Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, maio 02, 2015
Religiões Ridículas
Um longo desfilar de memórias e de reflexões de quem recebe uma herança e depois tem que conviver com ela ou repudiá-la. Na sociedade em que vivo o que me parece é que as pessoas que se dizem católicas agradecem que não as questionem sobre isso. Se elas fossem suficientemente sinceras o que nos diriam era apenas: "... deixem-me ser religioso, deixem-me acreditar, não me venham com essa coisa das evidências, eu não quis ser religioso, eu sou como um grande navio que ficou sem motor mas a força da embalagem continua a empurrar... e eu sou incapaz de parar por mim... e depois temos o Papa Francisco, aquele senhor tão bom, justo e sensível com quem eu seria incapaz de me zangar... sinto-me bem assim..."
Este é o tipo de pessoas de quem não vem mal ao mundo pelo facto de serem religiosas e que constituem a grande maioria dos católicos mas se a fé é isto na maioria dos casos, outros existem em que é aquilo que sabemos e lemos nos jornais e sabemos da história. Sobrevivemos, nos primórdios, pela crença mas poderemos morrer vítimas dela.
Ben E King - Stand By Me
Faleceu ontem, precisamente com a minha idade, 76 anos, mas deixou-nos esta canção imortal que nunca cansarei de ouvir enquanto por cá for estando. O Stand by Me não permitirá que te esqueçamos.
A cicatriz na face - o que isso Tição? |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 236
Para compensar, o caixeiro viu
reafirmada sua outra previsão: ficara claro e patente, a quem qui sesse observar e concluir, para qual dos dois
arrasta-asas se inclinava a preferência da sergipana Diva.
Pimpona nos seus recém-completados qui nze anos, desfizera as tranças e prendera os
desatados cabelos com uma larga fita cor-de-rosa, a mesma largura e a mesma cor
da que lhe rodeava na cintura o vestido de chitão, saia de babados; corpete de jabô,
feito por dona Natalina. Uma graça.
Quem é essa dona Natalina cujo nome
ainda não se vi inscrito no relato de Tocaia Grande e que agora surge em plena
festa: de quem se trata, de onde saiu?
-
Pois se trata da viúva de João Medeiros, alagoano de pouca conversa que fora
administrador da Fazenda do Bom Retiro e morrera em recente tocaia montada não se
sabe por quem nem por que motivo.
Idosa demais, para fazer a vida, sabendo
costurar e sendo proprietária de uma máqui na
Singer de mão, veio parar em
Tocaia Grande onde opt ou
pela profissão de modista.
Tantas novidades ocorreram no povoado
que algumas passávam despercebidas: no caso de dona Natalina, além de um erro,
cometeu-se uma injustiça.
Para o negro Tição a preferência de Diva
já não era aquele obscuro enigma de suas cogitações anteriores quando buscava explicar
os motivos e as posturas da moça de Maroim. Para ele tudo se tomara evidente no
momento em que a tentara beijar e ela, demonstrando repulsa e nojo, o agredira
com o abebê, alcançando-o no rosto.
A
cicatriz na face - que é isso, Tição, andou se ferindo em algum espinho
venenoso? - não era nada se a fossem comparar à chaga aberta na caixa do peito,
doendo e sangrando, fazendo-o penar como um cão danado.
Ademais não a admitia exposta, quem o
olhasse não suspeitaria quanto estava sofrendo, pois simulava ser o mesmo negro
risonho e vadio de sempre, perene alegria, altaneiro e volúvel coração.
No fovoco de dona Ester - tenho um abuso
medonho desses bleforés, explicou dona Ester quando Pedro Cigano lhe transmitiu
a notícia e o convite, e lá não piso nem amarrada - não houve ninguém mais animado do que o
ferreiro Castor Abduim.
Dele tinha partido a idéia da festa e a queria
ver pegando fogo. Dançou sem parar durante a noite inteira, não perdeu uma
polca, uma mazurca, um coco, um xote e comandou o esplendor de uma quadrilha.
O outro parecia um gringo mas quem
pronunciava “balancê” e “anavantu”, em língua das estranjas, era ele, de boca
cheia.
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A VELHICE
(Por António Lobo Antunes)
(Por António Lobo Antunes)
Devo estar a ficar velho: as Paulas Cristinas têm mais de 20 anos, os Brunos
Miguéis já vão nos 15, as Kátias e as Sónias deram lugar a Martas, Catarinas,
Marianas. A maior parte dos polícias são mais velhos do que eu. Comecei a
gostar de sopa de Nabiças. A apetecer-me voltar mais cedo para casa. A
observar, no espelho matinal, desabamentos, rugas imprevistas, a boca entre
parêntesis cada vez mais fundos. A ver os meus retratos de criança como se
fosse um estranho. A deixar de me preocupar com o futebol, eu que sabia de cor
os nomes de todos os jogadores do Benfica (…). A desinteressar-me dos gelados
do Santini que o Dinis Machado, de cigarrilha nas gengivas achava peitorais.
Se calhar, daqui a pouco, uso um
sapato num pé e uma pantufa de xadrez no outro e vou, de bengala, contar os
pombos do Príncipe Real que circulam, de mãos atrás das costas como os chefes
de repartição, em torno do cedro. Ou jogar sueca, com colegas de boina, na
Alameda Afonso Henriques de manilha suspensa no ar, numa atitude de Estátua de
Liberdade. Quando der por mim, encontro o meu sorriso na mesinha de
cabeceira, a troçar-me, num copo de água, com 32 dentes de plástico.
Reconhecerei o meu lugar à mesa pelos frasqui nhos
dos medicamentos sobre a toalha, que me farão lembrar as bandeiras que os
exploradores antigos, vestidos de urso como os automobilistas dos tempos
heróicos, cravavam nos gelos polares.
Devo estar a ficar velho. E no entanto, sem que me dê conta, ainda me acontece
apalpar a algibeira à procura da fisga. Ainda gostava de ter um canivete de
madrepérola com sete lâminas, saca-rolhas, tesoura, abre-latas e chave de
parafusos. Ainda queria que o meu pai me comprasse na feira de Nelas, um
espelhinho com a fotografia da Yvonne de Carlo, em fato de banho, do outro
lado. Ainda tenho vontade de escrever o meu nome depois de embaciar o vidro com
o hálito.
Pensando bem (e digo isto ao espelho), não sou um senhor de idade que conservou
o coração de menino. Sou um menino cujo envelope se gastou.
NOTA
Obrigado, António Lobo
Antunes, por este texto. Temos em comum a idade (menos 3 anos que eu nem
conta), e nas nossas memórias a fisga, o espelho redondo com a fotografia da Yvonne de Carlo, em fato
de banho, do outro lado e o canivete que no meu caso era uma navalha igual à
que os trabalhadores do campo usavam na Beira-Baixa e que servia para tudo,
incluindo tirar bocadinhos à sardinha frita com uma precisão cirúrgica e cortar
os respectivos nacos de pão que acompanhavam, nos seus almoços frugais, a sopa
de feijão com couves e que lhe dava forças para cavarem de sol a sol.
Vê lá, que tenho ainda presente, como
se tivesse sido ontem, o único passarinho que consegui matar com a fisga.
Espalmei-lhe a cabeça com a pedra. Teve morte instantânea, caiu da árvore
redondo, na vertical, não soube do que morreu, e eu senti-me vaidoso com a
minha pontaria. Fosse uma seta em vez de uma simples pedra e ter-me-ia sentido
um Robin Hood… os restantes passarinhos aos quais fiz pontaria sempre
conseguiram fugir... felizmente para eles... desesperadamente, então, para
mim...
Faltava-me o treino, eu era um menino
da cidade de Lisboa, tal como tu, mas que tinha a sorte de passar as férias na
aldeia dos meus avós onde, no Verão, se juntavam os primos todos.
Mal sabia eu, nessa altura, que
estava vivendo os tempos mais felizes e descontraídos da minha vida aqueles
que, mais de meio século depois, continuam a fazer-me sentir um menino com o
envelope gasto…como dizes magistralmente.
Nunca envelhecerei completamente
porque esse menino vai estar sempre presente, mesmo aos 90 anos e não é ele que
é o intruso.
Intruso... é tudo aqui lo que se intrometeu na minha vida e esbateu as
memórias da minha juventude e que faz com que o menino, embora presente, esteja
cada vez mais longe de mim. É tal como dizes, não somos velhos, com alguma condescendência seremos
meninos que envelheceram.
No teu caso valeu a pena, foste
aproveitando o tempo e os anos para escreveres coisas profundamente humanas,
que nos falam à alma e que vão ficar para sempre impedindo que morras na
memória dos homens embora isso, para ti, já não seja importante.
Importante, verdadeiramente
importante, era mesmo continuares sempre menino para poderes chamar aos pombos
do Jardim do Príncipe Real, chefes de repartição a passearem de mãos atrás das
costas, sim, porque só a perspicácia de observação de um menino poderia ver
tal.
Eu, que passei muitas horas nesse Jardim
a estudar e a ler na companhia dos tais pombos, só agora, porque falas nisso,
acho que alguns também faziam lembrar os polícias de giro do antigamente a
passearem a sua autoridade de mãos atrás das costas.
E quanto aos sinais de velhice que
referes e que te levam a desconfiar que talvez estejas a ficar velho, brinca
com eles, faz chalaça, afinal não és tu um menino cujo envelope se gastou?
sexta-feira, maio 01, 2015
África do Sul - Zahara - Loliwe
África, esse continente poderoso onde nós, europeus, nos podemos reconduzir aos nossos primórdios. Mesmo que seja apenas um bocadinho, guardem-no para sempre...
Matéria Escura - Energia Escura
Quando um cientista nos aborda com um tema destes eu sinto-me encandeado...
Mixórdia de Temáticas - Cinquenta Sombras de Grey
(Pomada Halibut para recuperar as partes atingidas...)
SUA CRUZADA
A
ALCÁCER -
KIBIR
Numa tradução livre do espanhol da época escrito por Fernando de Góis Loureiro, abade e seu antigo criado da câmara, que assistiu à batalha:
- “Acossado el-Rey saíu do local da batalha quando tudo já
estava concluído e tomou o caminho do Rio Mahacer, para um local onde havia
menos gente que poderia acudir e antes de lá chegar, a uma légua da batalha,
saíram-lhe uns setenta Alarabes a cavalo que o prenderam sem resistência
(quando o que o Rey queria era morrer lutando mas os seus não lho consentiram).
Uma rixa e controvérsia se deu entre os cavaleiros Alarabes e
os Turcos da Guarda do rei Maluco que entretanto chegaram para disputar quem
levaria a presa que acabou por ser morta, miseravelmente, pelas mãos dos
cavaleiros Alarabes, na idade de vinte e quatro anos, seis meses e catorze
dias.
Depois, o corpo foi encontrado no dia seguinte por Bastion de
Resende seu moço de câmara, no mesmo lugar, e reconhecido por todos os seus e
eu, como testemunha de vista, também o reconheci ser ele o desditado Rey.
E porque o Rei morreu a uma légua da batalha de onde muitos o viram
sair vivo e a cavalo, logo alguns disseram que não era ele o morto e outros,
querendo fazer-se sabedores, disseram que ele morreu a batalhar como o afirmou
Jerónimo Franchi na sua história de Portugal.”
(Aqui lino Ribeiro – Reis de Portugal – Suas Misérias e
Grandezas)
Este desfecho era inevitável e previsível. D. Sebastião, como
escreveu Filipe II de Espanha, “era um príncipe frio, impotente, destituído de
inclinações amorosas e incapaz de amar” e por isso nunca lhe
cederia a sua filha para casar embora se tenha desculpado que a mais velha já
estava prometida e a segunda só tinha dez anos de idade.
Tomou as rédeas do governo aos catorze anos - devia ter sido aos
vinte - portanto, contra as cláusulas do testamento do avô.
«Menino rebelde, impulsivo, desaparafusado, louco dez vezes,
herdeiro de uma terrível paranóia congénita» na opinião do seu
aio D. Aleixo de Menezes.
Começou a reinar a 20 de Janeiro de 1568, dia de S. Sebastião e
o seu ódio aos infiéis era uma obsessão tão grande que o obrigava, ainda
de menor idade, a assistir aos Autos de Fé do Santo Oficio.
Os poucos anos da sua juventude viveu-os de forma doentia para
acabar exactamente como acabou: morto sem honra nem glória a cinco léguas do
campo da batalha, depois desta, muito rapidamente, ter terminado e às mãos de
soldados árabes que o disputavam como presa a um grupo de soldados turcos.
Um jovem louco que arrastou na sua loucura um exército e um
reino.
Muitos anos mais tarde, outros, nem jovens nem loucos, fizeram a
mesma coisa...
Não se assunta?- Disse e saiu correndo. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 235
A voz em sopro grave e abafado:
- A sereia é Iemanjá, quer dizer, é tu.
Diva enxergou seu rosto refletido no
espelho do metal. Atentando na figura nele gravada, ela se reconheceu, ou
melhor, se adivinhou: os cabelos, o busto e o rabiosque.
Sorriu, baixou os olhos, esperou que ele
prosseguisse e finalmente pronunciasse as palavras longamente esperadas. No
silêncio, os braços a prenderam e apertaram com violência, à valentona e de
surpresa.
Em vez de abrir-se nas maviosas palavras
que ela aguardava e queria ouvir, a boca de Castor, num arreganho de beiços,
língua e dentes, cobriu seus lábios, fechou-se sobre eles, ávida e feroz,
esmagando-os.
Ela o estranhou e teve medo, um medo
atroz. Ficou fria e insensível, morta por dentro. Em lugar de carinho e
ternura, a brutalidade e a prepotência.
Num esforço desmedido, separou-se dele e
antes que o malvado tentasse retomá-la nos braços, fora de si, assentou-lhe a mão
na cara:
- Não se assunta? - Disse e saiu
correndo.
Tição ficou de tal maneira perplexo,
atoleimado, que a deixou partir sem dizer palavra, sem intentar um gesto para
retê-la. Sequer notou, atônito e derrotado, que, após atravessar a porta, a pouca
distância, ela susteve a fuga e por um instante, longo toda vida, esperou por
ele: o cheiro de Castor entupia-lhe as ventas, impregnado em seu corpo,
circulando em suas veias.
Mas ele não a viu: cego de raiva,
imobilizado pelo despeito, a mão escura posta sobre a face que sangrava.
Somente ao chegar em casa, trêmula e
desarvorada, Diva se deu conta de que levava na mão o leque de metal que Castor
moldara e cinzelara para lhe oferecer. Arma de que se servira na hora fatal do
desencontro, o abebê de Iemanjá, Iemanjá tem dois semblantes, afirmam os
marítimos no porto da Bahia: a doce face da bonança, o agro perfil da
tempestade.
23
Apesar de dona Ester não haver
comparecido ao arrasta-pé
comemorativo de sua grata presença em Tocaia Grande ,
sucesso absoluto coroou a feliz iniciativa. Veterano do lugar, Pedro Cigano, rei
do fole, não se recordava de festa assim tão animada e tão pacata.
Para começar, o violento confronto entre
Castor Abduim e
Bastião da Rosa, previsto e anunciado
por Durvalino Vosmicê-Vai-Ver, não aconteceu. Castor e Bastião não só conversaram
amigavelmente como beberam juntos, brindando com Lupiscínio, marido da
homenageada.
Rui Machado foi ontem eliminado no Estoril Open |
O (meu) Open do
Estoril
e a Tenda dos VIPs em
2006
Há uns anos atrás, precisamente em 2006, já lá vão 9 anos,
aceitei um convite do meu genro para me levar à boleia ao Torneio de Ténis do
Open do Estoril.
O deste ano realizou-se no Clube de Ténis do Estoril, em novas
instalações, não trouxe nenhum jogador de nomeada que funcionasse como cabeça
de cartaz, e dos dois portugueses que participaram o mais cotado, João Sousa,
50º do ranking, foi eliminado por outro português, Rui Machado, muito menos
categorizado que por sua vez perdeu ontem com um jovem prodígio, Borna Coric,
croata de 18 anos.
Vi parte de jogo, o Rui ainda conseguiu chegar ao 3º Set mas aqui faltaram-lhe pernas e perdeu por 6-1. É normal,
o ténis não é propriamente um jogo de sorte e azar e o valor dos jogadores quase sempre vem
ao de cima quando as “cabeças” estão no seu lugar.
Todos os jogos começaram por ser formas de entretenimento ad
O ténis, jogado
inicialmente nos campos que os ricos mandavam construir por entre os jardins
das suas casas apalaçadas estava destinado, por esta razão, a desporto de elite
e quando havia torneios era coisa para “inglês” ver porque também ninguém
percebia um desporto em que os pontos em vez de se contarem normalmente: um,
dois, três e por aí fora…começam em qui nze, trinta e quarenta, vantagens para aqui , vantagens para ali, jogo, Set, partida… mesmo
coisa que só podia ser inventada por ricos para confundir a cabeça dos pobres.
Nunca vi nenhum vaidoso da minha cidade de Santarém entrar no
Café numa manhã de sábado sobraçando um saco de berlindes ou uma simples bola
de futebol, mas já lá os vi a
passearem a raquete de ténis debaixo do braço.
Foi assim que nasceu a história dos Vips
associada ao ténis.
Não fora o 25 de Abril e o Poder Autárqui co
a construir campos de ténis por esse país fora e a tornar acessível a sua
prática ao comum das pessoas, especialmente os jovens, e ainda hoje os havíamos
de ver a pavonearem-se com a raquete de ténis transformada em objecto de adorno,
as pessoas do costume armadas em “very important pearsons”(VIP), menos agora
com a crise.
De
certa forma a democracia “estragou” o Ténis e agora pouco há fazer para além de
terem que se refugiar no golfe ou no sky na Serra Nevada, na vizinha Espanha,
para já não falar nos Alpes Suíços.
Salvou-se
a Tenda dos Vips no Open de Ténis do Estoril, desse já distante ano de 2006, já
sem as raquetes debaixo do braço mas com o mesmo ar de convencidos, pulôvers de
marca colocados por cima dos ombros displicentemente, taça de champanhe na mão,
chegando-se “como quem não quer a coisa” para junto de algum “mediático” porque
com tantos fotógrafos há sempre a hipótese de ficarem num “boneco” e aparecerem
numa qualquer revista.
E
eles lá estavam, os mediáticos: o incontornável, inefável e inevitável Scolari,
com o inseparável e pegajoso do Madaíl, mais os Vilarinhos e os Soares Francos
e o Joaqui m de Almeida, com o seu
novo visual de barbas, enquanto decorria um desfile de moda da Massimo Dutti
acompanhado por um grupo musical que abrilhantava o acontecimento com música
típica do sul de Itália onde entrava o nosso familiar e saudoso acordeão a
fazer lembrar os bailes da minha aldeia nos anos quarenta e cinquenta.
E as
jovens modelos, estilizadas, ou eram marionetas? Não reparei bem, lá iam
desfilando como autómatos movidos a pilhas, antigamente teria sido a corda.
Passavam
a dois passos de mim, pensei eu que era ao vivo mas estavam tão mortos como
quando os vejo na televisão, nos seus rostos não há expressão, nem humanidade e
eu pergunto a mim próprio se é preciso aqui lo
para vender umas camisolas ou umas calças. Naturalmente é capaz de ser...
À
saída da Tenda (com letra maiúscula porque é dos Vips), num espaço reservado,
no lado direito, três senhores, refastelados em três cadeirões tremiam tanto
que mais pareciam acometidos de ataques epilépt icos
mas afinal era apenas um teste numa máqui na
de massagens, daquelas que dispensam massagista e logo uma jovem, completamente
industriada em curso intensivo, se aproximou para me elucidar das vantagens das
massagens.
Respondi-lhe
que não estava interessado nos aparelhos apenas tinha parado porque me pareceu
que as pessoas podiam estar a sentirem-se mal tal era a tremedeira…
No
que respeita ao “desportivo” propriamente dito, tive oportunidade, então, de
assistir à surpreendente vitória do nosso Gil que é o 200 do Ranking mundial
com um russo de dois metros de altura e serviços a velocidades entre os 200 e
220 de tal forma que o Gil, pequenino, tinha que ir esperar a bola a mais de
três metros atrás da linha da linha de fundo.
Mas o gigante começou a enervar-se porque o Gil deslocava-se
muito lentamente no campo entre os pontos, esgotando todos os segundos regulamentares,
creio que são 20, e o público começou a mandar “bocas” e ele, em vez de pontos,
começou a somar asneiras.
Os Torneios de Ténis vistos ao vivo são dois espectáculos: um,
que tem a ver com a Sociaty e outro, o desportivo, entre as quatro linhas.
No futebol também é assim. Na qualidade de sócio do Sporting
gostava de ir mais cedo para o estádio, não para assistir a “tristes” cenas de
vaidade, o futebol foi sempre dos pobres, começava a jogar-se na rua e não nos
jardins dos palacetes, mas apenas porque me sentia bem entre a minha família
sportinguista.
As “feiras” de vaidade sempre me causaram uma certa repulsa. De
feiras, recordo as da aldeia dos meus avós porque tinham fogo de artifício
liberto de pedaços de cortiça, rio Tejo a baixo, e dos cordões de pinhões
enfiados numa linha.
Tudo já vai pertencendo ao passado mas é bom recordar. Joguei para prazer meu dos 45 aos 75 quando o meu parceiro cedeu com problemas de coluna já tinha eu feito duas operações aos joelhos. É assim quando se gosta...
quinta-feira, abril 30, 2015
I Just Called To Say I Love You
É uma canção do cantor Stevie Wonder. Ganhou o Óscar de Melhor Canção Original em 1985, no
filme "Woman in Red", em português "A dama de vermelho".
Gilberto Gil gravou em
1987 uma versão em português chamada Só
Chamei porque Te Amo.
No infantário, a professora pergunta:
- Qual a parte do corpo que chega
primeiro ao céu?
Uma menina levanta o braço:
-As mãos, professora !
-E porquê?
-Porque quando rezamos elevamos as mãos
ao céu.
Nisto, o TOMÉ retrucou:
- Não, nada disso, são os pés!
- Ah, sim, TOMÉ , e porquê? - Pergunta
a professora ...
- Bem, esta noite, fui ao quarto dos
meus pais, a minha mãe tinha os pés no ar, e estava a gritar:
- Meu Deus, meu Deus, estou indo ao
céu.. estou indo ao céu...
E ainda bem que o meu pai estava em
cima dela segurando-a, senão, lá ia ela.
Ocê tá em sua casa... |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio
Nº 234
Mestre Bastião não dava tréguas, sempre às
voltas com Vanjé e com Ambrósio, almoçando na obra todos os dias, elogiando
tempero e passadio, indo com os homens nos fins de tarde conversar fiado no
cacete armado, bebericar cachaça, como se já fosse da família.
Tição
ficava a espiar de longe, a puxar conversa quando a via brincando com Alma
Penada nas proximidades da ferraria, aparecendo no rio na hora em ela se
banhava.
-
Quer que eu vá buscar na oficina?
-
Ocê sabe que só entrou lá no dia que chegou e mais? Até parece que tem medo.
-
Medo de quê? - Desatou a rir, o mesmo riso estabanado do dia em que confundira
o negro Castor Abduim com o Turco
Fadul
Abdala: - Hoje mesmo vou buscar.
22
Ao cair da tarde, Diva cumpriu o
prometido. Parou na portada tenda do ferreiro, olhou para dentro, a forja
estava acesa mas de Castor nem rastro nem notícia. Deu um passo à frente,
entrou, espiou em torno, viu o peji.
Na distante tarde da chegada, não reparara
em nada além do negro de torso nu, a pele sebosa do porco-do-mato pendente da
cintura.
Quatro pratos com comida, peças de
ferro, de madeira, de palha e de metal, feitiçaria. Olhava fascinada.
Inesperadamente sentiu o mesmo cheiro
forte e penetrante que a envolvera na rede, na noite única, sem igual e sem
comparação, em que embarcou no paquete da lua e seu corpo sangrou.
Soube, antes de tê-lo visto, que ele
acabara de chegar. Voltou-se lentamente: Castor, um riso só, falou:
- Ocê tá em sua casa.
Que queria ele dizer com isso? Diva não
perguntou, cadê coragem?
Tição andou para um canto entre as
paredes onde estavam dispostos aqueles estranhos, deslumbrantes objetos.
Curvou-se reverente, com as pontas dos dedos da mão direita tocou a terra antes
de estender-se de bruços no chão para beijar a pedra na cerimônia do icá.
Levantou-se e tomando de uma das peças,
nova em folha, reluzente, dirigiu-se para Diva. Ela sentia-se simultaneamente
ansiosa e assustada, envolta numa atmosfera de mistério bruxaria.
Estendeu a mão, a medo, Castor lhe
entregou o abebê: nos olhos do ferreiro brilhava uma luz forte e vermelha, luz
ou chama, brasa ardente.