sexta-feira, junho 09, 2017

HAVERÁ VIDA


DEPOIS DA 




MORTE?




















Mark Twain, considerado por William Faulkner, o primeiro escritor verdadeiramente americano, dizia:



«Não tenho medo da morte. Estive morto durante milhões e milhões de anos antes de nascer e não senti o mais pequeno incómodo por isso».

Richard Dawkins disse precisamente o mesmo mas de uma forma mais elaborada que vale a pena reescrever:

«A vida é uma extraordinária oportunidade e eu que vou morrer considero-me bafejado pela sorte porque a maior parte das pessoas nunca vai morrer porque nunca vai chegar a nascer.

…Como poderemos nós, então, os poucos privilegiados, que contra todas as probabilidades, ganhamos a lotaria do nascimento, atrever-mos a queixar-nos do nosso inevitável regresso a esse estado anterior do qual a vasta maioria nunca despertou?».

Há uns meses, para me poupar a um desagradável exame, submeti-me a uma anestesia geral e quando, deitado na marquesa aguardava a injecção da anestesia, pensei que me ia sujeitar a uma simulação da morte.

Acordado, mais tarde, pensei que ter estado desligado da vida pouco mais de uma hora ou o resto da eternidade, teria sido precisamente o mesmo: o vazio total e, afinal, sem nenhum custo, dor ou sacrifício, nada…

Contudo, as sondagens vão no sentido de que aproximadamente 95% das pessoas acreditam que vão sobreviver à própria morte.

Quase tenho vontade de dizer que os homens vivem durante tantos anos que se habituam a estar vivos e depois não querem morrer.

Claro que a natureza dotou os animais e naturalmente o homem também, do instinto da sobrevivência, fonte de vida, mas para quê estar vivo durante tantos anos depois da fase de procriação?

O arquitecto Niemeyer, nascido em 1907, faleceu há poucos meses e o mesmo acontece com o nosso Manuel de Oliveira, este ainda a trabalhar com 104 anos.


São exemplos relativamente aos quais me apetece dizer que deviam ficar cá para sempre, mas a maioria esmagadora dos nossos velhos limita-se a aguardar a morte, sentados por aí nos bancos dos jardins, muitos deles com vidas prolongadas pelo Serviço Nacional de Saúde.

O meu vizinho do 5º Esq. que lá vai suportando os seus noventa anos com a ajuda da bengala e quase sem ver nada, tendo por companhia a solidão, as dores e os desgostos da vida, desabafou comigo há dias à entrada do elevador:



- “O dia em que morrer vai ser o mais feliz da minha vida…”.

Mas a natureza sabe o que faz e não é por acaso que após a idade de procriar continuamos a poder viver o dobro dos anos. As nossas crianças não só precisam dos pais como, igualmente, precisam dos avós, pessoas mais disponíveis que os pais para os proteger e ensinar assegurando-lhes uma melhor oportunidade para serem adultos mais preparados.

Mas querer estar vivo é uma coisa, continuar a viver depois de morrer é outra…

Bertrand Russel, no seu ensaio de 1925 “What I Believe” escrevia:

- “Acredito que quando morrer vou apodrecer e nada do meu ego irá sobreviver. Não sou jovem e amo a vida mas desdenharia tremer de medo ante a perspectiva da aniquilação.

Apesar de tudo, a felicidade só é verdadeiramente felicidade porque tem que ter um fim, do mesmo modo que o pensamento ou o amor não valem menos por não serem eternos.

Muitos foram aqueles que pisaram o cadafalso com orgulho; esse mesmo orgulho deveria, por certo, ensinar-nos a pensar, verdadeiramente, o lugar que o homem ocupa no mundo”.

Para quem teme a morte, acreditar que tem uma alma imortal pode ser consolador – a menos, evidentemente, que esteja convencido que vai para o inferno ou para o purgatório.

As falsas crenças podem ser tão consoladoras como as verdadeiras, até ao momento do desengano. Se um médico mente ao doente dizendo-lhe que ele está curado o consolo é idêntico ao de outro homem a quem seja dito, com verdade, que ele está curado.

A mentira do médico só é eficaz até os sintomas se tornarem inequívocos mas um crente na vida depois da morte nunca poderá, em última análise, ser desenganado.

As pessoas religiosas que dizem acreditar na vida depois da morte se fossem realmente sinceras deveriam reagir como o abade Ampleforth, quando o cardeal Basil Hume lhe disse que estava a morrer:

“Parabéns! Que bela notícia. Quem me dera ir com Vossa Eminência”.

Este abade era um verdadeiro crente mas é exactamente por esta história ser tão rara e inesperada que prende a atenção e quase diverte.

Por que razão todos os cristãos e muçulmanos não dizem a mesma coisa ou algo parecido?

Quando um médico diz a uma mulher devota que não lhe restam senão alguns meses de vida por que razão não sorri ela, emocionada, como se tivesse ganho umas férias nas Seychelles?

Por que razão é que os amigos e familiares, crentes como ela, não a sobrecarregam de mensagens para os que já partiram? -  Dá lá saudades ao tio Alberto quando o vires….

Por que não falam assim as pessoas religiosas na presença dos que estão à beira da morte?

Será que não acreditam em todas as coisas em que era presumível acreditarem?

Ou talvez acreditem mas têm medo do “processo” de morrer que pode ser doloroso e desagradável com a agravante de que, ao contrário de todos os outros animais, não podem ir ao veterinário pedir uma morte indolor.

E, neste caso, por que são as pessoas religiosas as mais ferozes opositores à eutanásia e ao suicídio medicamente assistido?

Não seria de esperar que as pessoas mais religiosas fossem menos inclinadas a agarrarem-se despudoradamente à vida seguindo o exemplo do abade Ampleforth?

A razão oficial é de que provocar a morte é sempre pecado mas por quê considerar isso pecado se se acredita sinceramente que se está desse modo a acelerar uma ida para o céu?

Para quem crê numa vida depois da morte, morrer é apenas a transição de uma vida para outra vida e, sendo assim, se ela for dolorosa porquê prescindir da anestesia quando não se prescinde dela para tirar o apêndice?

Daqueles que vêm na morte não uma transição mas sim o fim é que se poderia, francamente, esperar resistência à eutanásia e ao suicídio medicamente assistido, no entanto, são esses que são a favor.

Uma enfermeira com longos anos de trabalho à frente de um lar de idosos pôde verificar que as pessoas religiosas eram as que tinham mais medo da morte.

Se este comportamento for comprovado estatisticamente poder-se-á perguntar, afinal, qual o poder da religião como reconforto na hora da morte?

No caso dos católicos será o medo do purgatório, uma espécie de Ellis Island (um dos principais pontos de entrada dos emigrante para os EUA) divino, uma antecâmara para onde vão as almas se os seus pecados não são suficientemente graves para as lançarem logo no inferno mas, por outro lado, precisam ainda de alguma reciclagem antes de poderem ser admitidas no céu.

Na Idade Média a Igreja dava indulgências a troco de dinheiro o que, na prática, significava menos dias de purgatório antes de entrar no céu.

Nesta história da morte, as Agências Funerárias parecem-me ser as únicas que lucram honestamente...

Resultado de imagem para covfefe"Covfef"











"Covfef" é uma palavra inventada pela imaginação delirante e doentia de Donald Trump que a deixou à consideração dos seus compatriotas quanto ao seu significado, tipo brincadeira de garotos.

Mas as coisas não ficaram por aqui... Ontem, foi acusado de mentiroso, com todas as letras, perante um país que parou para o ouvir, pela boca do Diretor do FBI, que tinha sido por ele despedido há dias.

Os cidadãos americanos não podem sentir-se mais desconsiderados ao nível das estruturas políticas mais altas do país porque é uma vergonha ver um Presidente, sem nenhum crédito político, mas eleito democràticante, humilhado por um alto funcionário do país, Ex-Director do FBI, caído em desgraça, que tinha sido despedido por se ter recusado a fazer ao Presidente favores que ele entendeu, em consciência, que não devia.

Trump é incapaz de se comportar como um Presidente digno do cargo porque, ele próprio, não é pessoa digna e irá manchar a história do seu país como o pior Presidente de quantos houve, isto, a atender aos mais baixos níveis de popularidade de quantos já existiram. 

Na qualidade de cidadão europeu, tenho respeito e consideração pelo povo americano. O meu velho amigo, dos tempos em que era estudante, o Sr. Emílio, nascido na Suiça, na parte alemã, com os seus oitenta anos, tinha na vida dois amores: os americanos e a ópera.

Repartira a sua vida pela pela França, Itália, Espanha e Portugal, sempre fugindo à guerra e ganhara o seu amor à America pelo papel que ela tivera na ajuda que deram aos europeus na defesa da liberdade contra o doido do Hitler.

É verdade que agora, enganados, elegeram pela via democrática Trump, um outro tipo de louco, apaixonado por dinheiro e poder mas a sociedade americana tem mecanismos de defesa, embora um processo de "impechement" à brasileira não seja coisa fácil.

Trump queixou-se ontem, na televisão, que se sentia como um sitiado, o que é típico nestas personalidades que se armam em vítimas e nunca reconhecem os seus erros.

Não sei se os americanos vão conseguir ver-se livres dele durante o mandato, já que não admito a sua reeleição, porque têm sido demasiado os sobressaltos em tão pouco tempo de exercício do cargo.

A lógica da sua eleição constitui um ensinamento para os eleitores americanos de que os homens peritos em ganhar dinheiro não são, necessàriamente, os líderes que fazem enriquecer os seus eleitores... 




quinta-feira, junho 08, 2017

              A melhor voz feminina do país



   

Currículum Vitae 















Pede-se experiência... A redação que se segue foi escrita por um candidato numa selecção de Pessoal na Volkswagen. A pessoa foi aceite e o seu texto está a fazer furor na Internet, pela sua criatividade e sensibilidade.



TEXTO APRESENTADO 



Já fiz cócegas à minha irmã só para que deixasse de chorar, já me queimei a brincar com uma vela, já fiz um balão com a pastilha que se me colou na cara toda, já falei com o espelho, já fingi ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violinista, mago, caçador e trapezista; já me escondi atrás da cortina e deixei esquecidos os pés de fora.
Já roubei um beijo, confundi os sentimentos, tomei um caminho errado e ainda sigo caminhando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela onde se cozinhou o creme, já me cortei ao barbear-me muito apressado e chorei ao escutar determinada música no autocarro.
Já tentei esquecer algumas pessoas e descobri que são as mais difíceis de esquecer. Já subi às escondidas até ao terraço para agarrar estrelas, já subi a uma árvore para roubar fruta, já caí por uma escada. 

Já fiz juramentos eternos, escrevi no muro da escola e chorei sozinho na casa de banho por algo que me aconteceu; já fugi de minha casa para sempre e voltei no instante seguinte.
Já corri para não deixar alguém a chorar, já fiquei só no meio de mil pessoas, sentindo a falta de uma única.
Já vi o pôr-do-sol mudar do rosado ao alaranjado, já mergulhei na piscina e não quis sair mais, já tomei whisky até sentir os lábios dormentes, já olhei a cidade de cima e nem mesmo assim encontrei o meu lugar.
Já senti medo da escuridão, já tremi de nervos, já quase morri de amor e renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e senti medo de me levantar.
Já apostei a correr descalço pela rua, gritei de felicidade, roubei rosas num enorme jardim, já me apaixonei e pensei que era para sempre, mas era um 'para sempre' pela metade.
Já me deitei na relva até de madrugada e vi o sol substituir a lua; já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos e que a vida é um ir e vir permanente.
Foram tantas as coisas que fiz, tantos os momentos fotografados pela lente da emoção e guardados nesse baú chamado coração...
Agora, um questionário pergunta-me, grita-me desde o papel: - Qual é a sua experiência?
Essa pergunta fez eco no meu cérebro.
Experiência.... Experiência... Será que cultivar sorrisos é experiência?
Agora... agradar-me-ia perguntar a quem redigiu o questionário: -
Experiência?! Quem a tem, se a cada momento tudo se renova ???'

O Raio do mau tempo...




















Sábado, como de costume, levantei-me cedo, vesti um agasalho, silenciosamente, bebi café e até fui dar um passeio com cão.


Em seguida, fui até à garagem e engatei o barco de pesca no meu Jeep.

De repente, começou a chover torrencialmente.

Havia até neve misturada com a chuva, ventos a mais de 80 km/h.

Liguei o rádio e ouvi que o tempo iria ser de frio e chuva durante todo aquele dia.

Voltei imediatamente para casa. Silenciosamente, despi-me e deslizei para baixo dos cobertores. Afaguei as costas da minha mulher e disse-lhe baixinho:

- O tempo lá fora está terrível.


Ela, ainda meio adormecida, respondeu:

-Acreditas que o cabrão do meu homem foi pescar com este tempo ?

quarta-feira, junho 07, 2017

A sociedade do lixo e desperdício


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Por Que Somos Bons?
(Ponhamos em ordem as nossas ideias.
 Aprendamos com R. Dawkins.)













Por que nos condoemos com o choro de uma criança que sofre?

Por que sentimos compaixão por uma viúva idosa em desespero devido à solidão?

O que nos provoca o impulso para enviarmos uma dádiva anónima para as vítimas de um cataclismo que não conhecemos nem viremos a conhecer e nunca nos retribuirá?

De onde vem o bom samaritano que vive em nós?

Recordemos Einstein:
Estranha é a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta visita, sem saber porquê, contudo, parecemos adivinhar um objectivo. No entanto, do ponto de vista do quotidiano, há uma coisa que sabemos: que o homem está aqui pelos outros homens – acima de tudo por aqueles de cujos sorrisos e bem-estar depende a nossa própria felicidade.

Será realmente pelos outros homens que nós aqui estamos e terá isso alguma coisa a ver com a religião?

É por causa dela que somos bons?

Muitas pessoas religiosas consideram difícil imaginar como sem religião alguém pode ser bom ou há-de sequer querer ser bom, e esta incapacidade para compreender e aceitar a bondade fora da religião leva algumas pessoas religiosas a paroxismos de ódio contra aqueles que não professam a sua religião.

E assim, a religião, que se proclama como fonte de inspiração para a bondade e o amor transforma-se, ela própria, num imenso reservatório de ódio e maldade.

Brian Fleming, autor e realizador de um documentário sincero e comovente em defesa do ateísmo recebeu uma carta em 21 de Dezembro de 2005 que rezava assim:

Decididamente, vocês têm cá uma lata! Adorava pegar numa faca e esventrá-los a todos, seus idiotas, e gritar de alegria a ver as vossas entranhas a derramarem-se à vossa frente. Vocês andam a ver se arranjam como atear uma guerra santa em que um dia eu e outros como eu, possamos a vir ter o prazer de passar aos actos como o atrás mencionado”.

Chegado a este ponto o autor da carta reconhece tardiamente que a sua linguagem não é muito cristã, pois continua, agora num tom mais amistoso:

Contudo Deus ensina-nos a não procurar a vingança mas sim a rezar pelas pessoas como vocês”.
Mas a benevolência dura-lhe pouco:

Vai consolar-me saber que o castigo que Deus vos há-de trazer será mil vezes pior do que o que quer que seja que eu possa infligir. O melhor de tudo é que vocês hão-de sofrer para toda a eternidade por estes pecados de que estão completamente ignorantes. A ira de Deus não há-de mostrar misericórdia. Para vosso próprio bem, espero que a verdade vos seja revelada antes que a faca vos toque na carne. Feliz NATAL!!!

P.S: -  Vocês não fazem mesmo ideia do que vos está reservado…Eu agradeço a Deus por não ser vocês”.
Estas cartas rancorosas, de que esta é apenas um exemplo, são mais comuns na América do Norte provenientes de pessoas afectas a Igrejas de Cristo e a Seitas que proliferam por todos os EUA, mas a carta que se segue, de Maio de 2005, é de um médico inglês e foi dirigida a Richard Dawkins.

Depois de uns parágrafos introdutórios a denunciar a evolução e a incitar o autor a ler um livro que defende que o mundo tem apenas 8.000 anos (será que ele pode mesmo ser médico?) conclui:

Os seus livros, o prestígio de que goza em Oxford, tudo o que ama na vida, e tudo aquilo que alcançou são um exercício de total futilidade…A interpeladora pergunta de Camus torna-se inescapável: porque não cometemos todos suicídio? Na verdade, a sua visão do mundo tem esse tipo de efeito sobre os estudantes e em muitas outras pessoas…que todos evoluímos por puro acaso, a partir do nada, e que a esse nada voltaremos. Mesmo que a religião não fosse verdadeira, é melhor, muito melhor acreditar num mito nobre, como o de Platão, se durante as nossas vidas ele conduzir à paz de espírito.

Mas a sua visão do mundo leva à ansiedade, à toxicodependência, à violência, ao niilismo, ao hedonismo, à ciência Frankenstein, ao inferno na Terra e à terceira guerra mundial. Pergunto-me quão feliz será o senhor nas suas relações pessoais? Divorciado? Viúvo? Homossexual? As pessoas como o senhor nunca são felizes, caso contrário não se esforçariam tanto para provar que não existe felicidade nem significado em nada.”

Segundo
 este médico inglês o Darwinismo é intrinsecamente uma evolução ao acaso quando, a selecção natural, é precisamente o oposto de um processo casual.


A evolução acontece à custa de alterações genéticas que favorecem a sobrevivência da espécie e essa é a essência da selecção natural de Darwin.

Muitas vezes, a selecção natural conduz a “becos sem saída” e, nesses casos, a espécie extingue-se e esse foi o desfecho de todas aquelas que hoje estudamos sob a forma de fósseis.

Os grandes dinossauros que noutros tempos dominaram a vida sobre a Terra foram eliminados por alterações drásticas e bruscas que lhes retiraram totalmente as possibilidades de sobrevivência tendo-se aberto então caminho para a evolução de outras espécies que até aí não tinham hipótese de evoluir.

Há cerca de sessenta milhões de anos, após o desaparecimento dos grandes dinossauros, pequenos animais que viviam nas florestas passaram a encontrar um espaço que até aí não dispunham.

Eram os antepassados dos mamíferos dos quais, hoje, nós somos os seus mais recentes representantes.

Nada aconteceu por acaso!

Muitos cientistas sustentam que o nosso sentido de certo e errado provem do nosso passado darwiniano.
Richard Dawkins apresenta, a este respeito, a sua versão:

-Em primeiro lugar temos os comportamentos de altruísmo e bondade para com os nossos parentes dos quais o carinho e a protecção que dispensamos aos nossos filhos é o exemplo mais óbvio mas não o único no mundo animal.

Cuidar dos parentes próximos para os defender, para os alertar contra os perigos ou partilhar com eles alimentos são comportamentos normais entre indivíduos que partilham cópias dos mesmos genes.

-Em segundo lugar, temos um outro tipo de altruísmo para o qual existe uma sólida fundamentação lógica darwiniana que é o altruísmo recíproco (temos de ser uns para os outros).

Esta teoria trazida para a biologia por Robert Trivers não depende da partilha de genes e funciona até igualmente bem entre animais de espécie diferentes, sendo aí chamada de simbiose.

Trata-se do mesmo princípio que está na base de todo o comércio e das trocas entre os seres humanos.

O caçador precisa de uma lança e o ferreiro precisa de carne. É assimetria que medeia o acordo.

A abelha precisa de néctar e a flor de ser polinizada.

As flores não podem voar, por isso pagam às abelhas o aluguer das suas asas e a moeda de pagamento é o néctar.

As guias-do-mel, aves da família “indicatoridae”, conseguem encontrar colmeias mas não conseguem entrar nelas ao contrário dos ratéis e dos homens.

Então, as aves conduzem, através de um voo atractivo, os ratéis ou o homem até ao mel e depois ficam à espera da recompensa.

Estas relações mutualistas abundam no reino dos seres vivos: búfalos e picanços, flores tubulares e beija flores, garoupas e bodiões, etc.

O altruísmo recíproco funciona por causa das assimetrias que há nas necessidades e nas capacidades de as satisfazer. É por isso que funciona particularmente bem entre espécies diferentes onde as assimetrias são maiores.

A selecção natural favorece os genes que predispõem os indivíduos, em relações de necessidade e oportunidade assimétricas, para darem quando podem e solicitarem quando não podem.

E favorece também as tendências para lembrar as obrigações, para guardar rancor, para fiscalizar as relações de troca e para punir os trapaceiros que recebem, mas que não dão quando chega a sua vez de o fazerem.

-Em terceiro lugar, os comportamentos altruístas favorecem o indivíduo que os pratica porque lhes permite ganhar fama de bondosos e generosos e essa reputação é importante e os biólogos reconhecem nela valor de sobrevivência darwiniana não só pelo facto de se serem bons como também por alimentarem essa reputação.

Reputação que não se restringe apenas ao ser humano, de acordo com experiências recentemente feitas em animais, nomeadamente peixes, e publicadas num artigo de R. Bshary e A. S. Grutter na revista Nature de Junho de 2006.

-Em quarto lugar, o economista norueguês-americano Thorstein Veblen e de uma forma diferente o zoólogo israelita Amotz Zahavi, acrescentaram ainda uma ideia mais fascinante quanto à vantagem dos comportamentos altruístas considerando-os uma proclamação implícita de domínio ou superioridade.

Por exemplo, os chefes rivais das tribos do noroeste do Pacífico competiam entre si organizando festins de uma abundância ruinosa.

Só um indivíduo genuinamente superior pode dar-se ao luxo de anunciar o facto por meio de uma oferta dispendiosa.

Os indivíduos compram o êxito através de demonstrações de superioridade, incluindo a generosidade ostentatória e o assumir de riscos pelo bem comum. (onde é que nós já vimos isto?...)

Temos então quatro boas razões Darwinianas para os indivíduos serem altruístas, generosos ou “morais” uns para com os outros e ao longo da nossa Pré-Histórica, o ser humano viveu em condições que terão favorecido bastante a evolução destes 4 tipos de altruísmo.

Vivíamos em aldeias ou, em tempos mais recuados, em bandos nómadas discretos, parcialmente isolados de aldeias ou de bandos vizinhos, e estas eram condições que favoreceram extraordinariamente o evoluir das relações altruístas familiares como factor importante para a sobrevivência do grupo.

E não só para o altruísmo de base parental como igualmente do altruísmo recíproco ao cruzarem-se com frequência com os mesmos indivíduos e estas são as condições ideais para se construir a reputação do altruísmo e também para publicitarem uma generosidade conspícua.

É fácil perceber a razão pela qual os nossos antepassados pré históricos terão sido bons para os membros do seu próprio grupo mas maus, chegando à xenofobia, em relação a outros grupos.

Mas agora que a maior parte de nós vive em grandes cidades onde já não estamos rodeados de parentes e conhecemos indivíduos que não mais voltaremos a encontrar, por que motivo somos ainda tão bons uns para os outros e até para aqueles que pertencem a grupos exteriores ao nosso?

É importante não transmitir uma ideia errada sobre o alcance da selecção natural pois ela não favorece a evolução de uma consciência cognitiva do que é bom para os nossos genes, o que ela favorece são regras de base empírica que na prática funcionam no sentido de prover os genes que as criaram.

Vejamos um exemplo:

-No cérebro de um pássaro a regra «cuidar daquelas coisas pequenas que soltam grasnidos e vivem no ninho e deixar-lhes cair comida nas bocas vermelhas e escancaradas» tem o objectivo de preservar os genes que criaram a regra porque os objectos que soltam grasnidos e ficam de boca aberta são os seus descendentes.

Mas esta regra falha se outra cria de pássaro entra para dentro do ninho, situação que foi engendrada pelos cucos.

Esta falha ou “tiro fora do alvo”pode também acontecer com os impulsos para a bondade, altruísmo, empatia, piedade, que o homem continua a desenvolver quando as condições já são diferentes das que existiam em tempos ancestrais.

Por outras palavras, as condições são outras mas a regra empírica manteve-se e, portanto, embora hoje as pessoas já não sejam nossos parentes, façam parte do nosso grupo, ou tenham possibilidade de retribuir, tal como a ave que por impulso continua a alimentar o filho do cuco, também nós continuamos a sentir o desejo de sermos bons e generosos.
É como o desejo sexual que não deixa de ser sentido mesmo quando a mulher é estéril ou toma a pílula e fica incapaz de reproduzir.
São ambos 
“tiros fora do alvo”, erros darwinianos: abençoados e inestimáveis erros.
Em tempos ancestrais a melhor forma da selecção natural assegurar a sobrevivência da nossa espécie foi instalando no cérebro não só a necessidade de acreditar, da qual já falamos num texto anterior, como também, o desejo sexual e a compaixão ou generosidade.

Estas regras que ditam estes impulsos para acreditar, para o sexo, para a generosidade e para a xenofobia, são muito anteriores à religião, às civilizações e aos vários contextos culturais que se limitaram mais tarde a regulá-los, condicioná-los, instrumentalizá-los, cada um à sua maneira, fazendo deles o cerne da vida dos homens ao longo de toda a sua existência.

Se voltarmos novamente a pôr a questão de saber qual a razão ou razões pelas quais somos bons, a resposta parece-nos ser agora clara, acessível à nossa razão, quase natural e, acima de tudo, nada ter a ver com qualquer religião.
Tudo, na sua complexidade, parece fácil, lógico e simples, quando explicado à luz da razão e do conhecimento…

Repare como as flores ficam bem nesta paisagem... mas onde é que elas não ficam bem?
    


  

Danúbio Azul . - Valsa de Johann Strauss


             

Resultado de imagem para o velho testamentoO VELHO TESTAMENTO
(Ritchar Dawkins)



















Se algum realizador cinematográfico quisesse contar a história do homem como espécie animal poderia, com toda a propriedade, intitulá-lo “Nascidos para Acreditar”.

Se as crianças, filhas dos nossos antepassados, tivessem tido a necessidade de aprenderem a sobreviver à custa da sua própria experiência, muito naturalmente, a percentagem dos que passariam à idade adulta não seria suficiente para assegurar a continuidade da espécie.

Acreditar obedientemente, sem contestar, nos conselhos dos pais, dos avós, dos chefes, das pessoas mais velhas, foi a necessidade sentida, a palavra de ordem para a qual o cérebro humano desenvolveu uma predisposição psicológica acentuada nas crianças imediatamente a partir do seu nascimento.

Nunca animal nenhum tinha necessitado tanto das experiências de vida dos seus progenitores porque também nenhum outro tinha nascido tão frágil e dependente por um período tão longo da sua vida.

E a evolução parece que só teve esse caminho: aquelas crianças tinham que acreditar e ser obedientes.

A evolução, através da selecção natural, não tem soluções pré programadas, na maioria dos casos até nem as tem, a maioria das suas tentativas são becos sem saída que terminam na extinção.

No caso concreto do homem a aposta foi num cérebro superior mas condicionada a um período inicial em que “a ordem” foi “não penses, (não arrisques) faz o que te digo” se queres ter mais possibilidades de sobreviver.

Esta “terrível”necessidade de acreditar que, provavelmente, pode ter sido decisiva para que eu possa estar hoje aqui a escrever este texto no teclado do meu computador, é precisamente a mesma que explica que um número assustadoramente elevado de pessoas continue a seguir à risca os seus livros sagrados.

De acordo com uma sondagem da Gallup, cerca de 50% dos eleitores americanos fazem parte dessas pessoas (o que não deixa de ser assustador…) não obstante muitos teólogos afirmarem que já não seguem à risca o livro do Génesis.

Comece-se, então, este livro pela conhecida história da Arca de Noé que sendo encantadora tem, no entanto, uma moral perfeitamente aterradora que revela a consideração que Deus tinha pelos humanos pois, à excepção de uma única família, afogou-os a todos, incluindo crianças, e os restantes animais.

Na destruição de Sodoma e Gomorra o equivalente a Noé escolhido para ser salvo foi Lot, sobrinho de Abraão, porque era incomparavelmente justo.

Dois anjos foram enviados a Sodoma para avisar Lot que saísse da cidade antes desta ser assolada pelo enxofre.

Hospitaleiro, Lot, recebeu os anjos em sua casa, após o que todos os homens de Sodoma se juntaram em redor e exigiram que ele lhes entregasse os anjos para (que outra coisa haveria de ser?) os sodomizarem.

“Onde estão os homens que entraram na tua casa esta noite. Trá-los cá para fora para nós os conhecermos” (Génesis 19:5)

Sim, “conhecer” tem o habitual significado eufemístico da versão autorizada da Bíblia, o que, no contexto, é bastante curioso.

A galhardia com que Lot se recusa a ceder a tal exigência sugere que Deus terá acertado ao elegê-lo como o único homem bom de Sodoma.

Mas os termos da sua recusa irá manchar essa aura de Lot:

-“Suplico-vos, meus irmãos, não cometais semelhante maldade. Eu tenho duas filhas ainda virgens. Eu vo-las trarei. Farei delas o que vos aprouver, mas não façais mal a esses homens porque vieram acolher-se à sombra do meu teto” (Génesis 19:7-8)

Independentemente de outros significados que esta história possa encerrar, ela diz-nos seguramente alguma coisa acerca do respeito pelas mulheres nesta cultura intensamente religiosa.

O que acabou por acontecer foi que a oferta, por troca, da virgindade das filhas se mostrou desnecessária, já que os anjos conseguiram repelir os meliantes cegando-os miraculosamente. Depois, avisaram Lot para que fugisse de imediato com a sua família e os seus animais porque a cidade estava prestes a ser destruída.

Toda a gente escapou excepto a infeliz esposa, a quem o Senhor transformou numa estátua se sal porque cometeu o crime - relativamente brando, dir-se-ia - de olhar para trás para mirar o aparato pirotécnico.

As duas filhas de Lot voltam a aparecer por breves instantes na história porque depois da mãe ter sido transformada numa estátua de sal ficaram a viver com o pai numa caverna, no cimo de um monte.

Famintas de companhia masculina, decidiram embriagar o pai e deitar-se com ele. Lot estava longe de se poder aperceber de quando a filha mais velha se deitou na cama com ele ou de quando se levantou mas não estava suficientemente embriagado para a engravidar.

Na noite seguinte as duas filhas concordaram que seria a vez da mais nova e repetiram a cena da embriaguês que não impediu, novamente, que a filha ficasse grávida.

Se esta família disfuncional era o melhor que Sodoma tinha para oferecer quanto a preceitos morais, então talvez Deus desperte alguma solidariedade quanto ao seu criterioso enxofre.

Num outro episódio, capítulo 19 do Livro dos Juízes, vemos uma história semelhante à de Lot.

Um levita (sacerdote) viajava com a sua concubina em Guibeá. Passaram a noite em casa de um velho hospitaleiro mas quando ceavam, os homens da cidade chegaram, bateram à porta exigindo que o velho lhes entregasse o seu convidado “a fim de o conhecerem” e o velho com uma argumentação idêntica à de Lot, disse:

“ Não, meus irmãos! Eu vo-lo peço por favor, não pratiqueis semelhante mal! Agora que este homem entrou na minha casa, não pratiqueis tal desonra! Eis a minha filha que está virgem e a concubina dele; vou fazê-las sair, abusai delas, fazei-lhes o que vos agradar! A este homem, porém, não lhe façais uma infâmia desta natureza”

Uma vez mais transparece com toda a clareza o ódio e aversão às mulheres com a expressão sinistra de “abusai delas”.

O desfecho desta história não foi feliz:

O levita entregou a concubina à multidão que a violou consecutivamente durante toda a noite. “Eles conheceram-na e satisfizeram com ela a sua luxúria durante toda a noite e só a deixaram livre ao amanhecer. Ao raiar da aurora, a mulher caiu por terra à porta da casa onde estava o seu marido até vir o dia” (Juízes 19: 25-6).

De manhã, o levita, encontrando a concubina prostrada à porta da casa disse: - num tom que hoje podemos considerar de grande insensibilidade – “Levanta-te e vamos”. Mas ela não se mexeu, estava morta. Então ele “pegou num cutelo e agarrando na sua concubina, esquartejou-a membro a membro em doze pedaços, enviando-os depois a todas tribos de Israel”

Na sequência deste episódio, e por vingança, segue-se uma guerra onde mais de sessenta mil homens foram mortos.

O tio de Lot, Abraão, foi o pai fundador das três grandes religiões monoteístas e o seu estatuto de patriarca confere-lhe uma importância, enquanto modelo de comportamento, apenas ligeiramente inferior à do próprio Deus.

No entanto, que moralista moderno iria querer segui-lo?

Na sua longa vida Abraão foi para o Egipto onde, na companhia da sua mulher Sara, enfrentou um período de escassez e fome.

Apercebeu-se então, de que uma mulher assim bela seria cobiçada pelos egípcios e a sua própria vida, enquanto marido, poderia estar em perigo.

Por esta razão, decidiu fazê-la passar por irmã e é nesta qualidade que ela foi levada ao harém do faraó sob cuja protecção Abraão ficou rico (à custa da mulher… já se vê) mas Deus desaprovou tal aconchego e mandou pragas sobre o faraó e a sua casa (e por que não sobre Abraão?).

Compreensivelmente magoado com o agravo, o faraó exigiu saber por que motivo Abraão não lhe tinha dito que Sara era sua mulher e expulsou-os do Egipto. (Génesis 12:18-19)

Mais tarde, o casal volta a cometer a mesma proeza desta vez com Amibelec, rei de Guerar, induzido a casar com Sara julgando, também, que ela era irmã de Abraão e não sua mulher. (Génesis 20:2-5).

Mas se estes episódios são desagradáveis na história de Abraão eles são pecados menores quando comparados com a famigerada história do sacrifício do seu filho muito desejado Isaac por ordem de Deus.

Construído o altar e amarrado Isaac sobre a lenha já estava Abraão de cutelo em punho pronto para a matança quando lhe apareceu um anjo e o mandou parar porque Deus, afinal, estava só a brincar, submetendo Abraão à tentação e testando-lhe a fé.

Pelos padrões da moralidade moderna esta história vergonhosa é, simultaneamente, um exemplo de abuso de menores, de tratamento tirânico entre duas relações de poder assimétrico, e o primeiro caso de que há registo da defesa utilizada em Nuremberga:”Estava apenas a cumprir ordens”.

Mesmo assim, esta lenda é um dos grandes mitos fundadores das três religiões monoteístas.

Thomas Jefferson, 3º Presidente dos EUA, estadista, filósofo político, arquitecto, arqueólogo e um espírito que representava o Iluminismo emitiu a opinião de que o “Deus de Moisés e de Abraão é um ser de carácter terrífico – cruel, vingativo, caprichoso e injusto”.

Há teólogos modernos que dirão que a história do sacrifício de Isaac por Abraão não deve ser entendida literalmente mas esse não é o facto relevante.

Relevante, é sim, haver muitíssimas pessoas nos dias de hoje, repetimos os resultados das sondagens em que metade dos americanos que votam seguem à risca os textos bíblicos e alguns deles detêm grande poder político sobre nós, especialmente nos EUA e no mundo islâmico.

A história bíblica da destruição de Jericó por Josué, tal como a invasão da Terra Prometida em geral, em nada se distingue, do ponto de vista moral, da invasão da Polónia por Hitler ou do massacre dos Curdos e dos Árabes das zonas pantanosas do Iraque por Sadam Hussein

A Bíblia pode até ser uma empolgante e poética obra de ficção mas não é o tipo de livros que se deva dar a uma criança para lhe moldar a moral.

A Má Notícia


















Seis fulanos carregam um piano pelas escadas de um prédio.

No 4º andar, um deles resolve ir ver quantos andares faltam.

Volta e diz:

 - Tenho duas notícias, uma boa e outra má.

Um deles responde:

 - Conta só a boa, a má contas quando chegarmos!

- Ok, aí vai: faltam 6 andares.

Continuam a subir e quando chegaram ao 10º andar, um deles pergunta:

 - Qual é a má notícia?

 - O prédio não é este!

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