sábado, outubro 11, 2014

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O OUTONO

A minha neta teria uns três anos quando, debruçada no chão sobre uma folha caída no passeio, lhe perguntei: - Que estás a ver Filipa? - As cores do Outono, avô.

outono  é a estação do ano que sucede ao Verão e antecede o Inverno. É caracterizado por queda na temperatura, e pelo amarelar das folhas das árvores, que indica a passagem de estações (excepto nas regiões próximas ao equador).
O Outono do hemisfério norte é chamado de "Outono boreal", e o do hemisfério sul é chamado de "Outono austral". O "Outono boreal" tem início, no hemisfério norte, a 22 ou 23 de Setembro e termina a 21 ou 22 de Dezembro. O "Outono austral" tem início, no hemisfério sul, a 20 de Março e termina a 20 ou a 21 de Junho.



Arrependido?










- Padre! Queria confessar-me.....

- Então meu filho que me tens a dizer?

- Sabe... fui infiel à minha mulher. Eu sou produtor de cinema e na semana passada tive relações sexuais com a Jenifer Lopez, com a Cindy Crawford e com a Cameron Diaz, cada uma à sua vez...

Pois é meu filho, mas não poderei absolver-te....!!!


- Mas, mas, Padre, porquê se a misericórdia de Deus é infinita?

- Não me lixes! Nem eu nem Ele vamos acreditar que estejas arrependido...!


NEIL DIAMOND - I AM I SAID

Admirador de sempre da sua voz única, inimitável e das canções de extraordinária linha melódica que compôs, ficaria em dívida para com ele sem referir uma pequena biografia da sua vida.

 Nasceu numa família judaica no Brooklyn, Nova York, em 1941. Aprendeu a tocar guitarra após lhe oferecerem uma por ocasião do 16º aniversário.

Estudou com Bárbara Streisand na Escola Secundária Abraham Lincoln e chegou a cantar com ela no coro.

Começou a sua carreira compondo canções por encomenda como: “I Am a Believer” (1966) e “A Little Bit Me, a Litle Bit You” (1967), para o Grupo “The Monkees”.

- “Cracklin Rosie”, “Sweet Caroline”, “I Am I Said”, “Don’t Bring Me Flowers” (c/ Barbara Striesand), “Song Sung Blue”, “September Morning”, “Girl, you’ll Be A Woman Soon” e muitas outras canções suas constituíram enormes e merecidos sucessos musicais.

Muitos dos seus discos ganharam certificados de ouro e platina e recebeu diversos Grammys ao longo da carreira.

A crítica americana considerou-o um dos dez maiores cantores e compositores de todos os tempos.

Do primeiro casamento com a sua professora Jay Posner teve duas filhas. Do segundo casamento, também já terminado, teve mais dois filhos.

O seu CD mais recente foi lançado em 2008, intitulado Home Before Dark.


Lâmpada Mágica







Um homem caminhava pela praia de Cascais e tropeçou numa velha lâmpada.
Pegou nela, esfregou-a e... um génio saltou lá de dentro, que disse:


- OK. Libertaste-me da lâmpada, blá, blá, blá! Esquece aquela história dos 3 desejos! Tens direito a um desejo apenas e ponto final!

O homem disse:

- Eu sempre quis ir aos Açores, mas tenho um medo enorme de voar... e no mar costumo ficar enjoado. Podes construir uma ponte até aos Açores, para eu poder ir de carro?

O génio riu muito e disse:

- Impossível. Pensa na logística do assunto. Como é que os pilares chegavam ao fundo do Oceano Atlântico? Pensa em quanto betão armado, em quanto aço, em quanta mão-de-obra... Não, de maneira nenhuma! Pensa noutro desejo.

O homem compreendeu e tentou pensar num desejo realmente possível.

- Fui casado e divorciado 4 vezes. As minhas mulheres disseram sempre que eu não me importava com elas e que era um insensível. Então, é meu desejo compreender as mulheres; saber como se sentem por dentro e o que estão a pensar quando não falam connosco; saber porque estão a chorar... saber realmente o que querem quando não dizem nada... saber como fazê-las realmente felizes!

O génio respondeu:

- Queres a porcaria da ponte com duas, ou quatro faixas???!!!!

Interrompi o curso, estou perdendo aulas!
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 72



















Não aparece todo dia e as poucas vagas tinham sido disputadas por candidatos de todo o país e até do estrangeiro.

Ficasse o Coronel sabendo que entre os pretendentes encontravam-se argentinos. Argentinos, sim senhor. Ele, Venturinha, obtivera inscrição devido às boas relações que estabelecera com ilustres professores durante essa curta estada no Rio de Janeiro.

Curta? Cinco meses, o Coronel contava nos dedos: Janeiro, Fevereiro, Março, Abril e Maio.

O Coronel tomara conhecimento das intenções de Venturinha através de longa epístola recheada de considerandos e de arrazoados, na qual o rapaz dava conta aos pais da resolução de prolongar os estudos, participando de importante curso sobre o Direito de Propriedade da Terra, necessário a quem quisesse advogar com sucesso na região; ser-lhe-ia de grande proveito.

Tropeçando na linguagem sibilina em que a carta fora vazada, linguagem de bacharel, o Coronel, imerso em dúvidas, ordenou ao filho que viesse a Ilhéus explicar-se melhor pois não pretendia nem achava possível decidir tal assunto por correspondência.

A seu ver, tendo completado o curso da Faculdade de Direito, ostentando o rubi no dedo anular, emoldurados e postos na parede da sala de visitas o diploma e o quadro de formatura, Venturinha estava apto a iniciar a carreira e a palmilhar o caminho traçado: advogar, casar com moça de família rica -  tão rica pelo menos quanto a dele -  fazer política, assumir as responsabilidades e os postos que lhe competiam.

 Para isso o Coronel trabalhara como um mouro, lutara de armas na mão, derramara sangue, correra perigo de vida. Não via necessidade de novos cursos, não já se formara e recebera o canudo de doutor?

Colocado contra a parede, Venturinha não teve jeito senão suspender a temporada carioca e vir argumentar de viva voz:

 - Interrompi o curso, estou perdendo aulas! -  Lamentava-se.

Enternecida, dona Ernestina erguia-se em apoio ao filho. Em geral não ousava discutir os planos do marido quando deles tomava conhecimento, o que acontecia raramente.

Mas, naquela ocasião, saiu de sua habitual pacatez para reclamar, com inesperada energia, a compreensão e o indispensável financiamento do Coronel para que o seu menino pudesse empanturrar-se de conhecimentos.

O que o menino queria era estudar, pretensão louvável, como impedi-lo?

 - Curso ditado por mestres consagrados, os maiores especialistas.

Perorava Venturinha parado no meio da sala, os braços erguidos para o alto.

O que está

escrito, 

está escrito.









Havia muito a impressão de que, para não deixar dúvidas, as “coisas” deviam ficar escritas porque “palavras leva-as o vento”. A palavra oral não tem o valor da palavra escrita.

O resultado está à vista: dois textos, a Bíblia e o Corão, escritos há muitos séculos e milénios, muito antes da Revolução Francesa, da Abolição da Escravatura, da Carta Universal dos Direitos do Homem, dos avanços científicos, do esplendor da civilização ocidental e das lutas sem fim pela conquista da liberdade e do respeito pelos direitos, hoje consagrados, de todos os homens e mulheres, esses dois textos, marcam as preocupações dos nossos dias.

Melhor seria que nunca tivessem sido escritos, que tivéssemos ficado pelas “palavras leva-as o vento”.

Na América do Norte um grupo poderoso de cristãos evangélicos mais um grupo de judeus, continua a dizer, como no Velho Testamento, que Deus deu aos judeus o território de Israel e os deserdados dos palestinianos, que sempre lá viveram, que façam o favor de se retirarem, a bem ou a mal.

O Corão, 1500 anos depois de ter sido escrito não faz sentido nenhum. Tomado literalmente é um Código Penal obsoleto e inaceitável onde Deus, pela voz do Profeta, pretende regular cada hora e cada aspecto da vida de um crente.

Tem sido assim a evolução da sociedade árabe nestes últimos 100 anos fruto do petróleo e do conjunto de interesses que à sua volta se constituíram.

Os mais ricos, compram palácios, castelos e clubes de futebol, enquanto os outros mandam ensinar nas madrassas o ódio aos ocidentais.

Assim, chegámos à génese do que é verdadeiramente grave como problema mundial dos dias de hoje: diferenças religiosas e culturais entre os povos ditadas pelo motor da fé.

Só resta resistir, lutar e resistir.

As Forças Armadas Portuguesas não acertam com o campo de batalha. Lutaram em África para impedirem o legítimo direito de acesso dos povos colonizados à independência e agora, para questões da nossa sobrevivência e ao contrário do que faz a Holanda, a Bélgica e a Dinamarca, cuja aviação está envolvida nos combates ao EI, ficam em casa a discutir carreiras e promoções ou o outro magno problema que é fusão entre o Colégio de Odivelas e o Colégio Militar.

“O apoio militar está fora de causa” diz ufano e vitorioso o nosso carismático ministro dos Negócios estrangeiros, Rui Machete.

Está cheio de razão Miguel de Sousa Tavares no seu artigo de hoje no Expresso, leiam.  

sexta-feira, outubro 10, 2014

Chamava-se Loukanikos ou o "salsicha" em grego e estava presente, na primeira linha, em todas as manifestações de protesto na Grécia. Morreu ontem de ataque cardíaco, anunciaram os seus donos. Honras lhe sejam prestadas.



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Vejam como é injusto: quantos não tiveram que se ajoelhar e pôr em bicos de pés para que um podesse colher o fruto da felicidade...






Mixórdia de Temáticas -  Chalupas Shoping



Dulce Pontes - Mãe Preta

Mãe Preta é uma canção que surgiu no Brasil na década de 30 do século passado, sobre o drama pungente de uma ama negra no tempo da escravatura. Com música composta por "Caco Velho" (Matheus Nunes) e letra de "Piratini" (António Amabile), Mãe Preta chegou a Portugal nos primeiros anos da década de 50 pela voz da fadista Maria da Conceição. Esta versão portuguesa foi um êxito colossal, que as rádios tocavam sem cessar e que as pessoas cantarolavam e assobiavam por todo o lado. Até que, de repente, a Mãe Preta deixou de se ouvir nas rádios. E as pessoas interrogavam-se sobre este silêncio subitamente instalado:

O que é que aconteceu à Mãe Preta, que nunca mais ouvi no rádio?

 - Não sabe? O Salazar proibiu.

 - Oh, que pena! Era tão bonita!


Seria de esperar que, depois da queda da ditadura em 25 de Abril de 1974, a Mãe Preta reaparecesse em Portugal com a sua letra original, cantada por uma das novas vozes saídas após a Revolução. Porém, tal quase não aconteceu. 

O que aconteceu foi que as novas fadistas voltaram a cantar o Barco Negro, que Amália Rodrigues cantara, e não a original Mãe Preta, que Maria da Conceição tinha popularizado. Foi o que fez Mariza e foi o que fez, mesmo, o brasileiro Ney Matogrosso. No meio das várias vozes que cantaram de novo o Barco Negro, uma voz, pelo menos, se fez ouvir com a "velhinha" Mãe Preta: a de Dulce Pontes.


CRUZAMENTO DE DADOS…
(É disto que muita gente tem medo)











Telefonista: Talvez não seja boa ideia...

- Cliente: O quê...?

- Telefonista: Consta na sua ficha médica que o senhor sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a saúde.

- Cliente: Claro! Tem razão! O que é que sugere?

- Telefonista: Por que é que não experimenta a nossa Pizza Superlight, com Tofu e Rabanetes? O senhor vai adorar!

- Cliente: Como é que sabe que vou adorar?

- Telefonista: O senhor consultou a página 'Receitas Gulosas com Soja' da Biblioteca Municipal, no dia 15 de Janeiro, às 14:27 e permaneceu ligado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...

- Cliente: Ok, está bem! Mande-me então duas Pizzas tamanho familiar!

- Telefonista: É a escolha certa para o senhor, a sua esposa e os vossos quatro filhos, pode ter a certeza.

- Cliente: Quanto é?

- Telefonista: São 49,99.

- Cliente: Quer o número do meu Cartão de Crédito?

- Telefonista: Lamento, mas o senhor vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu Cartão de Crédito foi ultrapassado.

- Cliente: Tudo bem. Posso ir ao Multibanco levantar dinheiro antes que chegue a Pizza.

- Telefonista: Duvido que consiga. A sua Conta de Depósito à Ordem está com o saldo negativo.

- Cliente: Meta-se na sua vida! Mande-me as Pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?

- Telefonista: Estamos um pouco atrasados. Serão entregues em 45 minutos. Se estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas Pizzas na moto, não é lá muito aconselhável. Além de ser perigoso...

- Cliente: Mas que história é essa? Como é que sabe que eu vou de moto?

- Telefonista: Peço desculpa, mas reparei aqui que não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga e então, pensei que fosse utilizá-la.

- Cliente: Porr........!!!!!!!!!

- Telefonista: Gostaria de pedir-lhe para não ser mal educado... Não se esqueça de que já foi condenado em Julho de 2006 por desacato em público a um Agente da Autoridade

- Cliente: (Silêncio).

- Telefonista: Mais alguma coisa?

- Cliente: Não. É só isso... Não. Espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção.

- Telefonista: O regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 095423/12, proíbe a venda de bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...

- Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!! Vou atirar-me pela janela!!!!!

- Telefonista: E torcer um pé? O senhor mora no rés-do-chão...!



RACISMO E 



PRECONCEITO



Por Carlos de Matos Gomes



(Coronel do Exército reformado e escritor)










A eleição que a direcção do Partido Socialista entendeu levar a cabo para escolher o seu candidato a primeiro-ministro teve um efeito colateral: fez estalar o fino verniz que cobre o racismo de muito boa gente com quem nos cruzamos nas ruas, nos ecrãs de televisão e nas colunas dos jornais. De gente que nos dá conselhos sobre o défice, o sistema político, a forma de sermos felizes. Isto a propósito da cor da pele de António Costa. 

 

A propósito desse assunto, que eu julgava fazer parte das secções de tratamentos de beleza das revistas de cabeleireiros e barbeiros, li e ouvi de tudo, não só de idiotas assumidos e reconhecidos, mas de gente que julgava imune a essa doença. 

E o mais surpreendente foi verificar que o preconceito era transversal, vinha de mulheres e de homens, de pessoas que se afirmam progressistas, liberais, abertos e de conservadores e reaccionários das velhas cepas do salazarismo e do colonialismo. Só faltou o velho anúncio do restaurador Olex de não ser natural um preto com carapinha branca.

O preconceito racista – neste caso contra António Costa – prova a existência nos aparelhos políticos da noção de que vale tudo na luta política, à esquerda e à direita. O preconceito racista expôs as contradições dos dois grandes grupos da sociedade com os elementos caracterizadores das suas ideologias.

Os conservadores, a direita nacionalista, que se assumem como os verdadeiros patriotas, os herdeiros das glórias da nação que “deu mundos ao mundo” entram em conflito com a História de Portugal, que glorificam e restringem à época de ouro dos descobrimentos e da diáspora colonial. Uma certa esquerda, herdeira das revoluções francesa e russa, entra em conflito com as ideias de igualdade.

O recurso ao argumento da cor da pele – um não branco, um hindu, um preto, um monhé, um chamussa  – por parte daqueles a que Eça de Queiroz classificou de patrioteiros revela como o discurso salazarista do Portugal do Minho a Timor, todos iguais, todos portugueses não passava de um slogan para explorar os que não eram brancos.


Mais, revela como os exemplos da Exposição do Mundo Português de António Ferro e de Henrique Galvão e da História do Matoso para o 2º ciclo dos antigos liceus, utilizados pelo regime durante 40 anos não passavam de pura e reles propaganda: o caso tão cantado da política de miscigenação de Afonso de Albuquerque na Índia afinal era e é uma treta.

 

 Os patrioteiros acham bem que os valentes marinheiros portugueses tenham copulado com mulheres indianas, mas não aceitam os seus filhos como portugueses de pleno direito. Cantaram e apaparicaram a teoria do luso-tropicalismo de Gilberto Freyre, mas afinal acham que os mulatos só são bons para cantar, dançar e jogar à bola.

 

Mas nem tudo é ideologia. Há o mercado, claro. O preconceito racista agora revelado contra António Costa tem também uma forte componente de oportunismo político e partidário. António Costa entra no mercado dos votos da esquerda e da direita. Por isso os aparelhos partidários da esquerda e da direita utilizaram o argumento da cor para o esconjurar. António Costa tem politicamente dois pecados: sendo de “cor”, não é um pobre explorado, um trabalhador da construção civil, um operário, um proletário.

Sendo um “homem de cor”, é também um intelectual, um burguês. Não se enquadra nos estereótipos, incomoda uma certa esquerda e uma certa direita. Ele é alguém cuja “cor” lhe permite ser adoptado por minorias desfavorecidas como um dos seus e colher o seu voto. O que essa esquerda não pode admitir. E também visto como alguém que atingiu elevados patamares de sucesso “apesar da cor”.

Isto é, ele é excepcional, o que uma certa direita não aceita, por ser um péssimo exemplo e um concorrente de peso. Daí a acusação que alguém lhe fez de se ter maquilhado de branco para uma entrevista na TV, como quem diz: ele está a fazer-se de branco, ele não é o “preto” que vos vai defender. 

Daí os comentários de fim de semana dos gurus da direita nas TV: Passos Coelho que se cuide, que se ouviram logo a seguir à votação. Daí ainda duas outras acusações: Uma: Costa é o “mainato” o criado de Sócrates (como é preto não pode ser patrão de si mesmo). Costa que diga qual é o seu programa (como é preto não tem nada na cabeça. Já agora, qual é o programa de Passos Coelho, o de Jerónimo de Sousa, o do Semedo e Catarina, ou até o de Seguro, para não falar no de Portas?)

A utilização do preconceito racista contra António Costa revela os limites da abertura ao mundo dos portugueses, os seus medos e, no final, a sua mesquinhez. Revela porque somos pobres e marginais.

A expulsão dos judeus é considerada hoje uma das causas da nossa decadência e do nosso subdesenvolvimento, o preconceito racista está na mesma linha. Conheci Orlando Costa, pai de António Costa, escritor, linguista de mérito, Aquino de Bragança, um dos grandes intelectuais que pensava o papel de Portugal no mundo que se reorganizava após a 2ª G.G. ambos naturais de Goa; estudei num colégio com muitos colegas de África, quase todo o comité central do PAIGC – Filinto Barros, Fidélis Almada, heróis como Areolindo da Cruz… conheci intelectuais negros como Mário Cabral, como Mário Pinto de Andrade, percebo agora melhor porque os afastámos de nós, porque fizemos deles nossos inimigos na guerra colonial.

Perante o triste espectáculo do racismo latente, profundo, revelado na campanha contra António Costa, percebo hoje melhor o logro da chamada “política ultramarina” dos governos de Salazar e de Caetano. 

Parece-me agora evidente que Amílcar Cabral, sendo português, engenheiro agrónomo não podia ser chefe do governo de Portugal. Nem o médico Agostinho Neto. Nem o professor Eduardo Mondlane, nem nenhum dos portugueses de cor, mesmo que nascidos em Portugal, mesmo que formados em universidades portuguesas. Isto é, esses homens e mulheres não eram e sentiram que não eram portugueses.

Eram Antónios Costas, que, logo que se apresentassem a disputar um lugar de poder para o qual estavam intelectual e profissionalmente capacitados, logo alguém lhes lembraria a cor da pele.

Esta campanha de racismo contra António Costa revela também a hipocrisia da homenagem nacional e verdadeiramente popular que foi feita a Eusébio. Um artista de cor? Excelente. Diverte-nos. Podemos exibi-lo. Um primeiro ministro de cor? Inaceitável. Coloca em causa a nossa matriz. Esta campanha explica ainda o racismo e o preconceito subjacente nas homenagens a “heróis da guerra do ultramar”. Heróis aclamados porque nunca entenderam os direitos dos “de cor” a discordarem dos brancos, a governarem-nos, se fosse caso disso, ou então a governarem-se sem tutelas.

Por isso, para esses, não é admissível ter na presidência do governo alguém de “cor”, mesmo que nascido em S. Sebastião da Pedreira, na Maternidade Alfredo da Costa (por acaso também ele um médico de “cor”), licenciado em direito pela universidade de Lisboa, mas filho de um intelectual e democrata Orlando Costa, descendente de goeses, brâmanes convertidos ao catolicismo.

Isso é que não pode ser! Ofende a pureza do sangue celta, de onde saíram, pelo que vejo na televisão a cores, os loiros Passos Coelho, Paulo Portas, Paula Teixeira da Cruz, Maria Luíz Albuquerque, Carlos Moedas, o defunto António Borges, mas também Teresa Guilherme, a loiríssima Lili Caneças, Ricardo Espírito Santo, e até, segundo alguns quadros, o menino rei D. Sebastião, o responsável pelo maior desastre da nossa História.



PS Este ataque racista a António Costa de que Carlos Matos Gomes fala neste texto, foi pretexto para desenterrar muito lixo do passado.

Eu estive em Moçambique, local de portugueses racistas, uns envergonhados outros assumidos e declarados que por lá viviam há muitos anos reconfortados e inspirados pela vizinhança do Apartheid na África do Sul.

De um, lembro-me eu, trabalhava no meu Serviço quando lá cheguei, em Setembro de 1972, e a quem, depois de uma primeira conversa, não mais voltei a falar. Não vou repetir o que ele pensava porque me enoja.

Carlos Matos Gomes conheceu essa realidade: dos brancos, dos castanhos ou monhés, dos chineses, dos mulatos, uma vergonhosa palete de cores humanas.

Durante os três anos em que vivi em Moçambique recusei visitar a África do Sul de então para não ser confrontado com a descriminação racial nos hotéis e em outros locais públicos. Uma amiga minha que estudava na Suiça foi lá e ficou chocada por não ter podido encontrar-se com um amigo não branco no hotel onde estava. 

Alguns desses que integram a palete de cores, nasceram lá, vieram para Portugal estudar e nunca mais regressaram. Aqui fizeram vida e carreira, tive-os como colegas, alguns brilhantes. Não mais voltaram à terra que os segregou.

Outros nasceram cá, como o António Costa e ainda bem porque me permitiu, com toda a propriedade, uma alternativa de voto ao Tó Zé.

De qualquer maneira, foi uma surpresa para mim este regresso de concidadãos meus aos velhos preconceitos racistas que eu julgava enterrados juntamente com os colonialistas de então mas, tudo quanto é erva ruim, arranja sempre forma de resistir.

 


 

Se lembra de Venturinha, Maria Gina?
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 71



















O sol lá estava em brasa marcando a hora, se o trem de ferro não se atrasasse, daí a pouco Venturinha desembarcaria em Taquaras.

Será que ele ainda se recorda de Maria Gina?

Natário a conhecia da Fazenda Atalaia, menina já destrambelhada, o olhar vago, sorrindo sem por que, mostrando as partes.

Venturinha experimentara mulher fazia pouco, vivia arretado, não podia ver rabo-de-saia.

 - Se lembra de Venturinha, Maria Gina?

A rapariga suspendeu a marcha, ficou parada no caminho segurando os galhos, fez um esforço; a memória vinha de longe, da outra banda, embrulhada, confusa de sonhos e visões:

 - Quem, seu Capitão? - Do Capitão, sim, ela se lembrava: quando o lobisomem começara a espancá-la, ele se intrometeu, tomou as dores da indefesa, partiu o lobisomem em três pedaços e o malvado nunca mais voltou a maltratá-la.

 - Não me lembro não.

 - Venturinha, o filho do Coronel, lá da Atalaia. Faz um tempão.

 - Do filho não se lembra não. Só se lembra do Coronel, ele
gostava de deitar mais eu, era bondoso.

Havia quem não quisesse andar com ela por ser lesa. Com medo de castigo do céu, pois essas criaturas pancadas são da estimação de Deus, quem delas abusa pode pagar caro, aqui na terra, ou depois quem sabe onde.

Venturinha não acreditava em agouros, derrubava Maria Gina debaixo da barcaça no cheiro do cacau posto a secar. Do Coronel, Natário nunca soubera nem desconfiara.

 - O coronel Boaventura?

 - Tinha o peito cabeludo, bom de passar a mão.

Recomeçou a marcha lenta, os olhos outra vez perdidos, os lábios abertos no sorriso de júbilo: ia à procura do rei da Babilónia, dono do sol.

 Meteu no cós da saia as moedas que o Capitão lhe pôs na mão.

O capitão Natário da Fonseca esporeou a mula, ganhou distância.

Se o trem de ferro cumprisse o horário, Venturinha não tardaria a desembarcar. Doutor formado. Será que ainda se recorda de Maria Gina?

6

Nem em Dezembro, tampouco em Maio: os planos do Coronel viram-se adiados novamente. Até quando? A pergunta ficara no ar, Venturinha não fixara data: o curso de especialização não tinha prazo certo para terminar. Prolongar-se-ia por alguns meses, cinco ou seis, quantos, exactamente, não sabia: no máximo até Dezembro. Mas como deixar escapar uma oportunidade daquelas?

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