Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, abril 23, 2016
O dia de ontem não foi um bom dia para mim, nem podia ser quando se acaba no hospital. Cólicas, suores frios, contorsões, dores e o salvador telemóvel numa chamada SOS para a minha mulher que andava a passear com a minha neta: “estou a sentir-me mal, venham para casa!
Há uma parte menos nobre do nosso corpo que se pode dar ao luxo
de não trabalhar durante uma semana e nós não morremos. Nada que se pareça com
o coração, que só aguenta uns minutos, os rins, o fígado, partes importantes do
corpo, nada como os intestinos que se permitem greves prolongadas de vários
dias e nós, na melhor, aparentemente...
Ao fim de oito dias desabam as consequências: uns comprimidos
inofensivos, para ajudarem e acontece o descalabro... as terríveis cólicas e a
ida para o hospital.
A minha neta serviu-me, prestimosa e atenta, de amparo, preocupada,
chamou todos os nomes a quantos se puseram à frente do carro da avó quando ela
vinha para casa em meu socorro.
Eu, entretanto, já não estava amarelo, estava branco, embora me
sentisse verde...
Presente à médica o tratamento era óbvio mas, primeiro tira o
sangue para análises e lá vieram as maldades todas nas minhas desgraçadas veias
ante de me deitar na marquesa, de lado, em decúbito dorsal entregue a duas
jovens profissionais, uma pequenina outra grande, tanto uma como outra inexcedíveis
em atenções e carinho.
Reconheço que sou piegas mas nestes momentos em que estamos
frágeis apreciamos de especial maneira sentir, da parte de quem não nos conhece,
não só a competência dos seus gestos mas também a gentileza a roçar a doçura
das palavras.
Num Hospital Público, a troco do pagamento de uma simples taxa
moderadora, receber estes serviços com a qualidade com que me foram prestados,
fizeram-me sentir honrado por ter um país com cuidados de saúde, prestados por
aquelas pessoas, anónimas, em que todas elas, da primeira à última, parecem ter
sido escolhidas a dedo.
Tive sorte, poderão pensar, mas nas três vezes em que fui
operado neste hospital – Hospital Distrital de Santarém - e ontem, que está fresco na minha memória, o
meu sentimento é de gratidão para com aquelas pessoas e, pessoalmente, a aposta
num Hospital Particular, montado em Santarém há uns anos e entretanto comprado
já pela CUF, é uma aposta perdida.
Nunca o trocarei pelo meu Hospital Público Distrital.
Hoje, é para mim, o dia da recuperação porque os 77 anos também
já não ajudam muito, mas, o pior já passou, e embora não tendo sido nada fácil
e muito menos agradável, resultou num teste admirável ao amor e cuidados
extremos com que me presentearam a minha mulher e a minha neta.
Para todos vós, que me lêem, estejam atentos ao funcionamento dessa parte do
nosso corpo menos nobre que dá pelo nome de intestinos!
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)
EPISÓDIO Nº 130
Colaboração, toda a que se fizer necessário. Silêncio, mais difícil. O povo da terra é perguntador, o que não sabe inventa. Se Ascânio nada disser sobre a entrevista, o fuxico vai crescer, será pior. Não pode fazer referência a um projecto de turismo? As cogitações são nesse sentido; ele próprio, Ascânio, assim imaginara.
A ideia pareceu extremamente divertida ao Magnífico Doutor, não conteve o riso. Os olhos postos nas pacatas ruas de Agreste, através das janelas do primeiro andar da prefeitura, concordou, jovial:
- Turismo… Boa bola. Bem acahado, Senhor Prefeito. C’est drôle.
Ascânio não perguntou o motivo do riso, do ar zombeteiro do ilustre visitante, do mote em francês. Ajudou-o a enrolar plantas e projectos, a colocá-los num tubo longo, de metal, a reunir papéis, a fechar a elegante pasta negra, de executivo.
A ideia pareceu extremamente divertida ao Magnífico Doutor, não conteve o riso. Os olhos postos nas pacatas ruas de Agreste, através das janelas do primeiro andar da prefeitura, concordou, jovial:
- Turismo… Boa bola. Bem acahado, Senhor Prefeito. C’est drôle.
Ascânio não perguntou o motivo do riso, do ar zombeteiro do ilustre visitante, do mote em francês. Ajudou-o a enrolar plantas e projectos, a colocá-los num tubo longo, de metal, a reunir papéis, a fechar a elegante pasta negra, de executivo.
Na porta de saída, Doutor Mirko Stefano confiou pasta e tubo ao peso pesado postado de sentinela; notava-se-lhe o volume do revólver no cinto. Um segundo campeão, de idêntico peso, medida e carantonha, chegou correndo do bar, onde degostava uma bramota em companhia de chofer, o paletó aberto, a arma exposta.
O doutor viera desta vez acompanhado apenas de chofer e do par de alagoanos. Para desolação de Osnar e Fidélio, presentes ao desembarque, nem uma só marciana ou garota de Ipanema descera da Rural, apenas o Grande Chefe Espacial, o motorista e os dois pistoleiros.
O doutor viera desta vez acompanhado apenas de chofer e do par de alagoanos. Para desolação de Osnar e Fidélio, presentes ao desembarque, nem uma só marciana ou garota de Ipanema descera da Rural, apenas o Grande Chefe Espacial, o motorista e os dois pistoleiros.
Não deixara de ser, no entretanto, matéria para assombro e comentário pois há anos não se via em exibição nas ruas de Agreste outras armas além de facões dos roceiros na feira de sábado, e das maldições e pragas do profeta Possidônio, sendo os primeiros simples instrumentos de trabalho e servindo as últimas apenas contra os demónios e a impiedade.
Além de armados, de pouca conversa. O que veio a desalterar-se no bar não despregou os olhos da prefeitura onde deixara o colega. Osnar não se atrevera a pedir notícias de Bety, Bebé para os íntimos. Reagiu, indignado, à sugestão de Fidélio, gozador:
. Por que você não bate um papo com ele? Conte a história da polaca, conquiste-lhe as graças, descubra o que veio fazer. Mostre que é o ta.
- Vá à merda.
A mal-encarada dupla embarcou na Rural, no banco traseiro, guardando os documentos. O Magnífico Doutor apertou a mão de Ascânio, abriu-se num sorriso de velho amigo:
- Até breve, caro prefeito. Mera Cristas! Aliás, se me permite mandarei uns brindes para o Natal das crianças pobres.
Partiu a Rural, o pequeno grupo de basbaques ainda demorou-se a olhar para Ascânio, ele também ali parado meditando em tudo o que lhe fora dito e a Agreste prometido. Brindes de Natal para as crianças pobres, um festivo começo, Osnar se aproximou:
- Então, Capitão, a que veio o astronauta?
Avesso a embustes, considerado por todos um cidadão íntegro, de rígidos princípios, Ascânio viu-se de repente obrigado a mentir, a abandonar sua maneira de ser. Seja tudo pelo bem de Agreste! Embaraçado e sem jeito, respondeu:
- Que pode ser, senão turismo? – Adianta detalhe que não lhe parece matéria secreta: - Está interessado em comprar terras em Mangue Seco. O coqueiral…
- Terras do coqueiral? Puta merda, Capitão Ascânio. Vai dar uma confusão dos diabos. Até hoje não se tirou a limpo quem são os donos…
Atrapalhado, Ascânio avista Leonora na porta da casa de Perpétua, os olhos na prefeitura. Ficara de ir buscá-la, a ela e a Tieta, para o banho na Bacia de Catarina, está na hora. Despede-se às pressas.
Osnar estranha as maneiras do secretário da prefeitura: Ascânio está escondendo leite. Empresa de turismo, muito dinheiro, novidades às pencas. E se esses caras comprarem o coqueiral e a praia de Mangue Seco?
Além de armados, de pouca conversa. O que veio a desalterar-se no bar não despregou os olhos da prefeitura onde deixara o colega. Osnar não se atrevera a pedir notícias de Bety, Bebé para os íntimos. Reagiu, indignado, à sugestão de Fidélio, gozador:
. Por que você não bate um papo com ele? Conte a história da polaca, conquiste-lhe as graças, descubra o que veio fazer. Mostre que é o ta.
- Vá à merda.
A mal-encarada dupla embarcou na Rural, no banco traseiro, guardando os documentos. O Magnífico Doutor apertou a mão de Ascânio, abriu-se num sorriso de velho amigo:
- Até breve, caro prefeito. Mera Cristas! Aliás, se me permite mandarei uns brindes para o Natal das crianças pobres.
Partiu a Rural, o pequeno grupo de basbaques ainda demorou-se a olhar para Ascânio, ele também ali parado meditando em tudo o que lhe fora dito e a Agreste prometido. Brindes de Natal para as crianças pobres, um festivo começo, Osnar se aproximou:
- Então, Capitão, a que veio o astronauta?
Avesso a embustes, considerado por todos um cidadão íntegro, de rígidos princípios, Ascânio viu-se de repente obrigado a mentir, a abandonar sua maneira de ser. Seja tudo pelo bem de Agreste! Embaraçado e sem jeito, respondeu:
- Que pode ser, senão turismo? – Adianta detalhe que não lhe parece matéria secreta: - Está interessado em comprar terras em Mangue Seco. O coqueiral…
- Terras do coqueiral? Puta merda, Capitão Ascânio. Vai dar uma confusão dos diabos. Até hoje não se tirou a limpo quem são os donos…
Atrapalhado, Ascânio avista Leonora na porta da casa de Perpétua, os olhos na prefeitura. Ficara de ir buscá-la, a ela e a Tieta, para o banho na Bacia de Catarina, está na hora. Despede-se às pressas.
Osnar estranha as maneiras do secretário da prefeitura: Ascânio está escondendo leite. Empresa de turismo, muito dinheiro, novidades às pencas. E se esses caras comprarem o coqueiral e a praia de Mangue Seco?
Se fundarem um clube exclusivo, reservado para os sócios? Não, não podem fazê-lo, é impossível, as praias são propriedade do povo, inalienáveis, não é? Talvez comprem terrenos, construam hotéis, lojas, armazéns modernos… Que sabe, Bebè virá passar uns tempos no coqueiral para estudar na prática o interesse turístico das dunas e dirigir a publicidade: aproveitem a nossa oferta e venham praticar o coito carnal nas alvas areias de Mangue Seco, pagando depois em módicas prestações mensais. Mesmo não sendo polaca, Bety parece-lhe capaz de audazes cometimentos.
Um bombardeiro inglês é derrubado pelos alemães na 2a Guerra Mundial.
O piloto é levado ao hospital alemão onde é diagnosticado uma gangrena na perna direita. A única solução é amputá-la.
O piloto é informado da sua situação, e ele, estoicamente, aceita. Mas faz um pedido.
Quer que a perna amputada seja enviada para sepultamento em solo inglês. Pede então que a perna seja embrulhada, e, quando os alemães forem fazer sua próxima incursão, a joguem sobre Londres.
Os pilotos alemães acham a ideia engraçada e aceitam.
Uma semana depois, verifica-se que o problema do piloto se alastrou, e o braço esquerdo gangrena também. Ele aceita a amputação com as mesmas condições, e os alemães cumprem o combinado.
Mas na terceira semana é a perna esquerda que começa a apresentar sinais de gangrena.
O piloto inglês está prestes a aceitar a amputação nas mesmas condições, quando um oficial da Gestapo chega e proíbe o envio da perna. O piloto inglês está perplexo e quer saber o motivo da recusa.
O oficial da Gestapo responde:
- Aqui ninguém é idiota, não! Primeiro uma perna, depois um braço, depois outra perna... O que você quer mesmo é escapar!
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 248
- Zulmira não a reconheceu,
quando a viu na caverna? – perguntou.
Mem recordava-se, a bruxa
tapara a cara com o capuz, nunca mostrara o rosto enquanto tivera na presença
de Zulmira. Era ela de certeza! Por fim, perguntou como se chamava.
- Sohba...
Quando Mem regressou a
Coimbra e nos relatou esta descoberta todos ficamos espantados. A chave para
encontrar a relíqui a do conde
Henrique era a bruxa das cavernas, que era também filha de Hixam III, último
califa de Córdova, e tia de Fátima e Zaida!
Sohba, a velha mulher de
negro, tinha nas suas mãos um espantoso poder. Podia alterar o mundo político e
militar da península, se, com a ajuda de Abu Zakaria, recolocasse as sobrinhas
no trono de Córdova e podia também impedir que Afonso Henriques, príncipe de
Portugal, se apoderasse de uma relíqui a
sagrada que iluminaria a luta dos cristãos contra os sarracenos.
Para perplexidade de todos nós,
o incerto futuro de Portugal, que nesses anos começara a nascer, estava nas mãos
de uma velha e louca bruxa muçulmana!
Era preciso encontrá-la.
1130
Vairão, Outubro de 1130
Nos primeiros meses da sua
reclusão no Mosteiro de Vairão, Chamoa alimentara a solidão com a raiva que
sentia a Afonso Henriques, por este ter falhado a promessa que lhe fizera.
Ser monja fora a única forma
de o punir por aquela desconsideração tão violenta, e a rapariga toldada pela afronta
e pelo desejo de vingança, separando-se dos três pequenos filhos e dos pais.
Alimentada por uma espécie
de ira primitiva, Chamoa desapaixonara-se à força e castigara dessa forma o príncipe,
impedindo-o de possui-la, o que sabia causar-lhe dor, para além de lhe ferir o
orgulho.
Só que essa drástica reclusão
não o magoava só a ele, mas também a ela, que na sua cegueira esquecera que a existência
de uma pessoa não se esgota no desejo de atingir outra, por mais totalitário
que ele possa ser.
À medida que o tempo corria,
as suas dúvidas nasceram. Atordoada ainda pela dor da desfeita, fechara-se no
pequeno quarto do mosteiro o inverno todo, dedicando-se a múltiplas rezas e a
excessivas penitencias, mas em finais de Março, com os primeiros sinais da
primavera, começou a dar-se conta de que a clausura extrema a que se sujeitara
lhe negava os prazeres de uma viagem pelas povoações, de uma ida às feiras, de
um jantar de família, de uma conversa divertida com as amigas ou das lisonjas
dos homens.
Além disso, sofria fortes
saudades dos filhos, três meninos que recusara ver crescer, e cujas ausentes
meiguices se transformaram em duras carências.
Como fora capaz de tal
loucura, de tal arrebatamento tão vertiginoso e castrador?
Minha mulher, que no Natal a encontrara sorumbática e calada, quando a visitou na Páscoa ficou convencida de que a irmã não iria resistir muito mais tempo em Vairão.
sexta-feira, abril 22, 2016
Neste caso, Cartão de Cidadã |
CARTÃO DE
CIDADÃO
Ontem fui renovar o meu Cartão de Cidadão.
Aqui ,
em Santarém, as coisas até nem correram mal. Demorei apenas cerca de meia-hora,
porque, renovar é o mesmo que tirar de novo, embora seja tudo igual com excepção
da nossa pessoa que é mais velha uns anos. O facto de já ter sido Cidadão não
representa nenhuma vantagem, começa tudo do zero novamente.
Esta mania, muito nossa, de massacrar o
cidadão com burocracia, filas de espera, com sorte, salas de espera, senhas com
números e letras e aí estamos nós com o papelinho na mão a olhar para um ecrã...
à espera!
Mas renovar o Cartão de Cidadão, por quê? –
Há alguma dúvida que eu, aos 77 anos, não continue a ser Cidadão deste país? - Ainda se eles me renovassem a mim!!!...
Eu não gosto de discutir estas coisas da
burocracia porque há nela, quase sempre, razões escondidas que o cidadão vulgar
não alcança.
Durante toda a minha vida fui um burocrata na
qualidade de funcionário público, e, à laia de pedido de desculpas, dizia por
vezes às pessoas, que o mal não estava na burocracia... que sem ela a sociedade
seria um caos, o problema era a «burocracite» que a transformava num tormento, tal
como o apêndice que enquanto tal desempenha o seu papel e quando doente
transforma-se numa apendicite e pode levar à morte com outras complicações.
Mas o que se discute agora, não é a inútil
(?) renovação do Cartão de Cidadão mas sim a sua designação:
-
Deverá chamar-se Cartão de Cidadão ou Cartão de Cidadania?
Eu diria que isso é apenas uma questão de
semântica, de palavras... nada importante. Mas isso sou eu, ingénuo e bem
intencionado que é como quem diz: não vejo mal nas coisas. Se tivesse nascido
com o nome de Cartão de Cidadania, muito bem, nasceu com o nome de Cartão de
Cidadão, muito bem na mesma.
Fernanda Câncio, jornalista que muito
aprecio das crónicas que escreve no DN, tem uma opinião mais refinada do que a
minha e diz: “dobre a língua”, diga Cartão de Cidadania.
Quem, como eu, nasceu em 39, sabe bem como
as coisas eram então, diferentes, com graves desiguldades entre mulheres e
homens, hoje desaparecidas das leis, que não totalmente dos usos e costumes da
nossa sociedade dado o enraizado machismo.
Estou à vontade. Ao longo de quase toda a
minha vida trabalhei com mulheres e sempre lhes “puxei” pelo o orgulho da
condição feminina.
O uso do género masculino na expressão «Cartão
de Cidadão» não será ingénuo, desligado desse machismo ancestral do qual é uma
involuntária reminiscência.
Mas a língua deve acompanhar o evoluir da
sociedade e o Cartão de Cidadão deve dar lugar ao Cartão de Cidadania.
Vá, dobre a língua, como diz a Fernanda Câncio!
(Jorge Amado)
EPISÓDIO Nº 129
Preso aos lábios do doutor Stefano, Ascânio enxergou Agreste reerguido da decadência, colocado na vanguarda dos municípios do interior baiano. No céu a visão da fumaça das chaminés, pagando com juros o atraso devido à ausência da fumaça do trem de ferro, trazia ao mesmo tempo a riqueza para Agreste e um laivo de soberba a instalar-se no coração de Ascânio: à frente do progresso, a comandá-lo, o jovem prefeito, incansável batalhador.
Ao final da conversa com o enviado da directoria Provisória, quando, em nome da Prefeitura, autorizou a sociedade a examinar as possibilidades de estabelecer sua indústria em terras do município, Ascânio sentiu reviver aquela antiga ambição de estudante de Direito, do noivo de Astrud, planos de triunfo. Interesse pessoal somando-se a elevado sentimento cívico. Pessoal, não mesquinho ou desonesto.
Vislumbrou a possibilidade de construir, à base do novo progresso de Agreste, carreira de administrador e político, a levá-lo e a elevá-lo até Leonora. Carreira vitoriosa, dando-lhe as credenciais exigidas a quem deseje candidatar-se a marido de herdeira paulista, grã-fina e milionária.
Até então julgara-a inatingível, vivendo no pavor do anúncio da data de partida, do fim do acanhado idílio de silêncios e expectativas, de meias palavras e gestos imprecisos. Agora, tinha um horizonte, campo de luta, já não se sentia mísero funcionário de um burgo nas vascas da agonia pois, como afirmara poeticamente o Magnífico Doutor, raiava sobre Agreste a aurora de grandes eventos, a manhã do progresso.
Pena não poder contar o milagre a Leonora, nem a ela nem a pessoa alguma. O Doutor Mirko Stefano exigira a máxima descrição, segredo absoluto até nova ordem. Somente após a conclusão dos estudos preliminares, apenas iniciados, poderia a empresa dar publicidade à notícia auspiciosa. Uma palavra dias antes do momento exacto pode botar tudo a perder.
Se bem, à primeira vista, a região de Sant’Ana do Agreste, nas proximidades de Mangue Seco, parecesse o local ideal para a instalação das fábricas, os relatórios conclusivos dependiam ainda de um levantamento completo de possibilidades e vantagens, de análises diversas, indo da profundidade do mar na barra do rio Real ao apoio da Administração.
Novos técnicos desembarcariam logo após o Natal. Para o complicado trabalho que iriam realizar o doutor Stefano solicitou reserva e boa vontade ao Senhor Prefeito, além da necessária autorização. Eram propriedade da Prefeitura as terras à margem do rio? A quem pertenciam? A discrição impunha-se inclusive para evitar uma alta exagerada nos preços dos terrenos, tornando anti económica a utilização da área. Por ora silêncio, depois os foguetes.
Bebé abandonado...
Infelizmente, abandonar bebés virou moda. Aconteceu que um deles foi deixado na porta de uma Repartição Pública. De manhã, ao tomar conhecimento do facto, o Director emitiu a seguinte Comunicação Interna:
De: Director
Para: Recursos Humanos
Acusamos o recebimento de um recém-nascido de origem desconhecida. Formem uma comissão para investigar:
a) Se o recém-nascido é produto interno desta autarquia;
b) Se algum funcionário está envolvido com o assunto.
Depois de um mês de investigação, a comissão enviou ao Director a seguinte mensagem:
De: Comissão de Investigação
Para: Sr. Diretor
Depois de quatro semanas de investigação concluímos que o bebé NÃO PODE SER PRODUTO DESTES SERVIÇOS, pelos seguintes motivos:
a) Com os baixos salários dos funcionários, nada aqui é feito com prazer e amor;
b) Nesta autarquia jamais duas pessoas colaboraram tão intimamente entre si;
c) Aqui nunca foi feito nada que tivesse pés e cabeça;
d) Na nossa autarquia jamais foi feita alguma coisa que ficasse pronta em menos de um ano.
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 247
Tal como Hixam III, o seu
filho Hixam de Hisn Abi Cherif sentia que o califado de Córdova tinha terminado.
A dinastia dos Benu Umeyya nunca mais reinaria na Península – concluiu a
criada.
Estava encontrada a resposta
para a pergunta que nos consumira durante tanto tempo! Zulmira casara-se com
Hixam, o filho do último califa de Córdova. Portanto, Fátima e Zaida eram as
netas do derradeiro rei dos Benu Umeyya, “sangue real”, dissera a bruxa a Mem,
e assim era.
Um sangue que as tornava
perigosas, importantes rivais do califa de Marraquexe que temia que elas um dia
pudessem liderar uma revolta contra ele.
Por isso o califa Ali Yusuf
as deixara em Coimbra, doze anos antes e por isso mandara o assassin eliminá-las, bem como a Zulmira
e a Taxfin.
- Infelizmente, o canalha
berbere de Marraquexe vai continuar a tentar matar as minhas meninas! –
lamentou-se a criada.
Mem recusou aquela sombria
profecia e prometeu que Afonso Henriques nunca deixaria que alguém as magoasse,
mas a criada desconfiou.
- E vão deixar Abu Zhakaria
resgatá-las? Ele é um guerreiro fabuloso e, se casar com a Fátima podem fazer
renascer o Califado de Córdova. Não sei se os cristãos vão gostar! Mais tarde
ou mais cedo, Afonso Henriques vai perceber os perigos da existência de um
califado na Andaluzia.
Depois de um curto silêncio
Mem perguntou o que acontecera à gémea de Hixam de Hisn Abi Cherif, e a criada
contou que a rapariga enlouquecera, ainda jovem. Sempre vivera no castelo, mas
depois do acidente que vitimara o irmão desaparecera.
Nunca mais se soube dela –
murmurou a sombria criada.
O almocreve continuava
curioso e perguntou:
- Há pouco, haveis dito que o acidente de
Hixam havia sido causado por uma mulher. Foi a irmã que o matou?
A velha criada levou as mãos
à cara e começou a chorar. Depois culpou-se a si mesma, dizendo que era dela a
obrigação de cuidar da irmã de Hixam, a louca, que no seu desvario estudava
maldições e aprendera a brincar com bolas de fogo para atiçar as fogueiras.
O seu irmão Hixam proibira-a
da prática de tais brincadeiras perigosas mas naquela noite distraí-me –
confessou a criada.
Mem, com a mente a fervilhar,
perguntou:
- Bolas de fogo?
A serviçal acenou com a
cabeça, e Mem murmurou:
- A bruxa das cavernas...
Empolgado contou á mulher como
conhecera a mulher de negro, como ela o tinha ajudado, aquando da fuga das
mouras de Coimbra.
- Poderá ser a irmã gémea de
Hixam? – perguntou – A filha do último califa de Córdova?
A velha criada, atarantada,
sentou-se num banco. Contou que a louca continuava a viver na serra morena
depois da morte do irmão, num santuário de rochas, mas um dia desapareceu, mais
ou menos na altura em que
Zulmira e as meninas foram com Taxfin para Coimbra.
Contudo, a mulher continuava
relutante em acreditar que a desvairada da serra Morena fosse a bruxa que Mem
conhecera.
quinta-feira, abril 21, 2016
Creio que o problema maior de Dilma foi, de facto, o reconhecimento por parte da sociedade, intra e extra-muros, de que ela não tinha jeito, vocação ou habilidade para a governação, além das “pedaladas fiscais”, expediente financeiro utilizado pelo Governo federal assente no atraso deliberado (mas dissimulado) dos pagamentos devidos às entidades públicas a fim de manipular as contas públicas, o problema maior de Dilma foi o fosso social que ela veio a agravar entre os ricos, muito ricos e os pobres e muito pobres brasileiros.
Na raiz desse problema estão as políticas públicas seguidas,
especialmente as que tinham dimensão e efeito social imediato.
Depois, a recuperação política que ela fez de Lula da Silva,
chamando-o para a chefia da Casa Civil, na esperança de se salvar
politicamente, teve um efeito de boomerang na imagem governação, e quer Dilma
quer Lula da Silva, envolto em casos de corrupção e ocultação de património,
acabaram por ver as suas posições conjuntas ainda mais enfraquecidas junto da
sociedade brasileira. Quer os actores políticos, quer as instituições do Estado
sob seu comando, perderam autoridade e legitimidade à luz da opinião
pública.
O resto é luta política de rua e, claro, da feroz oposição nos
corredores do poder. A destituição foi aprovada por 367 deputados, suplantando
os 342 deputados necessários na Câmara dos Deputados para assegurar aquela
destituição.
O debate político no Brasil, hoje, não existe. O que existe são
ameaças e acusações de traições mutuas, ou seja, entre o Governo e os deputados
da oposição que querem a deposição de Dilma.
Uma vez o Governo derrotado na Câmara dos Deputados a luta
política é transferida para a Câmara Alta, i.é, para o Senado que tem agora a
"chave" da solução na mão.
Ninguém quer perder, e, como tal, mesmo os que querem a
manutenção de Dilma no Governo, com receio de ficarem isolados diante da
derrota futura, passam-se para a oposição à última da hora. Fazem-no por medo
de isolamento político futuro, por chantagem política ou ainda pela promessa de
recompensa de cargos, dinheiro e vantagens várias. Ou seja, não existe mais
transparência política no Brasil, toda a gente, ou quase toda a gente que conta
politicamente, é corrupt a ou corrupt ível, circunstância que não abona aqueles que são
hoje oposição e que se perfilam para ser poder amanhã.
Diante de toda esta confusão, ameaças políticas, corrupção
generalizada talvez fosse preferível censurar Dilma e exigir dela políticas
públicas com mais dimensão social e esperar até às eleições gerais de 2018,
momento em que o povo brasileiro seria chamado a renovar a sua democracia, que
hoje se encontra seriamente doente, e que este processo de destituição de Dilma
também não é a cura.
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)
EPISÓDIO Nº 127
DE COMO, PREMIDO PELAS CIRCUNSTÂNCIAS, O IMPOLUTO ASCÂNIO TRIDADE, APÓS SECRETA ENTREVISTA COM O MAGNÍFICO DOUTOR INICIA A PRÁTICA DA MENTIRA E, NA AURORA DOS NOVOS TEMPOS, ENTREGA-SE À SOBERBA, INCORRENDO DE UMA SÓ VEZ, EM DOIS PECADOS CAPITAIS
Ao término da conferência com o doutor Mirko Stefano, Ascânio Trindade sente-se outro homem. Uma hora de conversa bastara ao carismático relações-públicas para conquistar a confiança e a admiração do probo funcionário municipal. Probo e sonhador. O Magnífico exibira plantas e desenhos devidos a competentes e engenhosos arquitectos, engenheiros e urbanistas; citara números e fórmulas esotéricas; empregara termos mágicos: organograma, Know-how, insumos, mercado de trabalho, marketing, status – a prefeitura de Sant’Ana do Agreste terá status de município industrial. Ascânio deslumbrou-se.
Na porta do velho sobradão colonial, sede da municipalidade, despedindo o visitante, Ascânio Trindade assume nova condição, a de empresário. O termo é falso, correcto será dizer-se estadista. Administrador de comuna destinada a glorioso futuro de riqueza e progresso – futuro ou presente? Por ora apenas secretário da prefeitura com plenos poderes. Em breve, prefeito: os plenos poderes confirmados pelo voto do povo, unânime, segundo tudo indica.
Em determinado ponto da conversa pareceu-lhe perceber, nas discretas e sibilinas palavras do enviado da Directoria, insinuação suspeita, referência a pagamento de serviços prestados. Não entenderá bem mas, por via das dúvidas, foi logo esclarecendo que seu apoio ao grandioso projecto se devia exclusivamente aos superiores interesses do município e da pátria. Verdade cristalina: nenhum baixo sentimento, nenhuma pretensão pouco louvável na sua maneira de agir. Apenas o amor à terra natal, a seu desenvolvimento, fizera-o vibrar de entusiasmo durante a exposição do doutor Mirko Stefano, técnico, poliglota e convincente. Valia a pena ouvi-lo.
Conhecedor da natureza humana, hábil negociador, o Magnífico recuou. Sabia recuar, há tempo e ocasião para cada coisa. Por favor, caro Senhor Presidente, please, não me entenda mal. Referia-se a formas de pagamento da empresa ao município, directas e indirectas, considerando serviços remuneráveis a colaboração da prefeitura ao sucesso do projecto, ao conceder a necessária autorização para que num dos seus distritos, o de Mangue Seco, se instalasse o complexo industrial, duas grandes fábricas interligadas.
Além dos benefícios directos, arrecadação de consideráveis impostos, crescimento da renda bruta per capita, empregos para naturais do lugar, a empresa tomaria a seu cargo providenciar melhoramentos necessários e urgentes: asfaltamento da estrada, por exemplo. A empresa pressionará o Governo do Estado, o Ministério competente, se necessário, não falta prestígio aos Directores, digo-lhe em confiança, Senhor Prefeito. Construção de hotel, estabelecimento de linha de ônibus, serviço de lanchas no rio. Sem falar na área de Mangue Seco, onde se ergueriam as fábricas dando nascimento à moderna cidade operária, dezenas de residências destinadas aos trabalhadores, técnicos e funcionários. Para todo esse mundo de progresso a empresa concorrerá, graciosamente. Antes de visar lucros, os dignos Directores desejam contribuir para a construção de um Brasil poderoso, à altura da sua gloriosa missão no mundo. E viva!
Ao término da conferência com o doutor Mirko Stefano, Ascânio Trindade sente-se outro homem. Uma hora de conversa bastara ao carismático relações-públicas para conquistar a confiança e a admiração do probo funcionário municipal. Probo e sonhador. O Magnífico exibira plantas e desenhos devidos a competentes e engenhosos arquitectos, engenheiros e urbanistas; citara números e fórmulas esotéricas; empregara termos mágicos: organograma, Know-how, insumos, mercado de trabalho, marketing, status – a prefeitura de Sant’Ana do Agreste terá status de município industrial. Ascânio deslumbrou-se.
Na porta do velho sobradão colonial, sede da municipalidade, despedindo o visitante, Ascânio Trindade assume nova condição, a de empresário. O termo é falso, correcto será dizer-se estadista. Administrador de comuna destinada a glorioso futuro de riqueza e progresso – futuro ou presente? Por ora apenas secretário da prefeitura com plenos poderes. Em breve, prefeito: os plenos poderes confirmados pelo voto do povo, unânime, segundo tudo indica.
Em determinado ponto da conversa pareceu-lhe perceber, nas discretas e sibilinas palavras do enviado da Directoria, insinuação suspeita, referência a pagamento de serviços prestados. Não entenderá bem mas, por via das dúvidas, foi logo esclarecendo que seu apoio ao grandioso projecto se devia exclusivamente aos superiores interesses do município e da pátria. Verdade cristalina: nenhum baixo sentimento, nenhuma pretensão pouco louvável na sua maneira de agir. Apenas o amor à terra natal, a seu desenvolvimento, fizera-o vibrar de entusiasmo durante a exposição do doutor Mirko Stefano, técnico, poliglota e convincente. Valia a pena ouvi-lo.
Conhecedor da natureza humana, hábil negociador, o Magnífico recuou. Sabia recuar, há tempo e ocasião para cada coisa. Por favor, caro Senhor Presidente, please, não me entenda mal. Referia-se a formas de pagamento da empresa ao município, directas e indirectas, considerando serviços remuneráveis a colaboração da prefeitura ao sucesso do projecto, ao conceder a necessária autorização para que num dos seus distritos, o de Mangue Seco, se instalasse o complexo industrial, duas grandes fábricas interligadas.
Além dos benefícios directos, arrecadação de consideráveis impostos, crescimento da renda bruta per capita, empregos para naturais do lugar, a empresa tomaria a seu cargo providenciar melhoramentos necessários e urgentes: asfaltamento da estrada, por exemplo. A empresa pressionará o Governo do Estado, o Ministério competente, se necessário, não falta prestígio aos Directores, digo-lhe em confiança, Senhor Prefeito. Construção de hotel, estabelecimento de linha de ônibus, serviço de lanchas no rio. Sem falar na área de Mangue Seco, onde se ergueriam as fábricas dando nascimento à moderna cidade operária, dezenas de residências destinadas aos trabalhadores, técnicos e funcionários. Para todo esse mundo de progresso a empresa concorrerá, graciosamente. Antes de visar lucros, os dignos Directores desejam contribuir para a construção de um Brasil poderoso, à altura da sua gloriosa missão no mundo. E viva!
Pôdre de Rico...
Disseram a um Alentejano que a água do mar fazia bem às varizes.
Quando foi à praia, numa altura de maré cheia, aproveitou pra encher um garrafão. Ao passar pelo nadador-salvador perguntou quanto é que lhe devia. Este, na brincadeira, responde:
- São 50 euros…
O alentejano lá lhe pagou e sem dar tempo ao nadador-salvador para falar, foi-se embora.
Passado algum tempo voltou à praia quando estava maré baixa. Encontrou o nadador-salvador e exclamou:
- Pôrra cumpadri, que o senhor deve estar podre de rico!
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 246
Depois acrescentou:
- O príncipe de Portugal vai
ser um grande rei, só um homem assim consegue matar um assassin.
Mem continuava sem saber
responder à questão que Afonso Henriques queria ver esclarecida, e voltou a
repeti-la, o que levou a velha criada a olhar para Miguel Salomão.
-Vós sabeis... Sois letrado,
conheceis a história de Córdova.
O pároco confirmou, com um
aceno de cabeça, e Mem olhou-o, surpreendido. Ao vê-lo assim, a criada
perguntou-lhe:
- Sabeis o que foi o califado de Córdova.
Referiu que tudo o que se
dissesse era pouco. Fora o mais espantoso califado muçulmano da história, maior
do que o de Bagdad.
- Mas – murmurou a velha
criada – mesmo um grande califado acaba.
Depois da morte de Al-Mansor,
gerara-se uma terrível guerra civil, a fitna.
Em vinte e dois anos, tinham existido onze califas!
Córdova assistiu a um banho
de sangue permanente e o califado ruiu, destroçado pela corrupção, pela ganância,
pela brutalidade.
Num gesto final de
desespero, alguns notáveis da cidade procuraram o último descendente da família
que reinara quase trezentos anos, os Benu
Umeyya. Era um bisneto de Al-Rahmam e chamava-se Hixam.
- Foi o último califa de Córdova
– disse a criada.
Mem estava espantado. Agora
tudo começava a fazer sentido.
- O terceiro homem que está na Arrábida, o pai
do primeiro marido de Zulmira? – perguntou.
Hixam III reinara apenas
quatro anos, tentando apaziguar os ânimos, unir as facções, reorganizar a
administração, evitar o derramamento de sangue. Mas o califado de cordovês
estava amaldiçoado, o seu destino já fora traçado.
Como Hixam III disse uma vez,
os cordoveses nem sabiam governar-se, nem deixavam que os governassem –
murmurou a velha criada.
Sem forças para suster a
anarqui a, Hixam III renunciara ao
título de califa e deixara Córdova, retirando-se para o seu castelo na serra
morena.
Contudo, como o perseguiram,
teve de escapar para Lérida, onde viveu mais alguns anos até morrer.
Hixam III era um homem bom –
declarou a velha criada.
Os familiares trouxeram o
seu corpo para o castelo de arenito na serra Morena e depositaram-no no mausoléu,
com a cara virada para Meca.
Porém, poucos sabiam que, uns
anos antes de morrer e já depois de ter abandonado o trono, Hixam III tinha
casado em segredo e tivera gémeos. Ao rapaz dera o nome Hixam de Hisn Abi
Cherif.
O filho do último califa de
Córdova. Foi com ele que Zulmira casou – murmurou a criada.
Décadas mais tarde, os ricos
homens de Córdova tentaram convencer Hisham de Hisn Abi Cherif a recuperar o
trono que pertencera a seu pai, mas ele nunca o aceitara,
Preferiu aproveitar a
riqueza da família para viajar, cultivar-se, conhecer cidades do mundo, em vez
de liderar batalhas pela impossível ressurreição de Córdova.