quinta-feira, janeiro 03, 2008

O Ano de 2008


2008

Quando a vida começa a tornar-se numa corrida de resistência com a particularidade de não sabermos onde o organizador da prova colocou a linha de chegada, cada ano que passa, é ele e o seu contrário, no sentido de que é mais um e, ao mesmo tempo, menos um, mas sem se anularem porque a matemática, aqui, não se aplica.

Naturalmente, é apenas mais um dia numa interminável sequencia que empurra o tempo que, por sua vez, nos empurra a nós, mas ao olharmos para as festividades que à meia-noite acontecem por todo o mundo, não há dúvida que se trata de um enorme e generalizado momento de alegria como não se vê em mais nenhum outro.

Uma enorme corrente de vitalidade atravessa milhões de pessoas que nas mais diferentes partes do mundo, saltam, gritam, beijam-se e abraçam-se num processo de afirmação de amor e fraternidade que de tão intenso e frenético só consegue durar uns momentos.

Qual é o seu significado? Que impulso é aquele que nos atira para os braços uns dos outros sem nenhuma outra razão que não seja a que tem a ver com o momento em que se convencionou: agora, é outro ano!

Será que o anterior foi assim tão mau que justifica toda aquela alegria pelo facto de, simplesmente, já ser passado?

Ou é o ano novo que entra carregado de tanta esperança e promessas de coisas boas que se festeja esfusiantemente como se fosse o primeiro do resto da nossa vida?

Ou, talvez, nem uma coisa nem outra, algo sem significado que apenas acontece e nos reconforta enquanto dura, como um lamiré de uma grande sinfonia que fica sempre por tocar.

É estranha esta humanidade que dá sinais tão fortes de paz e amor e os repete, ano após ano, como se fosse sempre a primeira vez, sem que nada, absolutamente nada, aconteça de diferente.

E, no entanto, não se lhe esmorece o entusiasmo e sempre, todos os anos, à mesma hora, ao mesmo minuto, ao mesmo segundo, voltam a cair todos nos braços uns dos outros estreitando-se como num reencontro após muitos anos sem se verem.

Assisti, na passagem de ano de 1995/96, nos 6 km da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, à maior manifestação de carinho entre as pessoas em número superior a um milhão.

Vestidos de branco, abraçavam-se indistintamente e havia tanta sinceridade no acto que ninguém diria que não fossem todos irmãos e irmãs, uma enorme família tomada de uma fúria ternurenta.

Que importa que num outro dia, nas areias daquela mesma praia, se mate um jovem por causa de uma carteira ou de uma simples máquina fotográfica?!

Esse acto de estúpida e desumana crueldade nada retirou à beleza de um gesto espontâneo e sincero de confraternização entre mais de um milhão de pessoas.

Estaremos, em definitivo, condenados a um desígnio em que os contrários se sucedem e a um determinado momento em que nos sentimos orgulhosos e satisfeitos por quem somos, logo de seguida é a vergonha que se apossa de nós?

Este é um campo em que pessimistas e optimistas gostam de se pronunciar. Pessoalmente, não tenho dúvidas de que um caminho já foi percorrido e, sendo assim, não há razão para não se continuar.

Deixemos o homem, uma interferência directa não nos tem conduzido a lado nenhum, “dizer-lhe” para ser justo e bonzinho, ameaçá-lo com castigos eternos ou prometer-lhe a felicidade num outro mundo qualquer, produziu, até à data, os resultados que se conhecem.

Canalizemos os nossos esforços para aperfeiçoar sociedade, façamos dela um local mais agradável para se viver, as pessoas são o que são mas a sociedade é aquilo que nós quisermos que seja.

Dificilmente alguém poderá ser bom se viver na pobreza e na miséria e este é um problema da sociedade, da distribuição da riqueza e das condições em que ela é produzida.

Pequeninos passos que em 2008 consigamos dar melhorando esta situação e aí estará um bom motivo para nos voltarmos todos a abraçar naqueles momentos mágicos em que o 2008 dará lugar ao 2009.

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