Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, agosto 29, 2015
Joanna - A Padroeira
Em homenagem a Nª Sª. da Aparecida, num tema muito querido à natureza religiosa dos brasileiros que, naturalmente, é explorado pelos artistas e Joanna não é excepção. Neste caso, foi a música de uma telenovela com o o mesmo nome que passou no Brasil em 2001/2.
Em Estância cada pastora tinha um nome. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 324
Qual o ofício de Jacinta Coroca, diga quem
for capaz, pelo amor de Deus; parteira ou mulher-dama? Afamada em uma e outra ocupação,
mãos de fada, xoxota de chupeta, ganhava o pão de cada dia na cama de campanha,
jamais aceitara dinheiro em pagamento pelos partos.
Aparara todos os meninos ali nascidos, inclusive
os de Hilda, Fausta e Zeferina, sendo que a filha desta última, desovada na
noite da enchente, recebera o nome de Jacinta em honra da comadre, em prova de
gratidão.
Quem tentasse vetar a presença das putas
no pastoril de Tocaia Grande não botaria reisado na rua, para pagar o desaforo.
Pastoras mais lindas, ai! Mais bem
trajadas, mais garridas e exultantes! Foi portanto necessário aumentar o
número, pois em total, somando raparigas e donzelas, eram vinte e três as
candidatas para compor os dois cordões, de oito pastoras cada um.
Sai
Leocádia, magnânima, decidiu que existindo um único reisado em Tocaia Grande tais
convenções tornavam-se abusivas: por que somente oito? Elevou para doze o
contingente do cordão azul e o do encarnado, e para igualar os números,
convidou a velha Vanjé e ela não se fez de rogada: pastora em sua idade, só
mesmo ali, no cu-do-mundo!
Em Estância cada pastora tinha um nome,
tradicional: mudava a pastora, o nome persistia: Borboleta, Andorinha,
Papagaio, Belaninha, Marialva, Veludinho, Juriti e Açucena, as oito do cordão
azul, e Magnólia, Cuiubinha, Pintassilgo, Gracinha, Ribeirinha, Pitanga,
Cordeirinha e Bem-Te-Vi, as oito do cordão encarnado.
Acrescentaram-se em Tocaia Grande oito novas
alcunhas, escolhidas pelas interessadas, de acordo com sai Leocádia. A velha
Vanjé se intitulou de Sergipana, Ressu de Itabunensee Bernarda foi a Ciganinha,
e assim por diante até se completar a lista.
Se alguém faz questão dos outros cinco
nomes para que seja precisa nos detalhes a crónica da apresentação do Reisado
de Sia Leocádía em
Tocaia Grande , aí vão eles: Graciosa, Baianinha, Atrevida,
Florzinha, Girassol.
Houve de um tudo durante os ensaios: riso
e choro, namoro, discussão e briga. Por causa da doca Ricardina, a pastora
Girassol, Dodô Peroba e o tropeiro Levindo se estranharam, trocaram xingos e
desafios, mas não chegaram aos tapas: sia Leocádia exigia ordem e compostura
nos ensaios.
Sia Leocádia gabava-se de que em Estância
cada saída do reisado era marcada por um casamento. Se em Tocaia Grande
aconteceu amigação em vez de casamento, deveu-se ao fato de não existir padre
no lugar para celebrar o ato e abençoar os noivos.
Zinho, carpina trabalhando por conta
própria, tão competente quanto mestre Lupiscínio - fizera a armação da
Besta-Fera e a do Boi, melhores que as de Estância, ao ver de sia Leocádia:
mais leves e mais seguras - ao término do reisado se juntou com Cleide, a
fogosa e apressada pastora Ribeirinha, filha mais moça de Gabriel e de Sinhá,
irmã do falecido Tancredo e de Neneca, outra apressada, que ficara em Sergipe,
vivendo com Osíris, à custa de seu Américo: pai é para isso.
(Domingos do Amaral)
Episódio Nº 45
Após sussurrar estas últimas
palavras, o monge faleceu e a mulher de negro colocou-o no túmulo depois de o
sangrar com uma faca, para garantir que estava mesmo morto.
De seguida, pôs a laje no
lugar, regressou à esteira e adormeceu.
Acordou uma horas depois, já
com o dia a nascer e abandonou o eremitério. Estava um dia de sol e ela decidiu
fazer o que nunca fazia, retirou o capuz para aquecer o rosto, e cerca de duas
léguas à frente, na direcção de Coimbra, cruzou-se de repente com um cavaleiro
que lhe perguntou se sabia onde ficava um eremitério.
Quando ele partiu, teve um
súbito e estranho pressentimento e correu a esconder-se nuns penedos. Algum
tempo mais tarde o cavaleiro reapareceu à procura dela, a passo.
Era evidente que fora ao
eremitério, descobrira o monge morto e agora queria saber o que ele tinha dito
à mulher.
Quando me descreveu estes
eventos, Mem garantiu que a bruxa fora cautelosa e, por precaução, se mantivera
invisível até o desconhecido partir.
Várias horas depois ainda
duvidava de si própria, relatou Mem. Qual o motivo daquele estranho susto que a
levara a esconder-se?
Porque lhe tremiam as mãos?
Estava outra vez louca? Eram perguntas para as quais só tivemos resposta muitos
anos depois, quando tudo se tornou mais claro, quando descobrimos quem era o
terceiro homem, o que era a relíqui a
e onde estava escondida.
Deus deu à bruxa as chaves
das Portas dos Infernos, mas não o poder de as abrir.
Viseu, Sexta-Feira, Abril de
1126
“Jumenta”, pensou minha prima Raimunda quando
viu aquela linda galega atravessar o pátio, em frente da igreja de Viseu. Aos
dezassete anos, a minha prima continuava a mesma magricela de sempre, quase não
se distinguindo de um rapazola.
O meu tio Ermígio dizia-lhe
para não se comparar, mas sempre que via uma rapariga bonita o mundo fugia
debaixo dos pés da minha pobre prima.
Naturalmente, que o seu
profundo temor era que Afonso Henriques se apaixonasse por outra. Naquela
época, quando a revimos, Chamoa Gomes já tinha dezasseis anos e a irmã, Maria
Gomes, a minha Maria que, reconheço, não era tão deslumbrante, tinha dezassete.
Como se percebe, este não sou eu. |
A Minha Ida à Médica
Srª Drª, vim hoje à sua consulta porque fiz há dias setenta e seis anos e já percebi, que a partir dos setenta, cada ano pode ser um mundo de surpresas desagradáveis. A Srª Drª ouve, com certeza, muitos velhos com a minha idade que se queixam de coisas que devem ter a ver com os setenta e seis anos de idade.
Eu tive a minha experiência do que foram os meus
quarenta, cinquenta e até sessenta anos. Pagávamos um almoço à família e à
tardinha acendiam-se as velas do bolo, cantavam-se os parabéns, e não se voltava
a pensar no assunto.
Sabe, Srª Drª, joguei ténis durante trinta anos, duas
vezes por semana, por gosto, direi mesmo, pelo prazer que me dava, e costumava
dizer aos meus amigos que o campo de ténis era o meu laboratório de análises.
Saindo de lá feliz e bem disposto era porque tudo ia bem comigo.
Até um dia, precisamente a partir dos setenta anos,
quando as minhas pernas deixaram de se movimentar com a mesma firmeza. Não dava
para me queixar porque, simplesmente, não gostamos de nos queixar do que
gostamos de fazer e nos dá prazer.
Um dia, passados mais uns dois ou três anos, comecei a
queixar-me. Dizia à minha nora, que é médica, que tinha febres baixas e dores
de cabeça, especialmente da parte da tarde, e até me lembrei que fossem restos
de paludismo que apanhei em Moçambique.
A “boa” da Ana pesqui sou
tudo até que, finalmente, quando eu já desesperava, encontrou a resposta num
exame que me mandou fazer à medula.
Eu tinha uma disfunção no seu funcionamento e aqui lo que eu sentia de muito grave, febres baixas e
dores permanentes de cabeça, foram tratadas, dada a perspicácia e competência
de uma médica do Hospital de Santarém, do nosso abençoado Serviço Nacional de
Saúde, com um simples choque vitamínico de vitamina B1.
O funcionamento da medula, o delicioso tutano que a
minha mãe me punha na sopa, quando era menino, dentro dos respectivos ossos,
com uma linha à volta para não saírem, e eu adorava comer esmigalhado no pão, é
algo de muito complexo.
O mesmo tutano que terá salvo, talvez, a nossa espécie
quando os nossos antepassados descobriram que os podiam partir com uma pedra,
antepassada do martelo, e retirar de lá o precioso tutano que os havia de
manter vivos. Era apenas seguir as feras e “atacar” os ossos das carcaças por eles
abandonadas.
O tutano, desculpem, a medula, produz importantes
elementos que introduz no sangue, desde as plaquetas, glóbulos brancos,
vermelhos, praticamente todas as células do sangue e, tudo isso, numa certa
proporcionalidade, com equi líbrio.
Este equi líbrio,
com o choque vitamínico (6 comprimidos por dia, nada de mais simples) foi
reposto, pelo menos o suficiente, para que a minha vida pudesse ser retomada em
termos normais mas, Srª Drª, como especialista que é, agora, depois de eu ter
feito 76 anos, preciso de uma palavra sua de que tudo vai continuar a decorrer,
pelo menos como até aqui , porque
esta década dos setenta, já me apercebi, não é de confiança.
O problema, Srª Drª, é que as pessoas chegam a velhas
sem nunca o terem sido, não têm experiência da velhice, é um mundo novo mas, se não
fosse a medula, eu nem teria razões de queixa pois a idade levou-me,
surpreendentemente, as dores do nervo ciático, provenientes da coluna, que me
apoquentaram periodicamente, durante anos, e das quais nunca mais tive notícias.
Lembro-me dos velhos, nos meus tempos de jovem, se
queixarem de que a idade tudo trazia em matéria de dores. No que a mim me diz
respeito, em vez de as trazerem, levaram-nas.
De que me queixo, Srª Drª? - De nada.
Desculpe o tempo que lhe roubei mas, aos 76 anos de
idade, vimos ao médico para ele nos ouvir, pois não tenho coragem de lhe pedir
que me reavive a memória, dê firmeza às pernas e contrarie esta tendência, cada
vez maior, de andar com os pés a arrasar o chão correndo o risco de tropeçar numa
pedra mais saliente do passeio e cair, como aconteceu no outro dia.
“Salvou-me” a minha vizinha do 5º Andar tão prestimosa
em socorrer-me, ajudando-me a levantar do chão.
Talvez, se eu fosse católico, procurasse um padre para
conversar, mas sou ateu e esses senhores não me dão nenhum tipo de consolo,
independentemente das boas e desinteressadas obras de carácter social que
muitos desenvolvem.
Sabe, Srª Drª, tenho por si uma grande admiração, porque a senhora é o único médico que eu me lembre, tirando o da aldeia dos meus avós, quando eu era pequenino, que me manda deitar na marquesa, subir a camisa, e me apalpa a barriga... sem máscara nem luvas de plástico.
Boa tarde, Srª Drª. Passe bem.
sexta-feira, agosto 28, 2015
Joanna - Amanhã Talvez
Nascida em 1957, Maria de Fátima Gomes Nogueira, - Joanna, de nome artístico, é cantora, compositora e instrumentista brasileira. Autora de muitos êxitos comerciais para telenovelas na década de 90 deixou o reportório comercial temporariamente dedicado-se a ambiciosos projectos. Em 2001 voltou a investir no reportório comercial com o album "Eu Estou Bem" que contou com a canção "A Padroeira" tema da telenovela com o mesmo nome e que aqui colocaremos amanhã.
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 44
Era natural, estava vestida
de negro, se calhar o monge deduzira que ela era a Morte que o vinha buscar.
Tentou tranqui lizá-lo:
- Não sou a vossa morte.
O velho acalmou e ela
decidiu entrar no eremitério. Explicou ao homem que não duraria mais do que umas
horas, e que ela poderia enterrá-lo, para que o corpo não fosse comido pelos
bichos.
O monge deve ter gostado de
saber, pois fechou os olhos e fez um pequeno aceno de cabeça, agradecido. Então
ela sentou-se no canto da esteira e convenceu-se que ele tinha decidido morrer,
pois não o ouviu gemer durante algum tempo.
Para retirar as suas dúvidas
passou a mão sobre o nariz dele, para sentir a respiração, o que o levou a
abrir os olhos.
- Ainda estais cá – murmurou
ela.
Habituara-se a queimar
cadáveres, mas não gostava de os enterrar, nunca sabia se estavam mesmo mortos.
- Como posso ter a certeza da vossa morte?
O monge não respondeu e
então ela informou-o de que ia lá para fora abrir a cova, e perguntou-lhe se
tinha alguns utensílios por perto, o que o levou a falar pela primeira vez,
apontando para o canto da sala.
- Pedra...
A mulher de negro viu no
chão uma laje rectangular e comprida, ligeiramente levantada, que cobria o
túmulo.
- É ali que quereis ficar? –
perguntou.
O eremita acenou com a
cabeça e ela comentou:
- Melhor para mim, não tenho
de cavar a sepultura.
O eremita ficou silencioso
durante horas, enquanto ela se deitava a seu lado e dormitava. Já era de noite
quando ele voltou a gemer.
Devia estar com muitas dores
e o seu fim estava a chegar, mas de súbito tocou na mulher, que se sentou e
aproximou o ouvido da boca dele, para o tentar compreender.
- Jerusalém... Uma relíqui a... Três homens...
A mulher de negro conseguiu
compor uma narrativa. Três homens tinham escondido ali perto uma relíqui a, trazida por um deles de Jerusalém.
Este último morrera,
envenenado por uma rainha numa terra distante.
- Pai de um novo rei –
balbuciou o monge.
O moribundo acrescentou que
o segundo homem seria morto por um filho, que cristãos de branco viriam
procurar a relíqui a e que o terceiro
homem era o mais temível.
De súbito, cada vez mais
frágil, disse um nome em latim e apontou para o forno, onde crepitavam ainda
umas brasa.
- O fogo que queima os
corpos...
A mulher de negro
assustou-se. Lembrou-se do seu passado e temeu que aquele eremita fosse um
vidente.
- O novo rei, dizei-lhe a verdade.
Como organizar o grupo das pastoras sem a participação das putas? |
Tocaia Grande
(Jorge Amado)
Episódio Nº 323
A
seu ver, o Caboclo Gostosinho no desfile do reisado em Tocaia Grande não
podia ser outro senão o negro: tinha o porte, a petulância, a picardia.
Andava triste mas, quem sabe, o convite o
animaria?
Tivesse ido uma semana antes, com certeza
receberia redonda negativa. Sia Leocádia aproveitou para oferecer à negra Epifania
um posto de pastora, mas a rapariga agradeceu e declinou da mercê por causa do
menino.
10
A contar do primeiro ensaio, melhor dito
do encontro inicial
para decidir sobre alguns pontos
importantes, o Reisado de Sai Leocádia em preparativos para desfilar em Tocaia Grande já não
foi idêntico àquele que alegrara a população de Estância durante quatro decénios.
Cidade grande e populosa na medida de
Sergipe, Estância fora rica e próspera, hospedara o Imperador Pedro II, e sua
decadência se revestia de requi ntes
de civilização, enquanto Tocaia Grande não passava de reles lugarejo de putas e
tropeiros, com umas poucas dezenas de habitantes.
Como poderia ser igual o desfile do terno
de pastoras? Apenas parecido e olhe lá. Para Tocaia Grande, mesmo assim, modificado,
o Reisado de Sia Leocádia foi um assombro, um xispeteó, um dois-de-julho,
maravilha das maravilhas!
Para não mentir dizendo que jamais
participara do reisado
moça mal-afamada, os mais monarcas se
recordavam de Dolores, saltitando no cordão encarnado.
Filha de seu Romero, galego e alfaiate, ia
para a cama por
dinheiro com os patrões da fábrica de tecidos mas não era rapariga de porta
aberta, e seu Romero, ademais, costurava de graça o traje de Mateus, difícil
mão-de-obra.
Mas, tendo ido exercer no castelo de
Ninita, em Aracaju, ao voltar a Estância, por ocasião das festas, no propósito
exclusivo de sair no cordão encarnado, Dolores encontrou-se substituída,
perdera a vez. Não explicaram a razão, não se fazendo necessário.
O jeito foi recorrer às raparigas, mesmo
porque em Tocaia Grande
fazia-se impossível estabelecer limites entre elas e as famílias.
Jean Claude Juncker |
Um Apelo à coragem
Para mim, a Europa é e sempre foi uma comunidade de
valores. Trata-se de algo de que devemos orgulhar-nos, mas só muito raramente o
fazemos. Dispomos dos padrões mais elevados do mundo em matéria de asilo. Nunca
recusaremos a entrada às pessoas que nos procuram em busca de protecção. Estes
princípios estão consagrados na nossa legislação e nos nossos Tratados, mas
estou preocupado com o facto de estarem cada vez mais ausentes dos nossos
corações.
Quando falamos de migração, falamos de pessoas. Pessoas
como eu ou você, mas que não são iguais a nós porque não tiveram a sorte de ter
nascido numa das regiões mais ricas e mais estáveis do mundo. Falamos de
pessoas que tiveram de fugir da guerra na Síria, do terror instaurado pelo
Estado Islâmico na Líbia e da ditadura na Eritreia.
O que me preocupa é observar o ressentimento, a rejeição
e o medo manifestados por alguns sectores da população relativamente a essas
pessoas. Atear fogo aos campos de refugiados, afastar embarcações dos cais,
infligir violência física aos requerentes de asilo ou ignorar estas pessoas
pobres e indefesas: isto não é a Europa.
O que me preocupa é ouvir políticos, tanto de esquerda
como de direita, alimentar um populismo que apenas conduz à revolta e não a
soluções.
Os discursos de ódio e as declarações irreflectidas que ameaçam uma
das nossas maiores realizações – o espaço Schengen sem fronteiras internas –
não são a Europa.
A Europa são os
reformados de Calais que permitem aos migrantes ouvir música e carregam os seus
telemóveis para estes poderem telefonar para casa.
A Europa são os estudantes de Siegen que abrem o seu campus universitário para acolher os requerentes de asilo que não têm onde ficar. A Europa é o padeiro de Kos que distribui o seu pão às pessoas famintas e cansadas. Esta é a Europa em que quero viver.
Obviamente, não há
uma resposta fácil nem única aos desafios colocados pela migração. É tão
irrealista pensar que poderíamos simplesmente abrir as nossas fronteiras a
todos os nossos vizinhos como imaginar que a Europa pode rodear-se de uma
muralha para se proteger de toda a angústia, medo e miséria.
O que é claro,
todavia, é que não existem soluções nacionais. Nenhum Estado-Membro da União
Europeia pode fazer face à migração de modo eficaz agindo isoladamente.
Precisamos de uma estratégia europeia sólida. E precisamos dela agora.
Jean Claude Junker
Nota - O que Junker não diz e não pode dizer é que fomos nós, europeus, nós, americanos, que agora passam ao lado dos refugiados por estarem demasiado longe, que destabilizámos completamente, do ponto de vista político, os países onde estas pessoas viviam provocando o caos e anarquia interna, mudando o rumo das suas vidas para muito pior, com o aparecimento do Estado Islâmico que persegue e mata os cidadãos. Não só temos obrigação de os receber como os devíamos indemnizar pelos transtornos sociais e humanos que lhes provocámos com as nossas ingerências.
quinta-feira, agosto 27, 2015
Joe Dassin - A Toi
Com uma voz romântica, poderosa, deliciosamente grave como há poucas, faleceu precocemente aos 42 anos com um ataque do coração, em 1980.
Não eram, por acaso, aparentados, a velha e o fazendeiro? |
Tocaia Grande
(Jorge Amado)
Episódio Nº 322
A véspera e o dia dos festejos dos Reis
Magos foram lembrados durante a vida inteira pelos privilegiados que viram sia Leocádia,
nas noites de cinco e seis de Janeiro, transpor a porta do barracão, calçada de
sapatos, alta travessa no cocuruto de cabelos brancos.
Atrás dela desembocava o terno de pastoras
com todos os figurantes, para dançar no descampado onde o povo aguardava, reunido,
e nas casas particulares, a começar pela residência do capitão Natário da
Fonseca onde Zilda cozinhara paneladas de qui tutes.
Antes, porém, desses incomparáveis
sucessos de Janeiro, houve a preparação, vinte noites de trabalheira e
patuscada durante as quais foram traçados os planos e postos de pé todos os
detalhes necessários à saída do reisado.
A discussão foi pública – em termos, pois
as moças guardavam relativo segredo acerca de pormenores dos trajes de pastora.
Quanto às decisões, pode-se dizer terem
sido tomadas por aclamação: sia Leocádia unânime decidia, os demais batiam
palmas.
De dois em dois dias crescia a animação
com o ensaio da música e dos passos de dança, das jornadas e dos recitativos,
decorados na ponta da língua.
Conforme
dissera sia Leocádia ao benemérito seu Carlinhos Silva - obtivera a oferta do
bombo - a festa começava com o primeiro
ensaio e se prolongava por quase um mês.
Os presentes à escolha dos figurantes
usaram e abusaram do direito de aplaudir as indicações feitas por sia Leocádia:
patrona do terno, não admitia controvérsia, ossuda mão-de-ferro.
O capitão Natário da Fonseca comentou com
o Turco Fadul a parecença com a designação dos candidatos às eleições para
Intendente e edis em Itabuna: a assembléia dos políticos aclamando os nomes propostos
pelo coronel Boaventura Andrade.
Não eram por acaso aparentados, a velha e o fazendeiro?
Reunidos no barracão os interessados e os
curiosos, na prática a população inteira, sia Leocádia distribuiu a figuração.
A Senhorita Dona Deusa seria a neta Aracati: devido à febre, seus qui nze anos tinham passado em brancas nuvens. Vestido
de palhaço, ainda uma vez Vavá triunfaria no papel de Mateus, arrastado e preso
pela soldadesca.
Amâncio morreria de desgosto se coubesse a
outro representar a temida Besta-Fera, também conhecida por Jaraguá e Temeroso.
Aurélio carregaria o couro do Boi para que
houvesse gente de Vanjé na figuração do reisado. Zinho, Edu, Durvalino,
Balbino, Zelito e Jair perfaziam o contingente de soldados que prenderiam
Mateus, acusado de matar o Boi.
Quanto ao Caboclo Gostosinho, principal
elemento masculino, que contracena e dialoga com a Senhorita Dona Deusa, pela
manhã sai Leocádia fora à oficina do ferreiro para convidar Castor Abduim a figurá-lo.
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 43
Mas, como as mouras não
haviam sido libertadas, permaneceu por lá.
Três anos haviam já passado
e nenhuma expedição muçulmana voltara a fustigar o Mondego. A mulher de negro
soubera, em Santarém, que Ali Yusuf, andara pelo Leste da Península,
acompanhado de Taxfin, e que depois regressara aos desertos africanos, para
combater as tribos berberes revoltadas.
Não havia qualquer notícia
de que estivesse a preparar uma invasão a Oeste e por isso sentia-se mais à
vontade para se afastar de Coimbra.
Porém, havia outros riscos
nestas viagens. O seu aspecto devia meter medo, já por diversas vezes lhe
haviam chamado bruxa e alguns lavradores haviam-na apedrejado.
Apesar dos seus
conhecimentos de magia e feitiçaria, ela não se considerava a si própria uma
bruxa, apenas uma louca. As verdadeiras bruxas não eram loucas, mas ela
limitava-se a ser uma doida com truques, que normalmente resultavam mal.
Fosse como fosse, os outros
temiam-na e foi por isso que inicialmente se afastou daquele eremitério.
Na margem do Nabão, perto de
umas ruínas de uma abandonada povoação romana, dera com aquela pequena construção
de granito, no meio da floresta.
Em vez de caminhar na sua
direcção, decidiu contorná-la à distância. Os eremitas cristãos que viviam
abaixo do Mondego eram corajosos, mas também demasiado religiosos para aceitar
uma bruxa vestida de negro.
Acusá-la-iam de blasfémias e
heresias e rezariam ao seu deus para que a levasse, por isso se afastou. De
repente, ouviu um gemido e estacou. Voltou a observar o cemitério e o som
repetiu-se. Alguém estava a morrer ali.
Olhando à volta para ver se
alguém aparecia aproximou-se.
À entrada do edifício sem
porta, espreitou lá para dentro. Limitava-se a uma sala fria e quase quadrada,
com uma mesa de pedra no centro, um altar do seu lado direito e, num dos
cantos, um pequeno forno onde se viam umas brasas de carvão.
Depois de habituar os olhos
à escuridão, a mulher de negro viu no chão uma esteira de vime, em cima da qual
se encontrava deitado um minúsculo e mirrado idoso, que morria devagarinho,
emitindo os inconstantes queixumes que ela escutara.
Decidiu esperar que ele
soçobrasse, pois não seria correcto deixá-lo apodrecer no eremitério. Podia perfeitamente
cavar uma pequena cova, enterrá-lo e só depois prosseguir o seu caminho.
Ainda à entrada, reparara
que o homem parara de gemer. Com os olhos, agora muito abertos, parecia
aterrado, não já com medo de morrer, mas com medo dela.
"Preparei a equipa para fazer as substituições no prolongamento..." |
ELIMINADO!
Num jogo de futebol há três tipos de erros: os dos
jogadores, individualmente considerados, os da equi pa
como um todo e, finalmente, os da arbitragem.
Cada um destes erros tem os seus responsáveis óbvios. Os
passes errados, as perdas de bola na luta do um para um, as fintas desnecessárias,
os remates disparatados, as falhas dos guarda-redes, incluindo os “frangos”, são os mais notórios dos jogadores.
E a propósito de frangos, passemos para os erros da equi pa como um todo e aqui ,
apetece-me estabelecer uma analogia a propósito desta confrontação Sporting –
CSK de Moscovo.
Ela fez-me lembrar a luta entre um franganote, a
momentos espevitado, contra o galo velho de crista caída, sabido e experiente,
conhecedor dos segredos da capoeira.
E, finalmente, os erros dos árbitros, e eles são cinco
em campo: um que apita, dois que agitam bandeirinhas ao longo de todo o comprimento
do campo, outros dois que se deslocam ao longo da linha final do campo, sempre
com o olhos nas balizas, mas que nunca actuam e, finalmente, o outro, a que
chamam o 4ª árbitro e que serve para os treinadores desabafarem com ele.
Neste desporto do futebol, a arbitragem é o factor mais
polémico, aquele de que mais falam, pelo menos em Portugal, como se não vê em
qualquer outro desporto.
Como lhes chamam “juízes”, porque eles têm de julgar os
lances, digamos que os “crimes” passam para segunda importância e quem os julga
é que assume toda a relevância numa inversão óbvia da importância das coisas.
Mas, não se aceitando, compreende-se pois os seus erros,
e alguns de bradar aos céus, alteram a verdade desportiva ou seja, “mexem” com
o resultado dos jogos.
Senhores das suas decisões, tomadas na fracção de
segundo, muitas delas não só são difíceis como, igualmente, não têm apelo nem
agravo... quem protestar vai para a rua.
Apitou, está apitado. Marcou, está marcado e, no
entanto, era tão fácil evitar a maioria desses erros. Bastava que o árbitro do
apito, em caso de dúvida, pudesse, antes de apitar, consultar através da mesma
tecnologia com que fala com os seus colegas das bandeirinhas, um outro árbitro
que estivesse a ver o jogo numa televisão 3D e instantaneamente esclarecer a dúvida, respeitando, assim, a verdade desportiva.
Vi fazer isto num jogo de rugby com toda a “simplicidade
e limpeza”.
Mas seria que esta solução iria ao encontro dos interesses de
todos quantos vivem do fenómeno do futebol?...
Numa avaliação final quanto a responsáveis, o treinador
responde por tudo quanto se passa com a sua equi pa,
directamente, no que se refere à táctica, estratégia, escolha e substituição de
jogadores e, menos directamente, quanto aos erros individuais de cada jogador
em campo.
O fanfarrão do treinador do meu clube, que há anos anda a
tentar vender a imagem, com algum sucesso, reconheçamos, de que é o melhor
treinador do mundo e arredores, chegou ao fim do jogo, e para além de se
queixar dos erros da arbitragem que não são da sua responsabilidade, afirmou
esta baboseira: - “preparei a equi pa
para fazer as substituições no prolongamento...”
O meu Sporting tem um presidente que saltou da bancada
da Juve Leo para o banco dos suplentes durante os jogos e para detrás dos microfones da Sporting
TV. Transporta o seu clubismo na boca e no coração e quem não
salta não é do Sporting!...
O anterior treinador do Clube, Marco Silva, que lhe deu
uma Taça de Portugal a ganhar e foi autenticamente corrido por “indecente e má
figura” com um processo disciplinar, sim, esse mesmo, vai disputar a Liga dos
Campeões... os sportinguistas vão ter este ano muito que encher o saco...
Sofreram três golos em 20 minutos em Moscovo, perderam
16 milhões de euros e na segunda parte do jogo, a decisiva, jogaram como
meninos do coro, um desastre.