Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, março 15, 2014
Não são apenas "os bons ventos de 2014" que nos trazem belas imagens... A orquestra de Ray Connif, esta bela música e o mar descontraem-nos, relaxam...
Abertos ao mundo. |
A IMPORTANTE
INFLUÊNCIA
DO MEIO SOCIAL
Dois homens discutem por causa de um
jogo de bilhar ou porque um insulta a namorada de outro e a animosidade vai
subindo até chegar ao assassínio, muitas vezes à vista de quem está perto.
A este tipo de homicídio os
criminologistas costumam chamar de “altercação trivial” mas, será?
Para mim foi fácil casar e ter filhos.
Tudo o que tive de fazer foi ir para a Universidade e depois garantir um bom
emprego.
Eu gostaria de atribuir o meu
comportamento de pessoa civilizada ao meu excelente carácter mas, acima de
tudo, tenho de estar grato ao extracto social a que pertenço.
No meu caso não me envolveria em luta
que me pudesse levar a um homicídio que erradamente seria chamado de
“altercação trivial” porque teria muito a perder e pouco a ganhar.
Naquela luta o que estava
verdadeiramente em causa era a competição entre indivíduos de sexo masculino
pelo “estatuto” que pode ser tudo menos trivial.
Tenho cinquenta e seis anos, ultrapassei
a idade média em que morre o homem das zonas deprimidas da cidade de Chicago e
ainda estou de boa saúde.
Eu sou como os homens dos bairros
sociais de Chicago mais favorecidos com muito menor probabilidade de cometerem
homicídios em lutas de “altercação trivial” porque a sua frequência está
relacionada com o meio social a que se pertence.
A cidade de Chicago está dividida em
setenta e sete bairros para os quais as taxas de homicídio e outros dados
estatísticos vitais estão compilados separadamente.
Estes bairros variam imenso quanto a
qualidade de vida, incluindo a própria duração média de vida de tal forma que a
esperança de vida dos bebés nascidos nos melhores bairros é vinte anos superior
à dos nascidos nos piores (cinquenta e tal anos para setenta e tal anos).
Estas mesmas diferenças verificam-se em
geral entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.
Nos bairros com menor esperança de vida,
as mulheres têm tendência a começar a ter filhos mais cedo e esta gravidez na
adolescência é amplamente reconhecida como um problema social mas, quando se
perguntava às mulheres de um geto porque tinham filhos tão cedo as respostas
suscitavam simpatia. Diziam elas que queriam que as suas mães conhecessem os
netos.
Usavam o termo de “desgaste” para
descrever a deterioração de saúde que observavam à sua volta.
E a pergunta aqui fica:
-
Se o meu amigo e aqueles que lhe são chegados estivessem a desgastar-se a um
rito rápido não gostaria de começar a ter filhos suficientemente cedo para os
conhecer e ajudá-los a criar os seus próprios filhos?
As taxas de homicídio variam imenso
oscilando de 1,3 e 156 por 100.000, entre bairros de pessoas ricas e de pessoas
pobres porque nestes o panorama é uns quantos bem sucedidos e muitos falhados
e, nestas circunstâncias, um “zé-ninguém” assume comportamentos de riscos
extremos na perspectiva de ser “alguém”.
A desvalorização acentuada do futuro
pode ser uma resposta “racional” à informação que indica uma probabilidade
incerta ou baixa de sobreviver para mais tarde colher benefícios, por exemplo,
e correr “riscos impensados” pode ser a solução óptima quando os benefícios de
uma escolha de acções mais segura são insignificantes.
A evolução tem intrinsecamente a ver com
organismos que reagem a modificações ambientais sendo impossível negar a capacidade
de mudança.
O Criacionismo religioso e secular
sempre se baseou no medo das consequências de aceitar a evolução, mas se
encararmos a teoria da evolução como um instrumento capaz de proporcionar uma
modificação positiva, ela será fácil de aceitar.
No que toca à evolução o futuro pode ser
diferente do passado, para melhor.
Nota - Nós, que tivemos a sorte em nascer num meio social que não foi o dos bairros sociais desfavorecidos, não embandeiremos em arco acerca de nós próprios.
Pensemos na verdadeira importância que teve na nossa vida o meio em que nascemos, a família que nos apoiou para concluir que o mérito de sermos como somos não foi todo nosso...
Richard Dawkins, o autor deste texto, conclui que o Criacionismo religioso agarra-nos ao passado ,ao "statu quo" e que só o Evolucionismo nos abre as portas para um futuro melhor.
Howard
Zinn foi um historiador, cientista político, activista e dramaturgo americano, é
mais conhecido como autor do livro A People's History of the United
States, que vendeu mais de um
milhão de cópias desde que foi lançado em 1980. Nasceu em 24 de Agosto de 1922
em Brooklyn, Nova Iorque e faleceu em 27 de Janeiro de 2010 em Santa Mónica,
Califórnia.
Vejam como é
actual o seguinte texto que ele escreveu (Cfr. Disobedience and Democracy: Nine Falacies
on Law and Order, South End Press, 1968).
"A desobediência civil não é o
nosso problema. O nosso problema é a obediência civil. O nosso problema é que
pessoas por todo o mundo têm obedecido às ordens de líderes e milhões têm
morrido por causa dessa obediência. O nosso problema é que as pessoas são
obedientes por todo o mundo face à pobreza, fome, estupidez, guerra e crueldade.
O nosso problema é que as pessoas são obedientes enquanto as cadeias se enchem
de pequenos ladrões e os grandes ladrões governam o país.
Howard
Zinn
Quem manda?... |
A GRANDE
VERDADE:
Quem manda?
Quem manda?
- Na Venezuela quem manda é um
morto.
- Na Coreia do Norte quem manda é o filho do morto.
- Em Cuba quem manda é o irmão do " morto "
- Na Argentina quem manda é a mulher do morto.
- Na Coreia do Norte quem manda é o filho do morto.
- Em Cuba quem manda é o irmão do " morto "
- Na Argentina quem manda é a mulher do morto.
E no Brasil quem manda é um que se finge de "
morto."
E em Portugal quem manda é um grupo que deveria estar morto!
E em Portugal quem manda é um grupo que deveria estar morto!
Um charlatão. Não pisou num navio, nunca... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 30
Caras surgiam a medo nas janelas, rostos ainda cheios de sono. Crianças corriam para a praça onde se juntavam pescadores e operários da Leste. Para eles discursou o comandante pela primeira vez naquele dia memorável.
Aos poucos, de pijama, foram
chegando o velho José Paulo, Adriano, Emílio Fagundes, Rui Pessoa, os demais.
Zequi nha Curvelo, em posição de
sentido ao lado do mastro, ostentava um pedaço de fita auriverde na lapela.
Houve, às dez horas, o costumeiro acto no Grupo Escolar, muito ampliado
porém, com declamação da Ode ao 2 de Julho, de Castro Alves, e novo discurso do
comandante, oração substanciosa, tropos magníficos.
Com Labatut, Maria Quitéria, o Periqui tão,
veio Vasco Moscoso de Aragão dos campos de Cabrito e Pirajá, das batalhas de
Itaparica e Cachoeira, até entrar na cidade de Salvador pelo caminho da Lapinha
e Soledade, curvando-se emocionado ante o cadáver de Joana Angélica tombada na
porta do convento das arrependidas, na Lapa, expulsando de vez e para sempre os
portugueses colonizadores.
Transfigurava-se o comandante, explodindo de indignação contra os lusos
opressores, exaltando a memória dos bravos baianos libertadores da Pátria. Porque
foi no 2 de Julho que a independência se concretizou efectivamente, o sangue
dos baianos dando realidade ao grito do Ipiranga.
Após os hinos, comandou os dois ganhadores, os professores e os alunos,
Zequi nha Curvelo e os habitantes,
num desfile pela rua principal até a praça, sua voz marcial ordenando
“ordinário, marche!”, “direita, volver!”, “atenção, sentido!”.
Os botões da farda brilhavam ao sol, a poeira prateada de um chuvisco
ralo acompanhava a passeata.
Na praça formaram os meninos, mestres e mestras, Zequi nha, os carregadores (Caco Podre já um tanto
vacilante das pernas, começara a beber antes da alvorada), e todos juraram
bandeira.
No fim da tarde, ainda
pronunciou o comandante umas palavras ante a população reunida para assistir ao
arriar dos pavilhões. Essa cerimónia final foi um tanto prejudicada por facto
lastimável: encontrava-se Caco Podre em estado quase de coma, num porre
daqueles, incapaz de uma nota ao clarim. Substituído por um escolar e sua
corneta, não foi a mesma coisa.
Não chegou a empanar-se, porém,
o brilho da festa: as bombas, os rojões de foguetes, os morteiros compensaram.
Misael mantivera-se relativamente sóbrio.
- Sim, senhor ... - comentava depois o velho Marreco ... - foi preciso
que o comandante viesse morar aqui
para termos uma festa de 2 de Julho à altura. É um porreta!
Estava o comandante com sua reputação cimentada; erguia-se, por assim
dizer, como estátua num alto pedestal, na estima e na admiração de seus
vizinhos de Periperi, definitivo e carismático.
Jamais ninguém fora ali tão considerado, tão unanimemente cortejado e
respeitado. A notícia daquele 2 de Julho levou fama de seu nome aos extremos
limites dos subúrbios da Leste Brasileira Não se movia uma palha naquelas
redondezas sem o aviso sábio do comandante.
E, de repente, logo após aquele brilho do 2 de Julho, num luminoso dia
propício às alegrias tranqui las,
desabou a tempestade. Chico Pacheco desembarcou aos gritos na estação, eufórico
e urgente.
- Ganhou a questão ... - pensou Rui Pessoa ao vê-lo descer. Pôs o pé na
plataforma e foi logo alardeando para Rui, para o chefe da estação, os
empregados, os operários a engraxarem os trilhos, para Caco Podre e Misael:
- Eu não dizia? Não avisei? Avisei a vosmicês todos! A mim, nunca me
enganou...
Um charlatão. Nunca pisou num navio, nunca!
Foi de casa em casa, procurou a todos, um por um, até Zequi nha Curvelo recebeu sua visita, generoso porque
superior e triunfante. Levava no bolso uma caderneta negra onde tomara
anotações de quando em vez a abria e consultava. Repetia sua história grotesca,
entre gargalhadas e palavrões contra o comandante:
- Charlatão mais filho da puta. . .
Houve aqueles que lhe deram inteiro crédito e começaram a olhar o
comandante com desprezo, rindo à sua passagem; outros acharam haver exagero de
lado a lado, nem tão heróico Vasco, nem tão verdadeira a história de Chico
Pacheco, esses eram poucos; terceiros não acreditaram em uma só palavra do
relato do ex-fiscal do consumo, continuaram incondicionais ao lado do discutido
capitão de longo curso.
sexta-feira, março 14, 2014
IMAGEM
Chapéus Cardinalícios... aí os temos carregados de dourados e de pedras refulgentes, ostentando poder, riqueza, vaidade, na linha do Imperador Constantino de Roma de quem são herança. Não se escandalizaram os católicos que ao longo dos séculos os têm continuado a seguir, subservientes, humildes, cabeças curvadas sobre o chão, tementes a Deus e aos homens do poder.
Francisco, o primeiro Papa franciscano, parece estar a travar uma luta no seio da cúria romana contra estas manifestações do passado. Se temos que ter uma igreja que ela dê, finalmente, bons sinais...
DULCE PONTES - CANÇÃO DO MAR
Este vídeo é uma pérola, de beleza, qualidade de voz e de música... não resisto a voltar a ele...
Por que as pessoas fazem o bem? A bondade está programada no nosso cérebro ou se desenvolve com a experiência? O psicólogo Dacher Keltner, Director do Laboratório de Interacções Sociais da Universidade da Califórnia, em Berkeley, investiga essas questões por vários ângulos e apresenta resultados surpreendentes.
Em seu novo livro Born to be good: the science
of a meaningful life (W.W.Norton, 2009, ainda sem tradução em português),
Keltner compila descobertas científicas que revelam o poder da emoção humana
inata e criam conexões entre as pessoas, segundo ele um caminho eficaz para uma
boa vida. Em entrevista, o pesqui sador
discute altruísmo, neuro-biologia e aplicações práticas de suas descobertas.
Mente&Cérebro – Para o senhor,
que quer dizer a expressão “nascido para ser bom”?
Dacher Keltner – Significa que a evolução criou uma espécie, os humanos,
com inclinação para bondade, brincadeira, generosidade, reverência e auto-sacrifício
– vitais para a evolução, vale dizer, sobrevivência, replicação genética e
habilidade de convívio em grupo –, que se manifestam por meio de emoções como
compaixão, gratidão, medo, vergonha e felicidade.
Estudos
recentes revelam que as capacidades humanas de cuidar, brincar e respeitar
foram desenvolvidas pelo cérebro e pela prática social.
M&C
–
Uma das estruturas corporais que parece ter sido adaptada para gerar altruísmo
é o nervo vago, como sua equi pe em
Berkeley descobriu. Fale um pouco sobre essa pesqui sa
e suas implicações.
Keltner – O nervo vago é um feixe neural que se origina no topo da
espinha dorsal. Ele estimula diferentes órgãos (como coração, pulmão, fígado e
aparelho digestivo). Quando activo, produz uma sensação de expansão confortável
no tórax, como quando estamos emocionados com a bondade de alguém ou ouvimos
uma bela música.
O neuro-cientista Stephen W. Porges, da
Universidade de Illinois em Chicago, há tempos argumenta que essa região
cerebral é o “nervo da compaixão”.
Acredita-se
que esse nervo estimule alguns músculos na cavidade vocal, permitindo a
comunicação. Estudos recentes apontam que ele pode estar conectado à rede de
receptores para a oxitocina, neurotransmissor relativo à confiança e aos laços
maternais.
Nossas pesqui sas
e as de outros cientistas indicam que a activação dessa região está associada
aos sentimentos de cuidado e intuição que humanos de diferentes grupos sociais
têm.
Pessoas
com alta activação dessa região cerebral são mais propensas a desenvolver
compaixão, gratidão, amor e felicidade.
A psicóloga Nancy Eisenberg, da Universidade
Estadual do Arizona, descobriu que crianças com actividade alta do nervo vago
têm mais chances de cooperar e doar. Segundo pesqui sas
recentes, ele estimula tal comportamento.
M&C – Frequentemente,
quando lemos trabalhos académicos sobre emoções, moralidade e áreas
relacionadas, perguntamos: existe alguma coisa que possamos fazer para usar
isso na prática? Ao olhar para o futuro, que repercussão o senhor gostaria que
seu trabalho tivesse?
Keltner – Em resumo, após tratar da nova ciência das emoções no
meu livro, percebi o quanto isso é útil. Segundo alguns estudos, cooperação e
senso moral são traços evolucionários, e essas habilidades são encontradas nas
emoções sobre as quais escrevo.
Uma
ciência da felicidade está revelando que esses sentimentos podem ser
cultivados, o que traz o lado bom dos outros – e o nosso – à tona.
M&C – O que esse tipo
de ciência o faz pensar?
Keltner - Ela me traz esperanças para o futuro. Que nossa cultura
se torne menos materialista e privilegie satisfações sociais como diversão,
toque, felicidade, que do ponto de vista evolucionário são as fontes mais
antigas de prazer.
Vejo
essa nova ciência em quase todas as áreas da vida. Os médicos, por exemplo,
hoje recebem treino para desenvolver empatia para com seus pacientes, ouvi-los,
tocá-los com carinho; são atitudes que ajudam no tratamento.
Os professores interagem com mais proximidade com seus
alunos. Ensina-se meditação em prisões e em centros de detenção de menores.
Executivos aprendem que inteligência emocional e bom relacionamento podem fazer
uma empresa prosperar mais do que se ela for focada apenas em lucros.
NOTA – Não tenho nenhuma espécie de dúvida que há muito mais pessoas no
mundo a fazer o bem ou com tendências para o fazer do que para fazerem mal.
E isto, não obstante, perceber que há uma «ordem» internacional no
relacionamento das sociedades, que assenta numa base de interesses
materialistas que favorecem a confrontação e, portanto, o mal.
Apetece-me dizer que somos barris de pólvora com maior tendência
para largar foguetes do que tiros, simplesmente, o bem não é notícia, é aceite
como um comportamento normal enquanto que os maus comportamentos fazem
cabeçalhos nos jornais...
Depois, há ainda aqueles casos extremos de um Hitler, de um Staline,
Pol Pot, Indi Amim... para nos situarmos apenas na nossa época, relativamente
aos quais, temos esperança, de que o mundo esteja cada vez mais atento.
A ciência, não obstante o "Gene Egoísta" de Richard Dawkins, deixa-nos alguma esperança como se pode ver desta pequena entrevista com o psicólogo Dacher Keltner.
Deixem-me transcrever uma pequena passagem do livro O Gene Egoísta:
- «Sendo os nossos genes egoístas não podemos contar com a ajuda da nossa natureza biológica mas nós, somos também a única espécie, com oportunidade de frustrar as suas intenções.
Os nossos genes podem programar-nos para sermos egoístas, mas não somos necessariamente obrigados a obedecer-lhes.
Entre os animais, o homem é dominado de maneira singular pela cultura, por influências aprendidas e transmitidas através das gerações de tal forma que há quem afirme que os genes são virtualmente irrelevantes para a compreensão da natureza humana.»
Em conclusão: Nos aerópagos internacionais temos que fortalecer uma cultura de solidariedade entre os povos e, com a ajuda da democracia, cada um de nós pode ajudar um bocadinho.
A bicicleta do Sr. Padre
Numa zona do
interior, dois padres costumavam cruzar-se de bicicleta na
estrada todos os domingos, aquando das suas actividades apostólicas nas suas respectivas paróqui as.
Certo dia
porém, um deles estava apeado. Surpreso, o outro padre parou e
perguntou-lhe:
- Onde está a sua bicicleta, Padre João?
- Foi roubada! Creio que do adro da igreja.
- Mas que absurdo! - Exclamou o ainda ciclista. Eu tenho uma ideia para o
senhor saber quem foi: na hora do sermão, cite os Dez Mandamentos. Quando
chegar ao "Não roubarás", faça uma pausa e percorra os fiéis com o
olhar. O culpado com certeza que se vai denunciar!
No domingo
seguinte, os padres cruzam-se de novo de bicicleta. O padre que dera a ideia
diz:
- Parece que o sermão deu certo, não foi, Padre João?
- Mais ou menos - responde ele - na verdade, quando cheguei ao "Não desejarás
a mulher do próximo", acabei por me lembrar onde é que tinha deixado o
estupor da bicicleta !...
Lá no cimo, resguardada dentro de muralhas, ela sempre ali esteve... |
MONSARAZ
A Aldeia Mais
Antiga de Portugal
«Toda a aldeia era feita de um tempo antigo: nas casas, nas ruas, nos usos e costumes.
Mesmo nos corpos dos aldeões, no jeito
especial de os utilizarem, tinham também um toque rude e primitivo.
O
modo de andar, por exemplo, era desengonçado e langão, como se levassem às
costas a sua carga de séculos mas era sobretudo nas casas que o peso do tempo
mais se sentia. A gente olhava-as e via logo que tinham sido casas construídas
no eterno.»
Virgílio Ferreira
Já revolucionara ele as Festas de S. João |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 29
De como desabou a tempestade após as
comemorações do Dois de Julho ou a volta do bandido com acusações contra o
mocinho
E, de repente, num desses dias perfeitos de inverno, de céu límpido e
despejado, de mar sereno, a natureza em paz com os homens, a tempestade
desabou.
Logo após o 2 de Julho, comemorado naquele ano com excepcional
brilho em
Periperi. Anteriormente , a celebração da data nacional da Baía
resumia-se a um acto no Grupo Escolar, discurso de professor e hinos cantados,
com voz estrídula e desafinada, pelas crianças.
Fora disso, era um dia morto,
cada um recordando outros Dois de Julho passados na cidade, o cortejo de
caboclos, as cerimónias na Praça da Sé e no Campo Grande, os fogos de
artifício.
Naquele ano, porém, o comandante, indiscutível autoridade em assuntos
cívicos, colocou-se à frente das comemorações.
Já revolucionara ele as Festas de São João, pendurando uma nota novinha
de vinte mil-réis, - um exagero! - na ponta do pau-de-sebo; multiplicando o
número das competições infantis, com prémios aos vencedores; financiando uma
festa para a gente pobre em casa de Esmeraldina, costureira “doublé” de
doidivanas, amiga de cantar e dançar, de casar e descasar, espécie de mulher
fatal de operários e pescadores, com um considerável activo de brigas,
navalhadas e ameaças de morte.
Ali correra farta a cachaça,
harmónica e violão gemeram noite adentro, e o barulho tornou-se ensurdecedor,
quando, pelas onze horas, o comandante apareceu, acompanhado de Zequi nha Curvelo - que agora também fumava cachimbo —
para ver como ia a festa, vestido com a farda de gala.
Com farda de gala amanhecera ele no 2 de Julho, engalanada também a
alma de ardor patriótico. Como descobrira ter sido Caco Podre, nos seus bons
tempos, anspeçada do Exército, ninguém sabe.
Aquele seu costume, talvez, de conversar com toda gente, de ouvir
pacientemente confidencias e recordações, de discutir problemas. Resultado: foi
a população de Periperi despertada naquele 2 de Julho, ao nascer da aurora, por
alarmantes toques bélicos de clarins.
Era Caco Pobre, na praça,
executando a alvorada, num entusiasmo de quem recupera os anos perdidos da
juventude, enquanto o comandante, auxiliado por Zequi nha,
hasteava as bandeiras do Brasil e da Bahia no pau-de-sebo promovido a mastro.
Haveria algumas falhas nos
acordes talvez, andava embotada a memória musical de Caco Podre, mas quem
notaria tão mísero pormenor?
Pulavam estremunhados dos leitos os aposentados e retirados dos
negócios, que diabo seria aqui lo,
que estava sucedendo?
Apuravam o ouvido, as clarinadas
cortavam o silêncio matinal, acordavam o sol do 2 de Julho que, como afirma o
hino famoso, “naquele dia é brasileiro, brilha mais que no primeiro”.
Parecia algo relacionado com as forças armadas, imaginavam os
habitantes assustados: seria revolução, os jornais andavam cheios de boatos.
Era revolução com certeza, pois em seguida um bombardeio monstruoso abalou os
fundamentos de Periperi.
Foguetes espocando no ar, as bombas servindo como salvas de canhão, sob
o competente controle do comandante a ordenar a Misael, o outro ganhador da
estação:
- Vinte e uma! Basta!
quinta-feira, março 13, 2014
D. José Policarpo |
Faleceu D. José Policarpo, o bispo emérito do clero português que poderia ter sido Papa... Neste aspecto, o facto de ser um incorrigível viciado nos cigarros não deve ter ajudado nada e, provavelmente, também lhe encurtaram a vida que ele deixou aos 78 anos.
Quando proferiu as declarações que estão no vídeo abaixo, em 2009, eu tomei o seu partido contra um amigo meu, velho colega dos estudos e da guerra, que entendeu que D. Policarpo estaria a descriminar os seguidores de Maomé.
No entanto, achei que elas eram de um enorme bom senso embora, vindo de quem vinham, não eram politicamente correctas. Talvez por isso ainda mais as tenha apreciado.
Lembro, na data, de uma senhora que ficou muito escandalizada porque era casada com um maometano e se dizia felicíssima... Ela não esclareceu que vivia em Portugal numa sociedade que era a sua, no meio dos seus compatriotas, com a mesma língua, a mesma cultura e, provavelmente, rodeada dos seus parentes ou seja, estava duplamente em casa.
D. José Policarpo quando manifestou as suas reservas: - "cuidado com os amores..." - disse ele - estava a admitir a hipótese, completamente plausível, de um dia a esposa ir para a terra do marido e ter que se sujeitar ao estatuto de subalternidade próprio das mulheres nas sociedades islâmicas e de que eles não abrem mão.
Há aqui questões religiosas e culturais que representam grandes diferenças no modo de viver e para as quais D. José estava a alertar, respondendo a uma pergunta que lhe foi feita no contexto de uma entrevista, mais como um pai do que propriamente como alto dignitário da Igreja Católica.
Como sabem, não sou crente e muito menos religioso pelo que, nesta intervenção de D. José, estive com ele apenas como homem, pai ou avô quando seria de esperar que ele abandonasse esse tipo de preocupações a favor da solidariedade entre as religiões, o tal ecumenismo agora tão em voga.
Como sabem, não sou crente e muito menos religioso pelo que, nesta intervenção de D. José, estive com ele apenas como homem, pai ou avô quando seria de esperar que ele abandonasse esse tipo de preocupações a favor da solidariedade entre as religiões, o tal ecumenismo agora tão em voga.
Apreciei e valorizei a sua sinceridade mas agora, como se tratou de uma posição politicamente menos correcta e ainda o seu corpo não arrefeceu dentro do caixão, já os seus acólitos lhe apontam esta passagem como um aspecto menos feliz da sua vida eclesiástica.
Desde aí que passei a nutrir por D. José Policarpo um especial apreço agora ainda maior quando soube que ele também era do Sporting. Esta afinidade clubística aproxima as pessoas, como é sabido de todos.
Faleceu D. José Policarpo. Para a história ficaram estas polémicas declarações sobre o casamento entre jovens portuguesas e muçulmanos. "Cuidado com os amores..."
)
Conta mais uma história dele. Uma que tenha mulher... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 28
Comoveu-me e abracei-o, não é mau rapaz. Um pouco estourado apenas,
maledicente por vezes, mas não será essa amargura resultado de suas
dificuldades financeiras?
Recebe uma pensão miserável, mal
pode viver. Negar-lhe talento é impossível e, se abandonasse a mania do
futurismo, poderia escrever bons versos.
Expliquei-lhe minhas preocupações em torno da atitude assumida pela
população de Periperi naquela primeira fase da luta entre o comandante e Chico
Pacheco.
Não concordou Telêmaco com o Meritíssimo, “que entende aquela besta do
comportamento dos homens?” Não eram, segundo ele, as provas concretas e
materiais - diplomas, mapas, cronógrafo - a causa fundamental do apoio dado ao
comandante.
Não era assim tão simples e
fácil, nem dão os homens tanto valor às provas materiais. O que os levava a
sustentar o comandante, a enfrentar Chico Pacheco e sua língua temível, era a
própria necessidade, sentida por todos eles, despretensiosos e tímidos
aposentados e retirados dos negócios, de sua ração de aventura, de sua parcela
de heroísmo.
Por mais circunspecto que seja
um homem, mais comedida sua vida, há dentro dele uma chama, por vezes apenas
uma fagulha, capaz de transformar-se num incêndio se a ocasião se apresenta.
É ela que exige fugir da mediocridade, mesmo que seja nas palavras de
uma história ouvida ou nas páginas de um livro lido, da chatice dos dias
iguais, pequenos e mornos.
Nas aventuras do comandante, em sua vida arriscada e temerária, encontravam os perigos por que
não haviam passado, as lutas e batalhas que não haviam travado, os alucinados e
pecaminosos amores que, não haviam vivido.
Que lhes oferecia Chico Pacheco? - As tricas de um processo judicial
contra o Estado era pouco.
Se ainda fosse um processo
criminal, com mortes, esposa adúltera e amante sórdido, facadas ou tiros, júri
emocionante, promotor e advogado, ciúme, ódio e amor, talvez tivesse alguma
possibilidade... Mas essa pendência em torno de uma aposentadoria era quase
nada para o muito de que necessitavam, sua carência de vida mais verdadeira e
profunda.
O comandante era um generoso
doador de grandeza humana, eis aí o segredo de seu sucesso.
Confesso parecer-me tudo isso complicado e confuso, um tanto pernóstico
também. Telémaco Dórea é assim, mas, no fundo, não é mau sujeito. Aplicou-me
mais alguns elogios, tomou-me duzentos cruzeiros para pagar dois dias depois,
foi-se embora.
Terminei por expor a questão a Dondoca, no leito cálido onde substituo
à noite o Meritíssimo sem seus elevados méritos intelectuais mas com certas
vantagens físicas. A safadinha riu seu riso dengoso:
- Esse comandante, apesar de velhote, tem seu encanto. Gosto da voz
dele, dos olhos bonitos e da cabeleira. Devia ser bom ficar deitada, ouvindo
ele contar seus acontecidos. Um homem assim, não há mulher que não goste...
- Só para ouvir ou, também...? Mordeu o lábio, riu desfalecente:
- Quem sabe, também...
Como se não bastasse o juiz, descarada! Mas ela me puxava pelos
cabelos, falava com a boca junto a mim:
- Conta mais uma história dele, uma que tenha mulher no meio do mar,
conta, meu bem...
Juro que pensava no comandante, a cachorra.
quarta-feira, março 12, 2014
com os nossos olhos?
A vida moderna está muito distante da sociedade de pequena escala e às vezes torna-se tão hierárquica e competitiva que mais parece um bando de chimpanzés ou uma matilha de lobos.
O que acontece quando atravessamos a divisória da cooperação em sentido contrário? Deixamos de falar e pomo-nos a apontar para mostrar as coisas uns aos outros? Evitamos o contacto visual?
Pergunto-me se os óculos de sol não serão uma maneira moderna de correr as cortinas sobre as janelas da alma, como os olhos opacos dos nossos parentes primatas. Quando não se destinam a proteger do sol, não serão usados sobretudo em ambientes sociais competitivos e hierárquicos?
Cheio de curiosidade a este respeito, David Sloan Wilson, enviou um e-mail a Mike Tomaselo, exactamente o cientista que desenvolveu a teoria "do olho cooperativo" para explicar como os nossos olhos se tornaram tão diferentes dos dos outros primatas, e recebeu a seguinte resposta:
- "Não conheço dados, mas vi o Campeonato Mundial de Pocker na televisão e todos eles usavam óculos escuros de sol."
Estes comportamentos revelam uma preocupação competitiva prevalecente que é o contrário da que teve por base a evolução dos nossos olhos. Incapazes de os tornar opacos, como os dos chimpazés, tapamo-los com óculos escuros.
A humanidade evoluiu, cresceram os grupos sociais, hierarquizaram-se inevitàvelmente, as "cartas" do evolucionismo estavam lançadas, a humanidade encontrava-se por sua conta... , o igualitarismo das sociedades primitivas dos Bosquímanos do Kalahari ficou desadequado, milhões de anos de evolução tornaram os nossos olhos perigosos aos nossos intentos... a competição veio para ficar, resta saber se para nos destruir.
Certo, é que nos continuamos a extasiar perante uns olhos bonitos, expressão máxima da beleza natural do rosto humano. A evolução fez o seu trabalho, levou-nos, dentro dos nossos pequenos grupos sociais, com o toque de beleza dos nossos olhos, à igualdade, entreajuda e harmonia, e nós, para além de nos continuarmos a apaixonar por eles, vamos continuar a escondê-los para surpreendermos o nosso adversário?
Como Cidadãos
Retratei ontem, pela pena de Miguel Sousa Tavares, num texto de 2009 publicado no Expresso, um Portugal como país de anedota, governado por gente de fraco senso na cabeça e os exemplos apresentados iam todos nesse sentido.
Miguel Sousa
Tavares é um homem de gostos naturais,
sensibilidade apurada e amante de um Portugal "selvagem" e eu, que
ainda tive oportunidade de conhecer um bocadinho esse Portugal esquecido, do
antigamente, das aldeias cheias de gente, da agricultura intensiva, das hortinhas
já trabalhadas ao pôr do sol depois de um dia de trabalho compreendo-o.
Quando os caminhos do campo eram percorridos
intensamente a pé ou de bicicleta, o mato era roçado para a cama dos animais e
os fogos passavam despercebidos na ausência, ainda, das grandes extensões de
eucalipto .
As críticas de MST que têm a ver com muitas das
decisões políticas de hoje, do portugal Europeu mas que reflectem, igualmente, uma nostalgia pelo
Portugal paisagístico de há sessenta ou setenta anos atrás quando não havia dinheiro nem
para mandar cantar um cego.
Sem dúvida, que
muitas coisas se fizeram neste país apenas porque havia dinheiro...dinheiro
negociado em Bruxelas aos milhões na sequência dos Apoios Comunitários e cujo
objectivo era proporcionar aos portugueses mais desenvolvimento, melhor
qualidade de vida, aproximá-los dos cidadãos dos restantes países
da Europa Central.
Habituados a
"contar os tostões", de repente vimo-nos com a tarefa de gastar
milhões, demasiados milhões para a nossa capacidade de os aplicar: por
deficiências humanas da nossa máqui na
administrativa e de um sector privado que, pela primeira vez na vida do país,
tinha um Estado ávido de gastar dinheiro dentro de determinados prazos sob o
risco de ter que o devolver... e ela, a sociedade civil, os espertalhucos, não se fizeram rogados.
Gabinetes de Contabilidade e Projectos
encarregaram-se, a troco de boas comissões, ensinar as pessoas a obter dinheiro
do Estado.
Estávamos ainda
no primeiro governo de Cavaco Silva, tínhamos acabado de negociar o 1º Quadro
Comunitário de Apoio e aconteceu um bocadinho daqui lo
que sucede quando "um pobrezinho" recebe a taluda do euromilhões: uma
boa parte dele não foi aplicado em benefício do destinatário, neste caso, o
país.
Esta
auto-estrada, a A6, do Alentejo Central, concluída em 2009, referida por MST,
parece realmente uma auto-estrada fantasma. Já o comprovei nas minhas idas a
Espanha, quando vou de férias.
No fundo, é um luxo que está ali, mas podíamos
ter deixado de a fazer? Para quantas gerações se faz uma auto-estrada?
- Como se teria
aplicado o dinheiro que veio da Comunidade para a construir?
- Teriam sido os Apoios bem negociados quanto
aos seus objectivos?
- Em caso
afirmativo terão sido depois bem aplicados?
- Em última análise tinha Portugal alguma
outra saída que não a de se integrar na Comunidade Europeia com todas as
vantagens e desvantagens daí decorrentes?
Todas estas
questões são legítimas mas na opinião das pessoas mais responsáveis e
entendidas, umas mais europeístas que outras, a resposta é não.
Muitos dos erros cometidos ao longo de todo
este processo devem ser imputados a nós, portugueses, que enfermamos de todos
aqueles vícios que MST tão bem conhece e denuncia.
Entrámos, agora, num período de expiação dos erros cometidos e não sabemos bem onde ele nos
vai levar porque ignoramos dados do problema que não têm a ver connosco mas sim
com a Europa e com o Mundo.
Entre nós, discute-se, neste momento, se devemos ou não renegociar a Dívida
Pública, uma bagatela de mais de 200 mil milhões de euros, cerca de 130% do PIB
que, não têm condições para serem pagos nos actuais prazos de liqui dação e ao preço a que está estabelecido pela
simples razão de que não há milagres...
Veio logo o 1º Ministro gritar:
- Nem pensar! Não
renegociamos nada! Vamos pagar tudo, tim-tim por tim-tim, conforme está
previsto!
Acalmem-se os mercados, ou seja, os credores. O governo não fará
nada, nem dirá nada que possa contribuir para agravar a taxa de juros dos empréstimos
que temos de continuar a contrair para a máqui na
do Estado poder a funcionar – é o que todos pensamos à boca calada... ou já se
esqueceram o que aconteceu à taxa de juro a quando da carta de Paulo Portas, no
Verão passado, a dizer que se ia embora?...
Vivemos tranzidos de medo pelo dia de amanhã, do que pode acontecer na Europa, na disposição da Sra Merkel, no que pensam os credores, as Agências de Notação e agora até do Sr. Putin de quem depende a paz na Ucrânia...
Não fazer nada nem dizer nada é a política do 1º Ministro do nosso país com muita gente a apoiá-lo, muitos deles em silêncio....um silêncio de tudo e de todos, um silêncio de morte.