sábado, janeiro 24, 2015

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O 42 e o 44 do Bairro de Alfama



Rio Bravo - Dean Martin & Ricky Nelson & Walter Brennan (High Quality)

Rio Bravo - Dean Martin

Que saudades das matinés em que via filmes de cowboys... Outros tempos, outras vidas!


O Dom das Mulheres - Camada de Nervos T1

Camada de Nervos - O Dom das Mulheres


Filho da puta! - Uivou Dalila, loba desatada.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)



Episódio Nº 155



















A bofetada retiniu nos quatro cantos do salão - salão: assim dissera o turco, lugar onde se dança, lugar de pagode e não de briga.

A negra perdeu o equilíbrio; a segunda bolacha ainda mais forte a derrubou no chão, um filete de sangue escorreu no beiço grosso.

- Filho da puta! - Uivou Dalila, loba desatada.

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- Filho da puta! -  Repetiu Bernarda avançando ela também.

Quando os vaqueiros se deram conta, estavam acometidos, cercados por fúrias infernais. Partindo em defesa de Epifânia, Dalila se atirara contra Misael tentando garguelá-lo.

Não haviam, rivais e ciumentas, se atracado a tapas e cusparadas no início do bate-coxas? Fuzué de putas, já se disse, não deixa rastro, é querela de comadres.

Juntaram-se todas elas sem exceção para enfrentar tangerinos, recusar o ditame imposto: se não tivessem o direito fechar o balaio quando bem lhes aprouvesse, se não fossem donas do próprio xibiu que lhes restaria na vida miserável?

Todas as quatro na ocasião exerciam o ofício em Tocaia Grande: Dalila, Epifânia, Bernarda, Zuleica, Margarida Cotó, Marieta Quinze Arrobas, Cotinha, Dorita, Teté e Sílvia Pernambuco, desgrenhadas, bêbadas, solidárias.

Faltou na relação o nome de Jacinta Coroca, não por esquecimento e sim por apreço e consideração: sozinha, valia mais que todas as outras reunidas.

Quando o inexperiente Aprígio ameaçou puxar do revólver pensando com ele resolver rolo de unhas e dentes, Coroca aplicou-lhe um pontapé nos quibas. O grito do moleque foi ouvido a três léguas e meia, na estação de Taquaras, segundo verídico relato de Pedro Cigano, testemunha de vista e de oitiva.

O velho Totonho, pobre coitado digno de comiseração, era dos três o mais indignado. Esperara aboiar Bernarda em noite de cobrir bezerra nova, via o sonho desfazer-se e não se conformava.

Atracando-a pela cintura terminou por derrubá-la; buscava tocar-lhe os peitos, suspender-lhe a saia, disposto, sabe Deus, a traçá-la ali mesmo no barracão, em meio ao pega-pra-capar, na vista dos presentes.

Adoidado, tremendo como se estivesse sofrendo um ataque de maleita. Adoçava a voz para suplicar: vambora...

Rangia os dentes para ordenar: vambora! Arrancou o gibão de couro para obter mais liberdade de ação. Foi seu erro principal: perderam-lhe o respeito que o gibão impunha.

Bernarda aproveitou para safar-se, e antes que Totonho pudesse se levantar, Maneta Quinze Arrobas, abundante, lenta e maternal, arriou o corpanzil em cima do infeliz: as juntas rangeram.

Feijoada traiçoeira 








O Carlos, advogado, 45 anos, bonacheirão, adorava feijoada.
Porém, sempre que a comia, o feijão causava-lhe uma reacção fortemente embaraçosa. A sua saliente barriga inflava ainda mais, e os gases...

Um dia apaixonou-se. Quando chegou a altura de pedir a mulher em casamento, pensou:
 - «Ela é de boa família, cheia de etiqueta, uma verdadeira dama, não vai aguentar estar casada comigo se eu continuar assim...»Decidiu fazer um sacrifício supremo e deixou de comer feijoadas.

Pouco depois, estavam casados.

Passados alguns meses, ao voltar do trabalho, o carro avariou.
Como estava longe, ligou à mulher e avisou-a que ia chegar tarde, pois tinha de regressar a pé.

No caminho, passou por um pequeno restaurante e foi atingido pelo irresistível aroma de feijoada acabada de fazer.

Como faltava muito para chegar, achou que a caminhada iria livrá-lo dos efeitos nefastos do feijão.

Entrou, pediu, fez a sua pirâmide no prato. Ao sair, tinha 3 doses de feijoada no estômago.

O feijão fez efeito e, durante todo o caminho, foi a peidar-se sem parar.

Foi para casa literalmente a jacto.
Peidava tanto que tinha de travar nas descidas, e nas subidas quase não fazia esforço a andar.

Quando se cruzava com pessoas continha-se, e aproveitava a oportuna passagem de um ruidoso camião para soltar os gases.

Quando chegou a casa, já se sentia mais seguro.

A mulher parecia contente quando lhe abriu a porta e exclamou:
- «Querido, tenho uma surpresa para o jantar!»

Tirou-lhe o casaco, pôs-lhe uma venda nos olhos, levou-o até à cadeira na cabeceira da mesa, sentou-o e pediu-lhe que não espreitasse.

Já sentia mais uma ventosidade anal à porta, mas controlou-se .
No momento em que a mulher ia retirar a venda, o telefone tocou.

Ela obrigou-o a prometer que não espreitaria e foi atender o telefone. Era uma amiga...

Enquanto ela estava longe, o Carlos aproveitou, levantou uma perna e «ppuueett», soltou um.

Era um peido comum. Para além de sonoro, também fedeu a ovo podre.

A plenos pulmões, soprou várias vezes, a toda a volta, para dispersar o cheiro.

Quando começou a sentir-se melhor, surgiu outro. Este parecia potente.

Levantou a perna, tentou sincronizar uma sonora tosse para encobrir e «pprrraaaaaaaa». Saiu um rasgador tossido.

Parecia a ignição de um motor de camião, e com um cheiro mil vezes pior que o anterior.

Para não sufocar com o cheiro a enxofre, abanou o ar com as mãos e soprou em volta, à espera que o cheiro dissipasse.

Quando a atmosfera estava a voltar ao normal, eis que vem lá outro.

Levantou as pernas e deixou sair o torpedo,mesmo um missil e dos valentes daqueles que se espalham por toda a parte..

Este foi o campeão, as janelas tremeram, os pratos saltaram na mesa, a cadeira saltou e, num minuto, as flores da sala murcharam.

Enquanto ouvia a conversa da mulher ao telefone, permanecia fiel à sua promessa de não espreitar e continuou assim por mais um tanto, a peidar-se e a tossir, a levantar ora uma perna ora a outra, a soprar em volta, a sacudir as mãos e a abanar o guardanapo.

Acendeu o isqueiro e desenhou com a chama círculos no ar, a tentar queimar o nefasto metano, que teimava em acumular-se na atmosfera.

Ouviu a mulher despedir-se da amiga.

Sempre com a venda posta, levantou-se apressadamente e, com uma mão, deu umas palmadas na almofada da cadeira para soltar o gás acumulado, enquanto a outra mão abanava para dispersar o cheiro.

Sacudiu e deu palmadas nas calças para libertar-se dos últimos resíduos.

Ouviu o «plim» do telefone a desligar.

Alarmado, sentou-se rapidamente, compôs-se, ajeitou o cabelo, respirou profundamente, pousou as mãos ao lado do prato e assumiu um ar sorridente. Era a imagem da inocência quando a mulher entrou na sala.

Desculpando-se pela demora, ela perguntou-lhe se havia espreitado à mesa.

Depois de ele jurar que não, ela retirou-lhe a venda, e... SURPRESAAAAAA!!!

Estavam 12 pessoas, perplexas, pálidas e constrangidas, sentadas à mesa: os pais, os sogros, os irmãos e os colegas de tantos anos de trabalho,todos de guardanapo na mão a sacudir a nuvem de gases que enchia a sala...

Era a festa surpresa do seu aniversário...

Mário Draghi
O Sr. Mário Draghi




















Mário Draghi é o Presidente do Banco Central Europeu e aquele que mais influencia as decisões que têm a ver com dinheiro, como é natural.

Neste aspecto, os europeus esperam mais dele do que de Junkers, o luxemburguês Presidente da Comissão Executiva, para ajudar a resolver esta situação de crise face ao impasse em que se encontra a economia.

As expectativas de crescimento económico continuam a baixar relativamente às que recentemente foram feitas, especialmente nos países periféricos onde se encontra Portugal e assim, derrapa o desemprego, a qualidade de vida e o afastamento dos partidos tradicionais incapazes de solucionar a situação.

Vai daqui, o Sr. Mário Draghi, que sente a responsabilidade do seu cargo e, provavelmente, já está farto de obedecer á Srª Merkel e aos partidos que a suportam, resolveu fazer aquilo que há 2 ou 3 anos atrás era desejado mas que estava completamente de parte:

 - Comprar Dívida Soberana aos países endividados para que mais dinheiro possa ser injectado na economia.

E foi exactamente o que o Sr. Draghi fez num volume muito superior ao que se esperava. Isto foi possível porque as instituições europeias, recentemente eleitas, têm vindo a ganhar força e começam a querer equilibrar a força da Alemanha porque, apesar de tudo, as regras de funcionamento são democráticas.

A Alemanha vai votar contra e conseguiu garantir que, se as coisas correrem mal, ela fica fora do prejuízo. Ou seja, a solidariedade que deveria ser o cimento da coesão europeia continua defraudada.

Os alemães não conseguem libertar-se do trauma da inflação que noutros tempos atingiu o marco, de tal forma que, diziam, se forrava paredes com ele. Sabe-se que esta situação conduziu à ascensão do Hitler e à 2ª G.G.M.

Estes receios são compreensíveis mas também há outra explicação mais próxima e comezinha: a Alemanha é o país mais exportador da Europa e quer continuar a vender os seus produtos e receber em troca um euro forte e valorizado.

Ainda não sabemos como irá ser esta “história” da compra da Dívida Soberana e se a nossa irá ser contemplada, como também não sabemos o que vai o Syriza fazer se ganhar as eleições como se espera.

Alexis Tsipras, o seu líder, fala em renegociar, não só a sua dívida, isoladamente, mas a europeia no seu conjunto, mas os países do Norte da Europa não vão aceitar pagar, de um dia para o outro, a dívida dos países do Sul.

 Se houvesse perdão de dívida, dizem os credores, não haveria mais reformas e o problema era apenas empurrado com a barriga, pois assim garantia-se a manutenção de modelos de sociedade fracassados.

Mas, se a situação dos europeus dos países do Sul chegou ao que chegou sem reformas, assim eles dizem, como seria então com reformas, ou mais reformas que, inevitavelmente, se iriam abater sobre os contribuintes?

Mas, sabendo já que Mário Draghi vai comprar Dívida Soberana, será que o dinheiro virá mesmo para o bolso das pessoas de forma a estimular o consumo e daí a economia?

Eu já li opiniões de quem tem dúvidas sobre esse desfecho, desconfiando do papel dos bancos nesse processo e sugerindo mesmo que o Banco Central entregasse um cheque de 5.000 euros a cada cidadão activo da Europa... -  “helicopter Money”-  o que diz bem do grau de desconfiança que hoje existe sobre os “descaminhos” dos dinheiros quando ele entra nos bancos.

sexta-feira, janeiro 23, 2015

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Alguma coisa está errado nesta imagem...



Mixórdia de Temáticas - O Flagelo da Violeta


AMÁLIA RODRIGUES - LÁGRIMA


Amália atinge-nos em cheio com esta canção, a letra é dela, a voz ... do "outro mundo". Ouvi-la, faz-nos doer por dentro, as suas palavras, cantadas desta maneira, vão ao encontro dos nossos sofrimentos de amor, de todos, do primeiro ao último das nossas vidas...

A Bíblia
CONVERSA

DE SURDOS

















Em Outubro de 2009, o padre e teólogo Carreira das Neves e José Saramago travaram na televisão uma conversa de surdos ou, no mínimo, um diálogo difícil.

Esta dificuldade traduziu-se numa impossibilidade de entendimento, espécie de caminho que não leva a lado nenhum e que sempre acontecerá quando um crente e um não crente se procuram explicar reciprocamente.

José Saramago fez acusações graves à Bíblia e a Deus, tendo mesmo reconhecido ter exagerado quando utilizou certas expressões, por exemplo: o tal “Manual de Maus Costumes”, mas desculpou-se com os seus direitos de autor.

O reconhecimento deste exagero parece-me ter sido feito mais por uma questão de amabilidade para com o interlocutor e as pessoas religiosas que o estavam a ouvir do que por não pensar exactamente o que disse.

Ele leu o que estava escrito no Antigo Testamento e a conclusão a que chegou foi de que aquilo não passava de um manual de maus costumes e por isso o disse e reafirmará todas as vezes que lhe vier a propósito e justificará apoiando-se em muitas passagens da Bíblia.

A grande questão que se levanta nestas apreciações tão graves sobre a Bíblia, é que este livro, para judeus e cristãos, é um texto sagrado porque eles acreditam no Deus daquela religião enquanto que, para José Saramago e para todos os ateus, é simplesmente um livro, não propriamente igual a qualquer outro, mas sem a componente do sagrado.

Por esta razão, a discussão que ambos travaram, não era de carácter literário ou interpretativo, qualquer coisa de académico que acontece com todas os livros, mas antes algo que tocava fundo, na essência espiritual de cada um deles e na de todas as pessoas que professam aquelas religiões mas que incomodam também os outros, os não crentes, porque afinal todos fomos criados neste “caldo” religioso e sabemos que a sociedade é constituída maioritariamente por pessoas religiosas ou que se consideram como tal, incluindo nela os nossos amigos e familiares.

As pessoas, não se sabe quem, que ao longo de mil anos foram escrevendo o que está escrito na Bíblia, (não vamos pensar que tenha sido Deus a fazê-lo directamente), tinham a noção de que o estavam a fazer para um livro sagrado e que essas palavras iriam ser lidas como se tivessem sido ditadas por Deus, muitas delas, mesmo, diálogos onde intervém o próprio Deus como personagem.

Isto significava que aquela mensagem escrita não iria apenas influenciar os leitores mas formar consciências, mentalidades, transmitir orientações com a força de ordens, criar unidade de um povo à volta de um Deus, essa entidade suprema, transcendente, que se escapa ao entendimento porque ultrapassava os homens em absoluto, no poder, deixando-lhes apenas a escapatória da obediência cega, sem discussão.

Terrível, a responsabilidade desses homens que ao longo dos séculos foram escrevendo a Bíblia, de tal forma que tiveram de a repartir com os teólogos, os que interpretam essa escrita.

Por aquilo que foi dito pelo teólogo Carreira das Neves, o Antigo Testamento é, todo ele, escrito usando metáforas e parábolas, de uma forma simbólica, o que significa uma solução de grande inteligência porque permite que os teólogos o actualizem e expliquem aos crentes de acordo com os tempos que se estão vivendo e com as orientações que em cada momento a Igreja ache mais conveniente.

Por esta razão, a Bíblia será cada vez mais um texto metafórico, para interpretar e não para ler porque o seu significado literal, com o avanço dos conhecimentos científicos e o triunfo da razão, será cada vez menos compreensivo.

Assim, a importância e o papel dos teólogos é cada vez mais importante para a Igreja porque ela pretende – pretensão inglória - complementar a fé dos seus seguidores com explicações plausíveis e racionais da mensagem do seu Deus.

Contra isto se insurgiu José Saramago para quem o livro não tem nada de sagrado e pergunta: “mas com que direito os senhores me vêm dizer o que está escrito na Bíblia?”

E aqui está a polémica que, ao fim e ao cabo, não é polémica nenhuma:

- O padre Carreira das Neves lê a Bíblia com os olhos de um crente, nem preciso acrescentar de padre e teólogo.

- José Saramago faz a mesma leitura com os olhos de um não crente mesmo que, como afirmou, se esforçasse para o ser.

O ponto de partida está na crença de um Deus que em seis dias, ou lá o tempo que fosse, fez o Universo. Antes não fez nada e depois, daí para cá, nada voltou a fazer, versão da Bíblia que, para Saramago, não crente, é absurdo e inteligível.

Realmente, a razão e a fé são inconciliáveis. A razão é um instrumento de análise crítica e a fé um dogma ou um conjunto de dogmas que não se sujeitam a essa tal análise crítica e constitui “batotice” Carreira das Neves afirmar que, “se os crentes não conseguem provar que Deus existe, os ateus também não conseguem provar que ele não existe”.

Todos sabemos que o ónus da prova é de quem afirma. Não é legítimo pensar que recai sobre mim a obrigação de provar em tribunal que não sou criminoso.

Fiquemo-nos, portanto, pela questão da fé. Foi através do processo de selecção natural que a sobrevivência da espécie humana aconteceu e o acreditar fez parte desse processo.

Os que não acreditavam e não seguiam os conselhos dos progenitores foram ficando pelo caminho…e mesmo assim não foi fácil... momentos houve em que chegámos a números no limiar mínimo da sobrevivência da espécie.

Este “jeito” de acreditar ficou-nos gravado no cérebro, é verdade, mas não nos esqueçamos que se chegámos ao que somos hoje devemo-lo à capacidade de usar a nossa razão sem a qual também não teríamos sobrevivido.

Temos de conviver todos, crentes e não crentes, apelando cada vez mais à nossa inteligência, razão e senso comum… seja ele o lado em que estivermos.

O nosso futuro colectivo não depende de mais ninguém para além de nós próprios. Não sejamos ingénuos, não confiemos essa matéria a Deus. O mesmo “mecanismo de acreditar” que pode ter sido o segredo da nossa sobrevivência em tempos recuados da nossa evolução, pode, agora, virar-se contra nós.


Pensemos no estão fazendo os fundamentalistas e radicais islâmicos e os de todas as religiões.

Tempos perigosos os que vivemos...

Hoje, por dinheiro nenhum.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)



Episódio Nº 154

















Levavam pressa, não podiam esperar que o fovoco chegasse ao fim: pelo jeito, ia se prolongar manhã adentro. Depressa, sinhas burras, toca a andar.

Ora, as putas, na influência dos festejos, haviam decidido fechar o balaio, não aceitando fregueses nas noites dos forrós junho: festa é festa. Estavam na intenção de divertir-se, dança folgar, beber e rir, namorar, se fosse o caso.

 Não sendo noite igual às outras todas - noites de afanar-se, de suar em peito estranho, de representar gemendo sem sentir vontade, gozando de mentira - as três recusaram em uníssono as ofertas do apatacado boiadeiro e seus dois subordinados: hoje não, vancês desculpem, fica pra outra vez.

 Hoje, por dinheiro nenhum.

Misael escolhera Dalila, deixando Bernarda para o velho,
Margarida para o rapaz. Vacilara entre Bernarda e Dalila mas guardara na menina dos olhos a visão do fiofó da negra, subilatório de assovio. O velho lambia os beiços, alvoroçado, o rapaz não reclamou das sardas e do toco de braço da Cotó, defeitos de nascença: aos dezoito anos se traça o que vem e se pede mais.

De nada adiantaram as explicações de Dalila, boa de bico, nem o repelão de Margarida - logo quando Balbino, cafuzo moderno e influído, começava a lhe arrastar a asa -  tampouco a negativa rotunda de Bernarda: o balaio tá fechado, avô. Nós abre rosnou o velho.

Os tangerinos estavam bastante altos e o tempo era curto.
Arreda, disse Bernarda quando o velho Totonho tentou arrastá-la para fora. Com o trompaço e o licor de jenipapo, o atrevido vacilou nas pernas. Misael, que segurava Dalila pelo pulso, perdeu a paciência, esbravejou:

 - Se ocês não quer ir por bem, vão por mal, sinhas putas!

A música silenciara para que Pedro Cigano pudesse aliviar a sede com uma lapada de cachaça, a advertência ressoou no
barracão;raparigas aproximaram-se, curiosas; Misael, gostosão, rico e valente, pensou que vinham oferecidas disputar o lugar das enjoadas:

 - Nós já escolheu essas, não precisa de ocês. - Voltou-se para as preferidas, empurrou Dalila: - Vambora!

Epifânia deu um passo à frente, o suor escorrendo sobre a pele negra; enfrentou os vaqueiros, a voz rouquenha, lambuzada de licor:

 - Nem elas nem nós, nenhuma com vergonha nas fuças vai trepar hoje com vancês. Não sabe que nós tá de balaio fechado?

Vão meter nas vacas, se quiser. Para não perder o hábito e porque também ela abusara do jenipapo de Cotinha, cuspiu no chão e passou o pé em cima.

Homem que se preza não leva para casa desfeita de macho quanto mais de mulher-dama. Misael anunciou antes de agir:

- Essas três vão tomar no cu, queira ou não queira, e tu vai apanhar na cara, joga de merda!

As feras...
As “feras” não se
provocam...
combatem-se.





Só não digo que o medo voltou porque ele esteve sempre cá. Faz parte da nossa natureza animal, mais do que hoje, ele foi uma peça chave da nossa sobrevivência.
A quando da grande manifestação nas ruas de Paris do “Je Suis Charlie, ele estava disseminado, meio escondido entre aqueles milhares de pessoas, defendidas pela multidão.
Na Bélgica, ontem, estava marcada uma homenagem no Museu Hergé a Charlie Hebdo mas foi desmarcada para não “atiçar o fogo”, maneira airosa de dizer que foi por medo, o tal medo que às vezes salva vidas para poderem continuar a engolir o orgulho.
No Teatro Cine XIII, em Montmarte, a peça “Lapidada”, que era a história de uma mulher acusada de adultério no Iémen e que tinha cá fora um cartaz de um rosto de mulher de véu com uma lágrima vermelha, era para estar 3 meses em cena mas ao fim de 3 dias terminou as exibições.
Os actores tinham medo e os espectadores medo tinham...
Na Síria, em Marrat, o grupo Jabhatal – Nusr, leva uma mulher de mãos atadas atrás das costas até à Praça da Vila. É uma adúltera.
Um barbudo, igual a outros barbudos, vocifera um discurso enquanto a mulher ouve ajoelhada. Findo o discurso, faz um gesto, vem outro barbudo e mata a mulher com um tiro na cabeça... para glória de Alá.
À volta, na Praça, as pessoas passam de carro e filmam a cena para que sirva de exemplo e de lição, que o medo e a obediência cega é a lei inexorável para aquela gente.
Entretanto, na Arábia Saudita, Raif Badawi , 31 anos, casado e pai de três filhos que estão exilados com a mãe no Canadá, por ofensas ao Islão, recebeu a 1ª dose de 50 chicotadas, das mil a que foi condenado e os “estragos” foram tantos que a próxima dose vai ter que ser adiada.
Suspeito que vão acabar por chicotear um cadáver, também para glória de Alá. Antes o tiro na cabeça. Esperar que sarem as feridas destas chicotadas para lhe darem mais “com o devido acompanhamento médico”,  não só é irracional como de loucos.
Digam-me, não é de ter medo?
Um representante da Arábia Saudita esteve presente na marcha de protesto contra os terroristas que assassinaram os cartoonistas em Paris mas, por muito menos, na casa deles, matam-nos à chicotada...
Só há heróis porque o homem não nasceu para o ser. Um acto de heroicidade é um acto de loucura e as pessoas, acima de tudo, preservam a vida.
Resta-nos pedir aos nossos governos que utilizem os nossos impostos na defesa da nossa segurança como primeira prioridade porque, se entendo que as feras não devem ser provocadas, já não perceberei, no contexto em que vivemos, que não sejam adoptadas todos os mecanismos de defesa que hoje existem e estão à disposição das autoridades do Estado.

quinta-feira, janeiro 22, 2015

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Com o frio que faz...



Dean Martin That's Amore With Lyrics

Dean Martin - That' Amore


Foi um dos mais influentes artistas do século 20, tanto na músicatelevisão, bem como no cinema. Seu nome de batismo é Dino Paul Crocetti. Nasceu em 1917 e faleceu em 1995.
Integrava a "Rat Pack", um grupo de amigos formado por Frank SinatraSammy Davis, Jr.Peter Lawford e Joey Bishop que realizaram algumas actividades artísticas em conjunto na década de 1960. É bastante reconhecido por sua parceria de enorme êxito com Jerry Lewis. Morreu de cancro no pulmão como grande fumador que era.
Possui três estrelas na "calçada da fama", uma (6519 Hollywood Boulevard) por seu trabalho no cinema, a segunda (1817 Vine) por suas gravações, e a terceira (6651 Hollywood Boulevard) por seu trabalho na televisão.
Dean Martin foi casado três vezes. Sua primeira esposa foi Elizabeth Anne "Betty" McDonald. Martin e Betty tiveram 4 filhos: Stephen Craig Martin (nascido em 1942), Claudia Dean Martin (nascida em 16 de março de 1944), Barbara Gail Martin (nascida em 1945) e Deana Martin (nascida em 1948).
A segunda esposa do Dean Martin foi Jeanne Biegger. O casamento durou 24 anos (1949-1973) e o casal teve três filhos:Dean Paul Martin (17 novembro, 1951), Ricci James (nascido em 1953) e Gina Caroline (nascida em 1956).
O Terceiro casamento de Dean Martin foi com Catherine Hawn, e durou três anos. Martin adoptou a filha de Catherine Hawn, Sasha Hawn.
Um dos seus filhos também se tornou cantor e ator Dean Paul Martin, cuja morte prematura fez o pai encerrar a carreira.

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