A CABEÇADA DE ZIDANE
O meu querido sobrinho Rui, autor do Macroscópio, que sem nenhum tipo de favoritismo parental é um dos Blogs de melhor qualidade do nosso panorama blogueiro, não concordou com o meu pedido prévio de desculpas ao Zidane, por desejar a vitória da Itália e parece, por causa de uma cabeçada.
Não sei se o referido jogador aceitou o meu pedido de desculpas mas, tal como eu desejava, a Itália ganhou.
O Campeonato acabou, as pessoas descomprimiram e eu, pela minha parte, vou deitar-me no divã do Freud e revelar as verdadeiras razões do pedido prévio de desculpas ao Zidane e da vitória da Itália que desejei tal como veio a acontecer.
São três as razões:
- A primeira prende-se com o próprio Zidane que é um jogador sublime e vê-lo jogar delicia-me. Joga com os pés mas não trata a bola ao pontapé. Acaricia-a, afaga-a e ela, reconhecida, submete-se, fica ali ao pé dele, aguarda instruções, vai para ali, agora vem para aqui e depois vai ter ali com o meu colega e ela, sempre pronta, vai cumprindo todas as ordens porque a bola gosta do Zidane da mesma forma que ele gosta dela, creio mesmo que entre eles há uma relação de amor eterno.
O Zidane faz-me lembrar, na maneira como joga, John McEnroe, o mais talentoso de todos os jogadores de ténis, que também nunca batia na bola, as suas pancadas eram maneiras diferentes de a afagar, com mais força, menos força mas sempre afagando-a.
Cada um destes jogadores estabeleceu com a bola uma relação de tal intimidade que o resultado tem algo de poético, que nos encanta.
Por isso, quando, por circunstâncias especiais, se deseja que um jogador destes perca devemos apresentar-lhe prévias desculpas por uma questão de respeito e amor pela beleza do desporto.
Quando assistimos a um jogo de futebol só vemos o que se passa dentro das 4 linhas mas não ouvimos o que os jogadores dizem uns aos outros e porque não acredito na explicação, já avançada, de que o Zidane “endoidou” quando deu a cabeçada ao italiano, posso perfeitamente especular sobre a gravidade da provocação/agressão verbal proferida pelo Materazzi quando o francês passou por ele antes de voltar atrás e dar-lhe uma cabeçada no peito, junto ao coração, como a segredar-lhe: “isso…és tu, a tua mãezinha e o teu paizinho”.
Mas, reparem, mais uma vez respeitou as regras do futebol e da lealdade porque não utilizou as mãos nem deu cotoveladas ou pontapés à traição simplesmente, não quis levar desaforo para os balneários demonstrando uma coragem e frontalidade que não são vulgares e por isso a FIFA, que já o tinha considerado o melhor jogador do mundo, consagrou-o como o melhor jogador do Mundial 2oo6 e muito justamente.
A segunda razão prende-se com a França. Localizada no centro da Europa, os franceses sentem-se no centro do mundo, dentro do seu umbigo e, de uma maneira geral, são convencidos, preconceituosos, egoístas, chauvinistas e com acentuada tendência para menosprezarem as minorias estrangeiras que de há 50 anos a esta parte escolheram aquele país para ganharem honestamente a sua vida.
Por isso os portugueses são “os homens do bacalhau”e os Argelinos a que o Zidane pertence, serão os “homens de qualquer outra coisa”mas sempre com um sentido pejorativo que não fica bem a um povo que se pretende ou se afirma de cultura humanística sem perceberem que a diversidade de gostos é factor de enriquecimento cultural pelo que, pensando bem, não mereciam a alegria de serem Campeões.
Finalmente, a terceira razão tem a ver com a Itália de Romano Prodi por quem tanto“torci” nas últimas eleições daquele país e que me deu a alegria de ter corrido com aquele político burlesco, demagogo, de sorriso de “brilhantina”chamado de Berlusconi, que teve o desplante de levar para uma das suas televisões, na caça aos votos, a mãe velhinha a quem beijou e abraçou antes das eleições no melhor estilo da pior das repúblicas das bananas.
Por isso, Romano, obrigado, talvez não sejas carismático ou um político de eleição mas por teres conseguido limpar da cena europeia um chefe de governo cujo maior mérito, do ponto de vista político, era fazer rir o Bush, mereceste bem esta alegria que eu te desejei.
…E é assim, meu querido sobrinho, tudo tem a ver com tudo e agora, antes de me levantar e deixar livre o divã do Freud, pois deve haver mais gente à espera para se deitar nele e abrir a alma, pedir-te, apenas, para que registes na tua memória a última assistência para golo do Figo ao serviço da Selecção: preciosa, milimétrica, a mais de vinte metros e à qual o Nuno Gomes correspondeu com um golo de cabeça, todo estirado, “à peixe”, lindo…lindo!!! - até parece que estava tudo coreografado.