Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, maio 16, 2015
Bee Gees - Massachusetts
"Massachusetts" é um single
dos Bee Gees, lançado em 1967. Foi a música mais bem-sucedida dos Bee Gees nos anos 1960. Alcançou o 1º lugar em
mais de dez países, e tornou a banda um fenômeno. Onde não foi lançada como single, se transformava em um EP. Só não animou muito o mercado
dos EUA. Lá só alcançou a
undécima posição nas paradas de sucessos.
Segundo Barry Gibb, "a
música é, basicamente, uma força do contra... 'Não vá a São Francisco, volte
para casa'... Não queríamos escrever sobre alguém que sofre porque uma pessoa
querida partiu para São Francisco. Queríamos o oposto. 'As luzes todas se
apagaram em Massachusetts' porque todos partiram".
Segundo Robin Gibb, "na
música eles não falam de gente voltando para Massachusetts. Esse personagem da
canção representa todas as pessoas que querem voltar para alguém ou algum lugar.
É sobre todas as pessoas que querem fugir".
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TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 246
Bernarda ouviu o apaixonado arroubo do
adolescente, tratou de dissuadi-lo de tais loucuras, projetos absurdos. Mas o
fez sem menoscabo e até lhe agradeceu a distinção:
- Qualquer um pode lhe dizer por que não
quero nem ouvir falar uma coisa dessas...
- E por que tu não me diz, com tua boca?
- Pois lhe digo: tenho um homem e gosto
dele. É por isso.
Aurélio qui s
detalhes porém Bernarda se calou. O mais, ele soube por terceiros: caia fora,
menino, deixe a rapariga em paz, ocê corre o risco de passar uma vergonha, de
sofrer uma desfeita.
O capitão Natário da Fonseca? Um
ferrabrás? Menos por medo do que por gratidáo, Aurélio engoliu os planos,
vomitou o desgosto - pela mão e sob a égide do Capitão, a família dos sergipanos
tinha vindo se estabelecer em
Tocaia Grande.
Provações da mocidade, cabeçadas,
desatinos: assim se amadurece, no padecimento e na paixão.
Retornou ao favor das putas,
convalescente. Depois Cão despontou no horizonte, completando a cura. Viu-se o
jovem Aurélio a cercar a maluqueta com o afinco que lhe era peculiar, propenso
a viver com ela sem se importar com a leseira.
Ção deixava-se bolinar, fogosa e fácil,
permitindo quase tudo, mas, na hora da decisão, escapulia. Aurélio ficava tão
arretado a ponto de propor-lhe amigação, para pôr fim àquele abuso.
Atribuía a firmeza da recusa ao medo da
menina de se ver fodida e abandonada, na casa do sem jeito: não lhe negava
razão.
Um dia, quando menos esperava, Ção
deixou-se possuir. O entusiasmo da vitória malogrou-se em decepção ao constatar
que ela já não era virgem. Enfurecido, Aurélio tentou obrigá-la a dizer qual
dos dois, Zinho ou Durvalino, havia alcançado a meta que ele tanto perseguira e
desejara: comer-lhe os tampos.
Não obteve resposta: Ção só fazia rir e pedir mais.
Por vias travessas veio a saber que o rapa-tábuas e o caixeiro tinham sofrido
desilusão idêntica, feito a mesma e inútil pergunta - qual dos dois? sem obter resposta.
Diante do que, sem prévio acordo, cada um
continuou a derrubá-la nos matos: ela dava abasto aos três e a rir pedia mais.
Em Isaura, jamais pousara olhos de
interesse. Os roçados de
Zé dos Santos começavam onde terminavam
os de Ambrósio, a casa de farinha elevava-se na divisa, Aurélio via Isaura diariamente, era como se não a visse. Aos dezoito anos, apesar do açodamento, Aurélio
ainda não chegara à idade de assentar a cabeça e estabelecer família. Aos
dezesseis, Isaura começava a ultrapassar o tempo certo.
Imagem de marca de Fátima: tristeza e humilhação |
Fátima
- A enganar pessoas
desde 1917
desde 1917
Há dois dias atrás,
no último dia 13 de Maio, a Televisão voltou a inundar-nos com as imagens das
peregrinações a Fátima desta vez agravadas com a morte por atropelamento de
cinco peregrinos.
Vi de relance, com
tristeza, crentes a arrastarem-se de joelhos até à Cova da Iria naquela que é a
imagem de marca de Fátima.
A hierarqui a da Igreja exulta com estas manifestações de fé
que constituem a maior garantia de que estão assegurados fiéis e dinheiro, para
o Santuário, para a Igreja portuguesa e para a de Roma que, entretanto, já
confirmou a visita do Papa Francisco.
Longe vai o ano de
1917 quando Portugal estava sob uma vaga anticlerical da 1ª República mas mesmo
assim o país era nessa altura mais dado a misticismos do que é agora.
No 14 de Outubro
desse ano escrevia-se no Século Cómico, Suplemento Humorístico do Século:
- “Conservamos a nossa habitual indiferença,
como se a aparição da mãe de Jesus Cristo fosse para nós a coisa mais natural
deste mundo. Vimos passar para a charneca centos, talvez milhares de
peregrinos, crentes, curiosos, amadores de picnics, vendedores de água fresca e
capilé, repórteres e vendedores de vinho a retalho.”
E o que dizer da
conversa entre Nossa Senhora e Lúcia, dos três pastorinhos a única que era espertalhuca
e vivaça?
- “Quero que façam aqui uma capela em minha honra, que sou a Senhora do
Rosário e que continuem a rezar o Terço todos os dias.”
Francisco, o
pastorinho mais frágil da saúde definha-se em vida porque deixou de ir à escola
por penitência, isolava-se, deixou de comer para sofrer pelos pecados dos
outros.
Aproveitando a
oportunidade para recuperar da tal vaga anti-clerical imediatamente a Igreja
lançou a “Cruzada do Rosário” que consistia em rezar o Terço, comungar ao
Domingo, orar pelo sucesso da Cruzada e ter em casa uma Imagem da Nossa
Senhora.
Na aldeia dos meus
avós, era eu ainda muito jovem, recordo perfeitamente essa Imagem que andava de
casa em casa de um grupo de senhoras entre as quais a minha avó e as minhas tias
e primas de mais idade.
Foi assim, de acordo
com o historiador católico Costa Brochado que começou o Mês de Maria:
“Os ímpios tenham
motivos para supor a Igreja derreada mas eis que ela se ergue mais forte e mais
bela do que nunca, lançando-se à reconqui sta
da cristandade com a arma singular do Terço.”
Fátima foi,
inicialmente, uma acção de propaganda de intelectuais católicos encavalitados
na fé do povo ignorante.
Não é preciso ser
psicólogo ou vidente para perceber aqui lo
que Lúcia diz ter visto e ouvido:
- “Sobretudo aceitar e suportar com submissão
o sofrimento que o Senhor nos enviar”- reflexo da forma como
aquelas crianças, naquele Portugal viviam a religião:
- “um Deus que ralha e castiga e exige”.
- “um Deus que ralha e castiga e exige”.
sexta-feira, maio 15, 2015
IMAGEM
A Medalha Comemorativa da passagem dos meus 50 anos da guerra em que participei em Angola. Assinalados no Mapa estão Úcua e Cazombo os locais onde estive a Norte e a Leste. A Companhia estava em Cazombo enquanto eu, com o meu pelotão de "nortenhos", fiquei destacado mais a Sul na povoação do Lumbala, encostado à margem esquerda do Zambeze, na companhia do simpática e acolhedora do povo Luena nos 15 meses mais descontraídos e felizes da minha vida. Assim foram os meus Natais de 1963/4/5. É possível ser feliz em qualquer parte do mundo, com qualquer povo, vivendo-se em paz . A guerra começou naquela região depois de virmos embora por iniciativa do MPLA.
A fotografia já tem a "patine" do tempo, como pertence.
Roxana Suarez & Sebastian Achaval - No hay terra como la mia
De acordo com recentes pesquisas, no final do século XIX, só a
capital Buenos Aires contava com mais de 200 casas de prostituição. A procura
pelas prostitutas era tão grande que os homens faziam fila à espera de fácil
prazer sexual. Foi quando, a grande circulação de pessoas nas casas de
prostituição argentinas deu espaço para a encenação de números musicais enquanto
os clientes esperavam a sua vez. Nesse instante, apareciam grupos que
intercambiavam suas distintas experiências musicais. A polca européia, a
havaneira cubana, o candombe uruguaio e a milonga espanhola firmaram o
nascimento do tango argentino.
OLHE PARA OS PÉS, NÃO HÁ UM ÚNICO
PASSO ERRADO (abra o ecrã)
PIRILAMPO
Era uma vez uma
cobra que começou a perseguir um pirilampo que só vivia para brilhar.
Ele fugia muito depressa com medo mas a cobra não desistia de o perseguir, um
dia, dois dias e nada, ela não desistia.
No terceiro dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir precedentes para ninguém mas como te vou comer,
podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa de mal?
- Não.
- Então por que me queres comer?
- Porque não suporto ver-te brilhar!!!
O interior da vida de Sócrates desperta cada vez mais curiosidade. Preso preventivamente, com indícios incriminatórios que se vão acumulando, Sócrates é já, neste momento, considerado culpado na opinião pública antes ainda do julgamento em Tribunal.
Foi o político que
concentrou maior quota de poder na democracia portuguesa depois de uma maioria
absoluta que venceu com 45% do eleitorado a favor e 2.500.000 votos. Foi reconduzido no
poder depois de ter perdido essa maioria absoluta, o que, politicamente,
ser-lhe-ia fatal a ele e ao país.
Votei nele para a
maioria absoluta mas já não lhe dei o meu voto na 2ª eleição em que teve
maioria relativa.
No dia em que fez o
seu discurso de despedida, antes de ir estudar para Paris, senti com alívio a
sua saída mesmo sabendo que não vinha lá nada de bom.
Há muito que ele era
um homem acossado, nervoso, intranqui lo,
inseguro, por detrás de toda aquela capa de certezas e convicções, o que me
confrangia.
O que torna estes
homens perigosos para a sociedade, e estou a pensar em Sócrates como, do mesmo
modo, penso em Passos
Coelho , é a teimosia, a ausência de humildade intelectual e
democrática.
Investidos no poder, se já se sentiam com “razão”,
muito mais se convenceram pelo simples facto de terem sido escolhidos pelos
seus pares que lá o colocaram.
Estes homens sofrem de narcisismo, vivem apaixonados por eles
próprios, uma paixão inabalável, não daquelas que dão e passam mas das que
sobrevivem até à morte com todos aqueles defeitos próprios das paixões.
Se algum de nós se apaixonou na vida por alguém, sabe, por
experiência própria, que esse alguém lhe parecia puro e isento de defeitos.
Tratando-se de políticos narcisos a coisa é muito mais grave e
perigosa porque é toda uma sociedade que vai com eles, que se deixa arrastar.
Sentir-se com “razão” é indispensável a um político. Ninguém
pode almejar a líder político se não sentir dentro de si a força da “razão” que
possui.
- Querem destino de maior
risco do que este?
- Não é verdade que Sócrates distorceu a realidade até aos
limites do possível para fazer vingar a sua “razão”?
- Não é verdade que
Passos Coelho está a distorcer a realidade portuguesa para provar que tem razão?
Na qualidade de cidadão tenho medo destes homens que se sentem imbuídos de uma áurea, uma espécie de destino divino que contamina a “máqui na” que teve a sagacidade de os escolher para os seguir no poder e beneficiar dele.
Tal como Passos Coelho, Sócrates também tem o culto da
personalidade. Se o mundo está contra ele é o mundo que está mal, por isso, Sócrates,
está “Cercado Mas Não Vencido” pela simples razão de que estes homens nunca se
deixam vencer.
Hoje joga a “ponta esquerda, na equi pa
de futebol dos seus colegas da prisão de Évora vivendo mais um período de heroísmo
da sua vida, tal como Nelson Mandela, por exemplo, porque a personagem
inebriante que vive nele diz-lhe que ele é um herói.
quinta-feira, maio 14, 2015
Roberto Carlos - Lady Laura
Roberto Carlos não pára. Com 74 anos, continua a gravar em média um disco por ano. Está em Portugal para quatro concertos, um dos quais é hoje à noite em Lisboa onde irá cantar, de certo, esta canção.
Disposto a casar com ela na primeira igreja. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Sampaio)
Episódio Nº 245
O que outrora acontecera, dando-lhe nome e renome, foi antes do princípio; antes de existir qualquer vivente no lugar.
Não obstante quem ali visse a luz
primeira, nascia carregando na cacunda a marca do sangue derramado, a memória
da morte e dos defuntos.
4
É certo que ninguém levava a sério a
barriga estufada de Ção, menina-e-moça. Motivo apenas para
risos de chalaça e obscenos comentários. Na ambição de um filho, a pobrezinha
enfiava maços de capim seco embaixo do vestido para que a imaginassem prenha,
esperando menino.
Num domingo apareceu na feira exibindo
ventre desmedido e estranhamente buliçoso. Sentou-se no chão em meio ao povo e,
entre risadas e galhofas dos assistentes, pariu um bacorinho e em seguida, ali,
diante de todos, abaixou o decote da blusa esfarrapada e tentou lhe dar o seio
a mamar, feliz da vida.
5
Ao chegar a Tocaia Grande, árdego
mocinho beirando os dezoito anos, ingênuo e apetitoso, Aurélio perturbara o
juízo de um punhado de raparigas: redes e esteiras puseram-se à sua disposição,
no gratuítes.
Encantado, folgou na mercê das putas até
o dia em que, tendo conseguido as moedas necessárias, pagara uma metida com
Bernarda.
Planejara tê-la por uma noite inteira, mas a
difícil, desde que lhe nascera o filho e voltava a exercer, limitara as obrigações
do oficio a pernadas em horário reduzido: entre as mamadas do menino e nunca
após a meia-noite.
Ainda assim a rápida função foi
suficiente para deixar Aurélio caído pela rapariga, embeiçado. As outras
deixaram de representar para ele qualquer interesse. Ção, que iria renovar seu
empenho, ainda não vivia em
Tocaia Grande.
Infernou a vida de Bernarda, não lhe
saía dos calcanhares, só faltava roubar para conseguir reunir o montante com
que se candidatar à cama de campanha mesmo para uma breve pingolada.
Soube, em conversa no intervalo da
devoção, que ela admirava o som do cavaqui nho,
tanto bastou para que iniciasse com um dos cabras do depósito de cacau, tocador
apreciado, o aprendizado do instrumento. Dedicava todas as horas livres à
rapariga, insistia em vê-la, até a ajudava no trato do menino Bernardo: tinha
o nome da mãe, já que não podia ter o do pai.
Quando Bernarda, sem sequer se dar por
isso, amamentava a criança na porta da casa de madeira, o último peito da tarde
- as quatro horas seguintes dedicadas a ganhar a vida - Aurélio ficava de tal maneira indócil que a rapariga
deixou de fazê-lo em sua frente.
Não eram decorridos dois meses da chegada dos
sergipanos ao lugarejo quando Aurélio propôs-lhe vida em comum e foi mais
longe: se ela assim desejasse poderiam ir-se de Tocaia Grande, viver em sítio mais adiantado
onde houvesse padre.
Disposto a casar com ela na primeira igreja
que encontrassem, a ajudá-la a criar o filho. Como se fosse dele.
Ou Quê?
O sujeito vai ao médico para pedir conselho:
- Doutor, minha mulher não
quer mais fazer amor comigo há mais de sete meses!
- Bom, peça para ela marcar
uma consulta, para que possa fazer um diagnóstico.
A mulher vai ao médico e
este lhe pergunta por quê ela não quer mais fazer amor com o marido.
Ela explica:
- Há sete meses eu apanho
um táxi para ir para o trabalho. Eu estou sempre sem dinheiro, então o
motorista pergunta-me:
- 'E aí, vai pagar o taxi
ou quê?'
Eu, como nunca tenho
dinheiro, opt o pelo 'quê',
entendeu...???
Por causa disso chego
sempre atrasada ao trabalho, e então o meu chefe pergunta:
- 'Você quer que eu reduza
o seu salário ou quê?'
Quando eu volto do trabalho, apanho outra vez o táxi e o motorista volta a perguntar:
'Vai pagar desta vez o táxi ou quê?'
É mais um "quê".
Então quando eu chego em casa eu não tenho a mínima disposição para fazer sexo com meu marido...
Diz então o médico:
- Entendo perfeitamente. Bom... e agora? A gente conta para o seu marido ou quê !!!!!!
É curioso verificar como o percurso histórico dos países não só
se conta através das batalhas, lutas religiosas e políticas, da ambição e
rivalidades dos seus líderes, mas também pela força da interferência de um
pequeno tubérculo, pobre e desprezível que nem sequer aparecia à mesa dos
nobres: a batata.
Na Irlanda do Norte foi considerada a base da alimentação a
partir do Séc. XVII e quando uma doença atacou a planta da batateira deu lugar
à Grande Fome, entre 1845 e 1847, com uma redução da população irlandesa que
chegou aos 25%, pela emigração e as mortes provocadas.
A doença da batateira também chegou a toda a Europa,
simplesmente, havia 1/3 de irlandeses que dependiam totalmente das batatas e
por isso o impacto foi terrível naquele país.
Julgo que essa doença, ao que parece um fungo, recentemente
descoberto nas plantas com mais de cem anos guardadas em herbários, era o míldio
da batata tão conhecido e combatido todos os anos pelos donos das vinhas no
Ribatejo.
Em última análise não fosse a batata, ou melhor, a doença da
batateira e os EUA não teriam tido um Kennedy como Presidente... mais de um milhão de irlandeses fugiu para a América do Norte por causa da fome da batata.
Em Portugal a batata entrou pelo Norte, nos fins do Sec. XVIII,
oriundas da Galiza e talvez por isso também lhes chamavam castanholas mas o que
é facto é que são os nortenhos ou eram, os grandes apreciadores de batatas.
Hoje, com a adopção dos hamburgers e dos Mcdonald’s pelas gerações
recentes, perante a cedência dos pais, os sabores tradicionais estão em
decadência a favor das comidas enlatadas a que também chamam de plástico, com a responsabilidade dos grandes espaços comerciais e dos grandes retalhistas que acabam por "impor" os seus produtos condicionando produtores e consumidores.
Como sabem, eu sou lisboeta e nesta região do país comia-se mais
arroz e massa para acompanhar o conduto, especialmente a carne mas o grupo de
soldados que me acompanhou na guerra de Angola era praticamente todo
constituído por rapaziada do Norte.
A sua preferência pelas batatas rivalizava com a dos irlandeses.
Isolado que estive com eles nos confins de Angola dependia dos géneros que a
Companhia me enviava e de alguma caça que apanhava e distribuía também pelas
populações minhas vizinhas.
Quando a Berliet chegava ao meu acampamento era olhada pelos
soldados com desinteresse se, por acaso, não viam os tão desejados sacos de
batata mas descarregada num ápice caso contrário.
Fui obrigado a ensinar ao cozinheiro, um rapaz pescador de
Matosinhos, mais voltado para caldeiradas, a confeccionar arroz seco no forno
de que acabaram por gostar, no lugar do outro, molhado, que eles atiravam à
parede como se fosse massa de reboco.
Mas as batatas,”filhas” da América espanhola, oriundas das
terras altas do Andes, possivelmente do Chile à Colômbia, foram responsáveis,
juntamente com o milho, pela quebra do círculo vicioso da fome na Europa e um
dos produtos que mais revolucionou a dieta alimentar dos europeus.
A sua expansão não foi rápida, mais bem aceite nas regiões
pobres em cereais e embora o seu consumo tivesse aumentado desde o Séc. XVIII
estava ausente dos menus das festas exactamente por ser considerado um alimento
pobre.
Na Europa, passou da Irlanda para Inglaterra e daqui , dizem uns, para Portugal, outros dizem que ela
veio da Galiza, mas é a partir do XIX que se assiste à sua expansão enquanto
consumo entre as pessoas mais abastadas.
Eu gosto de repetir o que dizia a minha falecida sogra:
....“esteja
no céu quem inventou as batatas fritas...”
quarta-feira, maio 13, 2015
IMAGEM
Foi deste quartel que se vê ao fundo, atrás da estátua, que Salgueiro Maia na madrugada de 25 de Abril de 1974 saíu com as tropas para tomar posse do Terreiro do Paço em Lisboa e prender os ministros num golpe militar que estaria na origem da Revolução dos Cravos. O bom senso dos militares portugueses permitiu um final feliz e ao cair da tarde Salgueiro Maia estava a reentrar no quartel com a missão cumprida.
ROBERTO CARLOS - DETALHES
Uma dupla que ficou na história da Música Popular Brasileira: Roberto Carlos e Erasmo.
Se é do gosto de ocê é do meu também. |
Tocaia Grande
(Jorge Amado)
Episódio Nº 244
Entre Isaura e Abigail vacilara Bastião ao rejeitar os cornos, mas a dúvida durou pouco, con
Para não se estrompar de novo, antes de
tratar com sia Cara e Zé dos Santos, de insinuar santa missão e bênção de
padre, conversou com a pretendida e obteve seu consentimento:
- Se é do gosto de ocê, é do meu também.
- Uma pomba sem fel.
Antes de completar dezesseis anos,
Abigail já empinara barriga, Bastião não brincava em serviço. Tampouco Tição
Abduim, esclareça-se, se bem Diva houvesse tardado um pouco mais a pegar
menino, questão de paquete e lua, e não de competência; tinham as duas a mesma
idade.
Quanto a Isaura, antes de viver com ela
o moço Aurélio comeu-lhe os tampos atrás da prensa, na casa de farinha.
Com o acréscimo das três estancianas, a
cada momento e em cada canto, em Tocaia Grande , quem por ali passasse cruzava com
uma grávida, as barrigas pejadas, anunciando aumento do número de tocaianos
natos.
3
Tocaianos? Para abrilhantar com um
tópico erudito o relato dos acontecimentos, o enredo dos problemas de Tocaia
Grande, vale a pena uma referência ainda que superficial e apressada aos doutos
debates travados a propósito da justa nominação a ser dada os nativos daquele
cu-de-judas, o gentílico dos meninos ali nascidos.
Como se devia designar os cidadãos de
Tocaia Grande? Tocaianos, tocaienses, tocaia-grandenses ou simplesmente tocaios?
Fadul colocou o tema à discussão no
cabaré em Itabuna, na mesa de Fuad Karan; em Ilhéus, em bar do porto
bebericando com Álvaro Faria. Ouviu dos dois letrados conclusão se não análoga
na forma, igual no conteúdo.
- Não cabe dúvida. Disse Fuad Karan com
a voz molhada de arak, perfumada de anis: - Quem nasce em Tocaia Grande é
jagunço, Grão-Turco. E dos mais desalmados, certamente.
Álvaro Faria, degustando o uísque dos
ingleses, não foi menos tranchã e objetivo:
- Filho de Tocaia Grande só pode ser
clavinoteiro, meu Fadul.
Reputação pérfida, injusta e infeliz,
discordou o turco. Se havia no imenso território do cacau, em toda a latitude
grapiúna, um sítio deveras pacato, de violência mesurada, era Tocaia Grande, onde
reinava a paz de Deus.