Esclareci, na volta do E-mail, o verdadeiro sentido das minhas palavras e julgo que também as de D. Policarpo as quais, de resto, estão na linha daquilo que ele próprio pensa sobre este assunto.
Mas vale a pena voltar ao assunto para que não fiquem dúvidas:
- Diz-me o meu querido amigo lá das terras do sol nascente:
- “Não seria preferível falar de Diferenças Culturais que, como tal, devem ser cuidadas?”
…Mas é óbvio que sim, é precisamente disso que estamos a falar, ou a religião que professamos não será um factor importantíssimo da nossa cultura?
- Molda-nos o pensamento, o comportamento, obriga-nos a ver e a entender a vida de uma determinada maneira e não é cultura?
Vejamos:
- O casamento é uma relação de risco, anote-se a percentagem de divórcios, separações e do casa/descasa, às vezes nem dá tempo a levantar a toalha da mesa da boda e porquê?
- As pessoas são naturalmente diferentes, o sentimento do amor/paixão aproxima-as irresistivelmente mas retira-lhes discernimento e o casamento é uma relação íntima, intensa, diária, continuada, desgastante em que tudo vem ao de cima, e mesmo quando resulta bem exigiu maturidade, cedências e compromissos recíprocos que acabaram por se mostrar mais fortes que as diferenças dando até lugar a novos sentimentos de amizade que nos reconfortam e dão segurança mas, repito, foram necessárias cedências e compromissos recíprocos.
As diferenças, nos casamentos bem sucedidos, acabaram diluídas e submersas na própria relação.
Portanto, temos que ultrapassar diferenças de carácter pessoal com a outra pessoa que é, na nossa hipótese, da mesma cultura, religião, extracto social, económico e educacional, tudo factores comuns que servem os objectivos da relação casamento.
- Agora, a noiva não pertence à cultura do noivo (cultura é aquela espécie de óculos através dos quais “vemos a vida”), a religião, aspecto importantíssimo da cultura, também é diferente, neste caso concreto, é a religião de Maomé que impõe um código rígido de comportamentos que, levados à risca, e eles levam-no à risca, domina completamente a vida das pessoas que a seguem, muito diferente do catolicismo da generalidade das pessoas que se afirmam católicas.
E neste contexto cultural e religioso dos seguidores de Maomé, que estatuto está reservado às mulheres?
- Um estatuto de subalternidade que em alguns casos representa quase a anulação da própria pessoa, não é verdade?
- Se a noiva pertencer a esse contexto social essa foi a sua herança, o futuro dirá qual a evolução…
- Mas se a noiva não tem nada a ver com esse contexto, aos inevitáveis riscos de um casamento inter cultural/religioso juntam-se os outros, e não reconhecer isto é não querer ver a realidade.
- Foi para estes riscos acrescidos que o Cardeal chamou a atenção das jovens tal como eu faria se a minha filha me dissesse que ia casar com um seguidor do Corão.
- E qual de nós não chamaria?
Não estou a falar de proibições ou qualquer coisa do género… “deixas de ser minha filha”…”nunca mais contas com o teu pai”, cenas de telenovelas rascas. Ficaria mais apreensivo mas não deixaria de ir ao casamento.
Onde está o reaccionarismo ou o xenofobismo? Chamar a atenção para o risco das diferenças acrescidas, é isso?
Estamos a falar de decisões pessoais e íntimas, em último lugar das probabilidades de alguém ser feliz, se é que a felicidade se pode pesar em termos de probabilidades e eu acho que sim.
O que estaria em causa seria a felicidade da minha filha e se ela tivesse que ser feliz com um marroquino para mim seria igual a ser feliz com outra pessoa qualquer.
- O que me parece, à partida, é que seria muito mais difícil, as probabilidades de sucesso da relação muito menores e os riscos acrescidos.
Pareceu-me a mim e também ao Cardeal. Não há aqui nenhum tipo de segregação ou de xenofobia mas apenas diferenças que devem ser levadas em linha de conta numa decisão de casamento e é deste que estamos a falar.
E diz-me o meu querido colega lá das terras do Extremo Oriente:
- “Os problemas que surgem num casamento entre um cristão e um muçulmano não serão os mesmas que entre um quaker e um muçulmano?”
- “ E os problemas de um casamento entre um cristão urbano europeu e um fulano do bible belt americano, não continuam a ser os mesmos?”.
É óbvio que sim!...mas porque há-de ser reaccionarismo no particular e deixar de o ser no geral?
O Cardeal é português, estava a falar para jovens portuguesas potencialmente envolvidas numa relação de casamento com um muçulmano, e esta era a situação concreta que estava em causa e foi para as diferenças existentes entre estes grupos de pessoas que ele chamou a atenção por “constituírem riscos acrescidos” de insucesso na relação casamento, subentenda-se de infelicidade.
Será que o tema no particular é tabu e no geral deixa de o ser?
Vindas de onde vieram as palavras do Cardeal foram apontadas como sendo a expressão do “politicamente incorrecto” mas, não são verdadeiras?
Afinal, ele limitou-se a dizer… “Cautela”, e não haverá razões para dizer, “Cautela”?
Milhões de páginas negras de vil submissão, humilhação e maus-tratos físicos – que são legais! – em certos países islâmicos, como na Arábia Saudita, para dar um exemplo, não constituem motivo suficiente para o Cardeal ou qualquer pai de moça casadoira dizer, Cautela?
Entretanto, ergamos as nossas taças e bebamos à continuação da felicidade de todas as portuguesas que casaram com muçulmanos e são felizes… para o amor e para a felicidade nunca há barreiras, mas…Cautela!