Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, outubro 29, 2011
Uma história mal contada ou É bom que se saiba...
«A Grécia tem 11 milhões de habitantes, a Europa do euro tem 332 milhões, o que dá 3,3 % de gregos. O PIB da Grécia é de 330 biliões, o da Zona Euro de 12,5 triliões, ou seja, a Grécia vale 2,5 %. Como é que cerca de 3% da população e da economia ameaçam a Europa de forma tão dramática, ao ponto de andar tudo a dizer que o euro pode acabar e talvez mesmo o próprio projeto europeu?
Outros dados ajudam a entender o sem sentido desta história. A Grécia está para a Europa como a Madeira está para Portugal. Jardim gastou e abusou, mas isso, apesar de agravar a situação financeira do país, teve um impacto relativamente insignificante nas contas públicas. O BPN, por exemplo, teve muito mais.
A Califórnia que tem um PIB semelhante ao da Itália – e corresponde a 13,5 % na economia americana –, tem andado à beira da bancarrota. Não passou pela cabeça de ninguém dizer que isso significaria o fim dos Estados Unidos, afinal uma federação, ou que o dólar ia desaparecer.
E já que estamos em maré de números, os PIG, Portugal, Irlanda e Grécia, somam por junto 6,2% do PIB europeu.
Como se explica então que a Europa ande que nem barata tonta devido ao mau comportamento de alguns dos seus mais insignificantes membros?
A razão não é financeira, nem económica. Desvarios e azares muito maiores têm sido resolvidos ao longo dos tempos. A atual crise é exclusivamente política. Não tanto pela ação, mas pela inação.
Depois da crise do "subprime" nos Estados Unidos, que começa em 2006 e explode em 2008, em vez de se assumir que o "sistema financeiro" vigente não é compatível com o desenvolvimento sustentado das sociedades e, pelo contrário, é fonte de constantes crises, os governos preocuparam-se sobretudo em salvar a banca. Injetaram rios de dinheiro, aumentando brutalmente os défices, na convicção de que os bancos são o motor da economia. Daí o "instintivo" pânico local com o BPN e o enorme buraco herdado da operação.
Nesse processo, não se promoveu qualquer alteração efetiva no comportamento dos "mercados" nem das políticas, nada se aprendeu, e passado pouco tempo estamos perante nova crise, desta vez das chamadas "dívidas soberanas". As quais no caso europeu de soberanas têm rigorosamente nada, já que tudo está interligado.
Esta sucessão de eventos, cuja consequência efetiva e imediata, é uma perda brutal de rendimento da generalidade da população, sobretudo da classe média, e das pequenas e médias empresas, deve-se exclusivamente a uma flagrante incompetência política. Acossados pelo descrédito popular, num ambiente de total subserviência aos interesses do capital, os políticos não param de ziguezaguear e são mais parte do problema e do que da solução. A política é hoje uma velha arte sem ideias nem futuro.
Acresce que não é só a política, e com ela a democracia, que definha. Os Estados, por arrasto, são um alvo a abater pelas boas e pelas más razões. Ineficazes, gastadores, clientelares, os Estados consomem a riqueza e dão cada vez menos em troca. Por via ideológica vão também perdendo a função de fiscalização e regulação essencial para equilibrar o interesse privado com o interesse público. Por isso todos clamam, e eu também, pela diminuição do papel do Estado. E os que defendem o contrário fazem-no com base numa visão arcaica, deslocada no tempo e no modo.
O rescaldo de mais esta crise não promete nada de bom. Não será, certamente, a construção de uma sociedade mais livre, justa e sustentada. Com a política convencional paralisada não há também que ter ilusões sobre os novos atores. O movimento global de indignação, que revela uma grande vaga de descontentamento e raiva, de pouco valerá face ao que objetivamente se desenha. Caminhamos para um mundo dominado abertamente (já o é na sombra) pelas grandes corporações. Corporações que não têm mandato democrático, não são escrutinadas e, em bom rigor, fazem o que lhes apetece em prole do único objetivo que conhecem, lucros e mais lucros, cada vez maiores e mais depressa, sem qualquer responsabilidade social. A democracia representativa vai dando lugar a uma tirania financeira e corporativa.» [Jornal de Negócios]
Autor:
«A Grécia tem 11 milhões de habitantes, a Europa do euro tem 332 milhões, o que dá 3,3 % de gregos. O PIB da Grécia é de 330 biliões, o da Zona Euro de 12,5 triliões, ou seja, a Grécia vale 2,5 %. Como é que cerca de 3% da população e da economia ameaçam a Europa de forma tão dramática, ao ponto de andar tudo a dizer que o euro pode acabar e talvez mesmo o próprio projeto europeu?
Outros dados ajudam a entender o sem sentido desta história. A Grécia está para a Europa como a Madeira está para Portugal. Jardim gastou e abusou, mas isso, apesar de agravar a situação financeira do país, teve um impacto relativamente insignificante nas contas públicas. O BPN, por exemplo, teve muito mais.
A Califórnia que tem um PIB semelhante ao da Itália – e corresponde a 13,5 % na economia americana –, tem andado à beira da bancarrota. Não passou pela cabeça de ninguém dizer que isso significaria o fim dos Estados Unidos, afinal uma federação, ou que o dólar ia desaparecer.
E já que estamos em maré de números, os PIG, Portugal, Irlanda e Grécia, somam por junto 6,2% do PIB europeu.
Como se explica então que a Europa ande que nem barata tonta devido ao mau comportamento de alguns dos seus mais insignificantes membros?
A razão não é financeira, nem económica. Desvarios e azares muito maiores têm sido resolvidos ao longo dos tempos. A atual crise é exclusivamente política. Não tanto pela ação, mas pela inação.
Depois da crise do "subprime" nos Estados Unidos, que começa em 2006 e explode em 2008, em vez de se assumir que o "sistema financeiro" vigente não é compatível com o desenvolvimento sustentado das sociedades e, pelo contrário, é fonte de constantes crises, os governos preocuparam-se sobretudo em salvar a banca. Injetaram rios de dinheiro, aumentando brutalmente os défices, na convicção de que os bancos são o motor da economia. Daí o "instintivo" pânico local com o BPN e o enorme buraco herdado da operação.
Nesse processo, não se promoveu qualquer alteração efetiva no comportamento dos "mercados" nem das políticas, nada se aprendeu, e passado pouco tempo estamos perante nova crise, desta vez das chamadas "dívidas soberanas". As quais no caso europeu de soberanas têm rigorosamente nada, já que tudo está interligado.
Esta sucessão de eventos, cuja consequência efetiva e imediata, é uma perda brutal de rendimento da generalidade da população, sobretudo da classe média, e das pequenas e médias empresas, deve-se exclusivamente a uma flagrante incompetência política. Acossados pelo descrédito popular, num ambiente de total subserviência aos interesses do capital, os políticos não param de ziguezaguear e são mais parte do problema e do que da solução. A política é hoje uma velha arte sem ideias nem futuro.
Acresce que não é só a política, e com ela a democracia, que definha. Os Estados, por arrasto, são um alvo a abater pelas boas e pelas más razões. Ineficazes, gastadores, clientelares, os Estados consomem a riqueza e dão cada vez menos em troca. Por via ideológica vão também perdendo a função de fiscalização e regulação essencial para equilibrar o interesse privado com o interesse público. Por isso todos clamam, e eu também, pela diminuição do papel do Estado. E os que defendem o contrário fazem-no com base numa visão arcaica, deslocada no tempo e no modo.
O rescaldo de mais esta crise não promete nada de bom. Não será, certamente, a construção de uma sociedade mais livre, justa e sustentada. Com a política convencional paralisada não há também que ter ilusões sobre os novos atores. O movimento global de indignação, que revela uma grande vaga de descontentamento e raiva, de pouco valerá face ao que objetivamente se desenha. Caminhamos para um mundo dominado abertamente (já o é na sombra) pelas grandes corporações. Corporações que não têm mandato democrático, não são escrutinadas e, em bom rigor, fazem o que lhes apetece em prole do único objetivo que conhecem, lucros e mais lucros, cada vez maiores e mais depressa, sem qualquer responsabilidade social. A democracia representativa vai dando lugar a uma tirania financeira e corporativa.» [Jornal de Negócios]
Autor:
Leonel Moura
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 243
Antes de embarcar me disse para vender a Flor das Águas e ficar com o dinheiro para mim, ele não tinha ninguém no mundo e não queria que o seu saveiro apodrecesse abandonado. Vendi, mas botei o dinheiro no banco para render, assim, se ele voltar um dia, pode comprar outra embarcação. Aí está o que aconteceu.
Tereza disse apenas:
- Fico aqui até ele voltar. Se ainda me quiser, aqui me encontrará à sua espera. O nome do navio, o mestre se recorda?
- “Balboa”, como havia de esquecer? Saiu de noite, nunca mais se soube do compadre. – Uma baforada, a brasa do cachimbo acesa, a voz cálida, a confiança: - Um dia, quando menos se esperar, o compadre desembarca no cais.
6
Após a recusa da proposta de casamento, as relações entre Tereza Batista e Almério das Neves sofreram mudança subtil, porém sensível. Até então o dono da padaria fora para Tereza sobretudo um cliente. Um tanto distinto dos velhotes, não só pela idade, apenas passara dos quarenta, enquanto os outros (cinco ao todo) andavam no limite dos sessenta, mais para lá do que para cá, mas também por vê-lo e tratá-lo fora das discretas paredes do castelo, no cabaré, onde evidentemente nenhum dos conspícuos jamais se mostraria.
Almério a contar do negócio, do preço do trigo, da inesquecível falecida, das artes do menino. Tereza a ouvi-lo atenta, cliente simpático e gentil com dia e hora marcada uma vez por semana.
A tarde de crepúsculos acendendo tristezas sobre o mar influiu nessas relações, tornando-as ao mesmo tempo mais e menos íntimas. Na aparência um contra-senso; na vida das mulheres-damas, porém, sucedem coisas assim inesperadas e estranhas, supostamente sem sentido.
Menos íntimas pois não voltou Almério a tê-la nua, na cama a exercer com competência, exibida a formosura inteira, seios e bunda, a flor secreta. Perdeu a qualidade de cliente, nenhum dos dois voltando ao castelo na quinta feira às quatro da tarde, apesar de não terem conversado sobre o assunto, compreendendo ambos a impossibilidade de existir entre eles dali em diante trato de rameira e michê, impessoal e pago.
Mais íntimas porque ficaram amigos, poderosos laços de confiança e estima haviam-se estabelecido naquela tarde de corações expostos sem rebuços.
Almério continuou a vir ao Flor de Lótus com certa frequência para tomar uma cerveja, dançar um fox, acompanhar Tereza à porta de casa. Prosseguia, apaixonado, candidato à mão da sambista, mas agora nem na mão lhe tocava, não exibia melancólicos olhares de frete, não a incomodava com súplicas e propostas. Apenas a presença, a companhia.
A paixão, ele a levava no peito, assim como Tereza conduzia o amor de Janu perdido no mar largo dos cargueiros. Por vezes, ele lhe perguntava: ainda sem notícias, não soube nada do navio? Tereza suspirava. Noutras ocasiões, era ela a querer saber, se o amigo ainda não encontrara noiva a seu gosto, mulher capaz de assumir o posto vago de Natália junto ao menino e ao lado de Almério, na casa e na padaria, no leito e no coração? Suspirava o viúvo.
Não se aproveitava ele da visível solidão de Tereza na longa espera, para propor-se para substituir Januário, mas buscava distraí-la, convidando-a para festas e passeios. Iam juntos a candomblés, escolas de capoeira, ensaios de afoxés e ranchos. Sem renovar proposta, sem falar de amor, Almério sempre esteve em torno de Tereza, impedindo-a de se sentir só e abandonada, terminando ela por lhe devotar sincera amizade e ser-lhe grata.
Em tempo de desesperança e abatimento abrigou-se Tereza no calor de alguns amigos, mestre Caetano Gunzá, o pintor Jenner Augusto, Almério das Neves. Além desses, Viviana Maria Petisco, Dulcineia, a negra Domingas, Anália, todas da zona Contou também com a simpatia do povo da Rampa do Mercado, de Água dos Meninos, do Porto da Lenha.
Antes de embarcar me disse para vender a Flor das Águas e ficar com o dinheiro para mim, ele não tinha ninguém no mundo e não queria que o seu saveiro apodrecesse abandonado. Vendi, mas botei o dinheiro no banco para render, assim, se ele voltar um dia, pode comprar outra embarcação. Aí está o que aconteceu.
Tereza disse apenas:
- Fico aqui até ele voltar. Se ainda me quiser, aqui me encontrará à sua espera. O nome do navio, o mestre se recorda?
- “Balboa”, como havia de esquecer? Saiu de noite, nunca mais se soube do compadre. – Uma baforada, a brasa do cachimbo acesa, a voz cálida, a confiança: - Um dia, quando menos se esperar, o compadre desembarca no cais.
6
Após a recusa da proposta de casamento, as relações entre Tereza Batista e Almério das Neves sofreram mudança subtil, porém sensível. Até então o dono da padaria fora para Tereza sobretudo um cliente. Um tanto distinto dos velhotes, não só pela idade, apenas passara dos quarenta, enquanto os outros (cinco ao todo) andavam no limite dos sessenta, mais para lá do que para cá, mas também por vê-lo e tratá-lo fora das discretas paredes do castelo, no cabaré, onde evidentemente nenhum dos conspícuos jamais se mostraria.
Almério a contar do negócio, do preço do trigo, da inesquecível falecida, das artes do menino. Tereza a ouvi-lo atenta, cliente simpático e gentil com dia e hora marcada uma vez por semana.
A tarde de crepúsculos acendendo tristezas sobre o mar influiu nessas relações, tornando-as ao mesmo tempo mais e menos íntimas. Na aparência um contra-senso; na vida das mulheres-damas, porém, sucedem coisas assim inesperadas e estranhas, supostamente sem sentido.
Menos íntimas pois não voltou Almério a tê-la nua, na cama a exercer com competência, exibida a formosura inteira, seios e bunda, a flor secreta. Perdeu a qualidade de cliente, nenhum dos dois voltando ao castelo na quinta feira às quatro da tarde, apesar de não terem conversado sobre o assunto, compreendendo ambos a impossibilidade de existir entre eles dali em diante trato de rameira e michê, impessoal e pago.
Mais íntimas porque ficaram amigos, poderosos laços de confiança e estima haviam-se estabelecido naquela tarde de corações expostos sem rebuços.
Almério continuou a vir ao Flor de Lótus com certa frequência para tomar uma cerveja, dançar um fox, acompanhar Tereza à porta de casa. Prosseguia, apaixonado, candidato à mão da sambista, mas agora nem na mão lhe tocava, não exibia melancólicos olhares de frete, não a incomodava com súplicas e propostas. Apenas a presença, a companhia.
A paixão, ele a levava no peito, assim como Tereza conduzia o amor de Janu perdido no mar largo dos cargueiros. Por vezes, ele lhe perguntava: ainda sem notícias, não soube nada do navio? Tereza suspirava. Noutras ocasiões, era ela a querer saber, se o amigo ainda não encontrara noiva a seu gosto, mulher capaz de assumir o posto vago de Natália junto ao menino e ao lado de Almério, na casa e na padaria, no leito e no coração? Suspirava o viúvo.
Não se aproveitava ele da visível solidão de Tereza na longa espera, para propor-se para substituir Januário, mas buscava distraí-la, convidando-a para festas e passeios. Iam juntos a candomblés, escolas de capoeira, ensaios de afoxés e ranchos. Sem renovar proposta, sem falar de amor, Almério sempre esteve em torno de Tereza, impedindo-a de se sentir só e abandonada, terminando ela por lhe devotar sincera amizade e ser-lhe grata.
Em tempo de desesperança e abatimento abrigou-se Tereza no calor de alguns amigos, mestre Caetano Gunzá, o pintor Jenner Augusto, Almério das Neves. Além desses, Viviana Maria Petisco, Dulcineia, a negra Domingas, Anália, todas da zona Contou também com a simpatia do povo da Rampa do Mercado, de Água dos Meninos, do Porto da Lenha.
(click na imagem)
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 23 SOBRE O TEMA:
“APÓSTOLOS DO SEXO FEMENINO?” (1)
Pescadores: Pobres e Desprezados
Nos tempos de Jesus, Cafarnaum – hoje apenas restam ruínas - era uma cidade de cerca de três quilómetros de comprimento e uns poucos milhares de habitantes. A pesca era o principal modo de vida, lá e em todas as cidades e pequenas vilas ao redor do lago da Galileia.
Os pescadores trabalhavam para um patrão, por famílias ou organizadas cooperativamente.
Naqueles tempos, o ofício de pescador era típico das pessoas mais pobres, consideradas menos religiosos e mais vulgares. Era uma profissão desprezada porque os pescadores tinham que passar o dia nos mares ou nos lagos e, de acordo com a cultura religiosa, esses lugares eram considerados como o habitat dos demónios.
Nos tempos de Jesus, Cafarnaum – hoje apenas restam ruínas - era uma cidade de cerca de três quilómetros de comprimento e uns poucos milhares de habitantes. A pesca era o principal modo de vida, lá e em todas as cidades e pequenas vilas ao redor do lago da Galileia.
Os pescadores trabalhavam para um patrão, por famílias ou organizadas cooperativamente.
Naqueles tempos, o ofício de pescador era típico das pessoas mais pobres, consideradas menos religiosos e mais vulgares. Era uma profissão desprezada porque os pescadores tinham que passar o dia nos mares ou nos lagos e, de acordo com a cultura religiosa, esses lugares eram considerados como o habitat dos demónios.
sexta-feira, outubro 28, 2011
ELIZETE CARDOSO - NAQUELA MESA
Que maneira mais bonita de recordar um pai... O autor da música é Sérgio Bittencourt, que toca a viola, filho de Jacob do Bandolim. Pela mão de Elizete está a viúva. Que letra enternecedora de simplicidade e bom gosto.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 23 SOBRE O TEMA:
“APÓSTOLOS DO SEXO FEMENINO?”
Pescadores, Pobres e Desprezados
Nos tempos de Jesus, Cafarnaum – hoje apenas ruínas - era uma cidade de cerca de três quilómetros de comprimento e uns poucos milhares de habitantes. A pesca era o principal modo de vida, lá e em todas as cidades e pequenas vilas ao redor do lago da Galileia.
Os pescadores trabalhavam para um patrão, por famílias ou organizadas cooperativamente.
Naqueles tempos, o ofício de pescador era típico das pessoas mais pobres, consideradas menos religiosas e mais vulgares. Era uma profissão desprezada porque os pescadores tinham que passar o dia nos mares ou nos lagos e, de acordo com a cultura religiosa, esses lugares eram considerados como o habitat dos demónios.
Os pescadores trabalhavam para um patrão, por famílias ou organizadas cooperativamente.
Naqueles tempos, o ofício de pescador era típico das pessoas mais pobres, consideradas menos religiosas e mais vulgares. Era uma profissão desprezada porque os pescadores tinham que passar o dia nos mares ou nos lagos e, de acordo com a cultura religiosa, esses lugares eram considerados como o habitat dos demónios.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 242
A conversa teve lugar na popa da barcaça ancorada de fronte das luzes da cidade, batida pelo vento sul a encapelar as águas mansas do golfo.
Noite de perigo no mar, noite ruim para os saveiros. Janaína desatada em tempestade, em busca de noivo para bodas no fundo do oceano, explicara mestre Gunzá tocando as águas com a ponta dos dedos, levando-os à testa e repetindo a saudação da sereia: Odóia! O patrão do veleiro recebera a Tereza com amizade, mas sem alegria.
Soube que estava na Bahia e que me procurou. Estou ao largo porque amanhã atraco junto do cargueiro para descarregar directamente.
Sentaram-se, o vento nos cabelos negros de Tereza, o aroma do cacau seco subindo do porão. Tereza perguntou com medo da resposta:
- Que se passa com Janu? Onde anda? Estou na Bahia vai fazer dois meses e ainda não consegui saber nada direito sobre ele. Cada pessoa diz uma coisa diferente. De certeza, só a morte da mulher dele.
- Pobre da minha comadre, no fim dava pena ver, era um fio de gente, pele e osso. O compadre não arredou pé de junto dela até lhe fechar os olhos. Nos últimos dias o pai apareceu para fazer as pazes e botar a filha no hospital, tarde de mais. A comadre já não tinha serventia de mulher, mas o compadre sentiu muito.
Tereza ouvia em silêncio, por trás da voz de mestre Gunzá rota pelo vento e pela tristeza, ela escuta Januário a lhe dizer na fímbria do mar da Atalaia: a que eu amei e quis, a que roubei da família, era sadia, alegre e bonita, hoje é doente, feia e triste, mas tudo que ela tem sou eu, não vou largá-la na rua, no alvéu. Homem direito, Janu.
- Depois, ele pegou dois ou três carregamentos para ganhar uns cobres e, tendo deixado o saveiro aos meus cuidados, tocou-se à sua procura. Se lembra, compadre de Tereza Batista, aquela moça morena de Aracaju? Pois vou buscar ela para viver comigo, vou-me casar de novo. Assim ele me disse.
Mestre Gunzá acendeu o cachimbo, que o vento apagara. A barcaça sobe e desce, as vagas aumentam, o vento sul desatinado, chamando a morte num assobio agudo. Tereza em silêncio, imaginando Janu à sua procura, livre das grilhetas, pássaro de voo solto, pronto para trazê-la para casa, para o saveiro. Ai, o desencontro!
- Levou para mais de três meses fora, lhe procurando. Chegou sem vintém, veio de ajudante de chofer num caminhão. Acabrunhado de mais, sem jeito. Me contou toda a viagem, foi bem adiante de Sergipe, atravessou Alagoas, Pernambuco, Paraíba, esteve em Natal e só parou em Ceará, conheceu muita terra e muita gente, só não encontrou quem ele buscava. Perdeu seu rasto no Recife, mas só desanimou em Fortaleza. De novo em Aracaju, saiu Sergipe adentro e foi aí que lhe contaram de sua morte, atacada de bexiga, deram dia e hora e descreveram seu retrato, tudo direitinho.
Só não souberam dizer o lugar onde tinham enterrado o corpo. Era tanta a abastança de defuntos, não dava tempo para funeral, punham cinco e seis na mesma cova. Foi o que contaram ao meu compadre.
Sim, Tereza saíra ao encontro da morte e a enfrentara, no desespero de não estar com ele e por haver tentado esquecê-lo na cama do doutorzinho Oto Espinheira, director do posto de saúde, rei dos covardes.
A morte a rejeitara, nem a bexiga a quis. Na noite de tormenta, a face de pedra de Tereza, a brasa do cachimbo de mestre Caetano Gunzá e a tempestade a naufragar saveiros. Janaína busca um noivo. No assobio do vento, seu canto de sereia.
Meu compadre tinha mudado, não era mais o mesmo, nem com o saveiro tinha gosto de se ocupar. Ficava sentado aqui, na pompa da Ventania, calado, só abrindo a boca para me dizer: como é que ela foi morrer, compadre? Em tudo se dá jeito menos na morte, e eu pensando que um dia ia viver com ela!
O vento cessou de chofre e na calmaria os saveiros ficaram à deriva, perdido o rumo. No mar alto, Janaína com o noivo, núpcias fatais. A voz de mestre Gunzá cai no madeirame da barcaça:
- Foi quando sucedeu o caso do navio panamenho, um cargueiro grande. Entrou no porto para deixar no hospital seis tripulantes, todos atacados de raiva. Um cachorro de bordo adoecera e antes que pudessem acabar com ele mordera os seis. Para seguir viagem, o comandante recrutou gente daqui. Januário foi o primeiro a se engajar.
GUERRA
Episódio Nº 242
A conversa teve lugar na popa da barcaça ancorada de fronte das luzes da cidade, batida pelo vento sul a encapelar as águas mansas do golfo.
Noite de perigo no mar, noite ruim para os saveiros. Janaína desatada em tempestade, em busca de noivo para bodas no fundo do oceano, explicara mestre Gunzá tocando as águas com a ponta dos dedos, levando-os à testa e repetindo a saudação da sereia: Odóia! O patrão do veleiro recebera a Tereza com amizade, mas sem alegria.
Soube que estava na Bahia e que me procurou. Estou ao largo porque amanhã atraco junto do cargueiro para descarregar directamente.
Sentaram-se, o vento nos cabelos negros de Tereza, o aroma do cacau seco subindo do porão. Tereza perguntou com medo da resposta:
- Que se passa com Janu? Onde anda? Estou na Bahia vai fazer dois meses e ainda não consegui saber nada direito sobre ele. Cada pessoa diz uma coisa diferente. De certeza, só a morte da mulher dele.
- Pobre da minha comadre, no fim dava pena ver, era um fio de gente, pele e osso. O compadre não arredou pé de junto dela até lhe fechar os olhos. Nos últimos dias o pai apareceu para fazer as pazes e botar a filha no hospital, tarde de mais. A comadre já não tinha serventia de mulher, mas o compadre sentiu muito.
Tereza ouvia em silêncio, por trás da voz de mestre Gunzá rota pelo vento e pela tristeza, ela escuta Januário a lhe dizer na fímbria do mar da Atalaia: a que eu amei e quis, a que roubei da família, era sadia, alegre e bonita, hoje é doente, feia e triste, mas tudo que ela tem sou eu, não vou largá-la na rua, no alvéu. Homem direito, Janu.
- Depois, ele pegou dois ou três carregamentos para ganhar uns cobres e, tendo deixado o saveiro aos meus cuidados, tocou-se à sua procura. Se lembra, compadre de Tereza Batista, aquela moça morena de Aracaju? Pois vou buscar ela para viver comigo, vou-me casar de novo. Assim ele me disse.
Mestre Gunzá acendeu o cachimbo, que o vento apagara. A barcaça sobe e desce, as vagas aumentam, o vento sul desatinado, chamando a morte num assobio agudo. Tereza em silêncio, imaginando Janu à sua procura, livre das grilhetas, pássaro de voo solto, pronto para trazê-la para casa, para o saveiro. Ai, o desencontro!
- Levou para mais de três meses fora, lhe procurando. Chegou sem vintém, veio de ajudante de chofer num caminhão. Acabrunhado de mais, sem jeito. Me contou toda a viagem, foi bem adiante de Sergipe, atravessou Alagoas, Pernambuco, Paraíba, esteve em Natal e só parou em Ceará, conheceu muita terra e muita gente, só não encontrou quem ele buscava. Perdeu seu rasto no Recife, mas só desanimou em Fortaleza. De novo em Aracaju, saiu Sergipe adentro e foi aí que lhe contaram de sua morte, atacada de bexiga, deram dia e hora e descreveram seu retrato, tudo direitinho.
Só não souberam dizer o lugar onde tinham enterrado o corpo. Era tanta a abastança de defuntos, não dava tempo para funeral, punham cinco e seis na mesma cova. Foi o que contaram ao meu compadre.
Sim, Tereza saíra ao encontro da morte e a enfrentara, no desespero de não estar com ele e por haver tentado esquecê-lo na cama do doutorzinho Oto Espinheira, director do posto de saúde, rei dos covardes.
A morte a rejeitara, nem a bexiga a quis. Na noite de tormenta, a face de pedra de Tereza, a brasa do cachimbo de mestre Caetano Gunzá e a tempestade a naufragar saveiros. Janaína busca um noivo. No assobio do vento, seu canto de sereia.
Meu compadre tinha mudado, não era mais o mesmo, nem com o saveiro tinha gosto de se ocupar. Ficava sentado aqui, na pompa da Ventania, calado, só abrindo a boca para me dizer: como é que ela foi morrer, compadre? Em tudo se dá jeito menos na morte, e eu pensando que um dia ia viver com ela!
O vento cessou de chofre e na calmaria os saveiros ficaram à deriva, perdido o rumo. No mar alto, Janaína com o noivo, núpcias fatais. A voz de mestre Gunzá cai no madeirame da barcaça:
- Foi quando sucedeu o caso do navio panamenho, um cargueiro grande. Entrou no porto para deixar no hospital seis tripulantes, todos atacados de raiva. Um cachorro de bordo adoecera e antes que pudessem acabar com ele mordera os seis. Para seguir viagem, o comandante recrutou gente daqui. Januário foi o primeiro a se engajar.
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quinta-feira, outubro 27, 2011
VÍDEO
Malditos plásticos que infestam a terra e os mares. Esta jovem teve a "coragem" de fazer uma coisa tão simples como dobrar-se (naquela idade não custa nada) e deitá-lo no recepiente do lixo que estava mesmo ali à mão. Era uma armadilha. Foi recompensada com um enorme aplauso... nunca mais se vai esqucer.
A mulher chega a casa e vê o marido a preparar uma mala de viagem.
- O que estás a fazer?
- A preparar a mala.
- Para?
- Vou para a Austrália.
- Porquè?
- Porque dizem que lá pagam 100 dólares por cada relação sexual.
A mulher põe-se preparar uma mala também. O marido pergunta:
- Que tás a fazer?
- A preparar uma mala.
- Para què?
- Para ir contigo.
- Fazer o quê?
- Ajudar-te, porque não acredito que consigas viver só com 100 dólares por mês.
- O que estás a fazer?
- A preparar a mala.
- Para?
- Vou para a Austrália.
- Porquè?
- Porque dizem que lá pagam 100 dólares por cada relação sexual.
A mulher põe-se preparar uma mala também. O marido pergunta:
- Que tás a fazer?
- A preparar uma mala.
- Para què?
- Para ir contigo.
- Fazer o quê?
- Ajudar-te, porque não acredito que consigas viver só com 100 dólares por mês.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 241
Aquela espera marcara os começos de Tereza Batista na cidade da Bahia e as primeiras relações por ela estabelecidas na busca de novas de mestre Januário Gereba e do saveiro Flor das Águas. Todos muito gentis, impossível povo mais educado; as notícias, porém, desencontradas. Ela viera à capital para saber de Januário, saiu perguntando.
Obtivera aqui e ali pedaços de história mas só mestre Caetano contou o enredo inteiro.
Após a epidemia de bexiga em Buquim, Tereza começara a descer o sertão, de cidade em cidade, de povoado em povoado, lentamente. Conhecera Esplanada, Cipó, Alagoinhas, Feira de Sant’ Ana. Viagem extensa e atribulada, Tereza sem recursos, obrigada a exercer nas piores condições.
Durante esses meses - quantos nem sabia – completou o exacto conhecimento da vida de rameira, tocou o ponto mais baixo, mas disposta a chegar ao mar de Gereba, prosseguiu até ao fim, obstinada.
Só em Feira de Sant’ Ana encontrara cabaré onde se oferece de dançarina a troco de quase nada e, ainda assim, para cobrar a paga mísera tivera de armar esporro sem tamanho.
Não fosse ter surgido em meio de confusão imponente velho de barbas e cajado, senhor na certa muito importante que dela se agradou, teria terminado presa em vez de receber os caraminguás – dinheiro magro, o justo para a passagem de marineti e as primeiras despesas na capital.
Menos mal que o velho senhor lhe acrescentou algum. Simpatizando com a coragem da rapariga e estando a ganhar no jogo de ronda bancado pelo dono do El Tango, no qual até então ninguém ganhara, não só forçou o tipo a pagar o ajustado e devido: juntou à parca quantia uma boa parte do obtido no baralho.
De pura bondade, pois nem sequer a reteve para dormir com ele, permitindo-lhe partir enquanto prosseguia dando a maior sorte no jogo para espanto e escândalo de Paco Porteño. Os baralhos marcados tinham perdido a valia, de nada adiantando tampouco a rapidez de mão, orgulho e capital do gringo.
Pela primeira vez Tereza topava com aquele velho em seu caminho, mas ele a tratou como se a conhecesse de longa data.
Na Bahia, iniciara a busca. De começo, timidamente, imaginando Gereba ainda casado. Não viera para lhe perturbar a vida, criar-lhe embaraços. Apenas queria localizá-lo para poder acompanhar-lhe os passos sem ser notada. Somente? Também gostaria de avistar o Flor das Águas, mesmo de longe. De longe?
Quem pode saber com exactidão o que Tereza esperava e pretendia se nem ela própria sabe? Buscava-o apenas, era tudo quanto tinha.
Na Rampa e no Mercado praticamente todos a conheciam e estimavam, nenhum dava notícias dele. Melhor dito: todos davam notícias, ninguém se negara a falar do saveirista, mas eram informações desencontradas quando não contraditórias. Uma coisa certa, contudo: a esposa de Januário falecera tempos atrás.
No candomblé do Bogum, onde ele tinha o posto de ogan há muitos anos, a mãe-de-santo Ronhoz confirmou: Gereba perdera a mulher, levada pela tísica, a pobrezinha. Os olhos fitos em Tereza, a iyalorixá não vacilou em reconhecê-la:
- Você é a moça que ele conheceu em Aracaju.
Depois do enterro, Januário estivera no terreiro em trabalhos de axexê, limpando o corpo antes de realizar uma viagem, de grande importância, segundo dissera.
Quem esperava era você, não era? Nunca mais apareceu. Consta ter voltado dessa viagem e iniciado outra.
Uma viagem? Duas? Vivo ou morto? Desaparecido? Onde? Tereza só conseguira saber a verdade quando, por fim, a Ventania regressou do Sul do estado carregado de cacau.
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HISTÓRIAS
DE HODJA
Hodja foi um dia surpreendido a roubar cebolas. “O que é que está fazer, Hodja?” perguntou, áspero, o dono da plantação.
- “Eu ia a passar na estrada e de repente soprou um vento muito forte que me atirou até aqui”. Respondeu o Hodja.
- “Ah, é? E quem arrancou as cebolas?”
- “Pois é, desculpe, mas o vento era tão forte que tive de me agarrar a elas par ver se não saía por aí a voar pela cidade inteira”. Continuou o Hodja justificando-se.
- “Hum…” disse o outro. “E como é que elas foram parar dentro do saco?”
- “Eu estava a perguntar isso a mim mesmo quando o senhor chegou.”
- “Eu ia a passar na estrada e de repente soprou um vento muito forte que me atirou até aqui”. Respondeu o Hodja.
- “Ah, é? E quem arrancou as cebolas?”
- “Pois é, desculpe, mas o vento era tão forte que tive de me agarrar a elas par ver se não saía por aí a voar pela cidade inteira”. Continuou o Hodja justificando-se.
- “Hum…” disse o outro. “E como é que elas foram parar dentro do saco?”
- “Eu estava a perguntar isso a mim mesmo quando o senhor chegou.”
ENTREVISTA FICCIONADA Nº23
COM JESUS CRISTO SOBRE O TEMA:
“MULHERES APÓSTULAS?”
RAQUEL - As Emissoras Latinas têm os seus microfones localizados onde foi o antigo cais de Cafarnaum na companhia de Jesus em mais um dia da sua segunda vinda. Cafarnaum, à beira do lago da Galileia, foi conhecida como a sua cidade. Por quê?
JESUS - É que eu saí de Nazaré e vim morar aqui.
RAQUEL – E Por que lhe ocorreu estabelecer-se num porto de pesca?
JESUS - Bem, aqui viveu Pedro, André, Tiago ... tinham alguns barcos e redes…
RAQUEL - Eles eram pescadores, mas o senhor, não.
JESUS - Não, eu vim para pescá-los. Quando regressei do Jordão, pensei que algo devia ser feito para mudar as coisas neste país. Então eu vim buscá-los a Cafarnaum.
RAQUEL- Pertenciam a alguma organização religiosa?
JESUS - Quem?
RAQUEL - Pedro, André, Tiago…
JESUS - Não, esses estavam organizados na resistência contra os romanos…
RAQUEL - Assim, o senhor os chamou e formou com eles um grupo de doze apóstolos.
JESUS - Doze?... Nós éramos mais de doze!
RAQUEL - Na sua biografia, fala-se de doze apóstolos.
JESUS - Não pode ser porque… Ora vamos ver, vai contando: Tiago e João, que eram filhos de Zebedeu. Salomé, sua mãe, que também aderiu ao movimento. Pedro e André, que eram irmãos. Juana, a mulher de Cusa. Estava Thomas o gémeo. E Maria de Magdala. Estava Felipe, Susana, Nathaniel, Marta e sua irmã Maria, de Betânia, Judas de Iscariotes, aquele que fez o que fez…
RAQUEL - Espere, espere, está confundindo nossos ouvintes.
JESUS - Onde está a confusão, Raquel?
RAQUEL - Está misturando homens com mulheres, apóstolos com…
JESUS - Com apóstolas. Não sei se pode dizer-se assim...
RAQUEL - Bem, eu não sei como dizer… Mas sempre se supôs que o senhor escolheu apenas homens para construir sua igreja.
JESUS – E quem é que disse isso? No nosso grupo havia de tudo, mulheres, homens, da Judéia, Galiléia, até uma mulher samaritana se juntou a nós…
RAQUEL – Aclaremos as coisas... Essas mulheres que o senhor menciona no seu grupo eram para… apoio logístico.
JESUS - Apoio quê?
RAQUEL - Ou seja, para fazer comida, lavar a roupa... talvez… até mesmo para repouso do resto dos pregadores.
JESUS - Mas o que queres dizer tu, Raquel?.. Se as mulheres eram as melhores para falar e entusiasmar as pessoas!... Melhores também para organizar. Elas eram como todos os outros, tal como os homens.
RAQUEL - Mas então… temos uma chamada ... Olá?
RENATO - Aqui Renato Souza de Almeida. Estou a falar da pastoral da juventude em São Paulo, Brasil.
RAQUEL – Pois bem, fale lentamente para entendermos bem...
RENATO - Jesus tem razão se não, leia as epístolas de São Paulo, onde ele narra como trabalhou com Junia, com Lídia, vendedora de púrpura, com Evódia, com Phoebe, com Apia, com muitas mulheres das primeiras comunidades cristãs…
RAQUEL - Obrigado, Renato .Mas então, se isso foi assim ao princípio… O senhor já reparou, Jesus Cristo? Agora os seus representantes rejeitam as mulheres como pastoras, como bispos? Por que o senhor acha que eles procedem deste modo?
JESUS - Não sei, talvez por medo… Talvez eles se sintam mais pequenos em estatura do que elas e não o queiram reconhecer.
RAQUEL - Então, se entendi bem, o senhor concordaria com a ordenação de mulheres?
JESUS - Eu não concordo com qualquer sacerdócio seja de homens ou de mulheres. Mas para lidar com as comunidades, as mulheres são mais sábias, mais responsáveis, bem… É por isso que a mensagem mais importante, a pérola mais preciosa, Deus a confiou a uma mulher e não a um homem.
RAQUEL – De que pérola fala?
JESUS - Por que não a procuramos em Magdala ... Queres vir? ... Estamos perto…
RACHEL - Sim, vamos lá…
Emissoras Latinas a caminho de Magdala. Enviada especial, Raquel Perez.
RAQUEL - As Emissoras Latinas têm os seus microfones localizados onde foi o antigo cais de Cafarnaum na companhia de Jesus em mais um dia da sua segunda vinda. Cafarnaum, à beira do lago da Galileia, foi conhecida como a sua cidade. Por quê?
JESUS - É que eu saí de Nazaré e vim morar aqui.
RAQUEL – E Por que lhe ocorreu estabelecer-se num porto de pesca?
JESUS - Bem, aqui viveu Pedro, André, Tiago ... tinham alguns barcos e redes…
RAQUEL - Eles eram pescadores, mas o senhor, não.
JESUS - Não, eu vim para pescá-los. Quando regressei do Jordão, pensei que algo devia ser feito para mudar as coisas neste país. Então eu vim buscá-los a Cafarnaum.
RAQUEL- Pertenciam a alguma organização religiosa?
JESUS - Quem?
RAQUEL - Pedro, André, Tiago…
JESUS - Não, esses estavam organizados na resistência contra os romanos…
RAQUEL - Assim, o senhor os chamou e formou com eles um grupo de doze apóstolos.
JESUS - Doze?... Nós éramos mais de doze!
RAQUEL - Na sua biografia, fala-se de doze apóstolos.
JESUS - Não pode ser porque… Ora vamos ver, vai contando: Tiago e João, que eram filhos de Zebedeu. Salomé, sua mãe, que também aderiu ao movimento. Pedro e André, que eram irmãos. Juana, a mulher de Cusa. Estava Thomas o gémeo. E Maria de Magdala. Estava Felipe, Susana, Nathaniel, Marta e sua irmã Maria, de Betânia, Judas de Iscariotes, aquele que fez o que fez…
RAQUEL - Espere, espere, está confundindo nossos ouvintes.
JESUS - Onde está a confusão, Raquel?
RAQUEL - Está misturando homens com mulheres, apóstolos com…
JESUS - Com apóstolas. Não sei se pode dizer-se assim...
RAQUEL - Bem, eu não sei como dizer… Mas sempre se supôs que o senhor escolheu apenas homens para construir sua igreja.
JESUS – E quem é que disse isso? No nosso grupo havia de tudo, mulheres, homens, da Judéia, Galiléia, até uma mulher samaritana se juntou a nós…
RAQUEL – Aclaremos as coisas... Essas mulheres que o senhor menciona no seu grupo eram para… apoio logístico.
JESUS - Apoio quê?
RAQUEL - Ou seja, para fazer comida, lavar a roupa... talvez… até mesmo para repouso do resto dos pregadores.
JESUS - Mas o que queres dizer tu, Raquel?.. Se as mulheres eram as melhores para falar e entusiasmar as pessoas!... Melhores também para organizar. Elas eram como todos os outros, tal como os homens.
RAQUEL - Mas então… temos uma chamada ... Olá?
RENATO - Aqui Renato Souza de Almeida. Estou a falar da pastoral da juventude em São Paulo, Brasil.
RAQUEL – Pois bem, fale lentamente para entendermos bem...
RENATO - Jesus tem razão se não, leia as epístolas de São Paulo, onde ele narra como trabalhou com Junia, com Lídia, vendedora de púrpura, com Evódia, com Phoebe, com Apia, com muitas mulheres das primeiras comunidades cristãs…
RAQUEL - Obrigado, Renato .Mas então, se isso foi assim ao princípio… O senhor já reparou, Jesus Cristo? Agora os seus representantes rejeitam as mulheres como pastoras, como bispos? Por que o senhor acha que eles procedem deste modo?
JESUS - Não sei, talvez por medo… Talvez eles se sintam mais pequenos em estatura do que elas e não o queiram reconhecer.
RAQUEL - Então, se entendi bem, o senhor concordaria com a ordenação de mulheres?
JESUS - Eu não concordo com qualquer sacerdócio seja de homens ou de mulheres. Mas para lidar com as comunidades, as mulheres são mais sábias, mais responsáveis, bem… É por isso que a mensagem mais importante, a pérola mais preciosa, Deus a confiou a uma mulher e não a um homem.
RAQUEL – De que pérola fala?
JESUS - Por que não a procuramos em Magdala ... Queres vir? ... Estamos perto…
RACHEL - Sim, vamos lá…
Emissoras Latinas a caminho de Magdala. Enviada especial, Raquel Perez.
quarta-feira, outubro 26, 2011
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 22 SOBRE O TEMA:
“JESUS MORENO” (5º e último)
Por que persiste o racismo?
Para além de qualquer juízo moral, que diz a ciência sobre a persistência do racismo?
Douglas C. Wallace, professor de genética molecular na Emory University, Atlanta, explica:
- “Desgraçadamente para a harmonia social, o cérebro humano está perfeitamente sintonizado para as diferenças nos detalhes da "embalagem", levando as pessoas a exagerar a importância do que tem sido chamado de "raça".
Os critérios que as pessoas usam para determinar a raça estão inteiramente baseados em características externas que são programados para serem reconhecidas.
Wallace sustenta que a razão pela qual estamos programados para reconhecer essas características externas vem da importância vital para a sobrevivência da nossa espécie que cada um de nós seja capaz de distinguir um indivíduo de outro.
FOI DEUS - AMÀLIA RODRIGUES
Um clássico da Amália que aproveita para mostrar a cidade de Lisboa onde nasceu num destes bairros velhinhos.
O CANCRO (Estratégia de Vistas Curtas...)
Não, o cancro não é consequência do ataque ao nosso organismo de um qualquer vírus ou bactéria como acontece em tantas outras doenças como a Imunodeficiência (HIV) ou H1N1 do actual surto de gripe.
No caso particular do cancro é o nosso organismo que se coloca contra si próprio revelando uma grande estreiteza de vistas pois dando cabo do corpo põe termo a si próprio.
Concretamente, o cancro é uma linhagem de células mutantes (resultantes de erros de cópia no processo de substituição das células chamados mutações) bem sucedidas e o facto de poderem acabar por se destruírem a si próprias juntamente com o corpo a que pertencem, é absolutamente irrelevante porque a evolução que tem lugar dentro de nós não faz previsões, é um simples processo mecânico por meio do qual algumas formas surgem, competem com outras e saem vencedoras na base de interacções imediatas.
Para compreender o cancro temos de pensar num organismo único, o nosso próprio corpo, com uma vasta população de células todas com o mesmo conjunto de genes, excepto no que respeita às mutantes (que resultam dos tais erros de cópia que ocorrem no processo de divisão das células).
A maioria destas células é rapidamente detectada e destruída pelo nosso sistema imunitário que actua como uma força policial de uma eficácia implacável.
A qualquer hora da noite batem à porta e levam os desgraçados dos mutantes.
Todavia, uma pequena fracção consegue escapar à polícia e tornarem-se heróis combatendo pela liberdade, resistindo à tirania do Estado.
Mas esta não é a melhor perspectiva para pensarmos sobre os mutantes. É preferível olhar para eles como “organismos-presas” que evoluem para evitar os predadores.
É como numa floresta: as aves retiram a maioria dos insectos, aqueles que mais sobressaem, que dão mais nas vistas e deixam os que se confundem com o meio ambiente.
No corpo humano, em lugar das aves, está o sistema imunitário a retirar as células mutantes, as que mais se destacam, deixando as que não se detectam para sobreviver e crescer em minúsculas populações.
Neste momento, no meu e no seu corpo existem centenas de populações mutantes as quais, na qualidade de “organismos-presa” se adaptaram e sobreviveram. Por isso mesmo, elas têm de competir pelos recursos com as células normais suas vizinhas.
Estas populações mutantes permanecem reduzidas e têm pouca importância para o organismo como um todo não ajudando nem prejudicando.
Contudo, o relógio mutacional (o tal que comete erros de cópia) continua a trabalhar e outros mutantes surgem em algumas das populações tornando-as mais agressivas na competição com as células vizinhas normais.
Assemelham-se àquelas plantas daninhas que se expandem produzindo uma toxina que elas conseguem aguentar mas não as plantas vizinhas e assim, as populações duplamente mutantes, expandem-se agressivamente e tornam-se tumores incipientes.
No entanto, estes tumores que evoluíram de modo a enfrentarem os predadores e competidores têm um novo factor que impede a sua continuação e expansão.
É que elas, ao alimentarem-se, produzem desperdícios que são retirados pelos vasos sanguíneos juntamente com os desperdícios das células normais o que, naturalmente, tem os seus limites a menos que o tumor incipiente consiga recrutar para si vasos sanguíneos da mesma maneira que as células normais. Até lá, não pode crescer para além de determinadas dimensões.
As instruções genéticas para recrutar vasos sanguíneos evoluíram há muito tempo como parte do desenvolvimento normal e tudo o que a célula mutante do tumor incipiente tem de fazer é activar essas instruções o que é relativamente simples e assim, desta forma, os tumores adaptam-se aos desafios, mutação após mutação, exactamente da mesma maneira que os organismos que vivem em liberdade como as aves ou os peixes se adaptam ao ambiente.
O facto de haver outras doenças provocadas por organismos estranhos ao corpo humano, como o vírus da imunodeficiência (HIV), enquanto um tumor deriva das nossas próprias células, não faz qualquer diferença. Em ambos os casos eles sobrevivem dentro do nosso corpo, não contribuem para o nosso bem-estar e vão avançando a um ritmo constante como bombas relógios mutacionais.
A evolução do cancro, como já foi referido atrás, parece o cúmulo da estreiteza de vistas. Cada “avanço” mutacional que permite a uma linha celular evitar os seus “predadores” (sistema imunitário), vencer os seus competidores (as células que funcionam normalmente) e colonizar outras zonas do corpo (metástases) fá-lo aproximar mais da sua própria morte.
Mesmo um tumor benigno, desaparecerá com a morte do organismo pois não existe nenhum mecanismo que lhe permita passar de um corpo para outro.
Esta evolução “dentro” do organismo é incapaz de impedir esta inutilidade e por isso falámos de “vistas curtas”.
Só a evolução “entre organismos” pode criar um desfecho de “vistas largas” de células que colaborem para o bem comum.
Felizmente o cancro, por força da selecção actuar de forma tão vigorosa a este nível e durante tanto tempo, é uma doença rara que se manifesta sobretudo em idades já avançadas.
Fica-nos esta observação:
- A selecção dentro dos grupos favorece as estratégias de vistas curtas enquanto a selecção entre grupos é necessária para criar o desfecho de vistas largas dos organismos que colaboram para o bem comum.
- Se a selecção entre os grupos vence a selecção dentro dos grupos de uma forma tão decisiva, da mesma forma que a selecção entre organismos vence a selecção dentro dos organismos, a uma outra escala biológica podemos dizer que se nos conseguirmos extinguir como espécie será devido ao mesmo tipo de estreiteza de vistas que leva as células cancerosas a acelerarem a sua própria morte.
David Sloan Wilson (Prof. de Biologia e Antropologia) – A Evolução Para Todos
No caso particular do cancro é o nosso organismo que se coloca contra si próprio revelando uma grande estreiteza de vistas pois dando cabo do corpo põe termo a si próprio.
Concretamente, o cancro é uma linhagem de células mutantes (resultantes de erros de cópia no processo de substituição das células chamados mutações) bem sucedidas e o facto de poderem acabar por se destruírem a si próprias juntamente com o corpo a que pertencem, é absolutamente irrelevante porque a evolução que tem lugar dentro de nós não faz previsões, é um simples processo mecânico por meio do qual algumas formas surgem, competem com outras e saem vencedoras na base de interacções imediatas.
Para compreender o cancro temos de pensar num organismo único, o nosso próprio corpo, com uma vasta população de células todas com o mesmo conjunto de genes, excepto no que respeita às mutantes (que resultam dos tais erros de cópia que ocorrem no processo de divisão das células).
A maioria destas células é rapidamente detectada e destruída pelo nosso sistema imunitário que actua como uma força policial de uma eficácia implacável.
A qualquer hora da noite batem à porta e levam os desgraçados dos mutantes.
Todavia, uma pequena fracção consegue escapar à polícia e tornarem-se heróis combatendo pela liberdade, resistindo à tirania do Estado.
Mas esta não é a melhor perspectiva para pensarmos sobre os mutantes. É preferível olhar para eles como “organismos-presas” que evoluem para evitar os predadores.
É como numa floresta: as aves retiram a maioria dos insectos, aqueles que mais sobressaem, que dão mais nas vistas e deixam os que se confundem com o meio ambiente.
No corpo humano, em lugar das aves, está o sistema imunitário a retirar as células mutantes, as que mais se destacam, deixando as que não se detectam para sobreviver e crescer em minúsculas populações.
Neste momento, no meu e no seu corpo existem centenas de populações mutantes as quais, na qualidade de “organismos-presa” se adaptaram e sobreviveram. Por isso mesmo, elas têm de competir pelos recursos com as células normais suas vizinhas.
Estas populações mutantes permanecem reduzidas e têm pouca importância para o organismo como um todo não ajudando nem prejudicando.
Contudo, o relógio mutacional (o tal que comete erros de cópia) continua a trabalhar e outros mutantes surgem em algumas das populações tornando-as mais agressivas na competição com as células vizinhas normais.
Assemelham-se àquelas plantas daninhas que se expandem produzindo uma toxina que elas conseguem aguentar mas não as plantas vizinhas e assim, as populações duplamente mutantes, expandem-se agressivamente e tornam-se tumores incipientes.
No entanto, estes tumores que evoluíram de modo a enfrentarem os predadores e competidores têm um novo factor que impede a sua continuação e expansão.
É que elas, ao alimentarem-se, produzem desperdícios que são retirados pelos vasos sanguíneos juntamente com os desperdícios das células normais o que, naturalmente, tem os seus limites a menos que o tumor incipiente consiga recrutar para si vasos sanguíneos da mesma maneira que as células normais. Até lá, não pode crescer para além de determinadas dimensões.
As instruções genéticas para recrutar vasos sanguíneos evoluíram há muito tempo como parte do desenvolvimento normal e tudo o que a célula mutante do tumor incipiente tem de fazer é activar essas instruções o que é relativamente simples e assim, desta forma, os tumores adaptam-se aos desafios, mutação após mutação, exactamente da mesma maneira que os organismos que vivem em liberdade como as aves ou os peixes se adaptam ao ambiente.
O facto de haver outras doenças provocadas por organismos estranhos ao corpo humano, como o vírus da imunodeficiência (HIV), enquanto um tumor deriva das nossas próprias células, não faz qualquer diferença. Em ambos os casos eles sobrevivem dentro do nosso corpo, não contribuem para o nosso bem-estar e vão avançando a um ritmo constante como bombas relógios mutacionais.
A evolução do cancro, como já foi referido atrás, parece o cúmulo da estreiteza de vistas. Cada “avanço” mutacional que permite a uma linha celular evitar os seus “predadores” (sistema imunitário), vencer os seus competidores (as células que funcionam normalmente) e colonizar outras zonas do corpo (metástases) fá-lo aproximar mais da sua própria morte.
Mesmo um tumor benigno, desaparecerá com a morte do organismo pois não existe nenhum mecanismo que lhe permita passar de um corpo para outro.
Esta evolução “dentro” do organismo é incapaz de impedir esta inutilidade e por isso falámos de “vistas curtas”.
Só a evolução “entre organismos” pode criar um desfecho de “vistas largas” de células que colaborem para o bem comum.
Felizmente o cancro, por força da selecção actuar de forma tão vigorosa a este nível e durante tanto tempo, é uma doença rara que se manifesta sobretudo em idades já avançadas.
Fica-nos esta observação:
- A selecção dentro dos grupos favorece as estratégias de vistas curtas enquanto a selecção entre grupos é necessária para criar o desfecho de vistas largas dos organismos que colaboram para o bem comum.
- Se a selecção entre os grupos vence a selecção dentro dos grupos de uma forma tão decisiva, da mesma forma que a selecção entre organismos vence a selecção dentro dos organismos, a uma outra escala biológica podemos dizer que se nos conseguirmos extinguir como espécie será devido ao mesmo tipo de estreiteza de vistas que leva as células cancerosas a acelerarem a sua própria morte.
David Sloan Wilson (Prof. de Biologia e Antropologia) – A Evolução Para Todos
Já não bastava o Joãozinho...
A Professora pergunta:
- Joãozinho, o que é que o menino quer ser quando crescer?
- Eu quero ser bilionário. Quero ir na discoteca mais cara, pegar a puta
mais cara, dar para ela um carro de 200 000,00 € e uma mansão em Londres.
E você, Mariazinha, o que quer ser quando for grande?
- Eu quero ser a puta.
HISTÓRIAS
DE HODJA
Sem que ninguém soubesse, Hodja poupou uns dinheiros e tenta agora encontrar um lugar seguro para esconder as suas economias.
Primeiro, enterra o dinheiro no jardim mas retira-o porque tem medo que não seja completamente seguro.
Depois, esconde-o dentro de casa, mas também rejeita por ser demasiado arriscado.
Então, decide-se por amarrar a bolsa no espantalho que está no jardim por imaginar que ninguém irá pensar que ele tenha dinheiro.
Mas, enquanto Hodja fazia tudo isto, um homem espiava-o e depois de Hodja prender a bolsa ao espantalho e ir-se embora o homem leva o dinheiro, deixa excremento de vaca e tudo fica no lugar novamente.
Quando, passados uns dias, Hodja precisa de um pouco de dinheiro, vai ao espantalho e fica surpreendido porque no lugar do dinheiro está excremento de vaca.
Então, sussurra para si mesmo:
- “Deus Todo Poderoso! Eu acreditei que nenhum homem conseguisse chegar aqui. Como é possível que uma vaca o conseguisse?!”
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 240
Na tarde do recusado pedido de casamento Tereza Batista repetiu para Almério das Neves, quase palavra por palavra, o relato de mestre Caetano Gunza. Embora repleto de acontecimentos desagradáveis, continha provas de amor e uma esperança:
- Um dia desses, sem dar aviso, o compadre desembarca no cais.
Assim dissera mestre Gunza na popa da barcaça, pitando o cachimbo de barro. Dessa esperança vive Tereza Batista. Almério das Neves, romântico e heróico, ouvira de olhos húmidos e garganta presa: narrativa mais comovedora, parecia novela de rádio!
Queria o padeiro casar com Tereza Batista, estava apaixonadíssimo, não dava o caso por perdido, quem sabe um dia? Mas se dependesse dele, naquele mesmo instante, vindo do golfo, saindo do crepúsculo, Januário Gereba de regresso tomaria da mão da amante perdida e inconsolável e na ermitã de Monte Serrat com ela se uniria em “bodas místicas”, ouvira a expressão em novela de rádio, adorara, sendo Almério o primeiro a felicitá-los.
Igualzinho a certo personagem de romance lido em folhetim na adolescência, generoso e desprendido, coração de ouro, Almério se dispõe ao sacrifício pela felicidade da bem-amada. Gestos assim servem de consolo em hora amarga como aquela, confortam.
Farrapos de frases arrastados pelos ventos sul, noite de temporal, tristezas no rumo do oceano revolto.
Por onde andará Januário Gereba, embarcadiço em cargueiro panamenho? Na voz de mestre Caetano Gunzá, os ecos surdos de abafada emoção.
Quer bem ao compadre, amigo de infância, irmão de esteira, na obrigação do bori, no candomblé, simpatiza com a moça, bonita e disposta.
Quando finalmente, os mastros da Ventania foram avistados cruzando a barra, sem perda de tempo Camafeu de Oxossi mandou a sobrinha levar um recado a Tereza. Mas só à noitinha ela o recebeu.
Tocou-se correndo para a Cidade Baixa, a barcaça fundeara ao largo. Em Água dos Meninos embarcou uma canoa, a bordo do veleiro mestre Gunzá a esperava, soubera por terceiros estar a moça doida por notícias de Januário. Alegrou-se ao sabê-lo vivo: haviam dado informação falsa ao compadre, ela não morrera na epidemia da bexiga. Ainda bem.
Durante mais de um mês, diariamente, Tereza viera ao Mercado Modelo e à rampa saber se a Ventania regressara de viagem. Procurara enxergar no porto a silhueta da barcaça, tinha-a nos olhos, ancorada na Ponte de Aracaju, recebendo carga de açúcar.
Há cerca de um mês e meio, a Ventania abrira as velas no rumo do Sul do estado, Canavieiras ou Caravelas, os porões cheios de fardos de xarque e barricas de bacalhau.
Data de regresso não prevista, os veleiros dependem da carga, do vento, das correntezas e do mar, dependem de Iemanjá lhes conceder bom tempo.
Na tarde do recusado pedido de casamento Tereza Batista repetiu para Almério das Neves, quase palavra por palavra, o relato de mestre Caetano Gunza. Embora repleto de acontecimentos desagradáveis, continha provas de amor e uma esperança:
- Um dia desses, sem dar aviso, o compadre desembarca no cais.
Assim dissera mestre Gunza na popa da barcaça, pitando o cachimbo de barro. Dessa esperança vive Tereza Batista. Almério das Neves, romântico e heróico, ouvira de olhos húmidos e garganta presa: narrativa mais comovedora, parecia novela de rádio!
Queria o padeiro casar com Tereza Batista, estava apaixonadíssimo, não dava o caso por perdido, quem sabe um dia? Mas se dependesse dele, naquele mesmo instante, vindo do golfo, saindo do crepúsculo, Januário Gereba de regresso tomaria da mão da amante perdida e inconsolável e na ermitã de Monte Serrat com ela se uniria em “bodas místicas”, ouvira a expressão em novela de rádio, adorara, sendo Almério o primeiro a felicitá-los.
Igualzinho a certo personagem de romance lido em folhetim na adolescência, generoso e desprendido, coração de ouro, Almério se dispõe ao sacrifício pela felicidade da bem-amada. Gestos assim servem de consolo em hora amarga como aquela, confortam.
Farrapos de frases arrastados pelos ventos sul, noite de temporal, tristezas no rumo do oceano revolto.
Por onde andará Januário Gereba, embarcadiço em cargueiro panamenho? Na voz de mestre Caetano Gunzá, os ecos surdos de abafada emoção.
Quer bem ao compadre, amigo de infância, irmão de esteira, na obrigação do bori, no candomblé, simpatiza com a moça, bonita e disposta.
Quando finalmente, os mastros da Ventania foram avistados cruzando a barra, sem perda de tempo Camafeu de Oxossi mandou a sobrinha levar um recado a Tereza. Mas só à noitinha ela o recebeu.
Tocou-se correndo para a Cidade Baixa, a barcaça fundeara ao largo. Em Água dos Meninos embarcou uma canoa, a bordo do veleiro mestre Gunzá a esperava, soubera por terceiros estar a moça doida por notícias de Januário. Alegrou-se ao sabê-lo vivo: haviam dado informação falsa ao compadre, ela não morrera na epidemia da bexiga. Ainda bem.
Durante mais de um mês, diariamente, Tereza viera ao Mercado Modelo e à rampa saber se a Ventania regressara de viagem. Procurara enxergar no porto a silhueta da barcaça, tinha-a nos olhos, ancorada na Ponte de Aracaju, recebendo carga de açúcar.
Há cerca de um mês e meio, a Ventania abrira as velas no rumo do Sul do estado, Canavieiras ou Caravelas, os porões cheios de fardos de xarque e barricas de bacalhau.
Data de regresso não prevista, os veleiros dependem da carga, do vento, das correntezas e do mar, dependem de Iemanjá lhes conceder bom tempo.
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terça-feira, outubro 25, 2011
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 22
SOBRE O TEMA: “JESUS MORENO?” (4)
Existe apenas uma raça, a Humana
Hoje, após os avanços espectaculares na genética, a maioria dos cientistas desvaloriza o conceito de "raça" e qualquer relação com a inteligência ou habilidades com base em características físicas externas.
Eles acreditam que a "raça" é um bem social, e não científico, eles afirmam que há apenas uma raça humana, explicando que as características físicas externas que distinguem os humanos dos outros seres são apenas 0,01% dos genes da nossa espécie.
Isto significa que todos os seres humanos, qualquer que seja a nossa cor ou constituição física, evoluiu nos últimos 100 mil ou 200 mil anos do mesmo grupo de pessoas nascidas na África, com a pele muito escura, e de todos os colonizados da África do planeta. E as diferenças de cores e traços faciais que vemos hoje são unicamente devido às adaptações ao clima e os diferentes ambientes que esses seres humanos foram encontrados em seus movimentos, que foram "fading", "descolorir" mais ou menos melanina como a exposição maior ou menor à radiação solar.
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 239
- Porque gosto de outro, e se um dia ele voltar e me quiser, esteja eu onde estiver, fazendo seja o que for, largo tudo e vou com ele. Sendo assim, me diga, como me poderei casar? Só se eu não tivesse consideração consigo, fosse uma falsa. Mesmo fazendo a vida tenho brio.
Ficou o padeiro mudo e triste, os olhos perdidos na distância. Também calada e melancólica, Tereza a fitar os saveiros cortando o golfo no caminho de Recôncavo.
Que nome o novo proprietário teria dado ao Flor das Águas? Caía o crepúsculo sobre a cidade e o mar, queimando sangue no horizonte. Finalmente o entupigaitado Almério obteve palavras para romper o silêncio confrangedor:
- Nunca me rendi conta de ninguém em sua vida. É pessoa do meu conhecimento?
- Penso que não. É um mestre de saveiro, pelo menos foi. Agora anda embarcado em navio grande, não sei onde nem se vai voltar.
Ainda tem entre as suas a mão de Almério e de leve a aperta num gesto de amizade.
- Vou lhe contar tudo.
Contou do começo ao fim. Do encontro no cabaré Paris Alegre, em noite de briga, em Aracajú, à desesperada busca na Bahia, os desencontros e finalmente o relato de mestre Caetano Gunzá de volta de viagem demorada a Canavieiras, na barcaça Ventania. Quando terminou o sol desaparecera sob as águas, nos postes as lâmpadas se acenderam, no mar os saveiros eram sombras:
- Tendo enviuvado, foi-me procurar, não me encontrou. Quando cheguei, já tinha ido embora. Fiquei para esperar sua volta. Para isso estou aqui, na Bahia.
Com delicadeza solta a mão de Almério:
- Você há-de encontrar uma mulher para ser sua esposa e mãe do menino, direita como você merece. Eu não posso aceitar, me desculpe por favor, não me tome a mal.
O bom Almério, comovido às lágrimas, levava o lenço aos olhos húmidos, mas os de Tereza estavam secos, dois carvões apagados. Contudo, ele não se considerou inteiramente fora do páreo, não deu o jogo por perdido:
- Não tenho o que lhe desculpar, o destino é assim, desencontrado. Mas eu também posso esperar. Quem sabe, um dia…
Tereza não disse sim nem não, pra que feri-lo, magoá-lo?
Se Janu não regressasse um dia, ao leme de um saveiro ou no bojo de um lugre de bandeira estranha, Tereza carregaria no peito a vida inteira, luto de viúva. Em cama de castelo ou de pensão, a exercer ruim ofício, pode ser. Mas não em leito de amásia ou de esposa, isso jamais. Mas para que dizer, ofendendo a quem a honrava e distinguia?
- Porque gosto de outro, e se um dia ele voltar e me quiser, esteja eu onde estiver, fazendo seja o que for, largo tudo e vou com ele. Sendo assim, me diga, como me poderei casar? Só se eu não tivesse consideração consigo, fosse uma falsa. Mesmo fazendo a vida tenho brio.
Ficou o padeiro mudo e triste, os olhos perdidos na distância. Também calada e melancólica, Tereza a fitar os saveiros cortando o golfo no caminho de Recôncavo.
Que nome o novo proprietário teria dado ao Flor das Águas? Caía o crepúsculo sobre a cidade e o mar, queimando sangue no horizonte. Finalmente o entupigaitado Almério obteve palavras para romper o silêncio confrangedor:
- Nunca me rendi conta de ninguém em sua vida. É pessoa do meu conhecimento?
- Penso que não. É um mestre de saveiro, pelo menos foi. Agora anda embarcado em navio grande, não sei onde nem se vai voltar.
Ainda tem entre as suas a mão de Almério e de leve a aperta num gesto de amizade.
- Vou lhe contar tudo.
Contou do começo ao fim. Do encontro no cabaré Paris Alegre, em noite de briga, em Aracajú, à desesperada busca na Bahia, os desencontros e finalmente o relato de mestre Caetano Gunzá de volta de viagem demorada a Canavieiras, na barcaça Ventania. Quando terminou o sol desaparecera sob as águas, nos postes as lâmpadas se acenderam, no mar os saveiros eram sombras:
- Tendo enviuvado, foi-me procurar, não me encontrou. Quando cheguei, já tinha ido embora. Fiquei para esperar sua volta. Para isso estou aqui, na Bahia.
Com delicadeza solta a mão de Almério:
- Você há-de encontrar uma mulher para ser sua esposa e mãe do menino, direita como você merece. Eu não posso aceitar, me desculpe por favor, não me tome a mal.
O bom Almério, comovido às lágrimas, levava o lenço aos olhos húmidos, mas os de Tereza estavam secos, dois carvões apagados. Contudo, ele não se considerou inteiramente fora do páreo, não deu o jogo por perdido:
- Não tenho o que lhe desculpar, o destino é assim, desencontrado. Mas eu também posso esperar. Quem sabe, um dia…
Tereza não disse sim nem não, pra que feri-lo, magoá-lo?
Se Janu não regressasse um dia, ao leme de um saveiro ou no bojo de um lugre de bandeira estranha, Tereza carregaria no peito a vida inteira, luto de viúva. Em cama de castelo ou de pensão, a exercer ruim ofício, pode ser. Mas não em leito de amásia ou de esposa, isso jamais. Mas para que dizer, ofendendo a quem a honrava e distinguia?
(CLICK NA IMAGEM)
segunda-feira, outubro 24, 2011
Um homem de 55 anos vai ao médico fazer o famoso exame do "TOQUE RECTAL".
Entra no consultório com uma arma na mão e diz:
És tu que me vais meter o dedo no cu?????
- Sim sou eu, diz o médico a tremer.
Nisto o homem coloca a arma na secretária do médico e repete:
És tu que me vais meter o dedo no cu?????
- Sim sou eu, responde o médico já em pânico.
E o homem diz:
- Se vires que estou a gostar dá-me um tiro!!!...
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 238
Tereza só entendeu o porquê de tudo aquilo no dia seguinte. No castelo, acendendo um charuto, após a repetida função – a primeira vez papai e mamãe, a segunda subindo coqueiro – Almério a convidou para um passeio. A essa hora da tarde? Sim, tinha algo a lhe dizer, mas não ali, entre as paredes do prostíbulo.
Convite igual ao que fizera quinze anos antes a Natália, Nata de Leite de alva pele e modos acanhados. Agora a pretendida era cor de cobre e impetuosa. Paixão arrasadora, num e noutro caso, idênticas palavras:
- Preciso da inspiração da natureza.
4
Sentada sobre o largo muro em frente da ermida de Monte Serrat, ao fim da tarde, descortinando a cidade da Bahia plantada na montanha e o golfo de águas serenas, as velas dos saveiros, viu-se Tereza envolta em melancolia. A seu lado, Almério confiante. Recanto próprio para declaração de amor, ali pedira e obtivera a mão de Natália, cena tocante a repetir-se agora.
Permita que eu lhe diga, Tereza, o que me vai na alma. Encontro-me à mercê de um turbilhão de sentimentos. O homem não é senhor da sua vontade, o amor não pede licença para se introduzir num peito magoado.
Bonitas palavras, pensa Tereza, e justas. Quem bem sabe é ela: o amor não pede licença, surge, violenta e domina e depois não há jeito a dar. Suspira. Para Almério das Neves, postulante, aquele suspiro só pode ter uma significação. Animado, prossegue:
- Estou amando, Tereza, estou sendo devorado pelo fogo do amor.
O tom de voz e a tentativa de tomar-lhe a mão alertaram Tereza. Desviando os olhos da paisagem, o pensamento de Janu, fitou Almério e o viu em transe, os olhos nela, em adoração.
- Estou perdidamente apaixonado, Tereza, por você. Ponha a mão no coração e me responda com sinceridade: quer dar-me a honra de casar comigo?
Tereza boquiaberta, ele prosseguiu a dizer como a observara desde o dia em que a conhecera, logo conquistado não apenas pela beleza – você é flor mais linda do jardim da existência – mas pelas maneiras e o trato. Perdido de amor já não consegue conter no peito os sentimentos. Quer fazer-me feliz permitindo me levá-la à presença do padre e do juiz?
- Mas, Almério, eu não passo de uma mulher da vida…
O facto dela ter frequentado o castelo de Taviana para ele nada significa, lá encontrara a inesquecível Natália e nehuma esposa dera ao marido maior ventura.
O passado, seja qual seja, não conta nem pesa, nova vida começa ali, naquela hora. Para ela, para ele e para o Zeques, principalmente para o Zeques. Se a única objecção é essa, não há problema, tudo resolvido. Estende a mão para Tereza e ela não recusa, entre as suas a tem enquanto explica:
- Não, não é a única, há outra. Mas, primeiro, quero-lhe dizer que estou tocada de mais com o seu pedido, é como se me desse um presente caro, de estimação, nem sei agradecer. Você é um homem bom e eu lhe aprecio muito. Mas para casar não posso. Me desculpe, não posso, não.
(clik na imagem)
HISTÓRIAS
DE HODJA
Num inverno demasiado frio e prolongado a quantidade de cevada que Hodja tem para o burro é pouca e por isso reduz-lhe gradualmente a quantidade de cevada que lhe dá.
Hoje, menos um bocadinho, amanhã um pouco menos ainda e depois dia sim, dia não e, em seguida alimenta o burro apenas de dois ou de três em três dias.
Um dia, ao entrar no celeiro depara-se com o burro morto.
-“Oh não!”, resmunga o Hodja. “Agora que ele estava a ficar habituado, morre.”
Hoje, menos um bocadinho, amanhã um pouco menos ainda e depois dia sim, dia não e, em seguida alimenta o burro apenas de dois ou de três em três dias.
Um dia, ao entrar no celeiro depara-se com o burro morto.
-“Oh não!”, resmunga o Hodja. “Agora que ele estava a ficar habituado, morre.”
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 22 SOBRE O TEMA:
“JESUS
MORENO?” (3)“JESUS
O Racismo Perverso
O racismo é uma das muitas expressões de discriminação entre os seres humanos. Ele é baseado na crença de que existem raças superiores, mais inteligentes, mais capazes, entendendo-se por "raça" a aparência externa, a cor da pele e outras características faciais.
Naturalmente, por uma questão de hegemonia e poder que tem no mundo a cultura ocidental, europeia, a cultura branca e, por influência dos produtos culturais da Europa e dos EUA, o racismo determina que o escuro, o preto é inferior.
Por detrás dos horrores dos séculos de escravatura está o racismo. Por detrás dos horrores das câmaras de gás na era nazi lá está o racismo perverso procurando uma "raça pura".
domingo, outubro 23, 2011
HOJE È
DOMINGO
No Hoje é Domingo, um bocadinho a reboque dos tempos que correm, lembrei-me de vos falar do exercício da futurologia, mais prosaicamente, a adivinhação do dia de amanhã.
O difícil, aliciante e irresistível neste exercício é de que as nossas previsões não traduzam, mesmo inconscientemente, os nossos desejos, correspondam aos nossos interesses materiais ou ideológicos, condicionando e enviesando o comportamento dos outros na tentativa de “driblar” o futuro.
Jesus Cristo confundiu os seus desejos com a realidade futura e enganou-se. Acreditou no fim do mundo e na vinda do Reino de Deus… afirmou-o, prometeu-o. Por isso, ou por um simples e ingénuo desejo de justiça igualitária, alguns dos seus seguidores, os ricos, venderam tudo o que tinham, distribuíram os bens pelos pobres e ficaram em paz a aguardar o fim do mundo prometido pelo mestre.
Mesmo enganando-se nas previsões de fim do mundo, que não na sua mensagem de justiça e de amor, Jesus Cristo, terá sido o homem que mais influenciou os destinos de toda a humanidade. Falhou como futurologista, acertou em cheio como mensageiro.
Depois de Jesus Cristo, muitos outros têm previsto o fim do mundo (a mais apocalíptica das previsões…) e se continuarmos nesta senda corremos o risco de, com previsão ou sem ela, ele acabar mesmo, pelo menos tal como o conhecemos hoje.
Na realidade, todos os dias ele acaba: para os que morrem, para as espécies que desaparecem, para as paisagens que se alteram, mas isso já não é futurologia…
Menos perigoso, quase ingénuo ou inofensivo, é um outro exercício de futurologia que consiste em fazer previsões sobre aquilo que teria sido o presente se tivéssemos podido alterar o passado.
Por exemplo: como teria sido a vida dos portugueses se dois dos políticos mais influentes após a revolução dos Cravos, em 1974, Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, não tivessem morrido num estranho acidente de avioneta na noite fatídica de 4 de Dezembro de 1980?
Como estaríamos nós agora se não tivessem descoberto e posto em prática essa “engenharia” das PPP (Parcerias Público Privadas) que é uma maneira de hipotecar o futuro como se o mundo acabasse amanhã?
Mas nesta história do se… abre-se agora uma nova janela, aliciante, que nos permitirá regressar ao passado e alterá-lo criando um outro futuro mais ao nosso jeito, pelo menos diferente deste. E como? Cavalgando um Neutrino.
Ah, os meus amigos não sabem o que é um Neutrino? É uma partícula subatómica que os físicos europeus já afirmam ser mais rápida que a luz (o que diria Einstein…) o que, a ser verdade e em hipótese, permitir-nos-á viajar no tempo, regressar ao passado, andar para trás, “ir lá…”, estão a perceber… cavalgando um Neutrino, meteríamos os Drs. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa num avião como deve ser e não aquele “cangalho desafinado e a cair de velho”, teríamos impedido as PPP que nos vão custar os olhos da cara lá para 2017, etc..., etc...
É esta capacidade que nós, Homo Sapiens, temos e mais ninguém possui: fazer voar a nossa imaginação, através dela sonhar, recriar a realidade, construir só para nós uma outra onde seremos felizes para sempre… como nas histórias da nossa avózinha!
No Hoje é Domingo, um bocadinho a reboque dos tempos que correm, lembrei-me de vos falar do exercício da futurologia, mais prosaicamente, a adivinhação do dia de amanhã.
O difícil, aliciante e irresistível neste exercício é de que as nossas previsões não traduzam, mesmo inconscientemente, os nossos desejos, correspondam aos nossos interesses materiais ou ideológicos, condicionando e enviesando o comportamento dos outros na tentativa de “driblar” o futuro.
Jesus Cristo confundiu os seus desejos com a realidade futura e enganou-se. Acreditou no fim do mundo e na vinda do Reino de Deus… afirmou-o, prometeu-o. Por isso, ou por um simples e ingénuo desejo de justiça igualitária, alguns dos seus seguidores, os ricos, venderam tudo o que tinham, distribuíram os bens pelos pobres e ficaram em paz a aguardar o fim do mundo prometido pelo mestre.
Mesmo enganando-se nas previsões de fim do mundo, que não na sua mensagem de justiça e de amor, Jesus Cristo, terá sido o homem que mais influenciou os destinos de toda a humanidade. Falhou como futurologista, acertou em cheio como mensageiro.
Depois de Jesus Cristo, muitos outros têm previsto o fim do mundo (a mais apocalíptica das previsões…) e se continuarmos nesta senda corremos o risco de, com previsão ou sem ela, ele acabar mesmo, pelo menos tal como o conhecemos hoje.
Na realidade, todos os dias ele acaba: para os que morrem, para as espécies que desaparecem, para as paisagens que se alteram, mas isso já não é futurologia…
Menos perigoso, quase ingénuo ou inofensivo, é um outro exercício de futurologia que consiste em fazer previsões sobre aquilo que teria sido o presente se tivéssemos podido alterar o passado.
Por exemplo: como teria sido a vida dos portugueses se dois dos políticos mais influentes após a revolução dos Cravos, em 1974, Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, não tivessem morrido num estranho acidente de avioneta na noite fatídica de 4 de Dezembro de 1980?
Como estaríamos nós agora se não tivessem descoberto e posto em prática essa “engenharia” das PPP (Parcerias Público Privadas) que é uma maneira de hipotecar o futuro como se o mundo acabasse amanhã?
Mas nesta história do se… abre-se agora uma nova janela, aliciante, que nos permitirá regressar ao passado e alterá-lo criando um outro futuro mais ao nosso jeito, pelo menos diferente deste. E como? Cavalgando um Neutrino.
Ah, os meus amigos não sabem o que é um Neutrino? É uma partícula subatómica que os físicos europeus já afirmam ser mais rápida que a luz (o que diria Einstein…) o que, a ser verdade e em hipótese, permitir-nos-á viajar no tempo, regressar ao passado, andar para trás, “ir lá…”, estão a perceber… cavalgando um Neutrino, meteríamos os Drs. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa num avião como deve ser e não aquele “cangalho desafinado e a cair de velho”, teríamos impedido as PPP que nos vão custar os olhos da cara lá para 2017, etc..., etc...
É esta capacidade que nós, Homo Sapiens, temos e mais ninguém possui: fazer voar a nossa imaginação, através dela sonhar, recriar a realidade, construir só para nós uma outra onde seremos felizes para sempre… como nas histórias da nossa avózinha!
Numa entrevista com um físico japonês especialista nas Teorias de Einstein, perguntaram-lhe:
- Bem, e se pudermos viajar no tempo, regressar ao passado e alterá-lo como fica depois?
- Ficarão duas realidades, a que estava continua e começa outra a partir dos factos alterados… respondeu ele.
Ou seja, digo eu, teríamos um Portugal sem Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, que já conhecemos, que o vivemos, e um outro resultante da continuação entre nós daqueles dois grandes políticos que começaria no exacto momento em que interferíamos no passado impedindo-os de entrarem no calhambeque voador e assassino…
Estou a imginar a confusão. Seria tanta que o preferível é mesmo o Neutrino aceitar a velocidade da luz estabelecida por Einstein como sendo a velocidade máxima… e deixar à imaginação o que é da imaginação e à realidade o que é da realidade. Foi esta que nós construimos com o poder que temos de determinar os nossos actos, escolhermos os nosso caminhos, tudo o que não fôr isto seria batotice.
- Bem, e se pudermos viajar no tempo, regressar ao passado e alterá-lo como fica depois?
- Ficarão duas realidades, a que estava continua e começa outra a partir dos factos alterados… respondeu ele.
Ou seja, digo eu, teríamos um Portugal sem Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, que já conhecemos, que o vivemos, e um outro resultante da continuação entre nós daqueles dois grandes políticos que começaria no exacto momento em que interferíamos no passado impedindo-os de entrarem no calhambeque voador e assassino…
Estou a imginar a confusão. Seria tanta que o preferível é mesmo o Neutrino aceitar a velocidade da luz estabelecida por Einstein como sendo a velocidade máxima… e deixar à imaginação o que é da imaginação e à realidade o que é da realidade. Foi esta que nós construimos com o poder que temos de determinar os nossos actos, escolhermos os nosso caminhos, tudo o que não fôr isto seria batotice.
(Clik na imagem do Largo do Parque Chiquito. O busto é do padre Francisco Nunes da Silva, conhecido pelo padre Chiquito, grande defensor do operariado em Santarém. O busto é da autoria do escultor Rodrigo de Castro e foi inauguraddo no dia 1 de Maio de 1919.)