sexta-feira, outubro 26, 2012

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Escuteiros na aldeia de Monsanto. Dizem que é a aldeia mais portuguesa de Portugal. Pela sua história e talvez por ser toda ela de granito cujos enormes calhaus se vêm à beira do caminho.


Russ e Sam, dois amigos, encontram-se todos os dias no Parque par dar de comer aos pombos, observar os esquilos e discutir os problemas do Mundo. Um dia Russ não apareceu. Sam não pensou muito nisso calculando que se tivesse constipado ou coisa parecida. Depois de uma semana sem Russ aparecer, Sam realmente preocupou-se. Como, entretanto, o único tempo que passavam juntos era no Parque, Sam não sabia onde Russ morava e assim era incapaz de descobrir o que lhe teria acontecido. Um mês passou, e Sam pensou não mais ver o seu amigo Russ. Um dia, ao aproximar-se do Parque, lá estava Russ sentado. Sam ficou muito excitado e feliz por vê-lo a ponto de lho dizer, passado que foi o momento de excitação: "Francamente Russ, o que é que lhe aconteceu?  

- Estive preso! Disse Russ.
- Preso?! A que propósito?
-Bem, disse Russ, conhece aquela loirinha muito gira que trabalha na cafetaria onde às vezes vou? 
-Sim, disse Sam, lembro-me dela! O que lhe aconteceu? 
- Bem, um dia ela queixou-se de mim "por violação" e eu,com 89 anos fiquei tão orgulhoso que me declarei "CULPADO"! 
O estúpido do Juíz aplicou-me 30 dias de prisão por "Faltar à verdade"! 


A Minha Última Operação
 na Guerra Colonial
(Continuação)


No outro dia, ainda o sol não nascera e já tinha dado ordem para nos pormos a caminho continuando a subir o vale em marcha que só não era forçada porque as condições do terreno e da vegetação não o permitiam.

Era ténue a minha esperança de conseguir escapar à emboscada que de certo me esperaria em qualquer ponto do percurso.

Os guerrilheiros não podiam permitir que a tropa fosse ao seu terreno matar uma rapariga do seu povo da mesma forma que se caça uma gazela e saísse do emaranhado de toda aquela vegetação em total impunidade. Era para eles uma questão de honra.

Por isso, começamos a andar ainda quase de noite e continuámos a apressar o andamento na esperança de sair dali depressa, antes que tivessem tempo de armarem a espera.

Já era bem de dia quando o vale se bifurcou. Eu devia continuar em frente, sempre para norte, sempre por aquele vale, eram as ordens que eu tinha. O Quartel-General sabia bem que era ao longo dele que se encontravam as populações e por isso o itinerário era aquele e não outro.

Mas chegados àquela bifurcação decidi desrespeitar as ordens, seguir pelo vale da esquerda, de vegetação mais densa de tal forma que ninguém seria capaz de montar ali uma emboscada ou fosse o que fosse e em distância parecia-me encurtar caminho.

Disse aos homens para encherem os cantis num fio de água que por ali passava e foi nesse momento, com eles dobrados sobre si próprios, involuntariamente meio escondidos pela vegetação para recolherem a água, que o tiroteio começou.

Eles pensaram exactamente aquilo que eu iria fazer, aquele era o sítio certo para a emboscada, antes de fugir pelo vale da esquerda que tendo uma vegetação tão densa não permitiria qualquer acção militar.

Eu fui apanhado de pé, os tiros prosseguiam e eu de pé continuava num aparente e louco desafio: - "Vá, estou aqui, de pé, acertem-me se forem capazes, vinguem a vossa jovem que nós matámos”.

 - “Meu alferes, saia daí, esconda-se, que eles matam-no!” - gritou-me o Maia, (já falecido) deitado atrás de um tronco de uma árvore caída no terreno.

Dirigi-me para junto dele com o passo de quem muda de mesa na esplanada do café e com a inconsciência do perigo própria de quem não nasceu com vocação para aquelas coisas.

- “Meu alferes, as balas aos seus pés até levantavam pó!” -  disse-me ele quando me abriguei a seu lado.

Entretanto, alguém gritou que eles estavam em cima das árvores a fazerem fogo para cima de nós e logo tudo quanto tinha folhas e ramos foi varrido pelas rajadas das espingardas G3 e FN.

Nitidamente, o efeito surpresa tinha passado e agora o nosso maior poder de fogo estava a impor-se.

Chamei o soldado da bazuca, o “Capela”, e mandei-o disparar duas granadas na esperança de que alguma delas conseguisse passar por entre as árvores e explodisse contra a outra encosta do vale.

A primeira rebentou logo à nossa frente, deu cabo de uma árvore que estava muito próxima e “choveram” bocadinhos de madeira para cima de nós.

 - “Éh! pá, levanta o cano dessa merda para ver se consegues fazer a granada passar por cima das árvores!”

Inspirado pelos “deuses da guerra”, o “Capela”, à segunda tentativa, conseguiu que a granada passasse por entre as árvores, as sobrevoasse e estourasse contra a encosta do vale, no outro lado.

 O efeito ultrapassou tudo o que se poderia esperar: o estrondo do rebentamento multiplicado pelo eco, possível pelo facto das encostas serem suficientemente íngremes e próximas a funcionarem como paredes em frente uma da outra, parecia coisa do apocalipse.

De repente, vinte exércitos tinham entrado em cena e accionado os seus dispositivos de lançamento de granadas. Quando, finalmente, os rebentamentos se deixaram de ouvir, a guerra tinha acabado, a calma e o silêncio estabeleceram-se como se nada ali tivesse acontecido.

O homem da bazuca tinha acabado de ganhar a guerra… a bazuca e o eco.

Levantámo-nos lentamente olhando e perguntando uns pelos outros e inacreditavelmente estavam todos vivos, nem um ferido, apenas o sargento enfermeiro, de mais idade e pesado, tinha desmaiado de comoção mas estava a recuperar.

Tiveram a oportunidade de uma justa vingança e não a aproveitaram. Dispararam de surpresa de cima das árvores a distâncias que não eram muito grandes e poderiam ter-nos causado inúmeras baixas…éramos mais de cinquenta alvos.

Em vez disso, não acertaram em ninguém, a jovem não foi vingada… mas eles tentaram, cumpriram a sua obrigação, provavelmente com feridos ou mortos pois foram vistos alguns a atirarem-se das árvores, não sabemos se atingidos ou não.

A continuação da marcha foi penosa, momentos houve em que a vegetação de tão densa que era nos aprisionou de pernas e braços, obrigando a recuos e avanços que eram uma autêntica luta contra o emaranhado dos ramos.

Finalmente, exaustos de cansaço, fome e sede porque no meio de toda aquela confusão, na pressa de abandonar o local nem enchemos os cantis de água, lá chegámos ao destino, já de noite, mas vivos e sem feridos.

Aquilo que nos separou da morte, nesse dia, foi um simples capricho do acaso. Hoje, quarenta e nove anos depois, a minha convicção continua a ser a mesma. O jogo do acaso, na manhã daquele dia, no norte de Angola, poupou-nos a vida, as nossas humildes vidas.

Pensei muitas vezes, ao longo de todos estes anos, naquela jovem com um sentimento de culpa pela sua morte.

Propositadamente, não quis vê-la para não lhe recordar o rosto pela vida fora mas é fácil imaginá-lo e ela tem-me acompanhado, sinal de que a minha consciência não está completamente descansada.

Afinal, eu era o comandante daquela Operação e antes dela começar deveria ter dado instruções a todos os soldados de que, a menos que fôssemos atacados, ninguém daria tiros sem minha autorização.

Esta ordem ficou por dar e custou a vida àquela rapariga e a minha consciência carregará sempre esse peso.

Para ela, flores…todas as flores deste mundo!

Na genuinidade de Gabriela não cabia a Srª Saad

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 128


Também ela sentia por ele uma coisa por dentro, diferente da que sentia por todos os outros. Com todos os outros sem excepção, nem mesmo Clemente, mesmo Betinho, era só para dormir. Quando pensava num moço, para ele se ria, Tonico ou Josué, Epaminondas, Ari, só pensava tê-lo na cama, em seus braços gemer, morder sua boca, seu corpo fruir.

Por seu Nacib sentia tudo isso também e mais do que isso. Dele gostava, de ficar junto, de ouvi-lo falar, de cozinhar comida picante para ele comer, de sentir sua perna pesada na anca, de noite.

Dele gostava na cama para aquilo que na cama se faz em vez de dormir. Mas não só na cama nem só por isso. Para o resto também. E para o resto, só dele gostava. Para ela seu Nacib era tudo: marido e patrão, família que nunca tivera, o pai, a mãe e o irmão que morrera apenas nascido. Seu Nacib era tudo, tudo que possuía. Ruim ser casada. Besteira casar. Bem melhor fora antes.

A aliança no dedo em nada mudara seus sentimentos por seu Nacib. Apenas, casada, vivia a brigar, a ofendê-lo, todo o dia a magoá-lo. Gostava não de ofendê-lo. Mas como evitar? Tudo quanto Gabriela amava, ah! era proibido à Srª Saad. Tudo o que a Srª Saad devia fazer, ah!, essas coisas Gabriela não as tolerava. Mas terminava cedendo para não magoar seu Nacib, tão bom. As outras fazia escondida para ele não saber. Para não ofendê-lo.

Bem melhor era antes, tudo podia fazer, ele tinha ciúmes mas eram ciúmes de homem solteiro, logo passavam, passavam na cama. Podia tudo fazer sem medo dele ficar ofendido. Antes cada minuto era alegre, vivia a cantar, os pés a dançar. Agora cada alegria custava tristeza. Não tinha ela de visitar as famílias de Ilhéus? Ficava sem jeito, vestida de seda, sapato doendo, em dura cadeira. Sem abrir a boca para não dizer inconveniência.

Sem rir, parecendo de pau, gostava não. Para que lhe servia tanto vestido, tanto sapato, jóias, anéis, brincos, tudo de ouro se não podia ser a Gabriela? Não gostava de ser a Srª Saad.

Agora não tinha mais jeito, porque aceitara? Para não ofendê-lo? Quem sabe se por medo de um dia perdê-lo?

Fez mal em aceitar, agora era triste, vivia fazendo o que não lhe agradava. E pior que tudo, para ser Gabriela, alguma coisa ainda possuir, sua vida viver, ah!, fazia escondido, ofendendo, magoando. Seu amigo Tuísca nem vinha mais vê-la. Adorava Nacib e tinha porquê. Raimunda doente, Nacib mandava em sua casa levar dinheiro para a feira. Era bom seu Nacib.

Tuísca achava que ela devia ser a Srª Saad, não mais Gabriela. Por isso não vinha, porque Gabriela ofendia, magoava Nacib. Seu amigo Tuísca nem ele entendia.

Ninguém entendia. Dª Arminda pasmava, dizia que eram os maus espíritos, ela não quisera se desenvolver. Onde se via ter de um tudo e viver com a cabeça em tanta tolice? Nem mesmo Tuísca podia entender quanto mais Dª Arminda.

Ainda agora, que podia fazer? O fim do ano estava chegando. Com bumba-meu-boi, com terno de reis, pastorinhas, presépios, ah!, disso gostava. Na roça saíra de pastorinha. Terno mais pobre, nem tinha lanternas, mas era tão bom! Bem perto dali, na casa de Dora (na última casa da subida da rua, onde ela ia provar seus vestidos, um terno, pois era Dora sua costureira) começavam os ensaios de um terno de reis. Com pastorinhas, lanternas e tudo. Dora dissera:

 - Para levar a bandeira, o estandarte dos reis, só Dª Gabriela.

quinta-feira, outubro 25, 2012

DA GERAÇÃO DO BASTA

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Ora aí está um tipo de casa de campo que não ofende o ambiente...



 Bodes



Era manhã, cidadezinha do sertão desse mundão...

Em frente à igreja passa uma garotinha conduzindo umas cabras.
 Com esforço a garotinha fazia caminhar o rebanho.
Um padre observava a cena. Começou a imaginar se aquilo não era um caso de exploração de trabalho infantil e foi conversar com a menina.
- Olá, minha jovem. Como é o seu nome?
- Rosineide, seu padre.
- O que é que você está fazendo com essas  cabras, Rosineide?
- É pro bode cobrir elas, seu padre. tô levando elas lá pro sítio de seu João.
- Me diga uma coisa, Rosineide, seu pai ou seu irmão não podiam fazer isso?
-  Já fizeram... Mas num dá cria... tem que ser o bode mesmo!

A bazuca salvadora

A Minha Última
Operação na Guerra 
Colonial de Angola
(Em Novembro de 1963)



Era minha intenção não falar da experiência que foi a minha última operação no Norte de Angola antes de seguirmos para o Leste cumprir, felizmente em paz, o resto da comissão mas se o fizesse omitiria aquele que foi, sem dúvida, o meu único momento de guerra a sério de toda a minha comissão.

Quando, por exaustão, as tropas eram retiradas da zona de guerra, mais ou menos ao fim de um ano, e transferidas para outras regiões, era comum fazerem uma pausa em Luanda e aí serem aproveitadas pelos Altos Comandos para uma última Operação em zona de guerra, espécie de cereja em cima do bolo ou do preço a pagar pela passagem para uma zona pacífica. A essas tropas chamavam-lhes de Intervenção.

Era uma oportunidade para as chefias militares, sedeadas no ar condicionado de Luanda, fazerem a sua própria guerra, concebendo e realizando Operações que eram desencadeadas em locais escolhidos por serem considerados importantes do ponto de vista estratégico e envolviam grande número de efectivos.

Nessas Operações, oficiais superiores, Majores ou Tenente-Coronéis, dentro de pequenas avionetas ao lado dos pilotos, sobrevoavam a zona em que as tropas operavam tentando fazer o acompanhamento o que não era fácil porque cá em baixo era um ininterrupto tapete verde.

Para terem uma ideia da movimentação dos grupos de combate no terreno e da sua localização davam, então, ordens pela rádio para que fossem lançadas granadas de fumo, o que não era do agrado das tropas que operavam no terreno porque tinham de interromper a marcha e correrem o risco de que esses sinais fossem também notados pelos guerrilheiros.

Percebíamos, no entanto, que essa era a maneira desses oficiais participarem mais directamente na guerra sem o esforço e risco inerentes e ao mesmo tempo poderem fiscalizar o cumprimento dos itinerários fixados nas Cartas de Operações… ou pelo menos tentarem.

Era este o contexto em que fiz a minha última Operação na Guerra Colonial e que só por muita sorte não foi, igualmente, a última coisa que fiz na minha vida.

Mas se hoje a posso relatar porque lhe sobrevivi a minha vontade era, no entanto, esquecê-la, ou melhor ainda, que ela nunca tivesse acontecido.

Deixem-me, por isso, fazer previamente uma reflexão:

Afirmei no início do relato destas memórias que não houve uma guerra mas tantas quantas os que nela participaram.

O cunho e a marca da guerra estão não só nos factos, no que acontece enquanto vivemos essa experiência traumática mas, principalmente, na forma como cada um sente e reage interiormente a tudo isso.

Todos fomos criados e educados num quadro de valores que respeita a vida humana mas quando nos põem uma arma nas mãos, vestem um camuflado e nos mandam para a guerra, imediatamente interiorizamos que vamos morrer e matar e por isso, quando passadas poucas semanas de termos chegado ao Norte de Angola, ao Úcua, um Unimog foi emboscado pelo inimigo e quase todos os seus ocupantes, meus camaradas de Batalhão, foram mortos, incluindo o meu amigo Setúbal, o que eu senti, fundamentalmente, é que a sentença da guerra estava-se a cumprir entre aqueles que eram os seus protagonistas.

No fundo, na morte daqueles soldados havia qualquer coisa de terrivelmente óbvio: os soldados foram concebidos para morrer, umas vezes uns, do lado de cá, outras vezes outros, do lado de lá.

Se alguma coisa faz sentido numa guerra é a morte dos soldados que nela participam e por isso a morte de um soldado não envergonha o outro soldado que o mata; envergonha mais se o não matar e ainda mais se se deixar matar. Os superiores não lhe perdoarão ter contribuído para aumentar o número das baixas em combate… 

Assim, a minha reacção não foi contra os soldados nossos inimigos mas para os promotores daquela guerra que nos puseram uma arma na mão, vestiram-nos o camuflado e tiveram o desplante de nos dizerem que íamos defender o solo “pátrio”, sem esclarecerem que nele se camuflavam os interesses dos senhores do café, do algodão, do sisal, dos diamantes, do açúcar, (ainda não tinha aparecido em cena o petróleo), a maior parte residentes em Portugal com breves visitas a África o tempo necessário para gozarem de umas bem organizadas caçadas.

Mas regressemos à minha última Operação. Desenrolou-se tendo como base e ponto de partida a fazenda Maria Fernanda, no Coração dos Dembos, zona de muitos ataques “terroristas” bem no centro do norte de Angola e nela participaram várias Companhias que saindo em simultâneo do mesmo ponto percorriam itinerários diferentes com objectivos de “limpeza”, perfeitamente delirantes tendo em conta a riqueza da vegetação o desconhecimento e o pouco à vontade que possuíamos quando comparados com o das populações que faziam dela a sua casa.

Fomos largados de viaturas naquilo a que eles chamavam picada e que há muito já tinha deixado de o ser (as picadas se não utilizadas, rapidamente são invadidas pelo capim e a restante vegetação apodera-se delas) e deveríamos seguir para Norte até encontrar uma outra picada que, de certeza, estaria nas mesmas condições e onde as viaturas nos reconduziriam de regresso à fazenda Maria João.

Com o meu pelotão ia também um outro que era comandado por um Alferes licenciado em medicina mas que não tendo ainda feito o estágio, cumpria a comissão como oficial de infantaria e pertencia à guarnição militar que estava instalada na própria fazenda Maria Fernanda.

O seu estado de espírito não podia ser pior. Estava deprimido e era completa a saturação e o desinteresse que manifestava por tudo quanto o rodeava.

 Antes de partirmos acercou-se de mim e disse-me:

 - “Não quero saber disto para nada, você comanda e eu vou ser apenas mais um soldado”… Não mais voltei a dar pela sua presença.

A operação decorreu num vale profundo de encostas bem acentuadas e que se prolongava na sentido sul/norte.

As encostas do vale estavam desmatadas até uma certa altura para aproveitarem o terreno para a agricultura na parte mais baixa e fértil. Era uma agricultura de subsistência das populações que se tinham subtraído ao controle das autoridades portuguesas e viviam refugiadas no mato juntamente com os guerrilheiros que tinham a obrigação de as protegerem.

Começamos a deslocação para norte, pela encosta do lado esquerdo do vale, na orla do terreno que estava mais limpo e encobertos pela vegetação da floresta.

Era-nos, assim, relativamente fácil, observar o que se passava à nossa direita, mais abaixo, sem que o contrário fosse igualmente possível.

Caminhávamos uns atrás dos outros numa fila que se prolongava por dezenas de metros e durante algum tempo nada aconteceu.

De repente, ouvi um tiro, depois mais tiros, um alvoroço, alguns soldados descem a correr a encosta, atravessam o vale e perseguem pessoas que fogem subindo a encosta do outro lado.

Regressam passado pouco tempo os que tinham saído em perseguição, a calma restabelece-se progressivamente… o drama estava consumado.

Uma jovem tinha sido morta por uma bala que disparada de muito longe entrara pelas costas e atravessara-lhe o coração. Um outro soldado cortou-lhe um dedo para trazer para casa como troféu de guerra e eu… tive uma enorme vontade de fugir dali, desaparecer… eu que era o comandante daquela tropa e nem sequer podia recriminar o soldado que matou a jovem porque ele apenas cumprira as instruções do Quartel General de matar tudo o que mexesse, a tal “limpeza” a que já me referi.

Não conheci bem este soldado no sentido de que não tive com ele uma grande convivência. Era da minha Companhia mas do Grupo de Combate do meu colega Ataíde. Tinha um aspecto possante, bem constituído fisicamente, chamavam-lhe, talvez por isso, “o Boi”. Proveniente do nosso meio rural, como a grande maioria deles teria, no máximo, a instrução primária.

 Dizer-lhe que a utilização de uma arma, mesmo numa situação de guerra, é sempre da responsabilidade de quem a utiliza, faria algum sentido para ele?

Manifestar-lhe o meu desagrado não seria estabelecer a confusão na sua cabeça?

Perguntar-lhe se ele gostaria que fossem à sua aldeia e lhe matassem a irmã ou a namorada quando ela estivesse a trabalhar no campo, era justo?

Do outro soldado, do que cortou o dedo do cadáver da jovem para recordação, não procurei saber na altura quem era, sentia demasiada vergonha, por mim e por ele.

 Quarenta e quatro anos mais tarde confessou-me o “feito” e pediu-me desculpa: “…eu era um garoto, meu Alferes…justificou-se”. Mas não seríamos, então, todos nós uns garotos?

Foram, para mim, momentos de pânico e desorientação, não queria estar ali nem mais um minuto e por isso dei ordem para que continuássemos o nosso trajecto o mais rapidamente possível.

Atacar civis, pessoas indefesas, não era guerra nenhuma, era um morticínio.

Cansado daquelas marchas, do ar saturado de humidade que não nos deixava respirar, do peso da espingarda, cartucheiras, bornal, capa de borracha, cantil, que depressa esvaziava… quando à noite me deixava cair o que me esperava era sempre um sono profundo de cansaço extremo. Por almofada tinha o meu bornal, por lençol a capa de borracha.

Sempre? ... Não, naquela noite quase não preguei olho, os gritos de dor pela morte da jovem ecoavam por todo aquele vale.

Eram gritos lancinantes, doridos, acusatórios e o silêncio que se lhes seguia parecia total, como se os bichos da floresta tivessem decidido, também eles, respeitar calados a morte da jovem, habitante que ali pertencia.
(continua)

Num feixe de luz e no meio de flores

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 127


Suspiros de Gabriela

Porque casara com ela? Precisava não… Bem melhor era antes. Seu Tónica influíra, com o olho nela, Dª Arminda botara fogo, adorava fazer casamento. Seu Nacib estava querendo, com medo de perdê-la, dela ir embora.

Besteira de seu Nacib. Porque ir embora, se estava contente a mais não poder? Com medo dela trocar a cozinha, a cama e seus braços por casa posta em rua deserta, por um fazendeiro.

Conta na loja e no armazém. Cada velho horroroso, calçado de botas, revólver na cinta, dinheiro no bolso. Bom tempo era aquele… Cozinhava, lavava a casa, arrumava. Ia ao bar levando a marmita. Uma rosa na orelha, um riso nos lábios.

Brincava com todos, sentia o desejo boiando no ar. Piscavam-lhe o olho, diziam-lhe gracejos, tocavam-lhe a mão por vezes o seio. Seu Nacib tinha ciúmes, era engraçado.

Seu Nacib vinha de noite. Ela esperando, dormia com ele, com os moços todos, bastava pensar, bastava querer. Lhe trazia presentes: coisas da feira, baratezas da loja do tio. Broches, pulseiras, anéis de vidro. Um pássaro lhe trouxe que ela soltou. Sapato apertado, gostava não…

Andava em chinela, vestida de pobre, um laço de fita. Gostava de tudo, do quintal de goiaba, mamão e pitanga. De sol esquentar com seu gato matreiro. De conversar com Tuísca, de fazê-lo dançar, de dançar para ele. Do dente de ouro que seu Nacib mandou lhe botar. De cantar de manhã, a trabalhar na cozinha. De andar pela rua, de ir ao cinema com Dª Arminda. De ir no circo quando, no Unhão, circo se armava. Bom tempo era aquele. Quando ela não era a senhora Saad, era só Gabriela. Só Gabriela.

Porque casara com ela. Era ruim ser casada, gostava não… Vestido bonito, o armário cheio. Sapato apertado, mais de três pares. Até jóias lhe dava. Um anel valia dinheiro, Dº Arminda soubera: custara quase dois contos de réis. Que ia fazer com esse mundo de coisas? Do que gostava, nada podia fazer… Roda na praça com Rosinha e Tuísca, não podia fazer. Ir ao bar, levando a marmita, não podia fazer. Rir pra seu Tonico, pra Josué, pra seu Ari, seu Epaminondas? Não podia fazer.

Andar descalça no passeio da casa, não podia fazer. Correr pela praia, todos os ventos em seus cabelos, descabelada, os pés dentro de água? Não podia fazer. Rir quando tinha vontade, fosse onde fosse, na frente dos outros, não podia fazer. Tudo quanto gostava, nada disso podia fazer. Era a Srª. Saad. Podia, não. Era ruim ser casada.

Nunca pensou ofendê-lo, jamais magoá-lo. Seu Nacib era bom, melhor não podia ser, no mundo não havia. Gostava dela, bem querer de verdade, loucura de amor.

Um homem tão grande, dono de bar, com dinheiro no banco. E doido por ela… Era engraçado! Os outros, todos os outros, não era por amor, só queriam com ela dormir, apertá-la nos braços, beijar sua boca, suspirar em seu seio. Os outros, todos os outros, sem excepção.

Velhos ou moços, bonitos ou feios, ricos ou pobres. Os de agora, os de antes, todos os outros. Sem excepção? Menos Clemente. Bebinho, talvez mas era menino, que sabia de amor? Seu Nacib, ah! esse sabia de amor.

quarta-feira, outubro 24, 2012

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Com o Orçamento que aí vem para 2013 a pergunta justifica-se...




RECEITA DE FRANGO COM WHISKY


Muito bom, experimentem...

Ingredientes:
- 1 garrafa de whisky (do bom, claro!)
- 1 frango de aproximadamente 2 kg
- sal, pimenta e ervas de cheiro a gosto
- 150 ml de azeite virgem
- nozes moídas q.b.

Modo de preparar:
- pegue no frango
- beba um copo de whisky
- envolva o frango com sal, pimenta e as ervas
- barre com azeite
- beba outro copo de whisky

- pré-aqueça o forno aproximadamente 10 minutos
- sirva-se de uma boa dose (caprichada) de whisky enquanto aguarda.
- use as nozes moídas como aperitivo
- coloque o frango numa assadeira grande.
- sirva-se de mais duas doses de whisky.


- Axuste o terbostato na marca 3 , e debois de uns vinte binutos, ponha a assassinar. - digu: assar a ave.
- Beba outra dose de whisky
- Debois de beia hora, formar a abaertura e gontrolar a assadura do bicho.


- Tentar zentar na gadeira.
- Sirva-se de uoooooooootra dose generosa de whisky.
- Cozer(?), costurar(?), cozinhar, sei lá, voda-se o vrango.

- Deixáááár o filho da buta do pato no vorno por umas 4 horas.

- Tentar retirar o vrango do vorno. Num vai guemar a mão, dasss!
- Mandar mais uma boa dose de whisky p'ra dentro . De si, é claro.
- Tentar novamente tirar o sacana do gansu do vorno, porque na primeira teenndadiiiva dããão deeeeuuuuuu.


- Begar o vrango que gaiu no jão e enjugar o filho da buta com o bano de jão e cologá-lo numa pandeja ou qualquer outra borra, bois avinal você nem gosssssssssta muito desse adimal mesmo.

- 'Tá Bronto.

PS: Com vodka também resulta.
  

IVONE SILVA  - "A luta de classes..."

Passou a pequena crise...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 126


Não discutiu, não impôs. Estava com a cabeça voltada para o restaurante. Conseguira alugar o andar superior do sobrado onde ficava, no térreo, o bar Vesúvio. Tinha sido um cinema antes de Diógenes construir o Cine Teatro de Ilhéus. Dividiram-no depois em salas e quartos, onde moravam rapazes do comércio. Nas duas salas maiores funcionava o jogo do bicho.

O proprietário do prédio, o árabe Maluf, preferia alugar a um inquilino só. Melhor ainda Nacib, que já ocupava o outro andar. Deu um mês aos demais para a mudança. Nacib mantivera longa conversa com Mundinho Falcão. O exportador era partidário da ideia, estudaram uma sociedade.

Puxou uma revista da gaveta, mostrou-lhe geladeiras e frigoríficos, novidades de espantar em restaurantes estrangeiros. É claro que aquilo era demais para Ilhéus. Mas iam fazer coisa boa, melhor que qualquer da Baía.

Naqueles dias de tantos projectos, esquecia até o cansaço de Gabriela na hora do amor.

Tonico, infalível após a sesta, pouco antes das duas da tarde, a beber o seu amargo para ajudar a digestão (não mandava mais botar na conta, agora bebia sem pagar, era padrinho de casamento do dono do bar), perguntava-lhe em voz baixa:

 - Como vão as coisas em casa?

 - Melhor. Só que Gabriela anda muito cansada. Não quer mesmo botar arrumadeira, quer fazer tudo sòzinha. E ainda ajudar a vizinha. De noite está rebentada, morrendo de sono.

 - Você não deve forçar a natureza dela. Se você botar alguém para arrumar sem ela querer, vai lhe dar um desgosto. Por outro lado, árabe, você parece não entender que esposa não é mulher dama. Amor de esposa é recatado. Não é você mesmo que quer minha afilhada como uma senhora de respeito? Comece na cama, meu caro.

Pra se esparramar tem mulher sobrando em Ilhéus… Até demais. E algumas são do outro mundo. Você virou monge, nem vai mais ao cabaré…

 - Não quero outra mulher…

 - E depois se queixa que a sua está cansada…

 - Ela precisa botar empregada. Nem fica bem minha mulher arrumando casa.

Tonico batia-lhe a mão no ombro, ultimamente demorava menos, nem esperava João Fulgêncio:

 - Deixe estar, um dia desses vou dar uns conselhos à minha afilhada. Dizer a ela pra botar empregada. Deixe estar.

 - Dê mesmo. Ela lhe ouve muito. A você e a Dª Olga.

 - Sabe quem gosta de Gabriela um bocado de Gabriela? Jerusa, minha sobrinha. Fala sempre nela. Diz que a Gabriela é a mulher mais linda de Ilhéus.

 - E é mesmo… -  suspirou Nacib.

Tonico ia embora, Nacib pilheriava:

 - Você agora deu em sair cedo… Isso tem coisa… Mulher nova, não é? E guardando segredo pra seu velho Nacib…

 - Um dia eu lhe conto…

Saía para os lados do porto. Nacib pensava no restaurante. Que nome iria botar? Mundinho propunha “O Garfo de Prata” Nome mais sem graça, que queria dizer? Ele gostava de “Restaurante do Comércio”, um nome distinto.



O VELHO TESTAMENTO
 (Richard Dawkins)
(Prémio Nobel)

Última Parte


Na sequência deste episódio, e por vingança, segue-se uma guerra onde mais de sessenta mil homens foram mortos.


O tio de Lot, Abraão, foi o pai fundador das três grandes religiões monoteístas e o seu estatuto de patriarca confere-lhe uma importância, enquanto modelo de comportamento, apenas ligeiramente inferior à do próprio Deus.

No entanto, que moralista moderno iria querer segui-lo?

Na sua longa vida Abraão foi para o Egipto onde, na companhia da sua mulher Sara, enfrentou um período de escassez e fome.

Apercebeu-se então, de que uma mulher assim bela seria cobiçada pelos egípcios e a sua própria vida, enquanto marido, poderia estar em perigo.

Por esta razão, decidiu fazê-la passar por irmã e é nesta qualidade que ela foi levada ao harém do faraó sob cuja protecção Abraão ficou rico (à custa da mulher… já se vê) mas Deus desaprovou tal aconchego e mandou pragas sobre o faraó e a sua casa (e por que não sobre Abraão?).

Compreensivelmente magoado com o agravo, o faraó exigiu saber por que motivo Abraão não lhe tinha dito que Sara era sua mulher e expulsou-os do Egipto. (Génesis 12:18-19)

Mais tarde, o casal volta a cometer a mesma proeza desta vez com Amibelec, rei de Guerar, induzido a casar com Sara julgando, também, que ela era irmã de Abraão e não sua mulher. (Génesis 20:2-5).

Mas se estes episódios são desagradáveis na história de Abraão eles são pecados menores quando comparados com a famigerada história do sacrifício do seu filho muito desejado Isaac por ordem de Deus.

Construído o altar e amarrado Isaac sobre a lenha já estava Abraão de cutelo em punho pronto para a matança quando lhe apareceu um anjo e o mandou parar porque Deus, afinal, estava só a brincar, submetendo Abraão à tentação e testando-lhe a fé.

Pelos padrões da moralidade moderna esta história vergonhosa é, simultaneamente, um exemplo de abuso de menores, de tratamento tirânico entre duas relações de poder assimétrico, e o primeiro caso de que há registo da defesa utilizada em Nuremberga:”Estava apenas a cumprir ordens”.

Mesmo assim, esta lenda é um dos grandes mitos fundadores das três religiões monoteístas.

Thomas Jefferson, 3º Presidente dos EUA, estadista, filósofo político, arquitecto, arqueólogo e um espírito que representava o Iluminismo emitiu a opinião de que o “Deus de Moisés e de Abraão é um ser de carácter terrífico – cruel, vingativo, caprichoso e injusto”.

Há teólogos modernos que dirão que a história do sacrifício de Isaac por Abraão não deve ser entendida literalmente mas esse não é o facto relevante.

Relevante, é sim, haver muitíssimas pessoas nos dias de hoje, repetimos os resultados das sondagens em que metade dos americanos que votam seguem à risca os textos bíblicos e alguns deles detêm grande poder político sobre nós, especialmente nos EUA e no mundo islâmico.

A história bíblica da destruição de Jericó por Josué, tal como a invasão da Terra Prometida em geral, em nada se distingue, do ponto de vista moral, da invasão da Polónia por Hitler ou do massacre dos Curdos e dos Árabes das zonas pantanosas do Iraque por Sadam Hussein

A Bíblia pode até ser uma empolgante e poética obra de ficção mas não é o tipo de livros que se deva dar a uma criança para lhe moldar a moral.


terça-feira, outubro 23, 2012

UM TRIBUTO À MÚSICA FRANCÓFONA E AO INESQUECÍVEL JACQUES BREL - La Valse a Mill Temps (1961)

IMAGEM 
Com a crise que aí está a solução é mesmo esta: pormo - nos à vontade, calçar umas botas e fazermos como a cenoura: dedicar-mo-nos à agricultura.




O VELHO TESTAMENTO
(Ritchard Dawkins - Prémio Nobel em 1973)

Iª Parte

Se algum realizador cinematográfico quisesse contar a história do homem como espécie animal poderia, com toda a propriedade, intitulá-lo “Nascidos para Acreditar”.


Se as crianças, filhas dos nossos antepassados, tivessem tido a necessidade de aprenderem a sobreviver à custa da sua própria experiência, muito naturalmente, a percentagem dos que passariam à idade adulta não seria suficiente para assegurar a continuidade da espécie.

Acreditar obedientemente, sem contestar, nos conselhos dos pais, dos avós, dos chefes, das pessoas mais velhas, foi a necessidade sentida, a palavra de ordem para a qual o cérebro humano desenvolveu uma predisposição psicológica acentuada nas crianças imediatamente a partir do seu nascimento.

Nunca animal nenhum tinha necessitado tanto das experiências de vida dos seus progenitores porque também nenhum outro tinha nascido tão frágil e dependente por um período tão longo da sua vida.

E a evolução parece que só teve esse caminho: aquelas crianças tinham que acreditar e ser obedientes.

A evolução, através da selecção natural, não tem soluções pré programadas, na maioria dos casos até nem as tem, a maioria das suas tentativas são becos sem saída que terminam na extinção.

No caso concreto do homem a aposta foi num cérebro superior mas condicionada a um período inicial em que “a ordem” foi “não penses, (não arrisques) faz o que te digo” se queres ter mais possibilidades de sobreviver.

Esta “terrível”necessidade de acreditar que, provavelmente, pode ter sido decisiva para que eu possa estar hoje aqui a escrever este texto no teclado do meu computador, é precisamente a mesma que explica que um número assustadoramente elevado de pessoas continue a seguir à risca os seus livros sagrados.

De acordo com uma sondagem da Gallup, cerca de 50% dos eleitores americanos fazem parte dessas pessoas (o que não deixa de ser assustador…) não obstante muitos teólogos afirmarem que já não seguem à risca o livro do Génesis.

Comece-se, então, este livro pela conhecida história da Arca de Noé que sendo encantadora tem, no entanto, uma moral perfeitamente aterradora que revela a consideração que Deus tinha pelos humanos pois, à excepção de uma única família, afogou-os a todos, incluindo crianças, e os restantes animais.

Na destruição de Sodoma e Gomorra o equivalente a Noé escolhido para ser salvo foi Lot, sobrinho de Abraão, porque era incomparavelmente justo.

Dois anjos foram enviados a Sodoma para avisar Lot que saísse da cidade antes desta ser assolada pelo enxofre.

Hospitaleiro, Lot, recebeu os anjos em sua casa, após o que todos os homens de Sodoma se juntaram em redor e exigiram que ele lhes entregasse os anjos para (que outra coisa haveria de ser?) os sodomizarem.

“Onde estão os homens que entraram na tua casa esta noite. Trá-los cá para fora para nós os conhecermos” (expressão utilizada para a sodomização)  (Génesis 19:5)

Sim, “conhecer” tem o habitual significado eufemístico da versão autorizada da Bíblia, o que, no contexto, é bastante curioso.

A galhardia com que Lot se recusa a ceder a tal exigência sugere que Deus terá acertado ao elegê-lo como o único homem bom de Sodoma.
(continua)

A velhice está nos olhos dos outros. Nunca nos nossos.

VELHA … EU?


Já aconteceu você, ao olhar pessoas da sua idade e pensar: Não posso estar assim tão velho (a)?!!!

 Veja o que aconteceu a uma amiga minha:

 - Estava sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista, quando observei que o seu diploma estava dependurado na parede. Estava escrito o seu nome e, de repente, recordei de um moreno alto, que tinha esse mesmo nome. Era da minha classe no colégio, uns 30 anos atrás, e eu perguntava-me:

 - Poderia ser o mesmo rapaz por quem me tinha apaixonado à época?

 Quando entrei na sala de atendimento imediatamente afastei esse pensamento do meu espírito.

 Este homem grisalho, quase calvo, gordo, com um rosto marcado, profundamente enrugado, era demasiadamente velho pra ter sido o meu amor secreto.

 Depois que ele examinou o meu dente, perguntei-lhe se ele estudou no Colégio Sacré Coeur.

 - Sim, respondeu-me.

 - Quando se formou? Perguntei.


- 1965. Por que pergunta?

 Respondi::

- É que... bem... você era da minha classe, exclamei eu.
E então, aquele velho horrível, cretino, careca, barrigudo, flácido, filho de uma p_ _ _ , lazarento perguntou-me:
- A Sra. era professora de quê?



O casamento de um velhote de oitenta anos e de uma rapariga de vinte era o motivo de todas as conversas na aldeia. Um ano depois do casamento, o casal apresenta-se no hospital para o nascimento do primeiro filho.
A parteira sai da sala de partos para felicitar o velhote e diz:

 - É espantoso! Como é que consegue na sua idade? O velho sorri e diz :
 
- Tem de se manter o motor a trabalhar…

No ano seguinte, o casal aparece de novo no hospital para o nascimento do segundo filho.
 - A mesma enfermeira acompanha o parto e sai para felicitar o nosso velhote, dizendo-lhe: - O Senhor é incrível. Como é que consegue?
 - O velho sorri e diz : - Tem de se manter o motor a trabalhar.
Mais um ano e o casal aparece no hospital para o nascimento do terceiro filho. A mesma enfermeira acompanha uma vez mais o parto e, após o nascimento, vai de novo ter com o velhote, sorri-lhe e diz: O Senhor é de facto incrível. Como é que consegue?
O velho sorri e diz:  - É como já lhe disse, tem de se manter o motor a trabalhar.
A enfermeira continua a sorrir, dá-lhe uma pancadinha nas costas e diz-lhe:
  - Bom, creio que é altura de mudar o óleo, este já saiu negro.

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