quinta-feira, março 16, 2006

O velho marxista: a tese do prof. Vital

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O Prof. Vital Moreira ao escrever sobre o discurso de posse do Presidente pode ser suspeito de parcialidade pois defendeu publicamente a candidatura do Dr. Mário Soares que perdeu estrondosamente nas urnas comprometendo, de certa forma, todos os que lutaram pela sua eleição.

E como o perder, como diz o nosso povo, não faz bom cabelo, veja-se a reacção de Mário Soares ao sair da cerimónia de investidura sem cumprimentar o novo Presidente, na linha do que tinha feito Cavaco Silva - que também não esteve presente na cerimónia de investidura de Jorge Sampaio dez anos antes, há sempre o risco de se considerar alguma falta de isenção quando se critica um adversário depois de se ter sido por ele derrotado.

Vital Moreira, no seu artigo no Público de hoje, chama a atenção para um aspecto do discurso de posse do Presidente que deixou muita gente de pé atrás, especialmente na área do governo mas também da oposição, mesmo quando lhe teceram elogios.

É que a parte forte do discurso, na linha do que já tinha sido dito na campanha, foram os “cinco desafios” políticos enunciados por Cavaco Silva que não obstante serem mais ou menos consensuais porque correspondem, sem dúvida, a situações graves do país sentidas pela generalidade dos portugueses e que carecem de resolução urgente, não deixa de ser um acentuar de acções que são da responsabilidade do governo porque é a ele que compete a estratégia da acção governativa que está contida no programa com que o PS se apresentou a eleições.

De resto, o Presidente da República deve estar preparado para conviver com governos de todas as orientações constitucionalmente admissíveis, desde que observem os preceitos democráticos.

Vital Moreira não discorda dos cinco desafios enunciados como prioridades estratégicas, mas pergunta se é ao Presidente que os cabe enunciar e definir porque a principal função do Presidente é a de ser o garante do funcionamento do regime democrático, zelando pela legitimidade do procedimento político em vez de controlar as políticas públicas e muito menos fazer prevalecer uma agenda política própria.

E como essa agenda se sobrepõe à do governo, e o Eng. Sócrates logo na noite das eleições chamou a atenção para esse facto, resulta daqui uma associação que faz do Presidente co-responsável dos êxitos e fracassos do governo inquinando a relação destes dois órgãos de soberania pois afecta a independência e responsabilidade de cada um deles.

E, no entanto, agora que as eleições já lá vão, passando em revista as razões da opção do voto e falo por mim mas poderia falar por muitos milhares de outros portugueses, foi exactamente o reforço do Presidente às opções estratégicas do governo, e estamos a pensar concretamente nas reformas estruturais que mexem com interesses de grupos que reagem e protestam tentando impedir a concretização dessas reformas, que decidiu a orientação do nosso voto em Cavaco Silva, o mesmo que um dia quis por os portugueses a trabalhar no feriado de Carnaval.

Tem razão Vital Moreira mesmo aos olhos de quem não é especialista como ele é e, no entanto, confundindo-me com uma grande percentagem dos que nele votaram, gostei que ele tivesse posto o acento tónico do seu discurso onde o pôs porque, correcta ou incorrectamente, do ponto de vista técnico-jurídico-constitucional, é aí que estão as nossas preocupações.

Talvez os portugueses nesta fase em que o país se encontra não tenham tanto a preocupação de um respeito pelos preceitos mais puros da democracia mas antes o de vencer este verdadeiro “cabo das tormentas” e o Prof. Cavaco Silva, com razão ou sem ela, foi reconhecido como o grande aliado de Sócrates para a ultrapassagem de tão difíceis escolhos.

Mas há aqui um risco de alguma conflitualidade, do “mandas tu mando eu” porque nunca se sabe quando é que uma relação de cumplicidade, mesmo no melhor dos propósitos, pode descambar em zanga dos “cúmplices” se a agenda política que hoje parece coincidente amanhã deixar de o ser em algum dos seus pontos.

Por outro lado, como é que se vão repartir as culpas se as coisas correrem mal ou os louros se correrem bem?

Não sei se o Eng. Sócrates não teria gostado mais que o discurso do Presidente, de acordo com Vital Moreira, se tivesse preocupado mais com a prática e os modos do exercício do poder político do que com o conteúdo das políticas públicas mas que há muitos que esperam para ver como vai ser isso da “cooperação estratégica” disso não temos dúvidas, para já não falar da “estabilidade dinâmica” a menos que esta se oponha à chamada “paz podre” ou ao imobilismo.

Miguel Sousa Tavares, que nunca morreu de amores por Cavaco Silva, deseja-lhe Boa Sorte porque se ele a tiver todos nós a teremos, mas não deixa de ironizar com o facto de ele ter tido 10 anos privilegiados para governar e fazer as reformas de que o país precisava e vem agora, como Presidente, exigir que este governo faça aquilo que ele não fez quando tinha uma situação internacional invejável e energia barata.

Quanto ao resto também está na onda de Vital Moreira quando afirma que o discurso enuncia como programa do seu mandato o que verdadeiramente é um programa de governo, falando quase nada da política de defesa ou da política externa, e nada sobre a qualidade da democracia e direitos de cidadania que lhe cabe vigiar.

De facto, na situação que se apresenta existem riscos como existiriam em qualquer outra, fosse ela qual fosse, embora esta me pareça, neste momento, a melhor de todas. O bom senso e o sentido de responsabilidade face aos interesses do país destes dois homens vão fazer a diferença e eu que votei em ambos quero acreditar neles porque em democracia a responsabilidade começa no acto do voto e eu, desta vez, não posso tirar o “rabinho de fora”.
  • PS: O bom da política é isto mesmo, ter os "rabinhos de fora". Doutro modo, seria uma grande chatice. O que seria a política sem os rabinhos de fora?
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segunda-feira, março 13, 2006

Ernâni Lopes

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Vi recentemente o Prof. Ernani Lopes dar uma entrevista na TV no quadro duma conferência sobre o tema da sua especialidade, a resposta das empresas à globalização que teve lugar no CCB.

A minha primeira reacção ao vê-lo foi de choque face aos resultados dos tratamentos da quimioterapia que fez ou ainda está a fazer, situação para a qual, de resto, já me tinas alertado, mas tal como tu também me disseste, a força e a convicção das suas palavras rapidamente fazem esquecer tudo o resto.

Ouvindo-o, parece haver uma receita simples para o sucesso dos nossos agentes económicos e para o futuro do nosso país, bem, simples não direi, mas pelo menos possível, o que é melhor que nada pois significa que está na nossa mão.

O nosso país tem os problemas, as deficiências e os atrasos que tem, é pequeno, e deduzi que num futuro próximo, ele trabalha com um horizonte de 20/25 anos, corre o risco de perder qualquer expressão no contexto europeu, mais ou menos esquecido aqui no extremo do continente, se não for prosseguida uma estratégia que passa por sermos ponte de ligação entre Europa, África e Brasil.

Se somos capazes de desempenhar ou não esse papel, neste momento, ele não sabe dizer mas quando chegarmos ao fim do 1º quartel deste século logo se saberá.

Irá ser uma página a escrever que faz todo o sentido que seja escrita porque se inscreve na continuidade do que foi o nosso passado de contactos por esse mundo fora tirando partido de características que desenvolvemos e do que aprendemos na sequência de múltiplos contactos estabelecidos, uns que procurámos, outros resultantes da nossa posição ribeirinha.

Quanto ao tecido económico, a globalização não o atrapalha e se ela é incontornável o melhor é vê-la como um desafio em vez de um obstáculo e para que os empresários sejam bem sucedidos ele tem a receita:

- Reestruturação permanente das empresas que consiste em baixar os custos, subir a facturação e aumentar o trabalho num processo contínuo que é menos difícil nas pequenas e médias empresas do que nas grandes.

Depois temos os sectores ou talvez melhor as áreas onde ele considera que os nossos investidores têm que apostar:

-Turismo, não na perspectiva do imobiliário mas num conceito muito mais abrangente que passa por vender todos os serviços nos quais as pessoas possam estar interessadas;

-O Mar, com todas as actividades a ele ligadas a que ele chamou de clusters, pois não faz sentido com o papel que esse mar já teve para nós, num país tão pequeno mas com quase 1000 km de costa atlântica, não seja objecto da atenção dos investidores com aquilo que hoje são com os recursos da Ciência neste campo;

-O Ambiente, que deixou de ser olhado como factor que entrava e dificulta investimentos mas, em vez disso, potenciador de geração de riqueza;

-Investir nos” velhos e ricos” do norte da Europa, a expressão é dele e fazer com eles o que a Espanha já faz há muitos anos e que eu próprio como qualquer outro português pode testemunhar aqui próximo, no sul de Espanha, mas para isso ele alerta que é indispensável garantir meios e recursos de qualidade para atender aos problemas de Saúde e da Segurança sem os quais eles não vêm;

-Apostar nas Cidades e olhar para elas não apenas como centros consumidores de riqueza mas também, elas próprias, geradoras de riqueza e de negócios;

-Finalmente, apostar nos produtos de valor acrescentado;

Em resumo, tudo vai depender dos portugueses, não dos que desfilam nas ruas reivindicando subsídios mas dos que têm imaginação, competência, ambição e coragem para correr riscos.

É preciso voltar a sair de Portugal à procura de nichos de mercado que, com certeza, é mais fácil encontrar lá fora, do que num espaço tão pequeno como o do nosso país.

Veja-se o Sr. Luís Filipe Vieira que em vez de vender património para endireitar o Clube embarca hoje para a China para ir vender a marca Benfica aos chineses como o Real Madrid já o tinha feito anteriormente.

Bem se pode dizer: clientes precisam-se. Só que eles não caem do céu, é necessário, cada vez mais uma política comercial agressiva sustentada por produtos e serviços de qualidade, competitivos, novos e que suscitem, eles próprios, novas necessidades.

Os portugueses aprenderam com os árabes a serem comerciantes, tiveram neles bons professores. Hoje, vender é uma técnica, uma Ciência, as qualidades inatas continuarão sempre a ser muito importantes, o chamado “jeitinho para o negócio”.

Gostei de ouvir o Prof. Ernani Lopes que em minutos, com as suas qualidades didácticas e a sua grande capacidade de síntese que não lhe permite desbaratar palavras, disse, em meia dúzia de minutos, coisas aparentemente simples, quase óbvias mas importantes e decisivas para desbloquearem o nosso futuro.

Uma rápida recuperação é o que lhe desejo.

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