sábado, fevereiro 06, 2016

São evidentes as cócegas do animal....

Tigres e 


Touros...         


















Merkel almoça com Costa e elogia Passos Coelho, adversário político, por aquele desalojado do poder, e fiel súbito da chanceler alemã de quem foi obediente seguidor.

Esta, é uma atitude própria de quem manda e se serve do seu poder para dizer aos subordinados aliados o que, sinceramente, pensa deles.

Costa, no concerto europeu, embora seja “um, inter-pares”, não passa de uma pulga incómoda em vez da formiga diligente, como o Passos, e não agrada, por isso, à rainha do vespeiro.

António Costa é um desalinhado, irreverente, crítico da disciplina financeira austera de Merkel e Shauble, que teve a esperteza de fugir ao confronto directo para não ser humilhado como Tsipras, e rodeou o problema com a elasticidade e maleabilidade de rins com que o João Pinto fintava os defesas adversários.

“Aprovado com Resevas” –  disse ela sobre o Orçamento, ao estilo dos romances da Ágata Christie...

Costa sorriu-se... ele tem uma herança de sábias culturas dos seus antepassados paternos onde havia tigres, e maternos, os lusitanos, onde havia lobos... e tanto num lado como noutro, também havia pequenos animais que, espertos e atentos, sabiam fugir aos encartes daqueles temíveis dentes.

Ganhou a Merkel, como não podia deixar de ser... os tigres não se derrotam, mas ela não gostou e passou-lhe um raspanete na forma de elogio a Passos.

Costa, continuou a sorrir... ele tinha conseguido fazer passar a mensagem de que “é possível virar a página da austeridade” e que há uma alternativa para os países pequenos, à mesa das negociações, tal como os pequenos animais têm direito a aspirar à vida, furtando-se aos dentes do tigre e dos lobos.

Seixas da Costa, ex-embaixador português, disse que os gregos enfrentaram o touro de frente, passe a redundância, e foi a humilhação que se viu...

Costa, foi de cernelha, e quem já viu estas pegas percebe que aquilo não passa de cócegas na barriga do touro que, irritado, dá coices.

Merkel, por razões óbvias, não pode dar coices e, por isso, faz elogios ao Passos Coelho na cara do António Costa.



Imagem


O empregado vem de paraquedas...




Gato Fedorento - Vamos todos falecer



A Felicidade -  Tom Jobim e Vinicius

Dois génios da cultura brasileira...


Não é preciso ser Sherlok Holmes para tudo descobrir...
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)

EPISÓDIO Nº 72




















SHERLOKS A POSTOS



Interrompo a narrativa para deixar claro que todos os dados necessários à solução do enigma a envolver Tieta (e com ela Leonora) estão colocados na mesa das deduções, diante do leitor. Não é preciso ser Sherlock Holmes ou Hercule Poirot para tudo descobrir. Por que então dona Carmosina foi no embrulho? Os olhos cegos pela amizade, acreditou no conto.


Aliás, não houve em nenhum momento, da minha parte, a intenção de enganar o público, de esconder-lhe factos, de baratiná-lo. Tampouco havia por que sair contando o fim no começo, desvendando o passado antes de fazer-se necessário. Nos folhetins sempre se considerou essencial um pouco de suspense para atiçar a emoção dos leitores.

Estão à disposição da capacidade de cada um, nas páginas já lidas, pistas e indícios, mais do que suficientes. A maioria, com certeza deu-se conta da verdade desde o início e, se nada disse, fez bem para não alertar os lerdos de entendimento. 

Não pensem sobretudo que eu escondi, torci ou inventei detalhes, na intenção de não manchar a imagem de Tieta. Se ela, em respeito à família e aos preconceitos de Sant’Ana do Agreste, teceu uma teia de enganos, não me cabem responsabilidades e culpa.

Não a julgo, por isso, nem melhor nem pior, nem creio que a actuação posterior por ela desenvolvida tenha menos mérito por causa da sua condição. Mérito ou demérito, dependendo, é claro, da posição de cada um diante das propostas do Magnífico Doutor. Quais? Já veremos, no decorrer da narrativa.




Não Vale tanto...
















Num restaurante, um homem janta só. Na mesa ao lado, uma jovem está também sozinha. A dado momento, ele levanta-se, inclina-se para ela e pede-lhe delicadamente:

- Dá-me licença que leve a mostarda?

- É lamentável o que me está a propor! - Grita a jovem. - 

O senhor não tem vergonha?

Todo o restaurante se vira para eles. O homem, vermelho como um tomate, balbucia:

- A senhora compreendeu mal. Eu apenas lhe pedi a mostarda...

- Nunca ouvi uma coisa como esta! O senhor é um ordinário!

O homem volta para o lugar, observado severamente por toda a gente. A mulher paga a sua despesa, vai à mesa dele e diz em voz baixa:

- O senhor desculpe a minha atitude. Tenho de lhe dar explicações. Sou socióloga e estou a preparar uma tese sobre as reacções dos homens perante uma situação embaraçosa na presença de público. Eu fiz este teste e espero que não fique a pensar mal...

É a altura de o homem gritar:

- O quê? Quinhentos euros mais o hotel?! Você não vale tanto!

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 183






















Paio Soares olhou para O Trava e relembrou:

 - Temos de nos preocupar com os sarracenos. Soure não tem capacidade para se defender sozinha!

Crente de que os perigos dos ataques eram mais relevantes do que o destino das mouras, o Trava prometeu à sobrinha convencer a rainha.

Encantada, Chamoa agradeceu ao tio, beijou o marido e fez uma pequena vénia ao0 jovem templário, sorrindo a Mem quando saía.

De seguida, o Trava perguntou a Ramiro se acreditava que Soure resistia a um ataque sarraceno, e ele balbuciou que não.

Nesse caso, pediremos ao príncipe que nos mande parte das suas tropas para defendermos Coimbra e Soure, dos infiéis.

Podereis ir a Guimarães buscá-las, Paio Soares? – perguntou Fernão Peres.

O Mordomo –Mor acatou a ordem e o Trava sorriu-lhe, com suspeita astúcia, mas quase todos desconheciam as ocultas razões daquele contentamento.

Desculpado das suas acções, Mem saíu da sala com Ramiro, notando que ele estava muito pálido e parecia doente. Um pouco mais tarde, já no pátio da alcáçova e enquanto a comitiva de Paio Soares partia, levando Chamoa e as três mouras numa carroça coberta, Mem reparou que Ramiro se encostava à parede da torre de menagem, para não tombar.

Triste acenou um adeus às mouras e viu Zaida e Zulmira soprarem-lhe beijos pelo ar, colocando as mãos à frente das bocas.

Surpreendido, viu que Chamoa as imitava. Depois, regressou para junto de Ramiro e deu com ele desmaiado.

O elemento importante deste episódio reside na inesperada reunião ente Chamoa e as três mouras. Foi assim que elas vieram a saber da relíquia.

Aos poucos, forjaram uma amizade com a rapariga galega, especialmente, Zaida, que se mostrou calorosa desde o início, e logo ali na carroça descreveu alegremente a Chamoa, as peripécias que haviam vivido, enquanto embalava ao colo o filho desta e de Paio Soares.

Quando contou o que se passara na caverna, sem omitir os pormenores, Zulmira suspirou:

 - Ai, Mem querido que saudades vou ter.

Sorrindo-lhe, Chamoa logo se lamentou:

 - Que pena o almocreve não poder ir mostrar-nos uns vestidos a Tui!

Minha irmã Maria é que tinha razão: Chamoa era uma atrevida, e essa sua característica ia custar-nos a todos muito caro!



Guimarães, Outubro de 1127



Quando as recebeu pela primeira vez o príncipe não acreditou nas notícias. As tropas de Afonso VII haviam atravessado o rio Minho? 

sexta-feira, fevereiro 05, 2016

Um governante patriota


sem pin na lapela











"Governo português ameaça bloquear o Acordo da União Europeia com Cameron a menos que a Comissão aceite as suas propostas fiscais." 


Charles Grant, que é um reputado especialista da Zon Euro avançou com esta informação e Wollfgang Munchau, outro distinto jornalista na mesma área de questões, que publica no International New York Times, adiantou que é a primeira vez que um país europeu liga as suas próprias reivindicações em Bruxelas  com o Acordo já conseguido pelo Reino Unido – vitória já apregoada mas que terá de ser ainda ratificada por todos os países membros.


Os negociadores portugueses estão a tirar partido da circunstância de estarem neste momento a negociar o seu Orçamento para pressionarem uma aprovação a troco de uma posição favorável relativamente ao Acordo com o Reino Unido que exige um voto por unanimidade de todos os países membros da União.

Claro que o Governo português desmentiu tê-lo feito e nenhum daqueles especialistas acredita que uma ameaça destas pudesse ser concretizada.

No entanto, as relações diplomáticas destas negociações, constituem uma forma de lembrar que mesmo países pequenos e pouco preponderantes como Portugal, têm força e meios que devem ser usados, ou pelo menos lembrados, na defesa dos seus interesses.

E sugere Munchau que Renzi, 1º Ministro de Itália, deve inspirar-se nos portugueses.

De certeza que não leríamos isto se não fosse António Costa à frente do governo em vez de um Passos Coelho submisso e concordante com todas as ordens de Bruxelas.


A ousadia faz parte dos governos patriotas mesmo quando os seus líderes não andam com o pin da bandeira portuguesa na lapela do casaco...

IMAGEM

A figura de Deus ou um de déspota?...




Eleições na C. M. Lisboa - Gato Fedorento


Petula Clark -Downtown


Lançada em 1965. Para recordar na sua versão original. Nasceu em 1932 e a sua mãe preparou-a para ser cantora. Se fosse hoje tê-la ia preparado para tenista...




Prefiro que me chame de Tieta
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)
EPISÓDIO Nº71






















DOS CIÙMES E DAS ESPERANÇAS DE ELISA COM CURIOSOS DETALHE SOBRE QUESTÃO DE TRATAMENTO



Elisa não sabe nadar. Foram-lhe proibidos rio e mar na meninice e na adolescência. Zé Esteves empobrecido tornara-se intransigente e virulento – basta uma puta na família, advertia, o bastão em punho.

No exemplo do sucedido com Tieta, Elisa cresceu de rédeas curtas, a qualquer pretexto o pau cantava-lhe nas pernas e nas costas. Bacia de Catarina, praia de Mangue Seco, nem pensar.

Se namorou foi de longe, namoro de caboclo, o olho comprido, vendo o velho expulsar os gabirus em roda pela rua. Somente quando aparecer um bom partido, disposto a noivado e casamento: senão boto no convento, ameaçava.

Ameaça vã, cadê convento? Astério, filho único, herdara a loja onde desde menino trabalhava no balcão, rapaz inteiro. Pareceu um bom partido, Zé Esteves concordou. Aos dezasseis anos, beleza de noiva. Elisa se casou, pensando que se libertava. Mudou de servidão.

Fica no raso, não se atreve a ir mais longe, enquanto Tieta e Leonora em meio às ondas e à animação da comitiva inteira no rastro das paulistas. Elisa ali sozinha, abandonada. Nem sequer o marido lhe faz companhia, prefere os amigos do bilhar. Também, pelo que vale e serve…

Elisa tem ciúmes. Não que a irmã ou a moça paulista possam se interessar por Astério, imagine-se! Leonora está de namoro com Ascânio, os dois sempre juntos, não se largam.

Antonieta, viúva recente, não veio a Agreste tomar marido de ninguém. Tomaria, se quisesse com facilidade. Apesar dos quarenta e quatro anos confessados – proclamados! – quando passa na rua, alegre e descontraída, os homens correm a saudá-la, assanhados.

A pele lisa e macia, tratada, tratadíssima, o corpo esplendoroso. Já fez plástica, com certeza, comentara Elisa com dona Carmosina, ambas a par dos hábitos das artistas e das grã-finas, dos milagres realizados pelo doutor Pitanguy em nacionais e estrangeiras.

Certamente, Tieta, recondicionou sua beleza na clínica célebre, limpando-a de rugas e pelancas: basta ver-lhe os seios jovens, magníficos, opulentos porém firmes, mais firmes que os dela, Elisa.

Outros são os ciúmes de Elisa. Da riqueza que elas ostentam, dos hábitos da cidade grande, da falta de preconceitos, de limitações, ciúmes por não viver no mesmo mundo, tabaroa do sertão, condenada ao desconsolo.

Ciúmes também de Leonora, do amor que Tieta lhe dedica, a chamá-la pelo: Nora, a dizer-lhe filha, com desvelos maternos. 

Deseja os mesmos cuidados, amor idêntico, sentir-se mimada como filha, adoptada. Em certos momentos, Antonieta é extremosa com ela, alisa-lhe a cabeleira negra, beija-lhe a face, elogia-lhe a beleza: tu é bonita de mais.

Trata-a de filha e de Lisa, ternamente, tudo parece encaminhar-se como ela deseja. Mas noutros momentos a irmã a fita, pensativa, como se duvidasse do calor do seu afecto.

Elisa não consegue entender o motivo da desconfiança, do desagrado da Tieta. Intrigas de Leonora, quem sabe? Com receio da concorrência, de perder o lugar privilegiado junto àquela de quem chama de Mãezinha.

Um dia, estando a sós com Tieta, também Elisa a tratara de Mãezinha. A irmã dirigiu-lhe um olhar estranho, disse ríspida:

- Prefiro que me chame de Tieta.

Voz e olhar deixaram Elisa trémula:

- Desculpe. Só quis lhe agradar, agradecer o que tem feito por mim.

Adoçaram-se olhar e voz de Antonieta, afagou os cabelos negros da irmã mas não voltou atrás relativamente ao tratamento:

- Não estou zangada. Apenas prefiro que você me trate de Tieta. Em Agreste todos me tratam assim, eu gosto. Mãezinha é nome de São Paulo, coisas de Nora e das outras meninas.

- As filhas do finado?

- As filhas, as sobrinhas, a família é grande.

A essa família, sim, queria Elisa pertencer, prol de Comendador, de rico industrial, gente graúda, linhagem fina. 

Quer elevar-se da mediocridade do Agreste, salvar-se do cansaço, da inutilidade, da avidez quotidiana. Quer as luzes, o brilho, a agitação, as possibilidades, a aventura de São Paulo. 

Em Agreste, sem horizontes, sem futuro, vegeta, morre a cada dia.

Vestindo um maiô emprestado por Leonora – o seu está velho e fora de moda – que lhe molda o corpo esplêndido, os cabelos nocturnos caindo no cangote, sai da água, vem sentar-se na praia.

Enxerga Perpétua adormecida. Elisa sabe que a irmã mais velha tem um plano traçado, essa é a opinião de dona Carmosina, a quem nada escapa.

Perpétua ambiciona vender – vender muito bem vendidos – os dois meninos a Tieta, mandá-los para São Paulo onde serão adoptados como filhos e herdeiros. Plano diabólico, dona Carmosina o desvenda inteiro, de dedução em dedução.

Elisa não deseja tanto, não quer ser adoptada de papel passado e sim de coração, não se candidata a herdeira única. 

Contenta-se com muito menos: basta que a irmã se compadeça da mesquinha sorte dela e do bestalhão do Astério e os leve para São Paulo, dando a ele emprego nas fábricas da família e tendo ela, Elisa, a seu lado, quase filha, amada tanto ou mais que Leonora.

Já disse não desejar casa própria em Agreste. Se a irmã pretende lhe dar alguma coisa, que seja em São Paulo onde a vida é digna de viver-se, repleta de novidades e de tentações. 

Lá terá quem lhe admire a beleza, não apenas um árabe velho, um moleque sujo, um fétido mendigo. Será alguém, tendo onde, tendo onde e a quem mostrar-se. Em São Paulo tudo pode acontecer. 

Coisas da Idade...















Três irmãs, Wanda, de 90, Wilma, 88 e Waneide, 86 aninhos de idade, viviam na mesma casa.

Uma noite, Wanda, a de 90, começa a encher a banheira para tomar banho; põe um pé dentro da banheira, faz uma pausa e grita: 

- Alguém sabe se eu estava entrando ou saindo da banheira? 

A irmã, Wilma, de 88, responde: 

- Não sei, já subo aí para ver! 

Começa a subir as escadas, faz uma pausa, e grita: 

- Eu estava subindo ou descendo as escadas? 

A irmã caçula, Waneide, a de 86, estava na cozinha tomando chá e escutando suas irmãs. Balança a cabeça e pensa: 

- Que coisa mais triste! Espero nunca ficar assim tão esquecida...

Prevenida, bate três vezes na madeira da mesa, e logo responde: 

- Já vou ajudá-las, mas antes vou ver quem está batendo na porta!

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 182



















Mem, fechou os olhos derrotado e teve vontade de chorar. Porém a bruxa não o deixou esmorecer e disse.

Tendes de voltar a Coimbra, estou ferida, não posso. A Zulmira e as filhas correm muito perigo.

A noite já caíra na floresta, mas, apesar de dorida e fragilizada a mulher de negro persuadiu Mem a partir de imediato, seguindo as tropas de Paio Soares, e levando consigo os cadáveres para os enterrar na gafaria.

Inventai uma história, dizei aos cristãos que haveis sido atacado – sugeriu

Temendo que o assissin atacasse as mouras, Mem meteu-se a caminho de Coimbra, com a carroça com os leprosos mortos, mas não mentiu aos cristãos. Apenas omitiu algumas coisas.

De manhã, atravessou o rio na barcaça e quando entrou pelas portas da muralha pediu para falar com Ramiro.

Este chegou desconfiado, acompanhado pelo Velho e pelo Rato e Mem mostrou-lhe os corpos dos quatro leprosos e contou-lhe que ajudara as mouras a fugir, era amigo delas e tinha-as levado à caverna da bruxa.

Fora esta que chamara Zhakaria e depois Mem regressara à carroça, onde encontrara aquela carnificina inimaginável.

- Foi o demónio branco, comentou o Velho – Vai outra vez tentar matar as mouras.

Mem ordenou aos companheiros que não perdessem Mem de vista e pouco depois veio buscá-lo, pois Fernão Peres de Trava queria falar com ele.

Já na sala do castelo, o almocreve confessou que fizera aquilo por amizade às mouras.

- Quem as ajudou em Coimbra? – perguntou o Trava.

Mem jurou que não sabia, elas tinham ido ter ao seu casão.

- Conheceis Abu Zhakaria – interrogou-o Paio Soares.

O almocreve admitiu que falara com o cordovês em Santarém e que lhe vendera alimentos e mantas, mas garantiu que não fora ele quem o chamara, mas sim a bruxa a pedido das mouras.

De qualquer, forma acrescentara, o perigo maior era o assassin que degolara os pobres leprosos e decerto estava já em Coimbra.

De súbito, Chamoa entrou na sala e estacou ao ver Ramiro, que empalideceu.

Paio Soares desagradado pelo silêncio e pela inércia do seu bastardo, ordenou-lhe em voz firme:

 - Saúda a minha mulher e mãe do meu primeiro herdeiro legítimo!

Ramiro, atrapalhado, ajoelhou à frente dela. Chamoa estendeu-lhe a mão e ele beijou-a apressado, recuando de imediato.

Então a rapariga sorriu e disse-lhe:

 - Haveis entrado para a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo?

Ramiro confirmou mas perante o seu evidente embaraço Chamoa desviou o olhar para Mem e perguntou:

E este bonito rapaz quem é?

Paio Soares esclareceu-a e ela sorriu ao almocreve.

Um valente que arrisca a vida pelas amigas!

Mem baixou os olhos, ligeiramente envergonhado, enquanto Paio Soares lhe atirava um olhar carregado de ciúme e Fernão Peres de Trava declarava que as mouras tinham sido presas nas masmorras.

Contudo, Chamoa intrometeu-se e declarou que gostava de as levar para Toronho. Conhecera-as em Viseu e como o marido desejava ter mais filhos, seriam uma grande ajuda se a acompanhassem, além de ficarem a salvo.


- Não acredito que quisessem mal a Sanchinha! Como Dona Teresa está tão desagradada, levo-as comigo para o Norte!

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Paulo Rangel. Agora está magro. Comanda as hostes lá fora contra Costa

Os Ricos


 que 


paguem a 


crise....












O combustível dos carros vai aumentar, os fumadores vão pagar mais, o imposto sobre a compra dos automóveis vai subir, os Fundos Imobiliários passarão a pagar IMI, o imposto de selo sobre o crédito ao consumo também aumenta, tal como a contribuição fiscal sobre a banca. O Iva da restauração desce mas não sobre o vinho que é bebida de ricos...

Será que tudo isto significa que são eles, os ricos, que agora, daqui para a frente, irão pagar a crise?...

Não, os verdadeiros ricos, que são poucos, estão fora destas guerras. Os ricos, neste país, são as pessoas da classe média, as que têm carro e consomem. Não há outros e sempre foi assim, mais ou menos, com variantes, ao longo dos tempos.

E agora, que temos um governo de esquerda, continuamos a pedir à classe média, àqueles que têm qualquer coisa para ajudarem os que ainda têm menos, o que parece ser uma opção da mais elementar justiça social.

A nossa direita, que está cheia daqueles que são “menos médios”, cá dentro e lá fora, mexeu-se, pressionou e até se assistiu à tentativa do Presidente do PPE, o alemão Manfred Weber, de tentar convencer o Parlamento Europeu de que em Lisboa reina um bando de extremistas europeus, no que foi logo secundado por esse deputado pequenino e complexado que se veste de camuflado da cabeça aos pés para parecer um guerreiro temível, e que dá pelo nome de Paulo Rangel.

Estou certo de que este Orçamento vai passar no Parlamento Europeu, que as metas exigidas vão ser cumpridas porque não temos alternativa... mas o sinal ficou dado. De um Passos Coelho obediente e submisso passamos a uma outra fase em que se resiste e protesta.

Claro que António Costa não vai acabar com a austeridade, no máximo ele está tentando aliviar da austeridade os mais pobres e frágeis, à custa dos que têm mais alguma coisa.

A austeridade, nunca acabará de um dia para o outro e o único caminho para lá chegar é o aumento de uma forma sustentada e progressiva da produção da riqueza.

Fora disto, são falácias, visões do deserto, miragens, como aquela que eu tive quando abordei a cidade de Malange, vindo do deserto e me fez pensar que estava a ver Nova York.

Costa sabe isto perfeitamente mas ter preocupações acrescidas com os mais desprotegidos não é nenhum acto visionário.

Certos economistas podem defender que, no longo prazo, colocar mais recursos financeiros e facilidades a favor dos que podem criar riqueza, deixando cair os outros, os que apenas pedem para não os deixarem morrer sem assistência, é uma opção mais acertada para o futuro.

Não sei se estes dois braços da balança funcionam assim. De qualquer maneira, mesmo que assim fosse, há princípios e valores humanos de justiça social que devem ser prioritários 

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Desculpa, papá.... não torno a fazer.



                           Gato Fedorento - Alcoólicos Anónimos



                     

António Zambujo - Aquela Janela virada para o mar...




Em negociações com Deus...
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)

EPISÓDIO Nº 70
















Devota exemplar, incapaz de faltar a uma obrigação religiosa, missa, bênção, confissão, a santa comunhão, as procissões, zeladora-chefe da matriz, tesoureira da Congregação, Perpétua espera contar com a compreensão e ajuda do senhor para atingir os calculados fins.

Seu plano exige eficaz protecção de Deus e inocente colaboração dos meninos. A de Peto não lhe tem faltado. De onde está, Perpétua enxerga o filho nadando em torno da tia. Assim, com perseverança e gentileza, se conquista o coração, o amor de parente rica.


Tentara discutir com Ricardo, trazê-lo, mas o rapaz a derrotara, apoiado nas necessidades do reverendo; Vavá Muriçoca, o sacristão, amanhecera doente, não podia montar. 

Perpétua ficou sem argumentos, olhando o filho de batina no lombo do burro. Ainda mais do que ela, Ricardo merecia a protecção divina, tão piedoso e temente de Deus.

Queria os filhos, os dois, ao lado da tia o mais tempo possível.

Arquitectara complicado plano com o fim de obter que a irmã fizesse dos meninos seus herdeiros únicos, adoptando-os, se a medida legal se revelasse necessária. Precisa saber com certeza, projecta ida a Esplanada para se aconselhar com doutor Rubim.

O tempo é curto, torna-se urgente a ajuda de Deus para tocar o coração de Antonieta, para encaminhá-la à decisão correcta. Fazendo obrigatória colaboração de Ricardo e Peto. Depende de Deus e deles transformar a estima da parente em ternura maternal. Agradem à tia, não deixem ela sozinha, recomenda. 

Ajuda-me, Senhor!, implora. O tempo é curto.

Antonieta não determinara a duração da temporada em Agreste mas evidentemente sua demora não passará de mês e meio, dois meses; deve voltar para reassumir o controle dos seus negócios e já uns dez dias são decorridos. 

Pouco a pouco, com astúcia e paciência, Perpétua conseguira tirar da irmã várias informações sobre o estado de suas finanças. Ficou a par dos quatro apartamentos e do andar térreo no centro da cidade, alugados cada um dos cinco por uma fortuna mensal – casa de aluguer barato somente em Agreste.

Ainda não obteve informação precisa sobre a espécie de negócio directamente dirigido por Antonieta. Não se trata de indústria, as indústrias são geridas pelos filhos do Comendador, sendo Antonieta sócia mas não administradora. 

Deve tratar-se de comércio, loja de modas pois tinha funcionárias. Perpétua surpreendera conversa entre Tieta e Leonora em que faziam referência ao trabalho das meninas. 

Igual aos imóveis, essa casa comercial é propriedade exclusiva da irmã, presente do Comendador.

Perpétua vai perguntando, colhendo uma informação aqui, outra acolá. Antonieta e Leonora não são de muito contar. 

Talvez de propósito para não despertar a cobiça dos parentes. Uma coisa é certa: a magnitude da fortuna.

Os negócios são grandes, múltiplos e rendosos, dinheiro é cama de gato.

Outro dia, de uma das malas, a que está sempre trancada à chave, Antonieta retirou pasta ou maleta – uma 007 na exacta designação de Peto, de enciclopédica cultura cinematográfica – e a abriu, mantendo-a no colo virada para si. Ainda assim Perpétua conseguira, levantando-se como quem não quer nada, vê-la repleta de dinheiro, notas altas, um desparrame, pacotes e mais pacotes.

- Ai! Santo Deus! – exclamara.

Tieta explicou ter trazido dinheiro vivo não só para as despesas como para comprar terreno em Mangue Seco, dar sinal pela casa, garantir a compra.

- Aqui não existe banco e eu não gosto de ficar devendo.

- Mas tem uma fortuna aí. Você é maluca, deixar esse dinheiro aí dentro de uma mala, no armário.

- Só quem sabe é Leonora e agora você. É só não falar nisso.

- Eu, falar? Deus me livre – bate com a mão na boca – não vou mais é poder dormir sossegada.

Antonieta ri:

- Quando eu comprar o terreno e a casa vai diminuir muito.

Fortuna de paulista, fartura de dinheiro, não essa riquezinha do Agreste, de Modesto Pires, do coronel Artur de Tapitanga, de cabras e mandioca.

O importante é evitar que um dia – todos nós, um dia, temos de morrer, não é mesmo? – parte do dinheiro e dos bens vá parar em mãos dos enteados, dos filhos do falecido Comendador, dessa silenciosa Leonora que não cheira nem fede, uma pamonha.

Tieta é doida por ela, vive a cuidá-la, obrigando-a a comer, a beber leite de cabra todas as manhãs. A dita cuja deve ser igualmente muito rica, se bem Perpétua, na detalhada vistoria feita no quarto dela, quando examinou coisa por coisa, não tenha bispado mala de dinheiro.

 Nada está sob chaves, tudo aberto. Na bolsa, alguns milhares de cruzeiros, para Agreste bastante mas nem de longe comparável com o despropósito da 007 de Antonieta. Perpétua se arrepia ao recordar.

A irmã gosta dos sobrinhos, trata-os com afecto, alegra-se quando os vê. Faz-se necessário, no entanto, muito mais, é preciso que ela os trate como se fossem seus filhos, pois filhos devem ser. Os dois se possível, pelo menos um. Reconhecidos legalmente, herdeiros.

Caso Antonieta deseje levar um deles para São Paulo, Perpétua não se oporá, óptimo se escolher Peto. Menino perdido, solto em Agreste a matar aulas, tomando pau todos os anos, vagabundo no bar e no cinema, breve em lugares piores.

Mas se for Ricardo o escolhido para viver em São Paulo, tornar-se braço direito da tia, Perpétua estará de acordo. Peto tomará o lugar do primogénito no seminário, queira ou não queira, pois um dos dois pertence a Deus, assim ela prometera, encruada donzela, perdidas as esperanças terrenas, as últimas. Se Deus lhe desse esposo e filhos, um seria padre, a serviço da Santa Madre Igreja. Deus cumpriu, realizou o milagre, ela cumprirá também.

Na praia, os olhos semicerrados devido ao sol e ao vento, à luz violenta, propõe outra barganha ao senhor. Se Antonieta adoptar pelo menos um dos meninos, Perpétua se compromete a deixar para a Igreja, em testamento, uma das três casas herdadas do Major, a menorzinha, aquela onde morou Lula Pedreiro, agora alugada a Laerte Curte Couro, empregado de Modesto Pires.

Pequena mas bem situada, próxima do curtume, na pracinha onde fica a capela de São João Baptista. Pelo jeito, o Senhor recusa a proposta; íntima de Deus, Perpétua adivinha as reacções celestes.

Arrependida, retira a oferta, o senhor tem razão de ficar aborrecido; uma casinha de pequena renda em troca da fortuna de Antonieta, proposta ridícula. Ainda tenta argumentar: a praça está sendo calçada e ajardinada, terá bancos de ferro, o aluguer vai ser aumentado.

Não adianta: se continuar o Senhor pode até se ofender. Pede bens consideráveis, oferece ninharia. Mais do que dinheiro e propriedades, Deus precisa de devoção e fé.

Pois bem, se Antonieta tomar, Ricardo ou Peto como filho e herdeiro, qualquer deles, Perpétua irá com os dois à capital – à cidade da Baía, sim, Senhor Deus! – e lá, a pé se dirigirá à Basílica, na colina sagrada, onde mandará rezar missa, deixando no Museu dos Milagres, fotografia dos filhos com dedicatória para o todo-poderoso Nosso Senhor do Bomfim.

Se a irmã adoptar os dois a missa será cantada. O Senhor deve levar em conta, na proposta, o facto dos meninos já possuírem direitos assegurados; apenas não são os únicos herdeiros.

O ideal seria que Antonieta, tendo adoptado os dois mandasse Ricardo completar o curso em seminário de são Paulo, desses que formam logo cónegos e bispos.

No calor do sol, no correr do vento, no remoer de planos e promessas, Perpétua cerra completamente os olhos, adormece e sonha. Vê-se acompanhando a procissão da Senhora Sant’Ana, numa cidade imensa, maior do que Aracaju, deve ser São Paulo, na frente do andor um bispo em vermelho e roxo, um Cardeal, é seu filho Cupertino Baptista Júnior, Dom Peto. Um aviso do céu, compromisso selado, promessa aceite, milagre à vista.

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