Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, junho 28, 2014
MENINA DO MATO
Foi música da tele-novela "O Casarão", uma das que eu ainda vi. É de fins de 1976 mas não tenho ideia de quando passou entre nós. Eram ainda uma relativa novidade que cativavam pela qualidade dos actores de então (Paulo Gracindo, Mário Lago, Sónia Braga, Aracy ...), das histórias, com grandes autores (o nosso Jorge Amado, Lauro César Muniz,...), pelas canções (Fascinação, Nuvem Passageira, Só Louco...) e pelo trabalho de realização numa excelente combinação de planos. Esta forma de contar histórias ganhou público, mercado, como se diz agora e os brasileiros foram os mestres. Depois, a quantidade foi dando cabo da qualidade e hoje, confesso, não tenho paciência...Encharcaram quase todos os canais de televisão, seguem-se umas às outras, tornaram-se vício, alienação... doença. Esta "Menina do Mato" é uma delícia...
A "Sharia" |
Em Nome de Alá
o Misericordioso
Quando a Argélia passou aos oitavos de final do Campeonato do Mundo de Futebol, um jogador argelino levantou o punho para todo o mundo e gritou:
-
“para todos os argelinos, para todos os árabes, para todos os muçulmanos”.
Suponhamos que agora, como pergunta Miguel
Sousa Tavares, um jogador americano que também se apurou, no fim do jogo tivesse igualmente levantado o punho para o mundo e tivesse gritado:
-
“para todos os brancos, para todos os cristãos”... Caía o Carmo e a Trindade!
Mas, o que eu gostava de perguntar ao
jogador argelino que dedicou a vitória a todos os muçulmanos, era quais os
muçulmanos?
É que todos sabemos e temos visto na
televisão muçulmanos a executar outros muçulmanos para valas abertas e outros a
mostrar as mãos com os dedos cortados e o jogador argelino que levantou o punho
tem que decidir-se:
- ou dedica a vitória a um homem e
depois, a sangue frio, dá-lhe um tiro na cabeça com ele ajoelhado a seus pés,
ou a dedica ao homem muçulmano que acaba de ser assassinado pelo outro
muçulmano.
O que não faz sentido é dedicar a
vitória aos dois. E tudo em nome de Alá misericordioso...
O mundo ocidental, livre e tolerante,
estará realmente consciente do que significa viver numa sociedade gerida pela
“sharia” que proíbe tudo desde a música, o futebol, a escola para raparigas e
executa pessoas na praça pública?
Algum português, espanhol, francês ou
qualquer outro cidadão do mundo ocidental, terá a noção do que isto significa,
deste mergulho nas trevas?
O recuo a um ponto onde a humanidade
nunca esteve, nem no pior tempo da inqui sição,
nem em qualquer outro momento de outra civilização passada ou nos tempos
anteriores às civilizações, no paleolítico, quando vivamos em tribos
espreitando animais para os caçar.
Se tivéssemos que viver numa sociedade
regulada pela “sharia”, no terror da interpretação fanática de um livrinho
feita por indivíduos possuídos de uma estranha e perigosíssima doença mental
sem esperança de conseguir reverter a situação, eu advogaria o fim da
humanidade por não merecer existir como espécie.
Como escreve Miguel Sousa Tavares:
-
“Nunca agradeceremos suficientemente o facto de termos nascido do lado da
liberdade, da tolerância e do progresso” mas eles estão aí, alastrando por grande
parte dos países da África do Norte, às nossas portas, sedentos de sangue em
nome de Alá.
O António Costa quer roubar-me o poder... |
ainda vai no adro...
No Largo do Rato, as hostes do triste Seguro multiplicam os golpes baixos, as jogadas rastejantes e todas as batotas possíveis para que o seu irradiante líder possa continuar a sonhar (vá lá saber-se porquê) que o seu destino é governar-nos.
O homem prefere afundar o navio do que ceder o comando em luta frontal. Queimará as bandeiras, destruirá os mastros e o leme, passará pela espada os traidores e, quando tudo estiver perdido, anos e anos de navegação cautelosa e furtiva assim tornados inúteis, sabotará o navio, com todos a bordo.
Deve ser aquilo a que ele chama ser líder da oposição. E se, por ventura, sair vitorioso da refrega, subirá à ponte do comando da nau destroçada e à deriva, contemplar-se-à ao espelho e perguntará orgulhoso:
- "Diz-me, espelho meu, há alguém mais capaz do que eu?"
Miguel Sousa Tavares
NOTA
Li hoje num jornal um comentador que chamou de hábil a António José Seguro mas eu não concordo com o adjectivo, creio mesmo que não seria difícil levar o articulista, de acordo com o sentido do seu comentário, a substituir o hábil por habilidoso.
A habilidade, quando aplicada por um político à política torna-o hábil, quando aplicada à politiquice, baixa política, intrigas pessoais e de grupos, esquemas de poder, faz dele apenas um habilidoso da política.
António José Seguro continua a aliciar o "2º balcão do PS, a pildra", e a única coisa que não sabemos é qual a dimensão dela, mesmo sendo um partido de esquerda que deveria estar mais imune a certos tipos de discurso como o de acusar António Costa de que lhe quer roubar a liderança.
Estas afirmações do tipo "queixinhas", que não fazem nenhum sentido num processo frontal de consulta democrático, revelam a qualidade e fragilidades do Tó Zé cujo carácter de liderança pura e simplesmente não existe.
Mas, porque esse mistério todo, esse segredo? |
OS VELHOS
MARINHEIROS
(Jorge Amado)
Episódio Nº 118
Clotilde pedira-lhe segredo sobre o compromisso jurado ao luar. Queria casar-se sem convidados, sem notícias, sem festa, apenas ela, Vasco, seu irmão, sua cunhada. E, se tivesse de ser, deveriam fazê-lo em tempo breve, não aceitava noivado a demorar-se...
- O tempo de tratar os papéis...
Com ela queria voltar para Periperi, com
a esposa encontrada no mar, aquela por quem esperara tanto tempo, nas pontes
dos navios, iluminados paquetes, negros cargueiros, nas distantes rotas
solitárias.
Numa réstia de luar ela viera, rompida
para sempre a solidão, terminada a longa espera.
Capítulo um pouco tolo e muito feliz,
com direito a visitar as máqui nas e
o porão e a lançar um SOS feliz, o comandante. Feliz, a grande baqueana.
Rindo os dois pelos cantos do navio,
trocando olhares ternos e sorrisos tímidos, apertando-se as mãos às escondidas,
murmurando-se doçuras, renascendo um e outro em roubados beijos e projectos.
Ela era romântica e muito sofrera. O
sofrimento fizera-a exigente e desconfiada, sua natureza romântica adorava o
mistério. Por tudo isso, nem sequer o nome completo dissera ao comandante, era
Clotilde apenas.
Nem detalhes sobre família, além da vaga
notícia de um irmão casado e com dois filhos, em Belém, a irmã com cinco filhos
e o marido engenheiro, no Rio.
Proibira-o, ao demais, de interrogar os
passageiros paraenses sobre ela, queria colocar o seu amor à prova.
- Vou-lhe apresentar a meu irmão no
cais, em Belém. Ele
vai me esperar.
- Mas, Clô...
Conhecera uma Clô há mais de vinte anos,
loira de corpo de leite, quase pelada, não se lembrava mais se na Islândia,
entre icebergs e fiordes, ou se num castelo da Bahia, na pensão de Carol ou de
Sabina.
Havia alguma coisa de comum entre aquela
Clô de gelo e de gêiser e a virginal Clotilde; talvez os seios volumosos,
talvez um jeito infantil no falar e nos modos.
Quando dizia Clô para Cloude não podia
evitar a lembrança daquelas noites do passado, das alvas carnes inesquecíveis.
- ... lembre-se que eu não posso sair
junto com você, meu bem. Tenho de demorar, assinando papéis. É o último porto,
termina a viagem, estarei preso a bordo...
Ela adorava o mistério:
- Na hora de desembarcar lhe entrego um
papel com meu nome completo e meu endereço. Até já escrevi, está aqui ... - apontava para o decote do vestido, ao calor
do seio guardava o papel que era a chave a abrir a porta de sua família, do
novo lar do comandante.
- Fico lhe esperando em casa, pode vir
jantar com meu irmão e minha cunhada. Vou mandar fazer casqui nho de caranguejo. É até bom assim, tenho tempo
de falar com meu irmão...
- Mas, por que esse mistério todo, esse
segredo?
- Quero ter a prova de seus sentimentos.
Saber se gosta de mim mesmo e não por minha família...
sexta-feira, junho 27, 2014
Hoje, sabe-se que o negócio não chegou a concretizar-se completamente: só nos deram 2 dos 5 golos que precisávamos...
Uma senhora estava viúva há quatro anos e durante todo esse tempo não teve contacto com nenhum homem.
A filha, cansada de ver a mãe tão triste, apresentou-a a um viúvo muito simpático. Os dois acabaram por se darem muito bem edepois de seis semanas, a saírem todas as noites, o viúvo levou-a para um motel.
Ela tira a roupa e fica nua, com exceção de uma minúscula cuequinha de renda preta. Olhando para o viúvo disse:
-
- "Você pode fazer o que quiser comigo, mas aqui (apontando para a cuequinha), ainda estou de luto".
Foi um verdadeiro balde d'água fria no pobre homem.
Na noite seguinte, a mesma história. Ela tira a roupa e faz aquela mesma ladainha. Só que ela não esperava por esta. O viúvo estava nu naquela situação vexatória e com o "pilau" coberto com uma camisinha preta.
Ela olha espantada e pergunta:
- Mas o que é isso?
Ele responde:
-
- Pois é, vim dar os meus pêsames! Já posso entrar?
acabou para nós
Terminou com enorme alívio a
participação de Portugal no Mundial de Futebol no Brasil.
Pode dizer-se que tudo correu bem até ao
apito para o início do jogo com a Alemanha: a viagem, os transportes entre as
cidades brasileiras, os estágios, as acomodações nos melhores hotéis, tudo correu pelo melhor.
A equi pa
portuguesa tinha-se arrastado durante a fase de eliminação e só foi apurada à
custa dos belíssimos golos do Cristiano no jogo com a Suécia. Agora, não fora o
guarda-redes do Gana ter-se apiedado e oferecido – lhe a bola para ele marcar e
teria passado pelo Mundial completamente anónimo e num total vazio de golos.
Anónimo do ponto de vista desportivo, já
se vê, porque do mediático as suas fãs corresponderam completamente às expectativas
para delícia da Televisão que não perdeu pitada, o que foi esplêndido para as
audiências.
Entretanto, o árbitro apitou para o
início do jogo com a Alemanha e a equi pa
desmoronou-se como um castelo de cartas. Caíam para o chão como se fossem tordos
dando-nos a impressão iam presos por arames.
O descontrole nervoso do Pepe levou-o a
simular uma cabeçada no adversário. Foi expulso logo no princípio do jogo e
castigado pela Organização com um jogo o que, de acordo com o jogador, só lhe
deu razão pois, se tivesse mesmo dado a cabeçada, tinha apanhado mais jogos de
castigo. Afinal estava inocente...
As simulações de agressão no futebol não
são faltas, de acordo com o Pepe, que está a preparar-se para introduzir a
capoeira, contributo da cultura brasileira, para enriquecer e animar os jogos
de futebol...
No máximo, ao longo dos três jogos, no
todo, a equi pa terá alinhado pouco mais de meia
dúzia de jogadas com princípio, meio e fim e da vitória com o Gana que nos
tirou do último lugar do nosso Grupo é melhor não falar dela...
Parece que houve um bruxo, lá no Gana,
que tinha feito feitiço para a equi pa
do seu país ganhar. Hum...não sei o que lhe irá agora acontecer.
O nosso seleccionador Paulo Bento,
irritado, gritava para a televisão ainda antes do terceiro e último jogo que não se demitia porque não queria
demitir-se, a Federação não o queria demitir e o respectivo Presidente, que o
considerou o melhor treinador do mundo, também não o queria demitir e, para
além disso, tinha um contrato até 2016.
Ora, num país em crise, no futebol tal como
na actividade política, a defesa do emprego é primordial. Quem não compreende isto?
Tudo dignificante... mas nós, com base
na memória dos últimos campeonatos em que participámos devíamos já estar
preparados para todo este foguetório.
Eu só não digo que a televisão abusou
porque já percebi não haver limites para estas coisas e da próxima vez, se
houver próxima vez, o que não irá ser fácil pois o Cristiano já cá não estará
para levar a equi pa ás costas, ainda
pode ser pior.
No futuro, a acontecer, podemo-nos
confrontar com uma ligação de todos os canais generalistas 24 horas ao dia a
acompanhar os eventos da selecção, velando pelo sono dos nossos jogadores e metade da população a ser interpelada por
pés de microfone para nos confidenciar o que pensa da equi pa
nacional. Como se vê, o céu é o limite, se é que ele é limite para alguma
coisa...
Eu gosto de futebol, sou do Sporting
desde miúdo, como sabem, já fui sócio e só deixei de o ser porque não gosto de ser apalpado por homens para poder entrar no estádio.
Pago para ter um canal que me permite ver os jogos da Liga Inglesa, do Real Madrid e a partir de agora talvez do Barcelona livres do tédio e da irritação que era aquele tiki-taki.
Pago para ter um canal que me permite ver os jogos da Liga Inglesa, do Real Madrid e a partir de agora talvez do Barcelona livres do tédio e da irritação que era aquele tiki-taki.
O futebol é um jogo simples, não exige a
técnica do ténis, todos sabemos dar um chuto na bola e bem jogado por jogadores
exímios é um espectáculo lindo num grande palco com linhas brancas a quebrar a
monotonia do verde!
Nos modernos aparelhos de televisão com
imagens tão reais, em velocidade normal ou ao ralenti, o sofá transformou-se em
bancada central mas no estádio, empunhando o cachecol do nosso clube, revivemos
o sentimento que nos ligava à nossa antiga tribo sem a qual a nossa vida não
era sequer concebível.
De hoje em diante posso continuar a ver
o resto do Mundial de Futebol no Brasil descansado e descontraído com as minhas
preferências, é claro, mas com distanciamento, sem nada que me doa cá dentro.
Agora, que ganhe o melhor e que esse
melhor fale português.
Tomou-lhe a mão, saíram pelo outro lado... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
(Jorge Amado)
Episódio Nº 117
E contou-lhe ele também as razões desse
seu solitário viver, de não ter casado nunca. Ela chamava-se Dorothy, o
comandante trazia o seu nome e um coração tatuados no braço.
- Tatuados? Quer dizer que não
desaparece?
- Jamais. Foi tatuagem feita por um
chinês, mestre no ofício, em Cingapura.
- Quer dizer que não a esqueceu,
certamente ainda anda atrás dela...
- Ela morreu... - no minuto de trágico
silêncio, Dorothy desenhou-se ao luar, seu esguio corpo, sua febre de amor.
Morrera antes do casamento, nas
vésperas. Tinha acabado de obter o divórcio, o marido finalmente aceitara
libertá-la...
- Ah! Era casada...
Sim, era casada quando ele a conhecera e
amara a bordo do Benedict, um grande navio a fazer a rota entre a Europa e a
Austrália. Fora paixão assim quase tão fulminante e profunda quanto a que agora
sentia, a bordo do Ita, por Clotilde.
Ela ia com o marido, mas de que valem as
convenções e as leis, diante do amor? Ele largara o navio, ela o marido, tinham
desembarcado em escondido porto asiático, à espera da decisão do marido...
- Desavergonhada... Casada...
Não, não fosse Clotilde injusta, não a
julgasse mal. Porque não houvera nada entre eles, nada chegara a acontecer.
Dorothy contara tudo ao marido e só fugira porque aquele egoísta não qui sera dar-lhe o divórcio.
Não haviam ido além de castos beijos. Ela
ficara em casa de uma santa missionária, Irmã Carol, a esperar. Só após o
divórcio e o novo casamento, seriam um do outro. A própria Dorothy assim tinha
exigido.
Obtivera finalmente o divórcio, os
papéis para o casamento estavam sendo preparados, quando a febre, aquela febre
terrível da Ásia, à qual ele era imune, acabou com ela em três dias. Com ela e
com sua carreira.
Ficara como um louco, jurara não mais entrar num
navio, e, se estava agora no comando do Ita até Belém, era porque a lei a isso
o obrigava, não podia faltar ao dever solenemente prometido, quando recebera,
após seu brilhante concurso, o diploma de comandante.
Eis por que não se casara nunca, trancara seu
coração para sempre. Mas, nesta viagem...
Ela pediu para pensar. Antes de chegar a
Belém responderia, ainda estava confusa e amedrontada. Além do mais, devia
obter o consentimento do irmão no Pará. E o de Jasmim, acrescentou sorrindo...
Na noite de luar vogava o navio, céu e
mar banhados de prata e ouro. Na coberta, juntos à amurada, o comandante e
Clotilde trocavam juras de amor. Riam sem motivo, suspiravam, diziam palavras
inconsequentes, roubavam-se beijos, apertavam-se as mãos.
Até ouvirem ruído na escada e buscarem
abrigo na sombra do barco de salvamento. Na coberta apareceu outro casal.
Primeiro viram o vulto do Dr. Firmino Morais, o advogado paraense. Espiou em
redor, terminou de subir, fez um sinal, chamando. Surgiu então, de mãos
estendidas para ele, Moema, a mameluca, e ali mesmo se abraçaram e beijaram
numa fúria e pressa de danados.
- Descarada... - murmurou Clotilde. -
Ele é casado...
- O amor - respondeu-lhe o comandante -
não respeita convenções, o amor é como a tempestade.
Tomou-lhe da mão, saíram pelo outro
lado, foram-se juntar com os passageiros no salão.
quinta-feira, junho 26, 2014
Playng for Change - México Lindo e Querido
A música de raiz popular provoca dentro de nós um impacto especial...
| ||
- Tendes fome? - Pergunta Deus.
Madre Teresa acena afirmativamente com a cabeça.
Deus prepara para cada um uma sanduíche de atum de conserva em pão de centeio.
Entretanto,
a virtuosa mulher olha lá para baixo e vê os glutões no Inferno a devorarem
bifes, lagostas, amêijoas, doces e vinho.
No dia seguinte, Deus convida-a para outra refeição. Uma vez mais, o pão de centeio seco com atum da lata....
Uma
vez mais, ela vê os do Inferno a regalarem-se com uma verdadeira orgia
gastronómica...
No dia a seguir, ao ser aberta a terceira lata de atum, Madre Teresa pergunta humildemente:
- Senhor, estou grata por me encontrar a
Mas não compreendo por que só comemos pão com atum, enquanto
do outro lado comem como reis...
- Ó
Teresinha, sejamos realistas - diz Deus com um suspiro.
- Achas
que vale mesmo a pena cozinhar só para duas pessoas?
Luis Suarez, dos melhores jogadores do mundo, que está a disputar o Mundial de Futebol pela equipa do seu país, o Uruguai, é um mordedor compulsivo e ontem, contra a Itália, reincidiu mordendo o ombro do italiano Chiellini.
Dada a persistência deste comportamento, é já o terceiro adversário a ser mordido, conta-se agora que um jogador contra quem Luis Suarez estava a jogar queixou-se ao árbitro de que ele o tinha ameaçado.
- Ergueu-te o punho?
- Não.
- Apontou-te o dedo esticado?
- Não.
Então que fez ele, perguntou o árbitro.
- Sorriu-me.
Comovia-se o Comandante com tamanha nobreza de alma... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
(Jorge Amado)
Episódio Nº 116
- Não creio e tenho medo...
Mas não retirava suas mãos das mãos de
Vasco, nele estava encostada e sentia seu hálito. Sem que ninguém saiba como
sucedeu, mistério do mar em noite de lua cheia, repousou sua cabeça de bandos
no largo ombro do comandante, ornado de dragona e âncora.
Ele passou-lhe o braço pela cintura, ela
estremeceu e suspirou. Voltou-a então contra si, as bocas se encontraram e foi
prolongado beijo de lábios com longa sede a matar, de adolescentes corações com
antiga fome a saciar.
- Oh! - suspirou ela, quando, ainda nos
seus braços, pôde respirar. - O que é que eu fiz, meu Deus? Que vergonha... E
agora, que vai acontecer
- Vamos casar, se você me aceita.. .
Ela lhe contou então sua desolada
experiência, o porquê de seu melancólico celibato. Um dia amara um homem,
dera-lhe seu coração virginal, inocente depositara nele sua confiança plena.
Era um médico, muito rico, muito famoso,
chegado do Rio para Belém.
Clientela enorme, não dava conta do
serviço. O melhor partido de Belém e louco por ela. Grande conhecedor de
música, até tocava um pouco de piano, executavam partituras a quatro mãos, as
almas na música irmanadas.
Clotilde entremeava o relato com
suspiros. Ficaram noivos, juraram-se amor eterno, assentaram a data do
casamento. Ela tinha então dezassete anos, tímida e ingénua menina da
província. Entregara seu coração ao médico, confiante em sua dignidade e em seu
amor...
Que lhe teria acontecido - perguntava-se, alarmado, Vasco.
Certamente, numa daquelas noites de
piano a quatro mãos, quando a família por acaso não se encontrava presente, ele
abusara de sua ingenuidade de menina, fizera-lhe mal e fugira depois... Deixando-a
com sua decepção e sua vergonha.
Mas nada tinha a recear. Ele não iria
respeitá-la menos, ao contrário. Cresceria seu ardente amor, se reforçaria a
decisão de lhe oferecer sua mão de esposo...
Confiante em sua dignidade e em seu
amor... Mas os homens são falsos, pelo menos quase todos... E, imagine ele o
que acontecera!, nas vésperas do casamento... Não gostava de falar naqui lo, era reabrir chaga mal cicatrizada, ainda sentia
o coração magoado: descobriu que ele desencaminhara, no Rio, uma jovem, moça
pobre, costureirinha.
A
infeliz tivera um filho e ele mandava-lhe dinheiro todo mês. Ao saber do
noivado e do próximo casamento, a desgraçada lhe escrevera uma carta, a ela, Clotilde,
contando-lhe tudo e colocando-lhe nas mãos o seu destino e o do filho.
- Que podia fazer? Despedaçando seu coração,
rompeu com o médico, exigiu que ele voltasse ao Rio e casasse com a mãe de seu
filho. Ele o fizera, hoje é médico célebre no Rio, rico e importante, todas as
tardes está no Jockey Club. A costureirinha transformou-se em grande dama.
... Quanto a ela, jurara não casar nunca, não
voltar a abrir seu coração para homem nenhum... Jamais voltara a olhar face masculina.
Mas, nesta viagem...
Comovia-se o comandante com tamanha
nobreza de alma, tanto desprendimento. Não era digno dela, sequer de beijar a
fímbria de seu vestido. Mas, como o amor eleva o ser humano, ele elevava-se até
seus olhos, sua face, sua boca, insaciável, os beijos sob o luar.
quarta-feira, junho 25, 2014
IMAGEM
A Federação
Portuguesa de Futebol não vai recorrer aos serviços da TAP no regresso a
Portugal. Em vez disso optou por alugar um Ilyushin Il-76MD à força aérea
da Rússia. Trata-se de um avião hospital que pode trazer os lesionados da equi pa portuguesa e até pode ser que tenha quartos
individuais para internamento do Presidente da Federação, do João Pinto e do
Humberto Coelho.
Jesus Cristo, cansado do tédio do Paraíso, resolveu voltar à Terra para fazer o bem.
Procurou o melhor lugar para descer e optou pelo Hospital de S. Francisco Xavier, onde viu um médico a trabalhar há muitas horas e a morrer de cansaço.
Para não atrair as atenções, decidiu ir vestido de médico. Entrou de bata, passou pela fila de pacientes no corredor até atingir o gabinete do médico. Os doentes viram-no e comentaram.
- Olha, vai mudar de turno...
Jesus Cristo entrou na sala e disse ao médico que podia sair, dado que ele mesmo iria assegurar o serviço.
E, decidido, gritou:
- PRÓXIMO!
Entrou no gabinete um homem paraplégico que se deslocava numa cadeira de rodas.
Jesus Cristo levantou-se, olhou bem para o homem, e com a palma da mão direita sobre a sua cabeça disse:
- LEVANTA-TE E ANDA!
O homem levantou-se, andou e saiu do gabinete empurrando a cadeira de rodas.
Quando chegou ao corredor, o próximo da fila perguntou:
- Que tal é o médico novo?
Ele respondeu:
- Igualzinho aos outros... nem exames, nem análises, nem medicamentos... Nada!
Só querem é despachar...
A Dª Claudete |
Dª Claudete
Na terça-feira. D. Claudete, 92 anos, saco de compras na mão, vinda do supermercado, finou-se em pleno passeio público, com um AVC fulminante.
D. Claudete vivia sozinha. A irmã, um pouco mais nova, está moribunda no hospital há meses. Resta uma sobrinha, desempregada.
Foi ela que tratou do enterro. D. Claudete tinha uma reforma de 200 euros e nenhuma poupança. O subsídio de funeral foi cortado. A sobrinha, sem dinheiro, teve de optar pelo funeral em campa rasa.
No Alto de São João, vai D. Claudete em seu caixão de pinho, quando um funcionário do cemitério tenta pregar um número identificativo no esqui fe. O homem da funerária impede-o. "O caixão é para devolver", diz. O funcionário acompanha então o escasso cortejo, de quatro pessoas, com um pau na mão e em cima o número identificativo.
O padre, por sua vez, pergunta se as quatro pessoas presentes são católicas praticantes. Nenhuma é. O padre decide então que não vai acompanhar o féretro. Um dos presentes explica ao padre, com alguma irritação, que ele está ali por causa da senhora, católica praticante, e não pelos presentes, e que é sua obrigação acompanhar D. Claudete à sua última morada.
O padre permanece na sua recusa, até que a mesma pessoa lhe pergunta quando custa ir até à campa rasa. 150 euros, responde a santa alma. Recebido o dinheiro, o padre decide-se então a avançar.
Há uma escavadora que vai abrindo buracos, que hão de servir de campas rasas, uns a seguir aos outros. Há terra revolvida e, com a chuva, muita lama. Os sapatos enterram-se na lama que há de cobrir os mortos sem posses.
Chegada à sua última morada, D. Claudete é retirada do caixão e colocada no fundo da campa, através de cordas. O padre, contrariado, lembra que do pó viemos e ao pó voltaremos. Os coveiros cobrem rapidamente de terra D. Claudete. O funcionário espeta o pau com o número da campa de Dª. Claudete.
Ao lado, outras cinco covas esperam os seus destinatários. A escavadora não para. Paf! Paf! Paf! Contas por alto, só nesse dia havia 45 covas aguardando os donos a quem o progresso da nação não bafejou.
O homem da funerária leva o caixão para futuros interessados. Um amigo da sobrinha desempregada paga parte dos 1100 euros que custa, ainda assim, um funeral em campa rasa.
Está uma chuva miudinha. Os sapatos estão cheios de lama. Os quatro acompanhantes de D. Claudete regressam lentamente à vida.
Entre eles, não está o ministro das Finanças, que não foi ao enterro porque não conhecia Dª. Claudete, nem conhece milhares de outras Dª. Claudetes que, um dia destes, se vão finar subitamente no passeio público ou em casa na solidão. E que só poderão ser enterradas em campa rasa, porque o subsídio de funeral foi cortado e já nem chega para tanto.
(Nicolau Santos do Semanário Expresso)
NOTA
Não me parece justo fazer recair sobre o Ministro das Finançaso odioso das circunstâncias em que ocorreu o funeral da Dª Claudete, é apenas uma força de expressão.
No nosso país, a sociedade está em retrocesso. Corta-se no subsídio de funeral como se corta em todos os outros subsídios pela simples razão de que não há dinheiro e os apoios sociais não são prioritários.
Prioritários, são os juros da dívida monstruosa a que chegamos e a grande injustiça está no facto da Dª Claudete, completamente alheia a essa dívida, ser agora vítima dela a favor dos credores.
Esta é a sociedade a que chegamos e não podemos esperar nada de diferente. Fez a Dª Claudete muito bem em morrer, assim, de repente, no meio da rua, atirando-lhes no rosto a sua vida. Tomem lá!...
A Dª Claudete não cantou a Grândola Vila Morena em sinal de protesto. Não tinha forças, estava esgotada. As pessoas que poderiam ter chorado de tristeza no seu funeral há muito que já cá não estão. A Dª Claudete tinha-se esquecido de morrer.
Aos 92 anos, só e na miséria, teve que ser a morte a apiedar- se dela. O corte no subsídio de funeral já não lhe diz respeito. Ela é apenas um corpo em deterioração. O ritual fúnebre que lhe fizeram revela a pouca dignidade que demonstramos para com os nossos velhos mas, se não somos capazes de cuidar deles em vida, em especial as famílias, como havíamos de lhes proporcionar funerais dignos?