos e os países árabes que podem, pelo menos, deixarem de constituir mais achas para a fogueira mas, a partir de agora, e tendo a situação chegado ao que chegou, é o próprio mundo árabe moderado, nas pessoas dos seus chefes políticos e religiosos, que tem de intervir com determinação neste problema pois o futuro que lhes está reservado é de um retrocesso a todos os níveis que sendo igualmente mau para nós será ainda bem pior para eles.


O reverendo Fred Line, australiano, que pediu uma moratória à imigração islâmica e a realização de estudos para verificar se o Islão é ou não violento, recebeu várias ameaças de morte. O quê? O Islão é violento? Repetes isso e és um homem morto!!! .......












domingo, janeiro 27, 2008

A Matança do Porco



A Matança do Porco




A vida dos povos é como a água dos rios: tanto uma como outra flúem. A água dos rios ao sabor da marcha dos terrenos e a vida ao sabor dos “tempos” e “tempos” é tudo o que determina, influencia e explica as nossas existências num emaranhado de razões a que se convencionou chamar os “tempos”.

E tempos houve em que alguém, vivendo entre os povos do norte de África e percebendo que os porcos que, de porcos, só têm o nome e pelo contrário adoram chafurdar no meio das poças de água, decidiu que eles não eram bem-vindos àquelas paragens face à escassez do precioso líquido.

A proibição assumiu mesmo uma tal importância que foi o próprio profeta Maomé que a impôs a todos os seguidores da sua religião e, desta forma, se viu o porco livre daquele destino cruel que é o de nascer e ser criado para acabar com uma faca espetada no coração exactamente por aqueles que dele cuidaram com todo o desvelo desde tenra idade.

Mas como neste estremo da Europa a água era coisa que não faltava deixou de haver argumento que privasse os povos que aqui habitavam de aproveitar para a sua alimentação a carne mais saborosa de quantas a natureza criou, excepção feita aos javalis que faziam as delícias do nosso amigo Obelix.

O porco é um dos primeiros animais domésticos e entre nós adquiriu uma importância que ultrapassou em muito a do seu valor alimentar para se constituir num factor de natureza sociológica e cultural.

No norte do país dizia-se que um indivíduo era tão pobre que nem tinha um porco para matar e por alguma razão os mealheiros antigos, de barro, tinham a configuração de um porco já que ele assegurava, ao longo de um ano, preservado em sal, na sua própria gordura ou fumado, as deliciosas proteínas constituindo aquilo que na aldeia dos meus avós, na Beira Baixa, chamavam “o governo” da casa.

Mas antigamente as pessoas eram muito pobres e poucas eram aquelas que conseguiam criar e matar um porco e eram os ricos que distribuíam por eles alguma carne para lhes adocicar um pouco a boca.

Até à década de sessenta a matança tradicional era uma simples festa familiar ou uma refeição de trabalho festiva em que se comiam as partes mais perecíveis que não eram salgadas nem fumadas como o sangue, o fígado e pulmão para além da carne velha do porco do ano anterior que ainda sobrava na salgadeira.

Esta situação traduzia a escassez que então se vivia e daí o ditado: “ossos de suão, barba untada, barriga em vão”.

Só a partir daquela década, com algum desafogo proveniente da emigração, é que as Festas da Matança do Porco adquiriram uma dimensão que variava em função das posses de cada um podendo agrupar, as mais pequenas, entre 10 a 12 pessoas das quais faziam parte os familiares e vizinhos e as maiores, ao nível do Concelho, de 40 a 100 convivas.

As pequenas e médias Matanças tinham como função contribuir para o estreitamento do pequeno núcleo produtivo no seio da sua esfera habitual de entreajuda, enquanto que as grandes tinham a ver com questões de prestígio e de ostentação de riqueza das “antigas casas grandes”.

As tradicionais Matanças estão a desaparecer e são muito poucos aqueles que levam à risca os rituais desta prática comunitária em que participavam amigos e familiares e que tantas saudades me deixou quando, em rapazinho, participava nelas em casa dos meus avós.

Mais uma vez são os “tempos” que levam coisas e trazem coisas a tal ponto que os regulamentos da Comunidade Europeia proibiram que as tradicionais Matanças do Porco, mesmo as de âmbito familiar, pudessem acontecer sem a presença de um veterinário para atestar o estado de saúde do animal e as condições sanitárias (?!?...?!?).

Que exagero, que falta de ligação à realidade…então, não são os próprios donos do animal que o alimentam e acompanham diariamente que logo chamam o veterinário se ele deixa de comer ou apresenta alguma anomalia no seu comportamento?

E quanto às condições sanitárias alguém espera encontrar um mini matadouro para além de um armazém varrido e lavado mais a banca de matar o porco e as facas próprias para cada desempenho devidamente afiadas?

Mas desta vez os nossos representantes em Bruxelas bateram-se galhardamente na defesa das nossas tradições que estavam condicionadas desde 2003 e a título excepcional já corre um Edital pelas nossas Juntas de Freguesia a autorizar o abate caseiro do porco sem interferência da autoridade veterinária.

Uf… que alívio, já posso novamente pensar em deliciar-me com o “arroz do osso do peito” e a “semineta” confeccionados pela mão experiente da Sra Maria, do porco que foi morto pela facada certeira do tio Margalho sem corrermos o risco de irmos todos presos.

Mas isto sou eu a pensar…porque já não há pocilga, não há porco e a Sra Maria e o tio Margalho há muito que morreram….

Para mim, restam as saudades das pessoas e dos sabores, em suma… a saudade daqueles “tempos”.






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