sábado, outubro 11, 2008


A Crise…





Como se dizia, na aldeia dos meus avós, desta vez é que temos mesmo o “baile armado” e com uma tão grande “pista de dança” todos iremos “entrar na roda”.

Claro que aqueles que mais tinham irão, obviamente, perder mais que os restantes mas em termos de qualidade de vida deverá ainda sobrar o suficiente para poderem aguardar calmamente o regresso à normalidade que já não voltará a ser precisamente como a anterior.

Todas as análises e comentários que têm sido feitos sobre a situação actual deram já para compreendermos o que aconteceu, não obstante alguma complexidade de pormenor só acessível aos “experts” das finanças.

Alguns mesmo, oportunistamente, “atiraram-se” ao sistema de economia de mercado e ao capitalismo como se todos tivéssemos esquecido os resultados a que chegaram as experiências das economias estatizadas em que os Estados eram donos e senhores de tudo quanto produzia riqueza e os cidadãos não passavam de funcionários ou empregados de uma elite de senhores com poderes absolutos sobre tudo e todos.

É que, na realidade, não existem terceiras soluções e quaisquer “nuances”, por importantes que sejam, na regulação dos sistemas de mercado e financeiros, eles não devem ser postos em causa por uma razão muito simples:

- É que, apesar de todos os defeitos e riscos que encerram, são eles que se mostram compatíveis com as características idiossincráticas dos homens, fundamentalmente no que se refere à importância da liberdade, ao respeito pelos seus direitos e à livre iniciativa que permite a sua realização nos vários domínios da actividade humana.

Mas, como diz o ditado, “não há bela sem senão” e a liberdade tem destas coisas:

- Alguns senhores, com poderes de decisão em grandes Bancos americanos, toldados pela ambição desmedida e despidos de sentido de responsabilidade, escrúpulos e completa ausência de ética, aproveitando-se de oportunidades que nunca lhes deviam ter sido concedidas, embarcaram numa espiral de aventuras e engenharias financeiras que alastraram por todo o mundo com os resultados que agora estão à vista.

Ao que dizem, parece que eram jovens, provavelmente os mais bem classificados dos seus cursos, que foram atirados para esses lugares por outros senhores, esses não tão jovens mas sedentos de ambição, que esta não escolhe idades, com instruções para se comportarem como pitbulles dos accionistas e de chorudos prémios para eles.

Enfim, terá sido uma história triste que envergonha a democracia e que, mais uma vez, vem comprovar que um Estado democrata não pode abdicar, esquecer ou negligenciar a sua principal responsabilidade:

- Estar vigilante e defender os interesses e os direitos dos cidadãos em todos os domínios, porque os meus direitos terminam onde começam os direitos do meu vizinho e àqueles senhores foi-lhes permitido que infringissem este princípio e, com todas as probabilidades, impunemente.

O desenlace desta história triste é que a sua dimensão é tão grande, a corda foi esticada a tais limites, que todo o sistema de crédito bancário está ferido e a confiança perdida.

Aqueles que deviam ter desconfiado antes, e tinham boas razões para isso, não o fizeram, inebriados que estavam pelo dinheiro que entrava a rodos, agora suspeitam e desconfiam todos uns dos outros…e os cidadãos, os depositantes, já fizerem aumentar as vendas dos cofres para guardarem em casa o seu dinheiro por mais irracional que isso seja.

Se os governos dos Estados não conseguirem dotar os bancos de liquidez, se o crédito não fluir para as empresas, se a confiança não for minimamente restabelecida, o motor da economia como que deixa de ser lubrificado, e isso equivale a dificuldades nas empresas que, em alguns casos, passa pelo seu encerramento com despedimentos, desemprego e um profundo e perigoso mau estar na sociedade.

É inevitável, todos vão perder, mesmo aqueles que já nada tinham e vivem no limiar da subsistência podem agora morrer porque os países dadores de meios financeiros que ainda lhes vão permitindo sobreviver, podem cortar essas verbas por dificuldades resultantes da crise, e isto mesmo foi referido há poucos dias por António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.

Não sei, neste caso, se a globalização vai ajudar, diluindo a crise, ou pelo contrário, dificultar a recuperação pela generalização do mal.

De todos quantos se pronunciaram, e parece que já não falta ninguém, nenhum avançou ainda com previsões para o futuro desta crise, exceptuando o apelo generalizado à confiança que é necessário restabelecer como condição essencial para se sair dela mas, infelizmente, a confiança mostra um comportamento idêntico ao dos cavalos selvagens que não se deixam domar.

Tudo aquilo que cai no foro íntimo das pessoas revela-se de controlo muito difícil. Neste caso, o instinto de defesa dá lugar ao medo e este dificulta a capacidade de raciocinar friamente sobre as situações.

O resultado, são reacções e comportamentos exactamente contrários aos seus interesses, como se o cérebro bloqueasse e voltássemos milhões de anos atrás, aos animais que já fomos, lançados em pânico na direcção do precipício.

Esperemos que isso não venha a acontecer, esperemos que não tenhamos de pagar um preço tão alto pelas “brincadeiras criminosas” de “meninos muito espertos” que resolveram brincar com o dinheiro que não era deles e, acima de tudo, aproveite-se esta oportunidade como uma grande lição para o futuro.

Gerir Bancos e o Sistema Financeiro é uma actividade sujeita a grandes tentações e por isso os mecanismos de vigilância têm que ser completos e actuantes, nada pode ser descurado.

Se não for desta vez que se aprenda, se este calafrio de resultados ainda em suspenso não chegar, então teremos que concluir que a vida em sociedade, no estádio a que se chegou, tornou-se numa actividade alto risco.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Charles Trénet -- La Mer

Otis Redding -- I've been loving you

Frank Sinatra Moon River


Sobre a Agressão






Ler alguns Blogs não só constitui a utilização de um meio de cultura como também, por vezes, um factor de inspiração e de reencontro de pensamentos: foi o caso do Macroscópio.

Hoje, citando Manoel de Oliveira, podia ler-se naquele Blog, esta frase tão simples e óbvia como tocante de humildade e de verdade:

- “ Em casa falta-me espaço e na vida falta-me Tempo”

e o Rui Matos acrescenta depois, da sua autoria:

- “Se calhar Deus é o Tempo”.

É verdade, se eu tivesse que indicar uma qualquer entidade que correspondesse ao conceito de Deus, no seu significado de criador da vida, essa entidade, para mim, só poderia ser o Tempo porque, de facto, foi ele que a gerou.

Num texto anterior, com o Título, A Origem da Vida – O Replicador, no qual descrevi muito resumidamente a explicação científica que Richard Dawkins nos dá de como a vida se terá iniciado na Terra, numa versão idêntica à de todos os cientistas nesta área, escrevi, a propósito do aparecimento do Replicador, a tal molécula que tinha a propriedade extraordinária de fazer cópias de si mesma, que a probabilidade de ela ter surgido era tão remota como a de sair a qualquer um de nós, o Jackpot do Euromilhões.

Mas o Planeta Terra esperou, Tempo era aquilo que não lhe faltava, e por isso esperou dezenas de milhões de anos até que um dia, por fim, naquele “caldo primitivo” que eram os mares dessa altura, ao lado das restantes moléculas que já lá se encontravam a boiar surgiu, por acidente, uma diferente de todas as outras que se revelaria a verdadeira chave da vida e foi o Tempo, o mesmo que nos falta a nós, ao Manoel de Oliveira, para além de espaço na casa, que permitiu que isso acontecesse.

E como seria muito mais rico o património da humanidade se a alguns, pelo menos a alguns, tivesse sobrado mais algum tempo de vida…mas parece que entre nós só o Planeta Terra tem o exclusivo do Tempo.

Portanto, tem toda a razão o Rui Matos, foi o Tempo que gerou a vida e continuou a ser o Tempo que a fez e fará evoluir até quando… mais uma vez é um segredo do Tempo que ele revelará a seu tempo e isto, para mim, que não partilho de convicções religiosas, é o que mais se aproxima de Deus.

Uns dizem: “Só Deus o sabe”, e eu direi: “Só o Tempo o sabe”.



Mas vamos à Agressão e a Richard Dawkins:

Para uma máquina de sobrevivência, outra máquina de sobrevivência, que não seja o seu próprio filho ou parente próximo, é apenas parte do seu meio ambiente, tal como uma rocha, um rio ou um bocado de alimento.

É qualquer coisa que se mete no caminho e atrapalha, ou que pode ser explorada com a diferença de que outra máquina de sobrevivência, ao contrário de uma rocha, tem tendência ao contra ataque e este é o único aspecto importante dessa diferença.

É que outra máquina de sobrevivência guarda, igualmente, os seus Genes imortais para o futuro e também não se deterá diante de nada para os preservar.

A selecção natural favorece os genes que controlam as suas máquinas de sobrevivência de forma a fazerem o melhor uso do seu meio ambiente e isto inclui fazer o melhor uso de outras máquinas de sobrevivência, tanto da sua espécie como de espécies diferentes.

Em alguns casos as máquinas de sobrevivência parecem influenciarem-se muito pouco umas às outras.

Por exemplo, as toupeiras e os melros não se comem, não acasalam, nem partilham do mesmo espaço para viverem mas será que, por estas razões, eles serão completamente independentes?

Não nos esqueçamos que os melros, tal como as toupeiras, comem minhocas e, portanto, relativamente a estas eles competem um com o outro e, no entanto, nunca se encontram e é muito difícil que um melro chegue alguma vez a ver uma toupeira, mas se eliminássemos estas isso teria consequências na vida dos melros.

As máquinas de sobrevivência de espécies diferentes influenciam-se mutuamente de várias maneiras: predador ou presas, parasitas ou hospedeiros, competidores por algum recurso escasso ou usando-se reciprocamente com vantagens mútuas, como no caso das abelhas e as flores.

As máquinas de sobrevivência da mesma espécie tendem a influenciar-se mais directamente entre si e isto por muitos motivos, um dos quais é que metade da população é constituída por potenciais parceiros sexuais, ou por pais potencialmente muito trabalhadores pela prole e exploráveis e, por outro lado, sendo membros da mesma espécie são muito semelhantes entre si e como máquinas de preservar genes, no mesmo tipo de ambiente e com o mesmo tipo de vida, são competidores especialmente directos perante todo e qualquer recurso necessário à vida.

Por exemplo, para um melro, uma toupeira poderá ser um competidor mas não tão importante como é outro melro e isto porque, melro e toupeira só competem entre si por minhocas mas dois melros competem por minhocas e por tudo o mais e inclusivamente, se forem do mesmo sexo, ainda competem pelo parceiro sexual, numa lógica que para beneficiar os seus genes o melhor será prejudicar o outro macho com que está a competir podendo ir ao ponto de assassinar as máquinas suas rivais.

No entanto, na natureza, embora ocorram casos de assassínio e canibalismo essa não é a regra como ingenuamente se poderia supor da Teoria do Gene Egoísta.

Konrad Lorenz, Considerado o “pai” da moderna etologia, Prémio Nobel de Fisiologia em 1973, no seu livro On Aggresson, chama a atenção para a natureza contida e cavalheiresca da luta entre animais como se fossem torneios sujeitos a regras como na esgrima ou no box.

Dizia ele que os animais lutam com luvas e lâminas rombas em que a ameaça e o bluff substituem as vias de facto, quase sempre fatais.

Os vencedores reconhecem os gestos de rendição e afastam-se sem desferirem o golpe de misericórdia.

Todos nós já vimos comportamentos deste género, senão pessoalmente pelo menos em documentários e portanto a Teoria do Gene Egoísta deve enfrentar a tarefa difícil de a explicar.

É que uma agressividade sem reservas tem custos para além dos óbvios, em tempo e energia.

Suponhamos, por exemplo, que B e C são ambos meus rivais e que eu encontro acidentalmente B. Poder-se-ia pensar que seria sensato da minha parte, que sou um indivíduo egoísta, tentar matá-lo.

Mas vejamos com mais atenção:

- C, é tanto meu rival como o é de B e, portanto, se eu matar B estou, potencialmente, a beneficiar C porque estou a eliminar um dos seus rivais.

- Se eu deixar B viver ele poderá competir e lutar com C e dessa forma beneficiar-me indirectamente.

A moral deste exemplo simples é de que não existe nenhuma vantagem óbvia em matar indiscriminadamente os rivais.

Num sistema grande e complexo de rivalidades a eliminação de um rival não trás, necessariamente, qualquer vantagem porque outros rivais poderão beneficiar mais com a sua morte do que o próprio animal que o eliminou.

Veja-se, por exemplo, o que já aconteceu com a eliminação de pragas na agricultura em que após a exterminação de uma praga se percebeu que isso beneficiou o aparecimento de outra mais perigosa que a anterior e acabamos por ficar pior.

A decisão de lutar, ou não, deveria ser precedida de um cálculo complexo, e inconsciente, do tipo custo-benefício.

Maynard Smith, um eminente biólogo evolucionista da sua geração, falecido em 2004, introduziu o conceito de “estratégia evolutivamente estável”, EEE, que é definida como uma estratégia que, quando adoptada pela maioria dos indivíduos de uma população, não pode ser superada por uma estratégia alternativa.

Por outras palavras, a melhor estratégia para um indivíduo depende daquilo que a maioria da população a que pertence fizer.

O exemplo de uma estratégia como política de comportamento pré-programada poderá ser esta:

«Ataque o oponente; se ele fugir, persiga-o; se ele retaliar, fuja».

Como o resto da população consiste em indivíduos que tentam maximizar o seu próprio sucesso, a única estratégia que persistirá será aquela que, uma vez desenvolvida, não possa ser superada pela de nenhum indivíduo divergente.

Quando acontecem alterações substanciais do meio poderá haver um período de instabilidade evolutiva, inclusive com alterações na população mas, quando uma nova EEE, “estratégia evolutivamente estável”, for atingida ela fixar-se-á e a selecção penalizará os que se afastarem dela.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Amália -- Quando eu era Pequenina

Ella Sings Summertime

Otis Redding -- Stand my me

Percy Sledge -- When a Man Loves a Woman

Th Big Question - Why are we here (1/4)

Th Big Question - Why are we here (2/4)

Th Big Question - Why are we here (3/4)

Th Big Question - Why are we here (4/4)

terça-feira, outubro 07, 2008

Freddie Mercury -- Last Perfomance (Barcelona)

Abba -- Money

Queen -- Show Must Go On

Billi Ocean -- Caribbean Queen

A Grade Questão: Por que estamos aqui ( Parte 3/3))


A Espiral Imortal





Terminamos o texto anterior afirmando que nós, humanos, somos as máquinas de sobrevivência dos Replicadores que entretanto passaram a chamar-se Genes.

Mas não apenas as pessoas, todos os animais, plantas, bactérias e vírus, todos eles são máquinas de sobrevivência dos Genes e o número dessas máquinas é de tal forma grande que até mesmo o número total de espécies é desconhecido.

Esta enorme diversidade de espécies de seres vivos a que chamamos de Biodiversidade é uma consequência de erros de cópia no processo de reprodução que, posteriormente, a selecção natural vai determinar, pela competição que se estabelece entre eles, quais os mais aptos que continuam gerações fora e os que perdem essa luta e ficam pelo caminho.

Falando apenas de insectos, o número actual de espécies tem sido estimado em cerca de 3 milhões e o número total de insectos individuais poderá atingir um milhão de biliões.

As diferenças entre si apresentadas pelas máquinas de sobrevivência é enorme, não só externa como internamente.

Um rato não se parece com um polvo e ambos ainda se parecem menos com um carvalho ou uma oliveira mas todos são máquinas de sobrevivência com uma química que é bastante semelhante e comum a todos eles, particularmente ao nível dos genes, que são todos do mesmo tipo.

Existem, no entanto, no mundo, muitas “maneiras diferentes de ganhar a vida” e os Replicadores construíram uma gama muito vasta de máquinas dentro das quais se preservam e que, com este objectivo, as exploram.

Um macaco é uma máquina que preserva os genes em cima das árvores, um peixe é uma máquina que preserva os genes dentro de água e existe até uma minhoca pequena que preserva os genes em suportes de cortiça para copos de cerveja alemães.

O ADN trabalha de maneiras misteriosas.

Uma molécula de ADN é demasiada pequena para poder ser vista a olho nu e a sua forma exacta consiste num par de cadeias de nucleótidos, ambas torcidas numa espiral muito elegante que é chamada de «hélice dupla» ou a «Espiral Imortal».

Os nucleótidos, por sua vez, têm apenas 4 variedades: adosina, timidina, citosina e guanina que, abreviadamente, se denominam A, T, C e G e são exactamente os mesmos em todas as plantas e em todos os animais variando apenas na ordem pela qual se dispõem.

Por exemplo:

- Um bloco construtor G de um homem é, em todos os seus detalhes, idêntico a um bloco construtor G de um caracol mas a sequência de blocos construtores no homem é diferente não só da do caracol mas também (em muito menor grau) da de outro homem a não ser que se trate de um gémeo idêntico.

O nosso ADN vive no interior do nosso corpo, em nenhuma parte em particular mas distribuído pelas células, presente em cada uma delas, num total de cerca de 1.000 biliões.

Em todas elas, lá está uma cópia do ADN daquele corpo.

Bem vistas as coisas, o ADN pode ser considerado um conjunto de instruções sobre como construir aquele corpo escritas no alfabeto A, T, C, G dos nucleótidos.

Supondo que o nosso corpo é um prédio imenso, em cada quarto existe uma estante com os planos do arquitecto para a construção do prédio inteiro, planos esses que são constituídos, no caso do homem, por 46 volumes, noutras espécies será um número diferente.

À estante chama-se «Núcleo» e a cada “volume”, «Cromossoma» que, sendo visível ao microscópio, se apresenta como fios longos com os Genes, finalmente, alinhados ao longo deles segundo uma ordem precisa.

Aos Genes chamaremos também, metaforicamente, de «Página».

Desnecessário é dizer que não há nenhum “arquitecto”: as instruções do ADN foram compiladas pela selecção natural.

As moléculas do ADN realizam duas coisas importantes:

- Em primeiro lugar, replicam-se, fazem cópias de si mesmas e agora de uma forma muito mais eficiente do que nos tempos dos primeiros Replicadores.

- Em segundo lugar, supervisionam a construção porque uma coisa é ter os planos para construir o corpo e outra é pôr os planos em prática e aqui intervêm a imensa variedade de moléculas proteicas.

Estas moléculas não só constituem grande parte do suporte material do corpo como também exercem um controle importante sobre todos os processos químicos que ocorrem no interior da célula.

Saber como tudo isto conduz a um bebé é uma história que ainda vai levar muito tempo a ser desvendada mas uma coisa é certa:

- Características adquiridas não são herdadas. Não importa quanto conhecimento e sabedoria adquirimos em vida, nem uma só gota será transmitida aos nossos filhos por meios genéticos; cada nova geração vai ter de começar do zero porque, não nos esqueçamos, o nosso corpo é a forma de os genes se preservarem inalterados.

A circunstância dos Genes controlarem o desenvolvimento embrionário significa que, pelo menos parcialmente, eles passam a ser responsáveis pela sua sobrevivência no futuro na medida em que ela depende da eficiência dos corpos que habitam e ajudam a construir.

Cada vez mais a selecção natural favorece os Replicadores que sejam bons a construir máquinas de sobrevivência, genes que sejam hábeis a controlar o desenvolvimento embrionário.

Longe vão os tempos da selecção automática entre moléculas vivas de acordo com a sua longevidade/fecundidade/fidelidade de cópia, agora as coisas já não são tão simples como eram, quando bastava aos Replicadores, para se protegerem a si próprios, usarem meios químicos ou erguerem uma simples barreira física de proteína à sua volta.

Nos últimos 600 milhões de anos os Replicadores alteraram completamente características fundamentais do seu modo de vida, tornaram-se altamente gregários.

Uma máquina de sobrevivência é um veículo que contém não um mas milhares de genes e a manufactura de um corpo é um empreendimento cooperativo tão complexo que é quase impossível distinguir a contribuição de cada gene.

Este, terá efeitos sobre diferentes partes do corpo, uma certa parte do corpo será influenciada por muitos genes e o efeito de qualquer deles dependerá da sua interacção com todos os outros e alguns comportam-se como Genes-Directores que controlam a acção de um grupo de outros genes.

Alcançaram triunfos tecnológicos notáveis relativamente às suas máquinas de sobrevivência tais como o músculo, o coração e o olho que evoluíram independentemente, por várias vezes.

A Reprodução Sexuada teve como efeito misturar e baralhar os genes, os seus caminhos cruzam-se e voltam a cruzar-se constantemente ao longo de gerações.

A vida física de qualquer molécula de ADN é bastante curta, talvez uma questão de meses, não mais que a duração de uma vida mas, teoricamente, ela pode viver, na forma de cópias de si mesma, durante 100 milhões de anos.

Nós, quando tivermos cumprido a nossa missão somos postos de lado mas os genes são cidadãos do tempo geológico, os genes são para sempre, como os diamantes são eternos mas não da mesma forma.

Os diamantes são cristais que permanecem como padrões inalterados de átomos enquanto que as moléculas de ADN não têm esse tipo de constância.

Mas esta capacidade da vida de um gene se prolongar, através das suas próprias cópias por milhões de anos é «potencial».

É verdade que ele pode viver durante todos esses anos mas muitos genes novos não passam sequer da primeira geração.

Um gene novo “com futuro” tem que exercer um efeito sobre o desenvolvimento embrionário que contribua para que a sua máquina de sobrevivência se revele mais eficiente em termos de sobrevivência.

Suponhamos que um gene novo contribui para pernas mais compridas num corpo que precisa de correr muito para escapar aos seus predadores, naturalmente, esse seria um gene “bom” porque ajudaria à sobrevivência da sua “máquina”.

Mas se esse gene aparecesse numa toupeira, as pernas compridas só iriam atrapalhar e seria então considerado “mau” e posteriormente eliminado porque toupeiras com pernas mais compridas não sobreviveriam.

Não esqueçamos que os «erros de cópia» são aleatórios e na maioria esmagadora dão lugar a casos de insucesso.

Mas esqueçamos os “genes das pernas compridas” e pensemos antes em qualidades universais que fazem um gene “bom” ou seja, de vida longa, ou um gene “mau”, de vida curta.

Uma dessas propriedades universais do gene “bom”, (de vida longa) dá o título ao livro de R. Dawkins: o Gene Egoísta por oposição ao Altruísta.

Em síntese, diz Richard Dawkins:

- Os Genes competem directamente com os seus “alelos”(formas alternativas do mesmo gene) pela sobrevivência. Uma vez que esses “alelos” do “pool” (espécie de população) são seus rivais na conquista de posições nos cromossomas das gerações futuras, qualquer Gene que se comporte de forma a aumentar as suas probabilidades de sobrevivência no “pool” genética à custa dos seus “alelos” tenderá, por definição, a sobreviver, logo, o Gene é a Unidade Básica do Egoísmo.


Mas, se construir um bebé é uma tarefa cooperativa e se cada gene precisa de vários milhares de outros genes para completar a sua tarefa como se concilia isto com a ideia de que eles são agentes livres e interesseiros?

Vejamos as coisas através de um exemplo:

- Um remador não ganha sozinho as regatas de Oxford ou de Cambridge, precisa de oito colegas e no seu lugar cada um é especialista: o proa, o timoneiro, o voga, etc.

Remar é um empreendimento cooperativo mas alguns dos homens são melhores do que outros.

Suponhamos então que treinador tem que escolher a sua equipa ideal a partir de um “pool” de candidatos em que alguns são especialistas na posição de proa, outros de timoneiro e por aí fora e procede da seguinte forma:

- Constitui equipas experimentais com os vários especialistas em cada lugar e faz com que elas compitam entre si e no fim de várias semanas fica claro que o barco vencedor terá tendência para conter os mesmos indivíduos;

- Outros indivíduos que aparecem consistentemente nas equipas mais lentas serão rejeitados;

- Pode acontecer que um remador excepcionalmente bom seja membro de uma equipa mais vagarosa ou por inferioridade dos outros membros da equipa ou por simples pouca sorte, como seja apanhar vento contrário muito forte e por isso, só em média, é que os melhores se encontrarão no barco vencedor.

Transportando este exemplo para a genética, os remadores são os genes, os concorrentes a cada lugar no barco serão os alelos potencialmente capazes de ocupar a mesma posição no cromossoma e remar rapidamente será construir um corpo que seja bem sucedido na luta pela sobrevivência, sendo que, nesta luta; todos os remadores, ou sejam, todos os genes estão no mesmo barco.

Finalmente, o vento que dificulta a progressão do barco é o meio ambiente externo.

No corpo de uma criança muitos genes bons estão na companhia de um gene letal que mata o corpo durante a sua infância e a criança, ao morrer, mata o gene letal que é destruído com tudo o resto mas, muitas outras cópias de genes bons continuam a viver em corpos onde o gene letal não está presente.

Os genes letais terão, assim, tendência para serem eliminados da “pool” de genes mas, se sua acção for tardia, isto é, se ele exercer a sua influência negativa numa fase avançada da vida do corpo este já terá procriado e esse gene letal terá sido bem sucedido porque cópias suas aparecerão pelo menos em alguns descendentes.

Vamos, portanto, supor um gene que faça desenvolver um cancro num corpo velho, um outro que faça desenvolver um cancro num corpo de um adulto jovem e, finalmente, um terceiro que actuasse em crianças jovens.

O primeiro poderia ser transmitido a muitos descendentes, o segundo a alguns, bastante menos, e o terceiro, simplesmente, não se transmitiria.

Temos, assim, que a selecção natural favoreceu genes de acção letal simplesmente porque são de acção tardia.

Apenas por especulação, se quiséssemos prolongar a duração da vida humana, impediríamos a reprodução antes de uma certa idade, por hipótese, 40 anos.

Depois, ao fim de alguns séculos essa idade seria aumentada para os 50, e assim por diante até que a longevidade se prolongasse por vários séculos…pelo menos até que a deterioração senil acabasse por produzir os seus efeitos.

Finalmente, a reprodução sexuada.

Porque terá surgido o sexo?

Propagar apenas 50% dos nossos genes quando poderíamos fazer brotar filhos que fossem a nossa réplica exacta com 100% dos nossos genes?

É exactamente isso que faz o pulgão verde do sexo feminino que pode gerar descendentes vivos do mesmo sexo, sem pai, ou então o olmo em que podemos encontrar uma floresta de olmos em que os rebentos se mantêm ligados à planta “mãe” podendo ser considerada um único indivíduo.

E portanto a pergunta é: se os pulgões e os olmos não o fazem porque fomos, o resto de nós, ao ponto de misturar os nossos genes com os de outra pessoa antes de fazermos um bebé?

Não será isto uma perversão da replicação directa?

Para que serve o sexo?

Richard Dawkins afirma que para um evolucionista esta é uma pergunta de resposta muito difícil e a maioria das tentativas sérias para lhe responder envolvem raciocínios matemáticos muito sofisticados.

Mas ele avança com a explicação de que devemos considerar o indivíduo como uma máquina de sobrevivência construída por uma confederação efémera de genes de vida longa e, sendo assim, a “eficiência” do ponto de vista do indivíduo é considerada irrelevante.

A sexualidade versus assexualidade será considerada um atributo controlado por um único gene, tal como olhos azuis versus olhos castanhos.

Um gene “para” sexualidade manipula todos os outros para os seus próprios fins egoístas e se a sexualidade beneficiar um gene para a reprodução sexuada isso será o suficiente para a explicar não interessando se ela beneficia ou não o conjunto de genes do indivíduo no seu todo.

Do ponto de vista do gene egoísta o sexo, afinal, não é assim tão bizarro… ou não fosse ele, o Gene, a Unidade Básica do Egoismo.

domingo, outubro 05, 2008

Billi Ocean -- Suddenly

ABBA -- I Have a Dream

Q

Barcelona /92

Queen -- I want to break free

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