quarta-feira, janeiro 18, 2006

A NAÇÃO/ALMA PORTUGUESA E AS PRESIDENCIAIS

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Assisti ontem a um dos mais interessantes programas de debate na TV e de todos os intervenientes a "estrela" foi, sem dúvida, o teu amigo, professor e companheiro na Blogosfera, José Adelino Maltez que ouvi com muito prazer pelos seus dotes como professor e pela qualidade da informação que passa.

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Finalmente, tanto quanto percebi, na opinião generalizada de todos aqueles senhores e senhora (o Lucas Pires está cada vez mais parecido com o pai e a Clara está, infelizmente, a perder a beleza que possuía mas não a vivacidade, o calor e a pertinência das suas intervenções), parece que a nação a que pertencemos e que tem 860 e tal anos de existência vai mesmo continuar, independentemente do deficit, das dificuldades financeiras, da baixa produtividade, do desemprego e não sei de quantas mais coisas e isso deixou-me imensamente aliviado porque, francamente, ao fim de quase sessenta e sete anos não me apetece ser outra coisa que não seja português.

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É verdade que a minha “marca” é transparente, na opinião do senhor especialista em Marketing, ou seja, qualquer coisa de indefinido que não se sabe o que é e daí a dificuldade em vender, mas isso também depende do comprador. Quando estive em África, na África profunda, as populações autóctones chamavam-me a mim e aos meus companheiros de “portugueses” enquanto que a todos os outros europeus, ingleses à cabeça, chamavam-lhes simplesmente de “brancos”.

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Esta diferença entre “portugueses” e “brancos” só foi possível de estabelecer porque a nossa marca é específica, diferente, diria mais, inconfundível aos olhos insuspeitos de pessoas que nada tinham a ver connosco do ponto de vista racial, étnico, cultural, linguístico, etc, e para os quais “português” era “português” e “branco” era “branco” e se, por hipótese meramente académica, “portugueses” e “brancos” aparecessem à venda no mercado dos povos africanos eu apostaria que a “saída” dos “portugueses” seria muito superior à dos”brancos”.

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Mas o que está à venda não são as pessoas mas o que elas são capazes de fazer e durante muitos anos dizia-se, e com verdade, que os portugueses que emigravam e iam trabalhar para as fábricas na Alemanha eram dos melhores operários mas em Portugal, não sei se por influência climática, eram indolentes, indisciplinados, faltosos, enfim o tormento dos empresários que, por essa razão, tinham necessariamente e contra a sua vontade, que lhes pagar baixos ordenados até que…um dia, os Alemães vieram até cá e os portugueses, sem que o clima se tivesse alterado, produziram no seu país, para o mundo, através da Auto-Europa, os melhores automóveis e pelos preços mais baixos deixando boquiabertos os empresários portugueses…

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De qualquer forma, afirmaram também que somos saloios, eu próprio sou neto e filho de mulheres nadas e criadas na outra banda, em Paio Pires, no Seixal… mas como não havíamos de ser saloios, no sentido de deslumbrados e de mau gosto, se durante anos a fio tudo o que era bom, bonito e de qualidade, diziam, vinha de fora, do estrangeiro…; até nós próprios vínhamos de França, mais concretamente de Paris, no bico de uma cegonha.

Ora estas afirmações não ajudam nada o nosso ego, porque "saloio" é um termo pejorativo que significa campónio, rústico, grosseiro, já não falando na “esperteza saloia” - que tem a ver com a velhacaria e a forma como todos nós tentamos ludibriar o Estado - tal como este nos engana a nós através com a burocracia, num jogo do gato e do rato, da prisão, da ameaça do protelamento do papel oficial e do imposto que é, afinal, no que se fundamenta a "estória" do Estado. Do "Estado saloio", passe a expressão. Daí a escolha deslocada e/ou indevida por José Adelino Maltez dessa metáfora, embora no seu espírito tivesse, presumo, exactamente a ideia oposta: a do saloio que se fez homem e universalista, socrático, dialéctico e, assim, cosmopolita, ou seja, cidadão do mundo - como se depreendia tão bem das suas ricas intervenções, de longe as mais abrangentes daquele programa.

Sabes, Rui, o que eu acho é que as nossas elites nunca quiseram saber de nós, não nos instruíram, bem vistas as coisas nunca nos governaram, dentro e fora das nossas fronteiras deixaram-nos por nossa conta e risco, não fossem os impostos que tínhamos que pagar e entretanto foram deixando passar a mensagem de que o povo não prestava, era sorna, matreiro, irresponsável, indisciplinado e faltoso e esta mensagem cheira um pouco a história mal contada em que a responsabilidade de uns, poucos, se esconde sorrateiramente atrás do colectivo.

Lembras-te de como o nosso Rei D. Carlos se referia ao povo de forma depreciativa? E o próprio Mário Soares que nos banhos de multidão - lhes chama coisas feias à boca pequena para o camarada do lado.

Sempre tiveram desprezo pelo povo, "cambada de saloios" que uns séculos antes não sei se com coragem, desespero ou simples espírito de aventura, lá foram até à Índia, embarcados nas Caravelas, muitos deles sabendo apenas o que o Comandante lhes ensinava à entrada para o barco: que o bombordo era o lado do barco que tinha as cebolas penduradas e que estava voltado para a costa ao longo da qual se navegava; e o outro, o estibordo, que estava voltado ao Oceano e que tinha os alhos… e lá foram, que o resto aprendia-se pelo caminho, em regime de estranha contigência e de grande coragem e muito aventureirismos, qui ça de forma ingénua...

E chegaram a África, Índia, Brasil e depois América, Canadá, Gronelândia e mais tarde à França, Alemanha e a todo o sítio onde o mundo é mundo e deixaram aqui, neste pequeno rectângulo, na ponta Oeste da Europa, onde ela mergulha no Atlântico, a República dos portugueses sim, porque alguém tinha que ficar a guardar a casa…., o que não sei é se foram os melhores.

Muito de acordo com a Clara Pinto Correia, o próximo Presidente da República devia ser um mestiço.....Nem mais!

E o que temos nós que nos identifique melhor que não seja a nossa comunidade linguística de afectos, cumplicidades e manhas, estudadas, criadas e desenvolvidas ao longo dos séculos que já levamos de existência, no sobe e desce à volta das sete colinas de Lisboa como já acontecera, noutros tempos, lembrou o professor Maltêz, em Atenas, à sombra da colina da Acrópole no cimo do qual estava o Templo como aqui temos o nosso Castelo de S. Jorge?

Não precisamos de nenhum presidente que contribua para assegurar a nossa continuidade como nação seja ele poeta, economista, político de profissão ou o que for.

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Uma comunidade de língua, afectos, cumplicidades e manhas com 860 e tal anos de existência dispensa qualquer preocupação desse género e se alguém que está dentro deste pequeno rectângulo tem dúvidas sobre isso, saia daqui, não de férias, vá trabalhar para o estrangeiro e perceberá logo que a comunidade de afectos, cumplicidades e manhas a que pertence é indestrutível.

Mobilização, dizem os entendidos, o que precisamos é de um Presidente que nos mobilize, nos incentive, que faça belos discursos, que nos comova até às lágrimas e nos leve, se for preciso, a morrer pela Pátria.

Não estou de acordo, este país sempre teve bons oradores e grandes poetas que enriqueceram o nosso espólio cultural, honraram as nossas Letras e são motivo do nosso orgulho, mas neste momento não precisamos de exaltação, ninguém nos chama para actos de heroísmo, a Pátria não está em risco, não estamos cercados por nenhum exército inimigo, o problema é outro, muito mais comezinho e dá pelo nome de estabilidade política, ou seja, crescimento, modernização e desenvolvimento económico sustentável, duradouro.

Votei neste governo e continuo a ter confiança nele. Há muitas coisas que já foram feitas, outras que estão em curso e muitas mais para fazer e não interessa se tudo foi feito da melhor forma ou da forma que nós achamos melhor, o governo precisa das nossas críticas mas precisa igualmente que o deixem governar no período da legislatura para que foi eleito com maioria absoluta porque os resultados da sua acção têm a ver com a qualidade das nossas vidas futuras e o Presidente que vier a ser eleito tem que ajudar neste objectivo de uma forma séria, discreta mas suficientemente visível para percebermos que há uma aliança sincera de propósitos.

A Clara Pinto Correia não devia ter dito mas disse que votaria no Manuel Alegre, o Adelino Maltêz, que é monárquico mas também Republicano, disse que não voltaria nele nem no laranja, o Nandim de Carvalho que é maçon e monárquico….bom, não interessa onde vai votar, o importante é que cada um vote de acordo com as suas convicções pessoais e do somatório de todas essas convicções sairá o eleito de todos os portugueses que será, como tudo indica, Cavaco Silva.

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Se pensarmos que já foi ministro das Finanças e 1º Ministro durante 10 anos, é natural que o povo lhe queira agora atribuir as responsabilidades de Presidente da República, o tal Poder Simbólico, à imagem e semelhança do que tinha já acontecido a Mário Soares, que depois de ter sido Ministro, e 1º Ministro atribuíram-lhe também as funções de Chefe de Estado durante 10 anos e só por uma “birra de velho” aparece agora a disputar novamente a Presidência da República quando, ele próprio, uns meses antes tinha, sensatamente, excluído essa hipótese de uma forma definitiva.

Sujeita-se a uma derrota que em democracia não tem nada de anormal mas que, no seu caso, era desnecessária e não constitui o desfecho condigno para uma carreira política que terá sido a mais importante no Portugal do pós 25 de Abril.

A sua extraordinária intuição política, posta à prova na Fonte Luminosa, impediu uma perigosa viragem à esquerda do país, bem como a posterior decisão de levar Portugal a integrar-se no Mercado Comum Europeu revelou-se, igualmente, perfeitamente acertada e assim é mais difícil de perceber porque não conseguiu evitar o disparate desta candidatura que nada justificava.

Cavaco Silva não é um político brilhante, não é um homem da cultura, o seu discurso é como o seu rosto, rectilíneo, sem contornos, brusco, seco, granítico, as suas palavras não nos envolvem, falta-lhe musicalidade, é dissonante, áspero, sai em esforço mas…tudo isto, que talvez não ajude, é irrelevante porque mais importante é o seu curriculum e a imagem de homem sério, rigoroso e pouco dado a politiquices para além de conhecedor profundo das dificuldades do país e, neste aspecto, aliado natural de José Sócrates nas dificuldades que ele vai ter que enfrentar.

A campanha arrasta-se já penosamente, os candidatos, cansados, à força de dizerem cada vez menos e sempre a mesma coisa, já nem sabem o que dizer. Cavaco Silva, perto da vitória, já nem diz nada para além do “ajudem-me e Viva Portugal…” não vá estragar o que está feito e deitar por terra todos os vaticínios que lhe dão a presidência.

Mário Soares é o discurso do desespero e da teimosia com o seu quê de patético. Mais uma vez, porque não se poupou ele a esta situação e não seguiu os conselhos da família e, porventura, de alguns amigos mais sensatos?

Manuel Alegre, interiormente, vive agora no antegozo de uma vitória sobre Mário Soares, máxima aspiração da sua campanha depois das hesitações iniciais que não caíram lá muito bem. De qualquer forma, ganhando ou perdendo a Mário Soares, não irá sentir-se muito bem continuando neste PS. Porque não liderar um Movimento de Intervenção Cívica no país?

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Enfim, está a terminar o ritual da democracia que podia e devia ser mais curto mas em coerência não posso queixar-me. A democracia é o menos mau de todos os sistemas políticas mas que, pelo menos neste aspecto, podia ser aperfeiçoado, sem dúvida que podia.


Evocação a Cáceres Monteiro

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No teu blog de 3 de Janeiro, no mesmo dia em que evocaste a pessoa de Cáceres Monteiro, recém-falecido, num texto em que lhe prestaste homenagem como profissional da escrita e como homem, provavelmente inspirado por esse acontecimento, escreveste um outro texto sobre a morte.

É inevitável, quando nos morre alguém que estimamos ou admiramos, logo nos apetece dissertar sobre a morte como forma de manter e prolongar entre nós a sua presença e um pouco, em desespero, sempre vamos adiantando que a morte não pode ser o fim e o nosso estimado Cárceres Monteiro - só não pode voltar a escrever mas quanto ao resto ele está invisível entre nós, como está o meu irmão e o Zézinho e só o tempo e o natural esquecimento é que os vai afastando progressivamente do nosso mundo até quando chegar, também, a nossa vez.

E é neste contexto que é compreensível a interrogação que tu lanças:”…a morte será o fim ou será a nossa verdadeira vida, a nossa verdadeira pista de 700 metros, o nosso futuro?

Não afirmamos mas perguntamos, e este alimentar da dúvida é revelador do quanto estamos agarrados à vida e quão mal estamos preparados para aceitar o nosso fim com a naturalidade de um processo de renovação que, ele próprio, é o segredo da própria vida.

As primeiras perguntas a fazer, com o seu quê de ingenuidade, seriam estas: mas por que razão haveria outro mundo? Para que serviria ele, com que lógica?

E a existir, o que nos reservaria ele?

E, neste ponto, todos sabemos como ele tem sido utilizado, creio que em todas as civilizações, como um poderoso factor de chantagem para condicionar, determinar e dirigir o comportamento dos homens na sociedade no sentido de os levar a fazer aquilo que as elites pretendem, as religiosas e as políticas em associação.

E por isso, eu penso que há perguntas que sendo reconfortantes para o nosso ego têm-se revelado perigosas, e eu não conheço outra mais perigosa que conceber a vida como uma simples e transitória passagem por este mundo - sem outra importância que não seja a de preparar a outra vida, a que se segue à morte física, essa sim, a vida verdadeira, o nosso futuro.

Começamos por nos interrogar sobre a existência desse mundo e depois acreditamos porque ele é a resposta fácil que vem ao encontro dos nossos desejos, que dá resposta às nossas angústias, que tempera as nossas dores, coloca esperanças onde elas não existem e dá sentido à vida frustrada nos seus legítimos anseios que começam por ser a de viver com um mínimo de dignidade e acabam reivindicando a felicidade… e o que não faria eu, acreditando nessa afirmação, crença que se transforma em fé, para aceder a esse outro mundo no qual uns dizem nos espera o paraíso e o paraíso é tudo aquilo que nós quisermos, incluindo sete virgens à nossa espera.

Este é o caminho que uma grande parte da humanidade vem trilhando e que constitui hoje o maior foco de instabilidade e de receio para todos os homens livres, alicerçado num projecto de poder tenebroso pelo fanatismo, destruição e manipulação das consciências pela crença num tal outro mundo que, de tão aliciante, leva um incontável número de jovens a destruírem-se a si e a milhares de outras pessoas, independentemente de quem sejam, na maior afronta que é possível fazer à vida, à vida deste mundo.

Acreditar numa vida no outro mundo ou ter dúvidas sobre a sua existência poderá ser inócuo mas tem um enorme potencial para se poder tornar numa ameaça à vida neste mundo de pessoas livres, como de resto se está a assistir nestes últimos anos pelo confronto que está a ser travado com as forças da Alkaeda.

A vida é aqui, boa ou má, é aqui e não há outra. Deveríamos assumir com humildade intelectual e sentido de responsabilidade o papel que nos está reservado pelos nossos especiais dotes de inteligência na cadeia de vida que presentemente existe sobre a terra e neste particular não me parece que nos estejamos a sair muito bem.

Arvorámo-nos em servos de deuses com representantes cá na terra e as armas com que a natureza nos dotou para sobrevivermos como espécie temo-las utilizado para nos destruirmos uns aos outros e eliminar grande parte da vida que não criámos, que já cá estava quando cá chegámos, talvez porque ingenuamente acreditámos que podemos dar cabo deste mundo porque temos o outro à nossa espera.

Dois ou três milhões de anos de evolução e uma grande parte de nós parece não querer sair do ponto de partida. As crenças primitivas continuam a exercer um enorme fascínio e os homens espertos e ambiciosos deste mundo contam com isso para os seus projectos de poder quer eles se destinem a estabelecer impérios do mal ou do bem.

Não é o Catecismo ou o Corão que as crianças deveriam aprender nas escolas, o que lhes deveria ser ensinado era como viver neste mundo no respeito por eles próprios, pelos outros e pela natureza, qual a melhor forma de conciliar estes três objectivos nos limites de uma eventual confrontação utilizando todo o manancial de conhecimentos que adquirimos ao longo dos séculos no domínio da filosofia, da política, da sociologia e das ciências da natureza.

Quanto àqueles que partem recordemo-los pelas coisas boas que fizeram, pelas más ou simplesmente porque em vida nos foram queridos.

Viveram, tal como nós tiveram a sua oportunidade, outros aguardam-na. Não compliquemos o que é simples e natural, o potencial dos nossos neurónios deve ser encaminhado para o muito que ainda há a aprender neste mundo que partilhamos.

Também eu, como creio quase toda a gente, tinha pelo Cáceres Monteiro uma grande simpatia que irradiava dos seus escritos e da sua pessoa, não voltará a escrever mas só morrerá quando o esquecermos.

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terça-feira, janeiro 17, 2006

Pequenos apontamentos (de reportagem) como diria Raul Durão...

Image Hosted by ImageShack.usA acusação deduzida pelo Ministério Público ao Isaltino Morais é grave e bem preenchida, mas será que está bem fundamentada? Será que a acusação fez bem o seu trabalho de casa, como agora se diz? Cada vez mais receio que o Avelino Ferreira Torres tenha razão quando afirmava que a lei está cheia de meandros e o que é preciso é um bom advogado que será aquilo que não vai faltar ao Isaltino, ao Todo Bom e restantes associados.

A qualidade de quem acusa em nome da “causa pública” que é como quem diz, em nosso nome, especialmente nestes crimes de colarinho branco, parece-me bastante inferior à de quem defende, e se pensarmos na diferença do que ganham defensores e acusadores, até se compreende que seja a Justiça a perder e então, a nossa, que tanto anda pelas ruas da amargura...

Sinceramente, estou céptico, como provavelmente, a maioria dos nossos compatriotas quando se trata de testes à Justiça portuguesa, mas de qualquer maneira com esta acusação as hostes do Isaltino tremem e a nossa amiga Teresa averba um pequena vitória - que ela discreta e silenciosamente vai guardar até ao dia da sentença. Mais uma vez, como diz o povo, quem ri no fim é quem ri melhor mas seja como for, bem podiam ter poupado a nossa democracia a estas cavalhadas.

Não vem a propósito mas não resisto a contar-te uma pequena passagem do artigo do Eduardo Prado Coelho no Público de hoje - a propósito de campanhas eleitorais e de debates entre candidatos ao evocar também o décimo aniversário da morte de François Mitterrand:
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-François Mitterrand era Presidente quando, em campanha para as novas eleições da República Francesa, estabeleceu um famoso debate com o outro candidato que era o então primeiro ministro - Jacques Chirac.

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Com alguma sobranceria, Mitterrand tratava sempre Chirac como: “Monsieur le primier- ministre”.

A certa altura Chirac explodiu e disse:” Não continue a tratar-me por senhor primeiro-ministro, aqui estamos no mesmo plano, o senhor é um candidato à Presidência da República, eu também, e é tudo. Ao que Mitterrand respondeu olhando bem nos olhos de Chirac:

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-Vous avez tout à fait raison, monsier le premier-ministre”...

A perversidade subtil é uma arma que só está ao alcance de um grande político, coisa que não temos por cá.

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