sábado, outubro 13, 2012

A volúpia da música dos anos setenta...
Without You

Uma delicia de burro...


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A religião que tem vergonha das suas mulheres...


ORGASMO FEMiNINO


O orgasmo feminino é uma coisa da qual as mulheres percebem muito pouco, e os homens ainda menos. Pelo facto de ser uma reacção endócrina, que se dá sem expelir nada, não se apresenta nenhuma prova evidente de que aconteceu, ou de que foi simulado. Diante deste mistério, investigações continuam, pesquisas são feitas, centenas de livros são escritos, tudo para tentar esclarecer este assunto.
A acompanhar este tema, deu no outro dia uma entrevista na TV com uma conhecida sexóloga, que apresentou uma pesquisa feita nos Estados Unidos na qual se mediu a descarga eléctrica emitida pela periquita no instante do orgasmo.Os resultados mostram que, na hora H, a pardaleca dispara uma carga de 250.000 micro volts. Ou seja, 5 passarinhas juntas, ligadas em série na hora do ‘ai meu Deus’, são suficientes para acender uma lâmpada. E uma dúzia é capaz de provocar a ignição no motor de um Carocha com a bateria em baixo. Já há até mulheres a treinar para carregar a bateria do telemóvel: dizem que é só ter o orgasmo e, tchan…carregar.
Portanto, é preciso ter muito cuidado porque aquilo, afinal, não é uma rata: é uma torradeira eléctrica!!! E se der curto-circuito na hora de ‘virar os olhos’ além de cego, fica-se com a doença de Parkinson e com a salsicha assada. Preservativo agora é pouco: tem de se mandar encamisar na Michelin. E, no momento da descarga, é recomendado usar sapatos de borracha, não os descalçar e não pisar o chão molhado. É também aconselhável que, antes de se começar a molhar o biscoito, se pergunte à parceira se ela é de 110 ou de 220 volts, não se vá esturricar a alheira…
 

O Sábio Distraído

O sábio distraído vai à rua comprar cigarros e

deixa um papel na porta: “Saí por instantes. Volto já.”
Regressa, sobe a escada, lê o papel, senta-se no patamar e diz:

- Bem, espero um pouco. Oxalá que não demore…


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 217


Nacib passava, parava nas mesas. Na Praça Rui Barbosa, quebrou caminho, cortou para a Praça Seabra. Havia gente na rua, alguns a olhavam curiosos, dois outros a cumprimentaram. Conhecidos de Nacib, fregueses do bar. Mas estavam tão empolgados com o acontecimento da tarde que não ligaram.

Atingiu os trilhos da estrada, chegava às casas pobres das ruas do canto. Mulheres damas, de última classe, passavam por ela e a estranhavam. Uma a puxou pelo braço:

 - Tu é nova por aqui, nunca te vi… Donde tu veio?

 - Do sertão – respondeu automaticamente. – Onde é que fica a Rua do Sapo?

 - Mais adiante. Tu vai para lá? Pra casa da Mé?

 - Não. Pró Bate-Fundo.

 - Tu vai lá? Tu tem coragem. Lá eu não vou. Hoje ainda menos, tá um fuzué dos diabos. Tu quebra à direita e chega lá.

 -Quebrou à direita na esquina. Um negro a segurou:

 - Onde vai, dengosa? – Olhou-a no rosto, achou-a bonita, beliscou-lhe a face com os dedos fortes. – Onde tu mora?

 - Longe daqui.

 - Não faz mal. Vamos, dengosa, fazer um neném.

 - Agora não posso. Tou apressada.

 - Tá com medo que te passe o calote? Olha aqui. Metia a mão no bolso, tirava algumas notas miúdas.

 - Tou com medo não. Tou com pressa.

 - Com mais pressa tou eu. Saí mesmo para isso.

 - E eu para outra coisa. Me deixa ir embora. Volto mais logo..

 - Tu volta mesmo?

 - Juro que volto.

 - Vou te esperar.

- Aqui mesmo, pode esperar.

Saiu apressando o passo. Já perto do Bate-Fundo – donde vinha barulhenta música de pandeiros e violão – um bêbado atracou-se a ela, queria abraçá-la. Empurrou-lhe o cotovelo, ele perdeu o equilíbrio, agarrou-se a um poste. Da porta do Bate-Fundo, na rua pouco iluminada saía um rumo de conversas, de gargalhadas e gritos. Ela entrou. Uma voz chamou, ao vê-la:

 - Pra cá, morena, beber uma pinga.

Um velho tocava violão, um rapazola batia pandeiro. Mulheres envelhecidas, demasiadamente pintadas, algumas bêbadas. Outras eram cabrochas de extrema juventude. Uma delas, de cabelos escorridos e face magra, não devia ainda ter quinze anos completos.

Um homem insistia para que Gabriela viesse sentar-se a seu lado. As mulheres, as velhas e as mocinhas, olhavam-na com desconfiança. Donde vinha aquela concorrente, bonita e excitante? Outro homem também a chamava. O dono do bar, um mulato perneta, andava para ela, a perna de pau fazendo um ruído seco ao pisar.

sexta-feira, outubro 12, 2012


A EUROPA DAS PÁTRIAS 
E A ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO NOBEL DA PAZ À UNIÃO EUROPEIA

A União Europeia é insubstituível: uma espécie de cooperativa fortíssima criada pelos europeus que promove os seus interesses morais e materiais. Ela é a base do bem-estar e da origem das suas vantagens competitivas no mundo. A livre circulação de pessoas, bens, dinheiro e serviços dentro do mercado interno; a gestão pela Comissão Europeia quer do comércio dos 27 com o resto do mundo quer da concorrência e, dentro de poucos anos, da energia e do ambiente; a moeda única; a promoção, dentro e fora de portas, da decência cívica e política, são pilares essenciais do conforto e segurança das populações e constituem fonte de influência que nenhum membro da União só por si poderia ter agora ou no futuro.

Mas, no entanto…falta-lhe coração, porque este ficou na pátria de cada um dos países que a compõem. Muita gente estaria disposta a morrer pela sua pátria, provavelmente ninguém pela Europa.

O futuro Kaiser Guilherme II perguntou ao seu mestre de equitação o que era mais importante para saltar obstáculos: os cavalos, os cavaleiros ou os arreios?

 - “O coração, sire, o coração. O resto vai atrás”.

 É este, que falta à Europa porque continua lá, agarrado a uma história, a uma língua, a tradições, usos e costumes vividos durante séculos dentro de espaços delimitados por fronteiras mais ou menos estáveis. E quem consegue repartir o coração quando se trata da terra onde nascemos, nasceram os nossos pais e os pais dos nossos pais, um deles, porventura, morto nalguma guerra na defesa dessa terra?

Talvez um dia, quando vier uma guerra, e ela virá, e for necessário alguns de nós morrerem para defenderem a Europa, então, um pouco dos nossos corações pátrios se comece a transferir para esse nosso outro espaço mais alargado que se chama Europa.

Pelos vistos, amor e sangue, em certas circunstâncias, estão juntos.

Entretanto, andamos adormecidos num certo pacifismo esquecendo os meios militares necessários à nossa futura segurança.

Lembram-se quando o Dr. Mário Soares, já aqui há uns anos, falava no contributo financeiro que cada um de nós devia dar para a constituição de um exército europeu?

 - Será que alguém vê nele um guerreiro ou um belicista? E, no entanto, ele estava cheio de razão. Fundem-se histórias e culturas marchando lado a lado, comendo das mesmas marmitas, participando nos mesmos exercícios e, se for preciso, combatendo e morrendo para defender a nossa terra, a terra europeia que é uma terra de liberdade, de direitos sociais e humanos como não há nenhuma outra à face da terra.

Hoje mesmo foi recebida a notícia da atribuição à União Europeia do Prémio Nobel da Paz. Para os responsáveis políticos mais distraídos ou menos atentos, principalmente europeus, é preciso gritar, mais que lembrar, que a União Europeia foi criada para garantir a paz numa Europa que em 50 anos já tinha sido devastada por duas Grandes Guerras Mundiais, 1914/18 e 1939/45 e milhões de mortos.

Se esse projecto de Paz está neste momento com dificuldades em se afirmar por motivos de natureza financeira, torna-se necessário avivar a consciência que o destino não está escrito em lado nenhum, constrói-se no dia a dia, hoje, e mais valioso que o dinheiro é a vida sendo a paz a melhor garantia para a manter. 

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O menino se fez homem e o homem se fez velho





Quadrilha





João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili Que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.



AUSÊNCIA



Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje, não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drumon de Andrade


ENTREVISTA FICCIONADA
 COM JESUS Nº 79 SOBRE O TEMA:
 “A VONTADE DE DEUS?”


RAQUEL - Mas, escute-me, nós tínhamos a reserva confirmada…

OFICIAL - Senhorita, já não há espaço no avião. Vão ter que esperar o próximo vôo…

JESUS -  O que está acontecendo, Raquel?

RAQUEL - Que estes filhos de... de Israel, fizeram um overbooking e não temos assentos.

JESUS -  Fizeram o que?

RAQUEL - Teremos que esperar o outro vôo, pela tarde… Bom, como dizia minha avozinha, por algo será. Quem sabe se entrássemos nesse avião e… Deus sabe o que faz.

JESUS - Por que metes Deus nessa história, Raquel?

RAQUEL - Porque, não foi o senhor mesmo que disse que até os cabelos de nossa cabeça estão contados que não cai nem um fio de nossa cabeça sem que Deus o permita?

JESUS - Sim, eu disse.

RAQUEL - Pois então? Se isso acontece com um fio de cabelo, imagine com um avião. Espere, que já estão me pedindo sinal dos estúdios… Amigas, amigos das Emissoras Latinas, aqui estamos, ainda no aeroporto do Sinai. A companhia vendeu mais passagens que assentos no nosso vôo e nos deixou em terra. Mas a espera nos permitirá conversar com Jesus Cristo, aqui, ao meu lado, sobre o abandono na providência.

JESUS - De que abandono estás falando, Raquel?

RAQUEL - O que o senhor sempre recomendou, que deixássemos tudo nas mãos de Deus.

JESUS -  “Deus proverá”, assim dizia Abraão a seu filho.

RAQUEL - Exactamente. Porque as coisas acontecem quando têm que acontecer. Por exemplo, eu tenho entrevistado o senhor todos estes dias. Essa sorte era para mim. E o que é pra ti, ninguém te tira, não é assim?

JESUS - Parece, Raquel, que está confundindo tâmaras com azeitonas.

RAQUEL - Por que eu tenho sido a única jornalista que tem te entrevistado na sua segunda vinda?

JESUS - Porque os outros se foram, porque tu e eu nos encontramos em Jerusalém. Ou já não te lembras?

RAQUEL - Lembro. E penso que Deus dispôs bem as coisas. Era… era a vontade de Deus.

JESUS - Qual vontade de Deus?

RAQUEL -  Que o senhor cruzasse o meu caminho. Para que nossa audiência o escutasse… Isso era o que Deus queria.

JESUS - Não metas Deus onde não cabe. Deus não tem nada a ver sobre tu estares lá na explanada naquele dia.

RAQUEL - Mas o senhor disse que até os cabelos de…

JESUS  - … de nossa cabeça estão contados. Porque tem gente que se angustia, se desespera… Que não vive o dia de hoje por medo do que vai acontecer amanhã. A cada dia lhe basta seu fardo, isso eu também disse.

RAQUEL - E isso não é o mesmo que deixar tudo nas mãos de Deus?

JESUS - Ao contrário. Isso é colocar tudo em tuas mãos. O que não fizeres com tuas mãos, Deus não o fará por ti. As mãos de Deus são as tuas, Raquel.

RAQUEL - Pois muitos dos seus seguidores nos ensinam: você vai bem? Você vai mal? Conforme-se, essa é a vontade de Deus. Se ganharem na lotaria, obrigada meu Deus, o senhor me deu o prémio. E se perdem o emprego, Deus meu, o senhor o tirou de mim.

JESUS - Também dirão que os pobres são pobres por vontade de Deus e que sempre terá pobres entre nós.

RAQUEL - Também dizem isso…

JESUS  - Não, Raquel. Nenhuma vontade de Deus. Quem pensa assim se parece com uma criança de colo que busca o calor da mãe para sentir-se segura. Deus é nossa mãe, sim. E não nos abandona nunca. Mas, não vê como as mães desmamam seus filhos para que comam outro alimento e cresçam e caminhem sozinhos? Na verdade te digo, a vontade de Deus é… não acreditar na vontade de Deus.

RAQUEL - E então?

JESUS - Então, continua brigando com esses filhos de… Israel, com esses homens do avião para ver quando se faz a vontade deles para podermos sair daqui.

RAQUEL - Vou fazer isso. Mas antes, despeço-me do programa. Do aeroporto do Monte Sinai, Raquel Pérez, Emissoras Latinas.

A noite foi longa. Estão estoiradas....

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 216


Foi ver no relógio da sala, conversavam na cozinha:

 - As nove passadas. E se não tiver?

 - Se não tiver? – Coçou a carapinha. – O coronel tá na roça, a mulher é ruim da cabeça, num vale a pena.

 - Que coronel?

 - Seu Melk. Tu conhece coronel Amâncio? Um do olho cego?

 - Conheço de mais. Vai muito no bar.

 - Pois também serve. Se não encontrar o dito Loirinho, tu procura o coronel que ele dá um jeito.

A sorte era a meninota não dormir no emprego. Ia para casa após o jantar. Gabriela levou o negro Fagundes para o quarto dos fundos, onde tantos meses vivera. Ele pediu:

 - Me dá mais um trago?

 - Entregou-lhe a garrafa da cachaça:

 - Não beba de mais.

 - Vá sem susto. Só mais um trago para terminar de esquecer. Morrer, matado de bala, não faço questão. A gente morre brigando, rindo contente. Judiado de faca quero não. É morte cum raiva, triste e ruim. Vi um homem morrer assim. Coisa feia de ver.

Gabriela quis saber:

- Porque tu atirou? Que necessidade tinha? Que mal te fez?

 - Pra mim não fez nada. Foi pró coronel. Loirinho mandou, que podia fazer? Cada um tem seu ofício, esse é o meu. Também pra comprar um pedaço de terra, eu e Clemente. Já tá apalavrado.

 - Mas o homem escapou. Vai ver, tu nem ganha nada.

 - Como escapou, eu nem sei. Não era o dia dele morrer.

Recomendou-lhe não fazer barulho, não acender a luz, não sair do quartinho dos fundos. No morro, a caçada continuava. O gato, passando veloz por entre o mato, enganara os jagunços. Batiam os bosques, palmo a palmo.

Gabriela calçou uns velhos sapatos amarelos. O relógio marcava mais pouco mais de nove e meia. Àquela hora já mulher casada não saía sozinha nas ruas de Ilhéus. Só prostituta. Nem pensou nisso. Nem pensou tão pouco na reacção de Nacib se viesse a saber, nos comentários dos que a vissem passar.

O negro Fagundes fora bom para ela na caminhada, junto com os retirantes. Carregara seu tio nas costas, pouco antes de ele morrer. Quando Clemente a derrubara com raiva, ele surgira para defendê-la. Não ia deixá-lo sem ajuda, com risco de cair nas mãos dos jagunços.

Matar era ruim, gostava não! Mas negro Fagundes outra coisa não sabia fazer. Não tinha aprendido, só sabia matar.


Saiu, trancou a porta da rua, levou a chave. Na rua do Sapo nunca estivera, ficava para os lados da Estrada de Ferro. Desceu para a praia. Via o bar animado, muita gente de pé.

quinta-feira, outubro 11, 2012

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A despedida que mais custa...



O MEDO
Oiçam com atenção. É preocupante. A sociedade de hoje é mais vulnerável do que parece. O capitalismo, o princípio do "máximo lucro", contem em si o gérmen da sua própria destruição. No futuro, tudo terá que ser repensado... seremos capazes?


GAROTO DE PROGRAMA DA 3ª IDADE

Sou um simpático senhor. Como tenho algumas horas livres com insónias pela madrugada e precisando de ganhar uns extras, resolvi também, ser um “velhinho de programa”.

 - Sou idoso charmoso com lindos olhos meio castanhos (pouco cobertos com cataratas).

 - Cabelos loiros (só dos lados)

 - Atlético (sou adepto, torcedor de futebol)

 - Estou curado (das doenças que tive)

 - Minhas medidas: Um metro e noventa (sendo um de altura e mais ou menos noventa de largura)

 - Se precisar atendo em hotéis, residências, elevadores panorâmicos, etc…)

 -  Só não atendo em “drive-in” por causa de dores na coluna, Lordose e Hérnnia de CD porque a de Disco já quebrou…

 - Na cama, dou sempre 3… 3 Opções Sexuais para a parceira: - Mole, Dobrado e Enroladinho.

 - Como fetiche posso usar toucas de lã, pantufas e cachecóis coloridos.

 - Outra Graaaaaande Vantagem: Já tenho Parkinson o que ajuda muito nos preleminares…

 - Além disso Total Descrição… pois o Alzheimar  faz-me esquecer tudo o que fiz na noite anterior…

A delicadeza de uma imagem feminina

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 215

A rampa fazia-se mais acentuada. Fagundes andava de gatinhas. Tinha medo agora. Não podia escapar. E ali era difícil atirar, matar dois ou três como desejava, para que também o matassem sem sofrimento, com umas quantas balas no corpo. Morte para um homem como ele. Uma voz avisou por entre os golpes de facão:

 - Vai te preparando, assassino, vamos te picar a punhal!

Queria morrer de descarga de bala, de uma vez, sem sentir. Se o pegassem vivo iriam judiar… Estremecia, arrastando-se, dificilmente pelo chão. De morrer não tinha medo. Um homem nasce para morrer quando seu dia chega. Mas se o pegassem vivo, iriam judiar, matá-lo aos bocadinhos querendo o nome do mandante.

Uma vez no sertão, ele e uns outros haviam matado assim um trabalhador da roça querendo saber onde estava escondido um cujo qualquer. Picado de faca, de punhal afiado. Cortaram-lhe as orelhas, arrancaram os olhos ao desgraçado. Assim não queria morrer. Tudo o que desejava agora era uma clareira onde os pudesse esperar de arma na mão. Para matar e morrer. Para não ser judiado como aquele infeliz no sertão.

E encontrou-se ante o precipício. Só não caiu porque havia uma árvore bem na margem, nela se segurou. Olhou para baixo, impossível enxergar. Ladeou para a esquerda, descobriu uma rampa quase a pique, adiante. O mato fazia-se mais ralo, algumas árvores cresciam. O bater de tacões distanciava-se. Os perseguidores entravam agora no mato grosso, antes do precipício. Adiantou-se para a rampa, começou a descê-la avançando para a frente num esforço de desespero. Não sentia os espinhos, rasgando-lhe a pele, sentia, isso sim, a ponta dos punhais no peito, nos olhos, nas orelhas.

A rampa terminou, a uns dois metros do chão firme. Agarrou nuns galhos, deixou-se cair. Ouvia ainda o ruído dos golpes de facão. Caiu sentado sobre o mato alto, sem quase fazer barulho. Machucou-se no braço a segurar o revólver. Pôs-se de pé. Ante ele, o muro de um quintal, baixo. Saltou. Um gato assustou-se ao vê-lo, fugiu para o morro. Ele esperou, encostado à sombra do muro.

Nos fundos da casa havia luzes. Suspendeu o revólver, atravessou o quintal. Viu uma cozinha iluminada. E Gabriela lavando uns pratos. Sorriu, não havia outra igual, mais bonita do mundo.

De como a Srª Saad envolveu-se em política, rompendo a tradicional neutralidade de seu marido, e dos atrevidos e perigosos passos dessa senhora da alta-roda em sua noite militante.

O negro Fagundes riu, o rosto inchado dos espinhos venenosos, a camisa suja de sangue, as calças rotas:

 - Eles vai passar a noite caçando o negro. E o negro aqui bem do seu, tirando prosa com Gabriela.

Riu também Gabriela, serviu mais cachaça:

 - O que tem de fazer?

 - Tem um moço de nome Loirinho. Tu conhece ele?

 - Loirinho? Já ouvi nomear. Faz tempo, no bar.

 - Tu procura ele. Marca um lugar para mim encontrar.

 - Onde vou achar?

 - Ele tava no Bate-Fundo, lugar bom para dançar. Na Rua do Sapo. Não deve tá mais Marcou oito horas. Que horas é?


quarta-feira, outubro 10, 2012

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OK!... Fixe!...Combinado!



Morreu o Nunes.

Pelas contas de um outro colega meu, o Fernando, presença assídua em todos os almoços mensais de Curso, na penúltima quarta-feira de cada mês, já lá vão catorze daquele grupo de rapazes que no início do Ano Lectivo de 1959/60 se encontaram pela primeira vez no Largo do Príncipe Real, ao cimo do Bairro Alto, em Lisboa, e foram colegas durante três anos no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina.

A lei da vida, paulatinamente, vai fazendo a sua ceifa. Os que restam, naturalmente, estão envelhecidos mas o Nunes não estava bem, muito gordo e com dificuldades em respirar… Quando me separei dele, no último almoço em que esteve presente, tive o pressentimento que era a última vez que o via, por isso, já cá fora do restaurante, no momento dos abraços e apertos de mão, fiquei parado no passeio acompanhando com um olhar de despedida a sua figura avantajada que se afastava para sempre.

 Depois disso, tivemos a informação de que estava internado no Hospital e o resto foi o desfecho esperado.

 Instintivamente, ponho o relógio do tempo a andar para trás e lá está o Nunes: jovem, bem parecido, irradiando confiança, no átrio da sala de aulas, falando alto, chamando a si as atenções, num grupo de rapaziada do qual, quase metade, já partiu.

Partir, é uma maneira dizer, está na nossa linguagem, faz parte da nossa cultura, pressupõe um destino, uma morada, um local.

Se o Nunes partiu, para onde foi? Alguém o sabe fora de uma qualquer crença religiosa? Que pensaria o Nunes sobre isto? Teria tido medo?

Mark Twain dizia:

- «Não tenho medo da morte. Estive morto durante milhões de milhões de anos antes de nascer e não senti o mais pequeno incómodo por isso.»

O Nunes fez o seu caminho, viveu a sua vida, teve essa fantástica experiência: conheceu, aprendeu e, acima de tudo, jogou com as suas emoções e sentimentos na intrincada teia das relações humanas e… chegou ao fim, sem dramas, ponto final. A sua vida prossegue nos seus descendentes.

Disse Emily Dickinson, poetisa americana: «Por não voltar jamais é que é tão doce a vida»

O Nunes teve a sorte de morrer porque viveu, coube-lhe essa rara oportunidade, veio do nada e de parte alguma e a ela regressa.

O meu colega Fernando tem uma lista mental secreta em que nos colocou a todos numa ordem cronológica para a data de “partida”. Parece maquiavélico mas para mim não tem nada de mal, tal como a morte também não tem. Ele não deseja a morte a nenhum de nós, é bom de ver, apenas procura ler sinais e a partir deles coloca-nos numa “bicha”. Ele é um rapaz divertido, tem sentido de humor… Não foi difícil, por exemplo, perceber que o Nunes era o próximo dessa lista.

A propósito do falecimento do meu colega Nunes vou transcrever, na íntegra, o epitáfio que o Prémio Nobel de 1973 pelos seus estudos em Etiologia, Richard Dawkins, destinou para o seu funeral:

- «Vamos morrer e por isso somos nós os bafejados pela sorte. A maior parte das pessoas nunca vai morrer porque nunca vai chegar a nascer. As pessoas potenciais que poderiam ter estado aqui no meu lugar, mas que na verdade nunca verão a luz do dia, excedem em número os grãos de areia do deserto do Sara. Seguramente que nesses fantasmas que nunca vão chegar a nascer se incluem poetas maiores do que Keats e cientistas maiores do que Newton. Sabemos isto porque o conjunto de pessoas potenciais permitidas pelo nosso ADN é esmagadoramente superior ao conjunto de pessoas com existência efectiva. Não obstante esta ínfima probabilidade, sou eu, somos nós que, na nossa vulgaridade, aqui estamos.”

A Vida é doce porque não volta mais…



Dificuldades em Agachar...



Ele era completamente narcisista, estilista e apanhava muito sol....

Uma manhã parou nu em frente ao espelho para admirar o seu corpo e notou que estava todo bronzeado, à exceção do "dito cujo".

Então decidiu fazer algo. Foi à praia, despiu-se completamente e cobriu-se todo de areia, menos aquilo...

Duas velhinhas vinham caminhando pela praia. Uma delas usava um bastão para ajudar a caminhar.
Ao ver 'aquela coisa' saindo da areia, a que tinha o bastão começou a dar voltas ao redor, observando.

Quando se deu conta do que era, disse:
- 'Não há justiça no mundo'.

A outra anciã, que também observava com curiosidade, perguntou-lhe a que se referia.

A do bastão respondeu:

-Olha isso!!!

-Aos 20 anos, dava-me curiosidade;
-Aos 30, dava-me prazer;
-Aos 40, enlouquecia-me;
-Aos 50, tinha que pedir;
-Aos 60, rezava por ele;
-Aos 70, esqueci-me que existia.
Agora que tenho 80, crescem no solo, e eu nem sequer consigo agachar-me.


Sou totalmente a favor do casamento gay, mas só entre políticos.
Tudo o que venha contribuir para que eles não se reproduzam é bom para todos!!!
 

Na língua portuguesa a água é femenino...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 214





- Espinhos desgraçados…
Aquela agonia continuou enquanto a noite chegava. Em certos momentos, as vozes estavam tão vizinhas que ele esperava ver um homem atravessar a frágil cortina de arbustos, entrar no buraco. Enxergava, por entre os galhos, um vaga-lume a voar.

Não sentia medo, mas começava a impacientar-se. Assim chegaria atrasado ao encontro. Ouvia conversas. Falavam em cortá-lo à faca, queriam saber quem o mandara. Não tinha medo mas não queria morrer.

Logo agora, quando os barulhos estavam começando e havia aquele pedaço de terra a comprar, de sociedade com o Clemente.

O silêncio durou certo tempo, a noite caíra rápida como cansada de esperar. Ele também estava cansado de esperar. Saiu do buraco, dobrado para a frente, os arbustos eram baixos. Espiava cautelosamente. Ninguém nas proximidades. Teriam desistido? Era capaz, com a chegada da noite. Ergueu-se, olhou, não enxergava senão as árvores próximas, o resto era negrume.

Fácil orientar-se. Em sua frente, o mar. Atrás era o porto. Para a frente devia ir, sair próximo à praia, rodear os rochedos, procurar o Loirinho. Já não estaria no Bate-Fundo. Receber seu dinheiro bem ganho, merecia até um agrado a mais, por aquela perseguição. À sua direita a luz de um poste, marcando o fim de uma subida, outro no meio. Mais além, fracas e raras, luzes de casas. Começou a andar. Mal deu dois passos afastando o mato, e a primeira tocha apareceu subindo a estrada. Um rumor de vozes no vento. Estavam voltando, com tochas acesas, não haviam desistido como ele pensara.

As primeiras tochas chegavam ao alto, onde estavam as casas. Pararam à espera dos outros, conversando com os moradores. Perguntando se ele não se mostrara.

 - A gente quer ele vivo. Pra judiar.

 - Vamos levar a cabeça para Itabuna.

Pra judiar… Sabia o que isso significava. Se tivesse de morrer, era matando um ou dois que ia suceder. Tomou novamente do revólver, esse finado devia ser mesmo importante. Se saísse com vida, exigiria um agrado maior.

De súbito, a luz de uma lanterna eléctrica cortou a escuridão, bateu no rosto do negro. Um grito:

 - Ali!

Um movimento de homens a correr. Abaixou-se, rápido, entrou pelo mato. Ao sair do buraco, rebentara galhos de arbustos, já não servia como esconderijo. Os perseguidores aproximavam-se. O negro atirou-se para a frente, animal acossado, rompendo espinheiros, rasgando a carne das espáduas, pois ia curvado.

A descida era em rampa, o mato mais cerrado, arbustos virando árvores, os pés topavam com pedras. O barulho indicava muitos homens. Desta vez não se haviam dividido, marchavam juntos. Estavam perto. O negro rompia com dificuldade o mato grosso, duas vezes caiu, agora muito ferido em todo o corpo, o rosto a sangrar.

Ouviu golpes de facão cortando o mato, uma voz comandando:

- Não pode escapar. Na frente é o precipício. Vamos fazer um cerco – e dividia os homens.

terça-feira, outubro 09, 2012

Luiz Meneghi
Amigos, estou passando este vídeo porque ele é muito emocionante. Toca-nos profundamente e parece que os mídia no Brasil não lhe deram a devida divulgação. Este homem nunca teve aulas de canto ao contrário de outros concorrentes a este concurso como Susan Boyle ou Paul Potts. Ele precisa de um milhão de visitantes para conquistar o prémio... 

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Nunca é tarde para oferecer uma rosa...



O optimista é aquele que diz:

 - "Se isto continua assim, acabamos todos na rua a pedir esmola".

E o pessimista é aquele que pergunta:


 - "A  QUEM ?!"


OS PIGMEUS
 “Por detrás dos nossos juízos morais há uma gramática moral universal, uma faculdade da mente que foi evoluindo ao longo de milhões de anos de maneira a incluir um conjunto de princípios que construísse um leque de sistemas” quem o diz é o biólogo Mar Hauser da Universidade de Harver.
No fundo, tratava-se de demonstrar que a moral com os valores que hoje são defendidos universalmente não foram conquista de uma qualquer religião nem a ausência desta dá lugar a comportamentos imorais.
Mas a este propósito vale a pena contar um episódio passado no seio de uma comunidade de pigmeus e que foi descrita por Luca Cavalli-Sforza, (professor de genética em Standford e que durante 40 anos estudou a evolução do Homem) no seu livro Quem Somos Nós.
A comunidade dos Pigmeus, os homens mais antigos do planeta, caçadores e colectores, fazem parte das últimas sociedades primitivas ainda existentes mas que, infelizmente, não têm futuro.
Estão reduzidos a pequenos grupos de indivíduos rodeados de economias monetárias, rurais e industriais que por todo o lado destroem os seus habitats e o seu estilo tradicional de vida.
De resto, todos os caçadores-recolectores actualmente existentes ainda têm costumes comuns entre si, embora estejam a desaparecer ou por extinção física ou por conversão a outros modos de vida.
Os pigmeus vivem sempre em pequenos grupos, não têm uma organização hierárquica, geralmente não têm chefes e a sua vida social baseia-se no respeito mútuo. Normalmente, têm uma ética avançada que pode constituir uma surpresa em populações de um escalão económico e um primitivismo tão baixo.
De facto, esse primitivismo não está no plano moral, simplesmente têm uma concepção do mundo e da vida muito diferente da nossa.
Quando os holandeses, chegados à cidade do Cabo, começaram a expandir-se para norte com as suas manadas, ocuparam o território dos indígenas e, dessa forma, começaram os incidentes com os locais.
Para os caçadores-recolectores o sentido da propriedade é diferente porque a propriedade individual é rara e não é muito importante.
Existem, no entanto, alguns direitos, como o do território de caça e aquele que for apanhado a caçar num território que não seja o seu tem de pagar uma multa que não é em dinheiro, visto que eles nem o conhecem, mas em géneros.
As relações dos pigmeus com os seus vizinhos agricultores não é isenta de problemas até porque eles não esquecem que os actuais terrenos agrícolas eram antigamente floresta, seus terrenos de caça, que foram convertidos através do abate das árvores, sem que lhes tivesse sido pedido qualquer autorização ou dada qualquer compensação.
Quando necessitam, os agricultores recrutam os pigmeus para trabalharem nas lavras pagando-lhes apenas com bananas e mandioca, ambas paupérrimas em termos nutritivos, e estes percebem perfeitamente que são explorados e considerados como animais e por isso, sem quebrarem relações com eles por não lhes convir, vingam-se roubando comida quando podem e pregando-lhes partidas.
Por exemplo, no regresso para os seus acampamentos têm dois caminhos: um, que eles utilizam e é um pouco escondido, o outro, maior e mais largo, destina-se aos agricultores que os vêm procurar e que eles utilizam como casa de banho cobrindo depois com folhas os seus próprios excrementos…
Mas há a história, notável, de um pigmeu que roubava bananas de noite no campo de um agricultor e, dada a persistência da ocorrência, este montou uma emboscada ao ladrão e quando ouviu barulho disparou e feriu-o mortalmente.
Antes de morrer, porém, o pigmeu fez questão de pedir desculpa ao agricultor que tinha disparado sobre ele dizendo que a culpa era sua e que não devia ter roubado as bananas.
Não consta, e este aspecto é frisado pelo Professor, que este pigmeu estivesse sob a influência ou mantivesse qualquer contacto com religiosos cristãos.
Os pigmeus são os mais hábeis e corajosos caçadores que se conhecem, juntamente com os bosquímanes do deserto do Kalahari, e essa extraordinária perícia só foi possível desenvolver a partir de um conhecimento total, no caso dos pigmeus, da floresta e de todas as formas de vida que ali proliferam adquirido ao longo de muitos milhares de anos de vivência no seu habitat.
Foram eles que caçaram os elefantes cujo marfim, nós portugueses, carregámos para a Europa desde a nossa chegada a África nos séculos XV e XVI e que eram transaccionados pelos agricultores que serviam de intermediários e que já então os enganavam.
Os pigmeus caçam à sua maneira e não precisam de espingarda.
Como se sabe, são muito pequenos e parece quase ironia que sejam os homens mais pequenos do mundo a matar os animais maiores.
Esperam pela carga dos elefantes fixando na terra uma grande lança dirigida ao peito do animal e no último momento escapam; ou então, aproximam-se contra o vento sem se denunciarem, metem-se debaixo deles e atingem-nos nos flancos, na barriga ou cortam-lhes os tendões das pernas e isto ao fim de 4 ou 5 dias de caminhada na floresta com temperaturas entre os 35 e os 40 graus centígrados e uma humidade de 100%.
Podemos então concluir, perante estas “perfomances”, que os pigmeus são os grandes mestres da caça… de admirar é que também o sejam na ética e na moral.

Já não restam duvidas: a vida veio da água.

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 213

Andou por entre as mesas, trocou palavras com uns e outros, todos sentiam estar o coronel a desafiar a desafiar uma acusação. Ninguém se atreveu sequer a tocar no assunto. Amâncio cumprimentou outra vez, subiu a Rua Coronel Adami em direcção à casa de Ramiro.

Os homens no morro haviam já varejado todas as bibocas, procurando na gruta, batido os bosques. Por mais de uma vez estiveram a poucos passos do negro Fagundes.

Subira o morro empunhando ainda o revólver. Desde que Aristóteles saltara da canoa, ele esperava o bom momento para atirar. Com o descampado do Unhão quase deserto àquela hora, decidiu-se, alvejou o coração. Viu o coronel caindo, o mesmo lhe fora mostrado por Loirinho no porto, abalou.

Um tipo o perseguiu, ele o pôs a fugir com um tiro. Meteu-se entre as árvores, a esperar a chegada da noite. Mascava um pedaço de fumo. Ia ganhar um dinheiro grande. Finalmente os barulhos estavam começando. Clemente sabia de pedaços de terra para vender, não tirava a cabeça daquilo, imaginavam botar uma rocinha juntos.

Se os barulhos esquentassem, um homem como ele, Fagundes, de coragem e pontaria, com pouco tempo se arranjava na vida. Loirinho tinha-lhe dito que o encontrasse no Bate-Fundo, no começo da noite, antes do movimento iniciar-se. Lá pelas oito horas. Fagundes estava calmo. Descansou um pouco, começou a andar para o alto, com ideias de descer pelo outro lado apenas a noite caísse, entrar pela praia, ir ao encontro de Loirinho.

Passou tranquilo ante várias casinholas, chegou a dar boa-noite a uma rendeira. Meteu-se no mato, procurou um lugar abrigado, deitou-se a pensar, esperando o escurecer. Dali enxergava a praia. O crepúsculo prolongava-se, Fagundes podia ver, levantando um pouco a cabeça, o sol abrindo um leque vermelho cor de sangue no extremo do mar.

Pensava no desejado pedaço de terra. Em Clemente, coitado, ainda a falar em Gabriela, não a podia esquecer. Nem sabia que ela tinha casado, agora era uma dona rica, na cidade lhe contaram. Lentamente as sombras cresceram. Um silêncio no morro.

Quando se encaminhou para a descida, enxergou os homens. Quase se encontra com eles. Recuou para os bosques. Dali observou-os entrarem nas casas. Seu número crescia. Dividiam-se em grupos. Um mundo de gente armada. Ouviu pedaços de conversas. Queriam pegá-lo vivo ou morto, levá-lo para Itabuna. Coçou a carapinha.

Era assim importante o cujo a quem atirara? A essa hora estaria estendido, no meio das flores, Fagundes estava vivo, não queria morrer, ia ser dele e de Clemente. Os barulhos estavam apenas começando, muito dinheiro a ganhar. Os homens, em grupos de quatro e cinco, andavam para os bosques.

O negro Fagundes entrou para o mato onde era mais denso. Os espinhos rasgavam-lhe as calças e a camisa. O revólver na mão. Ficou uns minutos acocorado entre os arbustos. Não tardou a ouvir vozes:

 - Alguém passou por aqui. O mato está pisado. Esperava ansioso. As vozes se afastaram, ele prosseguiu pelo mato cerrado. Sua perna sangrava, um talho grande, espinho mais brabo. Um animal fugiu ao vê-lo; assim descobriu um buraco profundo, tapado pelos arbustos. Ali se meteu. Era tempo. As vozes novamente próximas:

 - Aqui teve gente. Veja

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