quarta-feira, novembro 01, 2006

Resposta a Miguel Sousa Tavares - pelo Macroscópio -


MIGUEL SOUSA TAVARES

A costela sanguínea que o Miguel S. Tavares herdou do seu pai Francisco S. Tavares perturbou-lhe a razão quando reagiu em força contra um anónimo autor de um blog que, cobardemente, resolveu acusá-lo de plágio no seu livro Equador.

Os cobardes que atrás do anonimato atacam outras pessoas não merecem outro tratamento que não sejam dois sopapos na focinho à boa maneira do antigamente quando a honra e a palavra só por si ditavam as suas leis.

Mas o Miguel, cego de raiva pela razão que lhe assistia, levou tudo à frente e arrasou o mundo dos blogs referindo-se com sobranceria e ignorância assumida ao mundo da Internet como se as estradas por onde circulamos fossem elas as responsáveis pelos muitos energúmenos que por lá circulam.

Não perdeu, por este facto, a razão que tinha mas à sua maneira, não cobarde, foi igualmente injusto como tinham sido para com ele e creio que a esta hora, a sua Crónica no Expresso do último Sábado, da qual sou leitor assíduo, muito provavelmente, teria levado uma certa volta…

E como este mundo é de Acção e Reacção e às vezes há males que vêm por bem, salvou-se no meio de tudo isto um belo texto que bem pode ser considerado como a resposta do espaço da Blogosfera a MST que terá todo o interesse em lê-lo, primeiro porque foi escrito por alguém que tal como eu é também um admirador da sua pessoa e das suas Crónicas, razão menos importante comparada com a qualidade da argumentação e do bom senso que presidiu à sua escrita.

Se pudesse, recomendava ao MST que não deixe de ler no
Macroscopio de 29 de Outubro “Notas Macroscópicas” à sua Crónica sobre a Blogosfera denominada Cibercorbardia.

Será uma bela oportunidade para aprender e afinar pontos de vista sobre um assunto em que ele é, nitidamente, carente.

terça-feira, outubro 31, 2006


POR QUE MENTEM OS POLÍTICOS

O Governo de Sócrates tem, ultimamente, sido acusado com insistência de faltar ao cumprimento das promessas efectuadas durante a campanha eleitoral e o 1º Ministro apontado como mentiroso por tudo quanto é oposição e manifestações de rua.

Se recuarmos no tempo iremos encontrar o mesmo tipo de acusações relativamente aos governos e 1ºs Ministros do pós 25 de Abril excepção feita, talvez, ao da Engª. Lurdes Pintassilgo pelas suas características especiais.

No último processo eleitoral, depois do descalabro que tinha sido a passagem pelo governo de Santana Lopes, fui assistir à reunião de campanha do PS que teve lugar no edifício do CNEMA, aqui, em Santarém.

Esperava-se e desejava-se uma vitória por maioria absoluta do Partido Socialista para que o Eng. Sócrates, político que já tinha dado provas de grande determinação e pragmatismo, pudesse executar o seu programa com estabilidade porque os males eram graves, profundos, como se diz, estruturais e consequentemente iriam necessitar de uma acção continuada por toda uma legislatura para que o muito que havia a ser feito o pudesse ser ou pelo menos iniciado de forma irreversível.

Todas as pessoas sensatas percebiam que havia no país um grave desequilíbrio entre aquilo que o Estado recebia e o que gastava e como não há milagres, pelo menos nesta área, eram inevitáveis sacrifícios que iriam recair sobre toda a população e serem sentidos de forma mais dolorosa pelos mais pobres porque essa dos “ricos que paguem a crise” é demagogia barata do PCP.

Em uma qualquer situação de dificuldades os mais frágeis são sempre, inevitavelmente, os que mais sofrem.

Esperava eu, portanto, no início do Comício, que iria ouvir o presumível futuro 1º Ministro alertar os portugueses para a necessidade de arregaçarmos as mangas para trabalharmos melhor, de forma mais eficiente e contermo-nos todos nos gastos porque se a produção da riqueza não aumenta facilmente de um dia para o outro já a redução das despesas se poderia começar a fazer de imediato.

Mas a minha expectativa saiu completamente lograda pois tudo quanto ouvi foram palavras cor-de-rosa, promessas de um futuro melhor, sem um apelo à nossa capacidade de sacrifício ao, esforço e ao rigor.

Ao contrário, a riqueza iria aumentar, não haveria necessidade de subir impostos ou fazer despedimentos na Função Pública.

Fiz nessa altura um texto para o meu blog queixando-me que aquele discurso não era sincero, mobilizador, politicamente honesto, era apenas mais uma intervenção de campanha eleitoral para atrair votos ou, pelo menos, não os afastar.

Sabendo, todos nós, como estava o país esta era a única leitura possível.

Todos os partidos políticos para alcançarem ou manterem o poder em democracia, mais ou menos, mentem, ocultam ou distorcem a realidade. Haja em vista aquela cassete que recentemente veio a público do 1º Ministro Húngaro em que claramente o admitia.

A Democracia é um Regime Político exigente e de responsabilidade para todos, implica cultura cívica e um razoável nível geral de informação e isto é impossível de atingir quando em Portugal o nível de literacia dos nossos alunos em leitura, matemática e ciências é dos mais baixos da OCDE, de acordo com um estudo relativamente recente de uma Agencia Internacional, É o bê-á-bá e pouco mais.

Se não entendemos o que lemos, não entendemos o que ouvimos e não percebemos o que se passa à nossa volta, no nosso país, no mundo e não conseguiremos integrarmo-nos num processo de produção que nós não ditamos mas que temos de acompanhar para não ficarmos à margem, excluídos.

E, sendo assim, os nossos políticos vão ter que continuar a mentir para nos convencerem a entregarmos-lhe os nossos votos.

Passámos definitivamente aquela fase em que o poder se alcançava pelo recurso à violência e se mantinha com a ajuda das forças militares ou militarizadas, da censura e privação das liberdades e isto constituiu um enorme avanço das nossas sociedades mas ainda não conseguimos dispensar a mentira, as verdades enviesadas e as subtilezas dos discursos como estratégia de conquista e manutenção do poder.

Vai ter que passar ainda mais tempo e investir em força numa educação que nos torne mais aptos para vivermos num mundo cada vez mais exigente.




domingo, outubro 29, 2006

Eu cá não voto... mas se votasse...


EU CÁ NÃO VOTO…mas se votasse…

Desculpe-me, Maria Elisa, mas não obstante a satisfação em vê-la de volta aos ecrãs da Televisão pela qualidade e segurança das suas intervenções, não vou votar para a eleição do português mais importante.

Não é por considerar essa eleição uma fantochada como o deputado historiador do Bloco de Esquerda, Fernando Rosas ou por uma questão de rigor histórico como alegou e com alguma razão, o professor de História da Universidade de Coimbra, é apenas por simples e elementar justiça.

Votar é escolher e escolher é preterir, deixar de fora e isso não me é possível fazer porque é injusto, mesmo num simples jogo, num entretenimento, num passatempo.

Repare:

Como escolher entre D. Afonso Henriques, primeiro grande responsável pela nossa existência como Nação de mais de 8 séculos, e D. João II que envolveu os portugueses da sua geração e seguintes nos Descobrimentos que constituiu o maior trabalho colectivo levado a cabo com sucesso pelo país, qualquer coisa de grandioso com repercussões em todo o mundo?

E como escolher, por exemplo, entre Luís de Camões, Agostinho da Silva ou Fernando Pessoa?

Quem deixaria de fora se os admiro a todos igualmente?

- Luís Vaz de Camões, génio lírico, aventureiro, romântico, apaixonado e sentimental, autor, entre muitos outros, daquele verso escrito à sua em amada e que há mais de 50 anos vive na minha memória e de tantos outros milhares de portugueses:

“ Alma minha, gentil, que te partiste…”

e depois conta a história dos heróis do seu país mas também das suas graças e desgraças num estilo épico cuja obra, os Lusíadas, mesmo hoje, passados séculos, continua a ser a obra de referencia da nossa literatura ?

-Agostinho da Silva, génio do pensamento, da acção, da coerência e da honestidade intelectual que escrevendo aos seus amigos dizia:

“ Parece que toda a gente está de acordo que o mundo se encontra em crise. Como isto me parece demasiado vasto para eu poder ser útil decidi que sou eu quem está em crise e talvez consiga sair dela com três princípios:

- O de me ver livre do supérfluo;

- Não confundir o verbo amar com o verbo ter;

- O de prestar voto de obediência ao que for servir, não mandar.”

- Fernando Pessoa, que escreveu coisas tão simples, belas e humanas como:

-"Todas as cartas de amor são ridículas"

-"
Tudo vale a pena se a alma não é pequena"
-" Minha pátria é a Língua Portuguesa"

- "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal."

E, num outro registo, Vasco da Gama, Bartolomeu Dias, Gil Eanes, Pedro Álvares Cabral que ligaram o mundo através de rotas marítimas que eles próprios desenharam no mar só possível com heroísmo e competência ímpares.

E, já agora, porque escrevo de Santarém, referir, por último, dois homens que em momentos diferentes lutaram por essa coisa que me é tão cara e que é a liberdade:

-Marquês Sá da Bandeira, de seu nome Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, cuja estátua se encontra na praça mais nobre da cidade e que foi exemplo de um homem não só de grande carácter, coragem e destemor como também uma pessoa de causas, as mais importantes, liberdade e luta contra a escravatura, cujo percurso militar e político, na qualidade de Liberal contra a via absolutista de D. Miguel, bem merecia que fosse contada em pormenor a toda a nossa juventude para que dele se orgulhasse e orgulhando-se dele se orgulhasse de si própria.

Mas… se eu votasse, escolheria uma personagem mais perto de mim, da minha geração e que também tem a sua estátua em lugar de destaque, à entrada da cidade: o Major Salgueiro Maia.

Como a história não acontece duas vezes ficaremos sempre por saber se a Revolução dos Cravos teria sido mesmo de cravos se tivesse sido outra pessoa a desempenhar o papel que lhe foi entregue.

Saiu de Santarém por causa do “ estado a que isto chegou” era ainda de noite, com os soldados estremunhados.

Ocupou o Terreiro do Paço que é assim como que ocupar Lisboa inteira e ofereceu-se, de peito aberto, olhos nos olhos, às balas de uma metralhadora montada num blindado de uma força comandada por um Brigadeiro histérico.

Ganhou a “sua guerra” mas foi de forma respeitosa e não como um vencedor que acompanhou Marcelo Caetano ao avião na sua viagem para o exílio, no Brasil, onde iria remoer os seus ódios por todos quantos tiveram a coragem que a ele lhe faltou.

De seguida, terminada a sua missão, regressou discretamente ao seu quartel e continuou a ser apenas um militar só que, a partir de então, um militar de Abril, o mais puro de todos eles.

Morreu prematuramente porque às vezes, a morte tem destas coisas: leva os melhores à frente para que todos os outros que cá ficam os possam aplaudir como fazem agora os treinadores de futebol quando retiram do campo a estrela da sua equipa minutos antes do jogo acabar para receber a grande ovação.

Salgueiro Maia mereceu inteiramente a ovação, de pé, como se faz com as grandes estrelas.


E se amanhã, quando o desfecho da eleição do português mais importante for conhecido e o resultado for qualquer coisa de semelhante ao que aconteceu em Inglaterra, em que a Lady Di ficou 4 lugares acima de Shakespeare, eu quero estar fora, não tive nada a ver com isto.

Site Meter