sexta-feira, junho 24, 2016

Adeus , Inglaterra.  Bye-Bye
Prontos... já foram!











A índole dos povos guarda segredos que não cabem nos cálculos dos comentadores, analistas, simples opinadores, mais ou menos entendidos.
Todos falharam... e tinham 50% de probabilidades de acertarem...
Os ingleses fazem-me lembrar aqueles miúdos irrequietos e imprevisíveis que fazem sempre tudo ao contrário do que lhes dizem por simples espírito de contradição... é uma tentação à qual eles não resistem.
Há!, queres que eu fique, pois então, saio. Deitámo-nos com a Inglaterra, acordámos sem ela.
Lembro o meu cronista de eleição, Ferreira Fernandes, do DN que disse que sabia que a Inglaterra ia ficar porque tinha acesso a sondagens infalíveis dos Bancos e das Bolsas, em resumo dos donos do dinheiro.
Disse até que a política financeira garante certezas que o futebol é incapaz.
Já disse aqui, no Memórias Futuras que, para mim, os ingleses são enganadores, misteriosos, para nós, que não pertencemos à sua cultura, nem conhecemos profundamente a sua maneira de pensar e reagir. São uma espécie de chineses cá do sítio...
 Aí os temos, corajosos e destemidos como sempre foram, sosinhos... Agora, sem a Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales... lá se foi o Reino Unido.
Amanhã, o mundo recomeça diferente, porque a seguir à Inglaterra, vem a Holanda, a França da Srª Le Pen, a Grécia que está e não está, depende do Srª Merkel/Shauble... e, finalmente, a própria Europa que, teimando em tratar igual o que é desigual, arrisca a desfazer-se.
Será capaz de se reajustar, ou as forças centrípetas accionadas, agora, pela Inglaterra que parecia estar perfeitamente à vontade, com a sua libra de séculos, fora do espaço Shengen, com Tratados especiais negociados só para ela, recentemente, entre o seu 1º Ministro e Merkel que até o levaram a dizer que já não precisavam de Sair porque, no fundo, já estavam fora?
Ironia das ironias, nem o seu 1º Ministro os entende.
Tudo de pernas para o ar!... as próximas cenas vêm aí a seguir e não vão demorar muito!

quarta-feira, junho 22, 2016

Embaixador Seixas da Costa
O BREXIT NUM ESFREGAR 

D'OLHO
(Seixas da Costa)

















Não obstante ser este o tempo das reflexões profundas sobre o Brexit, confesso que me não sinto tentado - embora tenha tido pedidos da imprensa para escrever - a perorar muito sobre a questão. Vou apenas alinhar aqui uns breves pontos:
- David Cameron foi um irresponsável ao ter libertado, por oportunismo eleitoral, os demónios que agora não consegue controlar. Hoje, no Reino Unido, os eurocéticos radicais têm muito mais força e visibilidade mediática do que alguma vez tiveram. E, no resto da Europa, há outros a esfregar as mãos.
- Os britânicos, que são dos grandes beneficiários da Europa comunitária, pagam agora anos em que se dedicaram a usá-la como bode expiatório para muitos dos seus problemas.
- Ao não fazerem um mínimo de pedagogia pró-europeísta, e a campanha pelo "sim" se ter limitado a uma agenda defensiva ou de criação de novos medos, os britânicos que querem ficar na Europa revelaram uma inabilidade rara.
- Se alguém pensa que as mensagens ou as ameaças exteriores para condicionar a opinião britânica tem algum efeito. desenganem-se! Os britânicos pensam pela sua cabeça e quanto mais os tentarem convencer, com opiniões de fora, pior!
- O RU já tem quase tudo o que queria da Europa: está fora do euro, de Schengen, das regras da livre circulação, de muito do quadro da Justiça e Assuntos Internos, da observância da Carta dos Direitos Fundamentais. Antes, excluíra-se do protocolo social e recebia um "rebate" anual em forma de cheque. As concessões dadas pelos 27 há semanas foram a "cereja no bolo" da excecionalidade britânica.
- Há uma quase unanimidade, nos meios e analistas económicos, sobre o impacto negativo da saída da União para o Reino Unido. Mas com essa realidade podemos nós bem. A mim, confesso, nesta fase do campeonato, é o futuro da União que me preocupa, não a felicidade ou infelicidade britânica.
- Uma saída britânica induzirá um ambiente de instabilidade e imprevisibilidade no seio da UE que pode vir a desencadear um movimento centrípeto de "refundação" da Europa, com "purga" do euro. E nesse grupo, dificilmente Portugal terá condições para ficar. Sobre isto não tenho a mais leve dúvida.
- Há ainda um cenário que não excluo: é o RU vir pedir mais excecionalidades à Europa para não sair e esta, por temor, vir a concedê-las. A "caixa de Pandora" já está aberta e, não tarda, outros Estados (vá lá, com alguma legitimidade!) vão querer aproveitá-la.
- A negociação entre o Reino Unido e a UE, para organizar a sua saída, sendo embora algo de inédito e sem precedentes, não me parece uma tragédia. As ordens jurídicas, naquilo que importa, são as mesmas e Londres, sendo um negociador "tough" e às vezes bastante "rough", é um poder amigo.
- A UE, em caso de Brexit, tem na sua mão alguns trunfos muito importantes. Nesse contexto, devo confessar que não me parecem preocupantes - pelo menos muito mais do que já foi dado nas recentes concessões - os impactos sobre a situação dos portugueses que vivem naquele país.
- Na quinta-feira, se votarem a saída, o britânicos vão perder milhares de lugares numa máquina europeia onde têm uma posição dominante e decisiva - na Comissão, no Conselho, no Parlamento Europeu, nas missões diplomáticas europeias pelo mundo. Esse pessoal deve estar em pânico! E há muitos mais a esfregar as mãos...
- Se o Brexit tivesse lugar, o dia seguinte seria o dia 1 para um novo referendo para a Escócia. E, nesse caso, bom dia Catalunha!
- O meu "guess", no dia de hoje? O Brexit não passa. À boca da urna, a aposta no desconhecido é demais para um eleitorado que, no fundo, é esmagadoramente "conservador" - quero com isto dizer, que tem algo a conservar. E não é nada pouco! Mas se estiver enganado, o que pode acontecer com grande facilidade, "apertem os cintos"... E mesmo que os britânicos por cá fiquem, muita coisa será diferente no futuro.

        FÉRIAS



  
O Memórias Futuras vai de férias.


 Regressa a 4 de Julho. 





terça-feira, junho 21, 2016

Éfeso


Visitei, há anos, esta cidade, por duas vezes. Primeiro, numa excursão de barco, outra indo por terra, numa viagem à Turquia.

Desci esta alameda, procurando imaginar-me de sandálias e túnica próprias da época, reconstruindo, mentalmente, todo o espaço à minha volta.

É um exercício sedutor de regresso às origens porque foi ali que a nossa cultura teve início, onde tudo de verdadeiramente relevante, começou para a nossa civilização.

A cidade era célebre pelo Templo de Artémis, construído por volta de 550 anos AC e considerado uma das 7 maravilhas do mundo antigo.

Mais tarde, em 401 DC, foi destruído, como muitos outros edifícios, por uma multidão instigada por São João Crisóstomo, no meio da histeria dos cristãos contra o paganismo.

Voltou a cidade a ser reconstruída pelo Imperador Constantino, e novamente destruída, desta vez por um terramoto, em 614.

A morte definitiva veio, no entanto, progressivamente a acontecer com o assoreamento do porto e a perda da sua importância como centro comercial.

O seu teatro para 25.000 espectadores é também visita obrigatória não só porque está muito bem conservado como pelas suas vistas sobre o mar que, então estava muito mais próximo do que agora.

Toda a gente importante da civilização grega e, por arrasto, da romana, tinha aqui o seu poiso. Era aqui que se fazia a história que depois seria construída fora dela.

Com uma população de ente 250.000 a 500.000 habitantes era a 2ª maior cidade do mundo. Nela viveram cientistas, filósofos, a mãe de Jesus da Nazaré, apóstolos como São Paulo que aqui pregou...

Ao fundo, a fachada da biblioteca, razoavelmente bem conservada, ao tempo só superada pela da Alexandria. 

Uma curiosidade: ao fundo, do lado direito da biblioteca, havia uma casa de damas que estava ligada à biblioteca por uma passagem secreta. É natural que a leitura de livros acabasse no exame ao corpo humano...



Deus - Mais dúvidas do que convicções


Gato Fedorento - Sandes Mista



TIETA DO AGRESTE
(Jorge Amado)




EPISÓDIO Nº 170




















DA MORTE E DO BORDÃO



O velho Zé Esteves morreu de alegria, conclui Tieta ao tomar conhecimento dos detalhes finais. Caíra morto envolto em riso quando, tendo fechado negócio para a compra da terra e do rebanho, voltou ao curral com Jarde Antunes e seu filho Josafá. Não fizera por merecer morte assim tão leve, segundo o comentário do genro, em cuja casa se realiza o velório. Astério murmura a medo aos ouvidos do amigo Osnar:

- Ruim como a peste. Botou fora tudo que tinha mas nem com a pobreza baixou a crista, vivia dando esporro em todo o mundo. De repente, esse farturão, Tieta lhe satisfazendo todas as vontades e ainda por cima as cabras, deu nisso.

Conversam no passeio, a sala repleta. Pela janela, enxergam Tonha, numa cadeira ao lado do caixão. Ali sentada, obediente, silenciosa, às ordens do marido como durante toda a vida. Astério Simas conclui, olhando a sogra:

- Um carrasco. Perto dele ninguém levantava a voz. Nem Perpétua, - Rectifica: - Só Antonieta. Dizem que desde menina.

Do outro lado do esquife, Perpétua leva o lenço aos olhos secos, arfa o peito em inexistentes soluços, enquanto na cozinha, assistida por dona Carmosina, Elisa prepara café e sanduíches para ajudar a travessia da noite.

Acontecera no caminho de Rocinha, em terras de Jardes Antunes, nas encostas de um morro, cabeços de capim ralo, figos da índia, penhascos, paisagem agreste e áspera, própria para os pés e olhos de Zé Esteves, nativo daquele chão.

 O rebanho bem tratado, dando gosto ver. Zeloso, Jarde, cuida pessoalmente dos bichos e da mandioca desde o raiar do sol. Seu pedaço de terra limita com a propriedade de Osnar, onde a mandioca, o milho, o feijão, as cabras, as ovelhas e os trabalhadores são administrados pelo compadre Lauro Branco, que com certeza o rouba nas contas mas lhe dá descanso e despreocupação, uma coisa pagando a outra e, ao ver de Osnar, por preço ainda assim barato.

Josafá, caboclo forte, de olhar arteiro, ouve o pai falando das cabras e do bode, sabe quanto lhe custa a decisão finalmente tomada, e se pergunta a razão e se pergunta a razão como Jarde e Zé Esteves são de tal maneira apegados a uma terra safara e ingrata, de áridos outeiros carecas, a uns bichos ariscos.

Ainda adolescente, a exemplo dos demais rapazes do Agreste, Josafá abandonara os pais e a casa de barro batido, rumando para o sul. Começara varrendo o armazém de seu Adriano, em Itabuna; em dez anos chegara a sócio e realizou o sonho da sua vida: adquiriu uma roça de cacau, pequena ainda, produzindo por volta de quinhentas arroubas, mas um bom começo.

Isso sim, valia a pena, lavoura de rico. Cultivar cacau era o mesmo que plantar ouro em pé para colher em barras, duas vezes por ano. Mandioca e cabras, labuta de pobretões.

Todos os anos, por ocasião das festas de Natal e Ano-Novo, Josafá, bom filho, visitava os pais.

Há dois anos a mãe morrera e desde então tenta convencer Jarde a vender posse e rebanho e ir com ele para Itabuna; se não pode viver longe do campo, venha ajudá-lo na roça de cacau, nas terras fartas de Itabuna.

O pai resistia, não desejando mudar de chão mesmo por outro mais fértil, cacau em lugar de mandioca, bois e vacas em lugar de cabras.

Mas desta vez, ao chegar, Josafá ouve notícias das transformações e novidades de Agreste. Armou-se então de tais argumentos que Jarde não teve como contestá-lo, inclusive porque lhe fez ver ser ele, Josafá, proprietário de metade daqueles bens, herança da mãe.

Fê-lo a contra gosto mas não podia perder aquela oportunidade de ganhar um dinheiro realmente grande para aplicar em novas roças de cacau. Curvou-se o velho na casa do sem jeito.

Cuidado com o envio dos E- Mails



















Um individuo faz o check-in num hotel na Austrália. 

Havia um computador no quarto, por isso pensou enviar um e-mail à mulher. 

Contudo, ao escrever o endereço engana-se, e sem que desse pelo erro, envia o e-mail para algures, em Houston, para uma viúva chegada do funeral do marido. 

A viúva decide ir à sua caixa de correio electrónico na expectativa de encontrar mensagens de familiares e amigos. 

Após ler a primeira mensagem, ela desmaia. O filho entra no quarto a correr, encontra a mãe no chão, e repara no ecrã do computador que diz: 

 - Para: Minha querida esposa 

Assunto: Já cheguei 

Data: 3 Junho, 2005 

Sei que estás admirada por receberes notícias minhas, eles agora tem cá computadores, e permitem que se envie e-mails aos nossos entre queridos. 

Acabei de chegar e já me fizeram o check-in. Estou a ver que já preparam tudo a contar com a tua chegada amanhã. 

Sem mais de momento fico, na expectativa de te ver amanhã! 

Espero que a tua viagem seja tão sossegada quanto a minha. 



P.S. -  Está um calor abrasador cá em baixo.

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)




Episódio Nº 37




















Irritada, praguejou em voz alta, enquanto nas suas costas Fátima lhe perguntava o motivo de tanto alarido. Então, Zaida pediu à irmã que se sentasse na cama e contou-lhe tudo.

O roubo do punhal no dia da morte da mãe; a inscrição em latim no cabo; a descoberta no mapa, na Sé; a proposta de Ermígio Moniz.

Quando referiu Abu Zhakaria e a matança dos galegos, Fátima exclamou:

 - Grande Abu!

Há muitos anos que a mais velha das princesas mouras adorava o destemido cordovês e todas as noites sonhava cair nos seus braços. E ele não desistia, em Santarém já se cantavam trovas sobre o persistente e apaixonado muçulmano, que azucrinava os cristãos na esperança na esperança de um dia resgatar Fátima.

Não me esqueceu... – murmurou ela embevecida.

Zaida não se distraiu com aquele romantismo tolo e perguntou:

- Não haveis visto alguém a rondar-nos a casa?

A irmã fez um esforço para se recordar que se revelou infrutífero.

Alguém sabia do punhal – concluiu Zaida.

No entanto, de pouco lhe valeu essa primeira dedução, bastante óbvia bem como a seguinte, menos evidente:

- O Ramiro não pode ter sido, esteve na Sé a manhã toda.

De repente, uma dúvida assaltou-a:

 - Terá sido o Velho? Choquei com ele hoje.

Levantando-se, Fátima lançou-lhe um olhar crítico e disse:

 - Talvez tenha sido o cristão que cá veio.

Referia-se a Gonçalo de Sousa que a irmã ali recebera, mas Zaida afastou tal possibilidade, pois já passara mais de um ano sobre essas visitas e ainda hoje tivera o punhal nas mãos.

Pouco interessa quem veio aqui – afirmou Fátima – Se já sabes onde fica Sellium, não necessitamos do punhal!

Era verdade, mas a cortante sensação da vulnerabilidade da casa, a irritação pela perda da arma tão bem guardada e a suspeita sobre o autor daquela intromissão estavam a moer Zaida.

Foi Fátima, mais desprendida dessas emoções inúteis, que a puxou à terra.

- Temos de avisar o meu Abu.

A proposta de Ermígio Moniz começava também a seduzi-la, sobretudo pela reviravolta no destino que possibilitava, permitindo-lhe sonhar outra vez.

A Andaluzia continuava a sofrer com o jugo de Ali Yusuf, o califa almorávida de Marraquexe era cada vez menos respeitado pelos muçulmanos andaluzes e já se ouvia falar de pequenas rebeliões em Sevilha, em Badajoz e em Mérida.

segunda-feira, junho 20, 2016

E o seu ´Five O Clock Tea
Os Ingleses

















Os ingleses vivem mergulhados sob a influência cultural de um passado histórico do tempo da Távola Redonda e do Rei Artur, que faz deles uma espécie de chineses da Europa, misteriosos e insondáveis.
Vão fazer um referendo à população que não lembrava nem ao diabo mas que não escapou àquelas mentalidades sempre inquietas...
 - Ficamos ou saímos da Comunidade Europeia?
- Estabelecemos ou não barreiras alfandegárias aos produtos que importamos da Europa que até agora entram livremente, mesmo que isso custe mais a cada família, anualmente, cerca de dois mil euros?
- Fechamos novamente o país e a sua capital, Londres, aos contributos dados pelas pessoas de outros povos e culturas que entram agora com toda a liberdade enriquecendo-nos culturalmente?
Perguntas angustiantes com que os ingleses se confrontam mas para as quais, tudo indica, vão dar uma resposta corajosa:
 -  Sim! – Saímos.
E mais uma vez, com aquele orgulho tipicamente britânico, vão tratar do seu “green”, espetar no centro o pau da bandeira para poderem hasteá-la, orgulhosamente, ao som do God Save the Queen
... Gosto dos nossos aliados, do seu tipicismo, talvez por nós não termos nenhum para além do velho "desenrasque-se", muito nosso, e que tantos problemas nos ajudaram a resolver ao longo da vida.
Sózinhos contra os alemães, máquina poderosa de guerra, com toda a restante Europa a rezar para que se saíssem bem ou ficaríamos debaixo da pata do paranóico do Hitler.
Nossos velhos aliados, uma aliança de 1373, a mais antiga do mundo que, dizem os intriguistas, funcionou sempre mais para o lado deles do que do que para o nosso... descobriram no Norte do nosso país o melhor vinho do mundo, O Porto, contributo a favor de toda a humanidade com requintado  paladar para vinhos.
... E agora não sabem se ficam ou saem da Europa, questão estranha, ou não fossem eles próprios também estranhos...
Ah!, que não são iguais a nós, mas do lado de cá também ninguém é igual a ninguém.
É verdade que não temos o Canal da Mancha a separar-nos, mas já fizeram um túnel para anular essa barreira aquática, e o que teria feito sentido era decidirem, antes da construção desse túnel, se queriam ficar ou partir... agora parece-me tarde! 

Mariza - Ó gente da minha terra




O que eu gosto do Anselmo...



Tieta do Agreste
(Jorge Amado)




EPISÓDIO Nº 169

























Ora, o carácter nacional e patriótico da Brastânio tem sido repetidas vezes afiançado e eu não pretendo discutir tal afirmação. Nem rectificá-la, nem ratificá-la. Mantendo-me à margem, apenas esclareço, cumprindo obrigação de autor imparcial, ser o Bayer da entrevista um Karl qualquer, técnico de renome e nada mais: não possui acções na companhia.


Se outros Bayer, donos de meio mundo, têm dinheiro e mandam na empresa, não sei nem desejo saber. Meta a mão em cumbuca quem quiser, não eu, macaco velho.

Evitando assim qualquer confusão no espírito do leitor, antes de retornar ao folhetim propriamente dito, gostaria de acrescentar uma palavra sobre a actuação desses capacíssimos técnicos, pagos a peso de ouro.

Palavra de pouca valia por se de leigo em matéria científica – mais leigo ainda que o cronista Giovanni Guimarães, cujas boas intenções estão dando nesse bode todo – não obstante capaz, quem sabe, de revelar curiosa circunstância na aplicação dos incomensuráveis conhecimentos desses senhores cuja opinião, como se disse atrás e em seguida se provará, dita leis e orienta governantes.

O Herr Professor Karl Bayer foi categórico. 

Nenhum perigo de poluição. Com isto liquidou os últimos escrúpulos de certos homens de governo aparentemente receosos da propalada capacidade poluidora da Brastânio.

A segurança expressa pelo competente técnico não significa no entanto inflexibilidade; tudo no mundo depende de hora e lugar e de quantia em jogo. 

Amanhã Herr Bayer pode mudar de opinião, afirmar exactamente o contrário e nisso reside a grandeza (e a fortuna) dos técnicos fora de série.

Sou levado a essa conclusão lendo nos jornais notícia da chegada ao Brasil de outro técnico ilustre e infalível.

Vem por conta de multinacional com matriz nos Estados Unidos negociar contracto de risco para prospecção de novos campos petrolíferos garantindo, no maior entusiasmo, possuir nosso subsolo incomensuráveis reservas do cobiçado ouro negro.

Trata-se do mesmo competente especialista outrora contratado por governantes nacionais para tirar a limpo de uma vez por todas a existência ou não de petróleo no Brasil.

Foi ele ainda mais categórico, explícito e peremptório em sua resposta negativa do que, na polémica sobre a Brastânio, o conclusivo Bayer. 

Após meses de estudo, pesquisas, prospecções, banquetes, garantiu, sobre palavra de honra, a total, absoluta ausência de petróleo no subsolo brasileiro: nem uma gota para remédio, na terra e no mar.

Não passando toda e qualquer afirmação em contrário de agitação subversiva, a serviço de Moscovo merecedora de severa repressão. 

Embolsou régio pagamento e, se não me engano, recebeu de lambugem magna condecoração pelos serviços prestados ao Brasil.

Sua opinião fez lei e vários indivíduos foram trancafiados no xadrez, entre os quais um certo Monteiro Lobato, escritor de profissão, teimoso brasileiro irresponsável a ver petróleo onde petróleo não havia; inexistência provada e comprovada pelo relatório de Mister… como é mesmo o nome do porreta?

O nome o leitor pode vê-lo nos jornais, onde brilha de novo, agora afirmando exactamente o contrário sobre a existência de petróleo no subsolo brasileiro, na terra e no mar, pago desta vez por seus patrícios. No caso, nascimento e dinheiro coincidem para lhe dar a nacionalidade norte-americana, uma das melhores entre as actuais.

Quem sabe, com o passar do tempo, o nosso Herr Professor Bayer mudará também de opinião. Quanto aos outros Bayer, os magnatas, a esses pouco importa se a indústria de dióxido de titânio polui ou não. Se polui o faz bem longe deles, em ignotas terras da Bahia.

A fumaça mortal, amarela ou negra, não os alcança, cabe-lhes apenas recolher os lucros do capital aplicado e das gorjetas pagas a sabichões e a excelências.

Seis horas de Vida
















No consultório, fim de tarde, o médico dá a péssima notícia: 

- A senhora tem seis horas de vida. 

Desesperada, a mulher corre para casa e conta tudo ao marido. Os dois resolvem gastar o tempo que resta da vida dela a fazer amor.


Fazem uma vez, ela pede para repetirem. Fazem de novo, ela pede mais. 


Depois da terceira vez, ela quer de novo. E o marido: 

- Ah, Maria, chega! Eu tenho que acordar cedo amanhã. 


Tu não!!! 

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)





Episódio Nº 36

















Coimbra. Julho de 1132



A meio da manhã, Zaida vira Ramiro entrar na Sé e assustara-se. Invadida pelo temor de ser apanhada, fora a casa deixar o punhal de Paio Soares, voltando a correr à biblioteca, pois estava prestes a fazer uma importante descoberta.

Três anos, no dia da morte de Zulmira, a mais nova das princesas aproveitara a tremenda confusão que se instalara no casão agrícola de Mem para roubar o punhal com que Afonso Henriques matara o fedayin.

Com um gesto rápido escondera-o no vestido e depois levara-o para casa.

Aquela valiosa arma cujo proprietário era o falecido Paio Soares tinha um escrito essencial em latim e no cabo, cujo significado Zaida conhecia: Sellium, o local onde estava escondida a relíquia.

Contudo, apenas dois anos depois da morte da mãe o bispo Bernardo voltara a autorizar as suas visitas à biblioteca da Sé e só aí a sua secreta demanda começara.

Enquanto lia os Actos dos Apóstolos, ia vasculhando os antigos mapas romanos e acabara de descobrir que Sellium ficava a nordeste de Santarém, perto da pequena aldeia de Tomar.

A princesa sentiu uma forte comoção, mas enrolou o antigo mapa e preparava-se para regressar a casa quando ouviu alguém levantar a voz na nave central da Sé.

Pé ante pé, aproximou-se e deixou-se ficar numa ante – câmara.

Os conselheiros de Afonso Henriques parlamentavam e ela escutou, siderada, a proposta de Ermígio Moniz.

Filha, que diz ele? Não acredito!

Pela primeira vez, alguém na corte de Afonso Henriques admitia a hipótese de as libertar! O mordomo – Mor sugeria uma troca entre cristãos e mouros: a relíquia pelas princesas de Córdova!

O seu coração acelerou ainda mais, mas logo se desiludiu, pois Afonso Henriques rejeitou a solução e decidiu lançar um fossado na região.

Apesar de desejosa de abandonar a Sé, foi, porém, obrigada a esperar pois após a partida de Afonso Henriques e dos seus conselheiros, Ramiro e bispo Bernardo regressaram ao interior da igreja.

Nada surpreendida ela escutou a estranha e longa confissão do templário, embora o seu espírito estivesse já totalmente dominado por uma vertigem excitada: a perspectiva da liberdade!

As netas do último califa de Córdova iam voltar à sua terra! Podiam ascender de novo ao trono que por tantos séculos pertencera aos Benu Ummeyia, a família que ali reinara, da qual eram as últimas representantes.

Nunca haviam estado tão perto, o caminho para Córdova passava por Sellium e pela relíquia sagrada!

Filha, é a hora!

Incapaz de se conter mais, Zaida abriu a porta da ante – câmara e passou em frente de Ramiro e do bispo, dirigindo-lhes apressadamente cumprimentos.

Depois, saíu e correu pela Almedina até chegar a casa onde ela e Fátima viviam.

Mal entrou, ficou horrorizada. O interior da habitação estava virado do avesso, havia lençóis espalhados pelo chão, mobília fora do sítio e arcas abertas.

À sua frente, Fátima que devia ter chegado um pouco antes parecia aborrecida com tanta confusão e protestou:

 - Que vos deu para deixares a casa neste estado?

Aos poucos Zaida tomou consciência de que a casa fora assaltada. Assustada dirigiu-se ao quarto e apoderou-se dela um misto de ira e medo ao descobrir o que mais temia: o punhal de Paio Soares que ela escondera numa arca desaparecera!


Filha, roubaram-vos!

domingo, junho 19, 2016

Largo do Seminario
Hoje é Domingo
(Na minha cidade de Santarém em 19/6/16)









As Raízes da Moralidade - Precisaremos de Deus Deus para sermos bons ou maus?

Será que existe uma consciência moral embutida nos nossos cérebros tal como temos o instinto sexual ou o medo das alturas?

Sobre esta questão o biólogo Marc Hauser, biólogo da Universidade de Harvard, realizou estudos estatísticos e experiências do domínio psicológico recorrendo a questionários colocados na Internet para investigar a consciência moral de pessoas reais.

A forma como as pessoas reagiram a estes testes de moral e a sua incapacidade para expressarem as razões que as levaram a reagir dessa forma parecem ser, em grande medida, independentes das crenças religiosas ou da falta delas.

Mas vejamos, textualmente, o que nos diz o autor destes estudos, Marc Hauser:

“Por detrás dos nossos juízos morais há uma gramática moral universal, uma faculdade da mente que foi evoluindo ao longo de milhões de anos de maneira a incluir um conjunto de princípios que construísse um leque de sistemas.”

Eis o dilema que foi colocado:

- Uma pessoa tem ao seu alcance o comando das agulhas que pode desviar o carro eléctrico para uma via de resguardo de forma a salvar 5 pessoas que estão presas na via principal, um pouco mais à frente.

Infelizmente há um homem preso na via de resguardo mas, como é só um a maior parte das pessoas concorda que é moralmente admissível senão mesmo obrigatório a mudança de agulha matando uma mas salvando cinco.

Mas, numa outra variante da situação, o carro eléctrico só pode ser parado pondo-lhe no caminho um peso grande largado de uma ponte situada por cima da via. É obvio que temos de largar o peso mas, se o único peso disponível for um homem muito gordo sentado na ponte a admirar o pôr-do-sol?

Quase toda a gente concorda que, neste caso, é imoral empurrar o homem gordo da ponte, embora de um certo ponto de vista, o dilema possa parecer semelhante ao anterior no qual se mata uma pessoa para salvar cinco.

A maior parte das pessoas tem uma forte intuição que existe uma diferença crucial nos dois casos, embora não consiga exprimi-la.

Vejamos um caso idêntico:

- Num Hospital há cinco doentes a morrerem cada um por falha de um órgão diferente e todos eles seriam salvos se fosse encontrado dador disponível para cada um deles.

- O cirurgião repara que na sala de espera está um homem saudável cujos cinco órgãos em questão se encontram em boas condições de funcionamento e são adequados para transplante.

Neste caso não há quase ninguém capaz de dizer que a acção moralmente indicada seria matar esse homem para salvar os outros cinco.

Tal como no caso do homem gordo sentado na ponte a ver o pôr-do-sol, a intuição que a maior parte de nós partilha é que um espectador inocente não deve ser arrastado para uma situação problemática e usado para salvar outras pessoas sem o seu consentimento.

Immanuel Kant, filósofo alemão, expressou de forma admirável o princípio segundo o qual um ser racional que não haja dado o respectivo consentimento nunca deverá ser usado como simples meio para atingir um fim, mesmo que esse fim seja o benefício de outras pessoas.

A pessoa que se encontrava presa na via de resguardo do carro eléctrico não estava a ser usada para salvar a vida das cinco pessoas presas na linha principal, é a via de resguardo que, propriamente, está em causa, sucedendo apenas que o homem tem o azar de se encontrar nessa via.


Enquanto isto, o homem gordo sentado na ponte e o homem saudável na sala de espera do hospital estavam nitidamente a serem utilizados e isso é que viola o princípio de Kant, para quem, não fazer esta distinção seria um absurdo moral. Para Hauser essa distinção foi-nos embutida ao longo da nossa evolução.


Numa sugestiva aventura no domínio da Antropologia o Dr. Hauser e colegas seus adaptaram as suas experiências morais aos Kunas, uma tribo da América Central que tem poucos contactos com os ocidentais e não possuem uma religião formal.

Os investigadores fizeram as respectivas adaptações à realidade local com crocodilos a nadarem na direcção de canoas e os Kunas, mostraram ter, com pequenas diferenças, juízos morais semelhantes aos nossos.

Hauser também se interrogou sobre se as pessoas religiosas diferem dos ateus quanto às suas intuições morais.

Será evidente que, se é certo que é à religião que vamos buscar a nossa moralidade, elas devem ser diferentes mas parece que o não são.

Trabalhando em conjunto com o filósofo de moral Peter Singer, Hauser centrou-se em três modelos hipotéticos comparando depois as respostas dos ateus e das pessoas religiosas:

1º No dilema do carro eléctrico 90 % das pessoas disseram que era admissível desvia-lo, matando uma pessoa para salvar cinco.

2º Vê uma criança a afogar-se num pequeno lago e não há mais ninguém por perto para ajudar. Você pode salvar mas, se o fizer, estraga as calças: 97 % das pessoas concordaram que se deve salvar a criança (surpreendentemente, parece que 3% preferiam salvar as calças).

3º No dilema do transplante de órgãos já descrito: 97% dos sujeitos concordaram que é moralmente condenável pegar na pessoa saudável da sala de espera e matá-la para lhe retirar os órgãos, salvando com isso cinco outras pessoas.

A principal conclusão deste estudo é que não existe diferença estatisticamente significativa entre ateus e crentes religiosos quanto à formação destes juízos o que é compatível com o ponto de vista segundo o qual não precisamos de Deus para sermos bons – ou maus.

No entanto, Steven Weinberg, físico norte-americano galardoado com o Prémio Nobel é mais pessimista:

- “A religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem ela, haveria sempre gente boa a fazer o bem e gente má a fazer o mal. Mas é preciso a religião para pôr gente boa a fazer o mal.”

Blaise Pascal (1623-1662), filósofo, físico e matemático francêsdisse algo semelhante:

- “Os homens nunca fazem o mal tão completa e alegremente quando o fazem por convicção religiosa.”

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