sábado, março 22, 2014

IMAGEM

O sol já se pôs, a maré subiu, as gaivotas fazem uma pausa mas o candeeiro atento vigia...



OTIS REDDING - I'VE BEEN LOVING YOU TOO LONG


Esta é daquelas canções que nos faz arrrepios na coluna. É um "crime" que este homem, um gigante da música "soul", nascido em 1942, tenha morrido aos 26 anos de idade... Foi considerado pela revista Rolling Stone o 8º melhor cantor de todos os tempos.
Foi vítima de um desastre de aviação no Visconsin que teve apenas um sobrevivente, um jovem com 20 anos. Percy Sledge esteve no seu funeral. Redding era dos poucos cantores que compunha a maioria das suas canções, o que não era então vulgar. (Desculpem a qualidade do vídeo mas é dos poucos em que ele aparece e a sua interpretação faz esquecer o resto...)

Morte por Viagra....
Efeito Viagra









Ainda na cama, a mulher pergunta ao homem:

- Queres que te prepare o pequeno-almoço e que o traga aqui ?

Responde o homem:

- Não, obrigado. O Viagra tirou-me o apetite !

 Chega a hora do almoço e a mulher volta a propor:

- Queres que te prepare um almoço com o teu prato favorito ?

Responde o homem:

- Não amor, obrigado. Aquele Viagra tirou-me o apetite !

 Por alturas do jantar a mulher insiste:

- Posso preparar-te uma refeição levezinha ?

Diz o homem:

- Não me apetece nada, querida. Aquele Viagra tirou-me o apetite!

E diz a mulher:

- Então importas-te de sair de cima de mim, que não como nada deste ontem...?

António Lobo Antunes
MERCEDES





Desde que me reformei ando para aqui como um fantasma. Ligo a televisão, aborreço-me, desligo a televisão, abro o jornal, aborreço-me, poiso o jornal, deito-me para uma sesta, não durmo, levanto-me da cama, vou lá abaixo ao café, peço um café, deixo-o esfriar sem dar por isso, volto para casa ou fico a olhar uma mesa de viúvas, uma delas de cãozito ao colo, a dar-lhe bocaditos de biscoito, conversando de netos e doenças, que é mais ou menos a mesma coisa.

Ignorava que houvesse tanta criança inteligente e tanta angina em Portugal. As viúvas de cabelo pintado de louro e o pó de arroz a flutuar-lhe em torno, não pegado à cara, com mais perfume do que carne, percebo que baixam a voz para falarem de mim.

 - Não é nada mal aquele...

Apesar de me faltar cabelo e da placa dos dentes, aperfeiçoo a gravata para ficar menos mal ainda, dou um jeito ás têmporas, uma, a mais gordinha, não me tira os olhos de cima, usa anéis enormes, em quase todos os dedos e, de vez em quando, dá a impressão que me sorri.

O dono do Café no meu ouvido.

 - A dona Mercedes parece que simpatiza com o senhor Pinto e, confidencial:

 - O marido deixou-a bem na vida... o que não me aquece nem arrefece, mentira, aquece-me um bocado, faz sempre jeito, espreito a dona Mercedes com mais interesse e encontro os olhos dela fixos nos meus e uma espécie de suspiro a aumentar e a diminuir o peito considerável, uma segunda viúva para a dona Mercedes.

 - O cavalheiro elegante simpatiza consigo.

A dona Mercedes baixa os olhos, aumenta o pó de arroz das bochechas e fita-me de novo, uma terceira viúva.

 - Vai acabar em romance não tarda.

Volto para casa envergonhado, moro mesmo em frente do Café, num prédio com salão de beleza Recupere a Mocidade no primeiro andar e eu três assoalhadas por cima da mocidade recuperada, há quinze dias, na minha caixa do correio, para além da publicidade do costume e do aviso habitual das Finanças, que não tem mais nada que fazer senão incomodar-me, um sobrescrito cor de rosa com o meu nome no lado do destinatário, Mercedes Esteves, numa caligrafia caprichada, no lado do remetente, no interior da página cor de rosa também, com um par de pombinhos azuis a segurarem, cada qual, a sua ponte de um laçarote branco e a mesma caligrafia caprichada:

Exmo Senhor o telefone da minha residência é o Tal e Tal, aguardo com esperança uma comunicação sua. Respeitosamente Mercedes do Carmo Guerreiro Esteves, com um arabesco na ponta, que uma rosa terminava, e o baton de um beijo, ou não mencionando um cheiro tão espesso, tão forte, tão vivo, que tive de me encostar à parede para não cair.

Deixei imediatamente de ser um reformado fantasma, subi as escadas numa leveza de vinte anos. (tenho setenta e cinco).

Sem ligar à televisão nem ao jornal, não me deitei para uma sesta, não dormi, marquei o número uma primeira vez, respondeu uma voz solene:

 - Agência Céu é Seu, funerais, trasladações.

Percebi que tinha trocado um três por um nove. Marquei de novo, com o coração irregular, uma criatura bem na vida, prédios, terras, se calhar uma casa na praia, que são coisas que naturalmente perturbam os ventrículos, um

 - Siiiiiiiiiiim? de veludo transtornou-me a orelha, respondi num gaguejo

 - Chegou-me uma carta...

Recebi uma pausa comovida em que se embrulhou um

 - Estava com tanto medo que me tivesse esquecido consegui a custo

 - Como podia esquecê-la? que continha dúzias de anéis e um sorriso no topo, e encontrámo-nos nessa tarde num Café diferente, longe das restantes viúvas, eu a cabeleira loira e um vestido prateado que lhe acentuava os volumes, silenciosos um diante do outro, tímidos, nervosíssimos, a partilharmos um chazinho de tília, segurando a asa da chávena de mindinho em antena até os mindinhos se tocarem, se entrelaçarem, se prenderem, explicar-lhe

 - Chamo-me José Pinto e sou reformado do Exército sem acrescentar que no posto de Sargento, não cheguei a oficial por preguiça, escutei a palavra

 - Exército... num suspiro feliz, completado por um

 - Um homem viril... e talvez viril, de facto, embora trabalhasse de escriturário, há escriturários marciais, capazes de se sacrificarem pela pátria, o mindinho dela enrolou-se no pulso...

 - José... O meu mindinho enrolou-se no pulso

 - Mercedes... a sentir, palavra de honra, o beijo do papel na minha boca, delicado, suave, um joelho contra o meu, um sapato a pisar-me com doçura...

 - Se sonhasse como me faz feliz, José... apesar de um dos anéis me trilhar um bocadinho a pele, o apartamento dela tão feminino, naperons, rendas, bonecos de louça, quadros com ninfas, uma sereia quase de mármore, novelos de tricot num cestinho, um hamster a pedalar a sua roda, nós perto um do outro num sofazito de verga onde o decote aumentava, o cãozito estendido numa almofada a olhar-nos numa amizade compreensiva, e nisto um sujeito com o dobro do meu tamanho e metade da minha idade a puxar-me a gravata

 - Quem é este moinante?... empurrando-me para o patamar...

- Pisga-te... fazendo-me tropeçar nos degraus, desequilibrar-me, equilibrar-me, desequilibrar-me de novo, o sujeito a censurar à Mercedes

 - Nunca mais tens juízo, cretina? e a acrescentar:

 - É o quinto este mês...

A Mercedes chorosa

 - Já não posso receber amigos?... seguido de:

 - Não me deixes Moisés... seguido de:

 - Juro que não volta a acontecer... e não me lembro de mais nada porque um vaso de flores atirado pelo Moisés lá de cima, me acertou na cabeça.

Aliás, nem tenho tempo para continuar porque é a hora de ir ao Centro de Enfermagem mudar a ligadura do penso.

António Lobo Antunes

Seu Vasco era o chefe da firma...
OS VELHOS

 MARINHEIROS


Episódio Nº 36









O primeiro empregado, aquele espanhol Rafael Menendez, entrou como sócio forte e, em suas mãos, por disposição testamentária do velho Moscoso, ficou a completa direcção dos negócios e o futuro da casa. Vasco herdou as quotas do avô que lhe garantiam o controle da firma, a maior parte dos lucros, uma fortuna considerável, e nenhuma responsabilidade.

Viu-se assim livre de encargos, horários e obrigações e cheio de dinheiro. Deixou a Menendez todas as decisões, por uma vez apenas dele discordou e impôs sua vontade: quando o espanhol decidiu despedir o velho Giovanni, um carregador que entrara para a firma quase na fundação.

 Durante mais de quarenta anos transportara na cabeça fardos e fardos, do depósito para as carroças, infatigável, sem um dia de descanso, sem uma queixa, servindo à noite como vigia do prédio, dormindo em cima dos fardos no depósito, abrindo a porta para fregueses retardatários, aqueles que ousavam infringir os horários do velho Moscoso.

Vasco era-lhe grato, pois o negro Giovanni o protegera sempre, desde os dias iniciais e sofridos de sua vinda para o prédio, com dez anos de idade. Contava-lhe histórias à noite, fora embarcadiço na juventude, falava-lhe de mares e portos.

 Nascido João e escravo, fugira para a liberdade do mar, onde a tripulação italiana de um navio o transformou para sempre em Giovanni. Era o único a demonstrar simpatia pela criança prisioneira no sobradão escuro onde o cheiro das especiarias tonteava.

Envelhecera na firma, chegara aos setenta anos e as forças começavam a faltar-lhe, já não dava completa conta do serviço. Menendez resolveu despedi-lo e tomar outro carregador.

Vasco, mesmo após a morte do avô e sua nova situação de chefe, guardara certo temor ante Menendez. O espanhol era um desses homens blandiciosos, a bajular os seus superiores, arrogante e estúpido com os que dele dependiam ou lhe eram inferiores em cargo e importância.

Assumira a direcção da firma com mão de ferro, os negócios marchavam admiravelmente. Mas os empregados queixavam-se, era pior ainda do que no tempo do velho Moscoso.

 Vasco temia o olhar frio e crítico do espanhol, seu jeito de falar, sem gritos, sem exaltação, mas com inflexível decisão. Quando menino e rapaz, no escritório, Menendez não o repreendia como aos demais.

 Levava, porém, Vasco o sabia, ao conhecimento do avô cada erro seu, cada violação do regulamento da casa. Inclusive suas raras escapadas nocturnas, já homem de bigodes, protegidas pelo negro Giovanni.

 Agora Menendez curvava-se ante ele, demonstrando-lhe uma consideração e um respeito reservados antes para o velho Moscoso. No entanto, tentou impor sua decisão qquando Vasco, aflito e indignado, veio discutir o caso do negro despedido.

 Giovanni fora procurá-lo na véspera à noite para contar-lhe o sucedido. Menendez lhe pagara o salário mísero e, sem uma explicação sequer, dispensara seus serviços.

Completara Giovanni os setenta anos, suas pernas já não tinham a segurança de antes, seus braços perdiam o vigor hercúleo. Encontrara Vasco num bar com os amigos, explicou-lhe a situação, os olhos gastos piscando para não chorar, a voz trémula:

- A casa me comeu as carnes, agora quer jogar os ossos fora . . .

- Isso não vai acontecer... - garantiu Vasco. O negro velho lhe agradeceu com um conselho:

- Aquele gringo não presta, seu Aragãozinho. Tome tento com ele senão ele ainda lhe faz uma falseta.

No outro dia Vasco amanheceu no escritório, fato raro. Chamou Menendez para uma conversa, estava sério e formalizado, os empregados começaram a cochichar. No gabinete do velho Moscoso, reservado agora para Vasco, ouvia-se a voz alterada do chefe da firma.

A voz de Menendez ninguém a escutava, jamais um grito ou uma palavra mais alta saíra de seus duros lábios nem mesmo quando insultava nos termos mais agressivos um funcionário faltoso.

Não foi fácil impor sua vontade. Alteava a voz, dizia ser uma desumanidade a despedida do velho Giovanni, não havia direito a transformar em mendigo, no fim da vida, um homem cuja existência inteira fora dedicada ao trabalho, à prosperidade da casa.

Menendez sorria seu sorriso frio, balançava a cabeça concordando, mas mantinha-se em suas posições de princípio: quando um empregado já não dá conta do seu trabalho só resta despedi-lo e botar outro. Essa era a regra do jogo: ele a aplicava.

 Se abrisse excepção para Giovanni, se continuasse a pagar-lhe o ordenado, outros empregados iriam exigir tratamento idêntico, “seu” Vasco (agora Menendez antepunha ao nome do novo chefe a partícula respeitosa, depois de tê-lo tratado durante mais de vinte anos por Aragãozinho) podia imaginar o desastre de tal política? Não, não podia agir de outra maneira.

Vasco não queria saber de princípios, de política a aplicar, apenas achava uma crueldade, uma verdadeira miséria, a despedida de Giovanni. Menendez lavava as mãos: seu Vasco era o chefe da firma, o que ele decidisse seria cumprido.

 Ele devia, porém, pensar duas vezes antes de pôr abaixo uma regra a reger toda a vida comercial: era a própria estrutura da firma que ele ia colocar em perigo. Sem contar não ser apenas de Vasco o prejuízo acarretado, os outros sócios também seriam prejudicados. Não falava por ele, Menendez, sua posição era de defesa de um princípio estabelecido e não de uns magros mil-réis.

sexta-feira, março 21, 2014

IMAGEM

Vejam, com a presente crise, o que aconteceu ao "pessoal" do presépio.


Esta canção foi escrita por Hoyt Axton em 1954 e tornada famosa pelo conjunto Three Dog Night no princípio dos anos setenta. Ainda está nos ouvidos da malta da minha geração.

Para Perguntas Idiotas.......
Respostas Idiotas!!!!




Fui à loja comprar veneno para ratos.

-Tem veneno para ratos?
-Sim! Vai levar?
-Não, vou trazer os ratos para comerem aqui!!!


Fui ao banco para trocar um cheque... O funcionário perguntou:
-Vai levar em dinheiro???
-Não!!!!! Dê-me antes em clips, borrachas, apara-lápis!!!

Estou abraçado a minha acompanhante e entramos num bar romântico.
-O empregado pergunta:
-Mesa para dois?
-Não, mesa para quatro, duas cadeiras são para apoiar os pés!

Depois, pego no talão de cheques e numa caneta. Então o empregado pergunta:
-Vai pagar com cheque?
-Não, vou fazer um poema nesta folhinha.

Entro no elevador de um prédio, no momento em que pára no subsolo-garagem. Um senhor pergunta:
-Vai subir?
-Não, vou prós lados!!!!

Estou a fumar um cigarro. Um amigo pergunta:
-Ora, ora! Mas tu fumas?
-Não, eu gosto de bronzear os pulmões.
Quando voltei da margem do rio com um balde cheio de peixes o meu amigo pergunta:
-Pescaste esses peixes todos?
-Não, estes são peixes suicidas que se afogaram no meu balde.
Estou no guichet do cinema. Uma senhora pergunta-me:
-Quer um bilhete?
-Não, eu meti-me na fila só para ver onde isto ia dar...

Quando a gente leva um aparelho electrónico para a manutenção e o técnico pergunta:
- Tá com defeito ?
- Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu trouxe-o para passear.

Quando te acabas de levantar, aí vem um idiota (sempre) e pergunta:
- Acordaste?
- Não. Sou sonâmbulo!
O teu amigo liga para a tua casa e pergunta:
- Onde estás ?
- No Pólo Norte! Um furacão levou a minha casa pra lá!

E a melhor de todas:
-Cortaste o cabelo?
-Não, tirei pra lavar!!!

Cuidado com as Batatas...!




Manel casou-se com Joana e, no dia do casamento, Joana levou para a sua casa nova um grande baú, e pediu para que Manel respeitasse a sua individualidade e nunca o abrisse.

Durante 50 anos de casamento, apesar da curiosidade, Manel nunca abriu o baú.

Na comemoração dos 50 anos, Manel não aguentou e perguntou a Joana o que tinha dentro daquele baú.

Ela então resolveu mostrar-lhe o baú. Ao abrir, Manel viu €60.000 e quatro batatas.

Curioso, perguntou por quê as batatas, e ela então confessou:

- “Cada vez que te traí coloquei uma batata no baú”.

Manel, no primeiro momento ficou chocado, mas, depois de meditar, disse para si mesmo:
 
Até lhe posso perdoar… quatro batatas em cinquenta anos, significam uma traição por cada 12,5 anos”.

 De seguida, ele perguntou o que significavam os 60 mil euros.


Foi o momento em que ela lhe disse:

 - “Cada vez que o baú se enchia de batatas, eu vendia-as”.

O da parábola era ingénuo... Este, é estúpido...
No Tempo

Em Que

Os Animais 

Falavam...













Não, não é uma parábola de La Fontaine. Esta foi-me ensinada na disciplina de Kimbundu, língua falada no Noroeste de Angola, província de Luanda, por cerca de 3 milhões de pessoas, e que eu aprendi vai para 53 anos, no Ano Lectivo 1960/61, do meu Curso de Estudos Ultramarinos, era assim que se chamavam nesse tempo, depois de terem sido Coloniais...

Começava assim, e cito de memória: “Eme negateletele kolombolo dia sangi...” o que, traduzido para português significava: “Eu costumava contar repetidas vezes a história de um galo acasalado com uma galinha...”

Pois bem, nesse tempo em que os animais falavam as raposas não atacavam os galos até ao dia em que...

 Uma raposa encontrou - se com um galo e meteram conversa. Palavra puxa palavra e a raposa foi conduzindo o assunto ao seu jeito, conquistando a confiança e o à vontade do galo que, descontraído, estava já disposto a todas as confidências deste mundo...

E a raposa “atacou”:

 - Diz-me lá, amigo galo, que arma é essa que vocês têm aí na cabeça?

 (A raposa sempre tivera medo da crista dos galos, vermelha, serrilhada, lá bem no alto da cabeça com todo o aspecto de arma secreta para, nos momentos decisivos, aniquilar os inimigos. Por isso, as raposas nunca tinham atacado os galos).

O galo, ufano, envaidecido pela curiosidade que a sua crista despertara na raposa, respondeu displicentemente:

 - Não é arma nenhuma. Isto são carnes somente... - xixitu ngó - ... e a raposa comeu o galo.

Como se lembram, as parábolas escondiam ensinamentos, por vezes preciosos, daqueles que podem salvar vidas e se o galo conhecesse a moral desta parábola o que, evidentemente, era impossível senão a parábola do galo e da raposa não teria existido, talvez se tivesse salvo.

Moral da parábola:

Nunca devemos contar aos amigos as nossas fraquezas porque esses amigos poderão um dia ser nossos inimigos e aproveitar-se-ão do conhecimento que lhes revelámos sobre as nossas fraquezas para nos atacarem.

Pela vida fora apercebi-me do valor deste ensinamento que me chegou através da parábola do galo e da raposa:

 - ”Eme ngateletele kolombolo dia sangi...”

Não resistiu a viúva ao golpe da perda do esposo adorado ...
OS VELHOS 

MARINHEIROS

Episódio Nº 35











Quando, na opinião do aliviado sogro, sete palmos de cova rasa já eram demasiada honra para o indesejado genro, conhecido entre os amigos como Aragão Farofa, tais e tantas ele contava.

 Sujeito mais cínico e caradura não acreditava o velho Moscoso houvesse existido sobre a face da Terra. Insensível às indirectas e às insinuações, riu-lhe na cara honrada quando, terminada a longa lua-de-mel, certo dia lhe propôs trabalhar no escritório da firma.

Por quem o tomava o sogro? - perguntara entre divertido e ofendido. Por um incapaz, um pobre-diabo útil apenas para a degradação de um escritório comercial, às voltas com secos e molhados, com bacalhau e batatas?

Com quem pensara ter casado a filha? Parecia não saber do seu talento, de sua capacidade, de suas relações, de seus planos. Não se preocupasse o estimado sogro em arranjar-lhe emprego. Estava com o futuro garantido e, se ainda não começara a trabalhar, devia-se exactamente à dificuldade da escolha entre as cinco ou seis situações, cada qual mais invejável, postas à sua disposição por seus amigos, homens do maior prestígio.

O próprio senhor Moscoso ainda muito se beneficiaria com as amizades do genro: obteria para a firma contratos de fornecimentos para o Estado, para diversas corporações, dinheiro fácil a ganhar.

Que diria o senhor Moscoso, por exemplo, de um fornecimento de carne-seca e bacalhau à Polícia Militar durante todo o ano? Era só ele, Aragão, sussurrar uma palavra ao ouvido do capitão-chefe da Intendência e estaria o assunto resolvido.

Podia o senhor Moscoso contar com o contrato como coisa certa, dinheiro em caixa. Dinheiro integral, pois ele, genro e amigo, não aceitaria nenhuma comissão.

Durante os cinco anos de casado continuou na mesma indecisão, sem decidir-se por nenhuma das cinco ou seis magníficas situações ou pelas novas ofertas de seus amigos podres de prestígio.

Não obteve também nenhum contrato oficial para a firma, ia tratar do assunto invariavelmente no dia seguinte. Firme, porém, manteve-se na recusa de um lugar de empregado do sogro, considerando a repetida renovação da oferta quase uma ofensa e uma provocação.

 Era um carácter, e tão íntegro, que jamais pôs os pés no prédio de três andares, conhecendo-o somente de vista, ao passar pela Ladeira da Montanha.

Ao morrer inesperadamente - ninguém o imaginou jamais enfermo do coração - surgiram os agiotas com títulos vencidos, empréstimos diversos, vales rabiscados a lápis, um dinheirão a pagar, do qual o velho José Moscoso, também ele um carácter, se recusou terminantemente a tomar conhecimento.

Da morte de Aragão Farofa pode-se dizer ter sido chorada pela esposa, pelos muitos amigos nos bares e pelos seus múltiplos credores horrorizados ante a pétrea sensibilidade do sogro do falecido.

Não resistiu a viúva ao golpe da perda do esposo adorado, meses depois era enterrada sob o mesmo mausoléu de mármore. Jamais duvidara ela um minuto sequer do marido, de sua grandeza, de sua fidelidade, de seu devotado amor.

E, de certa maneira, era Aragão Farofa um óptimo esposo, dedicando quase toda a tarde à mulher, acarinhando-a, gentilíssimo com ela, criando-a como criança mimada, nuns dengues de namorado, fazendo-lhe o amor com constância e sabedoria.

Mas, após o jantar, era um homem livre na noite da Baía, tinha sempre sérios assuntos políticos e comerciais a resolver, como fazia questão de explicar à esposa.

Voltava pela madrugada, cheirando a cachaça e a fêmea, o invariável charuto, o invariável sorriso satisfeito. Nem mesmo o nascimento do filho, a ligá-lo ainda mais à esposa, modificou a regularidade de seus hábitos irregulares (na opinião do velho Moscoso).

 Acordava ao meio-dia, comia e bebia do bom e do melhor, reservava a tarde para a esposa e o filho, noite livre nos bares e castelos, na prosa com os amigos a contar histórias.

Uma só virtude reconhecia-lhe o sogro: jamais fora visto bêbado, sua resistência ao álcool era assombrosa.

Debruçado em sua mesa, o velho Moscoso fitava o neto e nele revia o genro de execrada memória. De que adiantara tê-lo trazido menino de dez anos para a firma, tê-lo encaminhado nos negócios?

 Eram os mesmos olhos sonhadores do pai, o mesmo sorriso contente com a vida, a mesma total indiferença ante os problemas do escritório, um desastre. Tinha de tomar providências, e sérias, se não quisesse ver esfacelar-se, nas mãos do neto, a firma poderosa e acreditada, obra de sua vida.

E, realmente, ao sentir a proximidade da morte, transformou a firma individual em sociedade por quotas, limitada, fazendo sócios e interessados alguns de seus mais antigos e capazes empregados.

quinta-feira, março 20, 2014

Felicidade...


Talvez você já conheça
 mas só faz bem repetir…


Campanha publicitária do Citibank espalhada pela cidade de São Paulo através de Outdoors:

 - Crie filhos em vez de herdeiros. 
 
- Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete. 

 - Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe a vista da janela.

- Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama. 
 
- Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas. 
 
- Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho? 
 
- Quantas reuniões foram mesmo esta semana? Reúna os amigos.
 
- Trabalhe, trabalhe, trabalhe… mas não se esqueça, vírgulas significam pausas... e quem sabe assim você seja promovido a melhor ( amigo / pai / mãe / filho / filha / namorada / namorado / marido / esposa / irmão / irmã.. etc.) do mundo! 
 
- Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas não sem amigos. 

E para terminar:

"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. 
Assim, ele saberá o valor das coisas e não o seu preço."

        "Há os que se queixam do vento. Os que esperam que ele mude... E os que procuram ajustar as velas." 

RIBEIRA GRANDE - ILHA DE S. MIGUEL - AÇORES

Temos um Presidente que se presta a estas coisas.... (há uns tempos - Janeiro de 2012 - dizia que: "tudo somado, quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas"...) Agora fala oralmente -  e é por isto que têm de lhe escrever os textos... para não falar oralmente...)

Até onde vai a tecnologia e começa a magia?... Onde está a fronteira?...

Quando se chega a uma certa idade...



1. De um grupo de reféns, provavelmente será um dos primeiros a ser libertado. 



2. As pessoas lhe telefonam às nove da manhã e perguntam: 'te acordei?' 


3. Ninguém mais o considera hipocondríaco. 

4. As coisas que você comprar agora não chegarão a ficar velhas. 

5. Você pode, numa boa, jantar às seis da tarde. 

6. Você pode viver sem sexo, mas não sem os óculos. 

7. Você curte ouvir histórias das cirurgias dos outros. 

8. Você discute apaixonadamente sobre planos de aposentadoria. 

9. Você dá uma festa e os vizinhos nem percebem. 

10. Você deixa de pensar nos limites de velocidade como um desafio. 

11. Você pára de tentar manter a barriga encolhida, não importa quem entre na sala. 

12. Você cantarola junto com a música do elevador. 

13. A sua visão não vai piorar muito mais. 

14. O seu investimento em planos de saúde finalmente começa a valer a pena. 

15. As suas articulações passam a ser mais confiáveis do que serviço de meteorologia. 

16. Seus segredos passam a estar bem guardados com seus amigos,porque eles os esquecem. 

17. 'Uma noite e tanto', significa que você não teve que se levantar para fazer xixi. 

18. Sua mulher diz 'vamos subir e fazer amor', e você responde: 'escolha uma coisa ou outra, não vou conseguir fazer as duas!'. 

19. As rugas somem do seu rosto quando você está sem sutiã. ( esta tá boa...)

20. Você não quer nem saber onde sua mulher vai, contanto que não tenha que ir junto. 

21. Você é avisado para ir devagar pelo médico e não pelo policial. 

22. "Funcionou", significa que você hoje não precisa ingerir fibras. 

23. "Que sorte!", significa que você encontrou seu carro no estacionamento. 

24. Você não consegue se lembrar quem foi que lhe mandou esta lista.

NOTA - Brinque com a sua idade e continuará novo... 

Ao fundo o que resta do Vesúvio. Era uma montanha com mais de 3.000 metros...e as encostas cobertas de florestas.










De Novo, Pompeia



- O drama de 24 de Agosto de há 2.025 anos - 



(A importância dos graffitis das ruínas da cidade)

Há anos visitei as ruínas da cidade de Pompeia e sobre essa visita escrevi um texto que coloquei aqui, no Memórias Futuras, e no qual registava a emoção que então senti, misto de tristeza e pavor pela morte horrível de todas aquelas pessoas que pareciam ter sido vítimas de um cataclismo registado no dia anterior… e, ao mesmo tempo, a curiosidade «cuscuvilheira» de quem espreita pelo buraco da fechadura, não da porta de uma casa mas de uma cidade escancarada e misteriosamente desabitada.

De novo, volto a Pompeia para partilhar convosco o texto de Eliana da Cunha Lopes, - Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e Mestrado em Letras (Letras Clássicas- Latim) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). Atualmente é Professor Auxiliar III da Faculdade Gama e Souza. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua e Literatura Latina, actuando principalmente nos seguintes temas: Ovídio,Literatura Latina, Língua Latina, século de Augusto - que dá um especial relevo aos graffiti a que já me tinha referido e que ela aborda no texto que se segue, em pormenor e com a importância que merece:


- «Baseando-se no corpus escrito nas paredes da cidade de Pompeia, destruída pela erupção do vulcão Vesúvio, em 79 de nossa era, o presente trabalho buscará mostrar que as mensagens grafadas a carvão, nos muros da cidade arrasada, transformaram-se em preciosíssimo relicário para os pesquisadores e estudiosos do latim vulgar.

Os graffiti, do latim graphium, ou inscrições parietais encontrados nas ruínas de Pompeia contêm, em suas estruturas, caracteres linguísticos que nos permitem, não só uma visão da sociedade romana antiga mas também nos auxiliam, como fonte riquíssima, no estudo e aprofundamento do latim vulgar.

São mensagens baseadas em diversos temas como convites sedutores, conselhos, declarações de amor ou ódio, inveja, erotismo, súplicas etc., que nos mostram a linguagem corrente das classes incultas de Roma da época.

Nosso trabalho é uma pesquisa ainda em fase de desenvolvimento. São apenas algumas citações baseadas, exclusivamente, no latim vulgar. Sabemos que há entre os graffiti pompeianos textos do poeta latino Públio Ovídio Nasão mas estes textos clássicos, para o presente trabalho, não nos interessam.

Há exactamente 2025 anos, no dia 24 de Agosto de 79 de nossa era, data que deve ser relembrada por pesquisadores e estudiosos do latim vulgar, uma chuva de cinzas e pedra- pomes e sucessivos tremores de terra transformaram o dia, na cidade da Itália, às margens do Mar Tirreno, em noite e destruíram tudo e todos que se opunham a sua passagem.

Pompeia, cidade produtora de vinho e azeite, viveria, naquele 24 de Agosto, um dia festivo. Seus habitantes assistiriam a um espectáculo teatral com atores vindo de Roma que se apresentariam no Grande Teatro, a partir das 11h da manhã prolongando-se o espectáculo, como era de costume, até a noite. 

Passava das 10h da manhã. As arquibancadas quase repletas: os vendedores ambulantes, com seus cestos de pão e doces, dirigiam-se para o teatro.

Nos bares ao ar livre, as thermopolia as últimas taças de posca eram saboreadas. Os comerciantes cerravam as últimas portas de seus estabelecimentos. O dia ensolarado e quente convidava ao lazer.

No auge dos preparativos para a festa, ouve-se uma explosão. Era apenas o início. A população perplexa visualiza o topo do Vesúvio. O vulcão partira-se em dois e, do seu interior, rompe-se uma tocha de fogo. 

Inacreditável!!! Os habitantes de Pompeia se entreolhavam e com uma pergunta/resposta sufocada na garganta constataram: É uma erupção!

O Vesúvio que tinha adormecido, pelo menos por 900 anos, estava ali, diante deles, dando sinal de vida e de opulência.

Na manhã seguinte (25 de Agosto), quando a cidade já se encontrava sob os entulhos vulcânicos, o Vesúvio despejou toda a sua fúria em forma de gases quentes (vapores clorídricos).

A temperatura, segundo pesquisadores, atingiu a marca de 600 graus Celsius. Todos os habitantes de Pompeia e Herculano foram soterrados na mais terrível erupção vulcânica.

Na época, Pompeia possuía entre 15 e 20 mil habitantes. Acredita-se que, por serem constantes, os terramotos nesta região, os habitantes não perceberam a gravidade de tal fenómeno.

Os habitantes de Pompeia, na tentativa de fuga pelas ruas, foram mortos por asfixia e queimados, outros, no seu próprio leito.

Os que sobreviveram, foram tragados no final da tarde do dia 25. Foi o golpe fatal, nada restando das cidades províncias.

As cidades de Pompeia e Herculano, no sul da Itália, permaneceram, durante muito tempo, soterradas pela erupção violenta do vulcão, sob metros e metros de cinzas e pedras.

Anos mais tarde, os pesquisadores efectuaram escavações na área soterrada e descobriram um vasto material arqueológico e linguístico.

Em Pompeia, de entre os «achados», permaneciam intactos os famosos graffiti, inscrições populares escritas, em sua maioria, a carvão. Esta descoberta trouxe, para o latim vulgar, uma contribuição riquíssima e ímpar.

A vantagem desta descoberta deve-se ao fato de que as mensagens têm um carácter linguístico e social, revelando duas faces de uma mesma moeda.

De um lado, forneceu-nos uma visão da forma de vida da sociedade de uma cidade da provincial, de outro, levou-nos ao estudo das alterações fonéticas, morfológicas e de sintaxe de uma das fases da língua latina: o latim vulgar.

As inscrições de Pompeia foram estudas por Väänänen, Le latin Vulgaire des Inscriptions Pompéiennes, Helsinki,1937 (2ª ed.,1958) e reunidas no Corpus Inscriptionum Latinarum, conhecido pela sigla CIL, obra grandiosa editada pela Academia das Ciências de Berlim, iniciada em 1863 e ainda incompleta.

Dos dezasseis volumes que compõem esta obra, que reúne inscrições de diversas cidades e regiões, o quarto volume é de grande relevância. Nele, encontram-se registadas as inscrições parietais, gravadas com estiletes, e em menor escala a carvão, em paredes, monumentos, muros, banheiros etc.

Dos graffiti encontrados na região destruída pelo vulcão, os que nos interessam são as inscrições de cunho popular, não literária e muitas das vezes fragmentária, mas que expressam, com clareza, a linguagem quotidiana dos soldados, colonos civis e militares e comerciantes da época, os falantes natos do latim vulgar.

Estas inscrições registam, também, o modo de vida dos habitantes da província mostrando os resultados dos jogos de dado, declarações de amor ou ódio, inveja, erotismo, conselhos, súplicas etc…

Os graffiti contribuíram para o estudo filológico e linguístico na reconstituição do latim vulgar falado. A epigrafia, ciência que se ocupa da leitura, interpretação e datação das inscrições antigas em material resistente como pedras, metal, argila, cera etc., em muito contribuiu para o estudo da reconstituição do latim vulgar.

O latim vulgar (vulgo (latim) = povo) ou latim corrente, em oposição ao latim clássico, que é a norma culta do latim, está documentado em textos epigráficos, em textos literários e indirectamente nas línguas românicas.

Não conhecemos na totalidade o latim vulgar. O que há, na verdade, são vestígios através dos quais os filólogos tentam reconstituir o que teria sido o latim vulgar.

O latim vulgar era uma língua falada em Roma e suas províncias, não havendo nenhum documento oficial escrito só nessa variedade linguística. Concentra-se neste fato a maior dificuldade encontrada para a reconstituição desta forma linguística.

A partir do corpus escrito nas paredes da cidade de Pompeia, analisaremos algumas inscrições à luz da morfologia, sintaxe e fonologia.

Há cerca de 15000 inscrições parietais recolhidas de Pompeia registadas no CIL. Os graffiti são bastante numerosos e diversificados, pelo hábito dos seus habitantes de todas as faixas etárias de rabiscarem as paredes com carvão.

O nível de língua das inscrições parietais pompeianas varia bastante. Os habitantes locais zombavam do próprio hábito de rabiscarem as paredes numa linguagem bastante literária, conforme atesta o trecho abaixo:

Admiror, paries, te non cecidisse ruinis, qui tot scriptorum taedia sustineas.
(CIL, IV, 1904)



«Admira-me, parede, não teres caído em ruínas, tu que aguentas o tédio de tantos escritores»

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