sábado, fevereiro 27, 2010

Este programa passou na RTP 2 em Abril de 2008. Por aqui percebe-se a razão pela qual o Dr. Alberto João fica possesso qundo lhe falam em ordenamento do território... mas os madeirenses que têm votado nele massivamente não estão completamente ilibados.
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CADA QUAL À SUA MANEIRA...

Numa ilha maravilhosa e deserta no meio do imenso oceano, após um terrível naufrágio, encontram-se as seguintes pessoas:

- dois italianos e uma italiana;

- dois franceses e uma francesa;

- dois alemães e uma alemã;

- dois gregos e uma grega;

- dois ingleses e uma inglesa;

- dois búlgaros e uma búlgara;

- dois japoneses e uma japonesa;

- dois chineses e uma chinesa;

- dois americanos e uma americana

- dois irlandeses e uma irlandesa;

- dois portugueses e uma portuguesa;


Passado um mês, nesta ilha absolutamente paradisíaca, no meio do nada, a situação era a seguinte:

- Um dos italianos matou o outro por causa da italiana;

- Os dois franceses e a francesa vivem felizes juntos num ménage-a-trois;

- Os dois alemães marcaram um horário rigoroso de visitas alternadas à alemã;

- Os dois gregos dormem um com o outro e a grega limpa e cozinha para eles;

- Os dois ingleses aguardam que alguém os apresente à inglesa;

- Os dois búlgaros olharam longamente para o oceano, depois olharam longamente para a búlgara e começaram a nadar;

- Os dois japoneses enviaram um fax para Tóquio e aguardam instruções;

-Os dois chineses abriram uma farmácia/bar/restaurante/lavandaria e engravidaram a chinesa para lhes fornecer empregados para a loja.

- Os dois americanos estão a equacionar as vantagens do suicídio porque a americana só se queixa do seu corpo, da verdadeira natureza do feminismo, de como ela é capaz de fazer tudo o que eles fazem, da necessidade de realização, da divisão de tarefas domésticas, das palmeiras e da areia que a fazem parecer gorda, de como o seu último namorado respeitava a opinião dela e a tratava melhor do que eles, de como a sua relação com a mãe tinha melhorado e de que, pelo menos, os impostos baixaram e também não chove na ilha...

- Os dois irlandeses dividiram a ilha em Norte e Sul e abriram uma destilaria. Não se lembram se o sexo está no programa por ficar tudo um bocado embaciado depois de alguns litros de whisky de coco. Mas estão satisfeitos porque, pelo menos, os ingleses não se estão a divertir...

- Quanto aos dois portugueses e a portuguesa que também se encontram na ilha, até agora não se passou nada porque resolveram constituir uma comissão encarregada de decidir qual dos dois homens seria autorizado a requerer por escrito o estabelecimento de contactos íntimos com a mulher. Acontece que a comissão já vai na 17ª reunião e até agora ainda nada se decidiu, até porque falta ainda aprovar as actas das 5 últimas reuniões, sem o que o processo não poderá andar para a frente. Vale ainda a pena referir que, de todas as reuniões, 3 foram dedicadas a eleger o presidente da comissão e respectivo assessor, 4 ficaram sem efeito dado ter-se chegado a conclusão que tinham sido violados alguns princípios do código de procedimento administrativo, 8 foram dedicadas a discutir e elaborar o regulamento de funcionamento da comissão e 2 foram dedicadas a aprovar esse mesmo regulamento. É ainda notável que muitas das reuniões não puderam ser realizadas ou concluídas, já que duas não continuaram por falta de quórum, uma ficou a meio em sinal de protesto pelo agravamento das condições de vida e 5 coincidiram com feriados ou dias de ponte...

VINICIUS DE MORAES - AMIGOS
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!



GIANNI ATERRANO - AMAPOLA


VÍDEO

A história é a seguinte: uma senhora encontrou um leão ainda bebé, na Colômbia. O felino estava mal alimentado e quase morto. Tratou dele e ele cresceu. Agora visita-o todos os dias e a recepção é esta...

FARDOS - O FADO QUE NOS AFLIGE


AL MARTINO - VOLARE (1976)


ELTON JOHN - CANDLE IN THE WIND
Canção de despedida à princesa Diana



DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 56




A modinha de Cândido das Neves subia a ladeira mais depressa do que eles, apareciam cabeças curiosas, demoravam-se à janela presas ao fascínio da música, à voz de Caymmi. A negra Juventina batia palmas aplaudindo, era do partido de Flor e de Vadinho e doida por serenatas. Alguns despertavam com raiva, na ideia de protestar, mas a doçura da canção os vencia, adormeciam ouvindo o chamado de amor. Doutor Carlos Passos foi um desses; saltou da cama numa senha assassina, seu dia era trabalhoso, começava no hospital às seis da manhã e por vezes só volvia a casa às nove da noite. Mas entre o quarto e a janela foi-se aplacando sua ira e trauteava a melodia ao debruçar-se no beiral para ouvir mais cómodo.

Lua manda tua luz prateada
Despertar a minha amada…

Estavam parados agora debaixo da luz de um poste, bem na esquina em frente ao sobrado. Vadinho destacara-se um pouco do grupo para melhor situar-se sob o foco eléctrico e mais facilmente ser visto por Flor. Os sons da flauta do doutor Silveira subiam pela parede, os ais do cavaquinho penetravam na sacada, o violino de Edgard Cocô abria a janela do quarto da moça, ia arrancá-la da cama num estremecimento. “Deus do céu, é Vadinho!” Correu para a janela, suspendeu a veneziana, lá estava ele sob a luz, os loiros cabelos, os braços estendidos para o alto:

Quero matar meus desejos
Sufocá-los com meus beijos…

Alguns notívagos juntavam-se a escutar, Cazuza Funil saíra vestido num velho pijama, atraído pela música e pela possibilidade de alguma garrafa em mãos de seresteiros.

Na sacada do primeiro andar, surgindo da escuridão, apareceu dona Rozilda, sua cólera cortou a música e a poesia:

- Vadios, vagabundos!

Mais alta a canção, a voz de Caymmi subia para as estrelas:

Canto…
E a mulher que eu amo tanto
Não me escuta está dormindo…

Onde encontrara Flor aquela rosa de tão vermelha quase negra? Vadinho a recolhia no ar, noite romântica de namorados, no céu a lua amarela e um perfume de alecrim, toda a ladeira a cantar em coro para Flor presa em seu quarto:

Lá no alto a lua esquina
Está no céu tão pensativa
E as estrelas tão serenas…

Desembocava dona Rozilda na porta da rua, escancarando-a, desfeito o coque, envolta numa bata enxovalhada e em ódio. Varou para o grupo, num desvario de fúria:

- Fora, fora daqui! – gritava em desespero – chamo a polícia, dou queixa na delegacia, cachorros!

Tão violenta e inesperada aparição – por instantes eles perderam o aprumo, sustiveram o canto. Dona Rozilda ergueu-se vitoriosa na rua em silêncio:

- Fora, cambada de cachorros, fora!

Mas foi só um instante. Logo a flauta do doutor Silveira fez ouvir um som como um riso de mofa, como o assobio de um moleque, musiquinha mais de deboche e de sotaque:

Iaiá me deixe
Subir nessa ladeira…

Então todos viram Vadinho adiantar-se em direcção à sua futura sogra e diante dela, ao som da flauta, executar com perfeição e donaire, num catado de pés e num gingo de corpo, o passo do siri-boceta, o difícil e famoso passo do siri-boceta.

Sufocada, em pânico, sem voz, dona Rozilda recolheu suas últimas forças, o suficiente para correr escadas acima.

A serenata reconquistou a noite e a rua, prosseguiu rumo à madrugada.

Notívagos mais ou menos bêbados reforçaram o coro, o guarda-nocturno surgiu em sua ronda e foi ficando por ali e aplaudir. A garrafa pressentida por Cazuza apareceu, o reportório era vasto. Cantaram Vadinho e Caymmi, cantou Jener Augusto, cantou doutor Walter com voz profunda de baixo, cantou o guarda-nocturno, seu sonho era cantar na Rádio. Cantava a rua inteira na serenata de Flor, Flor reclinada em sua alta janela, vestida de babados e rendas, coberta de luar. Lá em baixo, Vadinho, galante cavalheiro, na mão a rosa de tão vermelha quase
negra, rosa de seu amor.

sexta-feira, fevereiro 26, 2010



Olha-me esta ...



Aqui há tempos, um indivíduo sofreu um terrível acidente e o seu pénis foi dilacerado e arrancado.


Foi atendido no Hospital de Santa Maria e o médico assegurou-lhe que a medicina moderna podia pôr-lhe um 'instrumento' novo, mas que o seguro de saúde nao cobria a cirurgia, já que a mesma é considerada cirurgia estética.


O médico, um ilustre cirurgiao estético da nossa praça, acrescenta que os preços da cirurgia sao:

- 3.500,00 EUR - para um pénis de tamanho pequeno;
- 6.500,00 EUR - para o tamanho médio;
- 9.000,00 EUR - para o de tamanho grande (barato nao?).

O homem aceitou imediatamente mas ficou na dúvida se havia de implantar um médio ou um grande. O cirurgiao, então, aconselhou-o a conversar com a mulher antes de tomar uma decisao.


O homem assim faz... todo entusiasmado, telefonou a mulher e explicou-lhe o que se passava.


Daí a pouco, voltou ao consultório e o médico viu que ele estava visivelmente incomodado e deprimido, e por isso perguntou-lhe:


- Então, o que é que o senhor e a sua mulher decidiram?


O homem, cabisbaixo, responde-lhe:

- É uma pôrra!... Diz que prefere remodelar a cozinha..


ANGELINA JOLIE - UM EXEMPLO DE MULHER PARA O MUNDO... QUE, POR ACASO, É TAMBÉM UMA CELEBRIDADE DO MUNDO DA BELEZA FEMININA E DO CINEMA.


IMAGEM


A vela



A beata e piedosa Mª Antónia ia pela rua quando se cruzou com o sacerdote maduro. O padre disse-lhe:

- "Bom dia. Por acaso vc não é a Mª Antónia, a quem casei já há dois anos na minha antiga diocese?"

Ela respondeu:

- "Efectivamente, Padre, sou eu".

O sacerdote perguntou:

- Mas não me lembro de ter baptisado um filho seu. Não teve nenhum?"
Ela respondeu:
- "Não Padre, ainda não."

O padre disse:

- "Bem, na próxima semana viajo para Roma. Por isso se vc quiser, acendo lá uma vela por si e seu marido, para que recebam a benção de poder ter filhos."

Ela respondeu:

- "Oh Padre, muito obrigada, ficamos ambos muito gratos."

Alguns anos mais tarde encontraram-se novamente. O sacerdote ancião preguntou:

- "Bom dia Mª Antónia. Como está agora? Já teve filhos?"

Ela respondeu:

- "Óh, sim Padre, 3 pares de gémeos e mais 4. No total 10!"

Disse o padre:

- Bendito seja o Senhor. Que maravilha. E onde está o seu marido?

- "Vai a caminho de Roma, a ver se apaga a puta da vela"

VÍDEO

Emoção no futebol...

GLORIA ESTEFAN/ MARC ANTHONY - MI TIERRA


PAUL ANKA - DIANA (1957)



DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 55





No outro dia, Flor quase não pôde levantar-se, o corpo todo doído, o lapo roxo no pescoço.

A Ladeira em peso comentava os acontecimentos, a negra Juventina, soberana em sua janela, a distribuir detalhes, doutor Carlos Passos criticando os métodos educacionais de dona Rozilda, se bem não lhe negasse razão para desgosto e zanga.

Vadinho compareceu na hora costumeira; todo o primeiro andar mantinha-se fechado, a sacada vazia, a porta da escada de ferrolho e tranca. A janela do quarto de Flor dava sobre a rua transversal, por entre as venezianas fugiam réstias de luz.
Logo houve quem contasse da surra da véspera, segundo as comadres, Flor suspirava presa no quarto, de chave passada.

Vadinho concordou com a negra Juventina quando a amásia de Antenor Lima definiu dona Rozilda com justeza e literatura: uma hiena bestial, é o que ela é, seu Vadinho; ouviu as notícias em silêncio, disse até logo, foi-se embora.

Para volver depois da meia-noite e abrir todas as janelas das redondezas, acordar a Ladeira e as ruas próximas com a mais maviosa serenata, tão maviosa e apaixonada como muitas poucas até hoje se fizeram nessa ou em qualquer outra cidade. Quem a escutou guarda sua lembrança imperecível nos ouvidos e no coração.

Também, pudera! Vadinho reunira para Flor o melhor de quanto existia. Trouxera o magrelo Carlinhos Mascarenhas, o cavaquinho de ouro; fora buscá-lo no castelo de Carla, no aconchegado leito de Marianinha Pentelhuda.

Ao violino, via-se a figura popular de Edgard Cocó, o non-plus-ultra, igual só no Rio de Janeiro ou nas estranjas. Soprava a flauta – e com que dignidade e maestria! – o bacharel em direito Walter da Silveira; Vadinho o arrancara de cima dos livros, pois, recém-formado, preparava-se a fundo para o concurso de magistrado; em breve escolhido meritíssimo juiz, não mais exibiria em público sua insigne flauta, privando as massas de celestial deleite. Quanto ao violão, dedilhava-o um moço querido de toda a gente por sua educação e alegria, seu gesto modesto e ao mesmo tempo fidalgo, sua competência no beber, sua finura no trato, e sua música: a qualidade única do seu violão, dele e de mais ninguém, e sua voz de mistério e picardia. Um retado. Aparecera ultimamente a toca e a cantar no rádio, e já o sucesso o cercava. Repetia-se seu nome, Dorival Caymmi, e os íntimos exaltavam suas composições inéditas, no dia em que fossem divulgadas, o moreno ficaria célebre. De Vadinho era amigo do peito, juntos haviam tomado os primeiros tragos e varado as primeiras madrugadas. Traziam de reserva a Jener Augusto, pálido cantor de cabaré, e de quebra a Mirandão, já bêbado.

Ao pé da ladeira, detiveram-se por uns minutos; o violino de Edgard Cocô soluçou os primeiros acordes, dilacerantes. Entraram a seguir o cavaquinho, a flauta, o violão – e Caymmi abriu o eco, soltou a voz em dueto com Vadinho, cujos gorjeios não valiam lá grande coisa. Grande era sua causa, sua paixão proibida: o desejo de desagravar a namorada, curar suas tristezas, apaziguar seu sono, trazer-lhe o consolo da música, prova de seu amor:

Noite alta, céu risonho
A quietude é quase um sonho
E o luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata
De raríssimo esplendor…
Só tu dormes, não escutas
O teu cantor…

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

VÍDEO

Ah!... tigre.

SALVATORE ADAMO - DOLCE PAOLA

SERGIO ENDRIGO - CANCIONE PER TE
Festival da Canção de San Remo de 1968


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

EPISÓDIO Nº 54



Guerra, sim; que outro nome, que outra designação usar? E guerra sem misericórdia – a guerra entre dona Rozilda e flor teve começo ali mesmo, naquela mesma hora. Ao ruído da porta batendo na cara de Célia, dona Rozilda recolheu seus melindres, desistiu do desmaio, clamou pela professora, queria continuar a conversa sobre Vadinho, remexendo na ferida:

- Célia! Célia! Não vá s’embora…

Flor disse, a voz pesada:

- Botei ela pra fora…

- Ela veio fazer um favor e você enxota ela, em vez de agradecer.

- Essa fuxiqueira nunca mais põe os pés aqui.

- Desde quando você manda nesta casa?

- Se ela entrar, eu saio…

Mirandão acertara ao descrever o baixo crédito de Vadinho junto a dona Rozilda. Errou, porém, por completo, quanto à reacção de Flor. Não ficara contente, é claro, tivera um desaponto: Vadinho mais sem jeito, para que essas mentiras? Em nenhum momento, entretanto, pensou romper com ele, em terminar o namoro. Amava-o, pouco lhe importando o seu ofício ou emprego, sua posição na sociedade, sua importância na política.

Assim lhe disse quando, naquela noite, num desafio imprudente às ordens de dona Rozilda, foi conversar com o namorado numa esquina próxima.

Ouviu e aceitou as suas explicações, derramou algumas lágrimas a chamá-lo de “maluco sem juízo, meu doido lindo”.

Pela primeira vez Vadinho lhe falou de amor, de como esfomeado e sequioso a queria e desejava – e para esposa a queria e desejava. E isso para Flor valeu todo o aborrecimento, a mágoa dele lhe ter mentido e enrolado sem necessidade.

Teriam que esperar com paciência disse-lhe Flor. Pelo menos os dez meses que lhe faltavam para os seus vinte e um anos; era ainda menor, sob o mando materno, e nem pensasse Vadinho em obter o impossível consentimento de dona Rozilda. Nunca vira a mãe tão exaltada e em fúria. Mesmo os encontros não iam ser fáceis, tinham de estudar a melhor maneira de se avistarem sem que a velha suspeitasse. O namoro – aquele namoro com tantas facilidades, tão bem aceite e apadrinhado por dona Rozilda – passara aos subterrâneos da ilegalidade, estava proibido em definitivo, a cotação de Vadinho na Ladeira do Alvo não valia a poeira da rua. Vadinho enxugou-lhe as lágrimas com beijos, ali mesmo na esquina, sem ligar aos passantes.

Bufando, dona Rozilda a aguardava de faca na mão, pedaço de couro cru para exemplar animais e filhos desobedientes. Não era usada há muito, quem dela fizera gasto fora Heitor, relapso estudante. Rosália levara suas tacadas, Flor algumas surras quando menina. Suspensa na parede da sala de jantar, a primitiva chibata agora valia apenas como símbolo cruel da autoridade materna, caída em desuso. Quando Flor transpôs a porta, dona Rozilda ergueu a taça, a primeira chicotada atingiu no colo e no pescoço deixando-lhe um lenho vermelho, marca de guerra a perdurar por mais de uma semana.

Apanhou sem chorar, defendendo o rosto com as mãos, reafirmando seu amor. “Comigo viva não
casa com ele”rugia dona Rozilda.


O DILEMA

DOS
MADEIRENSES

Quando via a ilha da Madeira a sensação que me transmitia era a de ser demasiado bonita, pequena e inclinada para tanta gente lá viver.

Aquelas encostas estão completamente salpicadas de casas e a parte baixa e centro da cidade do Funchal, muito pequena para suportar tantas construções e Obras Públicas como se, atrás de si, não pairassem, belas mas ameaçadoras as vertentes da montanha.

O perigo e a beleza, mais uma vez, de mãos juntas.

Aquela ilha, como de resto todas as pequenas ilhas, no Atlântico, Pacífico ou no Índico deveriam ser locais apenas para conservar e visitar com todo o cuidado e respeito.

Daqui, o dilema dos madeirenses entre viver cada vez em maior número na sua terra e transformá-la num local de risco, ou restringir essa ocupação apenas aos locais que ofereçam maiores garantias de segurança naquelas encostas lindas mas ameaçadoras.

Poderíamos encontrar uma lei estabelecida pela natureza própria das ilhas:

- Habitarão numa ilha tantas pessoas quantas ela possa alimentar.

No entanto, uma política de desenvolvimento económico com base no turismo para vender as belezas naturais parece intuitiva, lógica, óbvia porque quando a beleza daquela ilha não se vender, então, nada se venderá em termos turísticos.

Os naturais arranjaram emprego nas unidades hoteleiras, muitos deles, casais que com dois ordenados, não tiveram grande dificuldade em obter empréstimos à habitação permitindo que centenas deles que, de outra forma, estariam condenados à emigração se fixassem definitivamente na sua terra.

Com o dinheiro ganho na indústria turística e os apoios financeiros do Governo Central, da Comunidade Europeia e dos emigrantes, a ilha transfigurou-se, tantas as obras públicas. Não deixou de ser bela porque muita dessa beleza é indestrutível mas transfigurou-se… de “coisa da natureza” passou também a “outra coisa” pensada para turistas ricos, gordos e comodistas.

Alberto João Jardim fica possesso quando lhe puxam a conversa do ordenamento do território: grita, ameaça, quase que explode: “tudo foi feito na legalidade”… esquecendo-se de acrescentar que ele é a “legalidade”.

A Madeira é a única região do país onde não existe Reserva Estratégica Nacional (REN), que proíbe, por exemplo, a construção em leito de cheia. O Governo Regional (leia-se Alberto João) nunca transpôs as regras de gestão do território. Especialistas defendem que com a REN os danos poderiam ter sido minimizados na tragédia que assolou a ilha.

Não admira, pois, que fique possesso quando agora lhe falam nas questões do ordenamento do território…

Os madeirenses têm votado massivamente, anos e anos seguidos, nele e na sua política. Esmagadoramente estão de acordo com tudo quanto ele mandou fazer na Madeira e não o podem acusar sem se acusarem a eles próprios.

A vida é assim mesmo, há que optar:

- De um lado o progresso, a criação de riqueza, os empregos, as casas, as auto-estradas, os viadutos, aquedutos, teleféricos e um aeroporto moderno e seguríssimo.

_ Do outro, aquela ilha quase intocada que conheci em 1962 em que o olhar apenas e só se entretinha e deslumbrava com as “coisas da natureza”.

- Então, mas não haveria um meio-termo?

- E o Dr. Alberto João é, por acaso, homem de meios-termos?

Agora vão “chover” milhões na Madeira e teimoso como é, Alberto João, vai repor tudo como estava com excepção das vidas que se perderam para sempre.

Sabe-se lá daqui a quantos anos voltarão a cair, numa hora, 52 litros de água por metro quadrado… então, voltarão a morrer mais pessoas, muitas delas em consequência das opções tomadas… é o preço.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

VÍDEO

O inesgotável filão dos apanhados...

PAUL ANKA - TIME TO CRY


DEMIS ROUSSOS - LOST IN A DREAM



DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 53

Prestígio? Só se fosse nas ruas do meretrício mais baixo, junto às casteleiras e aos escroques… Oficial de Gabinete do Governador? Se ele se atrevesse a entrar na Gabinete do Governador seria tomado preso, metido no xadrez. Sua nomeação de professora? Era melhor nem pensar nisso, quem sabe dos estrupícios e tratantadas postos em prática pelo patife?

E como fora Célia, insignificante professora primária, descobrir toda aquela rede de enganos, pondo a claro todos os detalhes da farsa, não deixando persistir uma sombra sequer de dúvida, um pode-ser-quem-sabe ao qual se agarrasse dona Rozilda, náufraga no mar da porca existência? Por que tamanho empenho em desmascarar e denunciar o trapaceiro, o barato sedutor?

Vadinho se surpreendeu magoado:

- Logo quem… Não fiz mal nenhum a essa moça, ao contrário…

Por isso mesmo, talvez. Quando Vadinho lhe arranjou o emprego, Célia ficou ao mesmo tempo grata e ofendida. No fundo, não lhe perdoava ter-se enganado a seu respeito, não ser ele o gigolô pressentido por seu faro de azedume e maldade: a existência reles fizera-a invejosa e ruim. A cada dia, menos grata e mais ofendida – aquele indivíduo não tinha jeito de prestar… Por acaso deram-lhe uma pista e ela tanto futucara, tanto xeretara até descobrir em todas as minúcias a teia de mentiras iniciada por Mirandão em casa do Major e por cujo crescimento era mais responsável a vida do que o próprio Vadinho. Refeitos os capítulos daquele imaginoso folhetim, Célia sentiu-se realizada: não a enganavam assim facilmente, tinha olho e faro, para tapeá-la fazia-se necessário mais do que um emprego, nomeação e posse. Satisfeita, feliz com sua torpeza, nem lhe pesava a perna manca ao subir a escada do primeiro andar onde dona Rozilda e Flor costuravam peças do enxoval. “Não passava o almofadinha de um mísero gigolô, ela, Célia jamais tivera dúvidas. Resplandecia seu encardido semblante, poucas vezes se sentira assim alegre, muita gente ia chorar naquele dia, arrenegar o diabo, ranger os dentes. E existe no mundo algo tão excitante, espectáculo comparável ao sofrimento alheio?

Para Célia não existia nada igual. Jamais um homem olhara para seu corpo com olhos de desejo, jamais alguém lhe sorrira com amor, e as crianças da escola tinham-lhe medo, fugiam dela.

Dona Rozilda, em faniquito, propunha-se a matar e a morrer, gemia por um copo com água. Flor não lhe deu importância, não ouviu seus ais, ocupada com Célia:

- Puxe daqui, sinhá cachorra, não volte mais…

- Eu, Flor? Você está falando sério? Por quê?

- Mesmo que ele fosse o que você diz, você não podia vir fuxicar, ele lhe empregou… Você devia era esconder o que soubesse contra ele, estava morrendo de fome e ele lhe arranjou o lugar…

- Eu sei lá se foi ele… Quem viu ele arranjar? Pra mim foi a carta do padre Barbosa…

Flor quase não elevava a voz mas suas palavras cuspiam nojo e desprezo:

- Puxe daqui antes que eu lhe ensine a não se meter na vida dos outros, cadela vagabunda…

- Pois fique com ele, que lhe faça bom proveito, tu nasceu mesmo para descarada…

Baixou a escada a clamar contra a gratidão humana.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

VÍDEO

A galinha quer o espaço para o ninho e o cachorro brincadeira...

KING ÁFRICA - LA BOMBA

GLORIA LASSO - MOLIENDO CAFÈ
Um clássico universal dos compositores Maurisse Y Salvet numa das vozes espanholas mais cosmopolitas.



DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 52





Mar de rosas, francos horizontes, azul cerúleo, a paz do mundo e sua doçura, Flor e Vadinho namorados. De súbito a borrasca, o temporal, céu de chumbo, guerra sem quartel, a abominação, Flor e Vadinho proibidos.

Um tanto encafifado (significa: encabulado, envergonhado) por sentir-se com culpa nos acontecimentos – não fora ele que começara a montar aquele castelo de cartas, incapaz de resistir ao sopro da menor sindicância? – Mirandão com fumaças de filósofo, considerou:

- Aí está…Que garantia a gente tem? Nenhuma… Até motor de caminhão, quando se conserta, tem garantia de seis meses. A gente, quando pensa que está instalado na vida, que as coisas finalmente se acertaram, aí emboceta tudo, o santo cai do andor e vira lixo…

No opinar de Mirandão, Vadinho caíra do andor, o santo virara lixo, os restos espalhados nos monturos, e não havia remendo capaz de restaurar o conceito de demissionário oficial de gabinete ante dona Rozilda. Conceito aliás igualmente comprometido junto a Flor, como haveria ela de aceitar ainda o patoqueiro que a engabelara? Mirandão conhecia essas pessoas mansas e suaves: quando abusadas em sua confiança, crescem em obstinado orgulho, não voltam atrás.

- Quando empombam, empombam de vez… - concluía pessimista.

Vil, ordinário, abjecto, infame sujeito! Dona Rozilda achava a língua pobre de expressões suficientemente varonis e vigorosas para rotular tão baixo espécie humana – ainda na véspera o pretendente ideal, santo no andor, todo enfeitado de elogios. Sua filha podia até casar com um soldado da polícia, até com um criminoso de morte, de sentença passada no júri, cumprindo pena na cadeia, jamais com o miserável canalha.

Recolhendo pelas imediações do Alvo essas cruas opiniões, Mirandão balançara a cabeça pesaroso e realista: se Vadinho pensava em prosseguir o namoro é porque não entendia nada de mulheres. Sempre tão ladino, agora cego pela paixão, não se dava conta da realidade: desbundara tudo. Mirandão, aflito, reclamou um novo trago no Bar triunfo: para suportar tanta comoção.

A Vadinho pouco importava restaurar seu conceito ante dona Rozilda, aplacar sua fúria, velha levada dos diabos, bruaca intolerável, um purgante.

Não admitia, porém, romper com Flor, perder seu riso manso, sua quieta ternura, seu machucado suspiro. Ao contrário, agora decidira casar-se com ela. Afinal, em tudo aquilo, só havia de sério o carinho, a compreensão, o bem-querer, aquele amor dos dois; o resto não passava de tola brincadeira. De quem gostava Flor: dele, Vadinho, de sua pessoa, ou do cargo inventado, da posição que não exercia, do dinheiro que não tinha?

Naquela história só uma coisa o desgostava: haver sido desmascarado por Célia, sua protegida, aquela penetra agora professora pública devido à sua interferência. Fora ela a fazer todo o fuzuê, a desenrolar o novelo, a denunciá-lo a dona Rozilda. Chegara ofegante ao primeiro andar, numa excitação tamanha a ponto de quase perder a voz. Num tal contentamento, só se vendo.

“Alguém muito elevado?” Jamais subira o vigarista as escadas do Palácio, o único palácio que ele conhecia, e a esse conhecia bem, era o Pálace, antro de jogo e perdição, assim de mulher-dama…

segunda-feira, fevereiro 22, 2010


Djalmão ...




Na favela dois homens entram num barraco arrastando um cara pelos braços.
Lá dentro, o Djalmão, um negão enorme limpa as unhas com um facão.

- Djalmão, o chefe mandou você comer o CÚ desse cara aí, que é para ele aprender a não se meter a valente com o nosso pessoal.

- Pode deixar ele aí no cantinho que eu cuido dele daqui a pouco.

Quando o pessoal sai o rapaz diz:
- Ô seu Djalmão, faz isso comigo não, depois de enrabado minha vida vai acabar, tem piedade pelo amor de Deus o homem santo.

- Cala a boca e fica quieto aí!

Pouco depois mais dois homens arrastando outro cara:

- Esse aí o chefe mandou você cortar as duas mãos e furar os olhos é para ele aprender a não tocar no dinheiro da boca.

- Deixa ele aí que eu já resolvo.

Daí a pouco chega outro pobre coitado:

- Djalmão, esse o chefe quer que você corte o pinto e a língua para ele não se meter com mais nenhuma mulher da favela!

- Já resolvo isso. Bota ele ali no cantinho junto com os outros..

Mais alguns minutos entra outro:

- Aí Djalmão, esse aí é pra você cortar em pedacinhos e mandar cada pedaço pra família dele.

Nisso o primeiro rapaz diz em voz baixinha, baixinha:

- Seu Djalmão, por favor, com todo respeito, só pro senhor não se confundir: o cara do cú sou eu, tá?



(tá vendo, conforme a gente vai conhecendo os problemas dos outros percebemos que o nosso nem é assim tão grande...)

ALFAMA


VÍDEO

A tranquilidade do fotógrafo...

CHAYANNE - BAILA BAILA


GLORIA ESTEFAN - HOY


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 51



Com o pai teve Vadinho breve encontro no qual se recusou a volver ao internato, recusando-lhe em troca o salafrário Guimarães a bênção e qualquer ajuda financeira, “não tinha recursos para sustentar desordeiros”. Com a riqueza da mulher ficara somítico e moralista. Aliás, nesta altura da vida, quando seu nome era citado nas colunas dos jornais, passara a conceber sérias dúvidas a respeito da paternidade de Vadinho. Seria mesmo seu filho? A falecida Valdete acusava-o, entre beijos, de tê-la deflorado e engravidado. Mas será documento a merecer crédito a palavra de uma doméstica?

Jamais conhecera outro homem, além dele, segundo depunham suas amigas chorosas, junto ao corpo. Mas a palavra dessas outras amas, sem eira nem beira, pode constituir prova seja lá do que for? Tudo aquilo sucedera há tanto tempo, confusas memórias da juventude, numa adolescência falha de responsabilidade, insensata. Talvez fosse seu filho, talvez não o fosse, quem poderia vir de público prová-lo, onde estava a certeza? Certeza mesmo era ser Vadinho filho-da-puta e um filho-da-puta dos piores: ainda menino e “querendo estuprar honesta senhora, bondosa mãe de um colega, em cujo lar fora recebido como filho…” Esse pai de Vadinho era um Guimarães da “banda podre” como o classificara Chimbo, não lhe coubera o ímpeto e a generosidade da família.

Desde então não mais provara Vadinho o perfume de um sentimento familiar, não mais tivera um interesse complexo e profundo. Sua vida sentimental, numerosa e diversa, pois as múltiplas amantes variavam na idade, na posição social e na cor, decorrera em grande parte nos castelos e cabarés, em xodós com raparigas, amigações, além de umas poucas aventuras com mulheres casadas; sem que nenhum desses laços tivesse a força do amor. Nunca um enrabichamento o fez sentir a vida plena e luminosa, jamais uma ausência feminina, uma briga, o término de um caso, o tornou gris e suicida. Partia para outro corpo de mulher como mudava de mesa na sala de jogo quando o dezassete, seu número, fazia-lhe falseta.

O encontro com Flor, na festa do Major, veio reacender-lhe de súbito aquela necessidade antiga de lar, de vida de família, mesa posta, cama de lençóis limpos. Ele não tinha sequer endereço estável, mudando de pensão barata a cada mês por falta de pagamento. Como esbanjar dinheiro em aluguel quando sobrava tão pouco para o jogo?

Flor trazia um novo sabor à sua vida, uma quietude, uma placidez, um gosto de ternuras familiares:

- Gosto de você porque você é mansa como um bichinho, meu bem…

De tal forma seduzido por ela, a ponto de suportar-lhe a mãe, velha mais terrível e paulificante, ridícula e desfrutável. Amava a singeleza da moça, sua mansidão, sua alegria sossegada, e sua compostura. Lutando diariamente para derrubar-lhe a resistência e romper-lhe a castidade, sentia-se, no entanto, contente e orgulhoso com ela ser assim recatada e séria. Porque só a ele competia domar esse recato, reduzir a prazer aquela pudicícia. Os amigos de Vadinho descobriam um brilho nos seus olhos, acontecendo-lhe ficar parado ante a roleta, esquecido de depositar a ficha, sonhador.

E os íntimos, como Mirandão, já não se surpreenderam quando, pelo Carnaval, o viram integrando a prancha dos Alegres Gazeteiros, prancha organizada pelas famílias do rio Vermelho, decoração do tio Porto, moças e rapazes fantasiados de vendedores de jornais, mercando o Diário da Bahia, A Tarde, Diário de Notícias e o Imparcial. Um Carnaval de confete e mamãe-sacode de serpentina e canções, onde lança-perfume era para consumir nas namoradas e não para aspirar-se, um Carnaval sem cachaça. O oposto dos carnavais de Vadinho, que emendavam do sábado à terça-feira num porre só. Integrando blocos de mascarados, às voltas com as raparigas, a sambar no meio da rua, a bebida à la vontê. Caindo de bêbado nos fins das noites num fovoco qualquer da zona; assim nos quatro dias.

“Olhe quem vai ali, naquela prancha, de pandeiro na mão, é Vadinho saindo em prancha, quem diria!”, admiravam-se passantes habituados a vê-lo em deboche completo na folia do Carnaval. Lá estava Vadinho, ao lado de Flor, a cobri-la de confetes e ternura.

Nada disso o impediu, no entanto, de chafurdar na mais baixa gandaia, de ingerir uma cachaça absurda, após ter-se despedido de Flor, à meia-noite. Saiu directo para o Tabaris, o Meia-Luz, o Flozô. Na segunda-feira pretextou trabalho urgente em Palácio, foi-se às dez da noite, não podia chegar tarde ao grande baile da Gafieira do Pinguelo onde Andreza e outras reais crioulas fantasiavam-se de damas de corte de Maria Antonieta, gastando cetins e veludos, alvas cabeleiras de algodão.

Nem mesmo no momento de paixão mais alta, Vadinho imaginou sequer mudar sua vida, modificá-la, arranjar novos hábitos, regenerar-se. Mirandão ameaçava fazê-lo de quando em vez:

- Seu mano, vou me regenerar… De amanhã em diante…

Vadinho jamais falou nisso. Apaixonado por Flor, projectando casar-se com ela, mas nem assim disposto a fugir a seus solenes compromissos, a seu quotidiano do jogo e malandragem, de bebedeiras e arruaças, de casinos e castelos.

domingo, fevereiro 21, 2010


Dr. FERNANDO NOBRE,
CANDIDATO
À PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA






Foi com inteira surpresa que esta semana tomámos conhecimento da decisão do Dr. Fernando Nobre em se candidatar a Presidente da República.

Fernando Nobre é um dos cidadãos portugueses não envolvido em partidos políticos mais conhecido pelos seus compatriotas dada a sua intervenção cívica como Presidente da AMI (Assistência Médica Internacional) que fundou em 1984.

Com 58 anos de idade, ele é rosto da AMI e a sua palavra rebelde, experiente e conhecedora contra todas as injustiças e desigualdades que estão por detrás de muitos dos desastres que têm assolado populações por todo o mundo e às quais tem acorrido com a sua presença e a sua Organização de Assistência Médica para minorar o sofrimento das pessoas atingidas, grangearam-lhe o respeito e admiração de todos nós.

Habituados a vê-lo e a ouvi-lo no desempenho dessas missões ao longo de anos, num campo meramente humanitário, a sua decisão é uma surpresa, agradável, é certo, mas uma surpresa.

A primeira reacção dos observadores políticos foi logo a de concederem, de antemão, a vitória à recandidatura de Cavaco Silva por considerarem que Fernando Nobre vem dividir ainda mais a esquerda portuguesa roubando votos a Manuel Alegre o qual, já se percebeu, está longe de unir à sua volta todo o Partido Socialista.

Creio, no entanto, que em vez de incluir o candidato Fernando Nobre no quadrante político/partidário da esquerda portuguesa talvez, mais acertadamente, seria atribuir-lhe a qualidade de 1º candidato à Presidência da República totalmente oriundo do sociedade civil ou seja, alheio a partidos políticos (não confundir com super-partidário) e por motivos que estão ligadas exclusivamente a uma intervenção intensa no sector puramente humanitário acorrendo a situações resultantes de graves problemas políticos e sociais por esse mundo fora.

Por esta razão, que me parece ser mais estruturante do que a estafada esquerda/direita, é perfeitamente possível que a candidatura de Fernando Nobre, para além de dividir a esquerda possa também dividir a direita e “roubar” votos a Cavaco Silva da mesma forma que os roubará a Manuel Alegre. Iremos ver como decorrerá a sua candidatura e a mobilização e envolvimento que será capaz de despertar nos portugueses.

Já me pronunciei, aqui neste blog, a favor de Manuel Alegre por me parecer que ele será capaz de empolgar o país nos anos difíceis que aí vêm, mais do que Cavaco Silva cujos discursos “matraqueados” me deprimem mas, quem der ouvidos a Silva Lopes, Medina Carreira e a outros especialistas, ficará a recear muito seriamente que os próximos anos não serão apenas anos difíceis, mais do que isso, serão anos de “catástrofe” e, se assim for, teríamos o Dr. Fernando Nobre a trabalhar num "campo" em que ele está habituado, não como Presidente da AMI mas como Presidente dos portugueses.
Talvez ele, na sua qualidade de médico e de socorrista, tenha a força e a coragem necessária para pedir aos seus compatriotas, olhos nos olhos, o esforço e o sacrifício que vão ser necessários nos próximos anos.

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