Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, fevereiro 25, 2012
NICO FIDENCO - A CASA DE IRENE
Esta canção foi um marco na vida de muita gente. Fala da Itália como nenhuma outra o fez , e fala dos italianos e da casa de Irene, e dos dramas da emigração do fim dos anos 50/60 dos países do velho mundo, cansados da guerra, para novo mundo, para uma vida nova com a alma cheia de receios mas também de esperanças...
Mais um crime, uma vergonha, que religiões de sociedades paternalistas protegem, incentivam e pelas quais são responsávies. A intervenção desta senhora, de Set/2010, é um testemunho eloquente, dramático, acusatório...
Como querem que me porte bem depois dos 50...???
¬
- Se em criança via o Tarzan que andava nú;
-A Gata Borralheira que chegava a casa à meia-noite;
-O Pinóquio que mentia a cada instante;
-O Batman que conduzia a 320 km/h;
-A Bela Adormecida que era uma grande preguiçosa;
-A Branca de Neve que vivia com 7 anões;
-O Capuchinho Vermelho que não ligava nenhuma ao que lhe dizia a mãe;
-A Betty Boop que andava vestida como uma prostituta;
-O Polegarzinho que espalhava migalhas por todos os lados e, finalmente, o Popeye que fumava erva ...
Vá lá... vá lá… não me lixem... muito bons saímos nós!!!
INFOMAÇÕES COMPLEMENTARES
DA ENTREVISTA Nº 39 SORE O TEMA:
“VIOLÊNCIA SOBRE AS MULHERES” (4)
Apedrejamento: um castigo público
Nos tempos de Jesus, comprovado o adultério, a mulher deveria ser apedrejada pela comunidade porque o adultério sendo um pecado público, devia ser apagado pública e colectivamente. Os vizinhos do local em que a pecadora havia sido descoberta eram aqueles por quem as mulheres deviam ser apedrejadas. As testemunhas lançavam as primeiras pedras. Outros crimes punidos também com o apedrejamento eram a blasfémia, o descanso sabático e várias formas de idolatria.
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 32
Vou é para a pensão, trocar de roupa e tomar café – despediu-se Manuel das Onças.
- Eu também… - E Amâncio Leal o acompanhou.
A pequena multidão dirigia-se para o porto. O grupo de amigos comentava a notícia de Mundinho:
- Pelo jeito, ele conseguiu movimentar o Ministério. Já não era sem tempo.
- O homem tem prestígio de facto.
- Que mulher! Bocado de rei… - suspirava o coronel Ribeirinho.
Quando chegaram à ponte, já estava o navio nas manobras de atracação. Passageiros com destino a Baía, Aracaju, Maceió, Recife, olhavam curiosos, Mundinho Falcão foi dos primeiros a saltar, logo envolvido pelos abraços. O árabe desfazia-se em salamaleques.
Engordou mais, moço…
É o Rio de Janeiro que remoça…
A mulher loira – menos jovem do que parecia de longe, porém ainda mais formosa, bem vestida e bem pintada, “uma boneca estrangeira” como classificou o coronel Ribeirinho – e o homem esquelético estavam parados junto ao grupo, esperando. Mundinho fez as apresentações numa voz brincalhona de propagandista de circo:
- O Príncipe Sandra, mágico de primeira, e sua esposa, a bailarina Anabela… Vão fazer uma temporada aqui.
O homem que, de bordo, anunciava a dolorosa morte de alguém, abraçado agora com a família no cais, contava detalhes tristes:
- Levou um mês morrendo, coitadinha! Nunca se viu sofrer tanto… Gemia dia e noite, de cortar o coração.
Cresceram os soluços da mulher. Mundinho, os artistas, o Capitão, o doutor, Nacib, os fazendeiros, saíram andando pela ponte. Carregadores passavam com malas. Anabela abria uma sombrinha. Mundinho Falcão propôs a Nacib:
- Não quer contratar a moça para dançar no seu bar. Ela tem uma dança dos véus, meu caro, seria um sucesso…
Nacib levantou as mãos: - No bar? Isso é pró cinema ou prós cabarés… Eu estou querendo é uma cozinheira.
Riram todos. O Capitão tomou o braço de Mundinho:
- E o engenheiro?
- No fim do mês está aqui. O ministro me garantiu.
Das Irmãs Dos Reis e do seu Presépio
As irmãs Dos Rei, a roliça Quinquina e a franzina Florzinha, de volta da missa das sete da Catedral apressaram o passo miudinho ao verem Nacib, esperando, parado junto ao portão. Eram duas velhinhas álacres, somavam cento e vinte e oito anos de sólida virgindade indiscutida.
Gémeas, eram tudo o que sobrava da antiga família Ilheense de antes do cacau, daquela gente que cedera o seu lugar aos sergipanos,, aos sertanejos, aos alagoanos, aos árabes, italianos, e espanhóis, aos cearenses. Herdeiras da boa casa onde moravam – cobiçada por muito coronel rico – na rua Coronel Adami e de três outras na Praça da Matriz, viviam dos alugueis e dos doces vendidos à tarde pelo moleque Tuísca.
Doceiras eméritas, mãos de fada na cozinha, aceitavam por vezes encomendas para almoços e jantares de cerimónia.
(clicK na imagem e aumente)
sexta-feira, fevereiro 24, 2012
Restaurante Sauvage em Berlim
Como se percebe e faz sentido, num restaurante do paleolítico a decoração é simples e "pobre". Voçê pode descalçar-se e comer com as mãos... pratos confeccionados à moda da Idade da Pedra, 100% natural. Se um dia for a Berlim Tel: 03053167547 - 017678224531
Antes de iniciar o voo, ao microfone, o piloto cumprimenta os passageiros:
- Senhores passageiros, por favor, apertem o cinto, pois vamos descolar.
Minutos depois:
- Atenção Srs. passageiros, estamos a dez mil pés de altura, em velocidade de cruzeiro, tranquilo, podem relaxar, soltar os cintos, chegaremos ao destino a horas, tenham uma boa viagem...
O piloto esquece de desligar o microfone e continua falando com o co-piloto:
- Bem, vou accionar o piloto automático e enquanto os idiotas lá atrás curtem a viagem, vou tomar um cafezinho, fumar um cigarrinho, vou dar uma cagada e depois dar uma boa queca na boazona da hospedeira...
Percebendo a gafe, a hospedeira corre em direcção à cabine para o avisar mas tropeça no corredor e cai ao lado de uma senhora, que lhe diz:
- Calma minha filha... Ele vai cagar primeiro...
PALEOLÍTICO À MESA
Um casal homossexual transformou um antigo bordel num restaurante. Até aqui, nada de especial. O que faz dele um negócio único no mundo é que ele só serve dieta ou cozinha do Paleolítico.
Chama-se Sauvage e nasceu há menos de um ano. No cardápio existem pratos estranhos. A confecção à maneira do paleolítico rejeita alimentos provenientes de grãos – aveia, cevada, trigo feijão, soja. Aqui não entra o pão – pelo menos como o conhecemos – ou outro género de hidratos de carbono. O açúcar também está vedado. Alternativas? São muitas. Quem pedir uma sobremesa no Sauvage, não vai para casa com a boca amarga: a flor de coco, o mel cru e o açúcar próprio das frutas são formas de adoçar a comida e os clientes mas protegendo-os de doenças como os diabetes.
A saúde e o bem-estar são os argumentos lapidares da dieta. “Há dois anos que seguimos este tipo de cozinha e cuidamos do nosso corpo, e não ficamos doentes” diz Rodrigo.
Mas, além dos cozinhados, Rodrigo e Boris destacam a forma como encaram o quotidiano. Cedo ou tarde, as pessoas que se identificam com esta dieta mudam muitas coisas no seu estilo de vida”. Põem uma cruz por cima dos antibióticos, dos produtos cosméticos ou farmacêuticos.
Assim, alegam, sentem o sistema imunológico fortalecer-se, porque só comem o que é adequado à capacidade digestiva do ser humano.
Alexandra Bento, nutricionista, diz que os benefícios desta dieta “podem estar unicamente, na inclusão de alguns alimentos e não na exclusão de outros” já que o sistema digestivo humano evoluiu desde o paleolítico.
Afirmar que o nosso corpo não digere todos os alimentos é errado.”
Rodrigo estabelece, por sinal, limites na fidelidade à idade paleolítica. A ideia não é copiar a maneira como as pessoas comiam naquela altura, mas sim cozinhar de uma forma que seja compatível com aquela que eles usavam.” Desengane-se quem pense que a comida é servida crua ou apenas grelhada no forno. Para a mesa vai uma espécie de pão de sementes, crackers e tortas feitas com farinha de nozes. Mas na confecção nunca são utilizadas temperaturas acima dos 120 graus.
“É um processo muito mais próximo da desidratação do que da cozedura” explica Rodrigo.
A resistência inicial dos mais cépticos, diz o brasileiro, passa por norma após a primeira garfada. “Aqui tudo parece que vem da casa da vovó”. “ Fazemos, por exemplo a nossa manteiga e o nosso queijo”. O espaço também ajuda, relaxado e com uma decoração minimalista, convida ao conforto simples.
Não há notícia de que alguém tenha saído com fome do Sauvage. Já um pouco mais selvagem, quem sabe?
Um casal homossexual transformou um antigo bordel num restaurante. Até aqui, nada de especial. O que faz dele um negócio único no mundo é que ele só serve dieta ou cozinha do Paleolítico.
Chama-se Sauvage e nasceu há menos de um ano. No cardápio existem pratos estranhos. A confecção à maneira do paleolítico rejeita alimentos provenientes de grãos – aveia, cevada, trigo feijão, soja. Aqui não entra o pão – pelo menos como o conhecemos – ou outro género de hidratos de carbono. O açúcar também está vedado. Alternativas? São muitas. Quem pedir uma sobremesa no Sauvage, não vai para casa com a boca amarga: a flor de coco, o mel cru e o açúcar próprio das frutas são formas de adoçar a comida e os clientes mas protegendo-os de doenças como os diabetes.
A saúde e o bem-estar são os argumentos lapidares da dieta. “Há dois anos que seguimos este tipo de cozinha e cuidamos do nosso corpo, e não ficamos doentes” diz Rodrigo.
Mas, além dos cozinhados, Rodrigo e Boris destacam a forma como encaram o quotidiano. Cedo ou tarde, as pessoas que se identificam com esta dieta mudam muitas coisas no seu estilo de vida”. Põem uma cruz por cima dos antibióticos, dos produtos cosméticos ou farmacêuticos.
Assim, alegam, sentem o sistema imunológico fortalecer-se, porque só comem o que é adequado à capacidade digestiva do ser humano.
Alexandra Bento, nutricionista, diz que os benefícios desta dieta “podem estar unicamente, na inclusão de alguns alimentos e não na exclusão de outros” já que o sistema digestivo humano evoluiu desde o paleolítico.
Afirmar que o nosso corpo não digere todos os alimentos é errado.”
Rodrigo estabelece, por sinal, limites na fidelidade à idade paleolítica. A ideia não é copiar a maneira como as pessoas comiam naquela altura, mas sim cozinhar de uma forma que seja compatível com aquela que eles usavam.” Desengane-se quem pense que a comida é servida crua ou apenas grelhada no forno. Para a mesa vai uma espécie de pão de sementes, crackers e tortas feitas com farinha de nozes. Mas na confecção nunca são utilizadas temperaturas acima dos 120 graus.
“É um processo muito mais próximo da desidratação do que da cozedura” explica Rodrigo.
A resistência inicial dos mais cépticos, diz o brasileiro, passa por norma após a primeira garfada. “Aqui tudo parece que vem da casa da vovó”. “ Fazemos, por exemplo a nossa manteiga e o nosso queijo”. O espaço também ajuda, relaxado e com uma decoração minimalista, convida ao conforto simples.
Não há notícia de que alguém tenha saído com fome do Sauvage. Já um pouco mais selvagem, quem sabe?
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio nº 31
Preços altos absorveriam todo o lucro. Tinha de arranjar, naquele mesmo dia, se possível, uma cozinheira e de mão-cheia, sem o que…
- É capaz de ter de jogar a carga no mar para se safar – comentou um homem em mangas de camisa. – Tá preso de verdade.
Nacib esqueceu por um momento suas preocupações: as máquinas do navio roncavam sem sucesso.
- Isso vai acabar… - a voz do Doutor na discussão.
- Ninguém nem sabe direito quem é esse tal Mundinho Falcão… - atacava Amâncio Leal, sempre suave.
- Não sabe? Pois é um homem que está nesse navio, um homem como Ilhéus precisa.
O navio sacudia-se, o casco arrastava-se sobre a areia, os motores gemiam, o prático gritava ordens. Na ponte de comando surgiu um homem ainda jovem, bem vestido, as mãos sobre os olhos, buscando reconhecer amigos entre os espectadores.
- Lá está ele… Mundinho! – avisou o Capitão.
- Onde?
- Lá em cima…
Sucederam-se os gritos:
- Mundinho! Mundinho!
O outro ouviu, procurou donde vinham as vozes, abanou com a mão. Depois desceu as escadas, desapareceu durante uns minutos, surgiu na amurada, entre os passageiros, risonho.
Punha agora as mãos em concha em torno da boca para anunciar:
- O engenheiro vai vir!
- Que engenheiro?
- Do Ministério da Viação, para estudar a barra. Grandes novidades…
- Tão vendo? O que é que eu dizia?
Por detrás de Mundinho Falcão surgia a figura de uma mulher nova, um grande chapéu verde, cabelos loiros. Tocava, sorridente, o braço do exportador.
- Que mulher, puxa! Mundinho não perde tempo…
- Um peixão! – Nhô Galo aprovou com a cabeça.
O navio balançou violentamente, assustando os passageiros – a mulher loira soltou um pequeno grito – o fundo desprendeu-se da areia, um clamor alegre desprendeu-se de terra e de bordo. Um homem escuro e magérrimo, cigarro na boca ao lado de Mundinho, olhava indiferente. O exportador disse-lhe uma coisa, ele riu.
Esse Mundinho é um finório… - comentou com simpatia, o coronel Ribeirinho.
O navio apitou, apito largo e livre, rumou para o porto
É um lorde, não é como a gente – respondeu sem simpatia o coronel Amâncio Leal.
Vamos saber as novidades que Mundinho traz – propôs o capitão.
Preços altos absorveriam todo o lucro. Tinha de arranjar, naquele mesmo dia, se possível, uma cozinheira e de mão-cheia, sem o que…
- É capaz de ter de jogar a carga no mar para se safar – comentou um homem em mangas de camisa. – Tá preso de verdade.
Nacib esqueceu por um momento suas preocupações: as máquinas do navio roncavam sem sucesso.
- Isso vai acabar… - a voz do Doutor na discussão.
- Ninguém nem sabe direito quem é esse tal Mundinho Falcão… - atacava Amâncio Leal, sempre suave.
- Não sabe? Pois é um homem que está nesse navio, um homem como Ilhéus precisa.
O navio sacudia-se, o casco arrastava-se sobre a areia, os motores gemiam, o prático gritava ordens. Na ponte de comando surgiu um homem ainda jovem, bem vestido, as mãos sobre os olhos, buscando reconhecer amigos entre os espectadores.
- Lá está ele… Mundinho! – avisou o Capitão.
- Onde?
- Lá em cima…
Sucederam-se os gritos:
- Mundinho! Mundinho!
O outro ouviu, procurou donde vinham as vozes, abanou com a mão. Depois desceu as escadas, desapareceu durante uns minutos, surgiu na amurada, entre os passageiros, risonho.
Punha agora as mãos em concha em torno da boca para anunciar:
- O engenheiro vai vir!
- Que engenheiro?
- Do Ministério da Viação, para estudar a barra. Grandes novidades…
- Tão vendo? O que é que eu dizia?
Por detrás de Mundinho Falcão surgia a figura de uma mulher nova, um grande chapéu verde, cabelos loiros. Tocava, sorridente, o braço do exportador.
- Que mulher, puxa! Mundinho não perde tempo…
- Um peixão! – Nhô Galo aprovou com a cabeça.
O navio balançou violentamente, assustando os passageiros – a mulher loira soltou um pequeno grito – o fundo desprendeu-se da areia, um clamor alegre desprendeu-se de terra e de bordo. Um homem escuro e magérrimo, cigarro na boca ao lado de Mundinho, olhava indiferente. O exportador disse-lhe uma coisa, ele riu.
Esse Mundinho é um finório… - comentou com simpatia, o coronel Ribeirinho.
O navio apitou, apito largo e livre, rumou para o porto
É um lorde, não é como a gente – respondeu sem simpatia o coronel Amâncio Leal.
Vamos saber as novidades que Mundinho traz – propôs o capitão.
quinta-feira, fevereiro 23, 2012
ZECA AFONSO - VINTE ANOS DE SAUDADE
A mesma doença que levou o meu sobrinho na força da idade, há pouco tempo e "injustamente", já antes, faz hoje vinte anos, tinha levado, aos 58 anos de idade, um homem ímpar, um cantor único, aquele que mais "mexeu" comigo: ZECA AFONSO!
Altas horas da madrugada, um casal acorda ao som insistente da campainha da porta.
O dono da casa levanta-se e, pela janela, pergunta:
- O que é que você quer?
- Olá. Eu sei que é tarde. Mas preciso que alguém me empurre. A sua casa é a única nesta região. Só você me pode empurrar!
Louco de todo, o recém-acordado replica:
- Eu não o conheço. São 4 horas da madrugada e pede-me para o ajudar?
Ah!, Vá-se f...r! Você está bêbado.
E volta para a cama. A mulher, que também acordara, não gostou da atitude do marido:
- Exageraste! Já ficaste sem bateria aqui há pouco tempo. Bem podias ter ajudado o indivíduo.
- Empurrá-lo? Ele está é bêbado - desculpa-se o marido.
- Mais um motivo para o ajudares - insiste a mulher. - Ele não vai conseguir andar sozinho. Logo tu, que sempre és tão prestável...
Mordido pelos remorsos, o marido veste-se e vai para a rua:
- Hei, eu vou ajudar-te! Onde é que estás?
E o bêbado, gritando do fundo do jardim:
- Aqui, no baloiço! .....
O dono da casa levanta-se e, pela janela, pergunta:
- O que é que você quer?
- Olá. Eu sei que é tarde. Mas preciso que alguém me empurre. A sua casa é a única nesta região. Só você me pode empurrar!
Louco de todo, o recém-acordado replica:
- Eu não o conheço. São 4 horas da madrugada e pede-me para o ajudar?
Ah!, Vá-se f...r! Você está bêbado.
E volta para a cama. A mulher, que também acordara, não gostou da atitude do marido:
- Exageraste! Já ficaste sem bateria aqui há pouco tempo. Bem podias ter ajudado o indivíduo.
- Empurrá-lo? Ele está é bêbado - desculpa-se o marido.
- Mais um motivo para o ajudares - insiste a mulher. - Ele não vai conseguir andar sozinho. Logo tu, que sempre és tão prestável...
Mordido pelos remorsos, o marido veste-se e vai para a rua:
- Hei, eu vou ajudar-te! Onde é que estás?
E o bêbado, gritando do fundo do jardim:
- Aqui, no baloiço! .....
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 30
Não ligava para o bar, não renovava os stocks de bebidas, nada fazia para agradar aos fregueses. Até um gramofone velho, onde tocava discos com áreas de óperas, esperava conserto, coberto de teias de aranha. Cadeiras desconjuntadas, mesas de pernas quebradas, um bilhar com o pano rasgado. Mesmo o nome do bar, pintado com cores cor de fogo sobre a imagem de um vulcão em erupção, desbotara com o tempo. Nacib comprou toda aquela porcaria e mais o nome e o ponto por pico dinheiro. O italiano só ficou com o gramofone e os discos.
Mandou pintar tudo de novo, fazer novas mesas, cadeiras, trouxe tabuleiros de damas e gamão e vendeu o bilhar para um bar de Macuco, construiu um reservado nos fundos para o jogo de pocker. Variado sortimento de bebidas, sorvete para as famílias na hora dos passeios à tarde pela nova avenida na praia e na saída dos cinemas e, mais que tudo os salgadinhos e os doces para a hora dos aperitivos.
Um detalhe aparentemente sem importância: os acarajés, os abarás, os bolinhos de mandioca e puba, as frigideiras de siri mole, de camarão e bacalhau, os doces de aipim, de milho. Tinha sido ideia de João Fulgêncio:
- Porque você não faz para vender no bar? – perguntara um dia, mastigando um acarajá da velha Filomena, preparado para o prazer exclusivo do árabe, amante da boa mesa.
No começo apenas os amigos se afreguesavam; a turma da Papelaria Modelo, vindo discutir ali após o fechamento do comércio, os amantes do gamão e das damas, e certos homens mais respeitáveis, como o Juiz de Direito e o doutor Maurício, pouco dados a se mostrarem nos bares do porto de frequência misturada, onde, não raro, explodiam rixas violentas com pancadaria e tiros de revólver.
Também logo vieram as famílias, atraídas pelo sorvete e pelos refrescos de frutas. Mas foi após ter iniciado o serviço de doces e salgados na hora dos aperitivos que a freguesia realmente começou a crescer e o bar a prosperar.
As partidas de pocker, no reservado, conheceram grande sucesso. Para esses fregueses – o coronel Amâncio Leal, o rico Maluf, o coronel Melk Tavares, Ribeirinho, o sírio Fuad da loja de calçados, Osmar Faria, cuja única ocupação era jogar pocker e pegar negrinhas no morro da Conquista, o Dr. Ezequiel, vários outros – ele guardava, pela meia-noite, pratos de frigideira, de bolinhos, de doces. A bebida corria farta, o barato da casa era alto.
Com pouco tempo o Vesúvio voltara florescer. Superou o Café Ideal, o Bar Chic, seu movimento só era inferior ao do Pinga de Ouro. Nacib não se podia queixar: trabalhava como um escravo, é bem verdade, ajudado por Chico Moleza e bico Fino, às vezes pelo moleque Tuísca, que estabelecera sua caixa de engraxar no passeio no passeio largo do bar, no lado da praça, junto às mesas ao ar livre.
Tudo ia bem, daquele trabalho ele gostava, no bar sabia-se de todas as novidades, comentavam-se os mais mínimos acontecimentos da cidade, as notícias do país e do mundo.
Uma simpatia geral cercava Nacib, “homem direito e trabalhador”, como dizia o Juiz ao sentar-se, após o jantar, numa das mesas de fora para contemplar o mar e o movimento da praça.
Tudo ia muito bem até esse dia, quando a maluca Filomena cumprira a antiga ameaça. Quem iria agora cozinhar para o bar – e para ele – Nacib cujo vício era comer bem, comidas temperadas e apimentadas? Pensar nas irmãs Dos Reis em carácter permanente era absurdo, não só elas não aceitariam, como ele não as poderia pagar.
(Ilhéus, click na imagem)
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 39 SOBRE O TEMA:
“VIOLÊNCIA SOBRE AS MULHERES” (3)
O Adultério e a Lei do FunilEm Israel, o adultério era considerado um crime público. Pelas leis antigas poderiam ser punido com a morte. Ao longo dos anos, a tradição e os costumes, controlados pelos homens, deu a essa lei, como tantas outras, uma interpretação masculina. E assim, o adultério do homem casado era um crime somente se o relacionamento fosse com uma mulher casada, mas no caso de uma prostituta, solteira ou escrava, a relação não era considerada criminosa ou adultério.
A lei era o funil, no caso de mulheres bastava que tivessem relações com qualquer homem. Tradicionalmente, a mulher suspeita de adultério era submetida a um teste de público: faziam-na tomar as águas amargas. Se a barriga inchasse era prova que ela tinha sido adúltera. Se não sentisse nenhum desconforto, era uma falsa suspeita (Números 5.11 a 31). Este teste o realizava a cada dia um padre na porta de Nicanor no Templo de Jerusalém. O homem não era submetido a esse ritual humilhante.
A lei era o funil, no caso de mulheres bastava que tivessem relações com qualquer homem. Tradicionalmente, a mulher suspeita de adultério era submetida a um teste de público: faziam-na tomar as águas amargas. Se a barriga inchasse era prova que ela tinha sido adúltera. Se não sentisse nenhum desconforto, era uma falsa suspeita (Números 5.11 a 31). Este teste o realizava a cada dia um padre na porta de Nicanor no Templo de Jerusalém. O homem não era submetido a esse ritual humilhante.
quarta-feira, fevereiro 22, 2012
Do Grande Milôr Fernandes
(adaptado)
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. "Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho! O Sol está quente comó caralho! O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho! O gajo é parvo comó caralho! Entendes? No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem. O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Nãopercas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça. E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
-"Chega! Vai levar no olho do cu!"? Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade e foda-se!!!
Atente no que lhe digo, não desespere. Este país... ainda vai ser um país do caralho!
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. "Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho! O Sol está quente comó caralho! O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho! O gajo é parvo comó caralho! Entendes? No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem. O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Nãopercas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça. E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
-"Chega! Vai levar no olho do cu!"? Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade e foda-se!!!
Atente no que lhe digo, não desespere. Este país... ainda vai ser um país do caralho!
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 29
- Mas o árabe não se interessou, estava distante de toda aquela discussão, capaz de empolgá-lo noutro momento.
Voltado para seu problema – o bar sem cozinheira, um desastre! – apenas abanou a cabeça às palavras do amigo.
- Você está jururu. Porquê essa cara de enterro?
- Minha cozinheira foi embora…
- Ora que motivo… - Capitão voltou-se para a discussão, cada vez mais exaltada, reunindo agora várias pessoas em torno do grupo.
Ora que motivo… ora que motivo… Nacib afastou-se uns passos como a colocar distância entre ele e a discussão perturbadora. A voz do Doutor cruzava-se, oratória, com a voz macia mas firme do coronel Amâncio. Que lhe importavam a Intendência de Ilhéus, deputados e senadores!
Importava-lhe, sim, o jantar do dia seguinte, trinta talheres. As irmãs Dos Reis, se aceitassem a encomenda, iam pedir um dinheirão. E logo quando tudo ia tão bem…
Quando ele comprara o bar Vesúvio, situado na Praça de São Sebastião, em zona residencial, distante – distante, não, que as distâncias em Ilhéus eram ridículas – afastado do centro comercial, do porto, onde estavam os seus maiores concorrentes, alguns amigos e seu tio consideraram que ele ia cometer um loucura. O bar andava numa decadência medonha, vazio, sem freguesia, às moscas.
Prosperavam os botequins do porto, afreguesados. Mas Nacib não queria continuar a medir pano no balcão da loja onde trabalhava desde a morte do pai. Não gostava daquele trabalho, muito menos da sociedade com o tio e o cunhado (sua irmã casara com um agrónomo da Estação Experimental de Cacau).
Enquanto o pai era vivo, a loja ia bem, o velho tinha iniciativa, era simpático. Já o tio, homem de família grande e métodos rotineiros, marcava passo, medroso, contentando-se com pouco. Nacib preferiu vender a sua parte, andou fazendo o dinheiro render nus perigosos negócios de compra e venda de cacau, terminou adquirindo o bar. Comprara de um italiano, ia fazer cinco anos. O italiano metera-se pelo interior na alucinação do cacau.
Bar era bom negócio em Ilhéus, melhor só mesmo cabaré. Terra de muito movimento, de gente chegando atraída pela fama de riqueza, multidão de caixeiros viajantes enchendo as ruas, muita gente de passagem, quantidade de negócios resolvidos nas mesas dos bares, o hábito de beber valentemente e o costume levado pelos ingleses, quando da construção da Estrada de Ferro, do aperitivo antes do almoço e do jantar, disputado no pocker de dados, hábito que se estenderá a toda a população masculina.
Antes do meio-dia e depois das cinco da tarde os bares superlotavam.
O bar Vesúvio era o mais antigo da cidade. Ocupava o andar térreo de um sobrado de esquina numa pequena e linda praça em frente ao mar, onde se erguia a Igreja de São Sebastião. Na outra esquina inaugurara-se recentemente, o Cine-Teatro Ilhéus.
Não se devia a decadência do Vesúvio à sua localização fora das ruas comerciais, onde prosperavam o Café Ideal, o Bar Chic, o Pinga de Ouro, de Plínio Araçá, os três principais concorrente de Nacib.
Devia-se, sobretudo ao italiano, de cabeça voltada para as roças de cacau.
(Click em Ihéus, a que chamam "Princezinha do Sul". Já foi o 1º produtor de cacau do mundo mas devido a uma enfermidade na planta conhecida cobo "vassoura-de-bruxa" a produção baixou muito.)
COMENTÁRIOS ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 39 SOBRE O TEMA:
“VIOLÊNCIA SOBRE AS MULHERES” (2)
A Lapidação – Uma Tortura
A lapidação ou apedrejamento é um método muito antigo de execução. É tortura, porque a morte vem lentamente e isso aumenta o sofrimento. O condenado a esta pena está enterrado no chão até meio corpo para que não possa escapar.
À medida que a humanidade toma consciência dos direitos humanos, esta tortura cruel está sendo banida da legislação. Na lei islâmica Sharia, existem crimes sexuais, especialmente o adultério cometido por mulheres, que é punível com apedrejamento, como nos dias de Jesus. Mas esta autêntica barbaridade já não é praticada em todos os países islâmicos. O Código Penal iraniano estabelece o apedrejamento como uma punição por adultério e especifica que as pedras usadas não devem ser grandes o suficiente para matar a pessoa de um ou dois golpes ou tão pequena que não seja considerada como pedras . Segundo a Amnistia Internacional, depois de vários casos detectados na Nigéria, em 2006, detectaram-se ainda outros casos isolados no Afeganistão, Irão e Iraque.
Para evitar juizos simplistas e ter-se uma visão mais completa da situação das mulheres no Islão é muito interessante ler as obras do escritor marroquino Fatema Mernisi. Particularmente provocante para a cultura ocidental é o texto "O Harém no Ocidente" (Oxford University Press, 2006).
À medida que a humanidade toma consciência dos direitos humanos, esta tortura cruel está sendo banida da legislação. Na lei islâmica Sharia, existem crimes sexuais, especialmente o adultério cometido por mulheres, que é punível com apedrejamento, como nos dias de Jesus. Mas esta autêntica barbaridade já não é praticada em todos os países islâmicos. O Código Penal iraniano estabelece o apedrejamento como uma punição por adultério e especifica que as pedras usadas não devem ser grandes o suficiente para matar a pessoa de um ou dois golpes ou tão pequena que não seja considerada como pedras . Segundo a Amnistia Internacional, depois de vários casos detectados na Nigéria, em 2006, detectaram-se ainda outros casos isolados no Afeganistão, Irão e Iraque.
Para evitar juizos simplistas e ter-se uma visão mais completa da situação das mulheres no Islão é muito interessante ler as obras do escritor marroquino Fatema Mernisi. Particularmente provocante para a cultura ocidental é o texto "O Harém no Ocidente" (Oxford University Press, 2006).
terça-feira, fevereiro 21, 2012
IMAGEM
Calçada da Ajuda. Ainda nos anos sessenta subia neste eléctrico para ir trabalhar no HMDIC (Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas) onde era Chefe da Secretaria com o posto de Tenente Miliciano. Ao fundo, a ponte para o outro lado do Tejo, que nessa altura ainda se chamava de Salazar.
Um dia, Passos Coelho, contratou um trabalhador e colocou-o a abrir rasgos na terra. Deu-lhe um horário de trabalho das 8:00 às 17:00 horas. Certo dia, Passos Coelho, observando o trabalho do seu colaborador, achou que ele podia ser melhor aproveitado.
Sugeriu-lhe o seguinte:
- Ó amigo, já que você tem 2 mãos, com uma mão você cava e com a outra vai regando. Olhe e já agora começa a vir das 7:00 às 18:00 horas.
No outro dia, Passos Coelho olhou outra vez para junto do seu colaborador e achou-o ainda pouco produtivo. Então sugeriu-lhe:
- Já que você além das mãos tem também uma boca, podia enchê-la de sementes e enquanto com uma mão cava e com a outra rega podia cuspir as sementes. Já agora, começa a trabalhar ás 6.00 e termina às 19:00 horas.
Noutro dia Passos Coelho começou a pensar que o seu colaborador deveria trabalhar enquanto houvesse luz de dia. Portanto sugeriu-lhe que o seu trabalho passasse a ser das 5:00 até às 22:00 horas. E assim foi.
Um dia quando o pobre trabalhador voltava a casa do trabalho, deparou com a sua mulher com outro homem na cama. O homem, chorou, chorou, chorou vezes sem conta até que a mulher e o amante desesperados com aquela situação, tentaram consola-lo, perguntando-lhe porque chorava ele assim tanto. Ao que ele respondeu:
- Se o Passos Coelho descobre agora que eu tenho 2 cornos, coloca-me lá umas lanternas e põe-me a trabalhar a noite toda.!!!
Sugeriu-lhe o seguinte:
- Ó amigo, já que você tem 2 mãos, com uma mão você cava e com a outra vai regando. Olhe e já agora começa a vir das 7:00 às 18:00 horas.
No outro dia, Passos Coelho olhou outra vez para junto do seu colaborador e achou-o ainda pouco produtivo. Então sugeriu-lhe:
- Já que você além das mãos tem também uma boca, podia enchê-la de sementes e enquanto com uma mão cava e com a outra rega podia cuspir as sementes. Já agora, começa a trabalhar ás 6.00 e termina às 19:00 horas.
Noutro dia Passos Coelho começou a pensar que o seu colaborador deveria trabalhar enquanto houvesse luz de dia. Portanto sugeriu-lhe que o seu trabalho passasse a ser das 5:00 até às 22:00 horas. E assim foi.
Um dia quando o pobre trabalhador voltava a casa do trabalho, deparou com a sua mulher com outro homem na cama. O homem, chorou, chorou, chorou vezes sem conta até que a mulher e o amante desesperados com aquela situação, tentaram consola-lo, perguntando-lhe porque chorava ele assim tanto. Ao que ele respondeu:
- Se o Passos Coelho descobre agora que eu tenho 2 cornos, coloca-me lá umas lanternas e põe-me a trabalhar a noite toda.!!!
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 28
- Não liga? Deixa assim, de propósito. Para não entrar navio grande. Para a exportação continuar pela Baía.
- Também a Intendência não faz nada, O Intendente não tem voz activa. Só sabe dizer “Ámen” ao Governo.
- Ilhéus precisa mostrar o que vale.
O grupo vindo da banca de peixe envolvia-se nas conversas. O Doutor, com a sua habitual excitação, conclamava o povo contra os políticos, contra os governantes da Baía a tratar o município com desprezo, como se fosse ele o mais rico, o mais próspero do Estado, o que contribuía com maiores rendas para os cofres públicos.
Isto sem falar em Itabuna, cidade crescendo como um cogumelo, município também sacrificado à incapacidade dos governantes, à incúria, à má vontade para com o porto de Ilhéus.
- A culpa é mesmo nossa, devemos reconhecer – disse o capitão.
- Como?
- Nossa e de mais ninguém. E é fácil provar: quem é que manda na política de Ilhéus? Os mesmos homens de há vinte anos passados. Elegemos intendente, deputado e senador estadual, deputado federal, a gente que não tem nada a ver com Ilhéus, devido a compromissos antigos, do tempo em que Judas perdeu as botas.
- João Fulgêncio apoiava:
- É isso mesmo, os coronéis continuam a votar nos mesmos homens que os sustentaram naquele tempo.
- Resultado: os interesses de Ilhéus que se arranjem.
- Compromisso é compromisso…- defendeu-se o coronel Amâncio Leal – Na hora da necessidade foi com eles que a gente contou…
- As necessidades agora são outras…
- O Doutor brandia o dedo:
- Mas essa bandalheira vai acabar. Havemos de eleger homens que representem os verdadeiros interesses da terra.
- O coronel Manuel da Onças riu:
- E os votos, Doutor, onde os vão buscar?
O coronel Amâncio falou com uma voz suave:
- Ouça, doutor: fala-se muito de progresso, de civilização, da necessidade de mudar tudo em Ilhéus. Não ouço outra conversa o dia inteiro. Mas, diga-me uma coisa: quem é que fez esse progresso? Não fomos nós, os fazendeiros de cacau? Temos nossos compromissos, tomados numa hora difícil, não somos homens de duas palavras. Enquanto eu for vivo, meus votos são para o meu compadre Ramiro Bastos e para quem ele indicar. Nem quero saber o nome.
Foi ele quem me deu a mão forte quando a gente estava jogando a vida nessas brenhas…
O árabe Nacib incorporava-se à roda, ainda sonolento, preocupado e abatido:
- De que se trata?
O Capitão explicava.
- É o eterno atraso… Os coronéis não compreendem que não estão mais naquele tempo, que hoje as coisas são diferentes. Os problemas não são mais os de há vinte ou trinta anos passados.
(Click e aumente a imagem das lindas praias de areias brancas e finas, as mais lindas de todo o nordeste, 100 quilómetros de deleite. Ilhéus, fundada em 1534, entre o Oceano e a mata atlântica.)
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 30 SOBRE O TEMA:
“VIOLÊNCIA SOBRE AS MULHERES”(1)
Uma história muito chocanteA história de Jesus e da adúltera só aparece no Evangelho de João (8:1-11) e nem em todos os manuscritos antigos que sobreviveram a partir deste evangelho. Alguns exegetas explicam que ela foi reprimida nos outros três Evangelhos e nos manuscritos originais de João porque a posição de Jesus com a mulher "pecadora", sua flexibilidade, o seu desafio à lei religiosa de obrigatoriedade de apedrejamento, foi considerada excessiva e até mesmo escandalosa para as primeiras comunidades judaico-cristãs, educados numa cultura discriminadora das mulheres.
Paulo: Em Cristo não há homem nem mulher
Paulo: Em Cristo não há homem nem mulher
A violência contra as mulheres tem as suas raízes mais profundas nas religiões patriarcais e o judaísmo do tempo de Jesus era uma religião totalmente patriarcal. As atitudes de Jesus para com as mulheres foram escândalosas. Etimologicamente, "escândalo" é "a pedra na qual se tropeça."
Apesar dos ensinamentos de Jesus, baseados na igualdade entre os seres humanos e, portanto, entre homens e mulheres, essas “pedras” não poderiam ser suprimidas completamente. E, embora em seus escritos, Paulo reflita a sua educação judaica tradicional, ele também tem expressões que, sem dúvida, causaram um grande impacto no seu meio e no seu tempo.
A frase mais conhecida de Paulo em favor da igualdade do género é:
- “Em Cristo não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem ou mulher, todos eles são um só em Jesus Cristo” (Gl 3 26-28).
Particularmente relevante nesta frase é que o judeu Paulo está rejeitando explicitamente a oração diária dos judeus:
A frase mais conhecida de Paulo em favor da igualdade do género é:
- “Em Cristo não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem ou mulher, todos eles são um só em Jesus Cristo” (Gl 3 26-28).
Particularmente relevante nesta frase é que o judeu Paulo está rejeitando explicitamente a oração diária dos judeus:
- “Bendito sejas Tu, Senhor, por me fazeres judeu e não gentio, livre e não escravo, macho e não fêmea”.
segunda-feira, fevereiro 20, 2012
ZÉ PEIXE - O PRÁTICO de ARACAJÚ
Já conhecíamos a figura do Prático, (entre nós, piloto de barra) de que nos fala Jorge Amado no romance da Gabriela, a propósito da entrada dos navios no porto de Ilhéus. Pois bem, apresento-vos o prático de Aracajú que, aos 71 anos, exerce a sua profissão de prático de uma forma muito prática... um abraço de admiração do Memórias Futuras, aqui de Santarém, ao amigo Zé Peixe.
O casamento de um velhote de 80 anos e de uma rapariga de 20 era o motivo de todas as conversas na aldeia. Um ano depois do casamento, o casal apresenta-se no hospital para o nascimento do seu primeiro filho.
A parteira sai da sala de partos para felicitar o velhote e diz-lhe:
- «É espantoso. Como é que consegue na sua idade?»
O velho sorri e diz : «Tem de se manter o motor a trabalhar.»
No ano seguinte, o casal aparece de novo no hospital para o nascimento do segundo filho.
A mesma enfermeira acompanha o parto e sai para felicitar o nosso velhote, dizendo-lhe: «O Senhor é incrível. Como é que consegue?»
O velho sorri e diz : «Tem de se manter o motor a trabalhar.»
Mais um ano e o casal aparece no hospital para o nascimento do terceiro filho. A mesma enfermeira acompanha uma vez mais o parto e, após o nascimento, vai de novo ter com o velhote, sorri-lhe e diz: «O Senhor é de facto incrível. Como é que consegue?»
O velho sorri e diz: «É como já lhe disse, tem de se manter o motor a trabalhar.»
A enfermeira continua a sorrir, dá-lhe uma pancadinha nas costas e diz-lhe :
- «Bom, creio que é altura de mudar o óleo, este ja saiu preto.»
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio nº 27
Lourival, desdenhoso e enfarado, tão superior, tão inglês em sua suficiência, viúvo sem filhos de mulher milionária, casara-se novamente de súbito, numa das suas constantes viagens à Europa, com uma francesa, modelo de uma casa de modas.
Grande diferença de idades separava marido e mulher; Madaleine mal escondia as razões porque casara.
Mundinho sentiu que se não partisse definitivamente nada poderia, nenhuma consideração moral, nenhum escândalo, nenhum remorso possível, impedir que terminassem um nos braços do outro.
Os olhos perseguiam-se pela casa, as mãos tremiam ao tocar-se, as vozes embargadas. Mal podia o desdenhoso e frio Lourival imaginar que o irmão mais moço, o aloucado Mundinho, rompera com tudo por sua causa, por amor ao irmão.
Ihéus o curara, pois estava curado; poderia, quem sabe?, se quisesse, fitar Madaleine, já nada sentia por ela. Com o binóculo, percorre a cidade de Ilhéus, vê o árabe Nacib na sua janela. Sorri porque o dono do bar recorda-lhe o Capitão, eram parceiros habituais da dama e do gamão.
O Capitão ia servir-lhe muito. Tornara-se o seu melhor amigo e há tempos vinha-lhe acenando, em palavras vagas, com a possibilidade de fazer política. Não era segredo na cidade o despeito do Capitão contra os Bastos; seu pai fora por eles derrubado do Governo local, por eles arruinado na luta política, há vinte anos. Mundinho fazia-se desentendido, estava ainda preparando o terreno. A hora era chegada.
Precisava levar o Capitão a falar franco, a lhe oferecer a chefia da oposição. Mostraria aos irmãos de quanto era capaz. Sem contar que Ilhéus precisava de um homem como ele para incrementar o progresso, para imprimir-lhe um ritmo acelerado, aqueles coronéis nem sabiam das necessidades da região.
Mundinho restituía o binóculo, o prático subia para bordo, o navio embicava para a barra.
Da Chegada do Navio
Apesar da hora matinal, uma pequena multidão acompanhava os penosos trabalhos de desencalhe do navio. Pegara fundo na barra, parecia ali ancorado para sempre.
Da ponta do morro do Unhão, os curiosos viam o comandante e o prático afobados, dando ordens, dando ordens, marinheiros correndo, oficiais passando apressados. Pequenos botes, vindo do Pontal rondavam o navio.
Passageiros debruçavam-se na amurada, quase todos de pijama e chinelos, um ou outro vestido para o desembarque. Esses trocavam frases, aos gritos, com os parentes que haviam madrugado para recebê-los no porto, informações sobre a viagem, pilhérias sobre o encalhe. De borda alguém anunciava a uma família em terra.
- Morreu num sofrimento medonho, a pobrezinha!
Notícias que arrancou soluços de uma senhora de preto, de meia-idade, junto a um homem magro e sorumbático com sinais de luto no braço e na lapela do paletó. Duas crianças olhavam o movimento sem se darem conta das lágrimas maternas.
Entre os espectadores formavam-se grupos, trocavam-se cumprimentos, comentava-se o acontecimento:
- É uma vergonha essa barra…
- É um perigo. Um dia destes um navio fica ali para sempre, adeus porto de Ilhéus…
(Click na imagem do porto que não havia quando Mundinho, no seu regresso do Rio, ficou encalhado na barra.)
Grande diferença de idades separava marido e mulher; Madaleine mal escondia as razões porque casara.
Mundinho sentiu que se não partisse definitivamente nada poderia, nenhuma consideração moral, nenhum escândalo, nenhum remorso possível, impedir que terminassem um nos braços do outro.
Os olhos perseguiam-se pela casa, as mãos tremiam ao tocar-se, as vozes embargadas. Mal podia o desdenhoso e frio Lourival imaginar que o irmão mais moço, o aloucado Mundinho, rompera com tudo por sua causa, por amor ao irmão.
Ihéus o curara, pois estava curado; poderia, quem sabe?, se quisesse, fitar Madaleine, já nada sentia por ela. Com o binóculo, percorre a cidade de Ilhéus, vê o árabe Nacib na sua janela. Sorri porque o dono do bar recorda-lhe o Capitão, eram parceiros habituais da dama e do gamão.
O Capitão ia servir-lhe muito. Tornara-se o seu melhor amigo e há tempos vinha-lhe acenando, em palavras vagas, com a possibilidade de fazer política. Não era segredo na cidade o despeito do Capitão contra os Bastos; seu pai fora por eles derrubado do Governo local, por eles arruinado na luta política, há vinte anos. Mundinho fazia-se desentendido, estava ainda preparando o terreno. A hora era chegada.
Precisava levar o Capitão a falar franco, a lhe oferecer a chefia da oposição. Mostraria aos irmãos de quanto era capaz. Sem contar que Ilhéus precisava de um homem como ele para incrementar o progresso, para imprimir-lhe um ritmo acelerado, aqueles coronéis nem sabiam das necessidades da região.
Mundinho restituía o binóculo, o prático subia para bordo, o navio embicava para a barra.
Da Chegada do Navio
Apesar da hora matinal, uma pequena multidão acompanhava os penosos trabalhos de desencalhe do navio. Pegara fundo na barra, parecia ali ancorado para sempre.
Da ponta do morro do Unhão, os curiosos viam o comandante e o prático afobados, dando ordens, dando ordens, marinheiros correndo, oficiais passando apressados. Pequenos botes, vindo do Pontal rondavam o navio.
Passageiros debruçavam-se na amurada, quase todos de pijama e chinelos, um ou outro vestido para o desembarque. Esses trocavam frases, aos gritos, com os parentes que haviam madrugado para recebê-los no porto, informações sobre a viagem, pilhérias sobre o encalhe. De borda alguém anunciava a uma família em terra.
- Morreu num sofrimento medonho, a pobrezinha!
Notícias que arrancou soluços de uma senhora de preto, de meia-idade, junto a um homem magro e sorumbático com sinais de luto no braço e na lapela do paletó. Duas crianças olhavam o movimento sem se darem conta das lágrimas maternas.
Entre os espectadores formavam-se grupos, trocavam-se cumprimentos, comentava-se o acontecimento:
- É uma vergonha essa barra…
- É um perigo. Um dia destes um navio fica ali para sempre, adeus porto de Ilhéus…
(Click na imagem do porto que não havia quando Mundinho, no seu regresso do Rio, ficou encalhado na barra.)
ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 39 SOBRE O TEMA:
“Violência Contra as Mulheres”
RAQUEL - Emissoras Latinas chega hoje, com Jesus, a Jerusalém. Ele desejou voltar para a capital de seu país natal, atravessar as ruas estreitas e pitorescas do bairro árabe. Alguma lembrança especial?
JESUS - Embora isto esteja muito mudado, eu acho que foi por aqui, que eles arrastaram a pobre mulher…
RAQUEL - A história da mulher adúltera?
JESUS - A história de Joana, ainda me lembro o nome dela.
RAQUEL - E eu lembro-me do filme, quando a mulher é descoberta em flagrante pelo marido e levada para as ruas seminua, desgrenhada, e escapa de ser apedrejada por uma multidão enfurecida pela sua intervenção oportuna.
JESUS - Foi um escândalo…
RAQUEL - Sim , uma história mais típica de alguns relatos de crimes sensacionais do que de um texto do Evangelho…
JESUS - Não, eu digo escândalo em outro sentido. As leis religiosas do meu país puniam o adultério com a morte. E esses homens que faziam as leis tinham duas medidas diferentes.
RAQUEL - Uma medida em seu favor, penso eu, como sempre vocês fizeram. Desculpe, não quero dizer o senhor, mas é que ...
JESUS – Diziam que o homem só cometia adultério se enganasse a sua mulher com uma mulher casada, mas já não seria considerado adultério se fosse com uma solteira, viúva, divorciada, prostituta ou uma escrava. E ninguém o castigava. Para a mulher havia outra medida: com qualquer homem era uma adúltera.
RAQUEL – E era sempre punida com a morte?
JESUS - Sim, com pedras. O adultério era um crime público e toda a comunidade vinha atirar pedras.
RAQUEL - Que lei selvagem ... Em alguns países islâmicos ainda é assim...
JESUS – Cometiam-se grandes injustiças. Maledicências e difamações terminavam com a morte de mulheres inocentes. Muitos dos que atiravam as pedras eram homens que haviam passado sua vida a enganar suas mulheres. Injustos que saíam para fazer justiça! E em nome de Deus!
RAQUEL - Sempre me impressionou o que o senhor fez. Foi muito compreensivo ao perdoar a essa mulher...
JESUS - Por que não perdoá-la? A árvore da infidelidade pode ter muitas raízes ... a mim é que não perdoaram.
RAQUEL - Quem? Os velhos que ficaram com o desejo de atirar pedras?
JESUS - Não, Pedro, Tiago, João, do movimento. Eles ficaram muito aborrecidos comigo. Não compreenderam o verdadeiro problema, a “pedra” eram as leis do meu povo que tão mal trataram as mulheres.
RAQUEL – E diga-me, foi esse o primeiro caso em que o senhor conheceu uma mulher prestes a ser apedrejada?
JESUS - Não . O apedrejamento de mulheres era comum… eu já tinha visto outras vezes… Posso pedir-te um favor, Raquel?
RAQUEL – Certamente, o que é?
JESUS - Quero dizer algo para os nossos ouvintes.
RAQUEL - Os microfones são seus.
JESUS - Eu também pequei, Raquel. Eu ofendi a Deus. Apesar de saber, desde criança, que tudo isto acontecia, esta crueldade, nunca fiz nada para detê-los. Mas naquele dia, diante daquela mulher, Deus abriu meus olhos. Eu entendi que as leis e tradições que são ofensivas para as mulheres ofendem a Deus. Que a violência contra as mulheres é a violência contra Deus.
RAQUEL - Obrigado, Mestre, em nome de todas as mulheres que nos ouvem.
De Jerusalém, perto do portão que foi chamado de Porta do Ângulo, Raquel Perez, Emissoras Latinas.
domingo, fevereiro 19, 2012
HOJE É
DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)
(Da minha cidade de Santarém)
Conta-se daquele homem que já muito velhinho, sentindo-se bastante doente, levantou-se da cama, saiu ao quintal e por momentos abraçou cada uma das suas árvores. Depois, regressou a casa, deitou-se novamente e morreu tranquilo.
Era irrelevante que as árvores fossem diferentes: uma figueira, uma laranjeira e uma oliveira. A todas, ao longo de uma vida, tratara de igual modo: regara-as de acordo com as suas necessidades, tirara-lhes os ramos secos.
Elas, em troca, deram-lhe a sombra à qual se recolhia nas solarengas tardes de verão e os frutos que ele colhera com carinho: figos pretos de tamanho médio, doces e saborosos, laranjas grandes e sumarentas e azeitonas, que ele retalhava, demolhava para perderem o sabor acre e depois temperava com sal e orégãos para serem comidas com nacos de pão de trigo caseiro. Como me dizia a minha avó, quando eu era garoto e afirmava que não gostava da comida: …“então come pão com azeitonas”, menu dos pobres na aldeia.
Naqueles momentos em que percebera que a vida o ia abandonar não conseguiu evitar vê-las mais uma vez, tocar-lhes com afecto, no fundo… despedir-se delas. Tinham sido tantos anos de uma relação sempre presente, de uma amizade em que ambos, homem e árvores, se ajudaram a sobreviver e, mais importante, foram uma companhia fiel.
De certa forma, é uma falácia afirmarmos que somos donos das árvores…elas vivem muito mais tempo que nós, a maioria esmagadora das que nos viram chegar vêm-nos partir, já cá estavam quando nascemos e cá ficam depois de morrermos. As suas vidas correspondem à vida de gerações de pessoas, algumas mantém-se vivas durante centenas de anos para não referir já o velho pinheiro de “matusálém”, da espécie Pinus Longaeva, da Califórnia, que sobreviveu 4.800 anos.
Quanto ao seu tamanho, algumas deveriam ser consideradas monumentos, não da Humanidade mas da Natureza:
- As Sequóias “Sempre Verdes” da costa norte-americana do Pacífico batem todos os recordes chegando a atingir, a mais alta, 115,6 metros;
- A Sequóia “Gigante”, a maior árvore do mundo, tem 1.489 m3 de volume o que significa que seria necessária uma frota de quase 40 camiões TIR de 40 toneladas cada para a transportar.
Este conjunto de Sequóias encontram-se hoje resguardado no Parque Nacional das Sequóias, na Califórnia.
Mas o homem, que se tem permitido destruir sem dó nem piedade esta herança fabulosa de vida, continua cego por interesses de “hoje” sacrificando o futuro das gerações que o seguem. No fundo, prevalece o egoísmo da geração presente numa postura que se traduz no tal: “quem vier atrás que feche a porta…”. O materialismo, a ganância pelo dinheiro tornou-o irresponsável, insensível.
Mas nem sempre terá sido assim:
- O homem do paleolítico vivia em comunhão com a natureza numa época em que predominavam as florestas e, no silêncio das noites, nos seus locais de dormida, ele ouvia os sons do vento perpassarem por entre as folhas dos ramos mais altos das árvores que o rodeavam.
Esses sons pareciam uma conversa em privado, umas vezes ligeiramente mais acalorada, outras em frases mais longas e monocórdicas interrompidas por silêncios intermitentes.
O homem do paleolítico ouvia, deitado, e pareceu-lhe a ele, ser primitivo, que eram os deuses que falavam com as árvores.
Humilde, frágil, dependente da natureza, mas muito sagaz e observador, pensou aproveitar aquele relacionamento entre árvores e deuses a seu favor utilizando aquelas como intermediárias entre ele e os deuses.
Assim, discretamente, levantava-se, dirigia-se a uma das árvores mais altas, tocava-lhe com respeito e contava-lhe as suas angústias, os seus medos e receios e pedia-lhe que solicitasse aos deuses, nas suas conversas, a protecção para si, para a sua família e para o seu grupo.
Passaram-se milénios e quase tudo aconteceu de então para cá: fomos compreendendo melhor as forças da natureza, domesticámos plantas e animais, construímos cidades e civilizações e, progressivamente, temos vindo a desenlear o fio do conhecimento científico. No entanto, apesar de um tão longo caminho percorrido desde então, eu próprio, que nem sequer sou crente, dou por mim a bater com os nós dos dedos da minha mão fechada na madeira do tampo da mesa – à falta de uma árvore - para afastar os mais presságios, tal como o meu antepassado remoto…
…. Por isso, eu gostava de lhes pedir licença para lhes chamar de minhas irmãs árvores.
Era irrelevante que as árvores fossem diferentes: uma figueira, uma laranjeira e uma oliveira. A todas, ao longo de uma vida, tratara de igual modo: regara-as de acordo com as suas necessidades, tirara-lhes os ramos secos.
Elas, em troca, deram-lhe a sombra à qual se recolhia nas solarengas tardes de verão e os frutos que ele colhera com carinho: figos pretos de tamanho médio, doces e saborosos, laranjas grandes e sumarentas e azeitonas, que ele retalhava, demolhava para perderem o sabor acre e depois temperava com sal e orégãos para serem comidas com nacos de pão de trigo caseiro. Como me dizia a minha avó, quando eu era garoto e afirmava que não gostava da comida: …“então come pão com azeitonas”, menu dos pobres na aldeia.
Naqueles momentos em que percebera que a vida o ia abandonar não conseguiu evitar vê-las mais uma vez, tocar-lhes com afecto, no fundo… despedir-se delas. Tinham sido tantos anos de uma relação sempre presente, de uma amizade em que ambos, homem e árvores, se ajudaram a sobreviver e, mais importante, foram uma companhia fiel.
De certa forma, é uma falácia afirmarmos que somos donos das árvores…elas vivem muito mais tempo que nós, a maioria esmagadora das que nos viram chegar vêm-nos partir, já cá estavam quando nascemos e cá ficam depois de morrermos. As suas vidas correspondem à vida de gerações de pessoas, algumas mantém-se vivas durante centenas de anos para não referir já o velho pinheiro de “matusálém”, da espécie Pinus Longaeva, da Califórnia, que sobreviveu 4.800 anos.
Quanto ao seu tamanho, algumas deveriam ser consideradas monumentos, não da Humanidade mas da Natureza:
- As Sequóias “Sempre Verdes” da costa norte-americana do Pacífico batem todos os recordes chegando a atingir, a mais alta, 115,6 metros;
- A Sequóia “Gigante”, a maior árvore do mundo, tem 1.489 m3 de volume o que significa que seria necessária uma frota de quase 40 camiões TIR de 40 toneladas cada para a transportar.
Este conjunto de Sequóias encontram-se hoje resguardado no Parque Nacional das Sequóias, na Califórnia.
Mas o homem, que se tem permitido destruir sem dó nem piedade esta herança fabulosa de vida, continua cego por interesses de “hoje” sacrificando o futuro das gerações que o seguem. No fundo, prevalece o egoísmo da geração presente numa postura que se traduz no tal: “quem vier atrás que feche a porta…”. O materialismo, a ganância pelo dinheiro tornou-o irresponsável, insensível.
Mas nem sempre terá sido assim:
- O homem do paleolítico vivia em comunhão com a natureza numa época em que predominavam as florestas e, no silêncio das noites, nos seus locais de dormida, ele ouvia os sons do vento perpassarem por entre as folhas dos ramos mais altos das árvores que o rodeavam.
Esses sons pareciam uma conversa em privado, umas vezes ligeiramente mais acalorada, outras em frases mais longas e monocórdicas interrompidas por silêncios intermitentes.
O homem do paleolítico ouvia, deitado, e pareceu-lhe a ele, ser primitivo, que eram os deuses que falavam com as árvores.
Humilde, frágil, dependente da natureza, mas muito sagaz e observador, pensou aproveitar aquele relacionamento entre árvores e deuses a seu favor utilizando aquelas como intermediárias entre ele e os deuses.
Assim, discretamente, levantava-se, dirigia-se a uma das árvores mais altas, tocava-lhe com respeito e contava-lhe as suas angústias, os seus medos e receios e pedia-lhe que solicitasse aos deuses, nas suas conversas, a protecção para si, para a sua família e para o seu grupo.
Passaram-se milénios e quase tudo aconteceu de então para cá: fomos compreendendo melhor as forças da natureza, domesticámos plantas e animais, construímos cidades e civilizações e, progressivamente, temos vindo a desenlear o fio do conhecimento científico. No entanto, apesar de um tão longo caminho percorrido desde então, eu próprio, que nem sequer sou crente, dou por mim a bater com os nós dos dedos da minha mão fechada na madeira do tampo da mesa – à falta de uma árvore - para afastar os mais presságios, tal como o meu antepassado remoto…
…. Por isso, eu gostava de lhes pedir licença para lhes chamar de minhas irmãs árvores.
(Click na imagem do grupo de campinos, em frente da Casa do Campino, no largo onde, há anos atrás, tinha lugar a Feira de Santarém)