sábado, março 23, 2013

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Saudades de Portugal

Na Baixa de Lisboa o dia prepara-se para substituir a noite

BEAUTIFUL SUNDAY - DANIEL BOONE

Uma linda canção de 1972. Um ano que marcou a minha vida... mais uma razão para me lembrar dela.


O CONTEXTO


O contexto é o refúgio dos políticos. Eles só dizem o que dizem dentro do Contexto, fora dele nada daquilo que afirmaram querem dizer o que disseram…

Os “malditos” dos jornalistas inventam cada coisa… 

Do género:

1º Ex.

“… - Mas V.Exª afirmou que se ia demitir por cansaço…



 - … - Não, não, o senhor não pode retirar as minhas palavras do Contexto em que elas foram ditas: eu tinha acabado de subir as escadarias do Ministério e estava, de facto, muito cansado e daí a minha afirmação perfeitamente compreensível e justificada.

2º Ex:



… - Mas o Sr. Presidente disse textualmente: “Corram com eles à pedrada”.

“… - Não, não vá por aí, não retire essa afirmação do contexto, eu estava a presidir a uma Assembleia das Juntas de Freguesia…”

Ficamos, neste caso, a saber que numa reunião da Assembleia de Juntas de Freguesia a expressão:” Corram-nos à Pedrada” significa: “Convidem-nos delicadamente a irem-se embora.”


3º Ex:

Mas VªExª afirmou que: “A Crise Acabou”.

… - Não, não, o senhor está a retirar as palavras do Contexto em que foram ditas e esse Contexto é de esperança e de optimismo para o futuro no qual a crise irá acabar e esta é que é a interpretação correcta das minhas palavras, foi o que, rigorosamente, eu disse.


4ºEx:

Mas V.Exª afirmou que a energia eléctrica iria sofrer no próximo ano um agravamento de 17,8%...

… - Não, não, o senhor está a citar as minhas palavras fora do Contexto de anos e anos em que os consumidores andaram a pagar a electricidade abaixo do seu custo real e por isso a minha vontade era que no próximo ano sofressem esse aumento de 17,8% mas atendendo a que se trata de um bem de 1ª necessidade ao qual as camadas mais débeis da população não se podem furtar o Governo, sensível que é às questões de natureza social, irá ponderar essa situação e decidir um aumento que se ficará apenas pelos 6%.



 Sinceramente, não há pachorra... ou será alguma nova forma de dislexia em que as dificuldades de ler e escrever são substituídas por problemas de expressar oralmente o nosso, deles, pensamento?




MORENA:  O meu marido hoje mandou-me flores! Já sei que esta noite vou ter que abrir as pernas!

LOIRA:  A sério... Porquê?! Não tens uma jarra?!





A CRISE...


Baiana do Acarajé

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 54

Não acredito. Pedro não é feliz. Garanto que ele sofre uma tragédia intensa. Muito orgulhoso, não conta nem com os amigos.

 - Acho que não. Pedro colocou-se acima de tudo. Acima da própria vida. É superior. Não sente as alegrias e as dores quotidianas.

 - O homem que não sentisse as alegrias e as dores quotidianas seria o homem sereno. Mas esse homem ideal não existe. Ticiano sente também… Principalmente as dores…

 - E a felicidade o que é?

 - Talvez seja o encontrar uma consolação na vida…

 - Como?

 - Um sistema filosófico, uma religião…

 - Pode ser. A mim só falta tentar a religião.

 - Você fracassará na religião também…

 - Por quê?

 - Porque a religião só satisfaz quando chegamos a ela pela filosofia. A não ser assim…
- A não ser assim…



 - … pode sentir-se a beleza da religião, a poesia, mas a gente se saciará como se sacia de uma mulher… Não conhece as bases, os porquês…

 - Entretanto, o povo, os homens ignorantes, que nem sabem o que seja a filosofia, sentem-se felizes na religião.

 - Os ignorantes, sim. Mas você é um homem superior.

 - Que desgraça se ter um pouco de inteligência! Eu daria toda a minha fortuna em troca da ignorância de um pobre diabo desses.

 - Velha aspiração, meu amigo, de todo o homem inteligente.

Pediram outro vermute. José Lopes continuou:

 - Eu tenho um romance pronto sobre esse assunto, Paulo…

 - Tem? Quando sai?

 - Mas não posso publicá-lo. Cadê dinheiro?

 - Eu financio a edição… Mas vamos tratar logo disso.

Paulo Rigger pagou a despesa. José Lopes, metido numa roupa surrada, muito magro, era a imagem da vida de todos eles.

 - José Lopes, por que você não vai morar em minha casa? Eu vou mandar preparar um quarto para você…

 - Não Rigger. Deixe-se de trabalhos…

 - Vou mandar. E amanhã você se muda.

 - Não, senhor. Eu não sei viver em casa de família. Não vou, decididamente.

 - Você…

sexta-feira, março 22, 2013

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A SAUDADE DE PORTUGAL

A Lisboa antiga era dos eléctricos...

SENORITA - Um pouco do salero de "nuestros hermanos"


Humor universitário

Na biblioteca duma universidade um tipo pergunta a uma moça:
- Importa-se que me senta ao pé de si?’

A moça respondeu em voz muito alta:  - Não, não quero passar a noite consigo!

Toda a gente na biblioteca ficou a olhar para o indivíduo, visivelmente embaraçado.

Passado um pouco a moça foi calmamente até à mesa onde ele estava e disse:


 - Eu estudo psicologia, por isso sei o que um homem está a pensar ficou embaraçado, não foi?

Então o fulano respondeu em voz muito alta: 

 - Quinhentos euros por uma noite? Isso é demais!


Desta vez toda a gente na biblioteca olhou chocada para a rapariga.

O indivíduo sussurrou-lhe então ao ouvido:


 - Eu estudo direito, por isso sei como lixar o parceiro!" 

A este, faltam-lhe os bigodes.
O Velho Soba…



Tive a sorte de conhecer, já lá vão quase 50 anos, junto à fronteira leste de Angola, nas então denominadas “terras do fim do mundo” do Alto Zambeze, um velho Soba, de bigodes entrançados, que era um produto genuíno de velha África tradicional que provavelmente, naquele estilo, já vai ser difícil encontrar hoje.

Era casado com várias mulheres, algumas muito mais novas que ele, e a sua descendência vasta era constituída por muitos jovens ainda de pouca idade.

Um camarada meu, de forma maliciosa, perguntou-lhe se todos aqueles jovens eram filhos dele ao que respondeu, serenamente, sem ter acusado a malícia da pergunta, que todas as crianças que nasciam na sua cobata eram seus filhos.

De forma simples e sintética o que ele disse é que para a sociedade a que pertencia, o importante eram as ligações afectivas de carácter familiar e social porque se tratava de pessoas e não de bois-cavalos que pastavam ali ao lado, em imensas manadas nas planícies a perder de vista. Entre estes, só prevalecem as relações biológicas mãe-cria porque, fora dela, as crias morrem votadas ao abandono por todos os restantes elementos do grupo que não a reconhecem, num comportamento de aparente “crueldade” que as conduz inevitavelmente á morte sempre que as mães por variados acidentes, morrem numa lógica que será a da sobrevivência daquela espécie. As outras fêmeas não se podem “distrair” de outras crias que não seja a sua.

Nas sociedades primitivas a família funda-se na criação de laços de aliança entre um homem e uma mulher, de descendência que unem os pais aos filhos e de consanguinidade mas o aspecto biológico é relegado para um segundo plano pois enquanto o vínculo biológico mãe/filho é claro e directo o mesmo não acontece com a paternidade. Por isso, culturalmente, o soba era o pai de todas aquelas crianças nascidas de mulheres suas e, daí a resposta sábia:

 - Se nasceu na palhota são meus filhos.

A EMOÇÃO FAZ-NOS HUMANOS

O vídeo é um trecho do filme "O Concerto", baseado na história que se passou na Rússia, em 1980, quando o maestro Andrei Filipov , o melhor Chefe de Orquestra da União Soviética, a afamada Orquestra de Bolchoi, ele e alguns músicos foram expulsos por não terem aceite separarem-se dos seus músicos judeus.  O maestro aceitou ficar com o lugar de empregado de limpeza, para poder sobreviver.


Certo dia ele interceptou um fax do famoso Teatro Chatelet de Paris que convidava a Orquestra que tinha sido sua, para tocar, por não saberem que a mesma estava provisoriamente suspensa.
O maestro teve, então, a brilhante ideia de reunir os músicos despedidos e apresentar-se em Paris como se fosse a Orquestra de Bolshoi.

Antes da apresentação, um grupo de amigos, sem que o maestro soubesse, substituiu o solista da orquestra por uma desconhecida violinista que era, sem ele saber, a sua própria filha que, em razão da perseguição que sofreram do regime ditatorial russo, a sua esposa e amigos entregaram, com apenas seis meses, a uma violoncelista francesa que a levou para Paris dentro do estojo do seu violoncelo.


Vejam a cena final desta obra cinematográfica. A música da cena é "Concerto para Violino" de Tchaikovsky ...O Dia do Reencontro...


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 53


Paulo Rigger andava à toa. E quase se choca com Dª Helena, que saltitante, vestido novo, cumprimentava-o:

 - Oh, Dr. Paulo! Como vai?

 - Vou mais ou menos… E a senhora, Dª Helena?

 - Bem. Não como o senhor…

E toda curiosa:

- E Maria de Lourdes, Dr. Paulo, tem visto?

 - Não, Dª Helena. Não sei que fim levou.

Dª Helena sabia. Maria de Lourdes chorara muito com o rompimento. Mudaram-se. Depois haviam-lhe contado, a madrinha arranjara uma cadeira de professora no interior. E viajaram…

Rigger, muito pálido, despediu-se:

 - Adeus, Dª Helena, adeus!

  - Oh, dr. Paulo! Pelo amor de Deus… Que pressa” Vamos conversar um pouco… Eu agora moro em casa minha. Quer ir até lá, conversar?

Paulo Rigger foi. Deu-lhe uma vontade repentina de possuir aquela mulher. Ela tinha qualquer coisa de comum com Maria de Lourdes.

Talvez tivesse a sensação de possuir a sua ex-noiva quando apertasse entre os braços a vizinha de quarto. E sentiu, de facto, essa sensação esquisita. Parecia-lhe apertar Maria de Lourdes, quando abraçava Helena.

E Paulo Rigger voltou a sofrer intensamente.


Tornara-se difícil encontrar qualquer dos amigos. Ricardo, casado, estava na fazenda que ele lhe cedera para a lua-de-mel.

Paulo Rigger sentira que Ricardo se afastara completamente deles. Tentara a experiência a ver se conseguia a Felicidade. E no Piauí, na cidadezinha do interior, vivendo a sua experiência, vivendo o seu burguesíssimo amor, não queria naturalmente recordar-se dos amigos que negavam a felicidade do casamento.

Invadiu-o uma alegria enorme quando, em uma tarde de sol intenso, encontrou José Lopes, que lia uma obra de Freud ao mesmo tempo que tomava um cálice de vermute.

 - José!

 - Olá, Paulo! Sente-se.

 - Lendo sempre, José Lopes?

 - É verdade…

 - Disposto a encontrar a Felicidade na filosofia?

 - E o que será a Felicidade, Rigger? Será a alegria de todo o dia, a dor de toda a hora? Você bem sabe que essa Felicidade não nos satisfaz.

 - Talvez seja a serenidade, a indiferença de Pedro Ticiano.

quinta-feira, março 21, 2013

A D. Maria no beija-mão papal
  
Vale a pena ver a apresentação de cumprimentos do casal Silva e do afilhado portas ao papa Francisco . A Dra. Maria, com o seu véu tipo Amália Rodrigues que a distinguiu de quase todas as outras esposas presidenciais que se apresentavam com um ar menos fundamentalista, foi uma das mais efusivas, tanto que até parece que estava ali na sequência de um convite pessoal e aproveitou para apresentar o esposo, que por coincidência, é presidente. Aliás, a D. Maria até se antecipou e foi a primeira a cumprimentar o papa. Logo atrás, com ar de neto mais velho vinha um Paulo Portas cheio de fé e de trejeitos, até a cabecinha abana toda mais parecendo um daqueles cãezinhos com que os portugueses gostavam de decorar os carros nos anos 60. O único ministro dos negócios estrangeiros que se aproveitou da boleia presidencial para ir à missa e ao beija-mão papa. Enfim, uma delegação parola e saloia. "O JUMENTO!

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A Saudade de Portugal

O Carro Eléctrico na noite lisboeta

O UNICÓRNIO DE PORCELANA

Mais que nunca, se  justifica voltar às histórias de amor... 

VIVIANE - MEU CORAÇÃO ABANDONADO

Que bom entregar-mo-nos no som de uma linda canção portuguesa cantada por uma voz tão fresca...


Perante a situação crítica que atravessamos entendi ser de bom senso consultar um sábio chinês, portador de uma cultura várias vezes milenar e que, vendo-me tão preocupado, me disse:


 - Há apenas duas coisas com que você se deve preocupar:

 - Se você está bem ou se você está doente.

 - Se você está bem, não há nada com que se preocupar.

 - Se você está doente, há duas coisas com que se preocupar:

- Se você se vai curar ou se vai morrer. 

- Se você se vai se curar, não há nada com que se preocupar. 

- Se você vai morrer, há duas coisas com que se preocupar: 

- Se você vai para o céu ou vai para o inferno. 

- Se você vai para o céu, não há nada com que se preocupar. 

- Agora se você for para o inferno, estará tão ocupado cumprimentando os velhos amigos, que nem terá tempo de se preocupar. 

- Então, para que se preocupar ?

Fiquei muito mais descansado...

CHIPRE

E se um dia a Gazprom
 comprasse Portugal?
   
«Então chegámos ao ponto em que uma empresa se propõe comprar um país da União Europeia. Não se trata de comprar uma ilha das Caraíbas pintalgada por palhotas folclóricas. Trata-se da aquisição, a preço de saldo, de um pequeno Estado, é certo, mas que é membro da, ó mito, poderosa Zona Euro... É revolucionário!

A russa Gazprom (onde, discretos, florescem seis por cento de capitais alemães) aceita ficar com a dívida de Chipre se, em troca, lhe concederem o direito de explorar livremente o gás natural da região. O negócio pode fazer-se por dez mil milhões de euros, o que, admite-se, para as contas da 15.ª maior companhia do mundo será pouco mais do que uma bagatela.


A intenção surge na sequência da decisão dos ministros das Finanças do euro de cobrar uma taxa sobre o dinheiro que está depositado nos bancos de Chipre. Segundo li em vários jornais económicos, nada suspeitos de simpatias coletivistas ou de tendências esquerdistas, "este ato de terrorismo de Estado" (sic) é já candidato a medida política mais estúpida do século.


Esta gente é mesmo capaz de nos roubar! Esta gente vende-nos, a nós, povos, como vende qualquer mercadoria. Com esta gente nada podemos dar como certo, nem sequer a segurança do dinheiro que depositamos nos bancos - um dos pilares da arquitetura da economia capitalista.


Cito: "Todas as pessoas têm o direito de fruir da propriedade dos seus bens legalmente adquiridos, de os utilizar, de dispor deles e de os transmitir em vida ou por morte. Ninguém pode ser privado da sua propriedade, excepto por razões de utilidade pública, nos casos e condições previstos por lei e mediante justa indemnização pela respetiva perda, em tempo útil. A utilização dos bens pode ser regulamentada por lei na medida do necessário ao interesse geral." Este é o artigo 17.º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Para esta gente, que governa o euro, este texto não existe ou, então, o seu conceito de "interesse geral" é coisa muito, muito particular...


Esta medida desumana sobre o povo de Chipre - votada favoravelmente, sem surpresa, sem vergonha, pelo ministro português Vítor Gaspar - tem um mérito: revela, em toda a sua crueza, do que esta gente é capaz; faz-nos cair, brutalmente, na pura realidade; dá-nos consciência da montanha que temos de derrubar se um dia quisermos viver numa sociedade com uma governação decente; lembra--nos que corremos mesmo o risco de deixarmos de viver numa democracia, para passarmos a ser geridos, 24 horas por dia, como nos piores romances futuristas, por uma gigantesca companhia.» [DN]
   

Autor:
Pedro Tadeu.


Nota - Perante uma proposta tão indigna de Bruxelas, todas as alternativas podem acontecer...

   


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 52

E quase sempre terminava por tomar o automóvel e ir para casa de Ticiano conversar.

Ticiano já não saía. Quase completamente cego, mal podendo caminhar pela casa. Ajudava-o uma neta, garota de treze anos que fugia mal avistava Paulo Rigger. Aqueles dois homens conversavam muito. Pedro Ticiano, “blagueur”, ria da insatisfação de Paulo:

 - Porque você não chega à religião, rapaz?

 - Sei lá! Talvez chegue mesmo…

 - Ora, Rigger, deixe isso. Procure viver para a dúvida. Viver para o sofrimento. Para a própria insatisfação. Em vez de combater a dúvida, adorá-la. Eu duvido de tudo.

 - Até da dúvida?

 - Principalmente da dúvida…

 - Eu sei, Ticiano, que você achou a solução do problema. Por que a guarda tão avaramente? Por que não no-la ensina?

 - Eu tenho dito tantas vezes! A solução é não querer solucionar…

 - Blague…

- Então é…



Pouco se encontravam ultimamente. Paulo Rigger ensimesmado, só procurava Ticiano. José Lopes, bebendo muito, enterrado entre livros de filosofia, não trabalhava e mudava constantemente de pensão.

Cada vez que saía de uma, ia para outra pior. Magro, insatisfeito, odiando a vida, lia cada vez mais, a ver se, entre as páginas de Kant e de São Tomás, encontrava a Felicidade.

 - Só na filosofia…

Mas Ricardo Braz discordava:

 - Só no amor, no casamento…

E Ricardo Braz casou-se. Paulo Rigger e José Lopes serviram de testemunhas. Paulo oferecera-lhe a fazenda para passar a lua-de-mel. Depois iria para uma cidadezinha do interior longínquo do Piauí.

Infeliz – murmurava Ticiano.

Jerónimo Soares libertava-se aos poucos da influência de Pedro Ticiano. Começava a ser feliz. Passava as noites com a rameira que encontrara naquele dia com Pedro Ticiano.

Fazia projectos de morar com ela na mais completa felicidade… Aparecia raramente. Mas, nos dias em que visitava Ticiano, botava abaixo todos os seus sonhos ao ouvir as blagues do amigo.

 E pensava em ser como Pedro, um indiferente, superior, mau, destruidor de ilusões.

À noite, porém, entre os braços dela, esquecia Ticiano. E ao seu pensamento voltava a imagem de uma casinha, muito amor, muito carinho, o sorriso bom dela, a mais completa felicidade.

E lutava contra a influência de Pedro Ticiano. Temia não poder vencê-la. Se não a vencesse, seria infeliz toda a vida… nunca a realizaria os seus sonhos, nunca teria coragem de ser feliz…

E Pedro Ticiano que achava aquilo tudo tão ridículo…

quarta-feira, março 20, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 51


- E as entrevistas que eu consegui no Rio, que devo fazer delas? Publicar noutro jornal?

José Lopes pensava que devia mandar as entrevistas para o Gomes. “Nem isso a gente deve querer dele…”

 - Ora essa! Eu vou ao Rio às minhas custas. Realizo depois umas entrevistas. Por que motivo elas são do A. Gomes?

 - Você foi com o fito de realizá-las para ele. Mande.

- Bem, vou mandar. Você, José Lopes, sempre o mesmo sujeito bom.

Jerónimo informava:

 - Agora o “Estado da Bahia” é dirigido por um jornalista cheio de moralidade que veio do interior.

E os redactores?

- Gente daqui mesmo. Está horrivelmente mal escrito…

 - Fará sucesso. Para a Bahia só um jornal assim.

 - O Gomes, eu o vi outro dia, cada vez mais gordo. Enriquece o canalha…

 - Inteligente…

 - Mas analfabeto até ali.

 - Acabará Governador do Estado!

 - Se acaba.

Uma preta na rua, rebolando as ancas, gritava:

 - Amendoim torrado! Acarajé e abará!

E mais longe, um garoto berrava:

 - O “Estado da Bahia”… Olha o “Estado da Bahia”. Artigo sobre a carestia de vida….



A imagem de Maria de Lourdes apagava-se aos poucos no pensamento de Paulo Rigger. Ele sentia, entretanto, que mesmo conseguindo esquecê-la, jamais reconstruiría a sua vida. Jamais tomaria um “sentido”, marcharia para um “fim”, na existência.

Para que vivia, afinal. Sentia a sua vida parada como as águas de um lago que não tem, como os rios, um fim, o de correr para os oceanos. Mas ao contrário das águas de um lago, apesar de parada, a sua vida não era serena. Acompanhava-o sempre uma insatisfação enorme. A necessidade de ser feliz, ou pelo menos sereno. De viver sem desejos, sem sonhos, como Pedro Ticiano.

Já que não encontrava “o sentido”, o fim da existência, que, pelo menos, encontrasse a Serenidade. Que ficasse indiferente, sem desejos. Mas até isso sentia impossível. A tortura de procurar a Felicidade não o largava.

Não conseguira, como Ticiano, endeusar a dúvida. E tinha goras horríveis. Na chácara, trancado no seu quarto, andava de um lado para o outro numa vontade enorme de acabar com tudo aquilo.

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O encantamento de Portugal


ANITA WARD - RING MY BELL



O Papa Renuncia para Limpar o Vaticano


Umas semanas depois de regressar das suas viagens a Cuba e ao México, em Março de 2012, durante as suas férias em Castelo Gandolfo, Joseph Ratzinger assumou a um poço muito escuro que só os seus olhos estavam autorizados a ver.

Uma informação elaborada por três cardeais octogenários, sobre a fuga massiva de documentos secretos que sacudiu o Vaticano e que só terminou depois da detenção de Paolo Gabriel, o ajudante de câmara de Bento XVI.

Não se tratava de uma peça para encerrar o caso mas de uma investigação cheia de nomes e datas dos protagonistas das guerras do poder que desde há anos vêm sucedendo no Vaticano e das quais, o chamado caso Vatileask não era mais do que a sua escandalosa consequência.

Ao terminar a leitura da Informação, Bento XVI, tinha já todos os dados. Aos anjos caídos pode-se combater com a oração e o bom exemplo mas, contra os príncipes da Igreja é mais aconselhável uma espada de aço temperado e de um braço capaz de empunhá-la e ele já não tinha forças.

Dizem que foi por aquela época quando Bento XVI – um homem tímido, incapaz de uma confrontação directa mas um profundo conhecedor das intrigas do Vaticano – decidiu ir-se embora.

Na manhã de ontem, os quiosques de Roma deixavam claro que, para além da surpresa, a imprensa italiana e internacional ressaltava a coerência da decisão de Bento XVI.

A sua sinceridade ao reconhecer o seu cansaço, pedir perdão e ir-se embora. Numa cafetaria de Borgo Pio, o bairro das ruas estreitas, contíguas ao Vaticano, um diplomata acreditado na Santa Sé, colocava a sua atenção sobre um aspecto que não deixava de ser apelativo: “Se olharmos, com atenção, para a generalidade dos jornais, cada um, ao seu estilo, refere-se ao Papa como uma vítima das lutas pelo poder no Vaticano.

Há uns meses atrás, mesmo uns anos, quem abordasse o assunto do desgoverno da Igreja faziam-no culpando Ratzinger, a sua falta de carácter, a sua maneira equivocada de escolher os colaboradores.

Será feio usar esta palavra referindo-se a um Papa mas, pode-se dizer que com a sua renúncia, Josepf Ratzinger realizou a sua vingança perfeita.

Ele vai-se embora mas, com ele, caem todos os que lhe amargaram o papado e tornaram ingovernável o Vaticano.

Meia hora depois, na sede romana de uma congregação religiosa, com fortes ligações a Espanha, um prelado sorri com a interpretação:

 - “É algo malvada, própria de um não crente, inadequada num momento em que a única coisa que há a fazer é acompanhar o Santo Padre que se vai embora e prepararmo-nos para receber o Santo Padre que será eleito dentro de uns dias mas, devo dizer que ele não se furta à realidade.”

Uma realidade que pelo seu próprio carácter, só Ratzinger a conhece e talvez o único homem de sua confiança seja o seu Secretário Pessoal, desde 2003, monsenhor George Ganswein.

A decisão de Bento XVI – que quis deixar muito claro – que não era imposta pela enfermidade mas sim pela sua falta de vigor espiritual para continuar a governar a barca de Pedro - pode conduzir também à desmontagem de um organigrama de poder cada vez mais afastado das necessidades dos católicos mas que continua a satisfazer a voracidade da Cúria.

Cardeais confrontando-se entre si, instituições religiosa em luta por privilégios, um Secretário de Estado, Tarcisio Bertone, que há muito tempo perdeu a confiança de um Papa que, para evitar o escândalo da substituição decidiu substitui-lo por si próprio.

Por outro lado, o assunto de novela dos «corvos» - os espiões, os traidores – deixou para um segundo plano um acontecimento de muito maior importância para entender que o Vaticano continua a ser um Estado mais obscuro do que qualquer outro.

Em Setembro de 2009, Ratzinger, nomeou o especialista em Finanças, Ettore Gotti Tedeschi, próximo da Opus Dei e representante do Banco Santander em Itália desde 1992, Presidente do Instituto das Obras para a Religião (IOR) o Banco do Vaticano.

 Segundo se disse então, a nomeação supunha um golpe de autoridade de Bento XVI, a última intenção de por em ordem as finanças da Santa Sé Vaticano, trazer luz para onde nunca a houve.

Basta recordar que o cardeal dos Estados Unidos, Paul Marcinkus e o escândalo do Banco de Deus dos anos setenta e oitenta, cujo culminar foram os assassinatos de Robert Calvi, responsável pela falência do Banco Ambrosiano e do banqueiro mafioso Michele Sindona, pertencentes ambos à Loja Maçónica P2.

Naquele Setembro de 2009, Gotti Tedeshi, que chegou ao Banco com a intenção de limpá-lo mas, antes de se completarem três anos, deu –se conta de que, efectivamente, aquele trabalho era muito perigoso.

Tanto que, na primavera de 2012, Gotti Tedeshi, elaborou uma informação secreta de tudo quanto havia visto nos últimos meses. Foi descobrindo que por detrás de algumas contas cifradas, escondia-se dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado” mas, não só. Como sustenta a fiscalização de Trapani (Sicília), também Mateo Messina Denaro, novo chefe dos chefes da Casa Nostra teria a sua fortuna a bom recato na IOR – Instituto de Obras Para a Religião – através de nomes fictícios.

Dizem que foi então quando Gotti Tedeshi que havia recebido o encargo do Papa como uma autêntica missão começou a ter medo. Um medo que o levou a arranjar uma escolta e a elaborar, folha por folha, uma carta que só viria à luz caso fosse assassinado.

Um medo que se acentuou quando, coincidindo com a detenção de Paolo Gabriele pela difusão de documentos secretos. Gotti Tedeshi foi então destituído do Banco do Vaticano.

A operação de derrube do amigo do papa levada a cabo pelos conselheiros do Banco e com a protecção do Secretário de Estado Monsenor Bertoni, incluía um “documento duríssimo que o demolia moral e profissionalmente ao dar a entender que ele estava envolvido no roubo de documentos ao Papa”, segundo explicou então Andrea Tornielli, um jornalista especializado em assuntos do Vaticano.

Não se trata, portanto, de desfazer a amizade com o Papa Tratava-se de destrui-lo. Daí que, quando por outros motivos, os agentes dos Carabinieri se apresentaram em sua casa, depois de ele já ter sido despedido, para um simples registo da casa, ele apanhou um susto enorme: “Há, sois polícias…” disse-lhes aliviado. “Pensei que vinham dar-me um tiro”

Os escândalos do Mordomo Mor infiel e do banqueiro despedido não acabaram sem consequências. Paoleto recebeu uma condenação simbólica e foi logo indultado e no julgamento ficou logo claro que se tratava de um acordo. Os silêncios foram mais eloquentes do que as palavras.

Também Gotti Tedeshi aceitou ser despedido em silêncio, “por amor ao Papa” e quando os fiscais e jornalistas italianos quiseram saber do conteúdo do documento secreto do banqueiro, uma nota do Vaticano os mandou calar e eles calaram…

Paoleto e Gotti são personagens pitorescos de uma história muito mais crua e obscura do que aquilo que o Papa viu quando se debruçou sobre as investigações dos três Cardeais octogenários.

Jornal El País



Nota –  Ratzinger, com quem não simpatizava, passou a ter a minha admiração. Não como católico, religioso ou simplesmente crente, que o não sou, como sabem os meus amigos do Memórias Futuras, mas como cidadão deste nosso mundo.

Com Francisco, na parte da doutrina da Igreja, irão os católicos continuar encerrados nos dogmas férreos que desde sempre caracterizam a Igreja Católica de Roma.
O acesso das mulheres ao sacerdócio continuará fora de questão, como se elas não fizessem parte da humanidade, e a proibição de casamento dos padres manter-se-à, como sempre foi, uma aberração e um atentado à própria natureza humana, fonte de “pecados” e de dolorosos sacrifícios “tão ao gosto” da Igreja.

Já quanto ao funcionamento, estrutura e saneamento da organização na sua sede do Vaticano, talvez aí outro galo venha a cantar.
De resto, só pode melhorar… 

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