sábado, outubro 08, 2016

António

Guterres















Quando, ontem, com sentido irónico, chamei de “pequeno” a Portugal contrapondo-o à dimensão de certos portugueses, entre eles António Guterres, estava, afinal, a ir ao encontro do que a imprensa de fim-de-semana diria igualmente de Guterres: “é maior do que Portugal!”.

Esta afirmação prestigia Guterres, deixa-nos orgulhosos mas está longe de ser humilhante para o país porque, não tivesse ele a dimensão que tem, como homem, e nunca seria Secretário -  Geral da ONU.

Nesta vitória de Guterres houve muito trabalho das chancelarias. Ele próprio considerou que, à partida, não teria mais de 20% de possibilidades, mas o que não é menos verdade é que mesmo só com esses 20%, num país com a nossa dimensão e importância, apenas acontece uma vez na vida aparecer alguém que tenha as restantes 80%.

Foi uma sorte para nós que ele tivesse nascido português, embora a nacionalidade pareça ser um factor irrelevante dadas todas as restantes qualidades, reveladas, de resto, nas funções que exerceu durante 10 anos como Alto - Comissário da ONU para os Refugiados.

O país “apaga-se” perante ele, não por ser pequenino ou grande, mas porque depois de se ter dado a conhecer, como o fez em seis entrevistas e pelo trabalho anteriormente realizado, houvesse ele pudor e justiça e teria  sido o mundo a pedir-lhe para ser seu Secretário – Geral.

O voto de unanimidade e aclamação com que foi escolhido parecem ser esclarecedores do reconhecimento do seu valor.

Ontem falei da importância da nossa localização geográfica, do ar a maresia que respiramos, mas também da nossa história, do nosso passado mais recente com os seus bairros de lata e os seus analfabetos, da cultura, e procurei ligar António Guterres a tudo isso.

Talvez seja uma injustiça para ele mas eu não o concebo fora deste nosso país, nascido em Lisboa e educado nas Beiras, e embora seja um homem do mundo, que extravasou as fronteiras dentro das quais nasceu, tem a nossa marca de português, seja lá isso o que for, que o acompanhará sempre, sejam quais forem as funções e os cargos que desempenhe.

Não sabemos o que irá conseguir num mundo gerido por interesses tão grandes como o nosso mas, se alguém puder dar um contributo positivo, esse alguém é António Guterres.

sexta-feira, outubro 07, 2016

Beleza ao Pôr-do-Sol



Camada de Nervos - Amigos, Sou Preto


Benito Di Paula - Retalhos de Cetim

Não sei se é carnaval nem isso tão pouco interessa mas o dramatismo desta canção, sim, é intenso...

          

Não se lhe vê o fim...
Um Portugal Pequeno...













Ao longo da sua história o país mostrou-se demasiado pequeno para conter alguns dos seus filhos. Cito três, no campo do desporto, da cultura e da política. Nomes óbvios que todos vós conheceis: Cristiano Ronaldo, José Saramago e António Guterres.

Extravasaram as fronteiras e expandiram pelo mundo a arte, o talento e a inteligência que os caracteriza, beneficiando toda a humanidade.

Muitos outros existem e estes três são apenas exemplificativos por serem os mais conhecidos, os que, de momento, mais mobilizam as atenções.

Somos, parece-me a mim, sem qualquer espécie de “chauvismo”, que é “chapéu” que outros poderão enfiar que não nós, afinal, um país imenso que nem conseguimos abarcar quando estendemos o olhar pelo mar que nunca mais acaba e nos cerca nos mais de mil quilómetros de vizinhança com o Oceano Atlântico.

Ao longo de séculos, milénios, a barreira da água foi para estes povos um convite para contactos e trocas comerciais de gentes vindas de outros lados que acudiam aos nossos portos e nos trouxeram as experiências de outras vidas, culturas e nos enriqueceram geneticamente.

É, sem dúvida, daí, do mar, que nos vem o tamanho e quando me sento no Largo do Terreiro do Paço, em Lisboa, o mais lindo da Europa e do Mundo, e salto com o olhar por cima da Ponte 25 de Abril, que já foi de Salazar, na direcção do oceano sem lhe conseguir ver o fim, imagino os barcos, caravelas, todo o tipo de embarcações que para lá e para cá, cruzaram aquelas águas e nos fizeram grandes, grandes porque dentro delas estavam pessoas corajosas, sem medos, ambiciosas, visionárias, aventureiras.

Cristiano Ronaldo, José Saramago, António Guterres, estão entre essas pessoas, que só foram possíveis porque aquelas outras existiram, serviram de uma espécie de “caldinho” em que elas nasceram.

Se surpreendemos o mundo com estas pessoas é porque ele ignora a nossa localização geográfica, não a levou em consideração, não percebeu que ela iria ser uma fonte permanente de enriquecimento, que para além dos tesouros que se esbanjaram, outro ficou e proliferou, o património genético, numa altura em que o mundo estava ainda muito longe de se tornar na aldeia global para o qual hoje tende, e era constituído por gente que ao cruzarem-se, se enriqueceram genética e culturalmente.

Ao nível social a questão é outra. Muito dificilmente conseguiríamos compatibilizar santos e heróis, com exércitos bem comportados e disciplinados...

Somos individualistas, cada um gosta de pensar pela sua cabeça, não nos mandem andar de passo alinhado, não nascemos para isso... mas somos generosos porque acumulamos muitas experiências como povo, tivemos que, à ultima da hora, “inventar” muita solução, porque nos metemos em trabalhos dos quais tivemos que sair e hoje, aqui estamos, a olhar o mar, porque esse nunca nos faltará para o contemplar e inspirarmos a sua maresia...

O moçambicano Mia Couto
POBRES DOS NOSSOS 

RICOS



















A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.


Mas ricos sem riqueza.

Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção.

Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.

Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro ou pensa que tem.

Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.


A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos "ricos".


Aquilo que têm, não detém.

Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.


É produto de roubo e de negociatas.


Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.

Vivem na obsessão de poderem ser roubados.

Necessitavam de forças policiais à altura.

Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.

Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.

Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...)





MIA COUTO


Mia Couto fala de Moçambique, claro, mas podia falar daqui, na Europa ou, se calhar, de qualquer outra parte do mundo... É a economia ao serviço da cupidez, da falta de valores, a primazia do ter sobre o ser que se globalizou!...

A deslocalização é dos exemplos mais vergonhosos de ganância e desprezo pelos outros.

Ainda há pouco ouvia, na televisão, o desabafo de um pai, chefe de família, aqui na Europa, que tinha ficado desempregado porque o patrão tinha levado a empresa para um daqueles países que pagam miseravelmente aos seus trabalhadores, grande parte deles saídos dos campos para virem viver, em pior circunstâncias, em bairros horrorosos nos subúrbios das grandes cidades...  

Telefonemas cruzados...
















Por vezes, quando se tem um mau dia e precisamos de o descarregar em alguém, não o faça em alguém seu conhecido.

Descarregue em alguém que NÃO conheça.

Estava sentado à minha secretária, quando me lembrei de um telefonema que tinha de fazer.

Encontrei o número e marquei-o.

Respondeu um homem que disse: -"Está?"

Educadamente respondi-lhe: -"Estou! Sou o Luís Alves. Posso falar com a Sra. Ana Marques, por favor?"

Ficou com uma voz transtornada e gritou-me aos ouvidos: - Vê lá se arranjas a merda do número certo, ó filho da puta!" e desligou o telefone.

Nem queria acreditar que alguém pudesse ser tão mal educado por causa de uma coisa destas. Quando consegui ligar à Ana, reparei que tinha acidentalmente transposto os dois últimos dígitos.

Decidi voltar a ligar para o número "errado" e, quando o mesmo tipo atendeu, gritei-lhe: "És um grande paneleiro!" e desliguei. Escrevi o número dele juntamente com a palavra "paneleiro" e guardei-o.

De vez em quando, sempre que tinha umas contas chatas para pagar ou um dia mesmo mau, telefonava-lhe e gritava-lhe: - és um grande paneleiro!" - Isso animava-me!

Quando surgiu a identificação de chamadas, pensei que o meu
terapêutico telefonema do "paneleiro" iria acabar. Por isso,
liguei-lhe e disse: - "Boa tarde. Daqui fala da PT.

Estamos a ligar-lhe para saber se conhece o nosso serviço de
identificação de chamadas.

Ele disse -"NÃO" -e bateu o telefone.

De seguida liguei-lhe, e disse: "Não sabes, porque és um grande paneleiro!"

Uma vez, estava no parque do Centro Comercial e, quando me preparava para estacionar num lugar livre, um tipo num BMW cortou-me o caminho e estacionou no lugar que eu tinha estado à espera que vagasse.

Buzinei-lhe e disse-lhe que estava ali primeiro à espera daquele lugar, mas ele ignorou-me.

Reparei que tinha um letreiro "Vende-se" no vidro de trás do carro, e tomei nota do número de telefone que lá estava.

Uns dias mais tarde, depois de ligar ao primeiro paneleiro, pensei que era melhor telefonar também para o paneleiro do BMW.

Perguntei-lhe: "É o senhor que tem um BMW preto à venda?"

"Sim", disse ele.

"E onde é que o posso ver?", perguntei.

"Pode vir vê-lo a minha casa, aqui na Rua da Descobertas, 36. É uma casa amarela e o carro está estacionado mesmo à frente."

"E o senhor chama-se?." perguntei.

"O meu nome é Alberto Palma", disse ele.

"E a que horas está disponível para mostrar o carro?"

"Estou em casa todos os dias depois das cinco."

"Ouça, Alberto, posso dizer-lhe uma coisa?"

"Diga!"

"És um grande paneleiro!", e desliguei o telefone. Agora, sempre que tinha um problema, tinha dois "paneleiros" a quem telefonar.

Tive, então, uma ideia. Telefonei ao paneleiro Nº 1.

"Está?"

"És um paneleiro!" (mas não desliguei)

"Ainda estás aí?" ele perguntou.

"Sim", disse-lhe.

"Deixa de me telefonar!" gritou.

"Impede-me", disse eu.

"Quem és tu?" perguntou.

"Chamo-me Alberto Palma", respondi.

"Ah sim? E onde é que moras?"

"Moro na Rua da Descobertas, 36, tenho o meu BM preto mesmo em frente, ó paneleiro. Porquê?

"Vou já aí, Alberto. É melhor começares a rezar", disse ele.

"Estou mesmo cheio de medo de ti, ó paneleiro!" e desliguei.

A seguir, liguei ao paneleiro Nº 2.

"Está?"

"Olá, paneleiro!", disse eu.

Ele gritou-me: "Se descubro quem tu és..."

"Fazes o quê?" perguntei-lhe.

"Parto-te a tromba!" disse ele.

E eu disse-lhe: "Olha, paneleiro, vais ter essa oportunidade. Vou agora aí a tua casa, e já vais ver."

Desliguei e telefonei à Polícia, dizendo que morava na Rua da
Descobertas, Nº 36 e que ia agora para casa matar o meu namorado gay.

Depois liguei para as cadeias de TV e falei-lhes sobre a guerra de gangs que se estava a desenrolar nesse momento na Rua da Descobertas.

Peguei no meu carro e fui para a Rua da Descobertas. Cheguei a tempo de ver os dois parvalhões a matarem-se à pancada em frente de seis viaturas de polícia e uma série de repórteres de TV.

Já me sinto muito melhor.

Gerir a raiva sempre funciona!!

Um abraço e... prometo que não telefono!..

quinta-feira, outubro 06, 2016

Camada de Nervos


CORNO

DESCONFIADO





















Um sujeito chega a casa, abre a porta e encontra a mulher de cu pró ar a limpar o chão... vestida apenas com um avental!

O traseiro nu e balançado deixa-o excitado e ele nem hesita: baixa as calças e pimba, ali mesmo! 

De seguida, dá uma surra na mulher.

Ela fica revoltada:

- Tás maluco ou quê? Deixo-te fazer amor sem dizer nada e ainda me bates? - Posso saber ao menos porquê?

Ele olha-a com ar zangado e responde:

- Nem te viraste para ver quem era!

Frases Muito…




















O amor é como a gripe…
Apanha-se na rua e cura-se na cama.

Os autarcas são as pessoas mais católicas do mundo…
Nunca assinam nada sem levarem um terço.

Os mamilos das mulheres são como o Playstations II…
São feitos para crianças e quem brinca são os pais.

Pior que não ter nada para vestir…
É não ter ninguém para despir.

Não procures o Príncipe Encantado…
Procura antes o Lobo Mau…
Ele ouve-te melhor e ainda te pode comer.

As vegetarianas não gemem nem gritam
Quando atingem um orgasmo…
Porque não querem admitir que um bocado de carne lhes possa dar prazer.

Os homens têm a consciência limpa…porque nunca a usam.

O membro mais leve do corpo é o pénis…
Basta um pensamento para o levantar.

O beijo é uma forma de cultura…através dele conhecemos várias línguas.

Uma mulher feia é como uma pantufa…em casa ainda vai, mas não se pode levar para a rua.

Os ex-namorados são como os hambúrgueres…sabemos que não devemos, mas sempre acabamos por comer de vez em quando.

Depois de fazerem amor:
10% dos homens viram-se para a esquerda.
10% dos homens viram-se para a direita.
80% dos homens vão para casa.

As mulheres são como o Circo…
Debaixo dos panos é que está o espectáculo.

A diferença entre uma pilha e um homem…
É que a pilha tem sempre um lado positivo.

O homem é como a vassoura…
Sem o pau não serve para nada.

Vale mais ser um alcoólico anónimo…
Do que um bêbado conhecido.

A educação sexual…consiste em dizer obrigado no fim.

Nunca alguém vencerá a guerra dos sexos…
Há demasiada confraternização entre os inimigos.

O melhor negócio do mundo é abrir um bordel…
Em caso de falência ainda se pode comer o stock.

Quando um homem abre a porta do carro a uma mulher…
Um ou outro são novos.

Se os homens são todos iguais…
Por que é que as mulheres escolhem tanto?

Enquanto o meu Chefe disser que me paga muito…
Eu faço de conta que trabalho muito.

O corno é como a árvore das patacas…
Quando menos se espera somos contemplados.

Se o porco tem 4 pernas…
De onde vem o “Fiambre da Perna Extra”?

Crenças Ruins























Por que razão é tão difícil erradicar crenças ruins?


- A razão tem a ver com a natureza das próprias crenças que estão biologicamente preparadas para serem resistentes à mudança porque foram designadas para aumentar a nossa habilidade de sobreviver.

Para mudar as crenças os cépticos devem aceder às habilidades de sobrevivência do cérebro discutindo os significados e as implicações para além dos dados.

Uma noção básica do espírito crítico e científico é de que as crenças estão erradas e por isso, é muitas vezes confuso e irritante para cientistas e cépticos que as crenças de tantas pessoas não mudem diante de evidências contraditórias.

Perguntamo-nos como é que as pessoas acreditam em coisas que contradizem os factos?

Essa confusão pode criar uma terrível tendência da parte dos pensadores cépticos de diminuir e menosprezar as pessoas cujas crenças não mudam face às evidências.

Elas podem ser olhadas como inferiores, estúpidas ou até malucas. Esta atitude, resulta de uma falha dos cépticos ao não compreenderem o propósito biológico das crenças e a necessidade neurológica de que elas sejam resistentes à mudança.

A verdade é que, por causa do seu pensamento rigoroso, muitos cépticos não têm uma compreensão clara ou racional do que são as crenças e por que, mesmo as mais erradas, não desaparecem facilmente.

Entender o propósito biológico das convicções pode ajudar os cépticos a serem muito mais eficientes no desafio às crenças irracionais e na divulgação de conclusões científicas.

Embora faça muito mais do que isso a finalidade primária dos nossos cérebros é manter-nos vivos e a sobrevivência irá ser sempre o seu principal propósito e virá sempre em primeiro lugar.

Se formos ameaçados ao ponto dos nossos corpos ficarem apenas com energia suficiente para suportar a consciência ou o coração a bater mas não as duas coisas em simultâneo, o cérebro não tem problema em “apagar-se” e colocar-nos em coma (sobrevivência à frente da consciência) em vez de ficar alerta até à morte (consciência à frente da sobrevivência).

Como cada actividade do cérebro serve fundamentalmente para isso, a única maneira de entender precisamente qualquer função cerebral é examinar o seu valor como instrumento de sobrevivência.

Mesmo a dificuldade de tratar desordens comportamentais como a obesidade e vícios pode ser entendida examinando a sua relação com a sobrevivência.

Qualquer redução no consumo calórico ou na disponibilidade de uma substância na qual um indivíduo é viciado é sempre interpretada pelo cérebro como uma ameaça à sobrevivência e o resultado disso é que o cérebro defende-se criando aquelas reacções típicas da síndrome da abstinência.

As ferramentas primárias do cérebro para garantir a nossa sobrevivência são os sentidos. Obviamente, devemos ser hábeis em perceber com precisão o perigo para podermos tomar atitudes que nos mantenham em segurança.

Para sobreviver temos que ver o leão à saída da caverna e ouvir o intruso invadindo a nossa casa a meio da noite.

Apesar disso, os sentidos sozinhos são inadequados como detectores do perigo porque são limitados no alcance e na área. Nós só podemos ter contacto sensorial directo com uma pequena porção do mundo de cada vez.

O cérebro considera esse um problema significativo porque, mesmo o dia-a-dia, requer que estejamos constantemente em movimento, dentro e fora do nosso campo de percepção do mundo como é agora.

Entrar num território que nós nunca vimos ou ouvimos coloca-nos na perigosa posição de não termos nenhuma noção dos perigos possíveis. Se entrar num prédio desconhecido ou numa parte perigosa da cidade, as minhas chances de sobrevivência diminuem porque não tenho como saber se o teto está para cair na minha cabeça ou se um atirador está escondido atrás da porta.

É aqui que entra a crença. Crença é o nome que damos à ferramenta de sobrevivência do cérebro que existe para aumentar a função de identificação de perigos dos nossos sentidos.

As crenças estendem o alcance dos nossos sentidos de maneira que podemos detectar melhor o perigo e aumentar as nossas chances de sobrevivência em território desconhecido. Em essência, elas servem-nos como detectores de perigo de longo alcance.

Do ponto de vista funcional, os nossos cérebros tratam as crenças como “mapas” da parte do mundo que não podemos ver no momento.

Enquanto estou sentado na minha sala de estar não posso ver o meu carro. Apesar de o ter estacionado na minha garagem há algum tempo, se eu usar os dados sensoriais imediatos, eu não sei se ele ainda lá está, por isso, neste momento os dados sensoriais não são de grande utilidade para encontrar o meu carro.

Para que eu encontre o meu carro com algum grau de eficiência, o meu cérebro deve ignorar a informação sensorial actual e voltar-se para o seu “mapa” interno do local do meu carro.

Esta é a minha crença de que o carro ainda está no local onde o deixei. Se me referir à minha crença em vez de aos dados sensoriais, o meu cérebro pode “saber” alguma coisa sobre o mundo com o qual não tenho contacto imediato.

Esta faculdade “estende” o conhecimento e o contacto do cérebro com o mundo para além do alcance dos nossos sentidos imediatos aumentando as nossas possibilidades de sobrevivência.

Um homem das cavernas tem mais hipóteses de sobreviver se acreditar que o perigo existe na floresta embora ele não o veja, da mesma forma que um polícia estará mais seguro se acreditar que alguém parado por infracção de trânsito pode ser um psicopata armado embora tenha aparência de boa pessoa.

Tanto os sentidos como as crenças são ferramentas para a sobrevivência e evoluíram para se alimentarem um ao outro e, por isso, o nosso cérebro considera-os separados mas igualmente importantes como fontes de informação para a sobrevivência.

A perda de qualquer um deles coloca-nos em perigo. Sem os nossos sentidos não poderíamos conhecer o mundo perceptível e sem as nossas crenças nada poderíamos saber do que está fora dos nossos sentidos, nem sobre significado, razões e causas.

Isto significa que as crenças existem para operar independentemente dos dados sensoriais.

Na verdade, todo o valor das crenças para a sobrevivência baseia-se na sua capacidade de persistirem não obstante as evidências em contrário.

As crenças não devem mudar facilmente ou simplesmente por causa de evidências que as neguem. Se elas o fizessem não tinham nenhuma utilidade para a sobrevivência. O nosso homem das cavernas não duraria muito se a sua crença em perigos potenciais na floresta se evaporasse toda a vez que ele não visse esses perigos.

Para o cérebro não há absolutamente nenhuma necessidade que os dados e as crenças concordem entre si. Cada um delas evoluiu para aumentar e melhorar a outra pelo contacto com diferentes secções do mundo.

Foram preparadas para poderem discordar e por isso é que cientistas podem acreditar em Deus e pessoas que são geralmente razoáveis e racionais podem acreditar em coisas sem evidências dignas de crédito como discos voadores, telepatia ou psicocinese.

Quando dados e crenças entram em conflito o cérebro não dá preferência aos dados e é por isso que crenças, mesmo disparatadas, ruins, irracionais ou loucas, raramente desaparecem diante de evidências contraditórias.

O cérebro não se importa se a crença concorda com os dados, ele apenas se preocupa se a crença ajuda à sobrevivência e ponto final.

Então, enquanto a parte racional e científica do nosso cérebro pode pensar que os dados deviam confirmar a crença, a um nível mais profundo ele nem liga a isso. Ele é extraordinariamente reticente em reavaliar as suas convicções.

E como um velho soldado com o seu revólver que não acredita que a guerra acabou, também o cérebro se recusa a entregar as armas mesmo que os factos desmintam aquilo em que ele crê.

Mesmo as crenças que não parecem, estão intimamente ligadas á sobrevivência porque as crenças não ocorrem individualmente ou no vácuo. Elas relacionam-se umas com as outras formando uma rede que cria a visão do mundo fundamental do cérebro e daqui a importância de manter intacta essa rede.

Pequenas que sejam e aparentemente sem importância, qualquer pequena convicção é defendida até ao fim.

Por exemplo, um criacionista não pode tolerar a precisão dos dados que indicam a realidade da evolução, não por causa dos dados em si mas porque mudar qualquer crença relacionada com a Bíblia e a natureza da criação, quebrará todo um sistema, uma visão do mundo e, em última análise, a experiência de sobrevivência do seu cérebro.

O que está em causa, portanto, é uma questão de valor da sobrevivência da credibilidade e, perante ela, as evidências negativas são insuficientes para mudar as crenças mesmo em pessoas inteligentes em outros assuntos.

Em primeiro lugar, os cépticos não devem esperar mudanças de crença simplesmente como resultado dos dados ou pensar que as pessoas são estúpidas porque não mudam de ideias.

Devem evitar tornarem-se críticos ou arrogantes como resposta à resistência à mudança. Os dados são sempre necessários mas raramente suficientes.

Em segundo lugar, os cépticos devem aprender a nunca ficarem só pelos dados mas discutirem também as implicações que a mudança dessas crenças podem ter na visão do mundo e no sistema de convicções das pessoas envolvidas.

Os cépticos devem acostumar-se a discutir a filosofia fundamental e a ansiedade existencial que se estabelece quando crenças profundas são abaladas.

A tarefa é tão filosófica e psicológica quanto científica.

Em terceiro lugar, e talvez a mais importante, os cépticos devem perceber quanto difícil é para as pessoas verem as suas convicções abaladas. É, quase literalmente, uma ameaça ao senso de sobrevivência dos seus cérebros.

É perfeitamente normal que as pessoas fiquem na defensiva em situações como essas. O cérebro acha que está lutando pela sua própria vida.

A lição que os cépticos devem aprender é que as pessoas, geralmente, não têm a intenção de serem teimosas, irracionais, nervosas, grosseiras ou estúpidas, quando as suas convicções são ameaçadas.

É uma luta pela sobrevivência e a única maneira de lidar, efectivamente, com esse tipo de comportamento defensivo é amenizar a luta em vez de inflamá-la.

Os cépticos só podem pensar em ganhar a guerra pelas convicções racionais se continuarem, mesmo contra respostas defensivas, mantendo um comportamento digno e respeitoso que demonstre respeito e sabedoria. Para que os argumentos científicos se imponham, os cépticos devem manter sempre o controle e não se irritarem.

Finalmente, o que deve servir de consolo é que a parte realmente fantástica disto, não é que somente algumas crenças se modifiquem ou que as pessoas sejam tão irracionais, mas sim que as crenças de qualquer um podem modificar-se.

A habilidade que os cépticos demonstraram em alterar as suas próprias convicções a partir das descobertas científicas, constituiu um verdadeiro dom; uma capacidade poderosa, única e preciosa, só possível por uma alta função do cérebro na medida em que vai contra algumas das urgências biológicas mais fundamentais.

Eles possuem uma aptidão que pode ser assustadora, modificadora e que causa dor. Ao projectarem nos outros essa habilidade devem ser cuidadosos e sábios.

As convicções devem ser desafiadas com cuidado e compaixão.

Os cépticos não devem perder de vista os seus objectivos, devem adoptar uma visão de longo prazo, tentarem vencer a guerra pelas crenças racionais, não entrarem numa luta até à morte.

Não são só os dados e os métodos dos cépticos que têm que ser limpos, directos e puros, mas também a sua conduta e comportamento.




(Este texto é da autoria de Gregory W. Lester, Professor de Psicologia da Universidade de St. Thomas em Houston nos EUA)



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