quinta-feira, novembro 10, 2005

O mistério da fé

  • Anatomia de um crente

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Este mail foi-me inspirado, mais uma vez, pelo programa dos “Prós e Contras” em que o tema, por que respeita a convicções religiosas numa sociedade de forte tradição e influência da Igreja Católica como a nossa, corre sempre o risco de excitar a sensibilidade de pessoas de maior fervor religioso para quem estes assuntos são dogma, não se discutem. Felizmente as coisas, nesse aspecto, evoluíram muito, o diálogo está aberto e já é possível abordar este tema sem crispação de maior e, acima de tudo, com respeito pelas posições e formas de sentir de cada um, como foi possível verificar pela conversa travada por José Barata Moura, assumidamente ateu, o Bispo D. José Policarpo e ainda Maria José Nogueira Pinto e António Pinto Leite ambos profundamente católicos.

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Claro que se percebeu a utilização de uma linguagem com “pinças” por parte de Barata Moura, quando tentava responder às questões que Maria José N. Pinto, desejosa de “brilhar” perante o seu Bispo, não resistiu à tentação de lançar perguntas de cariz desafiador, para não dizer provocador, que nada tinham de original e das quais não me parece, pela qualidade da resposta do interlocutor, que se tivesse saído lá muito bem, tendo mesmo suscitado a intervenção de D. José para um diálogo que a Dr.ª Fátima considerou de histórico, talvez porque ele aconteceu no seu programa…por mim, considerei-o demasiado erudito e por isso um pouco fora do entendimento da maioria das pessoas que o ouviram. Não tenho dúvidas que se ele tivesse tido lugar fora das câmaras da TV, sem tantos milhares de pessoas a assistir, a clareza teria, provavelmente, sido maior.

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Deixa-me então tentar dizer as cosias de uma forma simples por quem não é filósofo, catedrático ou bispo e falemos do que, neste assunto, constitui o cerne da questão porque, tudo o resto, decorre daí: O Mistério da Fé. E é mistério por três razões, a primeira das quais, é a fé em si mesma, a crença, o acreditar numa entidade suprema, todo-poderosa, que não é deste mundo mas que está na sua origem e estará no seu fim e, portanto, de carácter divino, senhor dos destinos de tudo quanto existe… a segunda razão para que a fé seja um mistério reside no facto de que só podemos chegar a ela por uma via meramente espiritual que não tem a ver com nenhum tipo de raciocínio, conhecimento ou pensamento ou seja, em matéria de fé, ou se tem ou não se tem.

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Finalmente, constitui ainda mistério porque eu não sei, nem ninguém sabe, porque razão a Dr.ª Maria José Nogueira Pinto é portadora dessa fé e o Doutor Barata Moura, eu e tantos outros não somos, quando eu, e falo por mim, nasci no seio de uma família católica, fui educado de acordo com os preceitos da religião católica, frequentei, enquanto rapazinho, o tão badalado colégio de jesuítas de S. João de Brito onde tomei a 1ª Comunhão, fui Crismado pelo Sr. Arcebispo de Metilene, fiz retiros, peregrinações à Cova da Iria, rezava o terço diariamente, confessava e comungava e, no entanto, não me fiz crente…

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Ao contrário da Dr.ª Maria José Nogueira Pinto que se sente a si própria, na qualidade de crente, como filha de Deus, eu sinto-me apenas como um herdeiro de um macaco que teve muita sorte em conseguir sobreviver num meio tão hostil face a tão poucos recursos de que dispunha mas que conseguiu evoluir através do desenvolvimento do seu cérebro que progressivamente lhe permitiu raciocínios cada vez mais elaborados até constituírem pequenos patrimónios de conhecimentos que foram passando de geração para geração, como um conto em que cada um lhe acrescenta um ponto e de tantos pontos que lhe foram acrescentados chegámos ao que somos hoje.

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Por outro lado, a Dr.ª Maria José Nogueira Pinto que em vida partilha dois mundos, um em que vive, outro em que acredita, tem, quando morrer, o segundo à sua espera e se nele for aceite será, para ela, a eternidade. Pobre de mim e de todos os não crentes para quem só nos espera uma cova funda com laje ou sem laje a cobri-la.

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Mas a Dr.ª Maria José está preocupada com a sociedade dos não crentes, diz que nós somos infelizes, tristes, que vivemos sem esperança e não disse mas pode ter pensado que pessoas assim, para alem de não possuírem nenhuma motivação para serem boas podem, até, facilmente, tornarem-se perigosas.

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Em resumo, o que a D.ª Maria José deixou perpassar no seu fervor religioso é que existem na sociedade dois tipos de pessoas, as crentes: boas, alegres, felizes, caridosas, radiantes de esperança, ricas na fé e no amor a Deus e as não crentes: tristes, infelizes, sem esperança nem motivos para a ter e até eventualmente perigosos, no seu todo, quem sabe, uma ameaça para o mundo.

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Não sei o que o Dr. Barata Moura teve vontade de lhe dizer e não disse mas eu dir-lhe-ia o seguinte:

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-Não foi minha opção ser não crente, não tomei nenhuma decisão nesse sentido mas não sou capaz de amar Deus que não conheço nem entendo e, muito menos, acima de todas as coisas, como me ensinavam no Colégio mas sou capaz de amar, com toda a naturalidade, qualquer semelhante meu, seja ele quem for, venha de onde vier e que traga um sorriso nos lábios e uma mão estendida, mesmo que não perceba patavina do que ele diz.

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- Olho à minha volta a natureza, especialmente aquela que conheci na terra onde julgo que nasceu, em África, e sinto por essa paisagem um respeito e uma tão grande admiração que, se fosse o seu Deus, ordenaria que ninguém lhe tocasse: nos seus povos, nos seus animais, nas suas árvores.

- E assim me basto no que me respeita a sentimentos e se não sou feliz é apenas porque os “objectos” do meu amor: o meu semelhante e a natureza não são bem tratados.

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- Quanto ao resto… sou eu, os meus amigos, os meus familiares e as minhas recordações…não terei conseguido encontrar Deus mas se foi ele que fez isto tudo, tiro-lhe o chapéu: magnífico na beleza e na complexidade e se morresse amanhã, sem esperança de encontrar outro mundo, dir-lhe-ia que a vida, e não importa se foi boa ou má, foi uma oportunidade maravilhosa e quanto ao outro mundo, sinceramente, bastou-me este…

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  • Amén...

quarta-feira, novembro 09, 2005

Costumes transtemporais: juventudes por viver


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Há dias, na televisão, uma jovem, entrevistada na rua sobre o magno problema do conflito de gerações queixava-se, a título de exemplo, que a mãe não a deixava sair à noite sem primeiro fazer a cama do seu quarto. Fiquei perplexo e só não ouvi outra vez para me certificar do que tinha ouvido porque não estava a gravar.

Eu sei que os jovens da minha geração, hoje avós desta jovem, eram autênticos meninos de coro quando comparados com os jovens deste tempo e sei que isso não foi bom para nós, os da minha geração. A autoridade e o respeito, pelo exagero de que se revestiam, constituíam-se, então, autenticas barreiras no conhecimento recíproco entre pais e filhos, e o amor que existia entre ambos, vivia envergonhado, temeroso, coarctado por normas de educação que impunham distância que levava a que, muitas vezes, simples manifestações de carinho, eram chamadas de pieguices.

Era também, um pouco, o reflexo da cultura do medo que se vivia na sociedade portuguesa e que era alimentada pelo regime de então que via com bons olhos os jovens crescerem medrosos e respeitadores da autoridade que tinha que começar em casa, com os pais, com os professores na escola, o polícia na rua e, finalmente, e, mais importante, com os governantes e o poder instituído - fosse ele qual fosse, estivesse ele onde estivesse: na Junta de Freguesia, na Câmara Municipal, atrás de um balcão na Repartição de Finanças e, muito mais, em um qualquer Tribunal, porque aí julgavam-se os delitos e condenavam-se as pessoas.

A juntar ao medo e ao respeito por tudo quanto fosse autoridade tínhamos, depois, os bons costumes dos quais, os jovens, eram as vítimas predilectas, porque mais fracas e indefesas, incapazes de utilizar os múltiplos esquemas que os adultos, especialmente os bem instalados na vida, utilizavam para se furtarem ao seu cumprimento sem que isso representasse grave problema de consciência. No máximo, matéria para a confissão sem lugar a grandes penitências porque, como todos sabem e os clérigos especialmente, a carne é fraca. Eça de Queiróz ensinou-nos muito a este propósito, e O Crime do Pre. Amaro foi um exemplo que perdurou no tempo... A carne é fraca, como referi...

Afectadas e muito ficaram as relações entre os rapazes e as raparigas de então, impedidos de se poderem relacionar normalmente por exigência dos costumes e da moral vigentes que serviam para proibir e condenar tudo e mais alguma coisa. A tal ponto que, para se poder estar com a rapariga de quem se gostava, tinha que se casar com ela; para se estar com as “outras” - era muito mais fácil porque o Estado tinha providenciado umas casas onde estavam umas mulheres das quais ele, o Estado, cuidava do ponto de vista da transmissão de certas doenças. E também aqui já aprendemos e/ou recordámos algumas coisas com a peças (de alguns clássicos) levadas à TV pelo nosso amigo - e agora edil de Santarém, Moita Flores.

E isto, a propósito do conflito de gerações e das declarações da jovem entrevistada que “sofria na carne” as consequências desse conflito porque a mãe a queria obrigar a fazer a cama antes de sair para a noite conviver, em toda a liberdade, com os jovens da sua idade…

A esta jovem gostava eu de dizer, eu e os jovens da minha geração, hoje seus avós, que conflito, conflito, propriamente dito temos nós, não de gerações, mas com as nossas memórias, as memórias da nossa juventude que ficou por viver porque não tivemos uma mãe que se limitasse a pedir-nos para irmos fazer a cama antes de sairmos à noite conviver com a nossa namorada e com os nossos amigos.

E, já agora…, cumprimentos à sua mãe… e vá lá fazer a caminha e não pense mais nos conflitos de gerações ou, como se diz lá fora (cádentro) generation gap.

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segunda-feira, novembro 07, 2005

Rescaldo eleitoral. Olhar em frente


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Este mail é especialmente dedicado ao nosso comum amigo Jorge Zambujo a quem ainda não enviei umas palavrinhas depois das eleições autárquicas e das minhas férias, porque, mesmo na situação de aposentado, férias são férias e as eleições autárquicas já lá vão e daqui a pouco teremos aí as Presidenciais. Entretanto, pelo caminho, recordámos os relógios das nossas infâncias e cada um de nós deu o seu contributo para o ressuscitar de memórias (sim, também eu arregaçava disfarçadamente a manga da camisola para se ver o relógio da nossa vaidade) inevitavelmente corroídas pelo decorrer dos anos e as preocupações da vida. É uma pena que não apelemos mais vezes às nossas recordações da juventude porque a emoção que sentimos ao fazê-lo revela bem quanto elas nos são queridas.

Passamos por essa fase na ânsia desenfreada de querermos ser homens, pessoas crescidas e para isso imitamo-lhes os tiques, os gestos, as poses, as palavras e só mais tarde, muito mais tarde, percebemos que essa fase de imitação, que permite todos os sonhos e “castelos”, é a verdadeira e decisiva fase da nossa vida, aquela pela qual, mais tarde, suspiramos É caso para dizermos que andamos com as vidas trocadas… quando, finalmente, entramos na vida “a sério”, na hipótese boa, instala-se a rotina e o stress e, na maioria dos casos, os problemas que nos consomem e atormentam… é o desvanecer dos sonhos e o ruir dos “castelos”. Não sei se esta fase onírica da vida é comum a todos as pessoas e se, ela própria, não faz parte da formação definitiva da nossa personalidade, de qualquer maneira, ela é a fase mais brilhante da nossa existência porque, mesmo quando as “coisas” são más ou muito más nessa fase, o capital de esperança no futuro lá está para assegurar que vale a pena ir à luta…e a impulsionar-nos para a vida.

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Das eleições autárquicas retirei eu, e penso que todos, uma lição que nunca tinha ocorrido em eleições anteriores e que, na minha opinião, demonstrou, paradoxalmente, mais uma das virtualidades da democracia e que consistiu em mostrar melhor quem nós somos…”diz-me quem escolhes, dir-te-ei quem és”. Nunca anteriormente, alguém oficialmente suspeito de ilegalidades, inclusive arguidos e fugidos à justiça, se tinham submetido ao voto popular aproveitando uma lacuna da lei, julgávamos nós, dispensável. Afinal, em vários concelhos em que pessoas nessa situação se candidataram, exceptuando um, o voto maioritário dos eleitores foi exactamente para esses candidatos. Reagiu um dizendo:” o povo não me quis julgar” sendo que outra foi ao ponto de afirmar:” mas que linda lição de democracia demos a este país”... É este o ponto em que estamos…e, não fossem as liberdades democráticas, nunca viríamos a sabê-lo comprovadamente.

Acólitos arruaceiros do actual Presidente da Câmara de Oeiras assobiaram a Drª Tereza Zambujo na sua cerimónia de posse como vereadora… e eu pergunto se ninguém, com responsabilidades, se sentiu envergonhado nesse momento.

Temos ainda um longo caminho a percorrer como comunidade respeitadora de princípios que têm a ver com a nossa atitude perante a lei, a ética, o civismo, a educação... resta saber se o estamos a percorrer…e se na direcção certa.

Bem, mas nem tudo é mau, choveu em Outubro e o Novembro começou, igualmente, com chuva e espera-se que continue a chover, mesmo que eu não possa ir jogar ténis como aconteceu nas três últimas 5ª feiras… por uma boa causa não me importo.

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